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APRENDIZAGEM E SEUS CONCEITOS.

Conceitualmente aprendizagem é o processo de aquisição ou modificação de competências,


habilidades, conhecimentos, comportamento e valores através de estudo, experiência, formação,
raciocínio e observação. Ela é uma das funções mentais mais importantes dos seres humanos e
está relacionada à educação e ao desenvolvimento pessoal.

A aprendizagem como atividade humana remonta à própria origem de nossa espécie, já que o ser
humano nasce potencialmente inclinado a aprender, necessitando de estímulos externos e
internos para o aprendizado. Estes podem ser considerados natos, como o ato de aprender a
falar, a andar, vinculado ao processo de maturação física, psicológica, o que acontece no meio
social e temporal onde o indivíduo convive, favorecendo mudança em sua conduta, e os de
predisposições genéticas, que permite subsídios e alicerces para manutenção do equilíbrio do
individuo.

Há muito, filósofos e pensadores preocuparam-se com os fatos da aprendizagem do tipo verbal ou


ideativo. Daí a razão porquê as primeiras teorias se confundiram com as explicações dos
processos lógicos com as do conhecimento. Já que o aprender se confundia com a ação de captar
idéias, fixar seus nomes, retê-los e evocá-los, mantidos na afirmação que sempre houve na vida
humana o ato de ensinar e aprender.

As explicações e estudo sobre a aprendizagem se deram com o desenvolvimento da psicologia


enquanto ciência, baseada nos conhecimentos e teorias da neuropsicologia, da educação e da
pedagogia, que a considerou como um processo de associação entre uma situação estimuladora e
a resposta, verificada na teoria conexionista, como um processo de ajustamento ou adaptação do
individuo ao ambiente, defendida pela teoria funcionalista, ou como processo de percepção onde o
conhecimento é resultado de estruturas pré-formadas, defendida pela teoria racionalista.

Para Hilgard (apud CAMPOS, 1987) a aprendizagem é um processo pela qual uma atividade tem
origem ou é modificada pela reação a uma situação encontrada, desde que as características da
mudança de atividade não possam ser explicadas por tendências inatas de respostas, maturação
ou estados temporários do organismo.

Assim, não podemos considerá-la somente como um processo de memorização, tampouco como
um conjunto das funções mentais ou unicamente como elementos físicos ou emocionais, pois ela
é o desenvolvimento de todos os poderes, capacidades e potencialidades do homem, tanto
físicas quanto mentais e afetivas.

Já Coelho e José (1999) a define como o resultado da estimulação do ambiente sobre o


indivíduo já maduro, que se expressa, diante de uma situação-problema, sob a forma de uma
mudança de comportamento em função da experiência.
Acreditam que a efetiva mudança de comportamento e ampliação do potencial do individuo, exige
que haja efetiva relação entre o que está aprendendo com a vida, ou seja, o sujeito precisa ser
capaz de reconhecer as situações em que aplicará o novo conhecimento ou habilidade. Tal fato
necessita estar baseado na maturação do individuo.

Alguns estudiosos afirmam que a aprendizagem é um processo integrado que provoca uma
transformação qualitativa na estrutura mental daquele que aprende. Essa transformação se dá
através da alteração de conduta, seja por condicionamento operante, por experiência ou ambos,
mas de forma permanente. As informações podem ser absorvidas através de técnicas de ensino
ou até pela simples aquisição de hábitos.

O ato ou vontade de aprender é uma característica essencial do psiquismo humano, pois somente
este possui o caráter intencional de aprender. Este ato pode ser dinâmico, por estar sempre em
mutação e procurar informações para o aprendiz; ou criador, por buscar novos métodos visando à
melhora da própria aprendizagem através da tentativa e do erro.

Outro conceito de aprendizagem é uma mudança relativamente duradoura do comportamento, de


uma forma sistemática, ou não, adquirida pela experiência, pela observação e pela prática
motivada. Assim o ato de aprender necessariamente deve incluir aspectos motores, emocionais,
ideativos ou mentais, pois a mudança de comportamento terá qu exige a participação total e
global do individuo para que todos os aspectos constitutivos de sua personalidade entrem em
atividade no ato de aprender, a fim de que seja restabelecido o equilíbrio vital, rompido pelo
aparecimento de uma situação problemática.

A aprendizagem só é real quando o individuo incorpora novas condutas, novas maneiras de agir e
novas maneiras de responder diante das realidades apresentadas no cotidiano. Ela deve estar
sempre presente, desde o início da vida e ser apreendida individualmente, pois a mesma é
considerada intransferível de um indivíduo para outro, já que a maneira e o próprio ritmo de
aprender variam de individuo para individuo, denominado aqui como caráter pessoal de
aprendizagem.

