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SUMÁRIO
1 APRENDIZAGEM ....................................................................................... 3

1.1 Conceito ............................................................................................... 3

1.2 Características do processo de aprendizagem .................................... 5

2 APRENDIZAGEM E MATURAÇÃO ............................................................ 7

3 A APRENDIZAGEM É CONDICIONADA PELA MATURAÇÃO .................. 9

4 APRENDIZAGEM E DESEMPENHO........................................................ 10

4.1 Modelo de aprendizagem motora ....................................................... 11

5 APRENDIZAGEM E MOTIVAÇÃO............................................................ 13

5.1 Funções dos motivos.......................................................................... 14

5.2 Teorias da Motivação ......................................................................... 14

5.3 Teoria do condicionamento ................................................................ 15

5.4 Teoria cognitiva .................................................................................. 15

5.5 Teoria humanista ................................................................................ 15

5.6 Teoria psicanalítica............................................................................. 17

6 TEORIAS DA APRENDIZAGEM ............................................................... 18

6.1 Watson e o Behaviorismo................................................................... 18

6.2 Teoria do condicionamento clássico................................................... 19

6.3 Teoria do condicionamento operante ................................................. 20

6.4 Teoria da aprendizagem por ensaio e erro ......................................... 21

6.5 Teoria da aprendizagem cognitiva...................................................... 21

6.6 Teoria da aprendizagem fenomenológica .......................................... 23

6.7 Teoria da aprendizagem da Gestalt ................................................... 23

7 TRANSFERÊNCIA DA APRENDIZAGEM ................................................ 24

7.1 Conceito e importância da transferência ............................................ 24

7.2 Transferência positiva e negativa ....................................................... 25

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7.3 Teorias da transferência ..................................................................... 26

7.4 Teoria dos elementos idênticos .......................................................... 26

7.5 Teoria da generalização da experiência ............................................. 27

7.6 Teoria dos ideais de proceder ............................................................ 28

7.7 Teoria da Gestalt ................................................................................ 28

8 BIBLIOGRAFIAS ....................................................................................... 29

9 ARTIGO PARA REFLEXÃO ..................................................................... 31

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1 APRENDIZAGEM

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1.1 Conceito

O estudo do desenvolvimento humano é uma área bastante ampla e complexa


por envolver mudanças físicas, mentais, sociais e emocionais (Berk, 2010). Por parte
da Psicologia, o estudo sobre o desenvolvimento humano se ocupa de alterações
relacionadas à idade no comportamento que ocorre em seres humanos. Inclui todos
os aspectos do crescimento humano, abrangendo o desenvolvimento emocional,
intelectual, social, perceptivo e de personalidade. Assim, buscar estudar a Psicologia
da Aprendizagem e suas teorias, torna-se fundamental para a compreensão de sua
importância para o campo do ensino-aprendizagem e suas contribuições para a área
da educação; e conforme ressalta Bock et all (2008, p. 132), “assim, a Psicologia
transforma a aprendizagem em um processo a ser investigado” pela ciência. É
importante ressaltar que a Psicologia surge como ciência de fato no século XX.
A aprendizagem é uma das funções mentais mais importante e inseparável do
processo de desenvolvimento humano;
está vinculada à história do homem, à sua construção e evolução enquanto ser social
com capacidade de adaptação a novas situações. É um processo de aquisição e
assimilação de novas formas de perceber, ser, pensar e agir, onde suas habilidades,

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competências, conhecimentos, valores ou comportamentos são adquiridos ou
modificados ao longo da vida; estando associado a fatores cognitivos, emocionais,
orgânicos, psicossociais, culturais e resultante de constante estudo, experiência e
observação. Há condições determinantes para que haja aprendizagem de acordo com
as proposições das teorias gestaltistas:
• Fatores Fisiológicos - maturação dos órgãos dos sentidos, do sistema
nervoso central, dos músculos, glândulas etc.;
• Fatores Psicológicos - motivação adequada, autoconceito positivo,
confiança em sua capacidade de aprender, ausência de conflitos
emocionais perturbadores etc.;
• Experiências Anteriores - qualquer aprendizagem depende de
informações, habilidades e conceitos aprendidos anteriormente.
Afirma-se que o processo de aprendizagem pode ser diferente para cada
indivíduo, dependendo dos seus conhecimentos, do ambiente e outros fatores que
influenciam esse sistema. Aprender é o resultado da interação entre estruturas
mentais e o meio ambiente para construir de modo progressivo e interminável suas
representações do interno (o que pertence a ele) e do externo (o que está “fora” dele).
Inúmeros são os autores que discutem as teorias da aprendizagem; dentre os
principais destacam-se Wallon, Piaget, Vygotsky e Skinner; que deram relevantes
contribuições para o campo de ensino-aprendizagem. Empenharam-se na elaboração
de suas teorias para uma melhor compreensão do desenvolvimento humano.
Para Piaget (1999), no Construtivismo a aprendizagem só ocorre mediante a
consolidação das estruturas de pensamento, portanto a aprendizagem sempre se dá
após a consolidação do esquema que a suporta, da mesma forma a passagem de um
estágio para outro da criança estaria dependente da consolidação e superação do
estágio anterior. Sendo assim, a aprendizagem em si nada mais é do que a
substituição de uma resposta generalizada por outra mais complexa. (NETTO et
al,2017).
Segundo Vygotsky (1998) apud Netto (2017), a aprendizagem sempre inclui
relações entre pessoas. Ele defende a ideia de que não há um desenvolvimento pronto
e previsto dentro de nós que vai se atualizando com passar do tempo. O
desenvolvimento é pensado como um processo em que estão presentes a maturação

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do organismo, o contato com a cultura produzida pela humanidade e as relações
sociais que permitem a aprendizagem.
Wallon, defende que a aprendizagem está relacionada com o desenvolvimento
da individualidade como unidade afetiva e cognitiva dos sujeitos. O estudo do
desenvolvimento humano deve ser feito na sucessão das etapas e dos conflitos no
decorrer da vida, sendo a linguagem e a cultura que fornecem ao pensamento as
ferramentas para a sua evolução; a sua interação com o mundo biológico não depende
apenas do seu amadurecimento intelectual, mas de habilidades mais complexas para
interagir com a cultura existente entre o sujeito e seu meio.(NETTO et al,2017).
Para Skinner, apud Netto (2017), a aprendizagem concentra-se na aquisição
de novos comportamentos. É decorrente da relação estímulo-resposta (S-R) e das
ações praticadas pelas crianças, tendo como objetivo a aquisição de novos
comportamentos ou a mudança dos já existentes; pois o ensino decorre da adaptação
e planejamento de reforços através dos quais o aluno é levado a adquirir ou modificar
uma conduta, de modo que se torna mecanizada, deve ser incentivada, pois esta leva
à memorização. O ensino é obtido quando o que precisa ser ensinado pode ser
colocado sob condições de controle e sob comportamentos observáveis. É
considerado o criador da teoria Behaviorista.

1.2 Características do processo de aprendizagem

Aprendemos a todo momento, em um processo permanente de interação com


o meio. Concebemos a aprendizagem como um processo de autoconhecimento
contínuo que determina nossas relações sociais por toda a vida. Em nosso dia a dia,
estamos expostos a situações que nos desafiam das mais variadas formas e que nos
exigem uma resposta para cada acontecimento. Podem-se citar seis características
básicas da aprendizagem, segundo Campos (1987):

• Processo dinâmico - A aprendizagem é um processo que depende de


intensa atividade do indivíduo em seus aspectos físico, emocional,
intelectual e social. A aprendizagem só acontece através da atividade, tanto
externa física, como também, de atividade interna do indivíduo envolve a
sua participação global.
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• Processo contínuo - Todas as ações do indivíduo, desde o início da


infância, já fazem parte do processo de aprendizagem. O sugar o seio
materno é o primeiro problema de aprendizagem: terá que coordenar
movimentos de sucção, deglutição e respiração. Os diferentes aspectos do
processo primário de socialização na família, impõem, desde cedo, a
criança numerosas e complexas adaptações a diferentes situações de
aprendizagem. Na idade escolar, na adolescência, na idade adulta e até em
idade mais avançada, a aprendizagem está sempre presente.
• Processo global - Todo comportamento humano é global; inclui sempre
aspectos motores, emocionais e mentais, como produtos da aprendizagem.
O envolvimento para mudança de comportamento, terá que exigir a
participação global do indivíduo para uma busca constante de equilibração
nas situações problemáticas que lhe são apresentadas.
• Processo pessoal - A aprendizagem é um processo que acontece de forma
singular e individualizada, portanto é pessoal e intransferível, quer dizer ela
não pode passar de um indivíduo para outro e ninguém pode aprender que
não seja por si mesmo.
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• Processo gradativo - A aprendizagem sempre acontece através de
situações cada vez mais complexas. Em cada nova situação uns maiores
números de elementos serão envolvidos. Cada nova aprendizagem acresce
novos elementos à experiência anterior, sem idas e vindas, mas em uma
série gradativa e ascendente.
• Processo cumulativo - A aprendizagem resulta sempre das experiências
vividas pelo indivíduo que servem como patamar para novas
aprendizagens. Ninguém aprende senão, por si e em si mesmo, pela auto
modificação. Desta maneira, a aprendizagem constitui um processo
cumulativo, em que a experiência atual, aproveita-se das experiências
anteriores.

