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Conteudista
Prof. Dr. Carlos Eduardo Borges Dias
Revisão Textual
Esp. Pérola Damasceno
OBJETIVO DA UNIDADE
• Introduzir o(a) aluno(a) no campo da Aquisição da linguagem, em sua
definição, histórico do campo, principais vertentes e autores, principais
debates e debates atuais, principais concepções e conhecimento sobre
o desenvolvimento da linguagem.
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Introdução
A palavra linguagem pode ter usos muitos diversos. Muito se fala, por exemplo,
na “linguagem dos animais”, nas “linguagens de programação” no campo da in-
formática, ou mesmo, popularmente, na “linguagem dos médicos” ou “linguagem
dos advogados”, referindo-se a linguajares específicos. No entanto, quando se
fala em “linguagem” dentro do campo de estudos designado como “Aquisição
de Linguagem”, essa palavra ganha um sentido bastante especial: dentro desse
campo, ela passa de uma palavra à condição de um conceito. Para definirmos
esse conceito é preciso antes de tudo definir o ponto de vista a ser adotado, já
que existem diversas teorias nesse campo que conceituam a linguagem de uma
maneira diferente. Assim, quando se fala em “linguagem” no campo da “Aquisição
de Linguagem”, deve-se pensar em como o conceito de linguagem é definido em
uma determinada teoria a ser considerada.
A maior parte das teorias que constituem esse campo foram fundamentadas pela
Linguística e/ou pela Psicologia. Portanto, geralmente, quando se fala em linguagem
nesse sentido, a referência principal provém dessas disciplinas. Ainda que cada ver-
tente teórica do campo tenha sua própria concepção de linguagem, podemos dizer
que, apesar das diferenças entre elas, o conceito de linguagem abarca, pelo menos,
duas modalidades: a oralidade, que inclui a fala e a compreensão em uma língua, e o
letramento, que, por sua vez, inclui a leitura e a escrita em uma língua.
Importante
Embora o conceito de “linguagem” no campo da Aquisição de
Linguagem abarque tanto a oralidade quanto o letramento,
existem teorias sobre a aquisição de linguagem voltadas ape-
nas para a fala e outras voltadas apenas para a escrita.
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de “aquisição”, tal como fizemos no caso do conceito de “linguagem”. A defini-
ção precisa desse conceito também depende da teoria adotada entre as que
vigoram dentro do campo. Assim, por exemplo, o conceito de aquisição será
concebido, de uma maneira, por uma teoria racionalista e de outra por uma te-
oria empirista. Por outro lado, ainda que faça parte do campo da Aquisição de
Linguagem, outras teorias, como a do interacionismo brasileiro, irão questionar
até mesmo se é possível dizer que a criança “adquire” ou “aprende” uma língua,
uma vez que é possível denunciar alguns dos equívocos que estão subjacentes
a esses conceitos nas demais teorias, como veremos na última Unidade.
Apesar das diferenças entre as teorias, podemos considerar que, quando se fala
em “aquisição” dentro desse campo, está se referindo, de uma maneira geral,
ao processo que envolve passagem da condição de um sujeito que não fala, não
compreende, não escreve e não lê em uma ou mais línguas à condição que do-
ravante chamaremos de a de um sujeito falante e/ou sujeito escrevente em re-
lação à uma dada língua. Tendo em mente que não consideraremos a aquisição
de segunda língua na vida adulta, então a aquisição envolverá sempre a forma
pela qual a linguagem é estruturada para a criança através da língua materna, ou
seja, a maneira pela qual a primeira língua fornece a estrutura da linguagem na
modalidade oral.
Vários outros relatos de crianças privadas do contato com outros seres huma-
nos foram relatados pela literatura. Casos como os das chamadas “crianças
selvagens”, que foram abandonadas em florestas, foram amplamente divulga-
dos e estudados, como é o caso de Kasper Hauser, de Vitor de Aveyron e o de
Genie. Eles fizeram emergir a hipótese do período crítico, ou seja, a ideia de que,
caso não seja exposta ao convívio social e, consequentemente, à linguagem,
até determinado momento da infância, a criança não poderia desenvolver sua
linguagem normalmente. De acordo com Santana (2004, p. 344), essa hipótese
baseia-se essencialmente:
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No desenvolvimento neurológico e na importância do input para a
aquisição da linguagem. Enquanto o sistema neurológico está imatu-
ro, a natureza do input determinará o seu desenvolvimento. Mas se
a maturidade já foi alcançada, é improvável que o sistema possa ser
modificado por influências ambientais.
