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Universidade Federal do Rio de Janeiro


Faculdade de Letras
Linguística III – Fundamentos de Análise Sintática
Professor: Jean Carlos
2020.1 – Ensino remoto
01/12/2020 – Google meet
 Encontros síncronos: quinta-feiras (07:45 ou 09:20);
o Gabarito das listas de exercícios.
 Avaliação I (2,5): conteúdo das quatro primeiras aulas
o Bloco de questões;
o 3 ou 4 pessoas.
 Avaliação II (2,5): conteúdo das aulas 5, 6, 7 e 8.
o Bloco de questões;
o 3 ou 4 pessoas.
 Avaliação III (5,0): todo conteúdo
o Prova;
o Individual.

Vídeo aula 01 – Gerativismo: conceitos básicos


1) Histórico do estudo da linguagem
1º registro: Bíblia. Torre de Babel (torre para chegar até Deus que, ao não
concordar com isso, fez com que cada pessoa que estava na torre falasse um idioma
diferente, o que impediria a comunicação e a não consequente construção da torre.)
2º momento: discussões filosóficas (Platão  Aristóteles): esses filósofos
discutiram muitas coisas sobre linguagem que são retomadas até hoje, inclusive.
Século XIX: Método Histórico Comparativo. Observar uma certa genealogia
entre as línguas. Buscava-se entender como uma determinada palavra se originou, seus
processos fonéticos, fonológicos, etc.
1916: surgimento da Linguística como ciência (publicação do livro baseado nas
aulas de Saussure). Contemporaneamente a isso, predominava o “behaviorismo” que se
propunha a analisar, entender e controlar o comportamento.
Para a aquisição de linguagem, segundo o “behaviorismo”, ela se dá por
repetição, correção (estímulo  resposta  esforço).
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1957: Revolução Cognitiva (entender o que ocorre na mente). Publicação do


Syntatic Structures do Chomsky (1959: Revisão do Chomsky sobre a visão de Skinner e
a proposta behaviorista).
As línguas são o melhor espelho da mente humana.
A linguagem é um avanço biológico, ela está na genética humana.

2) Linguística gerativa
a) Origem
Resposta e rejeição ao behaviorismo que entendia a linguagem como um sistema
de hábitos linguísticos, como algo totalmente externo ao indivíduo. Para Chomsky, a
linguagem tem um potencial biológico, visto que somos criativos linguisticamente
falando (infinitude discreta  o falante consegue através de recursos infinitos chegar a
frases infinitas).
Gerativismo1  teoria mentalista e formalista. Mentalismo: leva em
consideração a mente. Ela se opõe ao behaviorismo, que era comportamental.
Formalista: analisar a linguagem a partir de um modelo formal, a linguagem é explicada
por um modelo matemático e não linguístico, visto que a linguagem pode ser ambígua
para fazer essa análise.
Observação: por que o nome é gerativismo? Porque geramos e combinamos
recursos finitos de forma não agramatical e infinita.

b) Conceitos básicos
 A modularidade da mente
A mente é formada por módulos, cada um com sua função (independentes) e que
se comunicam entre si. A linguagem precisa dialogar com a memória, conceitos, etc. A
linguagem é independente, ela tem um módulo próprio, mas interage com os outros.
Quais as evidências que demonstram a modularidade da mente?
o Caso Genie: construção sintática ruim, mas semântica boa;
o Casos Anthony e Laura: construção sintática boa, mas semântica ruim.
Anthony tinha um retardo mental, algum módulo cognitivo dele foi afetado.

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Funcionalismo: teoria que acredita que as estruturas da língua são estabelecidas de acordo com a função
que elas têm em um ambiente comunicativo.
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Se algo pode ser afetado, mas outro não, há dois módulos distintos. A mente é
modular e a linguagem é um dos módulos que compõe a mente.2
A gramática também é modular. Os componentes da linguagem são autônomos e
independentes entre si (sintaxe, fonética, semântica). O funcionalismo critica essa
modularidade da mente já que ele diz que é necessário a análise semântica (há uma
diferença semântica entre dizer “Você é chato” e “Chato é você”, ainda que não haja
diferença sintática).
Mente: conceito abstrato, campo da cognição. Cérebro: conceito concreto,
localizacionismo.

c) Conceito de língua do gerativismo


 Língua-E: compartilhada pelos indivíduos que integram uma mesma sociedade,
com suas diversas nuances, compartilhando uma cultura. Fenômeno histórico que se
constitui ao longo do tempo;
 Língua-I: conjunto de capacidades e habilidades mentais que fazem com que um
indivíduo particular seja capaz de produzir e compreender um número
potencialmente infinito de expressões linguísticas que o cercam. Interna, individual,
intencional.

d) Concepção de linguagem no gerativismo


Linguagem interna, inata e biologicamente determinada. A linguagem surge
como um produto, um processo de avanço genético e evolutivo da espécie.
Mesmo línguas diferentes possuem muitas semelhanças. O gerativismo tem por
objetivo construir um modelo teórico capaz de descrever e explicar a natureza e o
funcionamento da faculdade da linguagem.
A faculdade da linguagem é o dispositivo inato (aprendemos sem sermos
ensinados), capacidade genética, interna ao organismo e implementada pela biologia do
cérebro.
 Faculdade da linguagem, sentido amplo: aquilo que relaciona o conhecimento
linguístico com outros que são:
o Sistema articulatório perceptual: ele lê a forma fonológica;

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Disartria: o falante tem dificuldades para articular sons, mas o conhecimento linguístico dele é perfeito.
Afasia: o falante não tem problemas para articular sons, mas seu conhecimento linguístico é
comprometido.
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o Sistema conceptual intencional.


 Faculdade da linguagem, sentido estrito: aquilo que é estritamente linguístico:
léxico + sintaxe + forma fonológica + forma lógica.

e) Conceitos de competência e desempenho


 Competência/desempenho: conhecimento linguístico inconsciente que o falante
possui sobre sua língua e que lhe permite formular e compreender frases de sua
língua e ter intuições sobre ela, equivale à Língua-I;
 Desempenho/performance: conhecimento concreto de utilização da linguagem.
Frases que os falantes produzem quando usam a língua. Envolve habilidades não
linguísticas como atenção, memória, compreensão, etc.
Os estudos da língua se baseiam na competência porque é ela que permite o
acesso à língua que está na mente do falante.
Gramaticalidade é ligada à competência. Já a aceitabilidade é ligada ao
desempenho (exemplo com muitas frases relativas que gramaticamente é possível, mas
a memória/desempenho não permitiria).

f) Perguntas que norteiam o gerativismo


 O que há de comum e de distinto nas línguas?
 O que está na mente do sujeito, no seu aspecto cognitivo quando ele sabe falar uma
língua?
 Como o indivíduo adquire esse conhecimento?
 Como esse conhecimento é posto em uso? (performance  psicolingística)
 Qual é a base natural que propicia esse conhecimento?

