Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO SAÚDE DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
Belo Horizonte- MG
2015
LÍVIA PIERONI BARROSO DA CRUZ
Belo Horizonte
2015
Universidade Federal de Minas Gerais
Reitor:
Prof. Jaime Arturo Ramírez
Vice-Reitora:
Profª. Sandra Regina Goulart Almeida
Pró-Reitor de Pós-Graduação:
Prof. Rodrigo Antônio de Paiva Duarte
Pró-Reitora de Pesquisa:
Profª. Adelina Martha dos Reis
Faculdade de Medicina
Diretor da Faculdade de Medicina:
Prof. Tarcizo Afonso Nunes
Vice-Diretor da Faculdade de Medicina:
Prof. Humberto José Alves
Coordenadora do Centro de Pós-Graduação:
Profª. Sandhi Maria Barreto
Subcoordenadora do Centro de Pós-Graduação:
Profª. Ana Cristina Côrtes Gama
Chefe do Departamento de Pediatria:
Profª. Cláudia Regina Lindgren Alves
Pós-Graduação em Ciências da Saúde - Saúde da Criança e do Adolescente
Coordenador do Programa de Pós-Graduação Saúde da Criança e Adolescente:
Prof. Eduardo Araújo Oliveira
Subcoordenador do Programa de Pós-Graduação Saúde da Criança e
Adolescente:
Prof. Jorge Andrade Pinto
Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – Área de
Concentração em Saúde da Criança e do Adolescente
Profª. Ana Cristina Côrtes Gama – Titular
Prof. Leandro Fernandes Malloy Diniz – Suplente
Prof. Eduardo Araújo Oliveira – Titular
Profª. Eleonora Moreira Lima – Suplente
Prof. Alexandre Rodrigues Ferreira – Titular
Prof. Cássio da Cunha Ibiapina – Suplente
Prof. Jorge Andrade Pinto – Titular
Profª. Helena Maria Gonçalves Becker – Suplente
Profª. Juliana Gurgel – Titular
Profª. Ivani Novato Silva – Suplente
Profª. Maria Cândida Ferrarez Bouzada Viana – Titular
Profª. Luana Caroline dos Santos – Suplente
Prof. Sérgio Veloso Brant Pinheiro – Titular
Prof. Marcos José Burle Aguiar – Suplente
Profª. Roberta Maia de Castro Romanelli – Titular
Profª. Débora Marques de Miranda – Suplente
Suelen Rosa de Oliveira – Discente Titular
Izabel Vasconcelos Barros Poggiali – Discente Suplente
Ao Léo meu amor, à Lara crescendo no meu útero e no meu coração, aos meus pais
que sempre me acompanharam e à Lulu por ser minha melhor amiga.
AGRADECIMENTOS
Inicialmente gostaria de agradecer ao Dr. Jorge Pinto por ter me guiado nessa etapa
e ter aceitado ser meu orientador.
À Thalitinha por ser minha excelente revisora e ter me dado dicas valiosas!
À Fernandinha, Ju, Tiago, Gu, Júlia, Sílvia e Rhaianny por tornarem a Imuno um
local de aprendizado e divertimento constante.
Ao Manuelzinho que permitiu que a coleta dos pacientes fosse muito menos
dolorosa...
Aos professores e colegas Ana Cristina, Fabiana, Ana Karine por terem colaborado
para a conclusão da dissertação.
À equipe do Genomika especialmente o Dr. João Bosco e Rodrigo Bertollo por terem
possibilitado a análise genética dos pacientes.
À minha mãe meu maior exemplo! Pessoa fantástica que só faz o bem...
Ao meu pai por ter confiado em mim e pelas brincadeiras que me alegram nos
momentos tristes!
À Lulu minha melhor amiga, companheira do quarto ao lado e que eu tenho a honra
de dividir os mesmos pais. Apesar da distância sempre estaremos juntas!
Aos meus avôs pela presença marcante na minha infância e pelos ensinamentos
valiosos que não se adquirem em livros.
Aos meus sogros e minhas cunhadas que foram minha família desde o primeiro
encontro!
À Ritinha por adoçar a nossa vida com sua presença alegre e especial!
Às minhas grandes amigas e amigo do Outback, vocês tornaram o trajeto muito mais
leve.
Ao meu eterno amor Léo! Meu grande companheiro que me conhece mais que eu
mesma e sempre me conforta. Ao seu bom humor em todos os momentos mesmo
nas minhas crises existenciais... Te amo!
À Lara, que mesmo antes de nascer, está me ensinando uma nova forma de amar.
% ................. Porcentagem
g/dL .............. Grama por decilitro
g................... Gramas
KDa .............. Kilodalton
L................... Litro
ml ................. Mililitro
mm............... Milímetro
mm3 ............. Milímetro cúbico
ng/ml ............ Nanograma por mililitro
ºC ................. Graus celcius
pg/ml ............ Picograma por mililitro
μg/Kg ........... Micrograma por kilo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.............................................................................. 22
2 JUSTIFICATIVA............................................................................ 24
3 OBJETIVOS ................................................................................. 25
3.1 Objetivo geral ............................................................................... 25
3.2 Objetivos específicos .................................................................... 25
6 RESULTADOS ............................................................................. 73
6.1 Características Clínicas dos pacientes ......................................... 73
6.2 Dados Laboratoriais dos pacientes............................................... 74
6.3 Dados Genéticos dos pacientes ................................................... 75
6.4 Risco de variante com significância clínica em FAS ..................... 76
6.5 Tratamento para os pacientes com ALPS .................................... 76
6.6 Descrição dos pacientes............................................................... 77
6.6.1 Paciente 1 (PHOS) ...................................................................... 77
6.6.2 Paciente 2 (MSJP) ....................................................................... 78
6.6.3 Paciente 3 (GCA).......................................................................... 79
6.6.4 Paciente 4 (PGA) .......................................................................... 81
6.6.5 Paciente 5 (MMG)......................................................................... 82
6.6.6 Paciente 6 (MBF) .......................................................................... 83
7 DISCUSSÃO ................................................................................ 85
8 CONCLUSÃO .............................................................................. 90
REFERÊNCIAS ............................................................................ 91
1 INTRODUÇÃO
São doenças raras com incidência estimada no Brasil de 1:10.000 nascidos vivos,
com variações regionais (GRUMACH; SILVA DUARTE, 2009).