2 APRENDIZAGEM E MATURAÇÃO

A aprendizagem é um processo que resulta em uma mudança de


comportamento do indivíduo, ou seja, a aprendizagem ocorre através da prática e
experiência. A maturação pode ser definida como o ato de amadurecimento. Esta não
se refere apenas ao crescimento físico que um indivíduo se depara à medida que
envelhece, mas também a capacidade de se comportar, agir e reagir de forma
adequada. Neste sentido, o conceito de maturação ultrapassa o crescimento físico
para abraçar outros aspectos como o crescimento emocional e mental. Os psicólogos
acreditam que a maturidade vem com o crescimento e desenvolvimento individual.
Este é um processo que ocorre ao longo da vida adulta, preparando o indivíduo para
novas situações.
Maturação e aprendizagem são conceitos inter-relacionados, porém não são a
mesma coisa. Assim, toda aprendizagem depende da maturação (condições
orgânicas e psicológicas) e das condições ambientais (cultura, classe social), etc. As
características essenciais da maturação são:
• Aparecimento súbito de novos padrões de crescimento ou
comportamento;
• Aparecimento de habilidades específicas sem o benefício de práticas
anteriores;

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• A consistência desses padrões em diferentes indivíduos da mesma
espécie;
• O curso gradual de crescimento físico e biológico em direção a ser
completamente desenvolvido.
Sobre a maturação, Piaget (1972, p.2) esclarece que:

[...] certamente desempenha um papel indispensável e não pode ser


ignorada. Toma parte certamente em cada transformação que ocorre durante
o desenvolvimento da criança. Entretanto este primeiro fator por si só é
insuficiente. [...] Acima de tudo a maturação não explica tudo, por que a idade
média na qual este estádio aparece (idade cronológica média) varia
grandemente de uma para outra sociedade.

Ao contrário da aprendizagem que se baseia na experiência e prática para criar


uma mudança no comportamento individual, a maturação não necessita de tais
fatores. É adquirida através das mudanças que o indivíduo sofre, ou o crescimento
individual.
Para Wallon (1981, 2007), o ser humano é um ser geneticamente social. A
aprendizagem no indivíduo estará dependente das condições biológicas da
maturação, isto significa dizer que as estimulações só poderão resultar em resposta
de aprendizagem quando a função do órgão chega à maturação. Para ele esta é uma
lei geral onde a maturação funcional predomina.

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3 A APRENDIZAGEM É CONDICIONADA PELA MATURAÇÃO

Segundo Piaget, 2006 o curso do desenvolvimento precede sempre o da


aprendizagem. A aprendizagem segue sempre o desenvolvimento. Ainda de acordo
com o autor, o desenvolvimento deve atingir uma determinada etapa com a
consequente maturação de determinadas funções antes mesmo de fazer o indivíduo
adquirir determinados conhecimentos. Essa concepção torna-se uma grande
contribuição, nos quais ‘o aprender’ favorece ativamente o desenvolvimento cognitivo
e a maturação.
As características específicas do ser humano: a fala, a noção de tempo, a
cultura e a capacidade de abstração, confere uma qualidade única ao estudo do seu
comportamento e desenvolvimento; sendo possível não só examinar o que o
desenvolvimento já produziu, mas também o que produzirá no processo de
maturação. A maturação é um processo de crescimento interno que opera como fator
fundamental básico durante a aprendizagem. Afirma-se que o processo de
aprendizagem sofre muitas interferências, intelectual, psicomotora, físico e social.
Aprendizagem, desenvolvimento cognitivo e maturação, como processos
interdependentes, Vygotsky (2006) em seus estudos, descreve três teorias
relacionadas ao tema:

a primeira teoria afirma que o curso de desenvolvimento precede o


da aprendizagem, que a maturação precede a aprendizagem, que o processo
educativo pode apenas limitar-se a seguir a formação mental. A segunda
teoria considera, em contrapartida, que existe um desenvolvimento paralelo
dos dois processos (...); o desenvolvimento está para a aprendizagem como
a sombra para o objeto que a projeta (...) e, portanto, (...), não os diferencia
absolutamente (...). A terceira teoria tenta conciliar os extremos dos dois
pontos de vista, fazendo com que coexistam, é uma teoria dualista do
desenvolvimento (...). Estas observações sugerem que o processo de
aprendizagem prepara e possibilita um determinado processo de
aprendizagem, enquanto o processo de aprendizagem estimula, por assim
dizer, o processo de maturação e fá-lo avançar até certo grau (VYGOTSKY,
2006, pp.105-106).

Ao expor essas teorias, VYGOTSKY (2006), procura esclarecer a relação sobre


aprendizagem, desenvolvimento cognitivo e maturação, em que “a aprendizagem é
uma superestrutura do desenvolvimento”.

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4 APRENDIZAGEM E DESEMPENHO

A todo o instante deparamo-nos com situações novas ou, mesmo que


conhecidas, que contêm elementos que não estavam presentes ou que se
apresentam de forma diferente na nova situação.
Aprender é tudo sobre dominar essas novas habilidades e desenvolver uma
maior compreensão sobre coisas que não nos são conhecidas e também sobre ter um
melhor senso de nossos arredores. Nós crescemos e desenvolvemos mentalmente
com a ajuda desse processo de aprendizagem à medida que nossa mente ou cérebro
se desenvolve a todo seu potencial, do qual o desempenho é um objetivo realizável
desse processo de aprendizagem.
Piaget (1959, p. 34) esclarece que “a aprendizagem não se confunde
necessariamente com o desenvolvimento”. O desenvolvimento permite a formação de
estruturas de pensamento no sujeito, as quais possibilitam a aprendizagem. Uma
estrutura sempre nasce de outra, e elas são construídas e não ensinadas, ao passo
que a aprendizagem é provocada por situações diariamente.
Da nossa infância, somos levados a acreditar que o desempenho é um
resultado da aprendizagem e que a aprendizagem afeta o desempenho de forma
positiva, desde que exista desejo e motivação para aprender. Afirma-se que o
aprendizado é um processo contínuo a todos os indivíduos e acontece em qualquer
idade, principalmente quando somos submetidos a uma situação nova. Já o
desempenho pode ser produzido quando necessário, assim, compreende-se que a
aprendizagem não pode produzir níveis de desempenho iguais em todos os
indivíduos, pois, o desenvolvimento é um processo que ocorre depois da
aprendizagem, mas requer prática constante e aperfeiçoamento, de modo a
transformar as habilidades recém- adquiridas em comportamentos ou hábitos.
Dessa forma, é fundamental para se concluir como está transcorrendo a
aprendizagem a observação do comportamento do indivíduo, onde o
desempenho/desenvolvimento pode ser considerado como o comportamento
observável do indivíduo. Destarte, a aprendizagem não pode ser observada
diretamente; só pode ser inferida do comportamento ou do desempenho de uma
pessoa.

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Para tanto devem ser observadas determinadas características do
desempenho que servirão como indicadores do desenvolvimento da aprendizagem ou
da aquisição de uma habilidade. A característica principal é quando o desempenho da
habilidade melhorou, durante um período de tempo no qual houve a prática, tornando-
se, assim, mais capaz de desempenhar a habilidade do que era anteriormente.
A melhoria do desempenho deve ser marcada por certas características:
• O desempenho deve ser, como resultado da prática, persistente, ou seja,
relativamente constante. Deve ser duradoura no tempo.

