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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS

LEANDRO NAOKI MATSUMOTO N° USP: 11772889

Prova final da disciplina de Elementos de Linguística I

Versão original

São Paulo

2020
Parte 1 – 4 pontos:

Bloco I: Os entrelaçamentos da linguagem, comunicação e fala

Parágrafo I: O que é a linguagem e é possível uma sociedade sem ela?

Parágrafo II: As várias definições de “linguagem”

Parágrafo III: O debate entre as semelhanças e diferenças da comunicação e linguagem

Parágrafo IV: Visões ao falar sobre a proximidade entre comunicação e linguagem:


eficácia e estrutura

Parágrafo V: Como ambas as visões estão presentes no mundo e as diferentes áreas para
seus estudos

Parágrafo VI: As três circunstâncias para decidir aprofundar-se em Semiótica e


Linguística: opção, talento e oportunidade

Parágrafo VII: Incentivos para descobrir mais sobre a linguagem

Parágrafo VIII: Cuidados a tomar ao assumir sobre o material de estudo (linguagem) de


modo a melhor compreendê-lo

Parágrafo IX: A fala como a porta de acesso ao estudo da linguagem

Bloco II: As capacidades interpretativas de uma linguagem

Parágrafo X: Os diferentes níveis de claridade ao apontar para algo que uma linguagem
pode ter e suas denominações

Parágrafo XI: O porquê da elasticidade das línguas naturais: motivos históricos e


estruturais

Parágrafo XII: Razões históricas e estruturais da maioria das línguas naturais serem
faladas

Parágrafo XIII: As constrições e afrouxamentos que uma língua natural possui

Parágrafo XIV: Articulação e separação de partes na fala

Parágrafo XV: Palavras como criadoras de vagueza e clareza


Parágrafo XVI: A variação estrutural da fala gera a elasticidade da língua natural

Parágrafo XVII: Múltiplas facetas e interpretações possíveis de serem dadas a um


simples enunciado

Parágrafo XVIII: Diferentes lentes acerca do que significa dois enunciados falados
serem iguais

Parágrafo XIX: As imensas variabilidades nos fenômenos acústicos impedem que dois
enunciados sejam idênticos

Parágrafo XX: Como a identidade psicológica da fala aproxima as diferenças criadas


pela identidade física

Parágrafo XXI: Fonética e seu trabalho em estudar os sons de modo a eles


desempenharem uma função comunicativa e agrupá-los

Parágrafo XXII: Fonologia e o estudo das implicações de diferenças fonéticas nas


várias línguas

Glossário:

Linguagem: pode ser concebida de duas maneiras: ou como a fala e a escrita ou como
qualquer forma de comunicação.

Fala (escrita): linguagem que utiliza-se do espaço oral-auditivo para comunicar-se por
meio de sons acústicos.

Comunicação: interações conjuntas de qualquer tipo feitas em uma sociedade.

Critério de eficácia: tudo aquilo com o mesmo efeito deve ser considerado igual.

Critério de estrutura: somente aqueles que possuírem partes analogamente semelhantes


devem ser consideradas iguais.

Semiótica: estudo de tudo que pode funcionar como uma linguagem.

Linguística: ciência que estuda a linguagem falada e/ou escrita.


Elasticidade das significações das línguas naturais: o fenômeno do qual o quê uma
língua natural aponta, ou seja, a correspondência do que é dito e do que é prentendido
entender, varia drasticamente dependendo do contexto.

História do uso linguístico: o uso contínuo da linguagem eficazmente em certos meios e


depois prolongado esse uso para novas circunstâncias tornou a linguagem flexível.

Estrutura linguística: o conjunto das propriedades de que uma língua tem.

Segmentos/segmentalidade (recortabilidade): a capacidade de separar e desdobrar


partes da fala em pedaços menores como palavras e sons.

Identidade física dos enunciados: devido às circunstâncias exatas durante a produção de


um som, dois enunciados de grande semelhança auditiva raramente atingem valores iguais.

Identidade psicológica dos enunciados: a aproximação mental feita entre sons


diferentes com base na configuração acústica do todo, criando ilusões psicológicas em
relação ao fenômeno acústico.

Fonética: ciência que estuda os sons capazes de serem produzidos pelos seres humanos e
usados na comunicação linguística, agrupando sons próximos fisicamente para formar a
base da identidade psicológica.

Fonologia: ciência que estuda mais a fundo as diferenças fonéticas que muitas vezes não
são altamente exploradas pela Fonética, traçando relações entre a forma fonética e a função
comunicativa de um enunciado.

Resumo dos parágrafos 1 ao 22 do capítulo 1:

A vivência em um mundo sem linguagem é possível? Afinal, qualquer contato com um


outro sem o uso dessa habilidade humana tornar-se-ia complicado dependendo da maneira
com que se vê esse conceito. Caso conceba-o apenas como fala e escrita, essa interação
ainda seria capaz; no entanto, se define-o como qualquer forma de comunicação, ela é
impossível. Independente do significado adotado, percebe-se em ambos os casos a
importância da comunicação para o convívio social. Com isto afirmado, a questão volta-se
em até que ponto comunicação e linguagem são iguais. Dizer que sim implica ressaltar as
semelhanças entre as mais diversas linguagens, enquanto que negar traz à tona suas
diferenças. Porém, seria a resposta dessa pergunta um absoluto sim ou não, sem uma área
cinzenta no meio?