A maior parte dos pacientes com ALPS apresenta uma mutação genética autossômica
dominante no gene mediador de apoptose FAS ou gene de necrose tumoral
(TNFRSF6) apesar de mutações menos frequentes nessa intrincada via também
resultem em um perfil fenotípico similar (BLEESING et al., 2000).
2 JUSTIFICATIVA
Por ser uma doença rara e com descrição recente ainda não existem no Brasil estudos
longitudinais que avaliem o perfil fenótipo desses pacientes. Como o Ambulatório de
Imunodeficiências do Hospital das Clínicas reúne a maior casuística de ALPS de
Minas Gerais e representa o Centro de Referência para o diagnóstico e seguimento
desses pacientes, essa pesquisa poderá servir como orientação para outros centros
na condução clínica de seus próprios pacientes.
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 25
3 OBJETIVOS
a. Identificar os principais sinais clínicos e sua prevalência nos pacientes com ALPS
acompanhados no serviço.
b. Analisar a correlação entre marcadores laboratoriais e mutação genética.
c. Descrever o tratamento instituído em cada paciente.
d. Avaliar a incidência de malignidade ou outras complicações após o diagnóstico
da doença.
e. Ampliar o conhecimento sobre a doença e propiciar uma melhora na assistência
e na qualidade de vida dos pacientes com ALPS e suas famílias.
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 26
4 REVISÃO DA LITERATURA
Por outro lado, o sistema imune adaptativo ou segunda linha de defesa depende da
ativação de linfócitos especializados e de suas citocinas e é específico para cada
epítopo além de proteger contra reexposição contra o mesmo patógeno. Após o
reconhecimento antigênico ocorre uma expansão do pool linfocitário com ativação e
proliferação rápida dos linfócitos T específicos para aquele epítopo. Assim que o
antígeno é extinto, o sistema imune recupera seu equilíbrio através da eliminação
fisiológica do excesso de células T ativadas deixando como rastro alguns linfócitos de
memória (LENARDO et al., 1999).
A função normal de FAS é imprescindível para a manutenção da tolerância periférica. A função reduzida
de FAS resulta em autoimunidade mediada por células T e anticorpos enquanto que uma função
exacerbada de FAS causa um aumento da citotoxidade.
Adaptado: Worth et al, 2006, p.134
A importância da apoptose e o seu papel no sistema imune pode ser elucidada a partir
do estudo de pacientes com defeitos nessa via. A síndrome linfoproliferativa
autoimune (ALPS) é a primeira doença genética que envolve um defeito primário da
apoptose e tem como causa uma mutação no gene do receptor de morte celular, FAS.
Representa a primeira doença hematológica autoimune na qual o defeito genético foi
elucidado.
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 31
O defeito na apoptose dos pacientes com ALPS interfere na homeostase tanto das
células T quanto das células B. Eles apresentam elevação dos linfócitos B ativados o
que resulta em altos títulos de imunoglobulinas e produção anormal de anticorpos
contra eritrócitos, plaquetas e neutrófilos. Ocasionalmente esses pacientes podem
apresentar níveis elevados de outros autoanticorpos tais como o fator reumatoide,
fator antinuclear dentre outros. Os doentes com ALPS são plenamente capazes de
arquitetar uma resposta contra antígenos externos e por esse motivo não apresentam
incidência maior de infecções.
Consiste em uma doença rara e a real incidência não é conhecida. Apenas 500
pacientes provenientes de 300 famílias são estudados (RAO; OLIVEIRA).
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 32
A origem exata das células DNT permanece indefinida. Vários estudos se contradizem
ao determinar se essas células derivam ou não de linfócitos T que perderam a
expressão de CD4 ou CD8 na membrana (FISCHER et al., 2004; RIEUX-LAUCAT;
MAGERUS-CHATINET, 2010).
Os argumentos contra a origem a partir dos linfócitos T baseiam no fato dessas células
não apresentarem rearranjo no DNA e baixa atividade tímica (MARLIES, 2007). Outro
fator seria a presença de mutações somáticas restritas as DNT o que indicaria que
essas células não poderiam ter sido originadas a partir de linfócitos T CD4 ou CD8
(DOWDELL et al., 2010).
Por outro lado, um estudo alemão conduzido em 2014 publicou evidências genéticas,
fenotípicas e de fatores de transcrição que as células DNT derivam tanto dos linfócitos
T CD4 quanto dos CD8 (RENSING-EHL et al., 2014). Os pesquisadores mostraram
que as células DNT possuem o marcador de membrana CD45RA+ e não possuem o
fator de transcrição T-bet. Esse perfil de marcadores não é o usual de linfócitos T
sendo típico das células T efetoras diferenciadas (TEMRA) e DNT. Evidenciou-se
também que os linfócitos TEMRA CD4+ ou CD8+ compartilham várias sequências
CDR3 com as células DNT. O acúmulo de DNT é um evento precoce na patogênese
da síndrome linfoproliferativa autoimune.
Alguns dados sugerem fortemente a origem a partir de linfócitos CD8 que perderam
esse marcador. As células DNT dos pacientes com ALPS produzem altos níveis de
IL10 diferentemente dos controles saudáveis. Além dessa produção aumentada de
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 33
IL10, essas células exibem um perfil de citocinas TH2 o que favorece a produção de
auto anticorpos (BRISTEAU-LEPRINCE et al., 2008; BLEESING et al., 2002).
