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Pensamento e Linguagem

Linguagem e Cognição

➔ Linguagem: Sistema simbólico, usado para pensar e comunicar.


➔ Cognição: Sistema de atividades mentais que nos permite adquirir, guardar e
usar a informação - o conhecimento.

A maior parte do que nós entendemos como um comportamento inteligente é julgado


através da capacidade de utilização da linguagem de forma lógicos e construtiva (quem
não usa a linguagem de forma lógica e construtiva é julgado como menos inteligente).

A utilização eficiente da linguagem exige vários tipos de conhecimento (vocabulário e


significado…)

Influencia da linguagem no pensamento

Será que a estrutura da linguagem – sintática, morfológica, fonológica— afeta o


pensamento?

Três posições:

➔ A linguagem não tem efeito significativo no pensamento


➔ Efeitos gerais da linguagem- aspetos universais da linguagem moldam o
pensamento humano.
➔ Efeitos específicos- cada idioma molda o pensamento humano

A linguagem não tem efeito significativo no pensamento

A linguagem é apenas um aspeto da cognição e depende dela. Antes da criança ouvir a


palavra sobre qualquer coisa, a criança já tem a base dos conceitos a que estes nomes
correspondem.

Já existe uma linguagem do pensamento, logo, quando aprendemos a falar, adquirimos


uma “segunda língua”

➔ O desenvolvimento linguístico depende do desenvolvimento cognitivo

A linguagem não tem efeito significativo no pensamento

Teoria Cognitivista - Piaget “As estruturas que caracterizam o pensamento têm as suas
raízes nas ações e nos mecanismos sensórios-motores, que são mais profundos que os
mecanismos linguísticos.”

Relação entre desenvolvimento cognitivo e desenvolvimento linguístico:

➔ As capacidades linguísticas só são possíveis pois há uma sequência cognitiva


adquirida
Pensamento e Linguagem
Sequencia Aquisição Cognitiva Sequencia Aquisição Linguística
Reflexos Choro e sons vegetativos
Inicio Permanecia do Objeto Lalação / Ecolálias (começa a tentar
verbalizar os objetos)
Representação mental/Função simbólica: Surgimento da linguagem-discurso
jogo, imitação diferida… telegráfico
Permanecia do Objeto Completamente Aumento substancial do vocabulário
Adquirida (nomes -carro, casa…)

Durante o pré-escolar, a criança usa estratégias para colmatar as dificuldades


linguísticas que possui, devido ao seu nível desenvolvimental (como o nível cognitivo não
lhe permite tudo, a criança usa estas estratégias).

Durante o pré-operatório:

Sequencia Aquisição Cognitiva Sequencia Aquisição Linguística


Inicio: Permite a linguagem socializada, ao
➔ Descentração perceber o ponto de vista de recetor (pois
➔ Reversibilidade a criança já não está presa no seu ponto
o Conservação da de vista)
quantidade e do número ➔ Complexidade
frásica/manipulação das palavras
➔ Domínio da estrutura passiva não
reversível (não dá para mudar
sujeito e objeto pois a frase
perdeu o sentido).

Durante o pré-operatório:

Sequencia Aquisição Cognitiva Sequencia Aquisição Linguística


Reversibilidade totalmente adquirida Noção de que a estrutura linguagem que
pode ser modificada (flexibilidade
sintática) Domínio da estrutura passiva
reversível (8-9 anos)

Operatório formal

Sequencia Aquisição Cognitiva Sequencia Aquisição Linguística


Pensamento Hipotético-Dedutivo Domínio total das estruturas
morfológicas e sintáticas
Atos linguísticos indiretos e a dimensão
delicadeza (“Seria possível fazer-me
isto?)
Pensamento e Linguagem
Flexibilidade semântica: ir além sentido
literal (sentidos múltiplos, ironia,
sarcasmo)
Explicações metalinguísticas (falar sobre
a fala).