3) A aquisição de linguagem segundo o gerativismo


Chomsky retoma o diálogo Ménon de Platão e faz a seguinte pergunta: como
uma criança com tão pouco conhecimento consegue se tornar fluente em sua língua? Ele
propõe, então, que ela possuía certos conhecimentos genéticos, ela era geneticamente
programada para adquirir linguagem. Esse mecanismo inato se chama Gramática
Universal (GU) que é a Faculdade da Linguagem em seu estágio zero.
A GU filtra os dados que recebe e vai formatando os mesmos de acordo com
esses dados que ela recebe.
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a) Teoria de princípios e parâmetros


Teoria que investiga especialmente aspectos sintáticos para caracterizar a GU.
Nas estruturas sintáticas é que se evidenciam as maiores semelhanças entre as línguas.
Os princípios coincidem em todas as línguas. Já os parâmetros variam conforme
a língua.

 Princípio da projeção estendida: toda oração tem sujeito;


 Parâmetro do sujeito nulo: algumas línguas preenchem foneticamente o sujeito.
o Português: admite o sujeito nulo;
o Inglês: não admite o sujeito nulo.

GU (estágio 0 da FL)  FL – estágio 1  FL – estágio 2 ...  FL – estágio final

b) Evidências a favor de uma GU


 Argumento da pobreza de estímulo
Os dados que as crianças recebem são muito pobres, finitos e degenerados
(frases truncadas, interrompidas, dados caóticos). No entanto, ainda sim a criança
consegue adquirir linguagem.
A experiência da criança na sua fase de aquisição é finita, ela tem “pouco
tempo” para adquirir linguagem e seu input é muito pobre, mesmo assim ela adquire.
Correção muitas vezes não surte efeito, a criança ignora. A criança só se
autocorrige quando ela já adquire aquele aspecto gramatical.

 Período crítico de aquisição de linguagem


Momento em que o ser humano (sua capacidade biológica) é mais propício a
adquirir uma determinada capacidade cognitiva. Evidências:
o Crianças privadas de experiência linguística e interacional que foram
privadas da aquisição de linguagem;
o Produção e desenvolvimento de segunda língua em crianças;
o Crianças surdas expostas à língua de sinas na puberdade e que não a
desenvolvem muito bem.
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Há divergência sobre quando se inicia esse período. Há, inclusive, autores que
afirmam que esse momento se dá ainda no útero materno, outros até 1 ano de idade. Da
mesma forma, não há consenso sobre o fim desse período e há quem diga que é por
volta dos 5, 7 anos e outros autores que afirmam que ele se conclui no início da
puberdade.

 Fases da aquisição da linguagem


Defende-se que crianças passam sempre por esses estágios de aquisição de
linguagem.
o 1ª) Fase pré-linguística (0 – 12 meses): balbucio;
o 2ª) Fase linguística (12 a 18 meses): estágio de uma palavra, esse mesmo
vocábulo é usado pra tudo;
o 3ª) Fase linguística (18 a 24 meses): estágio de duas palavras;
o 4ª) Fase linguística: estágio de combinações múltiplas, aqui as crianças já
conseguem construir frases completas.

4) A pesquisa gerativa
O gerativismo se propõe a analisar a linguagem humana de forma matemática e
abstrata, aproximando-se da linha interdisciplinar de estudos da mente humana
conhecida como ciência cognitiva.
As estruturas sintáticas são representadas pelas árvores sintáticas ou diagrama
arbóreo.
Como o gerativismo analisa competência, os dados que precisam ser analisados
não precisam ser do uso concreto.
No gerativismo também se acredita que existe mudança linguística e que fatores
extralinguísticos influenciam a língua. Ocorre que, como o gerativismo analisa o que
está na mente do sujeito, muitas vezes a variação e a mudança linguística não
influenciam a realização essa pesquisa.

a) Teoria das gramáticas múltiplas


Teoria que leva em consideração a aquisição tendo em vista as variações
linguísticas.
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De acordo com essa teoria, todos os falantes são de alguma forma bilíngues
porque dominamos mais de uma variedade de nossa própria língua. A criança na janela
de aquisição desenvolve várias gramáticas de sua língua.
Essa teoria também se aplica ao aprendizado de novos gêneros discursivos e
novas modalidades da língua. Temos diversas gramáticas e cada uma se aplica a um
contexto.
b) Morfologia distribuída
Há uma sintaxe dentro das palavras.

Vídeo aula 02 – O léxico e a estrutura das sentenças


1) Arquitetura da linguagem – gerativismo
A figura abaixo representa a faculdade da linguagem em sentido estrito.

A linguagem há muito tempo é associada a som e significado (tanto Aristóteles


quanto Sausurre já falavam nisso). No gerativismo, isso não muda muito. Há uma forma
fonética e a forma lógica. Gerativismo: representação fonética (π), Gerativismo
representação lógica (λ).
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As representações linguísticas são criadas passo a passo. Há um caminho serial


até se chegar às representações fonéticas e lógicas. As etapas que a estrutura linguística
vai passando até ficar pronta são conhecidas como derivação. A derivação é, então, o
processo computacional por meio do qual a linguagem humana constrói as
representações que serão enviadas para as interfaces. É o processo que a estrutura
linguística vai tomando até chegarmos às representações lógicas e fonéticas para que
essas representações sejam enviadas para os sistemas de interface e possam ser
codificadas e produzidas.