Novos estudos serão necessários para elucidar o real papel das células DNT que
aparentemente não são apenas expectadoras da desregulação autoimune.
O primeiro sinal clínico reconhecido pelos pediatras nos pacientes com ALPS é um
aumento crônico dos linfonodos e esplenomegalia em crianças previamente
saudáveis (NEVEN et al., 2011). A média de idade dos pacientes na vigência das
primeiras manifestações é aproximadamente 24 meses (PRICE et al., 2014).
Apesar da maioria dos pacientes iniciar com os sintomas na primeira década de vida,
o diagnóstico de ALPS pode ser estabelecido em adultos que apresentavam
manifestações muito discretas na infância ou que começaram a exibir a doença mais
tardiamente. Um fator que pode explicar esse atraso seria o aparecimento de uma
mutação somática no alelo selvagem de pacientes previamente assintomáticos
portadores de mutações germinativas extracelulares de FAS. Por esse motivo,
independentemente da idade, todos pacientes que evoluírem com linfoma, citopenias
autoimunes e linfonodemegalia crônica deverão ser triados para ALPS.
Ao estudo histológico, a zona marginal do baço dos pacientes com ALPS apresenta
uma desorganização profunda com acúmulo de DNT e redução dos linfócitos B
(NEVEN et al., 2014; LIM et al., 1998).
4.7 Malignidades
A condução clínica dos pacientes com ALPS e linfoma é difícil já que mesmo após a
quimioterapia os pacientes podem apresentar recorrência dos linfonodos sem que isso
represente recidiva da doença.
A síndrome de Evans (SE) é descrita como uma desordem hematológica que consiste
em múltiplas citopenias autoimunes com destruição simultânea de pelo menos duas
séries sanguíneas. É uma doença crônica recidivante e apesar da terapêutica
adequada apresenta um impacto importante na morbimortalidade. A fisiopatologia da
doença não foi totalmente elucidada, mas relaciona-se em parte com uma
desregulação do sistema imune. A SE é um diagnóstico de exclusão e várias
desordens autoimunes têm que ser afastadas antes de se firmar o diagnóstico
(TEACHEY; LAMBERT, 2013).
Existem relatos na literatura de que até a metade dos pacientes diagnosticados com
SE na realidade apresentem ALPS. Os sintomas clínicos das duas doenças se
sobrepõem e frente à alta prevalência de ALPS nesse grupo a dosagem de DNT
deveria ser incluída como primeira linha de propedêutica para se afastar ou confirmar
a doença (TEACHEY et al., 2005). A presença de citopenias crônicas e atingindo mais
de uma linhagem sanguínea deve levantar suspeitas sobre uma doença adjacente
como HIV, LES, ALPS ou ICV (TEACHEY; LAMBERT, 2013).
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 39
A maioria dos pacientes com ALPS apresenta uma mutação germinativa no gene
TNFRSF6 que codifica a proteína de membrana FAS enquanto uma minoria apresenta
mutações em FASL e CASP10. Portadores de alterações genéticas em CASP8,
NRAS e KRAS são classificados à parte (FIG. 4).
As moléculas envolvidas na apoptose mediada por FAS encontram-se na parte superior da figura e a
via de sinalização por FAS fisiológica encontra-se na lateral esquerda. Após a ligação entre FAS e
FASL é desencadeada a formação do complexo de sinalização de indução de morte (DISC) através do
recrutamento do adaptador do domínio de morte associado ao FAS (FADD) e das caspases com
subsequente morte celular. Á direita encontram-se as mutações descritas nos pacientes com ALPS e
doenças ALPS-símile com sua classificação. A incidência percentual está indicada entre parêntesis.
ALPS tipo Ia ou ALPS-FAS; ALPS tipo Ib ou ALPS-FASLG; ALPS tipo Im ou ALPS-sFAS; ALPS tipo II
ou ALPS-CASP10; ALPS tipo III ou ALPS-U, ALPS tipo IV ou RALD e CEDS (mutação em CASP8).
Bim representa o mediador de morte celular BCL-2.
Fonte: Lenardo et al., 2010, p.292
O gene FAS consiste em nove éxons sendo que os cinco primeiros codificam a região
extracelular do receptor enquanto o sexto éxon codifica a região transmembrana. Os
últimos três éxons são responsáveis pela região intracelular da proteína, sendo que o
éxon nove é chamado de “death domain” (DD) ou domínio da morte (FIG. 5)
(BEHRMANN et al.,1994; TIGHE et al., 2002).
Estrutura típica do gene e da proteína FAS. Na figura superior observa-se a região extracelular,
intracelular e domínio de morte de FAS. Á direita o FAS monomérico e trimérico.
Adaptado: Worth et al., 2006, p.127
A maior parte das mutações localizadas entre o éxon 7-9 compromete toda a unidade
e resulta em um efeito dominante inibitório pelo fato do receptor de FAS operar como
um complexo homotrimérico para se ligar ao FADD. Nesses pacientes, a prevalência
da doença é muito maior com preponderância no DD (60%) (FISCHER et al., 1995).
Por outro lado, as alterações genéticas que acometem a região extracelular de FAS
(25% do total) comumente resultam em expressão reduzida da proteína ou
haploinsuficiência. Os pacientes com esse tipo de mutação apresentam doença mais
leve e penetrância reduzida secundária à função residual de FAS (FIG. 6) (HSU et al.,
2012; KUEHN et al., 2011). Aparentemente uma discreta função de FAS é suficiente
para a supressão tumoral o que é evidenciado pelos baixos níveis de linfomas
observados nesse grupo. A possibilidade de terapia gênica com intuito de aumentar a
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 41
expressão de FAS surge como uma opção terapêutica a ser explorada nesses
pacientes (KUEHN et al., 2011).