Em suma:

➔ A linguagem é um processo sociocognitivo como qualquer outro; como tal, tem


pré-requisitos cognitivos para poder surgir e desenvolver-se.
➔ A linguagem é um instrumento do pensamento.
➔ O desenvolvimento da linguagem beneficia da evolução das capacidades
operatórias do sujeito

Efeitos gerais da linguagem- aspetos universais da linguagem moldam o pensamento


humano

O pensamento, ou, pelo menos, o pensamento rico e abstrato, não pode existir sem a
linguagem. Os poderes cognitivos únicos da nossa espécie são largamente produtos das
nossas aptidões comunicativas evoluídas

Lev Vygotsky

O desenvolvimento cognitivo e linguístico tem origens diferentes e curvas separadas de


desenvolvimento:

➔ Pensamento: surge da necessidade de (re)estruturar qualquer situação


apresentada
➔ Linguagem: nasce das produções expressivas, com finalidade de comunicação.

Existe linguagem sem pensamento (quando recita algo de cor ou quando imita alguma
coisa sem saber o que é). E existe pensamento sem linguagem (quando utilizamos
instrumentos ou inteligência prática).

➔ Período pré-intelectual da linguagem: As palavras não são símbolos para os


objetos que denotam, não têm ligação ao pensamento, apenas função
comunicativa.
➔ Período pré-verbal do pensamento: a criança resolve problemas práticos

Quando se unem, são determinantes na formação dos conceitos.

Por volta dos 3 anos, é que há o encontro entre pensamento e linguagem, dando origem
ao pensamento verbal e a linguagem representativa.

A linguagem, como sistema simbólico, vai mediar toda a relação futura com o mundo.
Pensamento e Linguagem
Duas funções da linguagem:

1. Período pré-intelectual da linguagem


Intercâmbio social: Antes de controlar o próprio comportamento, a criança
começa a controlar o ambiente com a ajuda da fala - novas relações com o
ambiente.
2. Pensamento verbal e linguagem representativa
Pensamento generalizante: Ao organizar as instâncias do mundo real em
categorias conceptuais cujo significado é partilhado pelos utilizadores dessa
linguagem e desse contexto sociohistórico e cultural, a linguagem vem
generalizar a experiência e simplificar a realidade

Crianças Selvagens

➔ A falta de socialização impediu-lhe a linguagem (Os signos, que nos permitem


representar mentalmente objetos e situações da realidade, são elaborados a
partir das experiências vivenciadas no contacto com o mundo culturalmente
estruturado).
➔ A falta de linguagem impediu-lhe o pensamento de nível superior (A linguagem é o
sistema simbólico que permite que as relações mediadas venham a prevalecer
sobre as relações diretas).

Estádios do desenvolvimento da linguagem:

1. Discurso externo – função comunicativa para agir sobre o mundo e sobre os


outros
2. Discurso egocêntrico - monólogo como forma de automonitorização das ações
da criança.
3. Discurso interno – o monólogo foi interiorizado – A linguagem já orienta o
pensamento.

Piaget: A trajetória da criança vai dos processos internos para os processos


socializados. O desenvolvimento dá-se de dentro para fora.

Vygotsky: A trajetória dos processos socializados para os processos internos. O


desenvolvimento da se de fora para dentro.

O papel do discurso egocêntrico

Piaget: existe porque a criança não está plenamente socializada e o seu pensamento
devidamente desenvolvido, e desaparece quando a criança aprende a levar em conta o
ponto de vista do interlocutor (maior pensamento lógico)

