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WBA0035_v1.

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Aquisição da
Linguagem e Escrita
Aquisição da Linguagem e Escrita
Autora: Nancy Capretz Batista da Silva
Como citar este documento: SILVA, Nancy Capretz Batista da. Aquisição da Linguagem e Escrita.
Valinhos: 2015.

Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: Pensamento e Linguagem 05
Assista a suas aulas 24
Unidade 2: Linguagem Escrita e Linguagem Oral 33
Assista a suas aulas 52
Unidade 3: Comunicação e Linguagem 61
Assista a suas aulas 78
Unidade 4: Metodologia e Didática: Competências Linguísticas e Ensino 87
Assista a suas aulas 103

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Apresentação da Disciplina

Caro(a) aluno(a), de competências linguísticas, você poderá


A disciplina “Aquisição da Linguagem compreender de forma mais aprofundada
e Escrita” apresenta um importante características de uma população dita
corpo de conhecimento para o aluno de como letrada. Verá que a maturação
Psicopedagogia Institucional enquanto biológica apresenta constante interação
fundamentação para suas atuações no com o ambiente, mas é justamente no
processo de aprendizagem junto aos ambiente que se pode atuar de forma
sujeitos envolvidos no seu contexto de eficaz para contribuir na aquisição bem-
trabalho. sucedida e no desenvolvimento do uso
da linguagem oral e, principalmente, da
Embora haja ênfase nos primeiros anos linguagem escrita.
de desenvolvimento humano para
entendimento do processo em questão, Verá também que a linguagem é
a partir do que será discutido sobre diretamente relacionada aos processos
desenvolvimento do pensamento e da psicológicos e cognitivos, havendo
linguagem no ser humano, construção um importante debate no que se
da linguagem escrita e oral, criatividade refere ao pensamento. Além disso,
comunicativa e a expressão através da fala, as interações sociais são postas em
da escrita e da leitura e aquisição e ensino destaque, contribuindo para que além da
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observação da diversidade de falantes e
escreventes, atente-se ainda ao contexto
político, social, econômico, entre outros
subjacentes ao ato de se comunicar. Neste
sentido, quais as competências linguísticas
necessárias para ensinar de forma
apropriada a língua? Essas competências
estão presentes nas escolas?

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Unidade 1
Pensamento e Linguagem

Objetivos
1. Qual a relação entre o que se pensa e o que se diz? Pensamento é uma linguagem sem
voz? Linguagem e pensamento desenvolvem-se juntos ou um deriva do outro?
2. Estas e algumas outras questões acerca do desenvolvimento do pensamento
e da linguagem no ser humano têm sido objeto de estudo de muitos teóricos,
havendo tradicionalmente uma preocupação com estas questões na Psicologia e na
psicolinguística.
3. Por isso, esta primeira aula sobre aquisição da linguagem e da escrita irá abarcar
o desenvolvimento do pensamento e da linguagem no ser humano a partir de
uma perspectiva sociocultural, na qual deve-se a L. S. Vygotsky a primeira análise
psicolinguística. Embora haja um enfoque nas contribuições de Vygotsky, alguns pontos
de teóricos como Piaget, Luria e as neurociências serão mencionados. Este enfoque
deve-se antes ao fato de este teórico ter concentrado grande parte dos seus escritos nas
relações entre pensamento e linguagem, como reconhecido e referenciado nos textos
sobre o tema.
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Introdução

“Um pensamento pode ser comparado a uma nuvem parada, que


descarrega uma chuva de palavras” (Vygotsky, 2000, p. 478).

Pensamento e linguagem sempre estiveram associados e constituíram-se objeto de


investigação para psicólogos e linguistas. Para alguns teóricos, pensamento e linguagem
diziam respeito ao mesmo processo de forma indissociável e, segundo essa concepção ficaria
impossível estudar cada um dos processos de forma independente. Para outros, são processos
independentes, com vínculo puramente externo.
Vílchez (2007) considera pensamento e linguagem condutas interdependentes que se
relacionam estreitamente entre si. Por isso, o estudo destes processos é bastante complexo,
exigindo interdisciplinaridade por se referirem a diversos campos científicos. A especificidade,
profundidade e extensão dessas relações são admitidas por autores como Piaget, a escola
Soviética e o cognitivismo porém a maioria das escolas e dos autores, coloca ênfase a um ou
outro processo.
Contudo, uma posição eclética deve prevalecer, pois qualquer redução a um dos componentes
pode trazer a perda de algum aspecto importante da relação entre pensamento e linguagem.
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Entre os motivos que Vílchez julga para • A linguagem participa da formação e
que se considere pensamento e linguagem expressão de conceitos e raciocínios;
interdependentes, estão: • A linguagem é indicativa do tipo de
• O pensamento precisa da palavra pensamento de um sujeito (estilo
para se objetivar de maneira clara e cognitivo) e de sua capacidade
articulada; mental (hipótese de partida de
muitos testes de inteligências), etc.
• Ao pensar falamos com nós mesmos
(VÍLCHEZ, 2007, p. 154).
(linguagem interna);
Essa interdependência é significativa para
• A linguagem é facilitadora e inibidora diagnosticar e tratar os transtornos do
do pensamento (Bernstein, Sapir, pensamento (esquizofrenia, obsessão,
etc.); compulsão, delírios) e da linguagem oral
• A linguagem é reguladora da conduta e escrita como, por exemplo: disartria,
(Luria); disfonia, transtorno articulatório, afasia e
• A linguagem é elemento facilitador dislexia entre outros.
na tarefa de solução de problemas; Para Vygotsky (2000), a decomposição
entre pensamento e linguagem, cada um

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na sua forma pura, não elucida o que se observa quanto ao pensamento discursivo durante
a primeira infância. O autor propõe que a palavra seja a unidade de referência para essa
investigação uma vez que trata-se do que considerou “pensamento verbalizado” e, possuiria
propriedades relativas aos dois componentes.
Percebe-se, então, que para Vygotsky, é no significado da palavra que se pode entender como
se dá a relação entre pensamento e linguagem. Como ficará explícito mais adiante, a palavra
não se refere a um único objeto, mas remete a todo um grupo ou classe de objetos.

Link
Para saber mais sobre as concepções de Vygotsky a respeito da relação entre pensamento e linguagem,
você pode acessar seu livro “Pensamento e Linguagem” disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/
eLibris/vigo.html>. Acesso em: 23 Abril 2015. Este livro está hospedado em uma eBiblioteca Pública.

8/112 Unidade 1 • Pensamento e Linguagem


Assim, o método de análise da relação entre pensamento e linguagem, segundo Vygotsky, é
semântico, do sentido da linguagem, do significado da palavra.
Skinner, entre os anos 1950 e 1960, explicou a relação entre linguagem e pensamento por meio
do que chamou de comportamento verbal. Para ele, quando ouvinte e o falante são uma única
pessoa, se engajam em atividades tradicionalmente descritas como “pensamento”. “O falante
manipula seu comportamento; ele o revê e pode rejeitá-lo ou emiti-lo de forma modificada”
(SKINNER, 1978, p. 26).
A linguagem possui duas importantes funções: permite a comunicação e a generalização. Embora
grande parte dessas duas funções estejam diretamente relacionadas (a generalização facilita a
comunicação e vice-versa) é importante pensarmos nessas duas funções de forma individualizada.
Por meio da linguagem é possível a comunicação social, enunciação e compreensão. Desta
forma, a linguagem, enquanto sistema de signos, medeia a comunicação, a qual

estabelecida com base em compreensão racional e na intenção de transmitir


ideias e vivências, exige necessariamente um sistema de meios cujo protótipo
foi, é e continuará sendo a linguagem humana, que surgiu da necessidade de
comunicação no processo de trabalho (Vygotsky, 2000, p. 11).
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Já a generalização refere-se a um ato Segundo Vygotsky (2000), por meio
verbal do pensamento, de forma que a do método clínico, “os estudos de Jean
linguagem possa refletir a realidade por Piaget constituíram toda uma época no
meio de uma palavra, a qual não se refere desenvolvimento da teoria da linguagem
a um objeto isolado, mas a todo um grupo e do pensamento da criança” (p. 19).
ou classe de objetos. Podemos nos referir A psicologia tradicional explicava o
com uma única palavra a toda uma classe pensamento infantil enfatizando suas
de objetos ou sensações. Por exemplo, lacunas e deficiências, enquanto que
ao nos referirmos a palavra “árvore” Piaget mostrou seu aspecto positivo, suas
permitimos a formação de toda uma peculiaridades e propriedades distintivas.
gama imensa de imagens de diferentes Para Piaget, a unidade de todas as
árvores que encontram-se reunidas sob peculiaridades do pensamento infantil é o
um único nome. Por isso que a palavra egocentrismo. O pensamento egocêntrico
não se refere a um objeto isolado, porque seria uma forma transitória situada entre
seu entendimento depende de uma o pensamento autístico e o pensamento
construção mais abrangente de conceitos inteligente dirigido, analisando-se de
compartilhados pelos falantes e ouvintes.

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um ponto de vista genético, funcional da criança pode ser mais dirigida para
e estrutural. Assim, primeiramente, o si do que comunicativa, mas ambas são
pensamento serviria à satisfação de funções sociais. Este teórico acredita que
necessidades, surgindo de forma mais até mesmo a linguagem egocêntrica é
arbitrária como brincadeira ou fabulação. social porque a criança transfere para o
Apenas no final do desenvolvimento campo das funções psicológicas pessoais
pré-operatório o social apareceria e a as formas sociais de pensamento e as
linguagem social sucederia a egocêntrica. de colaboração coletiva. Desta forma,
De forma oposta, para Vygotsky, a na evolução do pensamento durante a
linguagem da criança é desde o início infância, existe uma fase pré-verbal e
social, pois sua função primária é raízes pré-intelectuais da fala, que são
comunicar, relacionar socialmente, conhecidas como gritos, balbucios e até
influenciar as pessoas à sua volta. Em uma as primeiras palavras, que diferem do
determinada faixa etária a linguagem desenvolvimento do pensamento. Nesta

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fase já se manifesta a função social que se diz começa a ser efetivo
da fala. (dimensão semântica) e assim,
Nesta mesma linha, até mesmo por a verbalização autorreguladora
tratar-se de um estudioso também perde a necessidade de ser
de uma perspectiva sociocultural, A. audível, tornando-se, de acordo
R. Luria, descreve que no início, a fala com a terminologia original,
do adulto regula o comportamento da interiorizada (COLL, PALACIOS &
criança por suas propriedades físicas MARCHESI, 1995).
(tom, intensidade, ritmo, e outros), Destaca-se entre as contribuições
impulsoras ou inibidoras. Por volta dos de Luria, a importância da função
três anos de idade, a regulação torna- autorreguladora na construção
se autônoma, mas ainda dependendo do psiquismo, salientando-se
de que a fala autodirigida seja audível as interações sociais envolvidas
por causa de suas propriedades neste processo:
impulsivas. Aproximadamente aos
quatro anos e meio, o significado do

12/112 Unidade 1 • Pensamento e Linguagem


Para saber mais
Alexander Romanovich Luria (russo: Алекса́ндр Рома́нович Лу́рия; 16 de julho de 1902 – 14 de agosto
de 1977) foi um famoso neuropsicólogo soviético especialista em psicologia do desenvolvimento. Foi um
dos fundadores da psicologia cultural-histórica, na qual se inclui o estudo das noções de causalidade e
pensamento lógico-conceitual da atividade teórica enquanto função do sistema nervoso central. Fonte:
http://www.scielo.br/pdf/ep/v36nspe/v36nspea09.pdf

“a mediação verbal das ações modifica qualitativamente qualquer outra função


cognitiva, como, por outro, sua origem social, ou seja, aprendemos a nos
autorregular no decorrer de experiências interativas, compartilhando a atividade
com um companheiro capaz de guiá-la verbalmente, antes de sermos capazes de
mediar nossa atividade autonomamente (Coll, Palacios & Marchesi, 1995, p. 164)”.

