Você está na página 1de 1

PINKER, Steven.Tagarelas. O instinto da linguagem.

Traduzido por Cláudio


Berline. São Paulo: Martins Fontes, 2005, pg: 19 – 57.
RESENHA II
Pinker defende em seu segundo capítulo a sofisticação da língua independente do grau de
formalidade do falante. Nesse sentido, demonstra uma série de exemplos ao decorrer do
capítulo que demonstram a complexidade da língua, bem como a ideia de que todas as línguas
são estruturalmente parecidas e, portanto, não existe língua mais antiga ou com estrutura
mais complexa que a outra. Comumente ouve-se a ideia de que a classe trabalhadora e os
membros menos educados da classe média falam uma linguagem menos refinada. Mas, na
verdade, trata-se de um mito consequente da naturalidade da conversação. Nesse contexto,
para desmontar isso, Pinker apresenta estudos de vários linguistas, entre eles William Labov
que, com entrevistados, demonstra a estrutura complexa embora, às vezes, agramatical.
Para Pinker, a Gramática Universal reflete apenas os critérios universais da experiência
humana e as limitações universais do processamento humano da informação. O ponto central
da tese do autor é que a linguagem complexa é universal porque as crianças efetivamente a
reinventam, geração após geração não porque a aprendem, não porque são em geral
inteligentes, não porque é útil para elas, mas porque não têm alternativa.
Além disso, ainda sobre a produção de linguagem das crianças, defende que, contrário do que
se acredita, as línguas de sinais não são gestos, invenções pedagógicas ou formas cifradas da
língua falada. São encontradas em todas as comunidades de deficientes auditivos, e cada uma
é uma língua plena e distinta, que usa os mesmos tipos de mecanismos gramaticais
encontrados nas línguas faladas.
Outrossim, afirma, através dos estudos de Chomsky, que às crianças cabe boa parte do crédito
pela linguagem que adquirem. Podemos demonstrar que elas sabem coisas que não poderiam
ter sido ensinadas. Afirma isso demonstrando o procedimento de formação de sentenças, ora,
o deslocamento de elementos da sentença para formar outras, por exemplo, quando formam
perguntas a partir do deslocamento de auxiliares dentro de sentenças afirmativas.
Além disso, o autor apresenta os estudos das afasias propostos por Paul Broca e, mais tarde,
por Carl Wernicke. Aborda o assunto a fim de explicar a natureza biológica da língua e que
,mesmo com lesão na área de Broca, os pacientes ainda tinham total consciência de suas
faculdades linguísticas. Se a produção da língua fosse apenas um exercício da inteligência, para
neutralizar essa função, seria necessário apenas que as lesões e deficiências tornassem
pessoas incapazes de exercer suas faculdades mentais, inclusive as linguísticas.
Desse modo, Steven Pinker demonstra casos em que a linguagem é prejudicada e o resto da
inteligência parece mais ou menos intacta. Mas isso não prova que a linguagem existe
separada da inteligência. Para os outros problemas, o cérebro, mesmo hesitante, consegue
funcionar sem usar sua capacidade total, mas no caso da linguagem, todos os sistemas têm de
estar em pleno funcionamento.
Em suma, Pinker mostra que a gramática complexa aparece em todos os cantos do mundo.
Independe de ser antigo ou não, não é preciso ser de classe média, não se faz necessário ter
alto nível de escolaridade, nem mesmo é preciso ter idade para produzir linguagem complexa.
É dispensável ensinar linguagem padrão ou impor uma língua à criança. Não precisa ter os
recursos intelectuais necessários para falar em sociedade. Na verdade, você pode possuir
todas essas vantagens e ainda assim não ser um usuário competente da linguagem se lhe
faltarem justamente os genes certos ou justamente as áreas do cérebro específicas.
Por fim, podemos concluir que o capítulo dois, da obra O Instinto da Linguagem, nos
proporciona uma visão mais ampla do postulado gerativista sobre a língua. De forma muito
bem humorada e didática, Pinker nos oferece uma visão panorâmica sobre a gramática
universal e a aquisição da linguagem.

Você também pode gostar