Vídeo
Veja o filme sobre o caso de Vitor de Aveyron,
disponível no QR Code ao lado.
Santana (2004) explica ainda que essa hipótese se baseia em uma noção bastan-
te estática da linguagem, de modo que muitas evidências podem ser utilizadas
para questionar a rigidez das teorias que a sustentam implicitamente: é o caso
das crianças que, apesar da privação social, aprenderam a falar (ainda que com
dificuldades), os surdos que aprendem a língua de sinais em idade adulta e os
adultos que aprendem uma segunda língua sem sotaque.
Foi, contudo, apenas no século XX que se iniciaram os debates que fizeram evo-
luir as formas de considerar o processo da aquisição da linguagem a partir de
teorias ligadas aos paradigmas científicos desenvolvidos até então. Foi nesse sé-
culo que emergiram as teorias a respeito da aquisição da linguagem que abor-
daremos nesse curso, a saber: o behaviorismo, o gerativismo, o construtivismo e
o interacionismo. Apesar de essas teorias convergirem em alguns aspetos, elas
podem divergir em vários outros, por exemplo, na concepção sobre a linguagem
e sobre a aquisição, como mencionamos inicialmente, mas também no que diz
respeito aos fenômenos a serem observados e à forma de conceber o papel do
meio social da criança.
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A primeira distinção entre as vertentes desse campo diz respeito ao deba-
te entre teorias inatistas e não inatistas. Quando se fala em uma capacidade
inata, se quer dizer que ela nasce com o homem em vez de se originar a partir
da experiência com o mundo. Assim, a linguagem é também considerada a
partir dessa divisão, de modo que existem teorias não inatistas, ou seja, que
consideram que a linguagem depende da experiência e teorias inatistas que
consideram que a linguagem já vem inscrita no código genético e, portanto,
fazem parte da natureza humana. O debate entre teorias inatistas e não ina-
tistas sobre a aquisição da linguagem é herdeiro direto de um debate ante-
rior, que remonta toda a história da filosofia ocidental, a saber, aquele travado
entre racionalistas e empiristas.
Por outro lado, quando se fala sobre teorias do conhecimento de base raciona-
lista na modernidade, tem-se em mente um conjunto de escolas filosóficas das
quais René Descartes e Immanuel Kant são considerados como os fundadores.
Eles argumentaram que a fonte do conhecimento não pode ser a experiência
sensível, mas a razão, ou seja, aquilo que organiza essa experiência. É a razão
que fornece as regras em relação às quais são submetidos todos os dados que
são intuídos pela sensibilidade na experiência. Essa razão é inata, pois não deriva
da experiência. Por exemplo: qual seria a experiência que ensinaria ao ser hu-
mano a ideia de que, necessariamente, entre dois pontos o caminho mais curto
é uma reta? Para Kant, por exemplo, esse conhecimento é próprio da natureza
humana e não depende de alguma aprendizagem baseada em experiências a
partir das quais o homem teria constatado isso como uma verdade.
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No campo da Aquisição de Linguagem, esse debate entre empiristas e racionalis-
tas se reinstaurou no século XX a partir da oposição entre as teorias comporta-
mentalista – também chamada de behaviorista (um clássico aportuguesamento,
já que a palavra inglesa behavior significa, precisamente, “comportamento”), a
qual será abordada em detalhes na segunda Unidade desse curso – e gerativista
–, a qual será abordada em detalhes na terceira Unidade desse curso.
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No artigo chamado A Review of Skinner’s Verbal Behavior, uma resenha crítica do prin-
cipal texto sobre linguagem de Skinner, o linguista americano Noam Chomsky argu-
menta que a aquisição da linguagem não pode ser inteiramente baseada na ideia de
respostas a estímulos, uma vez que as crianças produzem sentenças que elas nunca
ouviram antes. Partindo de premissas típicas das teorias do conhecimento de base
racionalista, Chomsky explica que, ao contrário dos outros seres vivos, o cérebro do
ser humano possui um dispositivo inato, disposto em seu código genético, que per-
mite a ele desenvolver linguagem desde que ele seja exposto a um input linguístico,
como veremos em mais detalhe na terceira Unidade dessa disciplina.
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Para além da oposição entre empiristas e racionalistas no campo da Aquisição
de Linguagem, ou seja, entre as teorias behavioristas e as gerativistas, esse campo
também foi marcado, no século XX, pelas contribuições de teóricos da Psicologia do
Desenvolvimento. Entre eles destacam-se, principalmente, Jean Piaget e Lev Vygotsky.
