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WBA0044_V1.

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Desenvolvimento do
Pensamento Lógico-Matemático
Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático
Autor: Dr. Roberto Rodrigues Pereira Junior
Como citar este documento: PEREIRA JUNIOR, Roberto Rodrigues. Desenvolvimento do Pensamento
Lógico-Matemático. Valinhos, 2015.

Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: Características do Pensamento Aritmético 04
Assista suas aulas 23
Unidade 2: Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e
31
o Geométrico
Assista suas aulas 48
Unidade 3: O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático 56
Assista suas aulas 75
Unidade 4: Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela
83
Matemática
Assista suas aulas 103
2/111
Apresentação da Disciplina

Nos dias atuais, ainda são extremamente inicia o processo formal de aprendizagem,
escassos as informações, as pesquisas além das dificuldades de escrita e leitura
e os investimentos para investigação que muitas crianças apresentam em nosso
dos processos de aprendizagem da país, existe também um fraco desempenho
matemática. Entretanto, o papel da em matemática, aspecto pelo qual muitas
matemática na vida das pessoas é de pessoas, principalmente pais e professores,
fundamental importância. Ela está parecem estar alheios. São aspectos
presente no cotidiano em diversas abordados neste curso o entendimento
situações, seja em questões básicas dos motivos que levam a esse baixo
como a simples ida a um supermercado, desempenho, passando pela compreensão
seja em questões mais complexas de como se dá a aprendizagem matemática
como aplicações em bolsas de valores e e como as dificuldades inerentes a esse
questões de economia. O entendimento aprendizado são trabalhadas, além de
do processo de desenvolvimento lógico- uma análise psicopedagógica da formação
matemático do ser é fundamental para que de professores e os índices de rejeição
se amplie o potencial de aprendizagem da matemática, bem como os distúrbios
e o desenvolvimento das habilidades em associados à matemática, como a acalculia
matemática. No âmbito escolar, onde se e a discalculia.

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Unidade 1
Características do Pensamento Aritmético

Objetivos

1. Provavelmente você já se perguntou


como uma criança consegue realizar
determinados cálculos e uma outra não.
Para responder a essa questão, vamos
compartilhar estudos importantes
para entender o que acontece no
cérebro durante a aprendizagem
da matemática e como se dá o
desenvolvimento das habilidades em
matemática e as características do
pensamento aritmético.

4/111
Introdução

Os números fazem parte da nossa vida. Nos seres humanos, a representação


Você certamente utiliza números para fazer interna para quantidades se desenvolve
uma chamada telefônica, cadastrar uma desde o primeiro ano de vida. Pesquisas
senha no banco, verificar a velocidade do publicadas na revista Nature em 1992
automóvel, enviar uma carta pelo correio, demonstraram que crianças podem realizar
entre outros. Sem os números, a sociedade cálculos simples desde os 6 meses de vida
provavelmente não teria evoluído. Mas (WYNN, 1992).
como o cérebro atua para realizar o Piaget demonstrou que a criança
processamento numérico e os cálculos desenvolve o pensamento lógico-
aritméticos? matemático no período operatório (entre
os 6 e 7 anos). Esse desenvolvimento é
1. O Cérebro e a Matemática resultado das fases anteriores pelas quais
a criança passa e que você irá estudar mais
O sistema cerebral para números
profundamente na próxima aula.
assemelha-se a outras áreas do cérebro
responsáveis por discriminações auditivas, Em 1796, o médico austríaco Franz Joseph
reconhecimento de cores e sensações Gall apresentou uma teoria afirmando
gustativas. que existiam áreas cerebrais com funções
específicas e que podiam ser percebidas
5/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético
pela palpação de saliências e depressões Entretanto, apesar de a representação
no crânio, criando assim a Frenologia. cerebral para quantidades ser conhecida
Esses estudos foram complementados por desde 1970, apenas recentemente estudos
Johann Spurzheim. neuropsicológicos começaram a investigar
a organização cerebral do processamento
Atualmente, e surpreendentemente,
numérico no ser humano (BASTOS, 2007).
uma das áreas cerebrais envolvidas no
cálculo matemático e propostas por Gall e As pesquisas indicaram que ambos os
Spurzheim foi confirmada por estudos com hemisférios do cérebro (os chamados lados
Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET), esquerdo e direito) podem processar números
e quantidades, mas existem diferenças:
segundo Bastos (2007).
1. No hemisfério esquerdo, os números
Os estudos para localização das áreas
podem ser nomeados e no direito não.
cerebrais responsáveis pelos cálculos
foram iniciados em 1895 por Wilhelm 2. O ser humano pode calcular apenas
Conrad Roentgen. Em seguida, diversos com números apresentados ao
hemisfério esquerdo, mesmo o de
pesquisadores publicaram trabalhos
operações simples. O único cálculo
relacionando áreas do cérebro a operações
possível com o hemisfério direito é o
matemáticas.
da aproximação.
6/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético
Regiões cerebrais.

A tabela a seguir exibe as áreas cerebrais envolvidas nas habilidades em matemática.

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Tabela 1.1 Áreas cerebrais envolvidas nas habilidades em matemática, de acordo com Bastos (2007).

Região Cerebral Função


Hemisfério direito. Organização viso-espacial.
Hemisfério dominante na Habilidades linguísticas.
linguagem.
Áreas de associação do Leitura e compreensão de problemas verbais; compreensão de
hemisfério dominante. conceitos e procedimentos matemáticos.
Lobos frontais. Cálculos mentais rápidos; conceitualização abstrata; habilidades de
solução de problemas; execução oral e escrita de cálculos.
Lobos parietais. Funções motoras e uso das sensações táteis.
Lobo parietal esquerdo. Habilidade de sequenciação.
Lobos occipitais. Discriminação visual dos símbolos matemáticos escritos.
Lobos temporais. Percepção auditiva; memória verbal de longo prazo.
Lobo temporal dominante. Memória de séries; realizações matemáticas básicas; subvocalização
durante solução de problemas.

8/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético


tais como a dos sete anões, e vai utilizar
números para realizar jogos, vai aprender
Para saber mais a contar a sua idade e a realizar muitas
Wilhelm Conrad Roentgen (ou Röntgen) foi outras atividades envolvendo números.
um físico alemão que, em 8 de novembro de
Na seção anterior vimos que existem
1895, produziu radiação eletromagnética nos
áreas do cérebro específicas para realizar
comprimentos de onda correspondentes aos
determinadas atividades matemáticas;
atualmente chamados raios X, descoberta que
áreas que são interligadas a outras áreas
revolucionou a medicina.
cerebrais. Uma pessoa com deficiência
visual vai utilizar da sua sensibilidade tátil,
2. Desenvolvendo Habilidades acionando os lobos parietais cerebrais,
Matemáticas para a identificação de números. Já uma
pessoa com visão normal aciona os lobos
Quando a criança chega à escola, ela já occipitais para identificação dos mesmos
traz uma série de conhecimentos informais números.
sobre matemática. Ao longo do seu
De forma a possibilitar o desenvolvimento
crescimento e desenvolvimento, a criança
dessas habilidades, faz-se necessária a
entrou em contato com histórias infantis,
fusão entre as capacidades cognitivas e as
9/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético
capacidades numéricas específicas. Para a soma 1+1 = 2, e um interesse por maior
tal, a criança deve ter condições adequadas tempo num resultado falso como na soma
ao desenvolvimento dessas habilidades 1+1 = 1.
para posteriormente automatizar essas Esse modelo de avaliação utiliza a medida
funções. do tempo de fixação do olhar para mostrar
Diversos estudos demonstram que o interesse/desinteresse da criança.
nascemos com capacidades matemáticas Quanto maior o tempo de fixação do olhar,
inatas. A pesquisadora Karen Wynn, em maior o interesse e vice-versa.
seu artigo publicado na revista Nature Segundo Bastos (2007), aos 8 meses o bebê
(WYNN, 1992), demonstra que crianças é capaz de raciocinar que dois objetos não
podem realizar cálculos simples aos 6 podem estar no mesmo lugar ao mesmo
meses a partir de um processo denominado tempo. Esses conceitos são passíveis de
subitization, que é a habilidade de serem questionados, mas demonstram
reconhecer a quantidade de pequenos que o potencial matemático está presente
objetos sem consciência do processo de desde os primeiros meses da criança.
contagem. Em seu trabalho, uma criança
mostra um interesse de curto tempo num
resultado esperado, como, por exemplo,
10/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético
2.1. Sequência do Desenvolvi- 3. Características do Pensamen-
mento das Habilidades em Ma- to Aritmético
temática
Ao perguntar a um grupo de pessoas o
A partir do instante em que se pode que é número, é comum não termos uma
aplicar testes verbais, observa-se que resposta para algo tão familiar, embora
o desenvolvimento das habilidades em usemos números o tempo todo para fazer
matemática ocorre na seguinte sequência: um pagamento, encontrar um endereço,
utilizar o telefone etc.
1. Desenvolvimento do conceito de
número. Até a década de 1960, os professores não
2. Habilidade para contar. tinham muito claro o conceito de número e
sentiam dificuldade em auxiliar a criança a
3. Desenvolvimento da aritmética.
construí-lo. A partir dessa década, porém,
4. Compreensão da comutatividade e com o movimento da matemática moderna
associatividade. originaram-se diversas mudanças no
5. Compreensão da currículo e ganharam espaço as pesquisas
complementaridade. de Piaget referentes à construção do
número pela criança.
11/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético
Segundo Toledo e Toledo (2009), alguns relação que leve aos poucos o conceito
professores adotaram a definição de de número como conhecimento lógico-
número como “a designação de uma matemático.
classe de coleções que têm a mesma
quantidade de elementos e que ocupa 3.1. A Construção dos Números
certa posição em uma série”. Concluiu-se
que, trabalhando com noções ligadas a A criança entra em contato informal com
conjuntos, era facilitada a construção do os números desde muito cedo, observando
conceito de número pela criança. o número do seu telefone, da sua casa, sua
idade. Assim, uma criança de 4 ou 5 anos
Uma avaliação desse trabalho nos dias de pode representar o número de sua casa
hoje mostra que o conceito foi puramente num desenho, o dia do mês, sua idade, mas
teórico e abstrato e que as crianças isso não significa que tenha construído o
precisam trabalhar com coleções de conceito de número.
objetos os quais elas possam manipular,
Segundo a pesquisadora piagetiana
observar, descobrindo as propriedades,
Constance Kamii (1984), o “número é uma
juntando por semelhanças, separando por síntese de dois tipos de relações que a
diferenças e comparando quantidades. criança elabora entre os objetos”. Uma é a
Assim, a criança precisa criar todo tipo de ordem, e outra a inclusão hierárquica.
12/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético
De acordo com Piaget, a ordem é nossa necessidade lógica de estabelecer uma organização
entre os objetos (não necessariamente espacial) para termos certeza de que contamos todos e
que nenhum deles foi contado mais de uma vez.