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• As flutuações do desempenho devem ser cada vez menores, ocorrendo


menos variabilidade.
Aprendizagem é uma mudança no estado interno do indivíduo, que é inferida
de uma melhora relativamente permanente no desempenho como resultado da
prática.

4.1 Modelo de aprendizagem motora

Segundo Fitts & Posner (1967), durante a aprendizagem de uma habilidade um


indivíduo passa por três estágios: cognitivo, associativo e autônomo. Dentre as

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diversas características de cada estágio, uma importante mudança decorrente da
prática ocorre nos processos da atenção.
• 1 - Estágio Cognitivo - Se caracteriza por uma grande quantidade de
atividade mental e intelectual. O principiante costuma responder às
técnicas ou estratégias, apresentando grande número de erros
grosseiros no desempenho;
• 2 - Estágio Associativo - A atividade cognitiva envolvida na produção
de respostas decai. Mecanismos básicos da habilidade foram
aprendidos até certo ponto. O aprendiz está concentrado em refinar a
habilidade. Detecta alguns dos seus erros. A variação de desempenho
começa a decrescer;
• 3 - Estágio Autônomo - As habilidades são aprendidas a um tal grau
que respostas são geradas de maneira quase automática. Desenvolve
capacidade para detectar seus erros e que espécies de ajustes são
necessários para corrigir os erros. A variação do desempenho de dia a
dia já se torna muito pequena.
É importante entender esses estágios de aprendizagem para determinação de
estratégias instrucionais apropriadas a serem utilizadas ao ensinar habilidades
motoras.
O desempenho inicial na aprendizagem nem sempre permite predizer com
precisão o desempenho posterior. O desempenho posterior deve ser considerado a
partir de:
a) determinação das capacidades relacionadas com a tarefa;
b) motivação para ter sucesso e para continuar a aprender a habilidade;
c) instrução inicial deve enfatizar os fundamentos importantes da habilidade a
ser aprendida;
d) quantidade de tempo de prática disponível do indivíduo é importante na
determinação do sucesso posterior.
Esses fatores além de serem valiosos na previsão do desempenho futuro, são
geradores de informações para determinar o que deve ser incluído no plano de
instrução, para ajudar o estudante a desenvolver seu potencial.

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5 APRENDIZAGEM E MOTIVAÇÃO

Dentre todos os fatores que influenciam no processo de aprendizagem, o mais


importante deles é, sem dúvida, a motivação.

A motivação ganhou importância já na década de 1950, quando


gestores perceberam que alguns fatores influenciavam na produtividade e
nos resultados da empresa. Segundo o autor, a motivação humana no
ambiente de trabalho é sensível a diversos fatores, entre os quais, as
limitações culturais, os objetivos individuais, os métodos de diagnósticos e
intervenção variáveis de análise. (SANTOS, 2014, p. 123).

Para Chiavenato (2010), é difícil definir exatamente o conceito de motivação,


uma vez que tem sido utilizado com diferentes sentidos. De modo geral, motivo é tudo
aquilo que impulsiona a pessoa a agir de determinada forma ou, pelo menos, que dá
origem a um comportamento específico. No contexto educacional, tem função
ativadora e estimulante no comportamento já que mobiliza recursos internos,
permitindo que o aluno se envolva de forma mais profunda e empenhada na
aprendizagem. Assim, motivação é a energia para a aprendizagem, o convívio social,
os fatos da superação, da participação, da conquista, da defesa, do desenvolvimento
cognitivo entre outros.
É um fator importante no processo de ensino e aprendizagem por movimentar
indivíduos para a ação. É ela que impulsiona o indivíduo a agir, a buscar novos
conhecimentos, novas experiências. Sem motivação não há aprendizagem. Podem
existir os mais diversos recursos para a aprendizagem, mas se não houver motivação
ela não acontecerá. É necessário identificar os fatores motivacionais como também
às estratégias de aprendizagem que despertem no aluno o desejo de aprender e seu
comprometimento com o processo e, assim, realizar com eficiência sua
aprendizagem. Para Piaget: “A criança, como o adulto, só executa alguma ação
exterior ou mesmo inteiramente interior quando impulsionada por um motivo e este se
traduz sob a forma de uma necessidade.” (1967, p.16). A motivação atua de forma
construtiva na aceleração do raciocínio e necessidade do educando de expor seus
conhecimentos e ideias.

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5.1 Funções dos motivos

A motivação existe quando o indivíduo se propõe a emitir um comportamento


desejável para um determinado momento em particular. O indivíduo motivado é
aquele que se dispõe a iniciar ou continuar o processo de aprendizagem.
São três as funções mais importantes dos motivos:

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• Os motivos têm a função de manter ativo o organismo para que a


necessidade que gerou o desequilíbrio seja satisfeita;
• Os motivos dão direção ao comportamento para que os objetivos sejam
alcançados, definindo quais os mais adequados para conduzir a ação;
• Os motivos fazem a seleção das respostas que satisfazem as
necessidades para que possam ser reproduzidas posteriormente,
quando situações semelhantes se apresentarem.

5.2 Teorias da Motivação

As Teorias da Motivação foram desenvolvidas na segunda metade do século


XX, e estão em constante pesquisa. Muitos estudiosos caracterizam estas teorias
como sendo estudo de satisfação, pois visam medir o índice de motivação das
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pessoas, baseadas em suas necessidades e aspirações. São quatro as linhas teóricas
que abordam a questão da motivação dentro da Psicologia.

5.3 Teoria do condicionamento

Segundo esta teoria, para que o indivíduo seja motivado a emitir determinado
comportamento, é preciso que esse comportamento seja reforçado seguidamente. A
aprendizagem só acontece caso haja a associação de determinada resposta a um
reforço, até que o indivíduo fique condicionado.
Em outras palavras, uma necessidade (estímulo) leva a uma atividade
(resposta) que a satisfaz, e aquilo que satisfaz ou reduz a necessidade serve como
reforço da resposta. Isto é, o indivíduo age para alcançar um reforço que vai satisfazer
sua necessidade.
De acordo com a teoria do condicionamento, só há motivação para aprender
em sala de aula na medida em que as matérias oferecidas estiverem associadas a
reforços que satisfaçam certas necessidades dos alunos.

5.4 Teoria cognitiva

A teoria cognitiva, ao contrário da teoria do condicionamento que considera a


aprendizagem como resultado de uma série de estímulos externos para reforço do
comportamento, dá maior importância a aspectos internos, racionais, como: objetivos,
intenções, expectativas e planos do indivíduo.
A teoria cognitiva considera que, como ser racional, o homem decide
conscientemente o que quer ou não quer fazer. Pode interessar-se pelo estudo da
matemática por compreender que esse estudo lhe será útil no trabalho, na convivência
social, ou apenas para satisfazer sua curiosidade ou porque se sente bem quando
estuda matemática.

5.5 Teoria humanista

Para Maslow, um dos principais formuladores desta teoria, o comportamento


humano pode ser motivado pela satisfação de necessidades biológicas, mas que toda

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motivação humana não poderia ser explicada em termos de privação, necessidade e
reforçamento.
Para Maslow existe uma hierarquia de necessidades que vão se manifestando
à medida que as necessidades básicas, consideradas por ele de ordem inferior, são
satisfeitas e, que evoluem em direção a necessidades de ordem superior. Quando não
há alimento, o homem vive apenas pelo alimento. Mas o que acontece quando o
homem consegue satisfazer sua necessidade de alimento? Imediatamente surgem
outras necessidades, cuja satisfação provoca o aparecimento de outras.
Esquematicamente, Maslow construiu uma pirâmide, que segundo ele, localiza
está hierarquia de sete conjuntos de motivos-necessidades:
• Necessidades fisiológicas – um indivíduo com as necessidades
fisiológicas oxigênio, líquido, alimento e descanso – insatisfeitas tende a
comportar-se como um animal em luta pela sobrevivência. É a satisfação
dessas necessidades que permite ao indivíduo dedicar-se a atividades
que satisfaçam necessidades de ordem social;
• Necessidade de segurança – é o comportamento manifesto diante do
perigo e de situações estranhas e não familiares. É essa necessidade
que orienta o organismo na ação rápida em qualquer situação de
emergência, como doenças, catástrofes naturais, incêndios, etc.
• Necessidade de amor e participação – expressa-se no desejo de
todas as pessoas de se relacionarem afetivamente com os outros, de
pertencerem a um grupo.
• Necessidade de estima – leva-nos à procura de valorização e
reconhecimento por parte dos outros. Quando essa necessidade é
satisfeita, sentimos confiança em nossas realizações, sentimos que
temos valor para os outros, sentimos que podemos participar na
comunidade e ser úteis.
• Necessidade de realização – expressa-se em nossa tendência a
transformar em realidade o que somos potencialmente, a realizar nossos
planos e sonhos, a alcançar nossos objetivos. A satisfação da
necessidade de realização é sempre parcial, na medida em que sempre
temos projetos inacabados, sonhos a realizar, objetivos a alcançar.