No controle saudável, a trimerização de FAS possibilita uma ligação eficiente entre FAS, FASL, FADD
e as caspases na formação do DISC com subsequente ativação forte e apoptose. Nas mutações que
cursam com haploinsuficiência, a expressão reduzida de FAS na membrana celular resulta em ativação
fraca e redução da apoptose. Nas mutações com efeito dominante inibitório as moléculas alteradas de
FAS causam uma trimerização inadequada sem formação do DISC ou indução da apoptose.
Adaptado: Worth et al., 2006, p.132
O receptor FAS e a via de sinalização. (A) Interação entre trímeros de FAS, FASL e FADD recrutando
as caspases 8 e 10 resultando em sua clivagem e ativação. (B) Estrutura gênica de FAS: presença de
9 éxons e domínios extracelular, intracelular e transmembrana (C) Recombinação mitótica resulta na
perda do alelo selvagem resultando em células homozigóticas para a mutação em FAS
Fonte: Lo e Lenardo, 2011, p.17
As mutações somáticas restritas às células DNT são a segunda causa mais comum
de ALPS (ALPS-sFAS) e podem corresponder até 30% dos pacientes sem mutação
germinativa detectável (DOWDELL et al., 2010). O fenótipo é idêntico ao dos
pacientes com mutações germinativas sendo que o início de sintomas nesse grupo
geralmente é mais tardio evidenciando que a mutação somática tende a ocorrer ao
longo da vida (NEVEN et al., 2011). Assim como os pacientes com ALPS-FAS esse
grupo exibe elevação de DNT, aumento de vitamina B12, IL-10 e sFASL.
Frente à alta prevalência de ALPS somático nos pacientes sem mutação germinativa
detectável, essa variante deverá ser pesquisada rotineiramente (DOWDELL et al.,
2010).
4.11 Familiares
Chun et al. (2002) descreveram o caso de dois irmãos que apresentavam o fenótipo
de ALPS além de preencher critérios para imunodeficiência comum variável
(ICV). Notavelmente foi observada uma mutação autossômica recessiva no gene que
codifica a caspase 8 (CASP8) desses pacientes e assim se diagnosticou uma nova
entidade clínica (CEDS). Os indivíduos homozigotos para a mutação em CASP8
manifestam defeitos na apoptose com impacto na homeostase do sistema imune e
diferentemente dos pacientes com ALPS exibem um defeito de ativação de linfócitos
T, B e NK resultando imunodeficiência celular e humoral. Surpreendentemente a
mesma mutação resultou em letalidade embrionária nos exemplos murinos
observados, em seres humanos as similaridades entre a caspase 8 e a caspase 10
podem justificar a forma pela qual essa mutação é compatível com a vida.
A subfamília p21 RAS (NRAS, KRAS e HRAS) consistem em pequenas GTPases que
regulam a proliferação celular, a organização do citoesqueleto e outras vias
sinalizadoras do corpo humano. Mutações somáticas em RAS estão presentes em
30% dos cânceres em humanos (MALUMBRES; BARBACID, 2003).
Os autores sugerem o uso do termo RALD para essa nova entidade clínica. A mutação
resulta em um ganho de função de NRAS e difere das mutações em outras proteínas
da família p21 já que não resulta em déficits do desenvolvimento e somente defeitos
imunológicos específicos. A mutação perturba a ligação entre RAS e as proteínas
GTPases diminuindo a atividade dessas em 300x. O aumento da ligação entre NRAS
e GTP amplifica a sinalização de RAF/MEK/ERK o que suprime a proteína pró-
apoptótica BIM e atenua a via intrínseca da apoptose mediada pelas mitocôndrias
(OLIVEIRA et al., 2007).
A herança de DALD parece ser heterogênea e vários genes estão implicados na sua
gênese. Alterações genéticas acumuladas são necessárias para que os pacientes
manifestem a doença. Além disso, os pacientes que apresentam herança de
transmissão paterna possuem frequência aumentada para sintomas de
autoimunidade enquanto o grupo que apresenta herança materna exibe elevação da
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 49
Diagrama de Venn demonstrando as relações entre ALPS, RALD e CEDS. ALPS: síndrome
linfoproliferativa autoimune; CEDS: síndrome de deficiência de caspase 8; JMML: leucemia
mielomonocítica juvenil; RALD: síndrome linfoproliferativa associada ao RAS.
Adaptado: Fleisher e Oliveira, 2012, p.613.
4.13 Diagnóstico
2009 no Workshop sobre ALPS algumas mudanças foram propostas para unificar e
simplificar o diagnóstico e classificação dos pacientes (Quadro 1). Esses novos
critérios têm como intuito possibilitar a troca de dados e informações de forma
unificada entre pesquisadores ao redor do globo.
Em 2010 o estudo de uma extensa coorte de pacientes com ALPS avaliou quais os
marcadores laboratoriais seriam mais sensíveis na identificação de uma mutação em
FAS. Definiu-se que a presença de αβ-DNT>4% está associada com possibilidade de
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 51
89,3% de que exista mutação em FAS. Por outro lado, a presença de DNT entre 1-
2% reduz a possibilidade de mutação em 25% (OLIVEIRA et al., 2010).
A análise das citocinas plasmáticas revelou dois novos biomarcadores para ALPS: IL-
18 e TNF-α. Níveis de IL-18 <500 pg/mL raramente são vistos em pacientes com ALPS
portadores de mutações em FAS. Os níveis de TNF-α também estão elevados em
pacientes com ALPS-FAS. Alguns trabalhos anteriores descreveram níveis elevados
de IL-10 em pacientes com ALPS. Aproximadamente 60% dos pacientes com ALPS-
FAS e todos os doentes com ALPS-sFAS exibiam níveis de IL-10 >40pg/mL com 85%
de chance de mutação em FAS (CAMINHA et al., 2010).