O processo de aprendizagem não é estanque, ele se dá de forma contínua e crescentemente


complexo, pois cada nova situação envolve maior número de elementos. Assim, cada nova
aprendizagem acresce novos elementos à experiência anterior, sendo flexível e cumulativa
levando a organização de novos padrões de comportamento, que são incorporados pelo sujeito.

Neste momento os conhecimentos gerados na história pessoal e educativa têm um papel


determinante na expectativa que o indivíduo tem, do processo e de si mesmo, nas suas
motivações e interesses, em seu autoconceito e em sua auto-estima. Para tanto fatores e
processos afetivos, motivacionais e relacionais são importantes. Assim, a função fundamental
da aprendizagem humana é interiorizar ou incorporar novos comportamentos fundamentais ao
desenvolvimento de uma aprendizagem significativa, que oportunizará ao individuo construir uma
representação de si mesmo como alguém capaz.

Para os behavioristas o homem não pode ser considerado um ser passivo. Ele organiza suas
experiências e procura lhes dar significado. Enfatiza a importância dos processos mentais do
processo de aprendizagem, na forma com se percepciona, seleciona, organiza e atribui
significados aos objetos e acontecimentos. Numa abordagem social, as pessoas aprendem
observando as outras no interior do contexto social. Nessa abordagem a aprendizagem é em
função da interação da pessoa, do ambiente e do comportamento.

Os objetivos da aprendizagem são classificados em: domínio cognitivo (ligados a conhecimentos,


informações ou capacidades intelectuais), neste o individuo tem habilidades de memorização,
compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação; domínio afetivo, (relacionados a
sentimentos, emoções, gostos ou atitudes) onde as habilidades de receptividade, respostas,
valorização, organização e caracterização são desenvolvidas; domínio psicomotor (que ressaltam
o uso e a coordenação dos músculos) garante habilidades relacionadas a movimentos básicos
fundamentais, movimentos reflexos, habilidades perceptivas e físicas e a comunicação não
discursiva.

A educação vista sobre o prisma da aprendizagem representa a vez da voz, o resgate da vez e a
oportunidade de ser levado em consideração. O conhecimento como cooperação, criatividade e
criticidade, fomenta a liberdade e a coragem para transformar, sendo que o aprendiz se torna no
sujeito ator como protagonista da sua aprendizagem.

Aprendizagem é um destes fatores. Diferentemente dos outros animais, no homem a


aprendizagem é vista como um sistema dinâmico de interação, pois é um processo, biológico,
intelectual, emocional e social.

Nos últimos anos, muitos são os estudos sobre o aprender, e o não aprender, e que direta ou
indiretamente procuram desvelar como o homem aprende. Não existe uma fonte única, capaz de
englobar os elementos fundamentais à compreensão da aprendizagem, mas acreditam-se nas
propostas que ressaltam a importância dos processos mentais superiores, sendo resultado da
interação do organismo com o meio.

Portanto, a aprendizagem tem um sentido amplo: abrange os hábitos que formamos os aspectos
de nossa vida efetiva e assimilação de valores culturais. Enfim, aprendizagem refere-se a
aspectos funcionais e resulta de toda estimulação ambiental recebida pelo individuo no decorrer
da vida, pois o ato de aprender é resultado da maturação e da experiência individual, onde
ninguém aprende senão por si e em si mesmo, pela automodificação.

1.1 EDUCAÇÃO ESCOLAR E APRENDIZAGEM.
O individuo está em constante processo de aprendizagem e de ensinamento, portanto todos os
espaços ocupados por ele possuem processos educativos. Assim, ele aprende e ensina ao mesmo
tempo, pois o fazer necessita do saber, o ser e o conviver precisam ser aprendidos a cada
momento.

Sendo a escola um dos espaços significativo de aprendizagem, ela necessita estabelecer em seu
contexto uma importante função: a de contribuir com individuo na organização de seu
pensamento a partir do conhecimento informal, da cultura até então adquirida em ambientes não-
escolares, ou seja, atuar na sistematização do conhecimento científico e na formação de
conceitos.

Para a concretização desta função o individuo não pode ser visto como sujeito passivo no qual é
depositado conhecimentos e informações, mas como um ser ativo capaz de construir novos
conhecimentos a partir de sua vivência em diferentes conceitos. O ponto crucial para esta prática
está ligado ao estimulo que se deve proporcionar ao individuo em ocupar seu lugar de sujeito
atuante na sociedade, como agente de transformação.

