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CURSO DE PSICOLOGIA
AGRADECIMENTOS
RESUMO
Crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) têm prejuízos decorrentes das
alterações sensoriais, o que impacta nas Atividades de Vida Diárias (AVDs), no
autocuidado, nas habilidades básicas de desenvolvimento e socialização. Pesquisas
mostram que cerca de 94% dessas crianças apresentam alterações sensoriais e que
o desenvolvimento neurocomportamental é fortemente impactado quando o estímulo
sensorial é diminuído. Um ambiente enriquecido, se torna uma ferramenta com efeitos
restauradores sobre os sistemas sensoriais. O objetivo desta pesquisa foi investigar
os efeitos do enriquecimento ambiental e interação social entre pais e filhos no
desenvolvimento de crianças diagnosticadas com TEA, realizando um comparativo
nos ganhos de desenvolvimento dessas crianças antes e após exposição aos
exercícios de enriquecimento de ambiente. Uma série de 34 exercícios foi proposta
para ser realizada de maneira gradual, duas vezes ao dia, com duração de 15 a 30
minutos, durante seis meses em três crianças com TEA, por três mães que foram
previamente treinadas por vídeo modelação. As crianças foram expostas a diversos
estímulos utilizando brinquedos e objetos de uso cotidiano disponibilizados às mães.
Após o período de exercícios verificou-se, que crianças autistas sem intervenção
comportamental ou sensorial expostas a um ambiente enriquecido sensorialmente
tiveram ganho médio de 3,7 pontos na escala de classificação CARS e uma evolução
no Perfil Sensorial média de 15,2%. Além disso, obtiveram pequenos ganhos nos
marcadores do VB-MAPP relacionados a interação e atenção como as habilidades de
ouvinte, imitação, brincar, grupo e social. A intervenção proporcionou às mães e
crianças momentos de interação e de brincadeiras que mostram que o enriquecimento
de ambiente pode, além de amenizar discretamente sintomas do TEA, dar subsídios
às famílias que não tem condições de custear um tratamento, proporcionando
interação e qualidade de vida com baixo custo. Apesar de os exercícios
enriquecimento por si só não ser capaz de modificar ou ensinar novos
comportamentos, pode potencializar resultados de intervenções comportamentais de
maneira colaborativa entre profissionais e pais de crianças com TEA.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Percentual e pontuação total atingido do Perfil Sensorial por fator para a
criança 1 - Comparativo entre primeira e segunda avaliação......................................22
Tabela 2 – Percentual e pontuação total atingido do Perfil Sensorial por fator para a
criança 2 - Comparativo entre primeira e segunda avaliação......................................23
Tabela 3 – Percentual e pontuação total atingido do Perfil Sensorial por fator para a
criança 3 - Comparativo entre primeira e segunda avaliação......................................23
Tabela 4 – Pontuação Escala CARS de Classificação do Autismo por criança por item.
Comparação entre primeira e segunda avaliação ……………………………...............26
7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ .8
2 MÉTODO............................................................................................................... .16
2.1 Participantes ...................................................................................................... 16
2.2 Local ................................................................................................................... 16
2.3 Materiais/Instrumentos .................................................................................... 16
2.4 Procedimento ... ................................................................................................ 17
3 RESULTADOS ........................................................................... ...........................22
4 DISCUSSÃO ...........................................................................................................31
5 CONCLUSÃO .........................................................................................................35
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 36
8
2 MÉTODO
2.1 Participantes:
2.2 Local:
2.3 Instrumentos/Materiais:
atendimento de crianças com TEA dando uma visão geral do desenvolvimento das
crianças em seu repertório verbal. É uma avaliação dividida em 5 componentes e 170
marcos de desenvolvimento que são divididos em três níveis (0 -18 meses; 18-30
meses e 30-48); 3) Perfil Sensorial (Sensory Profile) de Dunn (1999) avalia as
habilidades do processamento sensorial bem como seus efeitos na funcionalidade das
crianças. Este instrumento foi traduzido e adaptado culturalmente para a língua
portuguesa por Mattos, Antino e Cysneiros (2015).