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• Necessidade de conhecimento e compreensão – é a curiosidade, a
exploração e o desejo de conhecer novas coisas, de adquirir mais
conhecimento. Essa necessidade é mais forte em uns do que em outros
e sua satisfação se realiza através de análises, sistematizações de
informações, pesquisas, etc. Essa talvez devesse ser a necessidade
específica a ser atendida pela atividade escolar.
• Necessidade estética – manifesta-se através da busca constante da
beleza. Essa necessidade, segundo Maslow, parece ser universal em
crianças sadias e a escola pode contribuir muito para sua satisfação.

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5.6 Teoria psicanalítica

Para a teoria psicanalítica, criada por Sigmund Freud, as primeiras experiências


infantis são os principais fatores a determinar todo o desenvolvimento posterior do
indivíduo. A maior parte dos motivos seriam, assim, inconscientes. Quando criança,

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todo indivíduo tem uma série de impulsos e de desejos que procura satisfazer.
Entretanto, muito desses impulsos e desejos não podem ser satisfeitos, em virtudes
das sanções sociais. Assim, eles são reprimidos para o inconsciente e lá se organizam
a fim de se manifestarem de outra forma, de uma maneira que não contrarie as normas
sociais.
Na prática clínica, Freud, pesquisando sobre causas e funcionamento das
neuroses, descobriu que a grande maioria dos pensamentos e desejos reprimidos
eram de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida do indivíduo. Na vida
infantil estavam as experiências traumáticas, reprimidas que originavam os sintomas
atuais. Essas ocorrências deixavam marcas profundas na estrutura da personalidade.
Freud, então, coloca a sexualidade no centro da vida psíquica e postula a existência
da sexualidade infantil.

6 TEORIAS DA APRENDIZAGEM

As teorias da aprendizagem se caracterizam como uma área bem específica


dentro da psicologia teórica na tentativa de fundamentar como surge a natureza
essencial do processo de aprendizado. Serão apresentadas a seguir as principais
teorias que procuram compreender e explicar o processo de aprendizagem:

6.1 Watson e o Behaviorismo

No início de nosso século, vários psicólogos preocupavam-se em fornecer à


Psicologia foros de ciência. Tal tentativa já havia sido feita pelos adeptos das ideias
de Wundt, criador da Psicologia Fisio1ógica; nos Estados Unidos, J.B. Watson insistia
em que o corpo voltasse a centralizar os estudos psicológicos e propunha que a
Psicologia mudasse seu foco da consciência para o comportamento. O objetivo de
Watson era que a ciência psicológica se interessasse por indícios publicamente
verificáveis, ou seja, dados abertos à observação de outros, estudados por diversos
pesquisadores, que poderiam chegar a conclusões uniformes.
Watson foi iniciador da escola behaviorista. Ele considerava a pesquisa animal
a única verdadeira, pela sua possibilidade de verificação empírica. Propunha a
abolição dos métodos introspectivos, devido à sua falta de objetividade. Rejeitava o
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estudo da consciência e atacava veementemente a análise da motivação em termos
de instintos.
Na sua época, era frequente admitir que muitos comportamentos fossem inatos
e constituíssem instintos. Watson propôs a tese de que herdamos apenas estrutura
física e alguns reflexos. Três tipos de reação emocional são inatos: medo, cólera e
amor; todas as outras reações emocionais são aprendidas em associação com eles,
através de condicionamento.
A influência de Watson foi tão grande, que a maioria das teorias que se
seguiram foram behavioristas e, portanto, preocupadas com os fatores puramente
objetivos, baseando-se na pesquisa com animais e preferindo a análise do tipo
estímulo-resposta.

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6.2 Teoria do condicionamento clássico

O fisiologista russo Ivan P. Pavlov (1849-19360), estava interessado em


descobrir princípios do funcionamento das glândulas salivares e usava cães em suas
experiências. Em uma de suas experiências um fato em particular chamou sua
atenção. Pavlov verificou os animais salivavam, de maneira abundante, não apenas a
vista e cheiro do alimento, mas também na presença de outros estímulos associados
a ele, como o som de passos fora da sala, na hora da alimentação. Desta forma ele

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chegou à conclusão de que o reflexo salivar, provocado normalmente pela presença
do alimento na boca, também podiam ser provocados por outros estímulos associados
aos alimentos.
Começou, então, a relacionar o alimento a outros estímulos, originalmente
neutros quanto à capacidade de provocar a salivação, como a luz de uma lâmpada ou
o som de uma campainha. Verificou que, se o alimento fosse muitas vezes precedido
destes estímulos, o cão passaria a salivar também na sua presença. A esta reação
Pavlov denominou: reflexo condicionado.
Posteriormente, os psicólogos passaram preferir a expressão – resposta
condicionada -, uma vez que este tipo de aprendizagem não se limita só aos
comportamentos reflexos.

6.3 Teoria do condicionamento operante

O psicólogo americano B. F. Skinner, nascido em 1904, fez uma distinção entre


dois tipos de comportamentos: as respostas provocadas por um estímulo específico e
aquelas que são emitidas sem a presença de um estímulo conhecido. Ao primeiro tipo
de respostas Skinner chamou – respondente-; e ao segundo – operante.
O comportamento respondente é automaticamente provocado por estímulos
específicos como, por exemplo, a contração pupilar mediante uma luz forte. O
comportamento operante, no entanto, não é automático, inevitável e nem
determinado por estímulos específicos.
Assim, caminhar pela sala, abrir uma porta, cantar uma canção, são
comportamentos operantes, já que não se pode estipular quais os estímulos que os
causaram. O que caracteriza o condicionamento operante é que o reforço não ocorre
simultaneamente ou antes da resposta (como no condicionamento clássico) mas sim
aparece depois dela.
A resposta deve ser dada para que depois surja o reforço, que, por sua vez,
torna mais provável nova ocorrência do comportamento. A aprendizagem não se
constitui, como no condicionamento clássico, em uma substituição de estímulo, mas
sim em uma modificação da frequência da resposta.

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6.4 Teoria da aprendizagem por ensaio e erro

Este tipo de aprendizagem foi primeiramente estudado por Edward Lee


Thorndike (1874-1949), psicólogo americano. Seus experimentos foram feitos com
animais, preferencialmente gatos. Um gato faminto era colocado em uma gaiola com
o alimento à vista do lado de fora. O gato ao tentar sair da gaiola para conseguir o
alimento produzia uma série de ensaios ou tentativas. Ocasionalmente, ele tocava na
tranca que abria a gaiola e o alimento era alcançado. O experimento era repetido
durante alguns dias e o gato, ia, aos poucos, eliminando os ensaios infrutíferos para
sair da gaiola, coisa que conseguia em cada vez menos tempo, até que nenhum erro
mais era cometido e o gato saia da gaiola com apenas um movimento preciso: o de
abrir a tranca.
O ensaio e erro é um tipo de aprendizagem que se caracteriza por uma
eliminação gradual dos ensaios ou tentativas que levam ao erro e à manutenção
daqueles comportamentos que tiveram o efeito desejado. Thorndike formulou, a partir
de seus estudos, leis de aprendizagem, das quais se destacam a lei do efeito e a lei
do exercício.
A lei do efeito, afirma que um ato é alterado pelas suas consequências. Assim,
se um comportamento tem efeitos favoráveis, é mantido; caso contrário, eliminado. A
lei do exercício propõe que a conexão entre estímulos e respostas é fortalecida pela
repetição. Em outras palavras, a prática, ou exercício, permite que mais acertos e
menos erros sejam cometidos como resultado de um comportamento qualquer.
Pode-se notar a semelhança existente entre este tipo de aprendizagem e o
condicionamento operante. Alguns autores, porém, estabelecem uma diferença,
afirmando que o ensaio e erro é mais complexo, já que envolve a intenção do indivíduo
na aquisição de algum efeito específico.

