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DEPARTAMENTO DE LETRAS
Versão original
São Paulo
2020
Parte 1 – 4 pontos:
Parágrafo V: Como ambas as visões estão presentes no mundo e as diferentes áreas para
seus estudos
Parágrafo X: Os diferentes níveis de claridade ao apontar para algo que uma linguagem
pode ter e suas denominações
Parágrafo XII: Razões históricas e estruturais da maioria das línguas naturais serem
faladas
Parágrafo XVIII: Diferentes lentes acerca do que significa dois enunciados falados
serem iguais
Parágrafo XIX: As imensas variabilidades nos fenômenos acústicos impedem que dois
enunciados sejam idênticos
Glossário:
Linguagem: pode ser concebida de duas maneiras: ou como a fala e a escrita ou como
qualquer forma de comunicação.
Fala (escrita): linguagem que utiliza-se do espaço oral-auditivo para comunicar-se por
meio de sons acústicos.
Critério de eficácia: tudo aquilo com o mesmo efeito deve ser considerado igual.
Fonética: ciência que estuda os sons capazes de serem produzidos pelos seres humanos e
usados na comunicação linguística, agrupando sons próximos fisicamente para formar a
base da identidade psicológica.
Fonologia: ciência que estuda mais a fundo as diferenças fonéticas que muitas vezes não
são altamente exploradas pela Fonética, traçando relações entre a forma fonética e a função
comunicativa de um enunciado.
A linguagem, campo de estudo das duas disciplinas, é uma atividade cujo objetivo é
apontar para outras atividades, podendo ser feito de maneira mais ou menos vaga. Em
linguagens artificiais, como a de computação, essa correspondência entre o apontado e o
apontador é claríssima; enquanto que em linguagens artísticas, a mesma ação é
extremamente nebulosa e incerta.
No meio de ambas há as línguas naturais, as quais existem no ser humano primeiro sob a
forma falada, por exemplo, o português. Sua característica principal provavelmente é a
elasticidade de suas significações, ou seja, a exatidão do ato de apontar para algo varia
drasticamente dependendo de seu contexto A história de sua utilização foi dito ser a
responsável dessa propriedade: o uso eficaz para certos fins provou-se com sucesso ao
homem, que depois aplicou-a em outras e novas circunstâncias, tornando a linguagem
flexível. Outros disseram que a responsável é a sua estrutura, ou seja, as ferramentas
proporcionadas pelas línguas naturais como a segmentabilidade, capacidade de desdobrar-
se em unidades menores (palavras, sons, entre outros), e a combinabilidade, capacidade de
combinar essas unidades de diversas maneiras, multiplicou os usos da língua facilmente. A
verdade seja talvez que ambas tenham influenciado mutuamente o objeto tão complexo e
antigo que é a linguagem natural.
Ademais, essa elasticidade funcional das línguas naturais decorre, pelo menos
parcialmente, da elasticidade estrutural da fala, canal da primeira. A língua natural,
recheada de aspectos como a segmentabilidade (ou recortabilidade), permite que se
introduza variações até nos níveis do segmento, das palavras, etc., consequentemente
podendo um mesmo enunciado ser pronunciado de diversas maneiras, podendo assumir
diferentes funções. Essa variabilidade encontra-se por meio de duas partes: a identidade
física e a identidade psicológica dos enunciados.
Com essas ideias em mente, duas matérias utilizam-se das duas identidades como objeto
de estudo: Fonética e Fonologia. A Fonética é uma ciência cuja função é estudar os sons
produzíveis pelo ser humano os quais podem ser usados na comunicação linguística,
agrupando sons semelhantes fisicamente para servir de base da identidade psicológica. Por
outro lado, a Fonologia presta mais atenção nas diferenças fonéticas que não importam
tanto para uma língua mas podem importar em outra, traçando paralelos entre a forma
fonética e a função comunicativa de um enunciado.
MAIA, Eleonora Motta. Descobrindo a fala. In: MAIA, Eleonora Motta. No Reino da
Fala: a linguagem e seus sons. 2. ed. São Paulo: Editora Ática, 1986. Cap. 1. p. 5-11.