Muitas vezes, quando pedimos a uma criança que conte alguns objetos,
o que ela faz é reproduzir a sequência numérica decorada, sem se
preocupar se contou mesmo todos os objetos ou se algum deles foi
contado mais de uma vez. (TOLEDO; TOLEDO, 2009)
Para Piaget, a inclusão hierárquica é a capacidade do indivíduo de perceber que o “um” está
incluído no “dois”, o “dois” está incluído no “três” e assim por diante.
Uma criança, iniciando seus contatos com os números, recita os nomes dos números, como
faria com os nomes de pessoas. Assim, depois de contar sete objetos, se lhe pedirmos que
indique o sete ela mostrará o sétimo objeto, como se “sete” fosse o nome dele.

13/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético


Observe este exemplo extraído de Kamii (1984):

Uma senhora, mãe de uma criança de 5 anos, pediu-lhe que colocasse


um guardanapo sobre o prato de cada pessoa na hora da principal
refeição do dia. Havia regularmente quatro pessoas à mesa. João Pedro
sabia contar até 30 ou mais. Contudo foi até o armário da cozinha para
pegar o primeiro guardanapo e colocá-lo no prato, voltou para pegar
o segundo e colocá-lo no prato seguinte e assim por diante, fazendo
um total de quatro viagens. Aos 5 anos, 3 meses e 16 dias ele pensou,
espontaneamente, em contar os pratos, contou os quatro guardanapos
a serem retirados do armário e distribuiu-os sobre a mesa. Ele continuou
desta forma durante seis dias.
No dia seguinte havia um hóspede e um prato a mais do que o comum.
João Pedro pegou seus quatro guardanapos, como sempre, distribuiu-os
e percebeu que um prato ficou sem. Ao invés de pegar um guardanapo
adicional recolheu os quatro que já estavam sobre os pratos e colocou-os
de volta no armário. Então começou tudo outra vez e fez cinco viagens
para completar a tarefa.

14/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético


O texto ilustra a questão da conexidade, reversibilidade, referente à capacidade de
relacionada à inclusão hierárquica. fazer e refazer a mesma ação.
Segundo Piaget, a mente não está Piaget pesquisou sobre a conservação de
suficientemente estruturada, antes dos 7 quantidades discretas e contínuas, por
anos e meio, para permitir que todos os exemplo, considerando a conservação de
números consecutivos estejam conectados quantidades discretas, apresentamos a
pela operação “+1”. No texto, para João uma criança de 4 anos de idade uma fila
Pedro o cinco não pode ser obtido a partir com cinco objetos (que podem ser fichas
do 4+1. azuis). Em seguida, se dispusermos uma
quantidade maior do mesmo objeto, mas
3.2. Conservação de Quantida- de cor diferente (vermelho), e pedirmos
des que ela construa uma fila com esses novos
objetos, observe o que acontece:
Antes de compreender o conceito de
número, a criança precisa conservar
quantidades. A conservação de
quantidades depende de uma
condição mental que Piaget chama de

15/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético


Fase inicial – A criança faz uma fila com todas as fichas disponíveis.

Fase mais avançada – A criança se preocupa com o arranjo espacial e procura respeitar os
limites das extremidades da fila de fichas azuis.

Nesta fase ela ainda não construiu um critério que lhe permita decidir sobre igualdade das
quantidades, indicando que o conceito de número ainda não foi construído.

16/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético


Na etapa seguinte, com 5 anos de idade, a criança já faz o pareamento das fichas.

Desde que a criança acredite que as duas filas tenham a mesma quantidade de fichas, podemos
fazer o teste de conservação de quantidades, modificando a apresentação de uma das filas,
aumentando ou diminuindo o espaço entre as fichas.

As crianças que não têm a conservação de quantidades bem estabelecida acham que a fila mais
comprida tem mais fichas ou ficam em dúvida, não se sentindo seguras de que as quantidades
sejam iguais. As crianças com a noção de conservação bem estabelecida costumam responder
17/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético
que já estava igual, ou que a fila está maior
e a outra mais apertada, mas a quantidade
é a mesma.
Alguns professores acham que podem
ensinar as crianças a se tornarem
conservadoras, mas na verdade isso é
uma tarefa impossível, pois é uma tarefa
individual que não depende de ensino
direto.

18/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético


Glossário
Frenologia (phrenos = mente; logos = estudo): estudo da mente, cranioscopia.
Subitization: habilidade de crianças em reconhecer a quantidade de pequenos objetos sem consciência do
processo de contagem.
Reversibilidade: capacidade de um indivíduo de fazer e refazer a mesma ação.

19/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético


?
Questão
para
reflexão

Elabore um texto com o que você entendeu, por meio


de um exemplo sobre o que é ordem e um exemplo
sobre o que é inclusão hierárquica na visão de Piaget.

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Considerações Finais

Nos seres humanos, a representação interna para quantidades se desenvolve


desde o primeiro ano de vida. Pesquisas revelam que crianças podem realizar
cálculos simples desde os 6 meses de vida.
Ambos os hemisférios do cérebro (os lados esquerdo e direito) podem
processar números e quantidades, mas existem diferenças.
O número é uma síntese de dois tipos de relação que a criança elabora entre
os objetos. Uma é a ordem, e outra a inclusão hierárquica.
A conservação de quantidades depende de uma condição mental que Piaget
chama de reversibilidade.
Alguns professores acham que podem ensinar as crianças a se tornarem
conservadoras, mas na verdade isso é impossível, pois é uma tarefa individual
que não depende de ensino direto.

21/111
Referências

BASTOS, J. A. O cérebro e a matemática. São José do Rio Preto: Edição do autor, 2007.
KAMII, C. A criança e o número. Campinas: Papirus, 1984.
PIAGET, J.; SZEMINSKA, A. A gênese do número na criança. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
TOLEDO, M.; TOLEDO, M. Teoria e prática da matemática: como dois e dois. São Paulo: FTD, 2009.
WYNN, K. Addition and subtraction by human infants. Nature, n. 358, p. 749-750, 1992.

22/111 Unidade 1 • Características do Pensamento Aritmético


Assista a suas aulas

Aula 1 - Tema: O Cérebro e a Matemática - Bloco Aula 1 - Tema: Desenvolvendo Habilidades


I Matemáticas - Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
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23/111
Assista a suas aulas

Aula 1 - Tema: A Construção dos Números - Aula 1 - Tema: Conservação de Quantidades -


Bloco III Bloco IV
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pA-
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/66f-
be15ee89dc70223374d8bc48ec66db30>. de825245448effe70626b4650670b>.

24/111
Questão 1
1. Em qual faixa etária a criança desenvolve o pensamento lógico-
matemático?

a) Entre 5 e 6 anos.
b) Entre 11 e 12 anos.
c) Entre 6 e 7 anos.
d) Acima dos 2 anos.
e) Na adolescência.

25/111
Questão 2
2. As pesquisas indicam que os números e as quantidades são processados:

a) No hemisfério direito do cérebro.


b) No hemisfério esquerdo do cérebro.
c) No hemisfério dominante na linguagem.
d) Em ambos os hemisférios do cérebro.
e) Nos lobos occipitais.

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Questão 3
3. O processo denominado subitization:

a) É a habilidade de realizar a operação de subtração.


b) É a habilidade de reconhecer a quantidade de pequenos objetos sem consciência do
processo de contagem.
c) É a habilidade de fazer operações matemáticas complexas.
d) É a capacidade que o bebê de 8 meses tem de raciocinar que dois objetos não podem estar
no mesmo lugar ao mesmo tempo.
e) Nenhuma das anteriores.

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Questão 4
4. No desenvolvimento das habilidades em matemática, a habilidade
para contar surge:

a) Antes desenvolvimento do conceito de número.


b) Depois do desenvolvimento do conceito de número.
c) Depois do desenvolvimento da aritmética.
d) Depois da compreensão da comutatividade.
e) Juntamente com a compreensão da complementaridade.

28/111
Questão 5
5. Segundo Piaget, a conservação de quantidades:

a) Depende da condição de discretização.


b) Depende da capacidade de reversibilidade.
c) Só é obtida depois da compreensão do conceito de número.
d) Depende da condição de continuidade.
e) Acontece no período pré-operatório.

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Gabarito
1. Resposta: C. 4. Resposta: B.

No período operatório entre 6 e 7 anos. Depois do desenvolvimento do conceito de


número.
2. Resposta: D.
5. Resposta: B.
Em ambos os hemisférios, mas de forma
diferente. A conservação de quantidades depende de
uma condição mental que Piaget chama de
3. Resposta: B. reversibilidade.

Crianças podem realizar cálculos simples


aos 6 meses a partir de um processo
denominado subitization que é a habilidade
de reconhecer a quantidade de pequenos
objetos sem consciência do processo de
contagem.

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Unidade 2
Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e o Geométrico

Objetivos

1. Você já aprendeu na aula anterior


uma das características do
pensamento matemático: a
aritmética. Nesta aula você verá os
demais aspectos: as características
algébrica, probabilística,
combinatória e geométrica.