6.5 Teoria da aprendizagem cognitiva

Para John Dewey a aprendizagem deve estar vinculada aos problemas práticos
aproximando-se o mais possível da vida cotidiana dos alunos. À escola cabe preparar
seus alunos para a vida democrática, para a participação social, deve praticar a
democracia dentro dela, dando preferência à aprendizagem por descoberta.

21
Para Dewey, seis são os passos que caracterizam o pensamento científico:
• Tornar-se ciente do problema – É necessário que o problema proposto
tenha significado para o indivíduo. O problema deve ser transformado em
uma necessidade individual que lhe proporcione estímulos suficientes;

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• Esclarecimento do problema – Consiste na coleta de dados e informações


sobre o problema proposto. É onde vai se selecionar a melhor forma de
atacar o problema, através dos recursos disponíveis;
• Aparecimento da hipótese – São as possibilidades que surgem para a
provável solução do problema. As hipóteses costumam surgir após um
longo período de reflexão sobre o problema e suas implicações, a partir dos
dados coletados na etapa anterior.
• Seleção da hipótese mais provável – É o confronto da hipótese com o que
se conhece do problema. Passando de uma hipótese a outra na medida que
vão se mostrando ineficazes para a resolução do problema uma hipótese
verifica-se outra;
• Verificação de hipótese - É na prática que acontece a verdadeira prova da
hipótese que será comprovada na ação;
• Generalização – Em situações posteriores semelhantes, uma solução já
encontrada poderá contribuir para a formulação de hipótese mais realista.

22
A capacidade de generalizar consiste em saber transferir soluções de uma
situação para outra.

6.6 Teoria da aprendizagem fenomenológica

As significações produzidas pelos indivíduos são, para teoria fenomenológica,


assim como a teoria cognitiva, acima descritas, e a teoria da gestalt, que veremos
mais adiante, de grande relevância para compreensão do processo de aprendizagem.
A criança é vista como um ser que aprende naturalmente. A aprendizagem só
acontece a partir do material que se vincule a experiência do indivíduo. Assim, existem
alguns passos que devem para facilitar a aprendizagem do indivíduo, a partir de sua
própria experiência.
• Proporcionar aos alunos oportunidades de pensamento autônomo, criando
um clima de diálogo, que os encoraje a expressar suas opiniões e a
participar das atividades do grupo;
• Os alunos devem desenvolver suas atividades em acordo com o ritmo
pessoal. O êxito e a aprovação sendo considerados a partir das realizações
individuais;
• Oferecer aos alunos a oportunidade de utilizar um impulso universal
presente em todos os seres humanos, no sentido de concretizar suas
próprias potencialidades. Sem podá-los em uma camisa de força,
prendendo-os à competição artificial e ao rígido sistema de notas.

6.7 Teoria da aprendizagem da Gestalt

Os psicólogos que preconizaram a teoria da Gestalt, como Köhler, Koffka,


defendiam que a experiência e a percepção são mais importantes que as respostas
específicas no processo de aprendizagem. Segundo eles a aprendizagem acontece
através de insight, que se constituem em uma compreensão súbita para solução de
problemas. Mas para que isso ocorra existe a necessidade de experiências anteriores
vinculadas ao problema e só acontece em consequência de uma organização
permanente da experiência, que permite a percepção global dos elementos
significativos.

23
7 TRANSFERÊNCIA DA APRENDIZAGEM

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7.1 Conceito e importância da transferência

A transferência da aprendizagem tem sido um dos fenómenos mais


activamente estudados em Psicologia (Detterman, 1996). Foi considerado o tema
mais importante na psicologia da aprendizagem e um dos problemas mais importantes
da aprendizagem.
A transferência de aprendizagem acontece quando o indivíduo é capaz de
transmitir o material retido em uma primeira experiência para as próximas
experiências. É a influência de um órgão ou capacidade, sobre outra capacidade ou
órgão, ainda não exercitado. É considerada a arte de colocar habilidades em
prática. Podemos assim, falar de transferência da aprendizagem, que pode ser
entendida como a influência que a aprendizagem anterior exerce no desempenho de
uma nova aprendizagem. A transferência da aprendizagem tem sido colocada em
lugar de destaque em vários domínios, nomeadamente, ao nível da Psicologia e da
Educação. Olhando para o século XXI, Schoenfeld (1999) diz-nos que na investigação
em educação, a aprendizagem e a transferência são áreas onde é necessário fazer-
se um progresso significativo ao nível do desenvolvimento teórico, com vista à prática.
A experiência é aprendida em seu conjunto e transferida como tal para uma situação
24
nova, quando há identidade de estrutura ou função entre as situações. É o problema
de transportar e de aplicar em uma situação conhecimentos, habilidades, ideais,
valores, hábitos e atitudes, adquiridos em outros setores, ou situações de vida.
Este problema afeta diretamente o conteúdo e método de ensino. Porque se
acreditamos que, a aprendizagem é uma função tão específica que só é aplicável à
matéria ou à habilidade diretamente envolvida, a orientação do ensino será diferente
de quando se venha acreditar que a aprendizagem é um processo geral, que permite
transferência a uma variedade ampla de áreas de atividades. Dessa forma, no que
respeita à transferência, a questão essencial centra-se em compreender o modo como
nós usamos o conhecimento em circunstâncias diferentes daquelas em que
adquirimos esse conhecimento. A transferência é omnipresente, a cada momento,
fazemos conexões, adaptamo-nos ao meio, transpomos aquilo que já aprendemos
para situações novas, transferindo assim, pelo menos em algum grau, aquilo que
antes foi aprendido.

7.2 Transferência positiva e negativa

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Dizemos que houve uma transferência positiva quando uma aprendizagem


anterior favorece uma nova aprendizagem. Dizemos que houve uma transferência
negativa quando uma aprendizagem prejudica outra aprendizagem posterior. “Existe
25
transferência quando a aprendizagem da tarefa A influencia a aprendizagem da tarefa
B. A transferência pode ser positiva ou negativa. Quando a aprendizagem de A facilita
a aprendizagem de B, diz-se que houve transferência positiva; quando a
aprendizagem de A inibe a aprendizagem de B, ocorre transferência negativa”
(Sprinthall & Sprinthall, 2001, p. 249). A transferência da aprendizagem pode assumir
formas na medida em que o desempenho numa primeira tarefa pode ajudar ou facilitar,
dificultar ou inibir.

7.3 Teorias da transferência

As teorias da transferência da aprendizagem tiveram sua origem nas críticas à


teoria da disciplina formal. A teoria da disciplina formal concebia a mente composta
de faculdades, tais como: memória, raciocínio, vontade, atenção. Assim, bastava que
estas “faculdades da mente” fossem, adequadamente, treinadas para que
funcionassem igualmente bem em todas as situações, mesmo que a aprendizagem
houvesse ocorrido em uma situação particular. O ensino de latim, por exemplo,
treinava a capacidade de raciocínio lógico para qualquer tipo de situação.
Na teoria da disciplina formal, a ênfase não se vinculava, de maneira específica,
na matéria. Era mais importante para a educação a forma da atividade do que o
conteúdo em si mesmo. A educação, seria então, em grande medida, uma questão
de exercitar ou disciplinar a mente, de acordo com rigorosos exercícios mentais nos
autores clássicos, em lógica, matemática, etc.
Contudo, William James (1890), em um trabalho experimental conclui que a
melhora da memória consistia, não em qualquer melhora na retenção, mas no
aperfeiçoamento do método de memorizar. Este experimento foi o ponto de partida
para experiências posteriores, cujos resultados vieram contrariar a doutrina da
disciplina formal.