a) O léxico
Componente da linguagem no qual todas as informações fonológicas, sintáticas e
semânticas estão depositadas. É como se fosse um grande dicionário mental.
O léxico contém traços que são características que um item tem. Exemplo:
<comeu>:
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Quando vamos construir uma sentença, tiramos palavras do léxico e colocamos


na sintaxe que também é conhecida como sistema computacional. O sistema
computacional é um componente da linguagem que compõe expressões completas,
sintagmas e frases a partir da combinação recursiva de itens retirados do léxico.
Recursividade é a possibilidade de combinação de itens, sabendo que esses itens são
limitados, mas suas possibilidades de combinação são infinitas. A sintaxe vai
concatenar os itens.
Depois que o léxico passa pela sintaxe e pelo spell out, ele ganhará duas formas:
 Forma fonética: componente da linguagem que converte as representações
advindas da sintaxe em instruções cognitivas a serem enviadas para a interface
sensório-motora;
 Forma lógica: componente da linguagem que converte as representações advindas
da sintaxe em instruções cognitivas a serem enviadas para a interface conceptual-
intencional. Há aqui a forma como conceptualizamos e enxergamos o mundo, há o
significado da sentença.
Os sistemas de interface não são puramente linguísticos, eles fazem parte da
Faculdade da Linguagem em seu sentido amplo. Esses sistemas não fazem apenas parte
da faculdade da linguagem, mas sem eles, ela não existe já que são eles que fazem a
leitura das representações fonéticas e lógicas. Sistemas de interface são sistemas que
acessam e fazem uso do par (π) (λ). Eles são o sistema articulatório e perceptual, bem
como nossos desejos, anseios, nossa intencionalidade, raciocínio, motivações
comunicativas (a semântica é lida pelo sistema conceptual-intencional).
O léxico é um componente de modelo gramatical onde se encontram os traços
fonológicos, semânticos e formais dos itens lexicais da linguagem. Ele contém todas as
informações do item, tais quais funções gramaticais, fonológicas, semânticas, etc. O
léxico é um grande dicionário da gramática mental.
Traço: conjunto de informações que estão codificadas em um item lexical.
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Sentença: unidade mínima da sintaxe. Verificamos a relação entre a estrutura da


sentença e as palavras que a compõem. Verificaremos que a estrutura da sentença é
largamente determinada pela informação lexical. São as informações do léxico que vão
determinar quais posições e relações um item pode ter em uma sentença.

b) O léxico e a estrutura da sentença


 Seleção categorial, subcategorização (C-seleção)
As palavras pertencem a categorias semânticas, tais como nome, verbo,
preposição, adjetivo. A categoria sintática determina a distribuição do termo na
sentença.
Observação: os verbos, por exemplo, já trazem em seus itens as informações que
com eles podem ser combinadas, exemplo:
Verbo perguntar + oração subordinativa interrogativa.
Verbo abrir + nome.
Preposições [NP] ou [S] ou [S’].
Adjetivos [PP] ou [S’].
Há também uma seleção semantical, um item também irá determinar com o que
ele poderá ser combinado.

 Estrutura argumental
A entrada lexical de cada item possui uma grade temática que especifica o
número de argumentos e a função temática desses argumentos.
Maria chutou Pedro.
Maria: agente. Pedro: paciente.
Quais papeis temáticos um NP pode receber?
o Agente: aquele que pratica a ação;
o Paciente: aquele que sofre o efeito de uma ação, referente animado;
o Tema: referente inanimado (João comeu o bolo.);
o Experienciador: ser animado que está experienciando um estado mental,
psicológico (João pensou na Maria.);
o Beneficiário: aquele que se beneficia de algo (João deu o presente a Maria.);
o Alvo: a entidade para onde algo se move, tanto em sentido literal quanto
metafórico (O João jogou a bola para a Maria.);
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o Fonte: a entidade de onde algo se move, tanto em sentido literal quanto


metafórico (João voltou de Paris.);
o Instrumento: meio pelo qual a ação é desencadeada. (João colou o vaso com
cola.);
o Causa: desencadeador de uma ação sem controle. (O Sol queima a plantação.)
Alguns itens podem receber papeis temáticos diferentes. O verbo seleciona um
argumento interno e externo, mas o mesmo item pode adquirir diferentes papeis
temáticos a depender da estrutura sintática.
 O ladrão empurrou [o guarda].  Guarda é paciente.
 [O guarda] empurrou o ladrão.  Guarda é agente.
 O ladrão assustou [o guarda.]  Guarda é experienciador.
 [O guarda] teme o ladrão.  Guarda é experienciador.
 O ladrão deu um presente para [o guarda].  Guarda é beneficiário.
 Normalmente, verbos que tem a ideia de sentimento trazem o experienciador.

Verbo “empurrar” seleciona dois objetos, um interno que tem que ser NP e um
argumento externo que também é um NP. “Chutar” exige argumento interno e externo,
“sorrir” exige apenas argumento externo.
O primeiro argumento é sempre o interno, depois é que vem o externo.
Contudo, há casos em que duas interpretações são geradas. Exemplo: Eu cortei o
cabelo. Posso pensar que eu mesma cortei o cabelo ou que tive o cabelo cortado por
alguém. A estrutura sintática é a mesma, o argumento interno é um tema, o referente
inanimado relacionado à ação; já o argumento externo pode ser um paciente que sofreu
a ação de ter o cabelo cortado ou o próprio agente que cortou o próprio cabelo. O léxico
também determina essas possibilidades de interpretação.
Maria quer [que[João compre um carro novo.]] O verbo “querer” seleciona dois
argumentos: um argumento interno que é uma S’ (sentença com palavra QU) e o
argumento externo que é uma NP que pode ter uma função de agente ou paciente. Por
fim, temos o verbo comprar que também tem dois argumentos, um argumento interno
que tem papel de tema (quem compra, compra algo) e um argumento externo que tem
um papel de agente.
Às vezes, a mesma entrada fonética tem duas entradas no léxico. Exemplo:
“ainda” pode ser algo que começou no passado e continua até hoje; contudo, há também
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uma ideia de “inclusive”, “O João estuda francês e ainda trabalha em três empregos.”
Os verbos, por sua vez, também podem ter mais de uma entrada, exemplo:
A: O senhor aceita uma cerveja? Beber aqui tem o significado da não
B: Não, eu não bebo. ingestão de bebida alcoólica.
A: O senhor aceita uma cerveja? Aqui beber tem uma ideia de que a
B: Não, eu não bebo cerveja. pessoa não bebe cerveja.