Primeiramente, não há apenas uma concepção de linguagem possível, já que ambas


perspectivas sobre as conexões entre linguagem e comunicação convivem juntas no mesmo
espaço do senso comum como também da ciência. Neste último, há duas principais formas
de estudo, diferindo-se uma da outra a partir do objeto de curiosidade científica: a
Semiótica e a Linguística. A primeira estuda tudo aquilo que pode funcionar como
linguagem enquanto a segunda restringe-se apenas à linguagem falada ou escrita.

A linguagem, campo de estudo das duas disciplinas, é uma atividade cujo objetivo é
apontar para outras atividades, podendo ser feito de maneira mais ou menos vaga. Em
linguagens artificiais, como a de computação, essa correspondência entre o apontado e o
apontador é claríssima; enquanto que em linguagens artísticas, a mesma ação é
extremamente nebulosa e incerta.

No meio de ambas há as línguas naturais, as quais existem no ser humano primeiro sob a
forma falada, por exemplo, o português. Sua característica principal provavelmente é a
elasticidade de suas significações, ou seja, a exatidão do ato de apontar para algo varia
drasticamente dependendo de seu contexto A história de sua utilização foi dito ser a
responsável dessa propriedade: o uso eficaz para certos fins provou-se com sucesso ao
homem, que depois aplicou-a em outras e novas circunstâncias, tornando a linguagem
flexível. Outros disseram que a responsável é a sua estrutura, ou seja, as ferramentas
proporcionadas pelas línguas naturais como a segmentabilidade, capacidade de desdobrar-
se em unidades menores (palavras, sons, entre outros), e a combinabilidade, capacidade de
combinar essas unidades de diversas maneiras, multiplicou os usos da língua facilmente. A
verdade seja talvez que ambas tenham influenciado mutuamente o objeto tão complexo e
antigo que é a linguagem natural.

Ademais, essa elasticidade funcional das línguas naturais decorre, pelo menos
parcialmente, da elasticidade estrutural da fala, canal da primeira. A língua natural,
recheada de aspectos como a segmentabilidade (ou recortabilidade), permite que se
introduza variações até nos níveis do segmento, das palavras, etc., consequentemente
podendo um mesmo enunciado ser pronunciado de diversas maneiras, podendo assumir
diferentes funções. Essa variabilidade encontra-se por meio de duas partes: a identidade
física e a identidade psicológica dos enunciados.

Em primeiro lugar, por maior a semelhança auditiva de dois enunciados, dificilmente


ambas atingem valores idênticos fisicamente. Isso ocorre devido às condições específicas
levadas em conta ao proferir algo. Assim, nunca há duas identidades físicas iguais, apenas
aproximações. Desse modo, é necessário estabelecer critérios de classificação para criar
essas aproximações, algo que acontece também à outros fenômenos acústicos, não somente
à fala.

Em segundo lugar, ilusões psicológicas afetam a percepção da fala fortemente. Silêncios e


mudanças em um enunciado já conhecido por um indivíduo podem passar despercebidos
completamente, isso porque o reconhecimento de uma frase baseia-se na configuração
acústica dela como um todo e não apenas na contribuição linear de cada segmento. Logo, a
identidade psicológica pode distanciar-se bastante da identidade física ao desconsiderar as
diferenças ressaltadas pela última.

Com essas ideias em mente, duas matérias utilizam-se das duas identidades como objeto
de estudo: Fonética e Fonologia. A Fonética é uma ciência cuja função é estudar os sons
produzíveis pelo ser humano os quais podem ser usados na comunicação linguística,
agrupando sons semelhantes fisicamente para servir de base da identidade psicológica. Por
outro lado, a Fonologia presta mais atenção nas diferenças fonéticas que não importam
tanto para uma língua mas podem importar em outra, traçando paralelos entre a forma
fonética e a função comunicativa de um enunciado.

Referência bibliográfica da parte 1:

MAIA, Eleonora Motta. Descobrindo a fala. In: MAIA, Eleonora Motta. No Reino da
Fala: a linguagem e seus sons. 2. ed. São Paulo: Editora Ática, 1986. Cap. 1. p. 5-11.
(Série Fundamentos).
Parte 2 – Questões

Questão 1 – 3 pontos

Resposta:

Os vários termos do português brasileiro criados para nomear o fenômeno meteorológico


citado decorrem da necessidade do ser humano de ordenar a natureza de modo a passar a
entendê-la melhor. Ao atribuir palavras para esses acontecimentos, o homem começa a
moldar a forma de que percebe a realidade e é capaz de distinguir um conceito dos outros
por meio de sua imagem acústica designada. Por exemplo, os brasileiros, devido às suas
diferentes palavras em sua língua para garoa, tempestade, chuva, entre outras; diferenciam
uma precipitação fraca de uma outra com trovões e relâmpagos mais forte de outra chuva
que não se encaixa em nenhum dos outros dois padrões. Sem essas palavras, a distinção
entre as variações de um mesmo fenômeno não seriam captadas e todas seriam concebidas
como uma única ação na mente humana. Assim, a língua classifica e categoriza a realidade
que se vê para que o ser humano consiga entender o mundo que o circunda.