As teorias contemporâneas definem o conhecimento como construção de significados a partir das


relações que o sujeito estabelece entre o objeto a conhecer e sua própria capacidade de
observação, de reflexão e de informação. Ensinar é, pois, ajudar o indivíduo a construir
significados, que implicam em sua totalidade e não só nos seus conhecimentos prévios ou em sua
capacidade de estabelecer relações substantivas entre estes e o novo material de aprendizagem,
ou entre as diferentes partes deste material.

Para Garvin, (1993), uma organização de aprendizagem deve ter a habilidade de criar, adquirir e
transferir conhecimento e de modificar seu comportamento para refletir sobre novos
conhecimentos e insights, pois nas organizações de aprendizagem as pessoas não são treinadas
para exercer suas funções, mas sim educadas a desempenhar com satisfação suas atividades,
desenvolvendo o espírito de equipe e a criatividade. Nesse sentido, Paulo Freire tem contribuído
significativamente para a aprendizagem organizacional.

Entendemos, portanto, que a educação escolar deveria promover a veiculação e a construção do


chamado conhecimento pertinente que tem sua sustentação na compreensão complexa da
realidade, pois compreender a realidade significa olhá-la, analisá-la e interpretá-la com base nos
princípios organizadores do conhecimento, tendo em vista que o pensamento científico não
consegue mais elaborar explicações convincentes sobre a complexidade do real, já que se assenta
sobre saberes isolados, especializados e estanques traduzidos em disciplinas compartimentadas e
incomunicáveis entre si.

O conhecimento pertinente, portanto, não é algo situado fora do individuo e que ele simplesmente
adquire, nem algo que ele constrói independentemente da realidade e dos demais indivíduos, é
antes, uma construção histórica e social na qual interferem fatores de ordem cultural e
psicológica. Por este motivo, a educação escolar deve ser vista como um processo de atuação de
uma comunidade sobre o desenvolvimento do indivíduo a fim de que ele possa atuar numa
sociedade pronta para a busca da aceitação dos objetivos coletivos.

Neste contexto, a escola deve buscar mecanismos que a configure como uma organização
efetivamente significativa, inovadora e empreendedora, e os/as alunos/as devem ser
considerados/as no plano físico e intelectual consciente das possibilidades e limitações, capaz de
compreender e refletir sobre a realidade do mundo que o/a cerca, devendo considerar seu papel
de transformação social, buscando solidariedade entre as pessoas, respeitando as diferenças
individuais de cada um.

Não dá pra negar que a escola tem papel imprescindível dentro da proposta de formação humana,
para isso deve preocupar-se não apenas com o conteúdo em si, com o repasse do conhecimento
existente para os/as alunos/as, mas sim de promover a mediação da construção de
conhecimentos. Isto requer que antecedendo a escolha do método de ensino, que deve estar
atrelado à visão de educação do professor, ela deve compreender o comprometimento dos atores
do processo de ensino-aprendizagem (professores/as e alunos/as) com um tipo de educação que
colabore com a libertação e emancipação do homem, através de sua conscientização para a
construção de uma sociedade mais digna e justa.

Segundo Charlot (2000), aprender é exercer uma atividade em uma situação, em um local, em
um momento da sua história e em condições de tempo diversos, com a ajuda de pessoas que
ajudam a aprender. A relação com o saber é relação com o mundo, em um sentido geral, mas é,
também, relação com esses mundos particulares. O autor considera que os indivíduos aprendem
porque têm oportunidades para tal, em um momento em que estão disponíveis para aproveitá-
las.

Para atender as exigências do processo de aprendizagem escolar, os propósitos da escola em


relação ao conhecimento devem ser repensados, e redirecionados os rumos até então encarados
como viáveis para a construção do conhecimento. É necessário transformar a escola numa
instância mediadora e facilitadora da aprendizagem, revendo constantemente as metodologias de
ensino e as estratégias didáticas utilizadas para que o aluno aprenda a aprender, aprenda a
conhecer, enfim, aprenda a pensar bem.

Freire e Shor (1997, p. 18) esclarecem esta questão de forma muito convincente:

[…] se observarmos o ciclo do conhecimento, podemos perceber dois momentos, e não mais do
que dois, dois momentos que se relacionam dialeticamente. O primeiro momento do ciclo, ou um
dos momentos do ciclo, é o momento da produção, da produção de um conhecimento novo, de
algo novo. O outro momento é aquele em que o conhecimento produzido é conhecido ou
percebido. Um momento é a produção de um conhecimento novo e o segundo é aquele em que
você conhece o conhecimento existente. O que acontece, geralmente, é que dicotomizamos esses
dois momentos, isolamos um do outro. Consequentemente, reduzimos o ato de conhecer do
conhecimento existente a uma mera transferência do conhecimento existente.