7.4 Teoria dos elementos idênticos

Tem como autor Thorndike. Afirma que há transferência de aprendizagem


quando se verifica identidade de CONTEÚDO (Exemplo: a análise lógica em uma
língua auxilia na aprendizagem de outra.); de MÉTODO ou PROCESSO (Exemplo: o

26
estudo de uma lição, lendo o conjunto e depois repetindo trechos difíceis é processo
que faculta o estudo de outra lição do mesmo tipo.); de ATITUDE (Exemplo: o hábito
de aprender teoremas depois de algum esforço leva o indivíduo a esperar dominar
com esforço novo teorema.); de GENERALIDADES de fatos compreendidos
(Exemplo: regras, princípios, leis, etc., induzidos e aplicados a seguir a casos
particulares diversos, habilitam o indivíduo a aprender outros casos particulares, pelo
pensamento dedutivo).
Nesta teoria a transferência é a repetição, em uma nova situação, de uma
reação já aprendida anteriormente.

7.5 Teoria da generalização da experiência

Nesta teoria, que tem Judd como precursor, os fatores mais importantes são: o
Método de Ensino ou de Estudo e Grau de Auto Atividade despertada no aluno. A
matéria ou conteúdo a ser aprendidos é de muito pouco importância.
Esta teoria preconiza que, a função da educação é treinar a inteligência,
internalizar o método científico, assistir os alunos a abstrair o geral e essencial dos
aspectos particulares e acidentais em suas experiências. Esta teoria enfatiza a
aplicabilidade de princípios e generalizações a situações variadas e diversas.
A repetição do experimento original de Judd, por outros estudiosos, conclui que
as crianças acostumadas com o princípio da refração da luz foram mais capazes de
atingir um alvo submerso na água do que crianças que não conheciam o princípio.

27
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7.6 Teoria dos ideais de proceder

O autor desta teoria, Bagley, considera que a generalização não representa


tudo, mas que deve ser associada a um ideal e possuir um conteúdo emocional. Para
Bagley, a aprendizagem de hábitos de ordem, por exemplo, não se transfere da
aritmética para a ortografia, mas que, se a aprendizagem de tais hábitos for
considerada um ideal, e enfatizada pelo professor, será transferida para outros
assuntos, sem que seja preciso referência especial sobre os mesmos.
Esta teoria acentua a transferência através da formulação de ideais e atitudes
generalizadas, constituindo outra versão da teoria da generalização da experiência.

7.7 Teoria da Gestalt

Esta teoria enfatiza outro aspecto do conceito de generalização. Para seus


partidários, quanto maior o significado de uma experiência, tanto mais rica sua
conceituação e mais profunda a sua compreensão, maiores serão suas possibilidades
de transferência.
Para os gestaltistas, o discernimento (Insight) das relações entre os elementos
da situação é o meio que garante a aprendizagem e é este conhecimento das relações
que se transfere na aprendizagem.
Os gestaltistas explicam a transferência através do que denominam
“transposição”. Por exemplo, determinada canção ouvida em certo tom pode ser
reconhecida em outro, ainda que todos os componentes da canção sejam diversos.
Identicamente, gatos treinados a comer no prato maior, quando encontram outros dois
pratos, onde o que era maior é agora o menor dos dois, comem no maior e não
naquele no qual aprenderam a comer. Os gatos reagem não às partes, os pratos, mas
à relação maior-menor, que continua existindo.
Esta teoria preconiza que, a função da educação é treinar a inteligência,
internalizar o método científico, assistir os alunos a abstrair o geral e essencial dos
aspectos particulares e acidentais em suas experiências. Esta teoria enfatiza a
aplicabilidade de princípios e generalizações a situações variadas e diversas.

28
A repetição do experimento original de Judd, por outros estudiosos, conclui que
as crianças acostumadas com o princípio da refração da luz foram mais capazes de
atingir um alvo submerso na água do que crianças que não conheciam o princípio.

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Sprinthall, N. A., & Sprinthall, R. C. (2001). Psicologia educacional: Uma
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Trabalho de conclusão de curso. A importância da psicologia da aprendizagem e


suas teorias para o campo do ensino-aprendizagem. Arthur Prado Netto Orlando
Santana costa. Fragmentos de Cultura, Goiânia, v. 27, n. 2, p. 216-224, abr./jun. 2017.

VYGOTSKY, Lev Semyonovitch. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins


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WALLON, H. A evolução psicológica da criança. Martins Fontes: São Paulo, 2007.

30
__________. Henri Wallon: a evolução psicológica da criança. Tradução Claudia
Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2007. (Coleção Psicologia e Pedagogia).

9 ARTIGO PARA REFLEXÃO

Nome do autor: Jeniffer Satie Vaz Ogasawara


Disponível em:
http://www.uneb.br/salvador/dedc/files/2011/05/Monografia-Jenifer-Satie-Vaz-
Ogasawara.pdf
Acesso: 17 de junho de 2016

O CONCEITO DE APRENDIZAGEM DE SKINNER E VYGOTSKY: UM


DIALÓGO POSSÍVEL

RESUMO

Muitas são as teorias de aprendizagem existentes, atualmente, no âmbito acadêmico. Isso se deve ao
fato de cada teórico escolher estudar os aspectos que acreditam ser essenciais para as questões da
educação. Contudo, sabe-se que nenhuma delas esgota e explica todos os questionamentos dessa
área de conhecimento. Esse estudo versa sobre duas dessas teorias com o objetivo geral de discutir a
relação entre as teorias de aprendizagem de Skinner e Vygotsky e suas contribuições para o processo
ensino-aprendizagem. Assim, fez-se necessário descrever o conceito de aprendizagem de Skinner e
Vygotsky, apontando as suas implicações pedagógicas, para em seguida comparar os principais
pressupostos de cada teoria. Para atender aos objetivos deste estudo comparativo utilizou-se da
pesquisa exploratória do tipo bibliográfica. Buscou-se, então, fazer um levantamento sobre as principais
obras dos autores escolhidos, para em seguida destacar os principais conceitos envolvidos na questão
da aprendizagem. Diferentemente da idéia difundida na comunidade acadêmica, esclareceu-se que as
abordagens possuem vários pontos de convergência, mas que também divergem em alguns aspectos.
Uma conclusão obtida com a realização deste trabalho se refere ao conceito principal de cada autor
para o entendimento do processo de ensino - aprendizagem. Espera-se que este trabalho possa
contribuir para um melhor entendimento da teoria de Skinner bem como, explique alguns equívocos
difundidos sobre sua abordagem, contribuindo também para ampliar a compreensão geral sobre as
diferentes abordagens para o conceito de aprendizagem facilitando a prática pedagógica.

Palavras-chaves: Teoria de Aprendizagem; Skinner; Vygotsky; Prática


pedagógica.
INTRODUÇÃO

Inúmeros são os teóricos que discutem a teoria da aprendizagem. Cada um


destes define e aponta os principais focos que devem ser analisados para o

31
entendimento do assunto. Bock, Furtado e Teixeira (2000) colocam como principais
pontos abordados pelos estudiosos que se propõem a estudar esse processo a
natureza e os limites da aprendizagem, como também a participação dos aprendizes
e a motivação durante o processo. Outro ponto bastante discutido é a importância do
outro na aquisição de novos conhecimentos.
Na tentativa de explicar a existência de diversos resultados para pesquisas que
se referem ao campo da Psicologia, Cunha (1998) expõe que nessa ciência os
paradigmas são vistos como revolucionários e inéditos, pois são muito diferentes entre
si. Isto ocorre, pois, cada teórico acaba por encaminhar suas pesquisas de acordo
com o que acredita ser essencial.
Dentre os autores que estudaram a aprendizagem, aparecem Vygotsky e
Skinner, os escolhidos para o desenvolvimento deste trabalho. Esses autores são
considerados opostos no que se refere às ideias que desenvolveram sobre o tema da
aprendizagem, principalmente, pelo fato dos teóricos pertencerem a abordagens
diferentes da psicologia. O primeiro ficou mais conhecido por sua ênfase nas questões
cognitivas e do desenvolvimento humano, já o segundo focou seu trabalho para o
estudo do comportamento.
Contudo, ao analisar mais detalhadamente os escritos de cada um sobre o
tema, é possível perceber inúmeras semelhanças das suas formas de pensamento.
Desse modo, o objetivo geral desse estudo é discutir a relação entre as teorias de
aprendizagem de Skinner e Vygotsky e suas contribuições para o processo ensino
aprendizagem. Para isso, faz-se necessário descrever o conceito de aprendizagem
de Skinner e Vygotsky, apontando as suas implicações pedagógicas e em seguida,
faz-se uma comparação dos principais conceitos propostos por ambos. Para atender
aos objetivos, este trabalho teve como delineamento de estudo a pesquisa
exploratória do tipo bibliográfica.
A necessidade da elaboração desse estudo teórico-comparativo foi sentida ao
se perceber a existência de equívocos difundidos na Faculdade de Educação sobre
os estudos de Skinner que, muitas vezes, são infundados ou repletos de
desconhecimento sobre o autor. Confunde-se o que foi desenvolvido por ele com os
escritos de seus antecedentes dentro da filosofia behaviorista na prática docente
sobre o estudo do conceito de aprendizagem, para os alunos do curso de pedagogia
da Universidade do Estado da Bahia – UNEB.

