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Desenvolvimento

Humano

Mónica Costa – UTAD


2022/2023
Teoria e Pesquisa
▪ Teoria científica do desenvolvimento – conjunto coerente de conceitos
logicamente relacionados que procura organizar, explicar e prever dados/os
tipos de comportamento que poderiam ocorrer em certas condições. Teorias
organizam e explicam dados, que são as informações reunidas pela
pesquisa/investigação.

Teoria

Pesquisa
Hipóteses - Possíveis
explicações para
Hipóteses fenómenos usadas para
prever o resultado da 2
pesquisa
Questão 1: O desenvolvimento é ativo ou reativo?

As pessoas são ativas ou reativas no seu próprio desenvolvimento?

Séc. XVIII

Filósofo inglês John Locke Filósofo francês Jean Jacques


- criança pequena é uma Rousseau - crianças nascem
tabula rasa – uma “tela Visões simplistas como “bons selvagens” que se
em branco” – onde a desenvolvem de acordo
sociedade “se inscreve”. com as suas próprias tendências
naturais positivas, se não forem
corrompidas pela sociedade.

As crianças possuem impulsos e necessidades internas que


influenciam o desenvolvimento, mas também são animais sociais que 3
não podem ter um desenvolvimento ideal isoladamente
Modelo mecanicista (visão de Locke)
▪ Modelo que vê o desenvolvimento humano como uma série de
respostas previsíveis a estímulos.
▪ Nesse modelo, as pessoas são como máquinas que reagem a estímulos
ambientais.
▪ Uma máquina é a soma das suas partes. Para entendê-la, podemos
desmontá-la em componentes e depois montá-la novamente.
▪ Máquinas não funcionam sozinhas; reagem automaticamente a forças
ou a entrada de dados.
▪ O comportamento humano resulta da operação de partes biológicas
em resposta a estímulos externos ou internos.
Identificar os fatores que fazem os indivíduos se 4
comportarem do modo como se comportam
Modelo organicista (visão de Rousseau)

▪ Modelo que vê o desenvolvimento humano como algo iniciado internamente por um


organismo ativo e que ocorre numa sequência de etapas qualitativamente diferentes.
▪ Entende as pessoas como organismos ativos no crescimento que põem em marcha o seu
próprio desenvolvimento.
▪ Iniciam eventos, e não reagem apenas. Assim, a força que impulsiona a mudança é interna.
▪ Influências ambientais não causam o desenvolvimento, embora possam acelerá-lo ou
desacelerá-lo.
▪ Como o comportamento humano é visto como um todo orgânico, não pode ser previsto
subdividindo-o em simples respostas à estimulação ambiental.
▪ Descrevem o desenvolvimento após o nascimento como uma sequência progressiva de
estágios em direção à plena maturação

Tipos de situação que escolhem participar, e com quem. 5


“Eles escolhem amigos que preferem ir a festas ou que preferem estudar?”
Questão 2: O desenvolvimento é contínuo ou
descontínuo?

Como descreveria o
comportamento humano

?
Contínuo ou descontínuo

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Questão 2: O desenvolvimento é contínuo ou
descontínuo?
▪ Desenvolvimento contínuo ▪ Desenvolvimento descontínuo
▪ Gradual e cumulativo (desde o início da ▪ Abrupto ou irregular (crescimento por
vida até ao final - continuidade) etapas distintas, cada uma com as suas
dificuldades, mudanças e características
peculiares – descontinuidade)
Teóricos mecanicistas ▪ Consideram o desenvolvimento por
etapas e defendem que muitos
▪ O desenvolvimento é contínuo, como acontecimentos chave (começar a andar,
andar e escalar uma rampa. Nos modelos aprender a falar,..) indicam o início de
mecanicistas, o desenvolvimento é uma nova etapa. Defendem, ainda, que
sempre governado pelos mesmos estes acontecimentos mudam o indivíduo
processos, permitindo a previsão de de forma bastante repentina.
comportamentos posteriores a partir dos 7
anteriores. Teóricos organicistas
Questão 2: O desenvolvimento é contínuo ou
descontínuo?
▪ Os teóricos mecanicistas tratam ▪ Os teóricos organicistas enfatizam a mudança
da mudança quantitativa – qualitativa – mudanças de tipo, estrutura ou
organização. A mudança qualitativa é descontínua: é
mudanças de número ou de
marcada pela emergência de novos fenômenos.
quantidade, como altura, peso,
tamanho do vocabulário ou
frequência da comunicação.
▪ Desenvolvimento ocorre por estágios distintos. Em cada
estágio, as pessoas lidam com diferentes tipos de
problemas e desenvolvem diferentes tipos de
habilidades. Cada estágio começa a partir do anterior e
prepara o caminho para o seguinte. Para os organicistas,
esse desdobramento da estrutura do desenvolvimento é
universal: todos atravessam os mesmos estágios na
mesma ordem, embora o momento preciso seja variável.
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Perspetivas teóricas
▪ As teorias geralmente abrangem amplas perspetivas que enfatizam diferentes tipos de
processos de desenvolvimento e assumem diferentes posições sobre as questões
anteriores. Essas perspetivas influenciam as perguntas feitas pelos pesquisadores, os
métodos que eles usam e o modo de interpretar os dados. Para avaliar e interpretar a
pesquisa, é importante reconhecer a perspetiva teórica em que ela se baseia.