Vygotsky: existe porque tem a função de auto-orientação e está claramente associado


ao pensamento.
Pensamento e Linguagem
Investigação

➔ Memorização e reprodução de formas abstratas


Ambos os grupos viam imagens abstratas que não remetem para nenhum
conteúdo específico. O experimental tinha depois a tarefa de tentar associar as
figuras a palavras que pertenciam a uma categoria semântica. O controlo tinha
depois a tarefa de tentar associar as figuras a palavras que não existiam.
O experimental recordou/desenhou mais figuras., evocou mais associações
figuras/rotulo e tendeu a organizar segundo categorias semânticas.
o A linguagem, na forma de rotulagem verbal, mesmo arbitrária (não há
relação entre figura e rotulo), exerce uma forte influência na
organização e recuperação de representações não verbais.
➔ Reconstruction of automobile destruction: an example of the interaction between
language and memory
Os participantes viam um vídeo de um acidente. Aqueles que foram perguntado
que velocidade os carros ia quando “smashed”, deram estimativas mais elevada.
O segundo grupo deu estimativas mais baixas já que disseram que os carros
apenas “collided, bumped”. O que viram o “smashed” tinham mais tendência a
dizer que tinham visto um vídeo partido no vídeo (apesar de não haver), no
reteste após uma semana.
➔ Eyewitness Testimony: The influence of the wording of a question
“Viu o farol partido?” tinham mais tendência em dizer que “Sim” e reconhecer
eventos que nunca ocorreram. “Viu um foral partido?” tinham mais tendência a
dizer “Não sei”

A Linguagem pode facilitar ou dificultar o desempenho em algumas tarefas cognitivas,


particularmente naquelas em que a codificação linguística é importante. A Linguagem
facilita o pensamento, ajudando a organizar e estruturar significados, permitindo-lhe
maior eficiência, precisão e complexidade.

Efeitos específicos- cada idioma molda o pensamento humano

Sapir e Whorf - Hipótese whorfiana

➔ Versão “Forte”
Determinismo Linguístico: a linguagem dirige e limita os processos cognitivos. A
estrutura da linguagem que usamos determina a estrutura do nosso pensamento
➔ Versão “Fraca”
Relativismo Linguístico: O real é experimentado de forma diferente por falantes
de línguas variadas. Para diferentes línguas há diferentes perspetivas e
diferentes comportamentos.
Pensamento e Linguagem
Dialeto Hopi

Não havia uma palavra que fosse tradução de “tempo”. Não existem construções
gramaticais que indiquem passado ou futuro. Os Hopi pensam sobre o tempo de forma
diferente.

Critica ao pensamento de Whorf: pensamento circular, já que não estabelece


causalidade.

Investigação

Ingleses (palavra para “azul” e para “verde”)- mais sensíveis a distinções subtis entre
estas cores? Vs. Falantes de uma língua que tem uma só palavra para ambas

➔ Investigação transcultural mostrou que todas as pessoas percecionam e


categorizam a cor da mesma forma, presumivelmente porque todos partilham o
mesmo sistema de visão que não é afetado pela linguagem.
➔ no entanto, alguns estudos mostram melhores resultados dos ingleses na
memorização da palavra relativa à cor, mas apenas quando os participantes
descrevem as cores para si mesmos durante as tarefas.
o efeitos indiretos da linguagem na cognição, nas tarefas em que a
codificação linguística é importante

The Effect of Language on Economic Behavior: Evidence from Savings Rates, Health
Behaviors, and Retirement Assets (Chen, 2012)

➔ Linguas futured: vai estar frio amanhã (inglês, português)


➔ Futureless: today be cold, tomorrow be cold (finlandês, alemão, japonês)

Será que há diferenças que podem ser explicadas pela estrutura gramatical? Será que a
linguagem afeta a forma como gastamos o nosso dinheiro?

A linguagem é um forte preditor do comportamento de poupança. Nas línguas futureless


não há uma distinção gramatical entre presente e futuro, e por isso, o presente e o
futuro estão muito próximos. Nas línguas futured há uma grande distinção entre o
presente e o futuro e por isso, tendem a não ver os riscos dos seus comportamentos

Em suma

1. A hipótese do determinismo linguístico não tem recebido apoio experimental, a


hipótese do relativismo linguístico sim

2. Reconhecimento da implicação social da linguagem


A necessidade de escolher entre “tu” ou “você” (escolher uma forma de segunda
pessoa do singular), leva a que a nós categorizarmos as pessoas consoante as
dimensões sociais relevantes.
A linguagem de género influencia expetativas sociais.

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