32
A formação no curso de Psicologia permitiu que a autora do presente trabalho
possuísse um conhecimento mais aprofundado da teoria behaviorista, sentindo-se
responsável por contribuir para uma melhor compreensão da análise do
comportamento e da sua filosofia, o behaviorismo radical. Para tanto, buscou-se
desmitificar alguns conceitos ao compará-los à obra de Vygotsky, já que esta possui
uma grande aceitação na área de Educação. Tentou-se, assim, mostrar que a teoria
de Skinner não ocupa um lugar de oposição em relação a alguns pensamentos
elaborados por Vygotsky.
Gioia (2004) afirma que a propagação de ideias imprecisas ou insuficientes do
behaviorismo radical conduz a um desconhecimento das contribuições que a análise
do comportamento poderia oferecer sobre a relação do indivíduo com o ambiente. A
autora destaca ainda que, dentre os contextos de interação, o ambiente escolar é o
que poderia receber maiores benefícios em função do papel da educação na
sociedade e da importância dada por Skinner a esse aspecto.
Assim, as informações imprecisas sobre o behaviorismo impedem que os
futuros professores se apropriem das ideias dessa abordagem, o que dificulta a sua
utilização em contextos adequados. Apesar disso, Gioia (2004) afirma que esses
dados errôneos trazem consequências ainda piores quando formam opiniões
preconceituosas, pois são propagadas sempre da mesma forma no ambiente
acadêmico e escolar.
Reafirmando essa idéia, Cunha (1998) expõe que “o que se observa no dia-a-
dia das salas de aula é que os professores possuem uma capacidade insuperável
para transformar os pressupostos de qualquer ciência da educação e adequá-los às
suas características e possibilidades pessoais”.
A grande aceitação da teoria de Vygotsky se deve ao fato dessa ser
considerada a mais adequada para os moldes de educação que se pensa nos dias
atuais. Utilizando-se da boa aceitação da teoria vygotskyana no ambiente dos cursos
de educação, procurou-se estabelecer a relação desta com a teoria de Skinner,
tentando, assim, aproximar os educadores da leitura da obra deste último.
Outra relevância de relacionar as teorias consiste no fato de que, para a
educação, não existe uma única teoria que responderá a todas as dúvidas e questões
vividas no contexto de sala de aula. Coll (1997) aponta uma saída para essa situação
ao expor que se deve fugir de uma junção impensada das teorias, ao mesmo tempo,

33
não se apegar unicamente a contribuições de apenas uma abordagem. Deve-se
perceber no contexto educacional qual a teoria traria melhores resultados e utilizar as
contribuições pertinentes a essa prática educativa.
Percebe-se, com isso, que o conhecimento sobre as múltiplas teorias da
aprendizagem pode auxiliar o trabalho do professor, uma vez que, tendo propriedade
sobre as contribuições que cada uma destas teorias pode oferecer é possível trabalhar
com a integração das mesmas. Vale ressaltar que, para trabalhar com inúmeras
abordagens, é necessário que o professor tenha um processo reflexivo sobre a sua
prática. Integrar as teorias significa relacioná-las e não simplesmente juntar as suas
ideias.
O presente estudo é composto por três capítulos. O primeiro aborda o trabalho
desenvolvido por Skinner, seus antecedentes históricos e teóricos, o conceito de
aprendizagem e a importância do professor no processo. Buscou-se desenvolver as
mesmas ideias no segundo capítulo sobre o pensamento de Vygotsky. Por fim, o
terceiro capítulo faz a interrelação dos principais pontos discutidos sobre os dois
autores.

APRENDIZAGEM SEGUNDO SKINNER

Burrhus Frederic Skinner nasceu em 1904 na cidade de Susquehanna, no


Estado da Pennsylvania, Estados Unidos. Concluiu o segundo grau em 1922, no
mesmo ano entrou na universidade Hamilton College. Graduou-se em literatura
inglesa e línguas românicas, em 1926, e, com essa formação, Skinner decidiu ser
escritor. Essa idéia foi abandonada em 1928 quando resolveu fazer o curso de pós-
graduação em Psicologia, se inscrevendo no programa de Psicologia Experimental,
em Harvard University. Obteve os títulos de Mestrado e Doutorado, em 1930 e 1931,
respectivamente. Após o doutoramento, permaneceu em Harvard, até 1936, com um
apoio financeiro para fazer pesquisas. Após isso, mudou para Minneapolis para
assumir as atividades de professor e de pesquisador na University of Minnesota. Foi
lá que Skinner encontrou espaço livre para ensinar e pesquisar o behaviorismo.
Tornou-se chefe de departamento de Psicologia da Indiana University, em 1945.
Neste local, começou a escrever Verbal Behavior e Walden II, publicados em 1957 e
1948, respectivamente. Em 1948, ele retornou a Harvard como convidado para

34
pesquisar e ensinar naquela Universidade, na qual permaneceu até a sua
aposentadoria, em 1974 (CUNHA; VERNEQUE, 2004).
Skinner desenvolveu inúmeros estudos científicos sobre o comportamento, a
maioria deles utilizando organismos infra-humanos como base comparativa do
humano. Assim, desenvolveu instrumentos básicos e construiu uma sistematização
para o estudo das relações comportamentais do organismo com seu meio ambiente.
Nesse sentido, criou uma metodologia que denominou de Análise Experimental do
Comportamento. Após essa organização, Skinner sentiu a necessidade de firmar a
sua base filosófica, escrevendo sobre o behaviorismo. Neste livro buscou elucidar as
bases epistemológicas e filosóficas da sua ciência (CUNHA; VERNEQUE, 2004).
Dentre as teorias que influenciaram o pensamento de Skinner, destacam-se
principalmente dois autores: Ivan Petrovich Pavlov e Jonh B. Watson. Assim, para
entender o pensamento skinneriano, faz-se necessário um retorno aos seus principais
precedentes e influenciadores.
O condicionamento operante é um processo no qual se pretende condicionar
uma resposta de um indivíduo, seja para aumentar a sua probabilidade de ocorrência
ou para extingui-la. No primeiro caso, são apresentados reforços toda vez que o
sujeito apresenta a resposta adequada. Vale ressaltar que o conceito de reforço está
diretamente ligado a ocorrência da resposta, um estímulo só pode ser considerado
reforçador se aumentar a probabilidade do comportamento ocorrer. O reforço pode
ser positivo quando é apresentado algo ao indivíduo ou negativo quando se retira algo
do ambiente. Percebe-se, com isso, que, diferentemente do que se diz, reforço não é
sinônimo de recompensa.