31/111
Introdução

Para que o professor tenha sucesso na Vamos tentar responder a essas questões
organização de situações que permitam e procurar compreender um pouco mais
que as crianças explorem a matemática, sobre o que é o pensamento algébrico.
é imprescindível que ele conheça os
Em matemática, a álgebra está vinculada
processos fundamentais básicos de
à aprendizagem de regras para a
construção do pensamento matemático,
manipulação de símbolos, simplificação
nas suas diversas áreas: álgebra,
de expressões algébricas e resolução
aritmética, probabilidade e geometria.
Dessa forma, como já foi iniciado o estudo de equações. Tal conceito conduz os
do pensamento aritmético na aula anterior, estudantes a elaborarem uma opinião de
você vai estudar as características do que a álgebra estudada na escola não tem
pensamento algébrico, probabilístico e relação com a vida cotidiana nem outros
geométrico. conhecimentos matemáticos.
Existe uma grande preocupação dos
1. Características do Pensamen- professores com a questão da fluência
to Algébrico no uso da linguagem formal algébrica,
de forma que essa fluência signifique
Como você conceitua álgebra? Ou melhor, aprendizagem da álgebra. O foco dos
o que você entende por álgebra? professores nessa questão capacita
32/111 Unidade 2 • Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e o Geométrico
os alunos a encontrar a solução de Pode-se dizer que existe uma forma
equações, entretanto os mesmos alunos algébrica de pensar e uma forma de escrita
são incapazes de utilizar as equações na algébrica, classificando o aprendizado
resolução de problemas. Os estudantes, da álgebra em duas etapas. A primeira
em muitos casos, memorizam as regras seria o raciocínio algébrico que trata das
e os procedimentos acreditando que isso estratégias aprendidas e utilizadas dentro
represente a essência da matemática e fora da escola, mas sem a necessidade
(KIERAN, 1992). de uma formalização algébrica. A segunda
As pesquisas sobre o ensino da álgebra refere-se à aprendizagem formal da
mostram que é muito importante que álgebra, bastante utilizada e caracterizada
os alunos percebam o valor dela como pela representação simbólica de variáveis,
um instrumento para a compreensão, de valores desconhecidos etc.
expressão e comunicação de conexões, Assim, conclui-se que o pensamento
argumentos, deduções e provas. Nesse algébrico é um conjunto de habilidades
aspecto, pode-se considerar que a cognitivas que vão desde a representação
aprendizagem da manipulação de símbolos até a resolução de problemas, passando
seja um aspecto importante. pela análise matemática de situações,
utilizando conceitos algébricos como base.
33/111 Unidade 2 • Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e o Geométrico
estudo investigativo, proporcionando ao
aluno a oportunidade de elaborar suas
Link próprias hipóteses.
Conhecer as características do pensamento
algébrico pode auxiliar o professor na sua tarefa
docente. Disponível em: <http://www.projetos.
Link
O ensino da probabilidade e da estatística na
unijui.edu.br/matematica/cd_egem/
Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino
fscommand/CC/CC_10.pdf>
Fundamental tem sido tema de discussões
nos congressos de educação matemática. O
2. Características do Pensamen- Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional
to Probabilístico e Combinatório aponta para um alto índice de desconhecimento
da população sobre o assunto.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais
Disponível em: <http://acaoeducativa.
(PCNs) sugerem que já nas séries
org.br/wp-content/uploads/2016/09/
iniciais sejam desenvolvidas atividades
INAFEstudosEspeciais_2016_
relacionadas a assuntos do cotidiano dos
Letramento_e_Mundo_do_Trabalho.pdf>
alunos, sempre partindo de situações-
problema que possam desenvolver um
34/111 Unidade 2 • Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e o Geométrico
O objetivo do desenvolvimento do Para o desenvolvimento do pensamento
pensamento probabilístico e combinatório probabilístico nos adolescentes, muitas
na sala de aula é o de que o estudante ações didáticas necessitam ser realizadas
possa desenvolver algumas noções de com os alunos, pois pouca ou nenhuma
probabilidade e estatística, além de experiência probabilística é observada e/ou
estabelecer relações, observar e fazer experienciada por eles no cotidiano.
previsões. De posse dessa informação, especialistas
No trabalho pedagógico com os alunos do na área buscam meios de solucionar o
Ensino Fundamental é comum observarmos problema, pois acreditam que o ensino
que eles apresentam muito mais dificuldades da estatística e da probabilidade seja de
em aplicar noções probabilísticas do que extrema importância para a sociedade,
outros conceitos matemáticos. uma vez que elas têm relação direta com a
Pesquisas indicam que isso se deve interpretação das informações, as tomadas
à dificuldade em pensar no enfoque de decisões profissionais e pessoais e a
de quantificar o azar (CASTRO, 1999). maneira de analisar e julgar situações
Segundo Sáenz de Castro, a concepção de do dia a dia. Assim, faz-se necessário
probabilidade não é natural nem intuitiva, que os alunos sejam capazes de ler e
mas fruto de reflexão. compreender dados e saibam analisá-los
35/111 Unidade 2 • Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e o Geométrico
e contextualizá-los para utilizá-los na vida as pessoas a serem capazes de tomar suas
pessoal e futuramente na profissional. próprias decisões.
Alguns pesquisadores argumentam sobre
a necessidade de um ensino frequente e 2.1. O Desenvolvimento do
significativo para o aluno, de forma que Pensamento Probabilístico e
sejam apresentadas a ele situações de seu Combinatório no Contexto da
interesse. Sala de Aula
Segundo Lopes e Curi (2008), o processo de
Segundo os PCNs, estar alfabetizado
ensino e aprendizagem de probabilidade
atualmente supõe saber ler e interpretar
deve ser baseado em resoluções de
dados apresentados de maneira
problemas de forma que a probabilidade
organizada e construir representações
seja mais do que um veículo para o ensino
para formular e resolver problemas que
de matemática, ela deve possibilitar o
impliquem o recolhimento de dados e a
reforço de conhecimentos e ajudar a
análise de informações.
superar os desafios cotidianos. Ainda
segundo as autoras, ela deve auxiliar o Sabe-se que uma das grandes demandas
desenvolvimento de várias habilidades, sociais relaciona-se ao pensamento
especialmente o raciocínio lógico, levando probabilístico e combinatório. Muitas
36/111 Unidade 2 • Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e o Geométrico
informações apresentadas nos meios colaboram para o desenvolvimento do
de comunicação contêm uma enorme pensamento probabilístico e preparam a
quantidade de dados, e a leitura e criança para conseguir coletar, analisar,
interpretação desses dados é hoje interpretar e compreender dados numa
fundamental para compreender fatos, situação que lhe seja proposta.
fazer previsões e tomar decisões. A construção de tabelas e gráficos é
Desde muito cedo as crianças mostram fundamental para a descoberta de
seu interesse por jogos. Nessas situações propriedades que facilitem a formulação
são aprendidos processos de contagem de raciocínios de forma a permitir que ela
de pontos, análise das diferentes jogadas, elabore hipóteses, estabeleça conclusões e
observação do comportamento dos finalize com a tomada de decisões.
adversários, previsão de jogadas que sejam Pesquisadores consideram que há três
mais ou menos favoráveis. níveis progressivos para compreensão e
Além disso, no contato com objetos construção do pensamento probabilístico
da sua realidade, a criança aprende a (TOLEDO; TOLEDO, 2009):
organizá-los, colecioná-los e classificá-
• 1º nível de compreensão:
los em procedimentos por ela mesma
Desenvolvimento de habilidades
estabelecidos. Todos esses procedimentos
37/111 Unidade 2 • Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e o Geométrico
necessárias à coleta de dados e à 3. Características do Pensamen-
construção de alguns tipos de tabelas to Geométrico
e gráficos. Desenvolvimento de
habilidades de leitura e decodificação Desde os primeiros dias de vida a criança
dos dados para responder a questões recebe estímulos sensoriais (por meio da
simples e diretas. visão, audição, tato) que possibilitam a
• 2º nível de compreensão: Leitura dos ela conhecer o mundo de formas onde ela
dados em situações que requerem vive. Entretanto, a maioria dos currículos
comparações e a utilização de alguns escolares de geometria deixa de explorar
conceitos estatísticos. a capacidade de percepção espacial da
criança.
• 3º nível de compreensão: Análises
e previsões, a partir da forma de Esse panorama começa a ser modificado,
distribuição da variável considerada. pois há algum tempo existe uma
A redução dos dados a apenas preocupação em valorizar alunos cujo
um ou dois valores que sejam raciocínio é voltado mais para aspectos
representativos de toda a série, como espaciais do que algébricos. Além disso,
média e amplitude. a geometria tem mostrado ser um
campo rico para o desenvolvimento do
38/111 Unidade 2 • Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e o Geométrico
raciocínio, em problemas que necessitam utilizando seu próprio corpo como
de visualização e manipulação de figuras referência passa a localizá-los a partir
geométricas, bem como da criatividade de relações estabelecidas entre eles pela
através da composição dessas figuras. coordenação de diferentes pontos de vista
Deve-se perceber e valorizar os alunos que ou de um sistema de coordenadas.
têm habilidades de raciocínio geométrico A construção dessa noção é feita por
para que a geometria possa ser trabalhada etapas. Inicialmente, para a criança, o
adequadamente com eles, obtendo o espaço (dentro, fora, em cima, embaixo,
melhor desempenho. próximo, distante) é vivido, ou seja, ela o
constrói através dos sentidos (visão, tato
3.1. Construindo Relações Es- etc.) e de seus próprios deslocamentos
paciais (engatinhar, rodar, andar). Com cerca de
2 anos de idade ela começa a construir
A construção da noção de espaço pela o espaço representativo: as ações
criança requer uma longa preparação. Ela executadas já são interiorizadas, mas a
se efetua pela passagem do egocentrismo criança não consegue representá-las antes
à descentração, o que significa que a de executá-las concretamente.
criança que antes localizava objetos
39/111 Unidade 2 • Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e o Geométrico
Faz-se necessária uma distinção entre Cronologicamente o homem começou
o espaço representativo e o espaço a geometrizar pela necessidade de
perceptivo. O espaço perceptivo constrói- reconstruir fronteiras em terras, de
se no contato direto da criança com construir moradias e artefatos, de navegar,
o objeto. O espaço representativo, na de se orientar etc. Após muitos séculos, o
ausência do contato direto. Por essa conhecimento geométrico foi organizado
razão, as crianças discriminam formas por Euclides, na Grécia, no século II a.C.,
geométricas simples bem mais cedo do que e chamado de geometria euclidiana,
as reproduzem graficamente. Por exemplo, presente nos livros didáticos. No século
o losango é reconhecido e discriminado XVII, foi desenvolvida a geometria
pela criança por volta dos 4 anos, muito projetiva, e finalmente no século XX a
antes de ser representado graficamente, geometria topológica.
por volta dos 7 anos, pois sua construção
requer concepções geométricas dos Segundo Piaget, a percepção do espaço
diferentes elementos da figura (lados e pela criança começa pela percepção de
ângulos) que não foram elaborados pelas objetos por meio da imagem visual, depois
crianças de menos idade, demonstrando ela consegue pegar o que vê e seu espaço
que não é suficiente a simples percepção é ampliado; em seguida, ela consegue
para a construção da noção de espaço. deslocar-se por entre os objetos, e seu
40/111 Unidade 2 • Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e o Geométrico
espaço é ampliado ainda mais, pois nessa é constituído de objetos e do próprio
noção de espaço tanto ela como o objeto observador, ambos móveis. A criança entra
fazem parte do ambiente espacial; e por nessa fase quando percebe que ângulos,
fim a criança chega a perceber-se como distâncias e formas são conservados
um objeto a mais no espaço. mesmo quando as figuras estão ou foram
As crianças iniciam o processo de domínio submetidas a movimentos de translação,
das relações espaciais pela geometria rotação ou reflexão. Pode-se introduzir
nessa fase a medição de entes geométricos
topológica, por meio de noções básicas de
segundo a conceituação matemática.
vizinhança, contorno, ordem, separação,
continuidade. É a geometria do objeto A aquisição do conhecimento espacial pela
observado. criança se dá, então, na seguinte ordem:

Na fase seguinte, da geometria projetiva, a 1º Topológico.


criança começa a perceber que as formas 2º Projetivo.
e dimensões dos objetos dependem do
3º Euclidiano.
ponto de vista de quem os observa.
E na escola, em que ordem os
Em seguida, na fase da geometria conhecimentos geométricos são
euclidiana, há a percepção de que o espaço apresentados às crianças?
41/111 Unidade 2 • Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e o Geométrico
O grande objetivo da geometria é fazer
com que a criança passe do espaço
vivenciado para espaço pensado. No Para saber mais
primeiro, a criança observa, manipula, A Teoria de van Hiele ou o Modelo de
decompõe e monta, enquanto no segundo van Hiele constitui uma teoria do ensino e
ela operacionaliza, constrói um espaço da aprendizagem de geometria, elaborada pelo
interior fundamentado no raciocínio, ou casal holandês Dina van Hiele-Geldof e Pierre
seja, é a passagem do concreto para o van Hiele na Universidade de Utrecht em 1957
abstrato. com o objetivo de melhorar a aprendizagem em
geometria.
Assim, como as pesquisas têm indicado
que as crianças de 6 e 7 anos interpretam
o espaço de modo topológico, devemos
iniciar o estudo do espaço geométrico
justamente pela topologia.

42/111 Unidade 2 • Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e o Geométrico


Glossário
Raciocínio algébrico: trata das estratégias aprendidas e utilizadas dentro e fora da escola, mas sem a
necessidade de uma formalização algébrica.
Álgebra formal: bastante utilizada e caracterizada pela representação simbólica de variáveis, de valores
desconhecidos, etc.

43/111 Unidade 2 • Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e o Geométrico


?
Questão
para
reflexão

Elabore um texto explicando o que você compreendeu sobre


os níveis progressivos para compreensão e construção
do pensamento probabilístico, e a ordem de aquisição do
conhecimento espacial pelas crianças.

44/111
Considerações Finais (1/2)
A álgebra está vinculada à aprendizagem de regras para a manipulação
de símbolos, simplificação de expressões algébricas e resolução de
equações.
O pensamento algébrico constitui-se de um conjunto de habilidades
cognitivas que vão desde a representação até a resolução de
problemas, passando pela análise matemática de situações, utilizando
conceitos algébricos como base.
O objetivo do desenvolvimento do pensamento probabilístico e
combinatório na sala de aula é o de que o estudante possa desenvolver
algumas noções de probabilidade e estatística, além de estabelecer
relações, observar e fazer previsões.
Para o desenvolvimento do pensamento probabilístico nos
adolescentes, são necessárias muitas ações didáticas, pois pouca ou
nenhuma experiência probabilística é observada e/ou experienciada
por eles no cotidiano.
45/111
Considerações Finais (2/2)
Pesquisadores consideram que há três níveis progressivos para a
compreensão e construção do pensamento probabilístico.
O espaço perceptivo se constrói no contato direto da criança com o
objeto. O espaço representativo, na ausência do contato direto. Por
essa razão as crianças discriminam formas geométricas simples bem
mais cedo do que as reproduzem graficamente.
A aquisição do conhecimento espacial pela criança se dá na seguinte
ordem: topológico, projetivo e euclidiano.

46/111
Referências

CASTRO, C. Sáenz de. Materiales para la enseñanza de la teoría de probabilidades: propuesta de un


modelo teórico. Madrid: Universidad Autônoma de Madrid, 1999.
KIERAN, C. The learning and teaching of school algebra. In: GROWS, D. A. (Ed.). Handbook of
research on mathematics teaching and learning. Nova York: MacMillan, 1992. p. 390-419.
LOPES, C. E.; CURI, E. Pesquisas em educação matemática: um encontro entre a teoria e a prática.
São Carlos: Pedro & João Editores, 2008.
LORENZATO, S. Educação infantil e percepção matemática. São Paulo: Autores Associados, 2006.
TOLEDO, M.; TOLEDO, M. Teoria e prática da matemática: como dois e dois. São Paulo: FTD, 2009.
PIAGET, J.; SZEMINSKA, A. A gênese do número na criança. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

47/111 Unidade 2 • Características do Pensamento Matemático: o Pensamento Algébrico, Probabilístico e o Geométrico


Assista a suas aulas

Aula 2 - Tema: Características do Pensamento Aula 2 - Tema: Características do Pensamento


Algébrico - Bloco I Probabilístico e Combinatório - Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-
9c08607a59d91b34ab2b5f54dcebb607>. 1d/72113211c66cbc6e921e8df48f0cd9b0>.

48/111
Assista a suas aulas

Aula 2 - Tema: O Desenvolvimento do Aula 2 - Tema: Construindo Relações Espaciais -


Pensamento Probabilístico e Combinatório no Bloco IV
Contexto da Sala de Aula - Bloco III Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 1d/4b6025e905d37c74e65288603b1b74ac>.
68cb5b57a231251bb76c318375e34cda>.

49/111
Questão 1
1. A aquisição do conhecimento espacial pela criança dá-se na seguinte or-
dem:

a) Topológico, Projetivo e Euclidiano.


b) Projetivo, Topológico e Euclidiano.
c) Euclidiano, Projetivo e Topológico.
d) Euclidiano, Topológico e Projetivo.
e) Projetivo, Euclidiano e Topológico.

50/111
Questão 2
2. Qual o número de níveis progressivos para compreensão e construção
do pensamento probabilístico?

a) 2 níveis.
b) 1 nível.
c) 5 níveis.
d) 4 níveis.
e) 3 níveis.

51/111
Questão 3
3. O aprendizado da álgebra por ser dividido em:

a) 1 etapa.
b) 3 etapas.
c) 4 etapas.
d) 2 etapas.
e) 5 etapas.

52/111
Questão 4
4. Pode-se dizer que o espaço representativo:

a) É igual ao espaço perceptivo.


b) Dá-se pelo contato direto com o objeto.
c) Dá-se na ausência do contato direto com o objeto.
d) Aparece antes do espaço perceptivo.
e) Surge juntamente com o espaço perceptivo.

53/111
Questão 5
5. Podemos dizer que, cronologicamente, a geometria foi sistematizada na
seguinte ordem:

a) Topológica, Euclidiana e Projetiva.


b) Euclidiana, Projetiva e Topológica.
c) Projetiva, Topológica e Euclidiana.
d) Projetiva, Euclidiana e Topológica.
e) Topológica, Projetiva e Euclidiana.

54/111
Gabarito
1. Resposta: A. 4. Resposta: C.

Pode-se ordenar a aquisição do O espaço representativo se constrói na


conhecimento espacial pela criança da ausência do contato direto com o objeto.
seguinte maneira: primeiro, Topológico;
segundo, Projetivo; e terceiro: Euclidiano. 5. Resposta: B.

2. Resposta: E. Geometria euclidiana, século II a.C.;


geometria projetiva, no século XVII;
São 3 níveis: coleta de dados, leitura dos geometria topológica, no século XX.
dados e análise e previsões.

3. Resposta: D.

Em duas etapas. A primeira é o raciocínio


algébrico e a segunda refere-se à
aprendizagem formal da álgebra.

55/111
Unidade 3
O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático

Objetivos

1. Nesta aula você verá as três formas


de conhecimento propostas por
Piaget. Você estudará ainda como se
dá o desenvolvimento da inteligência
e os períodos que compreendem esse
desenvolvimento.

56/111
Introdução

O que você pensa a respeito do que é a material de que ele é feito, o peso, o
inteligência? Muitas definições podem tamanho.
ser dadas. Para o pesquisador suíço Jean • Aqueles ligados a mecanismos
Piaget, um dos grandes pensadores do hereditários, ou de conhecimento
século XX, falar de inteligência é tratar social, como dizer “alô” quando
do pensamento lógico-matemático. Faz- atendemos ao telefone e saber o
se então necessário estudar como se nome de quem descobriu o Brasil.
dá o desenvolvimento do pensamento Esse tipo de conhecimento só pode
lógico-matemático na criança e as fases ser adquirido por transmissão, muitas
compreendidas nesse desenvolvimento. vezes sendo arbitrário.