O maior preditor de mutação em FAS foi a combinação de vitamina B12 maior que
1.255 pg/mL e sFASL maior que 559 pg/mL. Essa combinação de marcadores
apresenta valor preditivo positivo de 92% e preditivo negativo de 97% para mutação
em FAS. Os autores questionam o algoritmo atual de ALPS e acreditam que a triagem
inicial deveria ser realizada a partir dos valores de vitamina B12 e sFASL que guiariam
a decisão de qual paciente se beneficiaria com a análise genética.
Apesar de a eosinofilia ser um achado frequente nos pacientes com ALPS, pouco se
sabia sobre suas implicações. Em 2007 após um estudo retrospectivo avaliando uma
extensa coorte de pacientes com ALPS observou-se que as elevações dos eosinófilos
são acompanhadas de leucocitose e elevações no IgE sérico. O grupo com eosinofilia
apresentou frequência maior de mortalidade por infecções (45,5% vs 3,5%; P<0.001;
teste exato de Fisher). Não foram descritas associações entre valores de DNT e
número absoluto de eosinófilos. Finalmente, o mecanismo subjacente à eosinofilia nos
pacientes com ALPS permanece obscuro, mas a sua presença indica uma doença
mais avançada e com pior prognóstico (KIM et al., 2007).
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 53
4.16 Classificação
Defeito total e parcial de FAS estão apresentados no lado esquerdo da figura (ALPS-FAS). Observa-
se também defeito em caspase 10 (ALPS-CASP10) e deficiência de caspase 8 (CEDS). À direita
observa-se o defeito no ligante de FAS (ALPS-FASLG).
Adaptado: RIEUX-LAUCAT, et al., 2003, p.327
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 54
4.17 Prognóstico
4.18 Tratamento
Pelo fato de ALPS ser uma doença de descrição recente as opções terapêuticas são
limitadas e diferem das usualmente utilizadas em citopenias autoimunes isoladas.
Grande parte dos pacientes não necessita de tratamento medicamentoso. Quando
indicado, o tratamento foca primariamente o controle das manifestações autoimunes,
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 56
Na maioria dos casos, os pacientes com ALPS que cursam com citopenias necessitam
de um tratamento imunossupressor prolongado e precisam de um seguimento clínico
frequente com intuito de se manter uma vigilância quanto aos efeitos colaterais
inerentes a cada opção terapêutica (RAO, 2015).
4.18.2 Esplenectomia
A esplenectomia deverá ser evitada pelos altos índices de recorrência dos sintomas e
pelos riscos aumentados de eventos sépticos apesar da profilaxia adequada com
antibióticos e vacinação antipneumocócica. A taxa de sepse pode chegar de 30% a
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 57
50% dos pacientes sendo considerada a principal causa de morte nos pacientes com
ALPS (PRICE et al., 2014). O patógeno mais comumente isolado nas hemoculturas é
o Streptococcus pneumoniae. A idade na qual a esplenectomia foi realizada também
interfere com a prevalência dos episódios sépticos, quando realizada antes dos cinco
anos de idade os riscos são ainda maiores (PRICE et al., 2014).
A causa exata dessa elevada incidência de sepse mesmo quando comparada com
outros pacientes asplênicos não foi totalmente elucidada, mas pode ter relação com o
uso concomitante de imunossupressores ou pela inabilidade desses pacientes em
arquitetar uma resposta imune com níveis adequados de anticorpos
antipneumocócicos após a vacinação. Esse fato ocorre devido a redução da
população de linfócitos B circulantes de memória (CD27) nos pacientes com ALPS
esplenectomizados. Quanto mais importante for a linfoproliferação pior será a
resposta vacinal e a desorganização esplênica (NEVEN et al., 2014).
O uso de MMF mostrou-se efetivo no manejo das citopenias autoimunes em 80% dos
pacientes com ALPS acompanhados no Instituto Nacional de Saúde Americano (NIH).
Apesar da maioria dos pacientes apresentarem melhora com o uso dessa droga, a
resposta tende a ser parcial sendo que o corticoide tem que ser mantido em alguns
casos. O MMF não induz regressão da linfoproliferação ou redução dos níveis de DNT
(RAO, 2015; RAO et al., 2005).
4.18.4 Rapamicina
4.18.5 Rituximabe
No caso de doador familiar assintomático, esse deverá ser triado para a mutação em
FAS e somente poderá ser incluído se não apresentar a mutação. A mortalidade dos
pacientes submetidos ao transplante não aparentado é muito alta, 35% o que supera
a mortalidade esperada para a doença (DIMOPOULOU et al., 2007).
Apesar do defeito de base observado nos pacientes com ALPS acometer a via
extrínseca da apoptose, a via intrínseca mediada por BCL-2 desses pacientes também
está desregulada. Foi descrito elevação nos níveis de BIM (substância pró-apoptótica)
através do mecanismo IL10/Jak/STAT3. O uso de substância que mimetize o BH3
com um efeito pró-apoptótico pode ser ótimo alvo terapêutico para esse grupo (NISS
et al., 2015).
5 MATERIAIS E MÉTODOS
Os pacientes incluídos no estudo têm os dois critérios requeridos além de pelo menos
um critério acessório secundário com exceção da paciente número 5 que apesar de
níveis normais de DNT teve o diagnóstico confirmado pela histoquímica.
O grau de anemia, plaquetopenia e neutropenia dos pacientes foi definido com base
no Common Terminology Criteria for Adverse Events CTCAE v.3.0 (CANCER...,
2006). (TAB. 1)
5.7 Imunofenotipagem
A B C
17.06.2015.012 17.06.2015.012
D E F
17.06.2015.012
G
(A) Células CD3 positivas (B) Linfócitos T CD4 (C) Linfócitos T CD8 (D) Linfócitos T (E) Linfócitos B (F)
Linfócitos NK (G) Linfócitos NKT.