O processo da aprendizagem escolar deve considerar a apropriação dos conceitos na perspectiva


do senso comum supondo um novo respeito a algumas utilizações habituais do conceito de
aprendizagem e colocando novas e apaixonantes questões sobre os mecanismos através dos
quais a influência educacional é exercida, isto é, sobre os mecanismos que possibilitam que o
professor ensine e que o aluno aprenda e construa o seu próprio conhecimento, e que ambos
cheguem a compartilhar, em maior ou menor grau, o significado e o sentido do que fazem.

Ferreiro & Garcia (2000), afirmam que as noções científicas foram inicialmente extraídas das
noções do sentido comum, e a pré-história dessas noções espontâneas e comuns pode
permanecer para sempre desconhecida. Legitima-se então a relação entre o método histórico-
crítico e o psicogenético, entre a comparação natural e o científico.  A aprendizagem é
condicionada, de um lado, por sua estrutura cognitiva – seus esquemas de conhecimento que
englobam tanto o nível da organização do pensamento como os conhecimentos e experiências
prévias e, de outro lado, pela interação com outros indivíduos.

O processo de ensino e aprendizagem deve sempre contar com o enfoque social capaz de
provocar discussões pedagógicas sobre inúmeros aspectos de extrema relevância, em particular
no que se refere à maneira de entender as relações entre desenvolvimento e aprendizagem, à
importância da relação interpessoal, à relação entre cultura e educação e ao papel da ajuda
educativa ajustada à situação e às características que, cada momento, está presentes na
atividade mental construtiva do aluno.

Tapia e Fita (2003), afirmam que a aprendizagem implica uma interação do/a aluno/a com o
meio, propiciando-lhe condições de captar e processar os estímulos provenientes do exterior, os
quais, por sua vez, foram selecionados, organizados e seqüenciados pelo/a professor/a. Assim,
por meio da aprendizagem, o/a aluno/a altera seu estado inicial, tornando-se capaz de manter
uma conduta com vistas a realizar algo que antes não podia ou não sabia fazer.

Para que a escola possa desempenhar adequadamente este papel, é necessário que a mesma
despoje de muitas das conotações que foram se acumulando de forma sub-reptícia e desenvolva
concomitantemente outras que até o momento foram escassamente levadas em consideração.
Pois ela precisa, de forma concreta, atender tanto ao sentido como ao significado da
aprendizagem escolar; renunciar às conotações mais individualistas do processo de construção de
significados e sentidos; e, por último, recituar este processo de construção no contexto de relação
interpessoal que é intrínseco ao ato de ensino.

Segundo César Coll (1994), na aprendizagem escolar devem estar presente conteúdos
significativos, estruturados e com uma lógica intrínseca, pois ao contrário dificilmente o/a aluno/a
compreenderá os mesmos e tão pouco será capaz de construir novos conhecimentos a partir
deles. Assim, se o projeto educacional exige ressignificar o processo de ensino e aprendizagem, é
preciso preocupar-se em preservar o desejo de conhecer e de saber com que conhecimento todas
as crianças chegam à escola, manter a boa qualidade do vinculo com esse conhecimento e não
destruí-lo com o fracasso reiterado, garantindo experiências de sucesso, mas sem omitir ou
disfarçar o fracasso.

Fundamentações teóricas direcionadas a compreensão sobre o desenvolvimento cognitivo e a


forma pela qual os/as alunos/as constroem o conhecimento, foram fornecidas pela psicologia
genética. Por isso é de grande importância um desenvolvimento sadio que propicie uma
aprendizagem de qualidade, pois a aprendizagem escolar trará o conhecimento e a criança terá a
oportunidade de se transformar em um ser mais autônomo, pensante, independente e
protagonista de sua própria história, onde possa ser respeitado e capaz de dar a sua opinião a
favor ou contra algo, embasado em sua história de vida e naquilo que acredita ser verdadeiro e
essencial.

Entendamos assim o processo de aprendizagem na perspectiva apontada por Meirieu: a interação


entre as informações e o projeto não se inicia na escola, nem nas situações de aprendizagem
formalizadas; ela existe desde muito cedo e faz com que a criança, ao chegar à sala de aula,
como o adulto em nível de formação, disponha de toda uma série de conhecimentos, o/a
professor/a, dentro desta perspectiva deverá ser o mediador do processo de busca de
conhecimento, organizando e coordenando as situações de aprendizagem, adaptando suas
intervenções às características individuais dos/as alunos/as para desenvolver suas capacidades e
habilidades intelectuais.

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