Para a realização dos exercícios sensório motores de enriquecimento do
ambiente foi disponibilizado a cada família um kit contendo: sete essências/óleos
(erva-doce, maçã, manga, lavanda, limão, laranja e baunilha); sete frascos de vidro
vazios com tampas; bolas de algodão; quadrados de “capacho”, espuma suave e
tapete de borracha; papel alumínio; lixa fina; feltro; esponjas; cofrinho de plástico em
formato de porco; miniaturas de frutas em plástico; miçangas coloridas; vara de pescar
de brinquedo com “gancho” magnético; clipes coloridos de metal; um botão grande
(para pressionar); 20 pequenos brinquedos variando suas cores, formas e texturas;
canudos; papéis coloridos para origami; potes para água; imagens de pinturas bem
conhecidas; imagens de frutas; pote de massinha; venda para os olhos; campainha
ou sino e tábua de madeira de aproximadamente (5cm x 20cm x 150 cm).
Além disso, os pais disponibilizaram os seguintes materiais de uso cotidiano
para realização dos exercícios: sabonete perfumado para o banho, um óleo de
massagem; uma saladeira grande para água em diferentes temperaturas; colheres de
metal; gelo; livros com figuras; avental; espelho; bola grande; travesseiro; capa de
travesseiro; canetas e músicas que combinem com figuras (por exemplo, uma música
havaiana quando mostrado uma imagem de praia); além de dispor de diferentes
texturas para explorar a caminhada como tapetes, almofadas, etc. (WOO; LEON,
2013).
2.4 Procedimento:
Foi aplicado o delineamento de sujeito único A-B ((A) Avaliação para linha de
base - Fase 1; (B) Intervenção e reavaliação – Fase 2 e 3), verificando
quantitativamente o desempenho das crianças (Variável Dependente - VD) em coleta
individual sendo a intervenção dos exercícios sensório motores as variáveis
independentes (VIs).
18
12 A criança escolhe uma miçanga colorida entre um prato cheio de Térmico, motor
cubos de gelo e visual
13 Mostrar uma foto à criança e retirar sua atenção da foto usando Visual e
um estímulo auditivo auditivo
14 A criança tira um objeto de uma tigela de água fria e depois uma Motor, térmico e
tigela de água quente visual
15 A criança puxa ou pressiona um botão entre os dedos dos pais Motor, tátil e
visual
16 A criança caminha em um pedaço de espuma ou em Tátil, equilíbrio
travesseiros grandes, eventualmente vendada e motor
17 A criança aponta para objetos em um livro e diz o nome do Linguagem,
objeto cognitivo e
motor
18 O dedo da criança é colocado em um objeto frio e, em seguida, Térmico e tátil
um objeto quente
19 A criança faz um buraco na massinha e depois coloca grãos de Motor, tátil e
arroz nele visual
20 A criança seleciona uma textura que corresponda à textura de Tátil, cognitivo e
um objeto em uma foto visual
21 Objetos diferentes são usados para desenhar círculos Tátil e cognitivo
imaginários no rosto da criança
22 A criança coloca canudos frios cheios de gelo na massinha Motor, térmico e
usando ambas as mãos visual
23 A criança caminha em uma tábua de 5cm x 20cm x 1,5m Térmico,
enquanto segura uma bandeja resfriada equilíbrio e
motor
24 Os pais esfregam cada um dos dedos dos pés e das mãos da Tátil e visual
criança enquanto a criança assiste
25 A criança coloca moedas em um cofrinho usando apenas seu Motor, cognitivo
reflexo no espelho e visual
26 A criança usa um ímã no final de uma pequena vara de pescar Motor e visual
para pegar clipes de papel
27 A criança segue visualmente um objeto vermelho que é movido Visual e
em torno de uma foto de uma pintura cognitivo
28 A criança sobe e desce escadas, segurando uma grande bola Motor, tátil e
ou travesseiro equilíbrio
29 A criança desenha formas usando caneta e papel enquanto os Motor, tátil e
pais desenham formas imaginárias nas costas da criança visual
usando um brinquedo
30 A criança desenha linhas usando as duas mãos Motor, tátil e
simultaneamente visual
31 A criança corresponde à cor dos objetos em uma foto com Visual, cognitivo
miçangas coloridas e motor
32 A criança sopra um pequeno pedaço de papel alumínio no chão Motor e visual
o mais longe que puder
33 A criança visualiza uma imagem movendo-se primeiro para Visual e
frente e depois para trás de outra imagem cognitivo
34 A criança visualiza uma foto com música associada a essa cena Auditivo e visual
Fonte: Woo et al. (2015).