De um modo geral, para Piaget, a criança adquire linguagem a partir do contato com o
meio, e, assim como ela procede em relação a todos as outras formas de conhecimen-
to, ela também adquire a linguagem através dos mecanismos de assimilação e aco-
modação, como veremos em mais detalhe na quarta Unidade dessa disciplina. Piaget
explica, ainda, que a criança inicialmente tem uma fala egocêntrica, o que tem relação
com processos psicológicos pelos quais ela passa, uma vez que ainda não consegue se
ver como um ser dissociado do mundo. Aos poucos, essa fala egocêntrica desaparece.
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Por volta da década de 1970, diversas críticas passaram a ser endereçadas ao modelo
piagetiano de aquisição da linguagem, as quais argumentavam que Piaget teria subes-
timado o papel das outras pessoas no desenvolvimento da linguagem da criança. Para
dar conta da relevância do aspecto social da linguagem, os pesquisadores do campo
da Aquisição de Linguagem passaram a se fundamentar nas pesquisas de Vygotsky.
Isso porque, para o autor, a linguagem teria uma origem social, e sua aquisição se
daria por meio da interação comunicativa entre o adulto e a criança. Com o tempo, por
volta dos dois anos, as estruturas construídas socialmente nessa interação se transfor-
mariam em representações mentais interiorizadas, de acordo com o autor.
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O Debate Atual em Torno do
Inatismo
As pesquisas conduzidas nos últimos cinquenta anos contribuíram para mudar
os termos do debate sobre quais seriam as características inatas relacionadas à
linguagem. Assim, ao contrário das premissas a partir das quais se refletia nos
anos 1960 a esse respeito nas discussões entre behavioristas e gerativistas, atu-
almente se admite, de modo geral, que a criança recém-nascida vem ao mundo
com importantes predisposições que a conduzem à comunicação social e ao tra-
tamento do material linguístico, o que faz com que seja impossível conceber a
criança como uma folha em branco.
Cada vez mais, as abordagens atuais têm se recusado a postular posições radi-
cais a respeito do papel dos componentes inatos ou ambientais, deixando claro
a necessária interação entre os fatores internos, tais como os cognitivos, e os
fatores externos, como a importância das trocas com o meio social
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com ela, a maneira pela qual esse contato é concebido no processo de aquisição
de linguagem varia de acordo com a teoria. Para os gerativistas e para os piage-
tianos, a dimensão social cumpre um papel menos importante do que para os
vygotskyanos e interacionistas, que reconhecem, no âmbito social, o pilar mais
importante do processo de aquisição de linguagem.
A dimensão social foi integrada na maior parte das abordagens não inatistas que
postulam relações entre fatores internos e externos, tais como nos trabalhos a
respeito da linguagem, que é endereçada à criança pelo adulto e, de modo geral,
nos trabalhos sobre o papel do adulto no processo de aquisição de linguagem.
Sobre as Diferentes
Concepções de Linguagem
Outro importante problema no campo da Aquisição de Linguagem é o de como
as teorias entendem o conceito de língua e/ou de linguagem. Pode-se dizer que,
por um lado, as teorias formalistas, como é o caso da teoria gerativa de Chomsky,
consideram que as estruturas linguísticas são fenômenos autônomos não in-
fluenciados pelo seu uso. Essas teorias são aplicadas aos diferentes níveis de
análise linguística, os quais formam o chamado núcleo duro dos estudos sobre
a linguagem, a saber, a sintaxe, nível privilegiado pela abordagem gerativa, mas
também a fonologia, a morfologia, o léxico e a semântica. Suas preocupações se
limitam frequentemente no máximo ao nível da frase, de modo que as questões
relativas ao discurso e ao contexto são marginais para os formalistas.
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interessou na aquisição da linguagem como um meio de explorar as bases fun-
cionais das línguas, as teorias funcionalistas tentam considerar as estruturas das
línguas em sua diversidade a partir das regras da comunicação e da cognição.
Eles pensam na gramática e na sintaxe como emergindo dos usos da linguagem
e, não se restringindo ao nível da frase, eles analisam o discurso. Esse tipo de
abordagem permite interpretar melhor os primeiros enunciados infantis e dar
conta do processo de aquisição.