A forma fonética pode ser a mesma coisa, mas sintaticamente elas possuem
significados distintos.

a) Critério Theta (θ)


Cada argumento tem que receber um e somente um papel temático. O item na
sentença só recebe um papel temático de acordo com as exigências do verbo. Se o
falante não consegue estabelecer o papel temático, a sentença é agramatical. Os verbos
selecionam os valores dos itens e todos os elementos tem um valor temático.

b) Princípio de projeção
 O léxico determina a sintaxe. A informação lexical está contemplada na sintaxe, se
uma informação não é colocada, a frase fica agramatical. As exigências do léxico
precisam ser atendidas na sintaxe, ainda que implicitamente (Exemplo: Perdi minhas
chaves ontem, mas hoje minha irmã achou. – Aqui, ainda que “chaves” não esteja
expressa foneticamente, ela se encontra implicitamente porque é recuperada no
contexto);
Categorias vazias são itens que não são expressos foneticamente, mas que estão
determinados sintaticamente. Apenas na fonética ele não está sendo expresso, mas há
papel na sintaxe.

c) Expletivos
São elementos que estão na posição de NP, mas que não são argumentos ou que
não possuem papel temático. Mas, eles são requeridos pela sintaxe, eles apenas
cumprem uma função sintática.

d) Princípio da projeção estendida


Toda oração tem sujeito, ainda que ele não seja realizado foneticamente.
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“It rains.” “Il plent.” “Chorei” “Parece que as crianças dormem.”

e) Verbos transitivos
Selecionam um ou dois argumentos internos, bem como um argumento externo.
Exemplo: João comeu o bolo. / Maria colocou o livro na estante.

f) Verbos inacusativos
Selecionam apenas um argumento interno. Exemplo: Há dinossauros nesse
parque. / Parece que a Maria enfrenta muitos problemas na vida. Não é preciso um
argumento externo.

g) Verbos inergativos
Selecionam apenas argumentos externos. Exemplo: Maria correu.

Mais importante da aula: a sintaxe adota critérios do léxico, o léxico determina a


estrutura da sentença, existe uma seleção categorial e uma seleção semântica.

Vídeo aula 03 – Categorias vazias e objetos nulos


 João viu a Maria.  gramatical. (a frase tem todos os itens e seus itens atendem às
necessidades semânticas)
 Maria viu o João.  gramatical.
 João viu.  agramatical (falta um item, um argumento interno)
 Viu o João.  agramatical
 Viu.  agramatical
 A: Maria, você viu o João? / B: Vi.  “Vi” nesse caso é gramatical, os itens não
foram realizados foneticamente, mas estão expressos sintaticamente (mesmo que
implícitos).

1) Categoria vazia: definição


Uma categoria vazia é um objeto sintático desprovido de traços fonológicos, é
um item que está na sentença, ele tem um valor sintático, mas não está sendo realizado
foneticamente. Apesar de não terem realização fonética, são elementos sintaticamente
ativos. Trata-se de uma categoria puramente sintática e/ou semântica a serviço da
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estruturação da sentença, sem nenhuma repercussão na pronúncia final da representação


linguística.
Uma categoria vazia é um objeto sintático desprovido de traços fonológicos.
Quais os tipos de estrutura da sentença que temos no Português?
 SVO  _VO  SV_  _V_

Dessa forma, os tipos de categoria vazia são:


 pro: sempre ocorrem em posições argumentais;
 PRO: sempre ocorrem em posições argumentais;
 t (vestígio): nem sempre ocorrem em posições argumentais;

1) Categoria vazia: pro


O pro possui uma matriz gramatical, a qual especifica, através de um sistema de
traços distintivos, a sua composição relativa a propriedades de número, gênero, pessoa e
caso. O pro estará no sujeito de orações flexionadas.
John has spoken.
*___ has spoken.

Giacomo há parlato.
___ há parlato. (pro, a ausência do sujeito não é agramatical). pro: sujeito que
não foi expresso foneticamente de orações flexionadas. O pro carrega informações de
número, de gênero, de pessoa e de caso. No caso aqui sabemos que estamos diante de
um singular, masculino, 3ª pessoa, caso nominativo.

O pro pode ocupar também posições argumentais não-temáticas, assim como os


expletivos il (do francês) e it do inglês.
pro Parece que amanhã vai chover. Há um item aqui que não está sendo
realizado foneticamente, mas ele carrega informações sintáticas, de número, gênero,
caso e pessoa. Isso no inglês é representado pelo “it” e no francês pelo “il”.
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___ Comi o bolo.


___ Comeram a comida toda.
Onde está o João? R: ___ Foi na casa da mãe dele.
O pro ocupa a posição de sujeito das orações flexionadas nas línguas que
permitem que a posição de sujeito seja categoria vazia (o que ocorre em Português,
Espanhol, Italiano, mas não ocorre no Inglês e no Francês, por exemplo. Os traços desse
sujeito nulo são identificados pela flexão do verbo.
A presença de sujeitos nulos é uma dimensão discreta.
Se eu apago o sujeito, a tendência é ter um estatuto morfológico com
concordância verbal. Uma língua que tem AGR forte são línguas que mantemos a
morfologia de concordância (o que ocorre no Espanhol), mas AGR 3 fraco são línguas
que tendem a não manter o sujeito nulo. Línguas com AGR especificado como forte
(aquela em que a morfologia é bastante rica) temos um pro licenciado. Por outro lado,
se temos um AGR especificado como fraco, com morfologia flexional mais fraco, o pro
não é licenciado. Talvez, a existência maior de sujeito pleno no Português parece ser
decorrente do fato da morfologia verbal estar em processo de empobrecimento.

a) Como as crianças adquirem o sujeito nulo


As crianças vão adquirindo parâmetros e um dos mais importantes é saber se há
possibilidade de sujeito nulo ou não. A criança começa adquirindo a língua menor, que
é aquela com informação mais básica, o que no caso seria preencher sempre o sujeito.
As crianças, portanto, sempre preenchem o sujeito e somente depois de um tempo elas
deixam de preenche-lo. A criança começa adquirindo pela regra mais básica,
preenchimento de sujeito, depois elas deixam de fazê-lo.

2) Categorias vazias: PRO


Se o pro identifica informações de gênero, número, caso, pessoa porque está em
orações flexionadas. O PRO ocupa posição de sujeitos das orações infinitivas.
Os pais querem [dormir]. O PRO está ali como sujeito do verbo dormir.
As crianças querem [PRO dançar].
João prometeu à Maria [PRO sair mais cedo].
He wants [PRO to understand Linguistics].
Pedro quiere [PRO plantearse una idea mejor].
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AGR vem de “agreement”, concordância.
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Giovana vuole [PRO dormire presto].