Fonte: Imagens cedidas por Maria Luíza Silva Laboratório de Imunofenotipagem HC-UFMG
A dosagem das células DNT dos pacientes foi realizada em sangue periférico total
coletado em EDTA de acordo com o protocolo do fabricante. Após ter pipetado a
amostra de sangue os anticorpos citados no Quadro 5 foram adicionados e a solução
permaneceu em temperatura ambiente por 20 minutos. Após ter acrescentado 2 ml
solução de lise e feita a homogeneização em vórtex, as preparações foram incubadas
por 10 minutos à temperatura ambiente e ao abrigo da luz. Realizada a centrifugação
por cinco minutos a 1.700 rpm com eliminação da solução sobrenadante. Após esse
passo foi acrescentado 2 mL de “PBS-1X e realizada nova centrifugação por sete
minutos a 1.300 rpm. Após a retirada do sobrenadante foi adicionado 250 μL de PBS-
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 68
Fonte: Imagem cedida por Agdemir Aleixo do Laboratório de Imunologia e Biologia Molecular DIP.
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 71
Após a extração do DNA este foi quantificado utilizando o Nanodrop Lite® da Thermo
Scientific. A amplificação do DNA foi realizada por técnica de PCR e contou com várias
etapas. A primeira consistiu na mistura dos primers selecionados às amostras dos
pacientes e a Taq polimerase, enzima termoestável utilizada na amplificação do DNA,
com o auxílio do dispositivo Freedom Evo® da Tecan. Foram analisadas mutações
em FAS, FASLG, CASP8, CASP10, PRKCD, NRAS e KRAS. A análise foi realizada
no Laboratório Genomika em Recife.
Após esse passo as placas foram inseridas por uma hora e 40 minutos no
termociclador Veriti® da Applied Biosystems com temperaturas que oscilaram entre
58ºC a 64ºC de acordo com a temperatura ideal de cada primer. A amplificação do
DNA foi confirmada por eletroforese em gel de agarose 1,5%. Após essa etapa os
pools que continham as sequências de DNA amplificados dos pacientes foram
gerados e indexados sendo então inseridos no sequenciador Miseq® da Ilumina por
26 horas. Os dados foram alinhados com o genoma de referência e analisados pelos
bioinformatas através dos softwares BWA®, GATK®, Annovar® e IGV®.
O programa Epi Info 7.1.5 versão 2015 foi utilizado para a inserção dos dados clínicos
e laboratoriais relevantes dos pacientes obtidos a partir dos prontuários médicos. Para
uma melhor visualização dos resultados os dados foram inseridos em tabelas.
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 73
6 RESULTADOS
Linfonodomegalia: grau 1 (alguns linfonodos endurecidos e confluentes menores que 1 cm), grau 2
(múltiplos nódulos medindo entre 1 e 2 cm), grau 3 (múltiplos nódulos sendo que alguns são maiores
que 2 cm) e grau 4 (adenopatia visível e extensa). Dados aferidos na última consulta dos pacientes.
Esplenomegalia: + (baço palpável acima da linha umbilical), ++ (baço palpável abaixo da linha
umbilical) e +++ (baço palpável em fossa ilíaca esquerda). Dados aferidos na última consulta dos
pacientes.
Autoimunidade: A denota (anemia), P (plaquetopenia), N (neutropenia), U (uveíte). Em qualquer
momento ao longo do acompanhamento.
Fonte: Dados da pesquisa
Observa-se que cinco dos seis pacientes incluídos no estudo são do sexo masculino.
Todos apresentaram início dos sintomas na primeira década de vida. Ao examinar os
dados, constata-se a presença de linfadenomegalia e esplenomegalia em todos os
pacientes. A esplenectomia foi realizada apenas em uma criança aos nove anos de
idade antes do diagnóstico de ALPS.
Nº
Eosinófilos Linfócitos CD3 CD4 CD8 CD19 CD16
paciente
Desde o diagnóstico o paciente evoluiu com anemia com grau 1 a 2, neutropenia grau
2 em alguns momentos e plaquetopenia grau 4 sendo submetido a vários esquemas
terapêuticos. Uso de sulfadiazina e pirimetamina em 2009 sem resposta. Excelente
resposta ao corticoide com melhora dos níveis plaquetários em vários episódios desde
então. Uso de micofenolato mofetil por um ano com boa resposta em 2012, redução
dos níveis de prednisona nesse período. Logo após a suspensão do micofenolato
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 78
mofetil (MMF) iniciado sirulimus em dezembro de 2013 com normalização dos níveis
plaquetários. A medicação não pode ser continuada e foi suspensa em abril de 2014
pela impossibilidade de obtenção através da secretaria de saúde. Durante o uso de
sirulimus a criança apresentou elevações nos níveis de colesterol total, HDL, LDL,
VLDL e triglicérides e não manifestou outros efeitos colaterais. Níveis basais
(colesterol total 106, HDL 19, LDL 57, VLDL 30 e triglicérides 152), após a medicação
(colesterol total 162, HDL 32, LDL 87, VLDL 42 e triglicérides 209).
Em fevereiro de 2012 iniciou com cefaleia, perda de peso e diplopia com lesão
expansiva nodular vascularizada em região frontal à tomografia de crânio. Exérese
da massa tumoral em março de 2012 sem intercorrências, histologia sugestiva de
tumor miofibroblástico inflamatório cerebral. Durante a internação foi avaliado pela
dermatologia devido às máculas hipercrômicas pruriginosas em membros presentes
desde os três anos de idade e foi diagnosticado com erupção pigmentar fixa
provavelmente secundária ao uso de dipirona. O paciente apresenta também
hiperemia conjuntival bilateral e a oftalmologia questionou uma uveíte relacionada ao
ALPS.
resultado da vitamina B12 foi maior que o limite de detecção do teste (>1000 pg/mL)
e o sFASL possui valores bem acima da referência 1105 pg/mL. Não foi encontrada
A criança apresenta anemia grau 1 desde o diagnóstico. Em abril de 2015 iniciou com
plaquetopenia grau 3 e neutropenia grau 3 sem outros sintomas, afebril e sem
aumento no diâmetro dos linfonodos. Prescrito corticoide oral por curto período de
tempo com resposta satisfatória e normalização das linhagens sanguíneas.