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1. Fala intelectual e pensamento No pensamento do adulto, “a relação entre
verbalizado intelecto e linguagem não é constante e
idêntica para todas as funções e formas
As pessoas vivem na linguagem, falando de atividade intelectual e verbalizada”
e ouvindo constantemente à fala e, em (VYGOTSKY, 2000, p. 114).
alguma transformação da linguagem É aproximadamente aos dois anos de idade
falada acontece boa parte do seu que pensamento e fala cruzam-se e dá-se
pensamento, sua imaginação e sua solução início a uma nova forma de comportamento
de problemas silenciosos (LEAVITT, 2006). muito característica do homem. A fala se
Assim, essa relação entre pensamento torna intelectual e o pensamento verbalizado,
e linguagem e como ela ocorre possui sendo que a criança começa a perguntar
relevância substancial. sobre a nomeação de coisas novas e seu
É importante ressaltar que da mesma vocabulário é ampliado ativamente, de
forma que as raízes genéticas de forma extremamente rápida e aos saltos.
pensamento e linguagem são diversas, A criança passa a precisar nomear e
estes processos não caminham em comunicar por meio dos signos, como se
paralelo o tempo todo, mas convergem e houvesse descoberto a função simbólica da
divergem ao longo do desenvolvimento. linguagem.
14/112 Unidade 1 • Pensamento e Linguagem
O desenvolvimento da linguagem passa [...] A criança começa a contar
por quatro estágios, de acordo com mentalmente, a usar a “memória
Vygotsky (2000): lógica”, isto é, a operar com relações
interiores em forma de signos
• Natural ou primitivo (linguagem pré-
interiores. No campo da fala, a isto
intelectual e pensamento pré-verbal).
corresponde a linguagem interior ou
• Psicologia ingênua (a criança assimila silenciosa”, p. 138).
“estruturas e formas gramaticais De acordo com Corrêa, existem diversas
antes de assimilar as estruturas e evidências experimentais na pesquisa
operações lógicas correspondentes a em aquisição da linguagem sob uma
tais formas”, p. 138). perspectiva psicolinguística (ou seja,
• Linguagem egocêntrica (“signos especificamente sobre o processo de
exteriores, operações externas aquisição da língua considerando como
que são usadas como auxiliares na o material linguístico é processado
solução de problemas internos”, p. pela criança) quanto às habilidades de
138. Ex.: contar nos dedos). percepção e linguagem da criança antes do
• ‘Crescimento para dentro’ (“as aparecimento da fala (CORRÊA, 2006).
operações externas se interiorizam
15/112 Unidade 1 • Pensamento e Linguagem
Dados da psicologia sugerem que a se de um desenvolvimento histórico-
palavra, por longo tempo, é para a social. Apenas a partir da unidade
criança uma propriedade do objeto entre comunicação e generalização
para só depois tornar-se um símbolo (os processos de desenvolvimento dos
do objeto, ou seja, é primeiro palavra- aspectos semântico e sonoro da linguagem
objeto para depois assimilar sua estrutura em sentidos opostos, como explicado mais
interna, ou simbólica. A linguagem adiante) é que se começa a compreender
interior (para si) se desenvolve a partir de a relação efetiva entre o desenvolvimento
mudanças estruturais e funcionais. Ela do pensamento da criança e o seu
se separa da linguagem exterior (para os desenvolvimento social.
outros) das crianças quando as funções E o desenvolvimento de conceitos, ou
social e egocêntrica da linguagem são significados das palavras abstratos, como
diferenciadas. Além disso, as estruturas ocorre? Bem, para Piaget apenas na
da linguagem que a criança já domina adolescência a pessoa chega a esse tipo
tornam-se básicas de seu pensamento. de pensamento. Já Vygotsky estabeleceu
Assim, o desenvolvimento do pensamento experimentalmente que isso acontece
e da linguagem, é mais que um durante a idade infantil, havendo estágios
desenvolvimento biológico, mas trata- básicos de desenvolvimento desses
16/112 Unidade 1 • Pensamento e Linguagem
significados. Assim, a mudança dos significados das palavras e seu desenvolvimento difere
do postulado de todas as teorias anteriores do pensamento e da linguagem de que haveria
constância e imutabilidade do significado da palavra.
É interessante notar que o que se percebe no desenvolvimento da linguagem da criança, no
seu aspecto fásico (externo), é uma construção das partes para o todo. A partir de uma palavra,
concatena-se duas ou três palavras, depois tem-se uma frase simples e da concatenação de
frases tem-se proposições complexas e finalmente uma linguagem coordenada e formada por
uma série desenvolvida de orações. Assim, a criança diz “au-au” para expressar que está vendo
um cachorro passar em frente à sua casa porque ainda não pronuncia outras palavras que
possam servir para expressar aquela situação e comunicá-la ao adulto que lhe acompanha.
Contrariamente, para Vygotsky (2000),

No desenvolvimento do aspecto semântico da linguagem, a criança começa pelo


todo, por uma oração, e só mais tarde passa a apreender as unidades particulares
e semânticas, os significados de determinadas palavras, desmembrando em uma
série de significados verbais interligados o seu pensamento lacônico e expresso
em uma oração lacônica (p. 410).

17/112 Unidade 1 • Pensamento e Linguagem


O que se explica aqui é que a primeira pois este se reestrutura e se modifica
palavra da criança significa uma frase ao transformar-se em linguagem, se
inteira: uma oração lacônica. Por exemplo, realizando na palavra. O desenvolvimento
quando a criança diz “água” ou um som no sentido oposto aos dois aspectos
parecido, ela que dizer algo do tipo “Eu constituem, assim, a autêntica unidade
quero beber água”. Apenas em uma de entendimento da relação entre
palavra apresenta-se o significado do pensamento e linguagem.
sujeito e da ação em relação ao objeto. O Retomando a linguagem egocêntrica,
significado do “eu” em relação aos outros, sua função é semelhante à da linguagem
dos verbos “querer” e “beber” ainda serão interior: autônoma, ou seja, serve
diferenciados. Assim, o desenvolvimento o pensamento da criança quanto
do aspecto semântico transcorre do todo à orientação intelectual, tomada
para a parte, da oração para a palavra; de consciência da superação das
já do aspecto fásico (externo) transcorre dificuldades e dos obstáculos e reflexão.
da parte para o todo, da palavra para a Ao longo do desenvolvimento da criança,
oração. aproximadamente entre os três e os setes
Neste sentido, a linguagem não é ano de idade,
expressão de um pensamento pronto,
18/112 Unidade 1 • Pensamento e Linguagem
“por trás do declínio do coeficiente de linguagem egocêntrica esconde-se o
desenvolvimento positivo de uma das peculiaridades centrais da linguagem
interior – a abstração do aspecto sonoro da linguagem e a diferenciação
definitiva de linguagem interior e linguagem exterior (Vygotsky, 2000, p. 435)”.
Cabe aqui destacar que, assim como exposto anteriormente, não há coincidência direta entre o
pensamento e a sua expressão verbalizada. O pensamento ocorre em ato único, é algo integral,
está na mente de uma pessoa como um todo, permite simultaneidade e é consideravelmente
maior em extensão e volume que uma palavra isolada. Em contrapartida, a expressão, o
desenvolvimento da linguagem, ocorre sucessivamente, é em palavras separadas, que surgem
gradualmente, por unidades isoladas.
Esta característica da relação entre pensamento e linguagem explica porque “o processo
de transição do pensamento para a linguagem é um processo sumamente complexo de
decomposição do pensamento e sua recriação em palavras” (VYGOTSKY, 2000, p. 478). E assim
retorna-se à unidade de análise da relação entre pensamento e linguagem: o aspecto interno
da palavra, ou seja, o seu significado.

19/112 Unidade 1 • Pensamento e Linguagem


Por ele passa a expressão do pensamento é que, mesmo que o bebê ainda não fale,
em palavras e neste complexo processo, nomear tem importantes consequências
pode-se considerar as palavras imperfeitas cognitivas.
e o pensamento inexpressível. Neste
processo, o pensamento é mediado
internamente pelos significados e
externamente, para tornar-se expressão
verbal, mediado por signos, motivo para
a falta de equivalência direta entre o
pensamento e a linguagem (VYGOTSKY,
2000).
Resumindo, como pontua Corrêa (2006),
bebês humanos aprendem de forma
bem-sucedida as palavras devido à sua
capacidade de descobrirem as unidades
linguísticas e conceituais relevantes e a sua
correspondência. Desta forma, uma valiosa
informação para estimulação da criança
20/112 Unidade 1 • Pensamento e Linguagem
?
Questão
para
reflexão

Retome o texto e discorra brevemente sobre a


importância da palavra na relação entre pensamento
e linguagem. Você conseguiria apontar por que as
temáticas pensamento e linguagem são relevantes
para compreender a aquisição da linguagem e da
escrita? Faça uma reflexão sobre isso.

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Considerações Finais
• Pensamento e linguagem são condutas interdependentes.
• No significado da palavra é possível entender como se dá a relação entre
pensamento e linguagem.
• As funções da linguagem são a comunicação e a generalização.
• Da mesma forma que as raízes genéticas de pensamento e linguagem são
diversas, estes processos não caminham em paralelo o tempo todo.
• Aproximadamente aos dois anos de idade pensamento e fala cruzam-se: a fala
se torna intelectual e o pensamento verbalizado.
• O desenvolvimento do pensamento e da linguagem é mais que um
desenvolvimento biológico, trata-se de um desenvolvimento histórico-social.
• O desenvolvimento do aspecto semântico transcorre do todo para a parte, da
oração para a palavra; já do aspecto fásico (externo) transcorre da parte para o
todo, da palavra para a oração.
• Não há coincidência direta entre o pensamento e a sua expressão verbalizada.
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Referências

COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. (Orgs.). Desenvolvimento psicológico e educação: Psicologia
evolutiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. v. 1.
CORRÊA, L. M. S. (Org.). Aquisição da linguagem e problemas do desenvolvimento linguístico. Rio de
Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2006.
LEAVITT, J. Linguistic relativities. In: JOURDAN, C.; TUITE, K. (Ed.) Language, Culture, and Society:
Key Topics in Linguistic Anthropology. Cambridge University Press, 2006. p. 47 - 81. Cambridge
Books Online. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1017/CBO9780511616792>. Acesso em: 25
jun. 2012.
SKINNER, B. F. O comportamento verbal. São Paulo: Cultrix: Ed. da Universidade de São Paulo,
1978.
VÍLCHEZ, L. F. Transtornos do Pensamento e da Linguagem: Tratamento educacional. In: GONZÁLEZ,
E. e cols. Necessidades educacionais específicas. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 154 a 170.
VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

23/112 Unidade 1 • Pensamento e Linguagem


Assista a suas aulas

Aula 1 - Tema: A Importância da Linguagem no Aula 1 - Tema: Desenvolvimento da Linguagem


Desenvolvimento do ser Humano - Bloco I - Bloco II
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24/112
Assista a suas aulas

Aula 1 - Tema: Etapas Básicas do Aula 1 - Tema: O Papel do Meio Ambiente


Desenvolvimento da Linguagem na Infância - no Desenvolvimento da Linguagem e do
Bloco III Pensamento - Bloco IV
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
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759d5584124a44d9b6072d4bbae343e7>. 1d/640edeebbb2459e4b10813dcfb79b38e>.

25/112
Questão 1
1. Pensamento e linguagem, para Vygotsky:
a) Identificam-se, são o mesmo processo.
b) São processos independentes, com vínculo puramente externo.
c) Constituíram-se objeto de investigação de terapeutas.
d) Apresentam como unidade de análise o significado da palavra.
e) Reduzem-se a um componente da linguagem.

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Questão 2
2. Comunicação
a) Medeia a linguagem.
b) É uma função da linguagem.
c) É um sistema de signos.
d) Surgiu do processo de trabalho.
e) É uma função da generalização.

27/112
Questão 3
3. Ainda sobre pensamento e linguagem, Vygotsky afirma que:
a) Possuem as mesmas raízes genéticas.
b) São processos paralelos o tempo todo.
c) Convergem e divergem ao longo do desenvolvimento.
d) Sua relação é constante para as funções de atividade intelectual e verbalizada.
e) Sua relação é idêntica para as formas de atividade intelectual e verbalizada.