Jean veut [PRO dormir tôt].
A referência do sujeito aqui é a mesma da oração principal, já na frase debaixo
não é, mas o sujeito também está expresso na sentença.
É importante [PRO terminar a tese].

pro PRO
Distribuição limitada Distribuição ilimitada (ele está em todas
as línguas)
Apenas línguas especificadas Universal, ele é possível em todas as
positivamente para o parâmetro pro-drop línguas

Língua +pro-drop: ela permite esse


parâmetro
Sujeito de orações flexionadas, Sujeito de orações infinitivas
conseguimos recuperar as informações
+ pronome, -anáfora +pronome, + anáfora

Quando Chomsky fala de Teoria da Ligação, ele diz que expressões nominais
podem ser diferenciadas através dos traços anafóricos e traços pronominais. Pensemos
agora em categorias plenas, aquelas que são realizadas plenamente:
 [+pronome, -anáfora]: livre no domínio onde é regida, podendo ser ligada num
domínio maior. Ex: pronomes - [Ele].
o Frase: Ele comeu o bolo, esse “ele” é livre, não tem interpretação de outra
coisa. / Frase: “João comeu o bolo. Ele é distraído.” Esse segundo “ele” é
livre na sentença, mas ligado a um domínio maior;
 [+pronome, +anáfora]: ligada e livre no domínio onde é regida; a única solução para
esse paradoxo é que não haja regência para essa categoria. Não existe um item
expresso foneticamente que seja +pronome e +anáfora;
 [-pronome, +anáfora]: dentro da sentença, ele está ligado. Ligada no domínio
mínimo onde é regida. Ex: anáforas (uns aos outros). “João se machucou.” Esse “se”
recupera algo dentro da própria sentença;
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 [-pronome, -anáfora]: livre no domínio onde é regida e fora dele. Ex: expressões
referenciais (João), não se recupera algo em uma referência maior, por exemplo.
“João comeu o bolo.” João está livre nessa sentença e não está ligado a nada.
Chomsky pega essa proposta de classificação de traços das categorias plenas e
passa a fazer uma adaptação para falar das categorias vazias.
[+pronome, -anáfora]  pro
[+pronome, +anáfora]  PRO
[-pronome, +anáfora]  NP
[-pronome, -anáfora]  variável, que é uma categoria vazia.

3) Objetos nulos discursivamente orientados


*Eu encontrei ontem à noite.
*Eu vi ontem à noite.
A: Você viu o jogo ontem.
(Eu) vi. (Objeto direto pragmaticamente identificado no contexto discursivo, a
informação é recuperada, temos uma categoria vazia que não é expressa foneticamente,
mas é realizada sintaticamente.) Há línguas que se utilizam de clíticos: Português: Eu vi.
Espanhol: Lo vi. Francês: Je l’ai vu. Italiano: L’ho visto.
Loi vi ti. O objeto era pra ser realizado em uma determinada posição, mas ele foi
levado para outro lugar na sentença, ou seja, movimentamos o item, mas deixamos um
vestígio de onde ele foi gerado.

4) Outros casos em que realizamos categoria vazia


Quando utilizamos uma estrutura de “Tópico e foco” ocorre que escolhemos
uma estrutura com uma posição de tópico e depois falamos algo sobre isso. Exemplo: O
João, ele está em casa. (João é o tópico, “ele está em casa” é o foco). Esses casos
permitem o que chamamos de sujeito cópia que ocorre quando o sujeito é foneticamente
realizado, mas além disso, é também o tópico foneticamente realizado.
João, ele está em casa.  ele = sujeito cópia.
João, está em casa.  sujeito = categoria vazia variável porque diz respeito a um
item que está na sentença, mas foi movido para uma posição não argumental.
João, eu vi ele. (ele = objeto cópia)
João, eu vi. (objeto = cv variável, a categoria vazia aqui foi movida para uma
posição não argumental da sentença, isto é, a posição de tópico).
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Categorias vazias que vimos até agora: pro, PRO, traço ou vestígio, categoria
variável.

5) Objetos nulos opcionais


A interpretação do objeto é subentendido ou é culturalmente fixa ou designa a
espécie de coisas genética, canônica ou prototípica que os objetos fonéticos desses
verbos usualmente designam.
Eles não lêem. (não é agramatical, ainda que não haja contexto anterior porque o
objeto é nulo opcional).
Eles ainda não comeram.

Vídeo aula 04 - A estrutura sintagmática


1) Unidades mínimas de análise
Podemos analisar a língua a partir de diversos níveis: fonética, fonologia,
morfologia e sintaxe e cada um desses itens uma unidade mínima de análise. Fonética,
fone. Fonologia, fonema. Morfologia, morfema. Sintaxe, sintagma.
O sintagma são partes, itens que compõe a sentença e que são juntados para
fazer emergir uma unidade sintática.

a) Evidências de que as sentenças são estruturadas por unidades menores


 Ordem linear das palavras em uma sentença (podemos até trocar a ordem, mas
muitas coisas não são possíveis). Essa ordem é determinada por princípios mentais;
 A categorização das palavras em parte da sentença (categoria lexical). Podemos
separar os itens da sentença como pertencentes a uma categoria (categoria nome,
verbo, adjetivo), o que é feito através de um critério funcional, verificando como
uma palavra se comporta em uma sentença;
 O agrupamento de palavras em constituintes estruturais da sentença:
o Os princípios mentais determinam o modo com os constituintes deverão ser
agrupados na sentença;
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o Os constituintes, dependendo da maneira como são agrupados, geram


interpretações diferentes. (The mother of the boy and the girl.  A mãe do
menino e da menina. / A mãe do menino e a menina.)

A árvore sintática é uma forma de explicar a sentença de uma maneira


esquemática pra explicar linguagem.

b) A noção de sintagma
 Um sintagma é uma unidade sintática construída hierarquicamente;
 Não é possível prever o número máximo de sintagmas existentes;
 A sintaxe delimita o sintagma a partir de seu núcleo;
 O núcleo determina as funções que se estabelecem dentro de um sintagma.