21
3 RESULTADOS
20%
0%
Criança 1 Criança 2 Criança 3
Tabela 1 – Percentual e pontuação total atingido do Perfil Sensorial por fator para a criança 1
- Comparativo entre primeira e segunda avaliação.
FATOR Atingi Esper Desempenho % Atingi Esper Desempenho %
do ado inicial (1ª do ado final (2ª
(1ª (1ª av.) (2ª (2ª av.)
aval.) aval.) aval.) aval.)
Procura sensorial 43 85 Diferença 50,6 62 85 Diferença 72,9
Clara % Provável %
Reação emocional 29 80 Diferença 36,3 45 80 Diferença 56,3
Clara % Clara %
Baixa 33 45 Diferença 73,3 44 45 Típico 97,8
resistência/tônus Clara % %
Criança 1
Tabela 2 – Percentual e pontuação total atingido do Perfil Sensorial por fator para a criança 2
- Comparativo entre primeira e segunda avaliação.
Tabela 3 – Percentual e pontuação total atingido do Perfil Sensorial por fator para a criança 3
- Comparativo entre primeira e segunda avaliação.
Clara % Provável %
Baixa atenção e 11 35 Diferença 31,4 22 35 Diferença 62,9
distração Clara % Provável %
Mal registro 26 40 Diferença 65,0 30 40 Diferença 75,0
Clara % Provável %
Sensibilidade 20 20 Típico 100, 20 20 Típico 100,
Sensorial 0% 0%
Sedentarismo 17 20 Típico 85,0 19 20 Típico 95,0
% %
Percepção/motor 7 15 Diferença 46,7 7 15 Diferença 46,7
fino Clara % Clara %
TOTAL 58,7 TOTAL 70,1
% %
Fonte: Elaborado pela autora.
25
Perfil Sensorial por Fator - Criança 1 Perfil Sensorial por Fator - Criança 2
100 100
80 80
60 60
40 40
20 20
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8
Atingido (1ª avaliação) Atingido (2ª avaliação) Atingido (1ª avaliação) Atingido (2ª avaliação)
Esperado Esperado
Tabela 4 – Pontuação Escala CARS de Classificação do Autismo por criança por item.
Comparação entre primeira e segunda avaliação.
Item Criança 1 Criança 2 Criança 3
Atingido Atingido Atingido Atingido Atingido Atingido
(1ª aval.) (2ª aval.) (1ª aval.) (2ª aval.) (1ª aval.) (2ª aval.)
Relacionamento 1,5 1 2 2 1,5 2
interpessoal
Imitação 3 1 2,5 1,5 1,5 2,5
Resposta emocional 3 3 2,5 2,5 2,5 3
Expressão corporal 3 2,5 2 1,5 1,5 1
Uso de objetos 1,5 1 1,5 2 3 2
Adaptação a 3 3 2 1,5 3,5 2,5
mudanças
Uso do olhar 2 2 2 2 2 2
Uso da audição 3 3 2 2 2 2
Uso do paladar, olfato 1,5 1,5 1,5 2 1,5 1,5
e tato
Medo e nervosismo 2 2 3 2,5 2,5 2,5
Comunicação verbal 2 2 4 3,5 3 2,5
Comunicação não- 2 2 2,5 2,5 2,5 1,5
verbal
Atividade 2 2 2,5 2 2,5 3
Grau e consistência 2 2 2,5 1,5 2 1
das respostas da
inteligência
Impressão geral 2,5 2 3 2,5 3 2,5
TOTAL 34 30 35,5 31,5 34,5 31,5
Fonte: Elaborado pela autora.