APRENDIZAGEM SEGUNDO VYGOTSKY

Lev Smenovitch Vygotsky nasceu em 1896 na antiga União Soviética,


proveniente de uma família com boas condições financeiras e com um bom nível
intelectual, sendo sempre estimulado a ler e pesquisar sobre as coisas de seu
interesse. Sua formação intelectual foi feita basicamente em seu ambiente familiar, só
indo para a escola aos 15 anos. Estudou em um colégio particular por dois anos,
tempo para concluir os estudos secundários. Após a saída do colégio, ingressou na
Universidade de Moscou no curso de Direito, que, diferentemente dos padrões que

35
possuímos hoje, era um curso no qual se estudava e discutia questões pertinentes às
Ciências Humanas. Frequentou também a Universidade Popular de Shanyavskii, onde
aprofundou os seus estudos em Psicologia, Filosofia e Literatura e, apesar disso, não
recebeu nenhum título por essa universidade (OLIVEIRA, 1993).
Devido à diversidade de assuntos estudados por Vygotsky, inúmeras foram
também as áreas da sua atividade profissional, sendo professor e pesquisador das
áreas de Psicologia, Filosofia, Pedagogia e Psiquiatria. Apesar de ter vivido apenas
até os 37 anos, é grande o número de trabalhos acadêmicos desenvolvidos por este
autor. Atualmente as áreas de Psicologia e Pedagogia são as que mais trabalham
com as obras deste autor e seus trabalhos mais conhecidos são os que se referem ao
desenvolvimento humano (OLIVEIRA, 1993).
Faz-se necessário também entender o contexto social vivido por Vygotsky
durante a sua elaboração intelectual. É importante salientar que a psicologia na
Rússia, assim como em todo o mundo, passava por uma confrontação de correntes
contrárias às explicações dos fenômenos psicológicos. A primeira, derivada dos
pensamentos de Wundt, descrevia o conteúdo da consciência humana e sua relação
com o ambiente externo, acabou sendo modificada pelo primeiro behaviorista, que
substituíram o estudo da consciência pelo do comportamento, mas ainda buscando
identificar a unidade básica e suas relações na formação de fenômenos mais
complexos. A segunda era a psicologia da Gestalt, que se colocava como antagônica
à primeira, não acreditando ser possível a explicação dos processos psicológicos por
suas unidades básicas. (COLE; SCRIBNER, 2001).
Para a teoria de Vygotsky, esse contexto social criou um problema
epistemológico que foi apontado por Luria e Leontiev (apud Bruner, 1998), seus
principais colaboradores. Esse problema consistia em livrar-se da “batalha pela
conscientização” existente no contexto acadêmico. Era necessário “liberar-se, por um
lado, do behaviorismo corrente e, por outro, da abordagem subjetiva dos fenômenos
mentais enquanto condições subjetivas exclusivamente internas, cuja investigação só
pode ser realizada por introspecção” (LURIA; LEONTIEV apud Bruner, 1998, p. 8).

APRENDIZAGEM

36
Para o entendimento da aprendizagem segundo os estudos de Vygotsky, será
utilizada a definição dada por Oliveira (1993, p. 57), sendo esta “o processo pelo qual
o sujeito adquire informações, habilidades, atitudes, valores e etc. a partir do seu
contato com a realidade, o meio ambiente e as outras pessoas”. Outro importante
ponto a ser citado, logo inicialmente foi também ressaltado, refere-se aos problemas
de tradução da obra deste autor.

Em Vygotsky, justamente por sua ênfase nos processos sóciohistóricos, a


idéia de aprendizado inclui a interdependência dos indivíduos envolvidos no
processo. O termo que ele utiliza em russo (obuchenie) significa algo como
processo de ensino aprendizagem, incluindo sempre aquele que aprende,
aquele que ensina, e a relação entre as duas pessoas. Pela falta de um termo
equivalente em inglês, a palavra obuchenie tem sido traduzida ora como
ensino, ora como aprendizagem e assim re-traduzida em português
(OLIVEIRA, 1993, p. 57).

Vygotsky foi um dos primeiros autores a diferenciar o processo de


aprendizagem da criança e a formalização escolar. Para este autor, a aprendizagem
começa no ingresso à escola. Nessa afirmação, fica claro que, para este teórico, o
processo de formalização do conhecimento proposto pela escola não é a única fonte
que o sujeito possui para aprender, isso está inato às capacidades humanas,
conseguindo assim, aprender com qualquer situação vivida (VYGOTSKY, 2001).
Por, a aprendizagem ser algo tão implícito à capacidade humana, acredita-se
que exista uma associação desta com o processo de desenvolvimento dessa espécie.
Como se sabe, o desenvolvimento ocorre desde a geração do feto, perpassando por
toda a vida do homem, sendo finalizado na sua morte. Acredita-se que a
aprendizagem também seja um dos processos pelo quais se está sujeito em todos os
momentos da vida.

O PAPEL DO PROFESSOR

Vygotsky afirma que o bom ensino é aquele baseia as suas intervenções


pensando no que o sujeito está em fase de maturação, isto é, o que está na zona de
desenvolvimento proximal. “O aprendizado deve ser orientado para o futuro, e não
para o passado.” (VYGOSTKY, 1998, p. 130).
Com a afirmação de Vygotsky, pode-se perceber a necessidade que o
professor tem de estar atento àquilo que a criança ainda está em fase de apreensão.
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As boas atividades de aprendizagem são sempre as que trabalham com os
aprendizados ainda não totalmente conquistados pelos alunos.
Vygotsky também coloca como um fator crucial para um bom trabalho do
professor que este entenda, de forma clara, a formação dos conceitos pelas crianças.
Assim, divide conceito em duas categorias: a primeira, os conceitos espontâneos, que
são aqueles construídos aleatoriamente ao longo da vida, e os conceitos científicos,
os que necessitam de um processo especial para a sua assimilação.
Fazendo uma crítica ao ensino tradicional, Vygotsky diz que o ensino que tenha
como foco uma transmissão direta de conceitos é ineficiente. Para ele, o professor
que baseie seu trabalho nessa passagem direta não conseguirá obter bons
resultados, o máximo que irá conseguir são alunos que repetem o que foi aprendido
sem que haja uma internalização do conceito utilizado, o que acaba por ser um
aprendizado totalmente vazio e sem significado para a vida do sujeito (VYGOTSKY,
1998).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa buscou discutir a relação entre as teorias de aprendizagem


desenvolvidas por Skinner e Vygotsky. Assim, fez-se necessário descrever os
principais conceitos elaborados e defendidos por estes autores nas questões sobre a
temática escolhida. Durante a descrição, foi-se percebendo a existência de inúmeras
concordâncias e discrepâncias das duas teorias. Apesar disso, buscou-se deixar
ainda mais clara esta relação, fazendo-se um capítulo apenas para discutir essa
questão.
Durante a análise da relação das teorias, foi percebido que os autores
convergem no que se refere à necessidade de um desenvolvimento prévio para a
programação de atividades que promovam a aprendizagem; à importância dada ao
meio social na aquisição de novos conceitos; à aprendizagem e ao papel do professor
no processo de ensino-aprendizagem.
Percebeu-se, assim, que diferentemente do que são trazidos em alguns livros
didáticos que abordam as duas teorias, estas não são opostas, porém, possuem
diferenças básicas, como ocorre com qualquer estudo elaborado por pessoas
distintas, sendo possível também visualizar semelhanças. Faz-se necessário então

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propor a utilização de materiais mais condizentes com a realidade teórica e a
necessidade de mais trabalhos que se proponham a dialogar com perspectivas tidas
como diferentes.
No que se refere ao pensamento de Skinner, esse trabalho buscou desmistificar
alguns equívocos sobre este autor. Pretende-se que as pessoas, ao terem acesso a
este trabalho, se permitam conhecer mais sobre os estudos deste autor, tentando
modificar os conhecimentos errôneos que lhes foram transmitidos ao longo do tempo
por inúmeras fontes.
É importante salientar que, para o curso de Pedagogia, pesquisas deste tipo
melhoram o entendimento do processo de aprendizagem, pois permitem a análise 43
mais completa sobre o fenômeno, de forma a poder integrar diferentes abordagens de
trabalho. Sabe-se que nenhum trabalho desenvolvido irá esgotar as possibilidades de
análise nem fornecerá um entendimento do total.
Outro ponto que merece destaque é a necessidade de leituras mais fidedignas
sobre o estudo de um autor. Percebe-se que a leitura do autor em seus próprios
escritos é sempre mais profunda do que a análise feita por outros autores. Apesar
disso, nos cursos de graduação, os alunos costumam apenas trabalhar com os
teóricos a partir de seus comentadores.
Espera-se que este trabalho contribua para a formação de professores ao
propor a integração de diferentes abordagens teóricas, através da compreensão dos
conceitos presentes nas duas teorias. O contexto da educação permite que os
educadores façam ajustes nas teorias, aplicando-as da forma mais adequada com os
alunos. Acredita-se que, se os professores de forma reflexiva e consciente, se valerão
dos ganhos teóricos de ambos os autores, muito se tem a ganhar nas práticas
educativas.

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