28/112
Questão 4
4. Indique qual afirmação está correta entre as opções abaixo:
a) Os processos de desenvolvimento dos aspectos semântico e sonoro da linguagem ocorrem
no mesmo sentido.
b) O desenvolvimento da linguagem da criança, no seu aspecto fásico (externo), é uma
construção das partes para o todo.
c) No desenvolvimento do aspecto semântico da linguagem, a criança começa pelas partes.
d) A criança apreende as unidades particulares e semânticas para depois compreender uma
oração.
e) Apenas quando a criança já adquiriu um extenso vocabulário emite uma oração lacônica.

29/112
Questão 5
5. Entre as seguintes afirmações sobre a expressão verbalizada do pensa-
mento, assinale aquela que mais se assemelha à realidade:
a) Não há coincidência direta entre o pensamento e a sua expressão verbalizada.
b) A expressão ocorre em ato único, em contrapartida, o pensamento ocorre sucessivamente.
c) A expressão ocorre em simultaneidade, mas, o pensamento, em palavras separadas.
d) O pensamento ocorre gradualmente, e a expressão é maior em extensão e volume.
e) O pensamento ocorre da mesma forma que as palavras aparecem, separadamente.

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Gabarito
1. Resposta: D. compreensão. Desta forma, a linguagem,
enquanto sistema de signos, medeia a
De acordo com este teórico, as comunicação.
investigações psicológicas devem utilizar
unidades de análise, as quais contêm 3. Resposta: C.
propriedades do todo. No caso da relação
entre pensamento e linguagem, acredita Da mesma forma que as raízes genéticas
que a unidade que contém propriedades de pensamento e linguagem são diversas,
inerentes ao pensamento verbalizado como estes processos não caminham em
uma totalidade e pode ser encontrada no paralelo o tempo todo, mas convergem e
aspecto interno da palavra, ou seja, no seu divergem ao longo do desenvolvimento.
significado. No pensamento do adulto, “a relação entre
intelecto e linguagem não é constante e
2. Resposta: B. idêntica para todas as funções e formas
de atividade intelectual e verbalizada”
A função da linguagem é comunicativa. (Vygotsky, 2000, p. 114).
Por meio da linguagem é possível a
comunicação social, enunciação e

31/112
Gabarito
4. Resposta: B. como um todo, permite simultaneidade
e é consideravelmente maior em
No desenvolvimento da linguagem da extensão e volume que uma palavra
criança, no seu aspecto fásico (externo), é isolada. Em contrapartida, a expressão,
uma construção das partes para o todo. A o desenvolvimento da linguagem, ocorre
partir de uma palavra, concatena-se duas sucessivamente, é em palavras separadas,
ou três palavras, depois tem-se uma frase que surgem gradualmente, por unidades
simples e da concatenação de frases tem- isoladas.
se proposições complexas e finalmente
uma linguagem coordenada e formada por
uma série desenvolvida de orações.

5. Resposta: A.

Não há coincidência direta entre o


pensamento e a sua expressão verbalizada.
O pensamento ocorre em ato único, é algo
integral, está na mente de uma pessoa

32/112
Unidade 2
Linguagem Escrita e Linguagem Oral

Objetivos

1. Nesta aula serão destacados os fatores que colaboram no


desenvolvimento da linguagem oral e da linguagem escrita,
ora contrastando-os ora interligando-os.
2. Características de ambas as linguagens, oral e escrita,
serão apresentadas, sendo dada ênfase especial aos
aspectos que colocam a linguagem no centro da educação
e aos aspectos socioculturais envolvidos na aquisição e
desenvolvimento da mesma. Por outro lado, discussões
acerca do domínio da língua e sua repercussão na dinâmica
social também serão levantadas.

33/112
Introdução

Na nossa sociedade atual as duas principais formas de linguagem utilizadas pela espécie
humana são a linguagem oral e a escrita. A linguagem oral depende de uma aprendizagem
não-formal que acontece durante a exposição do sujeito ao ambiente falante enquanto a
linguagem escrita depende de uma aprendizagem formal e consciente uma vez que trata-se
de uma “invenção” humana e depende de uma intervenção externa para que a sua aquisição
aconteça.
Nessas duas formas de linguagem destacavam-se os processos de decodificação e
compreensão – para a linguagem escrita denominada como leitura e para a linguagem oral
escuta e compreensão – e os processos de produção – na linguagem escrita trata-se do
processo de escrita e na linguagem oral refere-se a fala.

A leitura, ou melhor, a competência para operar com a linguagem escrita,


tem uma característica em nossa cultura que faz dela algo extraordinário:
deve [grifo do autor] ser adquirida, e em um altíssimo grau de perícia,
por toda a população. [...] aspiramos a que toda a população escolarizada
possa utilizá-la para adquirir novos conhecimentos ou reconstruir os
próprios pensamentos (Sánchez, 2004, p. 90).
34/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral
Ainda que, como salienta Sánchez, operar
a linguagem escrita seja uma condição
de integração e cidadania na sociedade, Link
muitas crianças no Brasil podem ser No artigo de Cavalcante (2010) você será capaz
consideradas como apresentando de identificar interesses dos pesquisadores na
distúrbios da aprendizagem ou como área do desenvolvimento linguístico e algumas
carentes culturais, quando na verdade são relações interessantes que são realizadas
observando-se crianças.
vítimas da falta de oportunidades para
aprender, o que pode estar relacionado Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
às políticas econômicas, sociais e pfono/v22n4/05.pdf>. Acesso em: 23 Abril
educacionais, cujas consequências as 2015.
impedem de acessar bens culturais como a Cavalcante, P.A.; Mandrá, P.P. Narrativas orais
escrita (ZORZI, 2003). de crianças com desenvolvimento típico de
linguagem. Pró-Fono Revista de Atualização
O domínio da linguagem oral está Científica, vol. 22, num. 4, 2010. p. 391 a 396.
presente em todas as sociedades, visto que
é uma herança biológica, hereditária do Chomsky, inclusive, apresenta hipóteses
ser humano, com raízes filogenéticas, que sobre os “universais da linguagem”, que
também o diferencia de outras espécies. dizem respeito aos aspectos estruturais
35/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral
que são encontrados em todas as línguas, É preciso entender os usos e funções
apesar de suas aparentes diferenças. As da escrita para que ela seja aprendida,
condições naturais e espontâneas do além de ser capaz de atribuir-lhe graus
convívio com falantes da língua permitem variados de significações. A capacidade
às crianças o aprendizado da linguagem de atribuir significados depende não
oral, que deve ter início entre um e dois apenas de decodificar o que está escrito
anos de idade (ZORZI, 2003). através da aprendizagem escolar, mas
Por outro lado, a linguagem escrita é também de experiências de vida que deve
uma herança cultural e não está presente ser considerada de forma fundamental
em todas as sociedades. Ela “depende para que a linguagem escrita possa se
de variáveis ontogenéticas [...], é um estabelecer e organizar. Muito se fala
produto da cultura que só se transmite nas “funções básicas” ou “funções
pelo ensino, ou seja, em geral por meio de neuropsicomotoras” que as crianças
uma intervenção social planejada” (ZORZI, devem apresentar para aprender a
2003, p. 11), que na sociedade atual é linguagem escrita adequadamente:
papel da escola. habilidades motoras finas, coordenação
motora e visual bem-estabelecida,
noções espaciais, noções de lateralidade,

36/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral


discriminação e memória visual e auditiva, Crianças em diferentes realidades sociais,
noções temporais, atenção, interesse, e vivendo em meios nos quais a leitura
outros (ZORZI, 2003). e a escrita possam ter maior ou menor
Contudo, além desses pré-requisitos presença, podem apresentar resultados
centrados na criança, a partir dos muito diferentes em avaliações formais
quais a noção de fracasso, insucesso sobre leitura e escrita. É importante que
ou dificuldade escolar volta-se para este fator seja considerado quando se
o aprendiz, devem-se considerar as pensa em políticas de ensino. No entanto
situações reais que atribuem sentido à essa as propostas escolares muitas vezes não
linguagem. Esta deve estar presente no consideram essas diferenças individuais,
meio no qual a criança cresce e vive para a “história de vida de cada criança”.
que possa compreender “como se escreve, Propostas educacionais adequadas devem
o que se pode escrever, com que objetivos considerar a diversidade dos alunos e
se escreve, para quem se escreve, quais seu conhecimento prévio sobre a escrita,
as situações em que se escreve, o porquê assim como o que é, como se forma e quais
de se escrever, e o mesmo ocorrendo em as características da linguagem escrita
relação à leitura” (ZORZI, 2003, p. 13). (ZORZI, 2003).

37/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral


Embora ter uma “boa fala” não seja pré-requisito para aprender a escrever bem, na fala, uma
série de aspectos e formalidades da escrita são incorporados. Assim, falar bem é um produto
de modificações na linguagem oral produzidas por um processo de letramento. Neste sentido,
na sociedade existe uma atribuição de prestígio relacionada a forma como a pessoa usa a
linguagem oral (ZORZI, 2003).

O prestígio é marcado por condições de poder econômico e cultural de


um grupo ou região e essas podem ser temporárias. Não há, em termos
de língua, superioridade ou inferioridade. Todas as línguas, em todas
suas formas e variações, cumprem perfeitamente seu papel de permitir a
comunicação entre as pessoas (Zorzi, 2003, p. 23).

A linguagem está no centro da educação, porque além de ser objeto de aprendizagem, é por
meio dela que se adquirem outros conhecimentos, sendo assim, um instrumento de acesso
que tem que ser previamente ensinado. Nas etapas iniciais do ensino fundamental, o ensino da
leitura e da escrita é enfatizado, pois compreende meio de acesso ao conhecimento por todo o
sistema educacional. Por isso, situações reais nas quais funções sociais são exigidas, devem ser

38/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral


vivenciadas na escola para desenvolvimento das habilidades de linguagem (ZORZI, 2003).
Sobre a aquisição da escrita enquanto instrumento de aprendizagem, Montessori (apud,
VYGOTSKY, 2000) refere que:

“Em diferentes processos de aprendizagem da escrita de crianças entre


quatro e meio e cinco anos, observa-se um emprego frutífero, rico e
espontâneo da escrita, que nunca se observa nas idades posteriores, o
que deu a ela o motivo para concluir que é precisamente nessa idade que
se concentram os prazos optimais de aprendizagem da escrita, os seus
períodos sensíveis (Vygotsky, 2000, p. 335).

1. Características e desenvolvimento das linguagens oral e escrita

O desenvolvimento da escrita não se assemelha ao da fala, assim como a escrita não se trata de
“uma simples tradução da linguagem falada para signos escritos, e a apreensão da linguagem
escrita não é uma simples apreensão da técnica da escrita” (VYGOTSKY, 2000, p. 312). O
desenvolvimento da escrita, enquanto uma função específica da linguagem de pensamento,
39/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral
de representação, requer um nível elevado restauração de forma voluntária nos sinais
de abstração. Além disso, a linguagem escritos (VYGOTSKY, 2000).A linguagem
escrita não possui interlocutor direto, escrita, assim como a interior, são formas
havendo aí mais um grau de abstração, monológicas de linguagem. Já a linguagem
o que torna mais difícil a aquisição da falada é um diálogo na maioria dos casos, o
mesma, ainda mais se for somado o fato que exige dos interlocutores que conheçam
de não haver para a criança a mesma o assunto. Assim, é comum que ocorra uma
motivação que a levou a desenvolver série de abreviações na linguagem falada
a fala, tanto pela necessidade quanto e espera-se que se veja o interlocutor, sua
pelo entendimento da sua função. As mímica e seus gestos, e que se perceba a
interações que se estabelecem a partir de entonação da fala.
situações como necessidades, dúvidas,
curiosidades, pedidos e explicações
motivam a situação da fala. Já a relação
com a situação na linguagem escrita é
representada no pensamento e implica
consciência da estrutura sonora da
palavra, seu desmembramento e sua