Em um sintagma podem ser encaixados outros elementos, mas a categoria dele é


sempre determinada por seu núcleo. Depois de identificarmos o núcleo, devemos
identificar os itens que gravitam ao redor desse núcleo.
Ordem: SVO (sujeito – verbo – objeto). SOV abrange 45% das línguas do
mundo. SVO 42%.

c) Categorias lexicais
 Verbo: está alocado no núcleo de um sintagma verbal.
VP  V – (NP) – (PP)
[VPRetornou]
[VPPintou [NPcasas]
[VPDeu [NPpresentes] [PPpara a Maria]]]
[VPGostou [PPda casa]]

 NP  N – (AP) – (PP)
[NPJoão]
[NPMenino [APbonito]]
[NPApresentador [PPde roupa azul]]
[NPProfessor [APbonito] [PPde Linguística]]]
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 AP → (Adv) A – (PP)
[APbonito]
[APMuito bonito]
[APConsciente [Ppdo problema]]
[APInteiramente consciente [PPdo problema]]

 PP → (Adv) P – NP / S
[PPpara [NPmim]
[PPpara [Scomer]
[PPImediatamente após [NPa aula]]

d) Teoria X-Barra
A teoria X-barra é a teoria gerativa que explica essas funções, ela explica a
organização interna do sintagma. Explicita a estruturação do sintagma, sua natureza, as
relações que se estabelecem dentro dele e o modo como os sintagmas se hierarquizam
para formar a sentença. É uma teoria que tenta explicar tanto a estrutura do sintagma
tanto como eles se relacionam para formar a sentença de maneira geral.
A teoria X-barra é universal a ponto de configurar-se como um esquema geral
capaz de captar a estrutura interna dos sintagmas de qualquer língua, mas também deve
prestar-se a dar conta da variação nas diferentes línguas. A teoria gerativa tenta explicar
todas as línguas do mundo porque ela prevê que o conhecimento linguístico faz parte da
biologia humana.
A teoria X-barra estabelece que todos os sintagmas são formados pelo núcleo,
pelo complemento do núcleo, pela(s) projeção(ões) intermediária(s), pelo especificador
e pela projeção máxima.
Todas as ramificações da árvore são binárias. No máximo há duas aberturas.
21

Todo sintagma tem XP, X’, X, especificador e complemento.


O núcleo de um sintagma lexical pode ser um verbo (VP), nome (NP), adjetivo
(AP) ou uma preposição (PP). Identificaremos um sintagma sempre pelo seu núcleo.
Essas categorias como nome, adjetivo, preposição e verbo podem ser reconhecidos por
traços:
[+N] [-N]
[-V] Nome Preposição
[+V] Adjetivo Verbo

Radical -am: nenhum valor de [+N], [-N]. Já amar eu sei que tem um conjunto
de valores que levam ao traço verbal (posso conjugar, mudar a pessoa, etc), mas não
tem traços como gênero que são característicos de um sintagma nominal. Já amado tem
tanto informações de nome quando é compilado com o verbo ser (Maria é muito amada
pelo João.), mas também tem estrutura de verbo como quando o usamos como
particípio. A preposição não tem nem traço de verbo, nem de nome porque ela não tem
radical que a transforma em outro item e também porque as preposições têm um número
limite. Há autores que entendem que preposição não é classe lexical, mas seria um item
funcional, contudo, como a preposição é capaz de fazer a s-seleção, ela ainda é
enquadrada como categoria lexical.
No Português, o adjetivo não traz tantas informações, mas há línguas indígenas
em que quem predica é o adjetivo, ele que traz argumentos, etc.
A projeção intermediária (X’) domina o núcleo (X) e seu complemento.
Havendo mais de um complemento, haverá mais de uma posição intermediária.
Havendo dois complementos, por exemplo, temos dois argumentos internos (que são
dois itens selecionados pelo verbo) e que obrigarão a ter dois complementos.
22

O especificador combina-se com a projeção intermediária (X’) mais alta e abriga


o argumento externo (que é algo como o sujeito).
A projeção máxima contém todos os itens do sintagma, pode haver a adjunção
de uma outra projeção máxima acima de outra para abrigar os adjuntos.

Essas abaixo são as possibilidades de árvore sintática que existem:


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Nome, verbo, adjetivo e preposição são classes lexicais. Uma propriedade


definidora das classes lexicais é a capacidade que seus membros têm de selecionar
semanticamente seus argumentos (s-seleção). Essas classes podem determinar quais são
os valores semânticos que podem vir depois. Quando falamos “João bebeu o carro.”,
ainda que haja após ele um nome, o verbo tem uma categoria semântica lexical e ele
determina quais palavras com determinadas funções semânticas podem vir após ele.
Existe um conjunto de relações entre os e nódulos (nós) da árvore (ver slides):
 Dominância: o nódulo A domina o nódulo B se e somente se A é mais alto na
árvore e se pode traçar uma linha descendente de A até B.

 Maternidade: o nódulo A é mãe do nódulo B se e somente se A dominar B


imediatamente;
 Irmandade: o nódulo A é irmão do nódulo B se e somente se ambos tiverem a
mesma mãe;
 Precedência: O nódulo A precede o nódulo B se e somente se A estiver à esquerda
de B e não domina B e B não domina A;
 Regência: O nódulo A rege o nódulo B se e somente se A é um regente e A e B são
nódulos irmãos. Para ser regente, tem que ser núcleo do sintagma e tem que ser
irmão.
 C-comando: O nódulo A c comanda o nódulo B se e somente se A não domina B e
B não domina A e o primeiro nódulo que domina A domina também B. A e B nunca
se dominam, mas eles têm que ter algo em comum

Vídeo aula 05 – Sintagma determinante e sintagma nominal


Sintagma determinante
Sintagma que não se refere a uma categoria lexical, mas sim a uma categoria
funcional.
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O menino comeu o bolo. / Todo mundo comeu vários doces.


O (menino), o (bolo), todo e vários são determinantes. Sintagmas determinantes
exigem um item nominal.

O que define o sintagma determinante? Ele tem em seu núcleo um determinante


que pode ser:
 Artigo: o, a, os, as, um, uma, uns, umas;
 Pronomes possessivos: meu, teu, seu, nosso...;
 Pronomes demonstrativos: este, esta, isso, esse, aquele...;
 Quantificador: todo, cada, vários...;
 Pronomes interrogativos: que [N], qual [N]....
O determinante traz uma especificidade pro nome que vem depois.
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O que pode ficar em spec de DP? Alguns autores defendem que certos advérbios
podem ocupar a posição de spec de DP.