Principais Etapas do
Desenvolvimento da
Linguagem Oral
A evolução da linguagem oral nas crianças é, de uma maneira geral, descrita de
uma forma regular pelos teóricos que partem da ideia de desenvolvimento. Isso
quer dizer que as singularidades individuais são desprezadas e apenas as carac-
terísticas comuns à maioria delas são consideradas. Em suas descrições, essas
características são apresentadas da seguinte forma: as crianças iniciam com o
balbucio de sons vogais, entre o terceiro e quarto mês, e depois com as combi-
nações entre consoantes e vogais, entre o sexto e o 12º mês.
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Como vimos, a pronúncia das primeiras palavras surge entre dez e doze meses.
No entanto, muito antes dessa idade, os bebês já aprendem a reconhecer os
fonemas e as principais palavras de sua língua quando produzidas pelos familia-
res. O período chamado de pré-linguístico, que, de modo geral, vai dos doze aos
dezoito meses de idade, é uma fase de inicialização da linguagem oral.
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Se, em relação aos sons, a criança só precisa selecionar e aprender algumas de-
zenas de fonemas que compõe sua língua, por outro lado, o número de palavras
de uma língua é de, em média, cem mil. Ao contrário dos sons, não existe de fato
um repertório que contenha todas as palavras de todas as línguas do mundo e
que se possa supor que as crianças as conheçam ao nascer. Não há outra solução
senão aprender. Para o bebê, a principal dificuldade é reconhecer as palavras da
língua materna em um fluxo de palavras que não contém limites óbvios entre as
palavras. Mas a criança se apoia em certas características da linguagem oral para
progredir em seu aprendizado. Certas sequências de fonemas necessariamente
marcam uma fronteira entre as palavras. Por outro lado, quanto mais frequen-
temente as sequências de sons são usadas, mais chance eles têm de considerar
como uma palavra.
Nesta fase da holófrase, ou seja, quando uma palavra funciona e tem o valor de
uma frase, a linguagem não basta por si só: o significado da palavra depende do
contexto. A linguagem sempre acompanha a ação, mas ainda não a substitui.
Esse fenômeno regride à medida que aumenta o número de palavras adquiridas,
o aumento do número de palavras resultando em ganho de precisão no signifi-
cado das palavras.
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ou imitação. A criança participa ativamente da construção de sua própria lingua-
gem: deduz da experiência linguística princípios operativos que aplica a novas situ-
ações. Para progredir em termos de linguagem, ela compara constantemente suas
próprias produções e as que lhe são dirigidas por aqueles que a cercam.
A partir dos três anos e meio até os quatro anos, em média, as habilidades de
compreensão tornam-se mais eficientes, levando, também, em consideração os
aspectos morfossintáticos da linguagem oral. O processamento morfossintático
envolve vincular o tema da mensagem e seu conteúdo. A criança pode, então,
interpretar uma afirmação fora de seu contexto, como “amanhã vamos brincar
no parquinho”. Esse processamento leva à construção de uma representação
mental do local evocado, das ações e das situações possíveis (balanço, escorre-
gador, correr, etc.). A partir dos quatro a cinco anos de idade, em relação muito
provável com as experiências de leitura de textos narrativos pelo adulto e, poste-
riormente, em conexão com a aprendizagem da leitura, a criança passa a investir,
gradativamente, a compreensão da linguagem oral de acordo com uma modali-
dade narrativa, o que implica que a ela leve em conta a sucessão temporal dos
acontecimentos e as relações causais que os unem.
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para uma boa compreensão por parte do ouvinte. Por exemplo: uma criança diz
“está vendo, está quebrado” descrevendo um objeto ao telefone, sem maiores de-
talhes para seu interlocutor. Gradualmente, a criança adquire as informações que
determinam que tipo de linguagem é apropriado em um determinado contexto.
Por exemplo, é improvável que a solicitação “quero um brinquedo” expressa, em
modo imperativo, seja bem-sucedida. A criança terá que aprender a atenuar os
efeitos de tal afirmação acrescentando uma fórmula polida e modulando a ento-
nação. Em outras palavras, a criança aprende a “socializar” sua linguagem. Assim,
a partir dos três anos e meio, a criança consegue dominar a estrutura fundamental
de sua língua materna. Apesar de erros de sintaxe, ela pode falar de forma inteli-
gível. No entanto, o processo de aprendizagem está longe de terminar. A criança
deve continuar a adquirir o sistema fonológico, enriquecer o seu vocabulário (pro-
cesso que ocorre ao longo de toda a vida), diversificar o conhecimento das formas
sintáticas e apropriar-se das competências pragmáticas.