40/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral


Em conjunto, ambos admitem aquela compreensão a meias palavras,
aquela comunicação através de insinuações [...]. Só na linguagem falada
é possível um diálogo que, segundo expressão de Gabriel Tarde, é apenas
o complemento de olhares que um interlocutor lança a outro (Vygotsky,
2000, p. 454).
Por sua vez, a linguagem escrita é a forma mais desenvolvida, prolixa e exata, pois por palavras
transmite-se o mesmo que a entonação e a percepção imediata da situação transmitem na
fala (VYGOTSKY, 2000). Diferentemente da linguagem falada, na escrita não são possíveis as
mesmas omissões, sendo necessários os detalhes da situação para que o interlocutor possa
compreendê-la e, por isso, trata-se de uma linguagem muito mais desenvolvida (VYGOTSKY,
2000). Seu domínio depende da aquisição de “habilidades que permitem passar da ortografia
das palavras à sua fonologia e ao seu significado (ou, no caso da escrita, da fonologia à
ortografia)” (SÁNCHEZ, 2004, p. 90). Dessa forma, as habilidades de reconhecimento das
palavras são muito específicas.
O domínio da escrita também depende da utilização dessas habilidades para a
comunicação com os outros, a qual por não ocorrer no tempo e espaço imediatos, “requer
o desenvolvimento de recursos retóricos e cognitivos extremamente sofisticados que se
41/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral
assentam nas competências linguísticas Embora existam concepções tradicionais
orais, ao mesmo tempo em que as de que primeiro deve-se ensinar a ler
transcendem” (SÁNCHEZ, 2004, p. 90). e a escrever para depois propiciar a
Esses dois aspectos, de reconhecimento compreensão e a redação, existem
das palavras e de comunicação, devem posições que defendem que se deva
integrar-se progressivamente um no
criar situações comunicativas nas quais
outro (SÁNCHEZ, 2004).
os alunos usem a linguagem escrita de
forma relevante, adquirindo as habilidades
Para saber mais específicas nestas experiências. Nelas,
Você sabia que dados do Censo 2010, os alunos têm que se comunicar
divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de (compreender e redigir), testar e exercitar
Geografia e Estatística) apontam que a taxa as habilidades para escrever e reconhecer
de analfabetismo entre pessoas negras ou palavras escritas (SÁNCHEZ, 2004).
pardas de 15 ou mais anos de idade era de A teoria da via dupla é a mais influente
14,4% e 13,0%, respectivamente, contra 5,9% para explicar cognitivamente como se dá
dos brancos, sendo que cerca de 50,7% da o reconhecimento das palavras escritas:
população se declarou negra ou parda? por meio da via fonológica e por meio da
via léxica. Pela via fonológica, os grafemas
42/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral
(unidades da escrita) são transformadas Trata-se, portanto, de um conhecimento
em sons, os quais são reunidos em uma metalinguístico a partir do qual pode-se
representação, que deve ser reconhecida e refletir sobre as características de estrutura
os conhecimentos semânticos associados à da fala e manipular as mesmas. Existem
representação são atingidos. Pela via léxica quatro níveis de conhecimento fonológico,
o reconhecimento da palavra acontece sendo que os mais elaborados dependem
ao mesmo tempo que o acesso a seu dos avanços na alfabetização da criança:
significado. Com o reconhecimento, chega-
• Sensibilidade à rima: nível mais
se à fonologia da palavra, sendo possível
elementar, quando a criança
lê-la em voz alta (SÁNCHEZ, 2004).
descobre que algumas palavras
Para aprender a escrever é preciso que têm no seu início ou no seu final um
as crianças apresentem conhecimento mesmo conjunto de sons.
fonológico ou consciência fonológica.
• Conhecimento silábico: capacidade
Esta refere-se à consciência de que as
de dividir a palavra em sílabas. Assim
palavras são constituídas por diversos
como a sensibilidade à rima, pode ser
sons (fonemas) ou grupos de sons e
alcançado apenas com a oralidade.
que elas podem ser segmentadas em
unidades menores (letras, sílabas).
43/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral
• Conhecimento intrassilábico: as ZORZI, 2003) apontam uma sequência
sílabas são subdividias em elementos psicogenética de construção da escrita:
menores do que ela mesma,
• Fase pré-silábica: as crianças já
chamados “onset” (a consoante ou
diferenciam desenho e escrita,
o conjunto de consoantes iniciais),
tentando reproduzir letras
mas maiores do que um fonema,
linearmente, considerando que há
chamados de “rima” (aparecem a
“uma quantidade mínima de letras
partir da primeira vogal). Ex.: na
para que algo possa ser lido ou
palavra “prestar”, na sílaba “pres”,
escrito, assim como a hipótese de
“pr” é “onset” e “es” é “rima”.
que os caracteres devem ser variados,
• Conhecimento segmental: [...] da mesma forma que palavras
compreender que as palavras diferentes devem ser escritas de
são formadas por fonemas, uma modos diferentes” (ZORZI, 2003,
sequência de unidades sonoras. Este p. 31). Contudo, ainda não fazem
conhecimento desenvolve a escrita correspondência entre os sons das
assim como a escrita desenvolve este palavras e os elementos gráficos
conhecimento. usados para escrevê-las, chamada
Ferreiro e Teberosky (1986, apud de pauta sonora, ou seja, ainda
44/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral
não apresentam um conhecimento alcance do nível de conhecimento
silábico (do conhecimento silábico. O mesmo pode ser adquirido
fonológico). Nessa fase, atividades espontaneamente, contudo,
com direcionamento para segmentar seus desdobramentos na escrita
as palavras em sílabas poderiam dependem da mediação de outras
ajudar no desenvolvimento da pessoas, sem a qual, a criança não
correspondência entre a escrita e os descobre ou aprende o nome das
sons que compõem as palavras. letras, nem o som que elas devem
• Fase silábica: começa-se a escrever.
considerar características sonoras • Fase silábico-alfabética: a criança
das palavras. A decomposição deixa de considerar a sílaba como
em unidades silábicas definem a uma unidade, compreendendo
quantidade de letras e sua pronúncia que ela pode ser segmentada em
é projetada na sequência de letras. fonemas. Apenas ao escrever, a
Sua atenção às características criança começa a prestar atenção nos
sonoras das palavras pode estar elementos intrassilábicos.
relacionada aos avanços na • Fase alfabética: correspondência
consciência fonológica, com o entre letras e sons, já com
45/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral
conhecimento segmental quanto à consciência fonológica. Neste ponto a criança está
alfabetizada, pois segundo Ferreiro e Teberosky (1986), “compreendeu a natureza da
escrita” (ZORZI, 2003, p. 34). Contudo, ainda é necessário aprender as regras, pois para
aprender-se a escrever, propriedades ou aspectos da língua escrita que fazem parte do
sistema ortográfico devem ser compreendidos, como o fato de um som poder ser escrito
por diferentes letras e uma letra poder representar sons diversos.

Também deverá entender que existem diferenças entre o modo de falar e


o modo de escrever, isto é, que a escrita não significa realizar transcrições
fonéticas, que as palavras necessitam ser escritas separadamente e
precisará definir, com segurança, quantas e quais letras são necessárias
para escrever os sons das palavras. Ainda, entre uma série de outros fatos,
deverá também discernir a posição das letras no interior das palavras,
diferenciar entre letras semelhantes do ponto de vista da forma gráfica e
assim por diante (Zorzi, 2003, p. 34).

Por meio de estudos de casos, Zorzi (2003) apresenta possíveis dificuldades de alunos no
domínio do sistema ortográfico, apresentando reflexões sobre o porquê e como se dão tais
46/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral
dificuldades e intervenções possíveis de memória visual (que depende do acesso
serem realizadas. ao modelo correto e da frequência de
Por fim, Zorzi (2003) enfatiza um aspecto ocorrência e uso da palavra) e pistas
interessante envolvido na aprendizagem da fonológicas e gramaticais (permitem
escrita e domínio do sistema ortográfico. deduzir como palavras novas ou pouco
Embora a memória auxilie e faça parte conhecidas devem ser escritas).
da grafia correta das palavras, a escrita
depende também do conhecimento sobre
as possibilidades oferecidas pela língua.
Para memorizar palavras a longo prazo,
é preciso considerar sua conservação,
frequência de uso e competição com
outras imagens gravadas na memória das
mesmas palavras. O que pode interferir na
memorização da forma como se escrevem
as palavras são os processos perceptivos
e os gerativos generalizadores, os quais
correspondem, respectivamente, à
47/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral
?
Questão
para
reflexão

Com a leitura desse texto, aponte as principais características


da linguagem oral e da escrita. Em seguida, reflita: por que
algumas crianças apresentam dificuldades para aprender a
escrever?

48/112
Considerações Finais (1/2)

• O domínio da linguagem oral está presente em todas as sociedades,


é uma herança biológica, com raízes filogenéticas, que diferencia o
ser humano de outras espécies.
• A linguagem escrita é uma herança cultural e não está presente em
todas as sociedades, dependendo de variáveis ontogenéticas.
• É preciso entendimento dos usos e funções da escrita para aprendê-
la, além de atribuir-lhe graus variados de significações.
• Propostas educacionais adequadas devem considerar a diversidade
dos alunos e seu conhecimento prévio sobre a escrita.
• A linguagem está no centro da educação, pois além de ser objeto
de aprendizagem, é por meio dela que se adquirem outros
conhecimentos, sendo assim, um instrumento de acesso.

49/112
Considerações Finais (2/2)

• O desenvolvimento da escrita não se assemelha ao da fala.


• A linguagem escrita é uma forma monológica de linguagem,
enquanto que a linguagem falada é, essencialmente, dialógica.
• A linguagem escrita é muito mais desenvolvida que a oral, pois
esta possui características como entonação, expressões faciais e
conhecimento compartilhado sobre um assunto.
• Conhecimento fonológico ou consciência fonológica refere-se à
consciência de que as palavras são constituídas por diversos sons
(fonemas) ou grupos de sons e que elas podem ser segmentadas em
unidades menores (letras, sílabas).

50/112
Referências

SÁNCHEZ, E. A linguagem escrita e suas dificuldades: uma visão integradora. In COLL, C.;
MARCHESI, Á.; PALACIOS, J. (Orgs.). Desenvolvimento psicológico e educação: Transtornos de
desenvolvimento e necessidades educativas especiais. Porto Alegre: Artmed, 2004. vol. 3. p. 90
a 112.
VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
ZORZI, J. L. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita: Questões clínicas e educacionais.
Porto Alegre: Artmed, 2003.

51/112 Unidade 2 • Linguagem Escrita e Linguagem Oral


Assista a suas aulas

Aula 2 - Tema: Relações entre Linguagem Oral, Aula 2 - Tema: Sistemas de Escrita e
Escrita e Alfabetização Competências em Leitura e Escrita
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-
09c7e0e38cd847183d14cc161006c8fa>. 1d/4ec256b43d081e995947622b4d51cda8>.

52/112
Assista a suas aulas

Aula 2 - Tema: Etapas e Processos Mentais Aula 2 - Tema: Métodos de Alfabetização


Envolvidos na Leitura
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
f5686656415ef9d8459391054a33b672>.
a7aeb777b07d530e43b3c58c3d29f5f4>.

53/112
Questão 1
1. Dentre as características que diferenciam o desenvolvimento de lingua-
gem escrita e de linguagem oral, é possível citar:
a) Linguagem escrita está presente em todas as sociedades e linguagem oral é uma herança
cultural.
b) Linguagem escrita está presente em todas as sociedades e linguagem oral depende de
variáveis ontogenéticas.
c) Linguagem escrita é uma herança cultural e linguagem oral está presente em todas as
sociedades.
d) Linguagem escrita tem raízes filogenéticas e linguagem oral depende de variáveis
ontogenéticas.
e) Linguagem escrita tem raízes filogenéticas e linguagem oral só se transmite pelo ensino.

54/112
Questão 2
2. Além dos pré-requisitos centrados na criança, a linguagem deve estar
presente em situações reais da sua vida para lhe atribuir sentido. O que a
criança compreende sobre a linguagem em suas experiências de vida?
a) Como se escreve e noções espaciais.
b) Como se escreve e atenção e interesse.
c) Como se escreve e quais as situações em que se escreve.
d) Como se escreve e habilidades motoras finas.
e) Como se escreve e noções de lateralidade.

55/112
Questão 3
3. Embora ter uma “boa fala” não seja pré-requisito para aprender a escre-
ver bem, falar bem é um produto de quais modificações?
a) Falar bem é um produto de modificações na linguagem oral produzidas por um processo de
letramento.
b) Falar bem é um produto de modificações na linguagem oral produzidas por um processo de
imitação.
c) Falar bem é um produto de modificações na linguagem oral produzidas por um processo de
decodificação.
d) Falar bem é um produto de modificações na linguagem oral produzidas por um processo de
oralização.
e) Falar bem é um produto de modificações na linguagem oral produzidas por um processo de
incorporação.