1. O Conhecimento Humano • Os resultantes de ações ou relações


que o sujeito estabelece com objetos,
Piaget identifica três grandes formas de que é chamado de conhecimento
conhecimento: lógico-matemático. Por exemplo, ao
observar duas bolas, uma azul e uma
• Aqueles que advêm da experiência, vermelha, a criança pode perceber a
chamados de conhecimentos físicos. forma delas (conhecimento físico),
Por exemplo, a cor de um objeto, o aprender que se chamam “bolas”
57/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático
(conhecimento social) e pode pensar uma pessoa como tendo ou não tendo
que são iguais (ambas são bolas) ou inteligência, pois a inteligência é relativa a
pensar que são diferentes (uma é azul um dado nível de desenvolvimento.
e outra é vermelha). Essa semelhança Piaget concebe o desenvolvimento como
ou diferença foi criada na mente um processo contínuo de organização
da criança no momento em que ela e reorganização estrutural em que as
relacionou os objetos “bolas”. estruturas de conhecimento sofrem
desequilíbrios e reequilíbrios constantes,
2. O Desenvolvimento da Inteli- diferenciando-se umas das outras e
gência integrando-se, sempre em direção a um
melhor equilíbrio ou equilibração majorante
Segundo Piaget, falar de inteligência
(CHAKUR, 2002).
significa falar do pensamento lógico-
matemático, considerando não apenas O desenvolvimento para Piaget constitui-
os seus conteúdos, mas especialmente se num processo natural, na medida em
suas estruturas e funções. A inteligência que a sequência de aquisições mostra-se
envolve processos qualitativos e não se constante, sem ligações necessárias com
define ao absoluto, ou seja, não se qualifica idades cronológicas fixas. Entretanto, isso
não impede a existência de faixas etárias
58/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático
correspondentes ao aparecimento de 1. Fator biológico.
certas aquisições. Acelerações e atrasos 2. Fator ambiental.
possíveis em relação a esses marcos
3. Fator denominado por Piaget de
devem-se predominantemente ao meio
equilibração.
social e à experiência do sujeito, ou seja,
à qualidade de suas interações com o O fator biológico é representado pela
ambiente físico e social. hereditariedade. No que interessa
à inteligência, há dois tipos de
Pode-se caracterizar também o hereditariedade: um tipo específico e outro
desenvolvimento como um processo geral.
espontâneo, uma vez que as estruturas
de conhecimento são adquiridas sem A hereditariedade específica caracteriza-
necessidade de intervenção deliberada, o se pelas estruturas físicas como a visão
que é diferente do observado, por exemplo, e a audição e também por esquemas
no caso da educação. comportamentais primitivos, visíveis
em seu estado biológico puro apenas
Segundo Chakur (Ibid.), baseada nos primeiros dias após o nascimento,
nos trabalhos de Piaget, três fatores como, por exemplo, o ato de sugar. O
determinam o desenvolvimento da papel da hereditariedade específica no
inteligência:
59/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático
desenvolvimento da inteligência é mais com o objeto ao seu modo. Já a ação
limitador do que propulsor. acomodadora é a que permite que
A hereditariedade geral refere-se, segundo essas estruturas sofram modificações.
Piaget, a todo ser vivo e não apenas ao Assim, a hereditariedade, ao passo que
homem, a duas tendências básicas: impõe algumas limitações, também abre
possibilidades ao funcionamento da
• A organização do mundo que o inteligência.
rodeia, de acordo com as estruturas
O fator ambiental fornece conteúdos que
cognitivas de que dispõe no
alimentam as estruturas cognitivas, mas
momento.
também fornece pressões e perturbações
• A tendência a adaptar-se, do que ameaçam o equilíbrio alcançado. O
modo mais equilibrado possível às ambiente é importante não apenas pelo
características desse mundo. contato com objetos físicos, mas porque
A adaptação torna-se possível por meio de um ambiente rico de estímulos garante
duas funções opostas e complementares: uma velocidade de aquisições de ótimo
a assimilação e a acomodação. A nível, requerendo, contudo, a participação
assimilação permite ao sujeito conservar do indivíduo. Assim, o indivíduo interage
suas estruturas cognitivas quando lida com o ambiente físico e social, embora
60/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático
essa interação não seja automática, pois os 3. Períodos de Desenvolvimento
objetos e circunstâncias são percebidos e da Inteligência
compreendidos diferentemente conforme a
etapa de desenvolvimento que se encontre Piaget propõe três períodos para
o sujeito. o desenvolvimento intelectual dos
Finalmente, o processo de equilibração indivíduos:
é definido como um processo geral que, • Período Sensório-Motor.
em grandes linhas, vem por meio de
• Período Operacional Concreto.
compensações ativas às perturbações
exteriores e que assume a forma de uma • Período Operacional Formal.
sequência de estádios, na qual cada O Período Sensório-Motor proposto por
sequência alcançada mostra-se necessária Piaget cobre os primeiros dois anos de
à seguinte, que por sua vez reorganiza a vida e caracteriza-se pelas ligações entre
anterior em novas bases. percepções e movimentos presentes nos
bebês. É composto por seis estádios:
Estádio 1 – Exercícios reflexos (até 1
mês). Ao nascer, o bebê humano parece

61/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático


ser o menos evoluído e o mais desprovido Estádio 2 – Reações circulares primárias
de tudo, entre todos os animais: não se (de 1 a 4 meses). Na medida em que as
locomove, não se comunica, não pode se formas de conduta reflexa começam a se
defender de perigos e necessita de outras coordenar umas com as outras, aparecem
criaturas humanas para o seu cuidado e os primeiros hábitos, em função da
nutrição. É munido apenas de reflexos, ocorrência de várias repetições das ações,
como o da sucção e o palmar, rapidamente bem como dos estados alternados de
submetidos a exercícios com objetos prazer e desprazer que o bebê experimenta.
variados, com os quais o bebê entre em É uma fase em que o bebê consolida os
contato, assim como com figuras humanas seus reflexos, ao mesmo tempo em que
que lhe oferecem os necessários cuidados. os modifica através do exercício, como
Mas o bebê reage indistintamente a na conduta de chupar o polegar. As
objetos e pessoas (não existe um eu reações são centradas, ainda, no próprio
diferenciado do objeto externo e muito corpo da criança e são autorreforçáveis
menos de outra pessoa), de modo que é (circulares). Continuam não existindo
incapaz de diferenciar entre as próprias realidade objetiva, espaço, tempo, nem
ações e as coisas e pessoas às quais essas sinais de permanência do objeto – saber
ações se aplicam. que o objeto existe independentemente

62/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático


da percepção ou ação sobre ele, o que é diferenciação entre o próprio corpo e os
passível de constatação pela indiferença do mundos físico e humano que rodeiam
bebê em buscar algo que lhe sai do campo o bebê. Ao final do estádio, o bebê já é
de visão. Mas é nessa época que aparece capaz de procurar um objeto que deixou
o sorriso, como a primeira indicação cair ou de tomar em suas mãos algo
de reconhecimento da figura humana semiescondido. Mas essa noção primitiva
enquanto fonte de sensações agradáveis. de permanência do objeto continua sendo
Estádio 3 – Reações circulares subjetiva, ligada à própria ação. Um tipo de
secundárias (de 4 a 8 meses). As reações casualidade mágico, fenomenista, marca as
desta fase são centradas no objeto aquisições deste estádio, quando a causa
(secundárias). Observa-se, por exemplo, da ocorrência de algo é assimilada a uma
que a sucção, que inicialmente funcionava intenção eficaz, sendo o efeito o fenômeno
como um mero reflexo, é utilizada sem percebido. O bebê pode repetir a ação de
qualquer relação com a necessidade de puxar um barbante ou um cordão qualquer
alimentação, servindo como atividade de ao seu alcance para provocar um barulho
exploração do mundo. Neste caso, sugar ou movimento de um brinquedo localizado
um objeto é um meio de saber como ele no outro cômodo, como se a própria ação
se comporta. Inicia-se aqui também a tivesse o poder mágico de produzir eventos