A seta indica o éxon 2, região que se localiza a variante em FAS encontrada no paciente.
Adaptada de: Puck e Sneller, 1997, p.82
Relato de sibilância de difícil controle desde o primeiro ano de vida com controle
adequado com clenil e salbutamol spray. Apresentava pápulas e máculas
hipercrômicas em membros sem diagnóstico definido.
Paciente do sexo masculino, seis anos, filho de pais primos de 1º grau, natural de
Sabinópolis/MG iniciou com linfonodomegalia cervical afebril aos dois anos de idade.
Diagnóstico de ALPS em 2015, níveis de DNT de 12,7%. Ausência de história familiar,
irmãos saudáveis.
7 DISCUSSÃO
A anemia hemolítica foi o evento autoimune mais comum nos pacientes, seguido pela
trombocitopenia e neutropenia. Não se observou na casuística do estudo
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 86
De acordo com Price et al. (2014), pessoas com ALPS apresentam maior
predisposição às malignidades. Apesar do número reduzido da amostra com a
doença, observou-se a incidência de linfoma confirmado e provável em duas crianças
reforçando a importância desse evento adverso. Contraditoriamente os dois pacientes
com linfoma não apresentam mutação em FAS. Essas crianças foram tratadas com
esquema clássico de quimioterapia sendo que uma paciente do sexo feminino evoluiu
para óbito e o paciente do sexo masculino já está em remissão do linfoma há mais de
cinco anos.
Nesse estudo optou-se pela análise genética do sangue total pelo fato das mutações
germinativas serem mais comuns que as somáticas e por ser uma análise mais
abrangente. Não foi possível a avaliação de variantes somáticas em FAS após
exclusão de mutação germinativa por ausência de recursos.
A análise genética das células DNT também seria de grande valia no paciente PGA já
que essa criança manifesta a doença apesar da mutação se localizar na região
extracelular de FAS. Recentemente Magerous-Chatinet et al. (2011) reportaram que
as mutações somáticas que resultam em perda da heterozigose em adição às
mutações germinativas que resultam em haploinsuficiência poderiam levar ao fenótipo
de ALPS. Por esse motivo alguns fatores ambientais ou outras anomalias genéticas,
especialmente aqueles ocorrendo seletivamente em DNT, têm um impacto
significativo na clínica e penetrância e deverá ser procurada em análises futuras.
De acordo com Rensing-Ehl et al. (2013) níveis elevados de vitamina B12 associados
às elevações no sFASL são ótimos preditores de mutação em FAS e deveriam ser
utilizados como ferramentas mais acessíveis e baratas principalmente em casos nos
quais a análise molecular não for possível.
Nesse trabalho, três em cinco pacientes apresentaram níveis de vitamina B12 maior
que a detecção do teste o que é equivalente a 1000 pg/mL. Um paciente realmente
apresenta mutação germinativa em FAS, um paciente apresenta provável mutação
somática em FAS e um paciente não apresentou mutação descrita. Dessa forma,
todos os pacientes com mutação em FAS apresentaram níveis de B12 elevados sendo
que esse marcador se mostrou muito sensível, mas pouco específico já que um
paciente sem mutação em FAS também apresentou níveis elevados dessa vitamina.
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 88
Por outro lado, a elevação de sFASL foi consistente com a variante em FAS e seria
necessária a confirmação da mutação somática para determinar esse marcador com
o mais sensível e específico do nosso estudo.
Não foi observada correlação entre genótipo e fenótipo nesse grupo. A identificação
isolada de uma mutação em FAS não pode determinar isoladamente a gravidade da
doença. O paciente que possui a variante com significância clínica em FAS
apresentou sintomas de autoimunidade discretos enquanto que os pacientes com
fenótipo mais grave e que evoluíram para malignidade não possuem variantes com
significância clínica.
De acordo com a análise genética, apenas uma variante patogênica em FAS foi
encontrada. Após análise dos dados suspeita-se de mutação somática em FAS em
um paciente enquanto quatro pacientes mantém sem variante genética de
significância clínica detectada.
Pelo risco aumentado de desenvolverem linfomas os doentes com ALPS deverão ser
avaliados ao longo da vida mesmo quando assintomáticos. Em relatos prévios
somente os pacientes que possuíssem mutação em FAS na região intracelular
estariam em risco de apresentarem linfoma, no presente estudo nenhum dos dois
pacientes acometidos apresenta variante patogênica em FAS. Dessa foram, amplia-
se o espectro dos pacientes “em risco” de desenvolverem malignidade.
O prognóstico dos pacientes com ALPS é bom e a sobrevida até os 50 anos é de 85%
de acordo com Price et al. (2014). No presente estudo foi observada uma sobrevida
de 84% em seis anos de acompanhamento.
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 90
8 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BLEESING, J. J. et al. A composite picture of TcR alpha/beta (+) CD4 (-) CD8 (-) T
Cells (alpha/beta-DNTCs) in humans with autoimmune lymphoproliferative syndrome.
Clin. Immunol., v.104, n.1, p.21-30, July 2002.
BOGGIO, E. et al. The -346T polymorphism of the SH2D1A gene is a risk factor for
development of autoimmunity/lymphoproliferation in males with defective Fas function.
Hum. Immunol., v.73, n.5, p.585-592, May 2012.
BOGGIO, E. et al. IL-17 protects T cells from apoptosis and contributes to development
of ALPS-like phenotypes. Blood, v.123, n.8, p.1178-1186, Feb. 2014.
BONILLA, F. A. et al. Practice parameter for the diagnosis and management of primary
immunodeficiency. Ann. Allergy Asthma Immunol., v.94, n.5 Suppl 1, p.S1-63, May
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 92
CLEMENTI, R. et al. Inherited perforin and Fas mutations in a patient with autoimmune
lymphoproliferative syndrome and lymphoma. N. Engl. J. Med., v.351, n.14, p.1419-
1424, Sept. 2004.