56/112
Questão 4
4. Por que se diz que a escrita está no centro da educação?

a) Porque além de ser objeto de aprendizagem, é instrumento de acesso a outros


conhecimentos.
b) Porque além de ser objeto de aprendizagem, desenvolve a linguagem oral.
c) Porque além de ser objeto de aprendizagem, a escrita é enfatizada nas etapas iniciais do
ensino fundamental.
d) Porque além de estar em situações reais nas quais funções sociais são exigidas, é
instrumento de acesso a outros conhecimentos.
e) Porque além de estar em situações reais nas quais funções sociais são exigidas, trata-se de
instrumento de aprendizagem.

57/112
Questão 5
5. Para aprender a escrever é preciso que as crianças apresentem conheci-
mento fonológico ou consciência fonológica. Quais são os quatro níveis de
conhecimento fonológico, do menos para o mais elaborado?

a) Sensibilidade à rima, conhecimento intrassilábico, conhecimento silábico e conhecimento


segmental.
b) Sensibilidade à rima, conhecimento silábico, conhecimento intrassilábico e conhecimento
segmental.
c) Conhecimento segmental, sensibilidade à rima, conhecimento intrassilábico e
conhecimento silábico.
d) Conhecimento segmental, conhecimento intrassilábico, conhecimento silábico e
sensibilidade à rima.
e) Conhecimento intrassilábico, sensibilidade à rima, conhecimento silábico e conhecimento
segmental.

58/112
Gabarito
1. Resposta: C. visual bem-estabelecida, noções espaciais,
noções de lateralidade, discriminação
A linguagem escrita é uma herança e memória visual e auditiva, noções
cultural e não está presente em todas temporais, atenção, interesse, e outros),
as sociedades. Ela depende de variáveis devem-se considerar as situações reais que
ontogenéticas e só se transmite pelo atribuem sentido a essa linguagem, para
ensino. Já o domínio da linguagem oral está que possa compreender como se escreve,
presente em todas as sociedades, visto que o que se pode escrever, com que objetivos
é uma herança biológica, hereditária do ser se escreve, para quem se escreve, quais as
humano, com raízes filogenéticas. situações em que se escreve e o porquê de
se escrever.
2. Resposta: C.
3. Resposta: A.
Além das “funções básicas” ou “funções
neuropsicomotoras” que as crianças devem Embora ter uma “boa fala” não seja pré-
apresentar para aprender a linguagem requisito para aprender a escrever bem, na
escrita adequadamente (habilidades fala, uma série de aspectos e formalidades
motoras finas, coordenação motora e da escrita são incorporados. Assim, falar

59/112
Gabarito

bem é um produto de modificações da criança: sensibilidade à rima (a criança


na linguagem oral produzidas por um descobre que algumas palavras têm no
processo de letramento. seu início ou no seu final um mesmo
conjunto de sons), conhecimento silábico
4. Resposta: A. (capacidade de dividir a palavra em
sílabas), conhecimento intrassilábico (as
A linguagem está no centro da sílabas são subdividias em elementos
educação, porque além de ser objeto de menores) e conhecimento segmental
aprendizagem, é por meio dela que se (compreender que as palavras são
adquirem outros conhecimentos, sendo formadas por fonemas).
assim, um instrumento de acesso que tem
que ser previamente ensinado.

5. Resposta: B.

Existem quatro níveis de conhecimento


fonológico, sendo que os mais elaborados
dependem dos avanços na alfabetização
60/112
Unidade 3
Comunicação e Linguagem

Objetivos

1. Comunicação e linguagem são termos que


automaticamente remetem um ao outro. De fato, a
comunicação é uma das funções da linguagem, a qual
tem seu desenvolvimento relacionado às intenções e às
interações dentro de uma comunidade.
2. Esta aula visa elucidar estas relações, vinculando-
as à aquisição da linguagem e escrita e, quando
possível, destacando os diferentes contextos no qual a
comunicação ocorre e a linguagem se desenvolve, o que
inclui menções à escola.

61/112
Introdução

A capacidade da linguagem é
exclusivamente humana (grifo do autor,
CHOMSKY apud VILA, 1995b). Para
Chomsky, falar é uma capacidade
Link
Para saber mais sobre o que é a linguagem e
geneticamente determinada, perante
como ela se relaciona com a comunicação e
o que adquirir linguagem não passa de
com a educação, assista aos vídeos “O que é
desenvolver algo inato. Em uma produção
linguagem 1/2” e “O que é linguagem 2/2”,
linguística existe uma relação entre sua
forma, a sintaxe, e aquilo que significa, disponíveis em: <http://www.youtube.com/
a semântica. Além disso, é preciso watch?v=I1Zusz__3e8&feature=related>.
conhecer a realidade para poder fazer <http://www.youtube.com/
uso da linguagem, o que para Piaget, watch?v=4qr3CGs1Upg&feature=relmfu>.
significava a necessidade do surgimento
Acesso em: 23 de Abril de 2015.
prévio da função simbólica (VILA, 1995b).
Opostamente a Chomsky, Piaget não pensa
ser a linguagem o principal elemento Em meados dos anos setenta, atentou-
definidor da espécie humana, o qual seria se também para o conhecimento sobre
uma capacidade cognitiva geral, da qual a como usar regras fonológicas, semânticas
linguagem seria expressão. e sintáticas, ou seja, o uso funcional da
62/112 Unidade 3 • Comunicação e Linguagem
linguagem denominado de pragmática. O uso da linguagem surge de uma intenção de ma
necessidade de estabelecer a comunicação. Isto significa que se usa a linguagem para que algo
que está na mente possa passar à consciência do interlocutor. Desta maneira, aprende-se a
falar aprendendo a anunciar uma intenção e a compartilhar e comentar sobre um tema com um
interlocutor (VILA, 1995b).

Assim, podemos empregar a linguagem para regular a conduta de outra


pessoa (venha; dê-me água; pegue a escova; chame-me às sete; etc.),
para informar sobre algo referente a nós mesmos (não gosto de água;
vou entrar em férias; estou cansado, etc.) ou para informar sobre algo que
nos cerca (o carro é vermelho; Maria não vem; é um lápis; o trem está
estragado; etc.) (Vila, 1995b, p. 71).
Por isso, uma boa competência comunicativa é adquirida se há um conjunto de habilidades
e conhecimentos a respeito de quando falar e quando não falar, com quem falar, sobre o
que falar, onde, quando e até mesmo de que maneira falar. Mas, além do desenvolvimento
funcional constituir apenas uma parte, a criança necessita aprender o que é esperado de sua
participação como interlocutora no contexto em que está imersa, diferenciando entre diversos

63/112 Unidade 3 • Comunicação e Linguagem


contextos e interlocutores (VALMASEDA, estabelecendo-se uma protoconversação
2004). (conversação primitiva) (VILA, 1995b).
O bebê pronuncia suas intenções por meio A interação social que acontece na rotina
de gestos faciais ou corporais, balbucios do bebê conjuntmente com a regulação
ou mesmo através de ações, como por do adulto acrescida à sua percepção de
exemplo, ao arrastar o adulto até um objetos a partir dos três meses de idade,
objeto. Porém os meios verbais permitem permite que a comunicação e suas regras
agilidade e economia de esforço na solução se desenvolvam assim como que seja
de seus problemas frente aos meios estabelecido um progresso cognitivo. Entre
não-verbais. Assim, o desenvolvimento os seis e os doze meses, aparecem gestos,
da linguagem começa cedo. O recém- diversificação nas expressões faciais, uso
nascido, por exemplo, possui condutas do olhar para regular o intercâmbio e
específicas relacionadas à linguagem vocalizações (VILA, 1995b).
humana (distingue os sons pa e ba, reage Assim, a fala se desenvolve seguindo o
com movimentos à voz humana, e outros). seguinte ritmo (VILA, 1995b):
Os adultos, por sua vez, adequam suas
condutas àquelas observadas nos bebês, • Vocalizações podem ser observadas
nas crianças praticamente desde

64/112 Unidade 3 • Comunicação e Linguagem


o primeiro mês de vida (além dos (/a/ e /e/).
sons típicos do choro, os quais se • Aos doze meses pronuncia-
diferenciam aos poucos). se corretamente as primeiras
• A partir de um mês e meio, qualquer consoantes (/p/, /t/, /m/).
fonema pode aparecer – fase do • Durante o segundo ano, a
balbucio. aprendizagem da entonação vai
• A partir dos seis meses, os bebês sendo incorporanda pelas crianças,
prestam cada vez mais atenção e observa-se o uso de expressões
aos sons falados ao seu redor, (mesmo que sem significado) com
os quais são imitados, ainda que inflexões, ritmos e pausas - jargão
imperfeitamente – fase da lalação. expressivo.
• A linguagem da criança se aproxima • Aproximadamente aos dois anos
cada vez mais daquela falada em seu de idade, as vogais, boa parte das
meio, quando aos 9-10 meses chega consoantes e alguns ditongos são
à fase da ecolalia.
pronunciados corretamente.
• Até os nove meses, as primeiras O domínio completo do sistema fonológico
vogais são claramente pronunciadas pode demorar-se até os cinco anos. Desta
65/112 Unidade 3 • Comunicação e Linguagem
forma, o Quadro 3.1 apresenta as etapas de construção do sistema linguístico, indicando o
panorama de aquisição da fala.
UNIDADE ESTÁGIO DE
NÍVEL EXEMPLO
MÍNIMA DESENVOLVIMENTO
[ka] , [dadadada]
Fonético Som Pré-Fala (0 – 1;0)
[da ‘da]
Fonológico Segmento Sonoro [ka] = CARRO
Primeiras Palavras (1;0 – 1;6)
Lexical Palavra [da] = DÁ
DÁ CARRO
Sintático Frase Estágio Telegráfico (1;6 – 2;0)
CARRO PAPAI
Organização e Expansão dos FAZI
Morfológico Forma
Subsistemas (a partir de 2;0) PICOLERES_
JÁ FAZI
Narrativo
Discursivo Texto AMANHÃ
(a partir de 4 anos)
(Protonarrativas)
Quadro 3.1: Níveis de Estruturação Lingüística. Em: TEIXEIRA, Elizabeth Reis. (1995). O processo de aquisição da linguagem pela
criança. Revista do Espaço Möebius. Salvador. Retirado de: Almeida, Risonete Lima. (2007). Aquisição das primeiras palavras:

Um estudo sobre aspectos lingüísticos em interação com ações intelectuais. Dissertação, Universidade Federal da Bahia.

66/112 Unidade 3 • Comunicação e Linguagem


No uso das primeiras palavras, as crianças
o restringem ao contexto no qual o adulto
geralmente as emprega, até que comecem Para saber mais
a generalizar este uso em contextos não “Quando nos referimos a conceito, estamos
observados anteriormente, o que parece pensando em um tipo de representação mental”
referir-se à primeira noção conceitual, (p. 32). Conceito e categoria, são frequentemente
que se relaciona ao significado da palavra. empregados como sinônimos, contudo, categoria
Neste processo, a criança entende cada vez é o conjunto de membros representados pelo
mais o caráter instrumental da linguagem conceito. Exemplo: conceito gato – representação
e que esta reflete a realidade. A partir mental; categoria gato – todos os gatos que já
daqui, a memória é limitadora na aquisição existiram, existem atualmente e existirão no
de novas palavras (VILA, 1995b). futuro (Lomonaco, 2000).