Sintagma nominal
Quando temos um sintagma determinante, sabemos que ele também exige que
haja um sintagma nominal. Dentro do DP tem sempre um NP, sendo que o DP abarca
tudo, já o NP é complemento de DP.

1) O que pode abarcar sintagmas nominais?


26

O sintagma nominal abarca substantivos e pronomes pessoais. A estrutura dele é


idêntica à de todos os outros: projeção máxima, projeção intermediária, núcleo e
especificador.
a) Nomes nus: itens nominais que não são precedidos por um determinante. [Meninos]
gostam de [futebol]. / [Porcos] são [animais].

Ocorre que, ainda que os sintagmas não tenham um determinante, usaremos um


DP.

b) Nomes com determinantes


O sintagma DP inclui o NP.
27

2) NPs e argumentos
NPs possuem a característica de, assim como verbos, poderem ter argumentos.
Eles podem selecionar argumentos internos e destacamos entre os nomes que podem
presentar argumentos aqueles que partilham radical com verbos. Estes podem ter
argumentos que, como qualquer argumento, devem ser incluídos no sintagma. Exemplo:
“Ele presenciou a demolição do prédio.” Demolição, construção, embarcação, medição,
deserdação, tudo isso são nomes que possuem radical de verbo.
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3) NPs e adjuntos
NPs também podem ter adjuntos. “A demolição do prédio pela demolidora.”

Cada N’ corresponde a um argumento. Já cada adjunto corresponde a um NP.

PP pode ser argumento ou adjunto. Adjetivos são sempre adjuntos.

Vídeo aula 06 – Sintagmas adjetivais e preposicionais


1) O sintagma adjetival
Abarca o adjetivo. O adjetivo é adjunto a um nome.
29

Lembrando que se tenho x adjuntos, terei x + 1 projeções máximas.


Adjetivos também podem ter argumentos. Alguns adjetivos também selecionam
alguns itens como complementos. Nesse caso, assim ficará a árvore:

2) O sintagma preposicional
Seu núcleo é formado por uma preposição, possuem sempre um complemento.
Uma das possibilidades de complemento é um sintagma determinante/nominal.
30

Vídeo aula 07 – Sintagma verbal e flexional


1. Sintagma verbal
Sintagma verbal: núcleo verbo. Também tem projeção máxima e intermediária.

Na posição de Spec vai entrar o argumento externo. Já na posição de


complemento será gerado o argumento interno. Havendo mais de um complemento
haverá mais de uma projeção intermediária, entretanto, havendo mais de um adjunto,
haverá mais de uma projeção máxima.
Lembrando que para um NP seja considerado um argumento em uma sentença,
ele deverá possuir um DP antes dele.
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2. Sintagma flexional
Uma sentença requer uma flexão para se constituir como independente. Se eu
falo “O menino chegar é.” é agramatical, já, “O menino chegou.” é independente. Para
“O menino chegar.” ser gramatical, seria preciso outra sentença antes, como “Ela estava
esperando o menino chegar.”, o que demonstra a dependência dessa frase.
As sentenças sem flexão são dependentes, elas precisam aparecer em uma oração
encaixada. Sentenças com flexão são independentes e a flexão verbal será o núcleo da
sentença.

a) Características do sintagma flexional


 Núcleo funcional de uma oração independente;
 A flexão carrega traços de informação de tempo, aspecto, modo e concordância;
 Os traços desse núcleo podem ser ou não realizados morfologicamente. Há traços
que não são realizados morfologicamente, exemplo:
o He wants / He want;
o Eles querem / Eles quer
o As crianças comem / As crianças come
 C-seleciona um VP como complemento.
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Com base nas orações flexionais, podemos dividir as orações em três tipos:
 Orações finitas e flexionadas (independentes): carregam traços de tempo e de
concordância, por isso são [+T, +AGR];
o Exemplo: As crianças amam chocolate. / Acabaram com o bolo ontem.
 Orações infinitivas: não carregam informações de tempo nem de concordância [-T;
+AGR];
o Exemplo: Eles querem chegar cedo. / Nós queremos chegar cedo.
 Orações infinitivas flexionadas: não carregam informações de tempo, mas carregam
informações de concordância. [-T, +AGR].
o Exemplo: Isto é para nós fazermos. / Isto é para eles fazerem.

Quando começamos a estruturar a árvore sintagmática, há uma discussão sobre


os aspectos de tempo e concordância do verbo. Há quem diga que o verbo inicia sem
concordância, mas depois, ele sobe na árvore e pega esses valores, outros, entretanto,
afirmam que o verbo vem com esses valores, mas eles não estariam confirmados, e
depois o verbo subiria na árvore e checaria esses traços.
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Nessa posição que o verbo se encontra na figura acima, ele não possui marcas de
tempo, concordância, aspecto. Para tanto, o verbo sobe, vai para o IP e ele é movido
para buscar essas informações que são os dados de flexão. Contudo, precisamos mostrar
onde que esse verbo estava inicialmente, e para isso usaremos o t (traço).

O sintagma flexional permite o movimento do verbo e a checagem de seus traços


em sua origem.

c) Evidências a favor da existência do sintagma flexional


 Diferenças entre orações flexionadas (independentes) e orações infinitivas
(dependentes);
34

 Dados de pacientes afásicos (os pacientes, muitas vezes, produzem frases infinitivas,
mas não produzem frases flexionadas (isso demonstraria que eles não conseguem
subir o verbo);
 O papel de advérbios da sentença.

Ocorre que posição em que a frase ficou na última árvore acima, ela não reflete a
ordem das frases. O argumento externo ele é gerado no Spec de VP, mas isso não
garante que ele seja interpretado como sujeito da sentença, para tal, ele precisará ser
movido, e ficará assim:

Primeiro o verbo é movido, depois o sujeito.


Há quem diga ainda que o verbo se move do núcleo V para o núcleo AGR para
buscar informações de concordância, como também se move para o núcleo T para
buscar informações de tempo, conforme a figura abaixo:
35

Entenderemos aqui que no núcleo I o verbo pega todas suas informações.