Para que seja formado e construído essa unidade linguística chamada de signo é
necessário a forte união do significado, o conceito, e o significante, a imagem acústica;
ambos são psíquicos, isto é, não encontram-se em um estado físico, apenas na mente.
Primeiramente, o significado é retirado de uma nebulosa onde não há ideias
preestabelecidas, confusas assim como o significante. Ademais, a imagem acústica
atribuída é completamente arbitrária, não há, por exemplo, nenhuma motivação para que o
som “neve” esteja ligado de alguma maneira ao fenômeno de nevar. Mesmo a imagem
acústica “chuva”, o qual poderia remeter ao barulho feito ao chover não é algo uniforme,
visto que em outras línguas não apresentam essa mesma alusão à onomatopeia “chuá”.
Assim, o papel da língua é estabelecer essa relação “pensamento-som” com o intuito de
delimitar ambas, extremamente nebulosas. A união entre o significado e o significante é
quem permite o recorte da massa amorfa que são o pensamento e o som de modo a
clarificarem suas definições. Não é capaz de pensar apenas no significante ou no
significado, eles estão acoplados um ao outro.

No entanto, por que a língua decide classificar e formar tantos signos para um único
evento como esse discutido? A hipótese de Sapir-Whorf diz que devido à nossa localização
geográfica e nosso encontro cotidiano com essas precipitações, a língua acabou por ser
influenciada a criar tantos termos pelo fato delas fazerem parte de nossa cultura. O Brasil é
um país intertropical, fazendo-o experienciar alto índices de precipitação. Sobretudo, ele
também é uma nação extensa latitudinalmente, possuindo vários climas diferentes em seu
território. Então, desde as chuvaradas diárias da Floresta Amazônica até os granizos no sul
do Brasil, o brasileiro viu esses acontecimentos no mundo e necessitou classificá-lo e
diferenciá-los, criando uma forte relação entre cultura e a vivência dele com a língua.

Referência bibliográfica da questão 1:

SAUSSURE, Ferdinand de (org.). Curso de Linguística Geral. 27. ed. São Paulo:
Editora Cultrix, 1916. 278 p.

Questão 2 – 3 pontos:

Resposta:

Noam Chomsky, ao dizer que a faculdade da linguagem pode ser considerado um “órgão
linguístico”, defende que esse órgão descrito é o responsável por nos diferenciar dos
animais, pois a habilidade de comunicar-se com outros da mesma espécie por meio da
língua falada foi o que nos tornou capaz de ter uma história documentada e uma cultura tão
rica e diversa. O sistema complexo que é a língua está intimamente ligado à evolução
humana pelo fato de que ela possibilita o homem a comunicar e expressar seus
sentimentos, dar instruções, etc. Enquanto isso ela também é capaz armazena uma grande
quantidade de conhecimento, ideias na mente do indivíduo. Desse modo, a faculdade da
linguagem é vital para a espécie humana. A faculdade da linguagem que é tão importante,
segundo Chomsky, vêm de uma gramática universal que se encontra presente em toda
criança nascida, sendo essa passada como qualquer outra informação genética do corpo por
gerações.
A gramática universal é um conjunto de conhecimentos linguísticos os quais formam a
base da faculdade da linguagem em seu estado inicial. A partir de seu nascimento, a
criança tem contato com uma língua através das pessoas à sua volta, seja ela o português,
japonês, Libras, ou qualquer outra. Assim, esses dados linguísticos passados ao infante e a
interação deste com os falantes da língua, juntamente com a gramática universal com o
qual a criança nasceu criam o conhecimento linguístico desse indivíduo. Essa gramática
universal é constituída de parâmetros e princípios. O primeiro trata-se de aspectos
linguísticos que podem ser marcados positivamente ou negativamente em dada língua, isto
é, cada língua decide se tal aspecto encontra-se ou não em sua formulação. Por outro lado
há os princípios, os quais são aplicados automaticamente durante a aquisição da
linguagem, isto é, todas as línguas apresentam essa mesma característica.

Portanto, por meio da gramática universal, passada hereditariamente e comum a todos,


com seus elementos como princípios e parâmetros mais a vivência do ser humano quando
pequeno com falantes de uma língua qualquer, uma criança é capaz de adquirir uma língua
e falar ela. Esta essencial para a evolução humana e para a funcionalização do indivíduo.

Referências bibliográficas da questão 2:

CHOMSKY, Noam (1997). Novos horizontes no estudo da linguagem. D.E.L.T.A,


13(Especial), 49–72.

NEGRÃO, Esmeralda; SCHER, Ana; VIOTTI, Evani. A Competência Linguística. In:


FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Linguística: i. objetos teóricos. 6. ed. São Paulo:
Editora Contexto, 2002. Cap. 5. p. 95-119.

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