Desta forma, no trabalho pedagógico, o


conhecimento que a criança já possui deve
servir de base e seu vocabulário deve ser
estendido e aperfeiçoado por meio de sua

67/112 Unidade 3 • Comunicação e Linguagem


participação em atividades motivadoras e ferramenta culturalmente elaborada para
contextualizadas nas quais a negociação que ocorra a comunicação no meio social.
dos significados fornecidos pelo adulto Função e forma integram um mesmo
aconteça (VILA, 1995b). processo, são indissociáveis, são adquiridas
e evoluem em conjunto (VILA, 1995a).
1. Comunicação e interações Como também já visto em aulas anteriores,
sociais para haver comunicação os interlocutores
devem conferir o mesmo valor a suas
Para dar prosseguimento ao entendimento
expressões linguísticas. Por isto que na
da linguagem e da sua função
aquisição da linguagem aprende-se a usá-
comunicativa, é retomado que a linguagem
la para regular interações com os outros.
seria um “sistema de signos que serve para
Isso é feito de forma cada vez melhor ao
expressar ideias e sentimentos” (VILA,
se conhecer e compartilhar os significados
1995a, p. 150). Assim, além de sua forma
convencionais existentes na comunidade
(significantes), estudada na morfologia,
(VILA, 1995a).
a sua definição reconhece a sua função
(significados). A linguagem torna-se A aquisição e desenvolvimento da
então um instrumento da conduta, uma atividade linguística implica participação
de situações e atividades sociais
68/112 Unidade 3 • Comunicação e Linguagem
motivantes (alimentação, cuidado verbalmente (VILA, 1995a). Quando uma
ou jogo), desde o início da vida. Nas criança chega à escola, por volta dos
interações sociais, a comunicação quatro anos, já possui um conhecimento
se torna cada vez mais convencional significativo das normas por trás da
na sua forma. Assim, os significados comunicação e da linguagem, adquirido
elaborados socioculturalmente devem paulatinamente nas interações em sua
ser compartilhados. Fonemas, palavras casa (VALMASEDA, 2004).
e orações devem ser combinados em Em seguida, dos sete aos doze anos
sequências compreensíveis aos demais e de idade, novos modelos de uso da
as regras gramaticais devem ser utilizadas, linguagem são apresentados, tanto pelas
já que estruturam de forma convencional experiências na escola e com os amigos,
as relações forma-função na linguagem quanto pelo acesso compreensivo aos
(VILA, 1995a). meios de comunicação e à leitura, os
Com as experiências pré-escolares e o quais proporcionam grande variedade de
ingresso, mais adiante, na escola, dos conhecimentos (VILA, 1995a).
quatro aos sete anos, a diversificação
dos contextos da fala exige maior clareza
e compreensibilidade do que se produz
69/112 Unidade 3 • Comunicação e Linguagem
Inicialmente, o veículo linguístico será a língua oral. Mais tarde,
a aprendizagem da leitura e da escrita ampliará enormemente as
possibilidades de conhecimento do mundo, ao mesmo tempo em
que enriquecerá a própria linguagem oral, convertendo-se em um
instrumento cada vez mais complexo (Valmaseda, 2004, p. 72).
No meio social, usualmente, um modelo de uso da linguagem adaptado aos modos de vida e ao tipo
de interações habituais em que ocorrem é oferecido. Já é um modelo apropriado para os hábitos e
necessidades comunicativas existentes no meio, assim, contextos interativos diferentes apresentam
estilos e modos de uso da linguagem distintos. É desta forma que dois grupos sociais compartilham
as generalidades do código (são falantes da mesma língua) mas oferecem inputs linguísticos
diferentes. Destaca-se, portanto, a relevância da exposição à diversificados ambientes sociais, nos
quais há diferentes modelos, enriquecendo o input linguístico (VILA, 1995a).

70/112 Unidade 3 • Comunicação e Linguagem


Para saber mais
O input linguístico seria o uso que os demais falantes fazem da linguagem em suas interações (Vila,
1995a), ou seja, o uso da linguagem que se ouve e observa em uma comunidade.

O input linguístico identifica a comunidade ou o grupo falante e, do


mesmo modo que veicula seus modelos socioculturais, exerce uma
pressão socializadora sobre o uso individual da linguagem no interior
dessa comunidade ou grupo. Normalmente o indivíduo é sensível a
esta influência e adapta seu uso ao modelo tanto quanto for capaz (Vila,
1995a, p. 157).
Na escola comumente é oferecido um input linguístico elaborado para a compreensão. Esse
input apresenta similaridades com aquele comumente utilizado nas famílias de crianças de
classes média e alta de forma a favorece-las de forma diferenciada (VILA, 1995a). Esta é uma

71/112 Unidade 3 • Comunicação e Linguagem


reflexão de peso para a realidade de autores da literatura infantil, de clássicos
escolas brasileiras, visto que as crianças a contemporâneos, para que possa haver
com menos recursos linguísticos percebem contato das crianças com estruturas
uma dificuldade adicional para o êxito linguísticas e vocábulos variados, com
escolar no uso da linguagem. ajuda do professor para compreensão dos
Assim, “o universo vocabular de cada mesmos (TULESKI, CHAVES & BARROCO,
criança vai diferir de acordo com a classe 2012).
social e com os tipos de organização O respeito pela diversidade e a
dos discursos orais com os quais ela oportunização de experiências
convive em seu cotidiano” (TULESKI, enriquecedoras para aquelas crianças com
CHAVES & BARROCO, 2012, p. 38). universo vocabular mais empobrecido
Ingressando na escola, a ampliação do deve ser regra. Muito se fala nas escolas
vocabulário e o aperfeiçoamento da sobre a origem das crianças e, de fato,
estrutura e da forma da linguagem oral até mesmo as pesquisas revelam que
podem e devem acontecer. Por isso é há relação entre variáveis psicossociais
importante que o professor das séries familiares e desempenho em leitura/escrita
iniciais, além de “contar” histórias para em crianças, sendo que a presença de
as crianças, diversifique a escolha dos transporte próprio na família, percepção
72/112 Unidade 3 • Comunicação e Linguagem
dos familiares de que a criança teve
dificuldades para aprender a ler e no
desempenho da leitura, maior índice
de repetência escolar e história familiar
de dificuldade na leitura são algumas
dessas variáveis psicossociais da família
(ENRICONE & SALLES, 2011). Por isso,
o trabalho de parceria com as famílias,
fazendo com que elas se sintam motivadas
a trocarem com a escola e estimularem
de forma adequada seus filhos deve ser
parte do cotidiano escolar. Isso, somado à
oferta de experiências mais significativas
e diversas pode ajudar muito a superar
a situação da educação das crianças,
principalmente em relação aos desafios da
aprendizagem da leitura e escrita.

73/112 Unidade 3 • Comunicação e Linguagem


?
Questão
para
reflexão
Acesse o texto de Tuleski, Chaves e Barroco (2012) e enumere
algumas das características dos alunos e do planejamento
pedagógico às quais o professor deve se atentar:
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/fractal/v24n1/v24n1a03.
pdf>. Acesso Em 23 Abril de 2015.

TULESKI, S. C., CHAVES, M.; BARROCO, S. M. S. Aquisição da


linguagem escrita e intervenções pedagógicas: uma abordagem
histórico-cultural. Fractal: Revista de Psicologia, v. 24, n. 1, p. 27 a
44, 2012.

74/112
Considerações Finais

• O uso da linguagem surge de uma intenção, que é a comunicação.


• A criança necessita aprender o que é esperado de sua participação como
interlocutora no contexto em que está imersa, diferenciando entre diversos
contextos e interlocutores.
• As fases da fala são: protoconversação, balbucio, lalação, ecolalia, jargão
expressivo e fala.
• No uso das primeiras palavras, as crianças o restringem ao contexto no
qual o adulto geralmente as empregas, até que comecem a generalizar
este uso em contextos não observados anteriormente, o que parece
referir-se à primeira noção conceitual.
• A aquisição e desenvolvimento da atividade linguística implica
participação de situações e atividades sociais motivantes.

75/112
Considerações Finais

• Contextos interativos diferentes apresentam estilos e modos de uso da


linguagem distintos.
• Crianças com menos recursos linguísticos percebem uma dificuldade
adicional para o êxito escolar no uso da linguagem.
• Experiências mais significativas e diversas devem ser ofertadas nas
escolas.

76/112
Referências

ENRICONE, J. R. B.; SALLES, J. F. Relação entre variáveis psicossociais familiares e desempenho


em leitura/escrita em crianças. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e
Educacional, SP. Vol. 15, N. 2, 2011. pp. 199 a 210.
LOMONACO, J. F. B. et al. Desenvolvimento de conceitos: o paradigma das
descobertas. Psicologia Escolar e Educacional, Campinas, v. 4, n. 2, dez. 2000. pp. 31-39.
TULESKI, S. C., CHAVES, M.; BARROCO, S. M. S. Aquisição da linguagem escrita e intervenções
pedagógicas: uma abordagem histórico-cultural. Fractal: Revista de Psicologia, v. 24, n. 1, p. 27 a
44, 2012.
VALMASEDA, M. Os problemas de linguagem na escola. In: COLL, C.; MARCHESI, Á.; PALACIOS, J.
(Orgs.). Desenvolvimento psicológico e educação: Transtornos de desenvolvimento e necessidades
educativas especiais. Porto Alegre: Artmed, 2004. vol. 3. p. 72 a 89.
VILA, A. L. e I. Desenvolvimento da linguagem. In: COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. (Orgs.).
Desenvolvimento psicológico e educação: Psicologia evolutiva. Porto Alegre: Artes Médicas,
1995a. v. 1. p. 149 a 164.
VILA, I. Aquisição da linguagem. In: COLL, C.; PALACIOS, J.; MARCHESI, A. (Orgs.).
Desenvolvimento psicológico e educação: Psicologia evolutiva. Porto Alegre: Artes Médicas,
1995b. v. 1. p. 69 a 80.
77/112 Unidade 3 • Comunicação e Linguagem
Assista a suas aulas

Aula 3 - Tema: Comunicação e Linguagem - Aula 3 - Tema: Alterações Frequentes da


Bloco I Linguagem Oral - Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
7d7b8d61b597002c0453d94556931e64>. ce22f7d8b181a2eed100a9f77d0ee6dc>.

78/112
Assista a suas aulas

Aula 3 - Tema: Alterações da Linguagem Aula 3 - Tema: Alterações da Linguagem


Escrita: Disgrafia e Disortografia - Bloco III Escrita – Dislexia, Dificuldade Escolar e
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Distúrbio de Aprendizagem - Bloco IV
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
1d/5bc6ddadc6cc5751b8ac3c6933b1e0bb>. pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
6c7bfe424744d20f8d788789a87cf5cc>.

79/112
Questão 1
1. Em relação à comunicação e linguagem, em meados dos anos setenta,
atentou-se também para o conhecimento sobre como usar regras fonoló-
gicas, semânticas e sintáticas, ou seja:
a) A dialógica.
b) A pragmática.
c) A morfologia.
d) A ontogenética.
e) A filogenética.

80/112
Questão 2
2. O bebê pronuncia sua intenção por meio de gestos, balbucios ou arras-
tando o adulto até esse objeto, mas reconhece que há um meio mais eco-
nômico e eficaz. Qual seria esse meio?

a) A linguagem.
b) A protoconversação.
c) A comunicação.
d) A fala.
e) A lalação.

81/112
Questão 3
3. No processo de aquisição da linguagem, além do desenvolvimento da
comunicação, qual outro progresso se observa na criança?
a) Pragmático.
b) Cognitivo.
c) Fonológico.
d) Semântico.
e) Sintático.

82/112
Questão 4
4. No processo de aquisição da noção conceitual, que se relaciona ao sig-
nificado da palavra, a criança entende cada vez mais o caráter instrumental
da linguagem e que esta reflete a realidade. Como se expressa o início do
desenvolvimento deste processo?

a) No uso das primeiras palavras, as crianças o restringem ao contexto no qual o adulto


geralmente as emprega, até que comecem a generalizar este uso em contextos não
observados anteriormente.
b) No uso das primeiras palavras, as crianças o restringem ao contexto no qual o adulto
geralmente as emprega, até que comecem a adquirir outras palavras em novos contextos.
c) No uso das primeiras palavras, as crianças generalizam para diversos contextos, até que
comecem a restringir este uso ao contexto no qual o adulto geralmente as emprega.
d) No uso das primeiras palavras, as crianças diferenciam contextos diversos, até que iniciem
o uso da palavra.
e) No uso das primeiras palavras, as crianças diferenciam o uso da palavra, até que os
contextos comecem a se diversificar.