Vídeo aula 08 – Sintagma complementizador


A sentença ou a oração pode ser a projeção de um núcleo complementizador ©,
que define o tipo de sentença ou oração (declarativa, interrogativa). O sintagma
complementizador, ainda que ele tenha a característica de ser funcional, ele não está
presente em todas as sentenças, o que o difere dos sintagmas flexional e verbal, que
estão presentes em todas as orações.
O sintagma complementizador aparece em situações bem específicas. Exemplo:
“Ela disse [que o João gostou do bolo.]” Depois do verbo “disse” temos um sintagma
complementizador e depois dele temos um sintagma flexional (IP – “o João gostou do
bolo”) que abarca toda a sentença. O complementizador que está introduzindo essa
oração subordinada é o “que” e ele traz informações de que essa sentença é declarativa.
Já na sentença: “Ela perguntou se o João gostou do bolo.” esse “se” introduz
outra oração subordinada. O “se” aqui é um complementizador interrogativo. “Que” e
“se” são os complementizadores do português, eles estarão no núcleo do sintagma
complementizador. Agora “que” e “se” podem ser relacionados a vários outros
itens gramaticais.
A natureza da declaração, se ela é declarativa ou interrogativa, quando elas estão
subordinadas está basicamente definida pela natureza do complementizador que
introduz essa sentença.

1) Estrutura do sintagma complementizador


Há uma projeção máxima (CP), outra projeção intermediária (C’) e um núcleo
(C) e nesse núcleo podem entrar “que” e “se” complementizadores.
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O sintagma que vem depois de CP sempre será IP. O sintagma


complementizador c-seleciona (seleção categorial) IP. Mas, ele seleciona uma oração
conjugada, uma oração com informações de tempo e aspecto, não pode ser uma oração
infinitiva.

2) Interrogativas e CP
A maior parte das frases interrogativas são perguntas diretas, como “Quem
deixou o papel na estante?” O CP tem um papel importante nessas sentenças. O
especificador de CP pode abrigar a palavra QU em sentenças interrogativas.
A palavra QU deixa um traço na sua posição de origem e move-se para o Spec
de CP.
“Quando a menina viu o rapaz?” Sabemos que o verbo “ver” exige um
argumento interno e um argumento externo (Alguém vê algo ou alguma coisa.) Nesse
caso, o argumento externo é “a menina” e o argumento interno é “o rapaz”, “quando” é,
portanto, adjunto nessa sentença e sabemos que adjuntos são gerados depois do
argumento interno. Por isso, a posição original do adjunto “quando” é depois de “o
rapaz”. Mas, para produzirmos uma sentença “Quando a menina viu o rapaz?” preciso
dizer que esse item foi gerado na posição de adjunto, mas foi movido para posição de
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Spec de CP. Há um movimento de uma palavra QU que ocupava uma posição de


adjunto para uma posição de Spec.
A possibilidade de perguntar: “Quem que a menina viu?”, “Quando que a
menina comeu bolo?”, isto é, a possibilidade de incluir esse “que” demonstram que o
item foi movido da sua posição original para a posição de Spec de CP.

3) Relativas e CP
O especificador de CP pode abrigar um pronome relativo em orações relativas.
Exemplo: “O rapaz que viu a menina chegou.” Nesses casos, essas orações relativas,
que modificam o nome, elas são adjuntos do nome. O pronome relativo desempenha
uma função sintática na oração em que ocorre e é movido da posição em que é gerado
para a posição de Spec de CP. Além disso, “que” é sujeito de “viu”, ele recupera “o
rapaz”.
É importante saber diferenciar orações subordinadas de sentenças relativas
porque seus itens ocuparão posições diferentes na árvore sintática.

Vídeo aula 09 – Teoria do caso


1. Caso nominativo
Essa teoria dá conta de propriedades formais de DPs e NPs. A função do caso é
permitir a discriminação dos argumentos de um dado predicador.
Latim  caso morfológico. Argumento externo: caso nominativo. Argumento
interno: normalmente acusativo. No português, a marcação de caso é feita pela ordem
das palavras. Mas, no português, alguns pronomes trazem a evidência do caso, exemplo:
“Eu comprei-o”, esse “o” marca o caso acusativo.
Caso é um conhecimento inato que está na nossa cabeça. Por isso, falaremos em
caso abstrato. As manifestações morfológicas de caso são parametrizadas, depende de
uma língua para outra.
Todos os DPs/NPs possuem caso.
Inglês, português, espanhol possuem alguns pronomes que dão indícios de caso.
Chamamos esse fenômeno de marcação excepcional de caso que ocorre quando a língua
não tem traço marcado fonologicamente, mas alguns pronomes trazem essa informação.
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Sujeitos de orações finitas (orações finitas são aquelas em que o verbo não está
no infinitivo) recebem caso nominativo. O caso é atribuído pela flexão.
O sujeito para receber caso nominativo precisa mover-se para spec de IP. Para
que um DP seja sujeito, ele precisa estar alocado em spec de IP para receber caso.

2. Caso acusativo
O caso acusativo é atribuído na posição de complemento de V. O núcleo V
atribui o caso acusativo, o caso acusativo diz respeito ao argumento interno 1.

3. Caso oblíquo
É atribuído pela preposição, argumento interno 2. Entregou a carta ao Pedro.
Entregou a carta para mim. A preposição atribuiu o caso oblíquo.

4. Atribuidores de caso
Somente núcleos com traço [-N] podem atribuir caso que são a preposição e o
verbo. Verbo vai atribuir o caso acusativo e flexão verbal atribui o caso nominativo. A
preposição atribui o caso oblíquo.

Vídeo aula 10 – Estrutura profunda e superficial


Em 1980, Chomsky traz a ideia de que a sentença teria dois níveis: a estrutura
profunda e a estrutura superficial. A estrutura profunda seria o nível que codifica as
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propriedades temáticas dos constituintes da sentença, e a estrutura superficial seria o


nível que reflete as propriedades mais superficiais da sentença, como a ordem em que os
constituintes são pronunciados.
A estrutura profunda seria a ordem que os níveis são gerados na sentença antes
de ter os movimentos (exemplo: O que João comeu?, esse “o que” sai do núcleo V e vai
para o Spec de CP, a estrutura superficial é “O que João comeu?”, mas a estrutura
profunda seria “João comeu o que?”).

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