63/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático


à distância e em qualquer situação. O anteparo original A, desconsiderando o
bebê nesta fase já é capaz de imitar um deslocamento. Resulta então uma espécie
movimento que viu alguém realizar em sua de permanência do objeto ligado ao
presença, mas apenas se conseguir ver a contexto, em que o objeto continua no
si mesmo realizando o movimento – pode mesmo lugar mesmo após ser removido.
dar tchau e bater palmas, por exemplo, mas Duas condutas revelam um avanço da ação
não piscar os olhos, pois faz o que pode ver intencional e da causalidade, mas também
no próprio corpo. da separação possível entre os meios
Estádio 4 – Coordenação de esquemas (ações intermediárias) e fins (resultados
secundários (de 8 a 12 meses). A busca buscados). Ao invés da ação mágica
ativa do objeto desaparecido, mas sem anterior, o bebê é capaz de deslocar a mão
que haja coordenação dos seus sucessivos do adulto para que ele faça um brinquedo
deslocamentos, conduz ao que se chama soar ou mover-se e assim reproduzir o que
de superpermanência do objeto: um objeto vira ou ouvira.
que foi repetidamente escondido sob É ainda neste momento que se iniciam
A, e aí buscado pelo bebê, é escondido as diferenciações no interior do mundo
sob B, situado em outra posição, e a humano: as reações de estranhamento
criança continua procurando sob o a figuras não familiares tornam-se
64/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático
sistemáticas, e a figura materna é experimentação. O bebê ensaia, tateia,
reconhecida pelo bebê como alguém explora sistematicamente os objetos do
distinto de si mesmo e de outras pessoas. ambiente, variando a cada vez sua ação, de
Estádio 5 – Reações circulares terciárias modo a descobrir variação nos efeitos que
(12 a 18 meses). Nesta fase, a capacidade produz. Ao invés, por exemplo, de repetir
cada vez maior de locomover-se sozinho o padrão “agarrar e soltar” um objeto
amplia enormemente o campo de ação sem procurá-lo quando cai e desparece
da criança, tornando possíveis novos do seu campo de visão (estádio 2), ou de
conhecimentos, experimentações, se interessar pelo próprio ato de soltar o
sensações e certa autonomia. objeto buscando agarrá-lo novamente
(estádio 3), nesta fase o bebê não está mais
Ações repetitivas, antes centralizadas no interessado nem pelo objeto nem pela
próprio corpo, e em seguida no resultado própria ação, mas atenta para o fenômeno
exterior produzido, passam a sofrer da queda, variando suas ações a fim de
variações e a criança volta o seu interesse explorar como pode conseguir novas
pela novidade, antes que pela ação própria. posições com a queda do objeto.
São notáveis aqui as experiências para ver,
condutas que o bebê desta fase aparenta Por outro lado, a busca do objeto
ao cientista adulto em seu trabalho de desaparecido, embora se manifestando de
65/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático
maneira sistemática, apenas é possível se o Na área de imitação, a criança é capaz de
bebê conseguir ver o caminho que seguiu o reproduzir fielmente um novo modelo, mas
objeto até o seu desaparecimento. Se uma apenas se este estiver presente. É também
bola, ao rolar, desaparecer em determinado nesta fase que a aquisição da linguagem
ponto, o bebê irá procurá-la seguindo o torna-se mais sistemática e a criança
seu deslocamento até esse ponto, sendo mostra-se mais habilidosa na capacidade
incapaz de imaginar os caminhos possíveis de imitar novos sons.
provocados pela intervenção de algum
obstáculo. Estádio 6 – Invenção de novos meios por
combinação mental (18 a 24 meses).
Outras condutas aparecem nesta fase,
Neste último estádio, todas as condutas
algumas realizadas com dificuldade, outras
descritas anteriormente se consolidam,
por ensaio e erro, tais como as do desvio
deixando a criança preparada para as
(possibilidade de atingir um objetivo
futuras aquisições.
por caminhos diferentes), do suporte
(aproximar para si um objeto puxando o As ações antes realizadas de modo
seu apoio), do bastão (trazer para perto de manifesto começam a interiorizar-se. Não
si um objeto com o auxílio de uma vara) e se pode dizer que essa combinação mental
do barbante (usar um barbante para puxar seja pensamento propriamente dito, visto
um objeto para perto de si). que não há, na verdade, representação.
66/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático
Nesse caso, a criança pensa através de O Período Operacional Concreto
movimentos perceptíveis. comporta dois subperíodos: o pré-
A criança também se torna capaz de buscar operatório e o operatório-concreto. O
o objeto desaparecido reconstruindo os concreto aqui significa que a criança nesse
deslocamentos possíveis, mesmo aqueles período será capaz de operar sobre objetos
não visíveis, conseguindo ter uma imagem física ou mentalmente manipuláveis.
do seu percurso. Essa conquista marca O estádio pré-operatório vai dos 2 até
a aquisição do que Piaget chama de 7 ou 8 anos de idade. Um traço bastante
esquema do objeto permanente, primeiro geral da criança nesta etapa é o que Piaget
invariante adquirido no desenvolvimento chama de egocentrismo. Se, por exemplo,
da inteligência. encontra-se de frente para outra pessoa, ela
A criança é capaz igualmente de inferir pensará que sua mão direita corresponde
uma causa a partir do seu efeito e à mão direita dessa pessoa, incapaz de
antecipar um efeito partindo de sua causa. realizar mentalmente uma rotação.
E a imitação torna-se diferida, ou seja, A criança deste estádio centra-se em
realizada na ausência do modelo. estados e é incapaz de coordená-los com
transformações, assimilando a mudança de
aparência à mudança de identidade.
67/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático
Os porquês são a tônica da criança desta O estádio das operações concretas vai dos
fase, mostrando que a ela não diferencia 7 ou 8 anos até 11 ou 12 anos. Enquanto
o porquê físico (“por que o dia é amarelo na etapa anterior a tarefa da criança era a
e a noite é preta?”) e o porquê psicológico conquista e domínio do símbolo, a criança
(“por que você me manda tomar banho desta etapa deve dominar operações,
antes de ir para a escola?”). sendo classes, operações e números as
Mas o que é mais marcante é a principais.
irreversibilidade, a incapacidade de fazer O egocentrismo é superado nesta fase.
mentalmente desvios e retornos, de chegar Assim, a criança já compreende que seu
ao ponto de partida por caminhos diversos. pensamento não é escutado pelos outros
Ela não consegue coordenar mentalmente e que a sua própria posição é relativa e não
ações de reunir e separar, nem recíprocas é a mesma quando vista da perspectiva do
do tipo “mais alto e menos largo”. Num outro.
problema em que estão em jogo relações O mais marcante nesta fase é a capacidade
transitivas do tipo “A é menor que B” e “B é de reversibilidade, que é a habilidade de
menor que C”, ela não sente a necessidade um indivíduo fazer e refazer a mesma
lógica de deduzir que “A é menor que C”. ação. Assim, num experimento sobre
conservação de quantidade de matéria,
68/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático
apresenta-se duas bolinhas iguais de mentalmente, como é capaz de formular
massa de modelar, pedindo à criança hipóteses e manipular mentalmente
para compará-las e dizer se são iguais ou enunciados verbais.
diferentes em quantidade de massa. Após
a constatação da igualdade, estira-se uma
das bolinhas para formar uma “salsicha”
ou aperta-se para formar uma “bolacha” e
pergunta-se à criança se a quantidade de
massa é a mesma ou não. A criança pré-
operatória não conservará a quantidade de
massa. A criança operatória conservará a
quantidade de massa.
O último período é denominado Período
Operacional Formal, é o período que cobre
a adolescência e é marcado por profundas
transformações no pensamento, pois o
adolescente não só é capaz de raciocinar
sobre objetos físicos e manipuláveis
69/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático
Glossário
Egocentrismo: para Piaget, é a incapacidade que a criança tem de colocar-se no ponto de vista do outro.
Reversibilidade: é a capacidade de um indivíduo de fazer e refazer a mesma ação.

70/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático


?
Questão
para
reflexão

Elabore um texto explicando o que você entendeu do


Período Operacional Concreto.

71/111
Considerações Finais (1/2)

Segundo Piaget, há três grandes formas de conhecimento:


1. Aqueles que advêm da experiência, chamados de conhecimentos físicos.
Por exemplo, a cor de um objeto, o material de que ele é feito, o peso, o
tamanho.
2. Aqueles ligados a mecanismos hereditários ou ao conhecimento social,
como dizer “alô” quando atendemos ao telefone e saber o nome de quem
descobriu o Brasil. Esse tipo de conhecimento só pode ser adquirido por
transmissão, muitas vezes sendo arbitrário.
3. Os resultantes de ações ou relações que o sujeito estabelece com objetos,
que é chamado de conhecimento lógico-matemático.

72/111
Considerações Finais (2/2)
Três fatores determinam o desenvolvimento da inteligência:
1. Fator biológico.
2. Fator ambiental.
3. Fator de equilibração.
Piaget propõe três períodos para o desenvolvimento intelectual dos
indivíduos:
1. Período Sensório-Motor.
2. Período Operacional Concreto.
3. Período Operacional Formal.

73/111
Referências

CHAKUR, C. R. O social e o lógico-matemático na mente infantil. São Paulo: Arte & Ciência, 2002.
PIAGET, J.; SZEMINSKA, A. A gênese do número na criança. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
TOLEDO, M; TOLEDO, M. Teoria e prática da matemática: como dois e dois. São Paulo: FTD, 2009.

74/111 Unidade 3 • O Desenvolvimento do Pensamento Lógico-Matemático


Assista a suas aulas

Aula 3 - Tema: O Conhecimento Humano e o Aula 3 - Tema: Períodos de Desenvolvimento da


Desenvolvimento da Inteligência - Bloco I Inteligência - Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-
23f0420721949a76ea47ace9e830a4aa>. 1d/287b103b2914d5e462dc59ccb6868159>.

75/111
Assista a suas aulas

Aula 3 - Tema: Os Estágios de Desenvolvimento Aula 3 - Tema: Período Operacional Concreto e


5 e 6 - Bloco III Período Operacional Formal - Bloco IV
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
b158b578e5beb77b4b362760835e9a5d>. b25f123df0f5b479e8b691ccee7f4f46>.

76/111
Questão 1
1. Segundo Piaget, falar de inteligência significa:

a) Falar de Q.I.
b) Falar das estruturas cerebrais complexas.
c) Desenvolver habilidades.
d) Falar do pensamento lógico-matemático.
e) Ter uma mente ativa.

77/111
Questão 2
2. Quais fatores determinam o desenvolvimento da inteligência segundo
Piaget?

a) Moral, intelectual e físico.


b) Monetário, hereditário e psicológico.
c) Biológico, monetário e hereditário.
d) Hereditário, ambiental e biológico.
e) Biológico, ambiental e de equilibração.

78/111
Questão 3
3. A sequência correta de períodos para o desenvolvimento intelectual dos
indivíduos é:
a) Período Sensório-Motor; Período Operacional Concreto; Período Operacional Formal.
b) Período Operacional Formal; Período Sensório-Motor; Período Operacional Concreto.
c) Período Operacional Concreto; Período Operacional Formal; Período Sensório-Motor.
d) Período Operacional Formal; Período Operacional Concreto; Período Sensório-Motor.
e) Período Operacional Concreto; Período Sensório-Motor; Período Operacional Formal.

79/111
Questão 4
4. A irreversibilidade é característica do:

a) Estádio de reações circulares primárias.


b) Estádio de reações circulares secundárias.
c) Estádio de reações circulares terciárias.
d) Estádio das operações concretas.
e) Estádio pré-operatório.

80/111
Questão 5
5. O egocentrismo é superado no:

a) Estádio de reações circulares primárias.


b) Estádio de reações circulares secundárias.
c) Estádio de reações circulares terciárias.
d) Estádio das operações concretas.
e) Estádio pré-operatório.

81/111
Gabarito
1. Resposta: D. • Período Sensório-Motor (até 2 anos).
• Período Operacional Concreto (de 2 a
Segundo Piaget, falar de inteligência
12 anos).
significa falar do pensamento lógico-
matemático, considerando não apenas os • Período Operacional Formal (acima
seus conteúdos, mas especialmente suas de 12 anos).
estruturas e funções.
4. Resposta: E.
2. Resposta: E.
A irreversibilidade é parte do estádio
1. Fator biológico. pré-operatório do período operacional
2. Fator ambiental. concreto.