83/112
Questão 5
5. Qual a principal relação entre interações sociais e desenvolvimento da
linguagem?

a) A participação em situações e atividades sociais pode inibir a aquisição e o


desenvolvimento da atividade linguística.
b) A aquisição e o desenvolvimento da atividade linguística não dependem de participação de
situações e atividades sociais.
c) A participação em situações e atividades sociais motivantes não fornece ferramentas para
um adequado desenvolvimento da atividade linguística.
d) A aquisição e desenvolvimento da atividade linguística podem não se manter se houver
participação de situações e atividades sociais motivantes.
e) A aquisição e desenvolvimento da atividade linguística implicam participação em situações
e atividades sociais motivantes.

84/112
Gabarito
1. Resposta: B. 3. Resposta: B.

Em meados dos anos setenta, atentou-se A interação social que acontece na rotina
também para o conhecimento sobre como do bebê, com regulação do adulto, e sua
usar regras fonológicas, semânticas e percepção de objetos a partir dos três
sintáticas, ou seja, a pragmática. Aprende- meses de idade, separados das pessoas,
se a falar aprendendo a anunciar uma permite que a comunicação e suas regras
intenção e a compartilhar e comentar sobre se desenvolvam assim como que haja um
um tema com um interlocutor. progresso cognitivo.

2. Resposta: D. 4. Resposta: A.

O bebê pronuncia sua intenção por meio de No uso das primeiras palavras, as crianças
gestos, balbucios ou arrastando o adulto o restringem ao contexto no qual o adulto
até esse objeto antes de dizê-la, mas geralmente as emprega, até que comecem
reconhece que é mais econômico e eficaz a generalizar este uso em contextos não
do que os métodos não verbais. observados anteriormente, o que parece
referir-se à primeira noção conceitual,

85/112
Gabarito
que se relaciona ao significado da palavra. sequências compreensíveis aos demais e as
Neste processo, entende cada vez mais o regras gramaticais devem ser utilizadas, já
caráter instrumental da linguagem e que que estruturam de forma convencional as
esta reflete a realidade. relações forma-função na linguagem.

5. Resposta: E.

A aquisição e desenvolvimento
da atividade linguística implicam
participação em situações e atividades
sociais motivantes (alimentação,
cuidado ou jogo), desde o início da vida.
Nas interações sociais, a comunicação
se torna cada vez mais convencional
na sua forma. Assim, os significados
elaborados socioculturalmente devem
ser compartilhados, fonemas, palavras
e orações devem ser combinados em

86/112
Unidade 4
Metodologia e Didática: Competências Linguísticas e Ensino

Objetivos

1. Nesta última aula sobre aquisição da


linguagem e escrita, você irá observar
o ensino, enfatizando as competências
linguísticas envolvidas neste processo.
2. O objetivo é que se possa relacionar
pensamento, linguagem oral, linguagem
escrita e comunicação pensando em como
criar condições para que todos esses aspectos
possam ser estimulados de forma apropriada,
mas também como utilizá-los a fim de
promover melhor aproveitamento dos alunos.

87/112
Introdução

Você viu ao longo desta disciplina como pensamento e linguagem estão interligados e como
se desenvolve o pensamento verbalizado e a fala intelectual. Na sequência, aprofundou-se
na aquisição da escrita enquanto uma forma de linguagem que se diferencia da linguagem
oral, especialmente no seu aspecto culturalmente determinado. Então, foi discutida uma das
funções primordiais da linguagem: a comunicação. Mais uma vez, neste ponto, as interações
sociais foram postas em destaque e agora cabe identificar o que é e como se dá a competência
linguística e sua relação com o ensino.
Desta forma, entende-se como competência linguística:

o conhecimento que o falante/ouvinte possui de sua língua, o qual


lhe permite, em princípio, produzir e compreender o número infinito
de sentenças ou expressões linguísticas daquela língua, assim como
distinguir enunciados correspondentes ou não a sentenças da mesma
(Corrêa, 2006, p. 27).

88/112 Unidade 4 • Metodologia e Didática: Competências Linguísticas e Ensino


Mas como a competência linguística pode Aprendizagem e desenvolvimento são
ser adquirida, desenvolvida, em um país conceitos bastante conflitantes entre as
onde se identificam práticas de leitura e diferentes linhas de pesquisa. Para alguns,
escrita circunscritas ao cumprimento de a aprendizagem da linguagem escrita vem
exigências escolares? Em uma pesquisa depois do desenvolvimento: se as funções
realizada em três escolas de formação de estão desenvolvidas, se a memória permite
professores, constatou-se que, de maneira lembrar os nomes das letras do alfabeto,
geral, os alunos, ainda que incumbidos da se a atenção permite concentração
tarefa de aprender a ler e a escrever, não durante certo período em um assunto
tinham oportunidade de experimentar que não é do seu interesse, então o
a leitura e a escrita reais, ou seja, com pensamento amadureceu e a criança
autoria e fruição (KRAMER, 2001). pode entender a relação entre os sinais
Para entender como é possível modificar escritos e os sons que eles simbolizam, ou
esta realidade e trabalhar de forma seja, o ensino da escrita pode começar.
apropriada junto à aprendizagem de um Para outros teóricos os conceitos de
indivíduo (que é o foco de atenção do desenvolvimento e aprendizagem são
psicopedagogo), precisa-se ir mais a fundo um só, sendo que para ambas as teorias,
nas relações entre o ensino e a linguagem. a aprendizagem não muda nada no

89/112 Unidade 4 • Metodologia e Didática: Competências Linguísticas e Ensino


desenvolvimento. Uma terceira teoria do pensamento é possível verificar o
concebe aprendizagem como processo nível do pensamento para o início da
estrutural e conscientizado, ou seja, não aprendizagem (VYGOTSKY, 2000).
só agrega o novo conhecimento, mas esse Acontece que, para teóricos como
novo conhecimento pode modificar todo o Vygotsky, a aprendizagem está sempre
conjunto de conhecimentos previamente à frente do desenvolvimento. Dessa
adquiridos influenciando mais fortemente forma a criança adquire certos hábitos e
no desenvolvimento e não apenas na habilidades antes de aprender a aplicá-
aprendizagem em si (VYGOTSKY, 2000). los de forma consciente e arbitrária.
Em relação ao desenvolvimento do Dessa forma teríamos o processo de
pensamento infantil no processo de aprendizagem escolar e o desenvolvimento
aprendizagem escolar, ou seja, na das funções correspondentes sempre
aquisição de conceitos científicos, o discrepantes e nunca se observaria o
princípio é o mesmo: ensinar novos paralelismo (VYGOTSKY, 2000).
conceitos e formas da palavra ao aluno Assim, as pesquisas mostram que há
permitiria o desenvolvimento de conceitos uma interação entre as diferentes
já constituídos na criança. Assim, ao matérias do ensino escolar no processo
investigarmos o nível de desenvolvimento de desenvolvimento da criança. Seu
90/112 Unidade 4 • Metodologia e Didática: Competências Linguísticas e Ensino
desenvolvimento intelectual não se divide significa que a criança resolve com mais
de acordo com o sistema de matérias facilidade tarefas situadas mais próximas
(aritmética, escrita, e outros), mas em do nível de seu desenvolvimento, até que
alguma parte elas têm um fundamento a dificuldade da solução cresça e se torne
psicológico comum. “O pensamento insuperável mesmo havendo colaboração.
abstrato da criança se desenvolve em todas A possibilidade da criança passar do que
as aulas, e esse desenvolvimento de forma sabe fazer sozinha para o que sabe fazer
alguma se decompõe em cursos isolados em colaboração (zona de desenvolvimento
de acordo com as disciplinas em que se imediato) caracteriza a dinâmica do
decompõe o ensino escolar” (VYGOTSKY, desenvolvimento (VYGOTSKY, 2000).
2000, p. 325). Para Vygotsky a imitação é a base
Em colaboração a criança pode propiciar para a aprendizagem da fala e para a
melhores condições de aprendizagem do aprendizagem na escola. Neste contexto é
que observar-se-ia sozinha (simplesmente preciso dizer que a criança não vai à escola
direcionada pelos limites determinados para aprender o que já sabe fazer sozinha,
pelo estado do seu desenvolvimento e mas para aprender o que ainda não sabe,
pelas suas potencialidades intelectuais) que o professor dá acesso em colaboração
porém, o limite é o desenvolvimento. Isto e sob sua orientação (VYGOTSKY, 2000).
91/112 Unidade 4 • Metodologia e Didática: Competências Linguísticas e Ensino
Neste sentido, as propostas de ensino- 1. Linguagem, ensino e
aprendizagem deveriam estabelecer propostas de trabalho
uma relação entre as “ideias das
crianças” e os “requisitos do ensino”, Retomando, então, a questão da
os quais seriam, respectivamente, “os linguagem, é interessante que para
processos psicológicos de apropriação Teberosky (1991), a unidade da linguagem
do conhecimento” e “o imperativo do é o texto ou o discurso, visto que grande
professor para fazer as crianças avançarem parte da mesma não se desenvolve por
em uma área particular” (TEBEROSKY, meio de uma palavra ou frase. Em povos,
1991, p. 13). como os brâmanes, em que a cultura
predominante é de uma pedagogia oral,
Desta forma, para proporcionar situações os analfabetos existem, mas os textos são
de ensino-aprendizagem, saber quais transmitidos entre as gerações, tornando-
expectativas se pode ter deve vir antes os não ignorantes quanto à linguagem.
da discussão sobre o que os professores
E essa pedagogia oral está presente
podem e devem ensinar (TEBEROSKY,
também na sociedade atual, na qual
1991). Assim, a colaboração se dá de forma
as crianças aprendem a falar e realizar
mais eficaz. E para saber quais expectativas outras coisas por meio da pedagogia de
se pode ter, é preciso conhecer mais sobre transmissão oral, a qual mantém sua
desenvolvimento.
92/112 Unidade 4 • Metodologia e Didática: Competências Linguísticas e Ensino
força pela televisão, cinema e rádio. É visto em aulas passadas, para as crianças,
importante ter esse conceito em mente, primeiramente, a palavra é parte do
pois educadores precisam reconhecer os objeto e não constitui um signo, é uma
múltiplos aspectos envolvidos no processo propriedade, palavra-objeto, mais que um
ensino-aprendizagem, inclusive “recuperar símbolo do objeto.
uma pedagogia de transmissão oral para
ensinar a escrever” (TEBEROSKY, 1991,
p. 26), sabendo que as crianças não são Para saber mais
ignorantes quanto à linguagem escrita. De acordo com o Curso de Linguística Geral
Na verdade, como aponta Zorzi (2003), em (2004, p. 80), obra que reúne anotações de um
uma sociedade letrada, de modo diverso do curso proferido por Saussure em 1916, “o signo
que acontece em uma sociedade oralizada, linguístico une não uma coisa a uma palavra
chama-se de analfabetismo a falta de
mas um conceito a uma imagem acústica (...)
oportunidades de aprender a ler e escrever.
Propomo-nos a conservar o termo signo para
Por isso, para compreender a evolução designar o total e a substituir conceito e imagem
da escrita nas crianças é importante acústica respectivamente por significado e
compreender a distinção entre os planos significante; estes dois termos têm a vantagem de
da grafia (quantidade e forma) e da forma assinalar a oposição que os separa, quer entre si,
interna (de uma ideografia pura passa ao quer do total eu fazem parte”. (SAUSSURE, 2006).
fonetismo ou escrita silábica). Como já
93/112 Unidade 4 • Metodologia e Didática: Competências Linguísticas e Ensino
O signo linguístico é, por sua vez, um Então, quando para a criança o conjunto de
signo artificial, pois, segundo Ferdinand letras representa alguma coisa, representa
de Saussure (2006), remonta uma o nome de algo. Esta ideia tem relação
relação arbitrária entre um significado e “com o aspecto denotativo da linguagem,
um significante. Pensando na linguagem ou de referência, quer dizer, o fato de ligar
verbal, a língua é o código, os signos expressões linguísticas com entidades do
linguísticos, ou as palavras, são a mundo real” (TEBEROSKY, 1991, p. 32).
representação das ideias, pois as palavras
faladas ou escritas permitem a associação Desde o ambiente familiar até a entrada na
a determinadas ideias (SAUSSURE, 2006). escola, o nome da criança lhe proporciona
elementos importantes, como marcas
Assim como na linguagem, a princípio
e referências ao seu mundo. Primeiro, a
a escrita (conjunto de marcas gráficas),
interpretação de sua escrita (do nome) não
para a criança, é um objeto, na forma de
depende do contexto; segundo, facilita
marcas que acompanham um objeto ou
uma imagem, e não é um objeto simbólico. o entendimento sobre a ordenação não
Depois, estabelece uma relação de aleatória das letras. Mas como a escrita
pertinência entre o objeto ou o desenho e o está relacionada ao que existe, ao fato
texto, e só mais tarde o texto é considerado físico real, como explicado por Emilia
um objeto simbólico (TEBEROSKY, 1991). Ferreiro (1981, apud TEBEROSKY) as
94/112 Unidade 4 • Metodologia e Didática: Competências Linguísticas e Ensino
crianças por volta dos cinco anos de idade atribuição de um símbolo determinado
têm dificuldade em aceitar que se escreva para indivíduos que [...] são seres singulares
sobre a ausência ou uma informação falsa, e concretos” (TEBEROSKY, 1991, p. 35-36).
por exemplo, “não há flores”. Teberosky (1991) propõe como trabalho
Assim, escrever o próprio nome parece ser pedagógico o uso de modelos para a
uma peça-chave para a criança começar a escrita do próprio nome, alternando
compreender a forma de funcionamento com a escrita espontânea, pois o modelo
do sistema de escrita. Por isso, Teberosky informa sobre as letras, sua quantidade, a
(1991) propõe que a partir do próprio variedade, posição e ordem, assim como
nome se inicie o ensino da leitura e sua serve de referência para confrontar a
interpretação, visto que o nome: 1) é um escrita espontânea com as convenções da
modelo estável; 2) se refere a um único mesma.
objeto; 3) tem valor de verdade; 4) esta Machado et al. (2008) também incentivam
identificação faz parte dos intercâmbios a nomeação como atividade para estimular
sociais da cultura; e 5) a coincidência entre a linguagem escrita de crianças com cinco
a pauta linguística e o referente “facilita anos de idade. Mas, essas autoras não
a passagem de um símbolo qualquer se limitam ao próprio nome da criança,
para um objeto qualquer em direção à fazendo também referência ao nome de
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outras pessoas e de objetos (MACHADO et Além da escrita do nome e de listas,
al., 2008). Teberosky (1991) aponta como elementos
Entre os cinco e os oito anos de idade, pedagógicos interessantes, que
as crianças se interessam por enumerar consideram o conhecimento linguístico
o que conhecem. Assim, primeiramente da criança e a viabilidade de um enfoque
listam jogos pedidos, desejos de presente, interativo de relação entre textos e leitor
objetos para levar a um passeio, receitas e entre as crianças, e que reflitam o ritmo
de cozinha; depois enumeram os signos de desenvolvimento da criança com o
do zodíaco, os países, filmes vistos; então, reconhecimento de possíveis dificuldades
listam países e cidades, personagens que possam ocorrer no processo de
públicos, animais, como um exercício de aquisição da escrita:
memória e uma prova de informação.
• A escrita de títulos (enunciados do
Pode-se aproveitar este interesse em
conteúdo de um livro, de um escrito
propostas pedagógicas. É interessante
observar que, nesta fase, a disposição do qualquer ou de obras não escritas,
texto é espontaneamente vertical quando como filmes, programas de TV,
se trata de listas e horizontal quando se pinturas). Exemplos de atividades:
trata de diferentes elementos sintáticos escrita de títulos, interpretação
(TEBEROSKY, 1991). das partes do enunciado, leitura do
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título, cópia de um título, revisão e escrita da linguagem”, p. 89) e
correção dos títulos, confecção de reprodução (“recorrer-se a textos
listas, correspondência título-tema, de outros, de maneira direta ou
utilização de subtítulos e elaboração indireta”, p. 89). De acordo com
de slogans e frases de impacto. as observações de classe de
• A reescrita de textos narrativos: Teberosky, “a reprodução e a cópia
produção coletiva, a qual implica são atividades importantes na
o intercâmbio sobre a organização aprendizagem de ler e escrever”
daquilo que se quer escrever, o (p. 89), embora a criatividade e a
equilíbrio entre o que já foi escrito e o originalidade sejam igualmente
que ainda não foi escrito e o controle importantes e façam parte da rotina
sobre o texto escrito e sobre aquilo de atividades em classe.
que falta escrever. • A escrita de notícias: a maioria
• A escrita de poemas: composição crianças apresentam dificuldades na
(“atividade construtiva da criança compreensão da leitura e na redação
encaminhada a criar textos a partir da de textos escritos, manifestadas
compreensão do funcionamento do muitas vezes pela falta de interesse
sistema alfabético de representação pela leitura e a escrita. As razões
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seriam a interação entre fatores de
ordem social e familiar, individuais e
pedagógicas.
Segundo Teberosky, a escola contribui para
aumentar as dificuldades na compreensão
Link
O vídeo “A menina que odiava livros” mostra
da leitura e na redação de textos escritos
um pouco da realidade da leitura de uma forma
ao oferecer, frequentemente, limitadas
criativa e incentivando a leitura. Muito legal para
possibilidades de leituras e de temas de
assistir, inclusive, na companhia de crianças!
redação, pois, assim, as crianças com
dificuldades também reduzem o uso da Disponível em: <http://www.youtube.com/
escrita, observado quando evitam ler e watch?v=geQl2cZxR7Q&feature=related>.
escrever. Acesso em: 23 Abril 2015