DOWDELL, K. C. et al. Somatic FAS mutations are common in patients with genetically
undefined autoimmune lymphoproliferative syndrome. Blood, v.115, n.25, p.5164-
5169, June 2010.
HARADA, H.; GRANT, S. Apoptosis regulators. Rev. Clin. Exp. Hematol., v.7, n.2,
p.117-138, June 2003.
KIM, J. J. et al. Rituximab for the treatment of autoimmune cytopenias in children with
immune deficiency. Br. J. Haematol., v.138, n.1, p.94-96, July 2007.
KIM, Y. J. et al. Eosinophilia is associated with a higher mortality rate among patients
with autoimmune lymphoproliferative syndrome. Am. J. Hematol., v.82, n.7, p.615-
624, July 2007.
LENARDO, F. et al. Revised diagnostic criteria and classification for the autoimmune
lymphoproliferative syndrome (ALPS): report from 2009 NIH International Workshop.
Blood, v.116, p.e35-e40, 2010.
LEV, A. et al. Thymic functions and gene expression profile distinct double-negative
cells from single positive cells in the autoimmune lymphoproliferative syndrome.
Autoimmun. Rev., v. 11, n. 10, p. 723-730, Aug. 2012.
LO, B.; LENARDO, M. J. Gene defects in the soma: some get it and some don't! J.
Clin. Invest, v. 121, n. 1, p. 16-19, Jan. 2011.
MALUMBRES, M.; BARBACID, M. RAS oncogenes: the first 30 years. Nat. Rev.
Cancer, v. 3, n. 6, p. 459-465, June 2003.
MARLIES, A. et al. The expanded double negative T cell populations of a patient with
ALPS are not clonally related to CD4+ or to CD8+ T cells. Autoimmunity, v. 40, n. 4,
p. 299-301, June 2007
OLIVEIRA, J. B. et al. Revised diagnostic criteria and classification for the autoimmune
lymphoproliferative syndrome (ALPS): report from the 2009 NIH International
Workshop. Blood, v.116, n.14, p.e35-40, Oct. 2010.
SIEGEL, R. M.; FLEISHER, T. A. The role of Fas and related death receptors in
autoimmune and other disease states. J. Allergy Clin. Immunol., v.103, n.5, Pt 1,
p.729-738, May 1999.
SIEGEL, R. M. et al. Fas preassociation required for apoptosis signaling and dominant
inhibition by pathogenic mutations. Science, v. 288, n. 5475, p.2354-2357, June 2000.
WANG, L. et al. The Fas-FADD death domain complex structure reveals the basis of
DISC assembly and disease mutations. Nat. Struct. Mol. Biol., v.17, n.11, p.1324-
1329, Nov. 2010.
WU, J. et al., Fas ligand mutation in a patient with systemic lupus erythematosus and
lymphoproliferative disease. J. Clin. Invest., v.98, n.5, p.1107-1113, Sept. 1996.
APÊNDICE A
DOENÇA
Idade das primeiras manifestações: _____ anos, _____ meses
Tipo de manifestações:
Presença de citopenias:
Anemia Plaquetopenia Neutropenia
Grau 1
Grau 2
Grau 3
Grau 4
Data:
Causa:
Profilaxia com ATB:
Esquema vacinal:
Hepatomegalia:
Incidência de Sepse:
Sintomas em familiares:
Outras manifestações autoimunes:
Presença de malignidades:
Presença de doença pulmonar:
Presença de lesões de pele (rash, urticária):
Outras manifestações raras:
Esquemas terapêuticos e resposta:
Evolução atual:
Óbito:
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 101
APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(Para os pacientes maiores de 18 anos ou responsáveis por pacientes portadores de
imunodeficiências primárias menores de idade)
Por meio deste termo de consentimento, estamos convidando seu filho para participar
do estudo que estamos desenvolvendo no Hospital das Clínicas da UFMG para estudarmos
o diagnóstico e evolução de pacientes portadores de imunodeficiências primárias. Os
participantes serão acompanhados durante seu período de seguimento no ambulatório
Orestes Diniz pelo grupo de Imunodeficiências Primárias do HC-UFMG. Não haverá
interferência no seguimento e tratamento dos pacientes e os exames realizados serão os de
rotina para o seguimento dos pacientes e os necessários para realização de exames
moleculares. Poderão ser realizados extração de amostras de DNA para a realização de
exames com finalidade de diagnóstico da imunodeficiência primária.
Garantimos ainda que a identidade e a privacidade de seu filho(a) não serão reveladas,
sendo os resultados desse estudo somente usados para aumentar os conhecimentos da
medicina.
Finalmente, você tem o direito de recusar que seu filho(a) participe do trabalho em
qualquer etapa do mesmo, sabendo-se que ele(a) continuará a receber o tratamento
convencional, tendo assim garantida sua assistência médica.
Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da UFMG. Sua
realização está de acordo com as Normas do Conselho Nacional de Saúde (Resoluções
466/12) que assegura proteção aos voluntários envolvidos em pesquisas biomédicas.
Eu, responsável pelo paciente ______________________________________,
portador de imunodeficiência primária, entendi tudo que foi explicado sobre a pesquisa e
concordo em permitir a participação do menor ___________________________ no estudo
de avaliação e seguimento de pacientes portadores de imunodeficiências primárias. Este
estudo será feito pela Dra. Lívia Pieroni Barroso da Cruz, Dra. Luciana Araújo Oliveira Cunha
e pelo Dr. Jorge Andrade Pinto que poderão ser encontrados no ambulatório Orestes Diniz,
Alameda Álvaro Celso 241ª e pelo telefone celular (031) 88112998.
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 102
ANEXO A
Lívia Pieroni Barroso Da Cruz 104
ANEXO B