3. Fator de equilibração.
5. Resposta: D.
3. Resposta: A. Estádio das operações concretas.
Piaget propõe três períodos para
o desenvolvimento intelectual dos
indivíduos:
82/111
Unidade 4
Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática

Objetivos

1. Nesta aula você estudará as


causas de rejeição dos alunos
pela matemática, uma análise da
formação dos professores e ainda
uma breve discussão sobre um
dos distúrbios associados à baixa
aprendizagem em matemática: a
discalculia.

83/111
Introdução

Um dos grandes interesses dos estudiosos dos alunos, o que é muito difícil devido
em educação matemática é buscar às contradições entre as nossas cidades
metodologias que alterem, aprimorem e e nosso país, onde se observa problemas
melhorem o ensino e a aprendizagem da em diversas áreas, como a falta de escolas,
disciplina, tida, ainda, como difícil e em de alimentação, de atendimento médico-
muitos casos rejeitada pelos discentes hospitalar, de segurança etc. Todos esses
de todas as classes sociais e em todos os elementos influenciam as atividades
níveis de escolaridade. pedagógicas.
Os alunos culpam os professores, que por
sua vez culpam os alunos e dizem fazer o 1. Causas da Rejeição à Mate-
máximo para seguir o planejamento, mas mática
argumentam: se derem todo o conteúdo da
disciplina, os alunos não acompanharão, Quais seriam as causas da rejeição
formando, desse modo, um círculo vicioso. à matemática? A família, o contexto
Quais seriam as causas dessa rejeição à social em que os alunos estão inseridos
matemática? influenciam na dificuldade em aprender
matemática? A rejeição surge da
Para entender as causas, faz-se necessário dificuldade na aprendizagem ou é a
elaborar um diagnóstico das dificuldades
84/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
rejeição que leva à dificuldade em aprender • Falta de relação entre a matemática
matemática? A forma como o professor ensinada na escola e o cotidiano do
aborda o conteúdo influencia os alunos a aluno.
rejeitar essa disciplina? • A prática do professor, as relações
Segundo pesquisadores, as principais que ele estabelece com os alunos e a
causas encontradas para a rejeição à forma como ensina e avalia.
matemática são: Existem falas comuns a muitos alunos
• Falta de motivação do professor ao quanto às suas experiências desagradáveis
ensinar. com a matemática:

• Falta de motivação dos alunos em • “Eu não gosto da matéria de


aprender. matemática porque é muito
complicada.”
• A ideia preconcebida e aceita pelos
alunos de que a matemática é difícil. • “Tenho muita dificuldade com essa
disciplina porque o professor acha
• O rigor da matemática.
que nós já sabemos matemática e as
• Experiências negativas que os alunos coisas não são dessa forma.”
tiveram com a matéria.
85/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
• “Existem algumas matérias em • É comum em nossa sociedade
matemática que complicam, como ouvirmos frases de repulsa à
algumas equações que envolvem matemática, como: “Matemática é
as incógnitas, frações e expressões muito difícil”, “Matemática é chata”,
numéricas diferentes.” “Eu odeio essa matéria”.
• Mesmo tendo dificuldades com a Sendo assim, uma pessoa que, desde
matemática e não entendendo o criança, antes mesmo de entrar na escola,
conteúdo explicado pelo professor, ouve esses e outros comentários sobre
os alunos reconhecem a importância matemática, acaba se convencendo de
da disciplina: “Quando não consigo que a disciplina é realmente difícil e passa
entender nada fico muito preocupado a rejeitá-la, dizendo que não nasceu para
por deixar uma coisa muito isso e que não tem o dom, como se o
importante sem ter conhecimento”. gosto ou a habilidade para a matemática
fosse algo que acompanhasse a pessoa ao
• Alguns alunos revelam não se
nascer, algo inato.
dedicarem ao estudo da disciplina:
“Muitas vezes não entendo muito
de matemática, por isso eu não me
dedico a essa matéria”.
86/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
2. Formação dos Professores em fundamentais, seus conhecimentos
Matemática informais sobre um dado assunto,
suas condições sociológicas,
Entre os ambientes onde a educação psicológicas e culturais.
ocorre, a escola é o principal responsável 3. Ter clareza de suas próprias
pela sistematização das aprendizagens concepções sobre a matemática,
formais dos indivíduos. uma vez que a prática em sala de
Para que seja promovida a educação, aula, as escolhas pedagógicas, a
é necessário que os professores, e em definição de objetivos e conteúdos
particular os professores de matemática, de ensino e as formas de avaliação
sejam capazes de: estão intimamente ligadas a essas
concepções (BRASIL, 1998).
1. Saber identificar as principais
características da ciência (a Assim, para que um professor de
matemática), de seus métodos, de matemática seja bem-sucedido em suas
suas ramificações e aplicações. atividades profissionais, é necessário, mas
não o suficiente, que tenha domínio dos
2. Conhecer a história de vida dos
saberes matemáticos e suas interrelações,
alunos, sua vivência de aprendizagens
de como ocorrem as aprendizagens de
87/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
diferentes conteúdos matemáticos a Competência, segundo Perrenoud (2000),
partir das situações distintas em que os é a faculdade de mobilizar um conjunto de
educandos se encontram, e que tenha recursos cognitivos (saberes, capacidades,
consciência sobre o que concebe como informações etc.) para solucionar com
sendo o conhecimento matemático e sua pertinência e eficácia uma série de
origem. situações.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para
3. As Diretrizes Curriculares Formação de Professores de Educação
para Formação de Professores Básica (BRASIL, 2001) apresentam um
conjunto de competências a serem
Ao contemplar as características
desenvolvidas como base para os
primordiais ao profissional da educação, é
currículos dos cursos de formação
possível afirmar que não basta ao professor
profissional. Essas competências foram
o domínio de saberes científicos e/ou
estabelecidas após a análise das atividades
pedagógicos. É necessário que o professor
profissionais do professor, visando a
transforme tais potenciais em ação,
uma formação ampla, que lhe permita a
requerendo, portanto, o desenvolvimento
adaptação a diferentes contextos, divididas
de competências.
em seis grupos, a saber:
88/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
1. Competências referentes ao o aperfeiçoamento da prática
comprometimento com os pedagógica.
valores inspiradores da sociedade 6. Competências referentes ao
democrática. gerenciamento do próprio
2. Competências referentes à desenvolvimento profissional
compreensão do papel social da (BRASIL, 2001).
escola.
3. Competências referentes ao domínio 4. A Formação de Professores
dos conteúdos a serem socializados, de Matemática para a Educação
aos seus significados em diferentes Infantil
contextos e sua articulação
interdisciplinar. Considerando formação de professores de
matemática para o trabalho na Educação
4. Competências referentes ao domínio
Infantil, faz-se necessário questionar quem
do conhecimento pedagógico.
é esse professor e quais conhecimentos
5. Competências referentes ao ele traz. As pesquisas indicam que os
conhecimento de processos de novos professores dos anos iniciais não
investigação que possibilitem se relacionam bem com a matemática,

89/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
apresentando muitas dificuldades com anos de experiência profissional e por fim
relação aos conteúdos básicos que deverão a sua formação permanente, a fase da
ensinar, pois possuem uma formação formação em serviço, incluindo todas as
matemática bastante precária (CURI; atividades propiciadas por instituições ou
MOURA; DUTOIT, 2004). por ele mesmo para o desenvolvimento
O que realmente merece a nossa reflexão profissional e aperfeiçoamento do ensino,
é questionar se a formação matemática efetivando a formação ao longo da sua
dos professores de Educação Infantil supre experiência. Assim, pode-se entender
as necessidades exigidas para esse nível que o professor só vai transformar sua
de ensino. A especificidade da formação prática se refletir e se puder construir
matemática do professor de Ensino Infantil um conhecimento a respeito dela. Existe
deve ser levada em consideração assim a grande necessidade do envolvimento
como o conhecimento, a aprendizagem, o do professor com o aluno no trabalho
currículo e a avaliação da educação infantil de alfabetização matemática, para que
são importantes. o panorama atual de aprendizagem da
matemática na Educação Infantil possa
O professor deve estar continuamente ser modificado. Assim, deve-se investir
investindo na sua formação, desde o urgentemente na formação continuada
curso inicial, passando pelos primeiros
90/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
dos professores, conscientizando-os do são carregadas de valores sociais.
papel que têm na formação do aluno. Precisamos nos questionar:
A necessidade de busca constante de Que tipo de professores estamos
conhecimentos para desenvolver uma formando?
docência de qualidade nos faz questionar Qual é a educação que estamos
que os conhecimentos veiculados nos oferecendo?
cursos de formação nem sempre geram
soluções permanentes para a educação Educar em matemática requer uma
(MOURA, 1993). ação pautada em objetivos. É essa
intencionalidade que é essencial nesse
Um outro aspecto que se deve considerar contexto de educação. O que passa a ser
é a situação funcional do professor. Sua importante, por exemplo, não é mais o
realidade de exercício profissional — em brinquedo e sim o ato de brincar como
que ele precisa trabalhar em três períodos elemento desencadeador de situações de
— impossibilita-o de pesquisar, refletir aprendizagem.
sobre a prática e estudar mais. Essa é a
realidade do nosso país e é preciso levar Nesses termos, o educador infantil deve
em conta que as diretrizes e propostas ser aquele que tem consciência dos
pedagógicas que os professores seguem processos de aquisição do conhecimento
91/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
matemático, do papel social desses prática aponte para uma nova concepção
conhecimentos na formação do educando de vida, valorizando a relação entre os
e de como esse conhecimento pode ser homens e os elementos culturais que farão
adquirido. Além disso, ele deve ser capaz parte da formação do ser.
de produzir intencionalmente atividades Ensinar e aprender matemática, qualquer
que promovam a aquisição de conteúdos que seja o nível de educação, é muito mais
matemáticos, para isso ele deve ter uma que ensinar conteúdos sistematizados.
formação matemática que lhe permita Se houver uma tomada de consciência
identificar no cotidiano da criança pelos professores da Educação Infantil,
quais situações podem ser exploradas será possível entender que sua formação
matematicamente. é síntese de três elementos: a formação,
O professor da Educação Infantil não deve o projeto pedagógico e o conjunto de
pensar que trabalhar o raciocínio lógico práticas sociais (ideologias, cultura etc.).
somente nas atividades da matemática Dessa forma, propicia-se ao professor
será o suficiente, a lógica está presente em o acesso a conhecimentos produzidos
várias áreas do conhecimento. e a instrumentos intelectuais que
O professor deve ter a concepção de que lhe permitam construir seu projeto
a matemática é cultura, de forma que sua pedagógico.
92/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
Os cursos de formação de professores As causas neurológicas podem ser
devem explorar o trabalho com referentes a um distúrbio primário (onde
matemática na Educação Infantil e estão inseridas a acalculia e a discalculia)
apresentar formas específicas de se ou a um distúrbio secundário (deficiência
trabalhar, por exemplo, a resolução de mental, epilepsia, síndrome de Turner,
problemas. Assim iremos formar cidadãos, fenilcetonúria tratada, síndrome do X
além de, como se propõe nos referenciais frágil, síndrome fetal alcoólica, baixo peso,
curriculares, desenvolver a criatividade e TDAH, dislexia, disfasia e outros).
estimular a tomada de decisões. As causas não neurológicas referem-
se a fatores escolares, fatores sociais,
5. Causas da Baixa Aprendiza- ansiedade para matemática.
gem em Matemática
Com relação aos distúrbios primários,
Segundo Bastos (2007), existem diversas temos que a acalculia é a perda de
causas para o mau rendimento dos alunos capacidade de executar cálculos e
em matemática, mas elas estão associadas desenvolver o raciocínio aritmético. Já a
a dois fatores: neurológicos e não discalculia do desenvolvimento é uma
neurológicos. dificuldade em aprender matemática, com
falhas para adquirir adequada proficiência
93/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
nesse domínio cognitivo, a despeito da e) Dificuldade para ler corretamente o
inteligência normal, oportunidade escolar, valor de números com multidígitos.
estabilidade emocional e necessária f) Memória pobre para fatos numéricos
motivação. Aproximadamente de 3% a básicos.
6% das crianças em idade escolar têm
discalculia do desenvolvimento. Os g) Dificuldade para transportar números
sintomas mais frequentes da discalculia para um local adequado na realização
são: de cálculos.