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?
Questão
para
reflexão

Ao ler este texto, quais outras ideias lhe vieram à


cabeça para estimular o aprendizado da escrita
nas crianças de uma forma interessante, ou seja,
considerando fatores motivacionais? Caso tenha
dificuldades em realizar esta atividade, livros listados
nas referências bibliográficas podem ajudar, como de
Teberosky e de Zorzi.

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Considerações Finais

• Competência linguística é o conhecimento que o falante/ouvinte possui de


sua língua.
• Aprendizagem é um processo estrutural e conscientizado, ou seja, não
só agrega o novo conhecimento, mas esse novo conhecimento pode
modificar todo o conjunto de conhecimentos previamente adquiridos.
• Aprendizagem está sempre à frente do desenvolvimento.
• Na colaboração de um adulto ou de uma criança mais velha, a criança pode
fazer mais do que sozinha até limites determinados pelo estado do seu
desenvolvimento e pelas suas potencialidades intelectuais.
• Zona de desenvolvimento imediato, proposta por Vygotsky, representa a
possibilidade da criança passar do que sabe fazer sozinha para o que sabe
fazer em colaboração.

100/112
Considerações Finais

• As crianças aprendem a falar e realizar outras coisas por meio da


pedagogia de transmissão oral.
• Assim como na linguagem, a princípio a escrita (conjunto de marcas
gráficas), para a criança, é um objeto, na forma de marcas que
acompanham um objeto ou uma imagem, e não é um objeto simbólico.

101/112
Referências

CORRÊA, L. M. S. (Org.). Aquisição da linguagem e problemas do desenvolvimento linguístico. Rio de


Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2006.
KRAMER, S.; OSWALD, M. (Orgs.). Didática da linguagem: ensinar a ensinar ou ler e escrever?
Campinas, SP: Papirus, 2001.
MACHADO, M. A. M. P.; PEREIRA, A. F. F.; SPINARDI, A. C. P.; VITTI, S. V. Considerações sobre a
fonoaudiologia na educação infantil. In: LAMÔNICA, D. A. C. Estimulação da linguagem: Aspectos
teóricos e práticos. Pulso editorial, 2008. p. 287 a 314.
SAUSSURE, Ferdinand de. Natureza do signo lingüístico. In: Curso de Lingüística geral. São Paulo:
Cultrix, 2006.
TEBEROSKY, A. Psicopedagogia da linguagem escrita. São Paulo: Trajetória Cultural; Campinas, SP:
Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1991.
ZORZI, J. L. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita: Questões clínicas e educacionais.
Porto Alegre: Artmed, 2003.

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Assista a suas aulas

Aula 4 - Tema: A Realidade da Educação no Aula 4 - Tema: Capacidades e Conhecimentos


Brasil Envolvidos na Leitura
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
1d/91ebe54272ba3911b528a1bbb60112c6>. bf7a7562b81090a86b6a7f26d4798bf2>.

103/112
Assista a suas aulas

Aula 4 - Tema: Capacidades Envolvidas na Aula 4 - Tema: Problemas Frequentemente


Escrita Encontrados na Leitura e na Escrita
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
b1057dace7dd072d14bddebaf1130eac>. ae52c620f529a89e8f00366c4020304e>.

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Questão 1
1. O que Kramer (2001) chama de experimentar a leitura e a escrita reais?
a) Fazê-lo para cumprir exigências.
b) Fazê-lo com autoria e fruição.
c) Fazê-lo para aprender.
d) Fazê-lo com cuidado e ressalvas.
e) Fazê-lo despretensiosamente.

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Questão 2
2. O que se sabe sobre as diferentes matérias do ensino escolar e o
processo de desenvolvimento da criança?
a) O pensamento abstrato da criança se desenvolve decomposto em cursos isolados.
b) O processo de aprendizagem escolar é paralelo ao desenvolvimento das funções
correspondentes.
c) As diferentes matérias do ensino escolar correspondem ao processo de desenvolvimento
da criança.
d) Há uma interação entre as diferentes matérias do ensino escolar no processo de
desenvolvimento da criança.
e) O processo de desenvolvimento da criança é concomitante à oferta das disciplinas em que
se decompõe o ensino escolar.

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Questão 3
3. As propostas de ensino-aprendizagem deveriam estabelecer uma rela-
ção entre as “ideias das crianças” e os “requisitos do ensino” (Teberosky,
1991, p. 13). O que seriam as ideias das crianças e os requisitos do ensino
para Teberosky?

a) “os processos psicológicos de apropriação do conhecimento” e “o imperativo do professor


para fazer as crianças avançarem em uma área particular”.
b) “os processos psicológicos da imaginação” e “os requisitos do professor para ensinar os
conteúdos escolares”.
c) “os processos psicológicos de apropriação do conhecimento” e “os requisitos do professor
para ensinar os conteúdos escolares”.
d) “o imperativo das crianças para avançarem em uma área particular” e “os processos
psicológicos de apropriação do conhecimento”.
e) “os processos psicológicos da imaginação” e “as características do desenvolvimento das
crianças em uma área particular”.

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Questão 4
4. Para Teberosky (1991), qual a unidade da linguagem?

a) A palavra ou a frase.
b) O fonema ou a sílaba.
c) A letra ou a vogal.
d) A palavra ou o fonema.
e) O texto ou o discurso.

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Questão 5
5. Teberosky (1991) propõe como trabalho pedagógico o uso de mode-
los para a escrita do próprio nome, alternando com a escrita espontânea.
Indique a opção na qual as informações que o modelo pode trazer em
relação às letras estão descritas corretamente.
a) Quais são, variedade, posição e forma.
b) Quais são, variedade, posição e função.
c) Quais são, quantidade, posição e função.
d) Quais são, quantidade, variedade, posição e ordem.
e) Quais são, quantidade, forma e função.

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Gabarito
1. Resposta: B. 3. Resposta: A.

Para Kramer (2001), experimentar a As propostas de ensino-aprendizagem


leitura e a escrita reais é ler e escrever deveriam estabelecer uma relação entre
com autoria e fruição e não apenas ter as “ideias das crianças” e os “requisitos do
práticas de leitura e escrita circunscritas ao ensino”, os quais seriam, respectivamente,
cumprimento de exigências escolares. “os processos psicológicos de apropriação
do conhecimento” e “o imperativo do
2. Resposta: D. professor para fazer as crianças avançarem
em uma área particular” (Teberosky, 1991,
Há uma interação entre as diferentes p. 13).
matérias do ensino escolar no processo
de desenvolvimento da criança. Seu 4. Resposta: E.
desenvolvimento intelectual não se divide
de acordo com o sistema de matérias, mas Para Teberosky (1991), a unidade da
em alguma parte elas têm um fundamento linguagem é o texto ou o discurso, visto que
psicológico comum. grande parte da mesma não se desenvolve
por meio de uma palavra ou frase.

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Gabarito
5. Resposta: D.

O modelo informa sobre as letras, sua


quantidade, a variedade, posição e ordem,
assim como serve de referência para
confrontar a escrita espontânea com as
convenções da mesma.

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