Idade Conteúdo
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• 18 meses: expansão do sistema fonológico, aumento
do inventário fonético; período caracterizado pela
ocorrência de substituições e omissões de sons;
• Apresenta uma linguagem funcional, ou seja, comunica-
se para expressar suas necessidades, chamar a
atenção, informar, perguntar;
• Emite palavras isoladas ou frases produzidas em bloco.
(ex.: [aboveti] – “acabou o sorvete”);
• Produz onomatopeias (ex.: [auau] para cachorro),
palavras idiossincráticas, ou seja, palavras próprias da
criança (ex.:[lianu] para ônibus), palavras contextuais
(ex.: [kabo] – quando acaba o alimento do prato) e
palavras de uso social (ex.: [óya] – para dirigir a atenção
de alguém para algo;
13-24 meses • Entre 18 e 22 meses produz cerca de 20 palavras e
entende cerca de 50;
• Mantém diálogo por meio de especularidade e
complementaridade;
• Compreende perguntas, imperativos e afirmações
rotineiras e situacionais (ex.: “é hora de comer!” – a
criança dirige-se a cozinha);
• A partir dos 18 meses observa-se a produção de
orações com dois e três vocábulos (ex.: [may leti] para
“dá mais leite”);
• Compreende ordens rotineiras e situacionais com duas
ações (ex.: “Pega a chave e põe na gaveta” – a criança o faz);
• Ao final deste 2° ano de vida ocorre a chamada
explosão do vocabulário.
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• Não utiliza adequadamente o gênero de pronomes
pessoais (você, eu, ele/ela), possessivo (meu) e
demonstrativo (esse) (ex.: “sapato minha pai”);
• Perto dos 3 anos observa-se períodos coordenados (ex.:
“essa boneca chóia e fazi xixi” (essa boneca chora e faz
xixi));
• Faz uso de muitos substantivos: nomes de
brinquedos, objetos da casa, pessoas do convívio diário,
partes do corpo (pelo menos 4), alimentos, animais,
bebidas, roupas, de algumas categorias (brinquedo,
comida, animal). Usa diversos verbos para representar
as ações e alguns adjetivos (grande/pequeno, limpo/
sujo, feio/bonito, quente/frio). São frequentes os
desvios semânticos nas palavras com sentido lexical
(superextensão, subextensão, antonísia);
• Surge a preposição “de” indicando posse, “para”
indicando beneficiário (ex.: “sapato da mamãe”);
2:1-3:0 anos • Fala e entende alguns advérbios de lugar (ali, aqui,
dentro, lá, perto de) e pronomes (eu, você, mim,
meu, ele, esse). Faz referência ao tempo com alguns
advérbios como “agora” e “ontem”, mas os utiliza de
forma instável;
• Compreende e responde verbalmente a perguntas
com os pronomes onde, quem, o que (ex.: “Onde está a
boneca?”);
• Faz uso da linguagem oral para pedir (satisfazer
as necessidades físicas e psicológicas), informar,
perguntar, interagir;
• Narra com auxílio de perguntas do outro sobre o lugar
(onde), os acontecimentos (o que) e pessoas (quem).
Fase da protonarrativa;
• Conversa com as pessoas, em contextos conhecidos,
sobre temas concretos e referentes presentes, com
turnos simples (uma oração com informação mínima
necessária para não interromper a conversação).
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• Observa-se o uso de períodos simples e compostos com
6 palavras (coordenados e subordinados com “porque” e
“mas”) (ex.: “eu não vou vô come porque é ruim”);
• Surgem as orações interrogativas com os pronomes
“quem” e “qual” (ex.: “qual você qué?”);
• Faz uso de tempos verbais no presente, passado e
futuro composto, mas há desvios de flexionamento
verbal por generalização de regras (ex.: “papai vai
comprar pra mim” – futuro composto; “eu que comei o
doce” – eu que comi o doce);
• Utiliza os artigos determinados, respeitando as regras
de flexionamento de gênero (as de número podem ser
utilizadas por influência cultural) (ex.: “dá a bola e o
palhaço);
• Aos 3:6 desaparecem: Simplificação de líquida não
lateral /R/ seja por redução (ex.: [opa] – roupa; [maéco]
– marreco), substituição (ex.: [lede] – rede; [kalo] –
carro) ou semivocalização (ex: [kachoyo] – cachorro);
• Aos 4 desaparecem: Simplificação de consoante final
(liquida final /r/) seja por redução (ex.: [ma] – mar;
[mekado] – mercado) ou semivocalização (ex: [kayne] –
3:1-4:0 anos carne; [kaloy] – calor);
• Léxico: entre 500 e 1000 palavras;
• Aumento de significado de nomes, verbos e
adjetivos, entre eles: palavras que significam
sentimentos (medo, triste, alegre), partes do corpo (pelo
menos 6), termos de comparação (igual/diferente).