(Série Fundamentos).
Parte 2 – Questões
Questão 1 – 3 pontos
Resposta:
Para que seja formado e construído essa unidade linguística chamada de signo é
necessário a forte união do significado, o conceito, e o significante, a imagem acústica;
ambos são psíquicos, isto é, não encontram-se em um estado físico, apenas na mente.
Primeiramente, o significado é retirado de uma nebulosa onde não há ideias
preestabelecidas, confusas assim como o significante. Ademais, a imagem acústica
atribuída é completamente arbitrária, não há, por exemplo, nenhuma motivação para que o
som “neve” esteja ligado de alguma maneira ao fenômeno de nevar. Mesmo a imagem
acústica “chuva”, o qual poderia remeter ao barulho feito ao chover não é algo uniforme,
visto que em outras línguas não apresentam essa mesma alusão à onomatopeia “chuá”.
Assim, o papel da língua é estabelecer essa relação “pensamento-som” com o intuito de
delimitar ambas, extremamente nebulosas. A união entre o significado e o significante é
quem permite o recorte da massa amorfa que são o pensamento e o som de modo a
clarificarem suas definições. Não é capaz de pensar apenas no significante ou no
significado, eles estão acoplados um ao outro.
No entanto, por que a língua decide classificar e formar tantos signos para um único
evento como esse discutido? A hipótese de Sapir-Whorf diz que devido à nossa localização
geográfica e nosso encontro cotidiano com essas precipitações, a língua acabou por ser
influenciada a criar tantos termos pelo fato delas fazerem parte de nossa cultura. O Brasil é
um país intertropical, fazendo-o experienciar alto índices de precipitação. Sobretudo, ele
também é uma nação extensa latitudinalmente, possuindo vários climas diferentes em seu
território. Então, desde as chuvaradas diárias da Floresta Amazônica até os granizos no sul
do Brasil, o brasileiro viu esses acontecimentos no mundo e necessitou classificá-lo e
diferenciá-los, criando uma forte relação entre cultura e a vivência dele com a língua.
SAUSSURE, Ferdinand de (org.). Curso de Linguística Geral. 27. ed. São Paulo:
Editora Cultrix, 1916. 278 p.
Questão 2 – 3 pontos:
Resposta:
Noam Chomsky, ao dizer que a faculdade da linguagem pode ser considerado um “órgão
linguístico”, defende que esse órgão descrito é o responsável por nos diferenciar dos
animais, pois a habilidade de comunicar-se com outros da mesma espécie por meio da
língua falada foi o que nos tornou capaz de ter uma história documentada e uma cultura tão
rica e diversa. O sistema complexo que é a língua está intimamente ligado à evolução
humana pelo fato de que ela possibilita o homem a comunicar e expressar seus
sentimentos, dar instruções, etc. Enquanto isso ela também é capaz armazena uma grande
quantidade de conhecimento, ideias na mente do indivíduo. Desse modo, a faculdade da
linguagem é vital para a espécie humana. A faculdade da linguagem que é tão importante,
segundo Chomsky, vêm de uma gramática universal que se encontra presente em toda
criança nascida, sendo essa passada como qualquer outra informação genética do corpo por
gerações.
A gramática universal é um conjunto de conhecimentos linguísticos os quais formam a
base da faculdade da linguagem em seu estado inicial. A partir de seu nascimento, a
criança tem contato com uma língua através das pessoas à sua volta, seja ela o português,
japonês, Libras, ou qualquer outra. Assim, esses dados linguísticos passados ao infante e a
interação deste com os falantes da língua, juntamente com a gramática universal com o
qual a criança nasceu criam o conhecimento linguístico desse indivíduo. Essa gramática
universal é constituída de parâmetros e princípios. O primeiro trata-se de aspectos
linguísticos que podem ser marcados positivamente ou negativamente em dada língua, isto
é, cada língua decide se tal aspecto encontra-se ou não em sua formulação. Por outro lado
há os princípios, os quais são aplicados automaticamente durante a aquisição da
linguagem, isto é, todas as línguas apresentam essa mesma característica.