a) Erro na formação dos números, que h) Ordenação e espaçamento


ficam frequentemente espelhados. inadequado dos números em
multiplicações e divisões.
b) Dislexia.
c) Inabilidade para realizar somas
simples. Para saber mais
d) Inabilidade para reconhecer sinais Para ser classificado como discalculia, o distúrbio
operacionais e para usar separações não pode ser causado por problemas na visão e/
lineares. ou audição.

94/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
Link
Mais informações sobre a discalculia.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/
Discalculia>

95/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
Glossário
Dislexia (dis- = distúrbio; lexis = palavra): dificuldade na área da leitura, escrita e soletração.

96/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
?
Questão
para
reflexão

Faça um resumo dos três principais aspectos que os


professores de matemática precisam ser capazes de
realizar para que seja promovida a educação.

97/111
Considerações Finais (1/2)

Segundo pesquisadores, as principais causas encontradas para a rejeição à


matemática são:
• Falta de motivação do professor ao ensinar.
• Falta de motivação dos alunos em aprender.
• A ideia preconcebida e aceita pelos alunos de que a matemática é difícil.
• O rigor da matemática.
• Experiências negativas que os alunos tiveram com a matéria.
• Falta de relação entre a matemática ensinada na escola e o cotidiano do
aluno.
• A prática do professor, as relações que ele estabelece com os alunos e a
forma como ensina e avalia.

98/111
Considerações Finais (2/2)
Para que seja promovida a educação, é necessário que os professores, e em
particular os professores de matemática, sejam capazes de:
Identificar as principais características da ciência (a matemática), de seus
métodos, de suas ramificações e aplicações.
Conhecer a história de vida dos alunos, sua vivência de aprendizagens
fundamentais, seus conhecimentos informais sobre um dado assunto, suas
condições sociológicas, psicológicas e culturais.
Ter clareza de suas próprias concepções sobre a matemática.
A acalculia é a perda de capacidade de executar cálculos e desenvolver o
raciocínio aritmético. Já a discalculia do desenvolvimento é uma dificuldade
de aprender matemática, com falhas para adquirir adequada proficiência
nesse domínio cognitivo, a despeito da inteligência normal, oportunidade
escolar, estabilidade emocional e necessária motivação.

99/111
Referências

ALVES, É. V.; JESUS, M. A. S. Conhecimentos e competências na formação do professor de


matemática. In: COMISSÃO ORGANIZADORA DO LIVRO ELETRÔNICO. VIII Congresso Estadual
Paulista sobre Formação de Educadores: modos de ser educador – artes e técnicas, ciências e
políticas. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, Pró-Reitoria de Graduação, 2007.
AZEVEDO, P. D. de; TEIXEIRA, L. R. M. Relações entre educação matemática e educação infantil:
da prática à teoria que rege a prática docente. In: COMISSÃO ORGANIZADORA DO LIVRO
ELETRÔNICO. VIII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores: modos de ser
educador – artes e técnicas, ciências e políticas. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, Pró-
Reitoria de Graduação, 2007.
BASTOS, J. A. O cérebro e a matemática. São José do Rio Preto: Editora José Alexandre Bastos, 2007.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto – MEC. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial, Brasília, DF, 23 dez. 1996.
p. 27.833.
______. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: matemática.
Brasília: MEC/SEF, 1998.

100/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
______. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP n. 9/2001. Diretrizes curriculares
nacionais para a formação de professores da educação básica, em nível superior, curso de
licenciatura, de graduação plena. Brasília: CNE, 2001.
CERQUETTI-ABERKANE, F.; BERDONNEAU, C. O ensino da matemática na educação infantil.
Tradução Eunice Gruman. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
CURI, E.; MOURA, A. R. L. de; DUTOIT, R. Conhecimentos matemáticos de professores
polivalentes: a formação inicial em questão. In: SOCIEDADE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO
MATEMÁTICA. Resumos: VII Encontro Paulista de Educação Matemática. São Carlos: SBEM, 2004.
DANTE, L. R. Didática da matemática na pré-escola. São Paulo: Ática, 1996. DIENES, Z. P. As seis
etapas do processo de aprendizagem em matemática. São Paulo: Herder, 1972.
DUHALDE, M. E.; CUBERES, T. G. Encontros iniciais com a matemática: contribuições à educação
infantil. Tradução Maria Cristina Fontana. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
KAMII, C. A criança e o número: implicações educacionais da teoria de Piaget para atuação junto
a escolares de 4 a 6 anos. Campinas: Papirus, 1992.
______. A construção da autonomia na educação infantil. Pátio – Educação Infantil, Porto Alegre,
ano 2, n. 5, ago./nov. 2004.

101/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
LERNER, D. Matemática na escola: aqui e agora. Porto Alegre: Artmed, 1996.
MOURA, M. O. de. Professor de matemática: a formação como solução construída. Revista de
Educação Matemática da SBEM-SP. São Paulo, ano 1, ano 1, n.1, p. 1-15, 1993.
PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
PIAGET, J.; SZEMINSKA, A. A gênese do número na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
RANGEL, A. C. S. Matemática e construção do conhecimento na escola infantil. Porto Alegre:
Educação e Realidade, 1994.
SANTOS, V. de M. A construção do conhecimento matemático. In: SÃO PAULO (Estado).
Secretaria da Educação. A criança e o conhecimento. São Paulo: Secretaria de Estado da
Educação, 1990.
SMOLE, K. S. A matemática na educação infantil: a teoria das inteligências múltiplas na prática
escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
______.; DINIZ, M. I. (Org.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender
matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001.
______.; ______.; CÂNDIDO, P. Matemática de 0 a 6: brincadeiras infantis nas aulas de
matemática. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
102/111 Unidade 4 • Análise da Formação de Professores e os Índices de Rejeição dos Alunos pela Matemática
Assista a suas aulas

Aula 4 - Tema: Causas da Rejeição à Matemática Aula 4 - Tema: Formação dos Professores em
- Bloco I Matemática - Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-
f07b987135332d777d96409cfb6fc9dd>. 1d/03329abb29786a45ce9f40f12cb699e7>.

103/111
Assista a suas aulas

Aula 4 - Tema: A Formação de Professores de Aula 4 - Tema: Causas da Baixa Aprendizagem


Matemática para a Educação Infantil - Bloco III em Matemática - Bloco IV
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f-
d04b828d935b1da2fb8b7ada027c790d>. 1d/5963279b82f8855793183182a1f2bea1>.

104/111
Questão 1
1. A ideia de que a matemática é difícil:

a) É ensinada nos livros didáticos.


b) Foi divulgada pelo MEC.
c) É uma das causas de rejeição da matemática.
d) Mostra o quanto essa disciplina é importante.
e) É importante para o desenvolvimento dos alunos.

105/111
Questão 2
2. O principal responsável pela sistematização das aprendizagens
formais dos indivíduos:

a) São os pais.
b) É a escola.
c) É a sociedade.
d) São os amigos.
e) É o governo federal.

106/111
Questão 3
3. O conhecimento da história de vida dos alunos:

a) É uma curiosidade.
b) É parte do conteúdo programático.
c) É opcional na abordagem do conteúdo.
d) É importante para a promoção da educação.
e) É dispensável.

107/111
Questão 4
4. “Faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos para so-
lucionar com pertinência e eficácia uma série de situações” é:

a) O ato de competir.
b) Cognição.
c) Capacitação.
d) Competência.
e) Mobilização.

108/111
Questão 5
5. A perda de capacidade de executar cálculos e desenvolver o raciocínio
aritmético é o distúrbio primário chamado:

a) Discalculia.
b) Dislexia.
c) Disfasia.
d) Epilepsia.
e) Acalculia.

109/111
Gabarito
1. Resposta: C. 5. Resposta: E.

Uma das causas de rejeição da matemática Acalculia é a perda de capacidade de


é achar que ela é difícil. executar cálculos e desenvolver o raciocínio
aritmético.
2. Resposta: B.

A escola é o órgão responsável pela


sistematização das aprendizagens formais.

3. Resposta: D.

O conhecimento da história de vida dos


alunos é importante para a promoção da
educação.

4. Resposta: D.

Definição de Competência.
110/111

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