Muito frequentes todos os tipos de desvios semânticos
(ex.: “o lobo soprou grande” – forte);
• Adquire preposição “em”, “sobre” indicando lugar, “com”
indicando acompanhamento;
• Faz referência a diversos advérbios de lugar (em cima/
embaixo, atrás/na frente, dentro/fora, perto/longe),
mas erra ao distinguir os opostos. Usa e compreende
os advérbios de tempo “agora/depois”, mas utiliza os
outros advérbios de forma instável (ex.: “agora eu vou
dormir” “depois eu vou brincar”);
• Compreende duas ordens não relacionadas (ex.: “fecha
o armário e traz a bola);
• Compreende e responde verbalmente perguntas com
os pronomes “como” e “quando” (ex.: “como faz para
tomar banho?”);
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• Pede, protesta, nomeia, faz perguntas sobre referentes
ausentes, usa expressões sociais para interagir. Função
predominante: informativa;
• Relata experiências imediatas, ou seja, aquelas que
estão ocorrendo no momento em que a questão é feita.
Na narrativa de histórias, há dificuldades em manter a
coerência e coesão, omite elementos secundários, insere
3:1-4:0 anos fatos não verdadeiros. Fase da narrativa primitiva;
• Quanto as habilidades conversacionais, os turnos são
inteligíveis e coerentes com o turno anterior. Mais
mantêm do que iniciam, apresentam mais turnos
simples do que expansivos (turnos com mais de uma
oração, com mais informação do que o necessário, para
não interromper a conversação). Se não entendidas, não
se autocorrigem, repetem exatamente o que disseram.
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• Uso de período simples e compostos, incluindo
subordinados com “pois” e “para que” (ex.: “Vamos
desenhar esse, pois é o mais bonito!”);
• Uso de tempos verbais: pretérito mais que perfeito e
condicional (ex.: “Eu já tinha feito esse desenho antes
de você chegar”);
• Uso correto dos verbos irregulares mais utilizados;
• Até os 5:6 desaparecem: Simplificação de grupo
consonantal, silabificações (ex.: [tarator] – trator; [folor]
– flor; [plego] – prego) e substituições (ex.: [bisikreta] –
bicicleta; [brusa] – blusa);
• Aos 6:0 eventualmente pode ainda aparecer: Omissão
de silaba átona em palavras polissílabas com mais de
cinco silabas (ex.: [lidifikador] – liquidificador); Migração
de grupo consonantal e de consoante final (liquida final)
(ex.: [trige] – tigre; [pegro] – prego; [kardeno] – caderno);
• Léxico: em torno de 6.000 palavras;
• Aumento do significado lexical de nomes, verbos e
adjetivos;
4:1-6 anos
• Usa e compreende os advérbios/preposições de lugar
por oposição (em cima/embaixo; dentro/fora; atrás/na
frente/do lado; perto/longe). Domina termos opostos
como “alguns/muitos”; “mais/menos”. Os advérbios de
tempo ainda podem ser usados de forma instável, mas
estão frequentemente presentes no vocabulário da
criança (ex.: “ontem eu fui ao circo”);
• Faz perguntas sobre o tempo (ex.: “quando vai chegar o
natal?”);
• Descreve um objeto ou local. Demonstra habilidades
metalinguísticas (define palavras, pergunta o significado
delas, identifica e faz rimas);
• Ao narrar, mantém a organização temporal dos fatos,
mesmo omitindo alguns fatos secundários, que não
prejudicam o entendimento da narrativa. Não insere
mais fatos não verdadeiros só para manter a narrativa:
se não lembra, diz que não lembra;
• Conversa com mais de um interlocutor ao mesmo
tempo sobre referentes ausentes e abstratos, com
turnos expansivos.
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MATERIAL COMPLEMENTAR
Vídeos
Aquisição da Linguagem I
https://youtu.be/R9YNWAdgQo4
Aquisição da Linguagem II
https://youtu.be/E-x0rZJrtjY
Leituras