Matemát…
Matemát…
Imitação
Ecoico
Brincar
LRFFC
Social
Vocal
Intraverbal
Linguística
Escrita
VP/MTS
Mando
Tato
Grupo
Leitura
Ouvinte
Social
Imitação
Ecoico
Mando
Tato
Brincar
LRFFC
Grupo
Leitura
Ouvinte
Vocal
Intraverbal
Linguística
Escrita
VP/MTS
1ª Avaliação 2ª Avaliação 1ª Avaliação 2ª Avaliação
15
10
5
0
Matemát…
Imitação
Ecoico
Brincar
LRFFC
Social
Vocal
Intraverbal
Linguística
Escrita
VP/MTS
Mando
Tato
Grupo
Leitura
Ouvinte
1ª Avaliação 2ª Avaliação
Exercícios Realizados
100% 93%
90%
86%
79%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Criança 1 Criança 2 Criança 3
Exercícios Realizados
4 DISCUSSÃO
influência maior sobre seus filhos pela relação contínua (SANDBERG, SPRITZ, 2017).
O acesso a esse tratamento indicado para o autismo, que é baseado em evidências
científicas, está distante da realidade de muitas famílias, seja pela indisponibilidade
de profissionais tanto na esfera pública como privada, ou pelo alto custo do serviço
que está fora do alcance da maioria da população no espectro do autismo (GOMES;
SILVEIRA, 2016). Por esses e outros motivos, o enriquecimento de ambiente vem se
tornando um modelo de terapia com fácil acesso pela internet e baixo custo onde os
pais recebem de forma individual os exercícios de enriquecimento que devem ser
executados com as crianças, com explicações através de vídeo modelagem como é
o caso da plataforma Mendability©, promovendo uma oportunidade de amenizar
sintomas do TEA, ampliar repertórios comportamentais que são base para
intervenções comportamentais e fortalecer vínculos entre pais e filhos. A presente
pesquisa mostrou que as explicações dos exercícios feitas através de vídeo
modelagem podem ser uma alternativa de baixo de custo para o tratamento do TEA
para as crianças que não estão passando por nenhum tipo de intervenção
comportamental ou sensorial assim como verificado por Aronoff, Hullyer e Leon
(2016).
A Análise do Comportamento Aplicada que proporciona treino direto, ensino e
objetivos claros para cada criança que, diferente do enriquecimento de ambiente, vai
ensinar e modificar comportamentos que são os principais objetivos na evolução de
uma criança com TEA. A ABA, associada ao enriquecimento de ambiente pode então
ser um diferencial, proporcionando ganhos maiores, já que ele trabalha os repertórios
considerados pré-requisitos necessários para construção de outros mais complexos
assim como exposto por Windholz (2016) e Rosales-Ruiz e Baer (1997). Para adquirir
independência em atividades consideradas básicas, a criança precisa de um
repertório de imitação motora e nesse contexto, os exercícios de enriquecimento
constantemente exigiram das crianças imitação de movimentos, contato visual e
interação com a mãe.
De acordo com Horner (1980), apesar de o enriquecimento de ambiente não
ter o objetivo de ensinar novos comportamentos, ele pode ser utilizado como um
reforço diferencial para manutenção de comportamentos previamente ensinados,
podendo então ser utilizado como um potencializador de terapias comportamentais,
além de ser uma forma estruturada de orientar os pais a como estimular seus filhos
em casa, de maneira reforçadora e motivacional.
34
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CIA, F., PEREIRA, C. S., DEL PRETTE, Z. A., DEL PRETTE, A. Habilidades sociais
das mães e envolvimento com os filhos: um estudo correlacional. Estud.
psicol., Campinas, v. 24, n. 1, p. 3-11, Mar. 2007. Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
166X2007000100001&lng=pt&tlng=pt . Acesso em: 18 jul. 2020.
EY, E.; LEBLOND, C. S.; BOURGERON, T. Behavioral profiles of mouse models for
autism spectrum disorders. Autism Research, [s.l.], v. 4, n. 1, p. 5-16, 5 jan. 2011.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.1002/aur.175. Acesso em: 16 jul. 2020.
37
GOMES, C.; SILVEIRA, A., Ensino de Habilidades Básicas para Pessoas com
Autismo: Manual para Intervenção Comportamental Intensiva. Curitiba: Appris,
2016.
GREEN, D. et al. Brief Report: dsm-5 sensory behaviours in children with and without
an autism spectrum disorder. Journal of Autism and Developmental Disorders,
[s.l.], v. 46, n. 11, p. 3597-3606, 30 jul. 2016. Springer Science and Business Media
LLC. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1007/s10803-016-2881-7. Acesso em: 16
jul. 2020.