▪ Cinco grandes perspetivas sustentam boa parte das teorias influentes e da pesquisa
sobre o desenvolvimento humano:

▫ (1) psicanalítica, que se concentra nas emoções e nos impulsos inconscientes;


▫ (2) aprendizagem, que estuda o comportamento observável;
▫ (3) cognitiva, que analisa os processos do pensamento;
▫ (4) contextual, que enfatiza o impacto do contexto histórico, social e cultural;
▫ (5) evolucionista/sociobiológica, que considera as bases evolucionistas e biológicas do 9
comportamento.
Perspetiva 1: Psicanalítica

Origens

Final do séc. XX Contra esta corrente

As pessoas são Intelectuais europeus


governadas pela começam a desenvolver uma
razão explicação para o
comportamento humano que
As crianças são ressalta o poder controlador
“inocentes” sem das forças emocionais e o
sentimento sexual papel subordinado da razão
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Perspetiva 1: Psicanalítica

▪ Esta teoria denota as forças inconscientes que fundamentam (por trás)


o comportamento humano/O desenvolvimento é moldado por forças
inconscientes que motivam o comportamento humano.

▪ Essas forças são as bases para configurar os estágios universais do


desenvolvimento.

▪ A psicanálise, o método terapêutico desenvolvido por Freud, procura


favorecer nos pacientes a compreensão sobre os seus conflitos
emocionais inconscientes, fazendo-lhes perguntas destinadas a evocar
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lembranças há muito esquecidas.
Perspetiva 1: Psicanalítica

Origens

Sigmund Freud (médico vienense)


Dividiu a personalidade em três componentes hipotéticos: id, ego e
superego. Para Freud, a personalidade forma-se através dos
conflitos inconscientes da infância entre os impulsos inatos do id e as
exigências da sociedade. Esses conflitos ocorrem em uma sequência
invariável de cinco fases de desenvolvimento psicossexual.
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Fases de desenvolvimento psicossexual

Fases Idade Zona erógena Características

0 – 12-18
Oral Boca A boca é a principal fonte de prazer.
meses
12-18 meses – Prazeres relacionados com o controlo e autocontrolo –
Anal Ânus - esfíncteres
3 anos relacionado com a defecação e controlo dos esfíncteres.
O prazer provem da estimulação genital e o interesse nas
diferenças físicas entre os sexos leva ao desenvolvimento da
identidade e orientação sexual. Os meninos desenvolvem
apegos sexuais às mães e as meninas aos pais, ao mesmo tempo
Fálica 3 – 6 anos Genitais
em que apresentam impulsos agressivos pelo genitor do mesmo
sexo, a quem eles consideram como um rival. Esses eventos
foram denominados de Complexo de Édipo e Complexo de
Electra, respetivamente.
Período de relativa tranquilidade emocional e exploração
intelectual e social. Redirecionam a sua energia sexual para
Período de 6–à
Nenhuma zona outros fins, como a escola, os relacionamentos e os hobbies.
latência puberdade
Esta etapa está relacionada com o surgimento da vergonha e
pudor relacionados com a sexualidade.
O indivíduo inicia uma etapa psicossexual final, caracterizada
Puberdade à Maturação dos
Genital por interesses sexuais maduros. Esta etapa prolonga-se ao
idade adulta interesses sexuais
longo de toda a vida adulta.
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Fixação - uma interrupção no desenvolvimento que pode aparecer na personalidade adulta (pouca ou muita
Instâncias da personalidade

Super
ID Ego
ego

Surge no momento em que os


Presente no nascimento Desenvolve-se gradualmente durante filhos começam a se identificar
o primeiro ano de vida. com os valores morais dos seus
É a fonte dos nossos Representa a razão (aspeto racional pais (fase fálica).É uma
impulsos inconscientes da personalidade). consciência implacável que
para a satisfação das O objetivo do ego é encontrar distingue o bem do mal em
maneiras realistas de gratificar o id termos moralistas irrealistas.
nossas necessidades e
O seu objetivo é atingir a
desejos. que sejam aceitáveis para o superego perfeição e manter o id sob
(papel mediador entre os impulsos do controlo. É altamente
Busca satisfação ID e as exigências do superego). Luta exigente; se os seus padrões
imediata. também por manter controlada outra não forem satisfeitos, a
força irracional: superego. criança pode sentir-se culpada
e ansiosa.

Funciona de acordo Funciona de acordo


com o princípio do com o princípio da Moral
prazer realidade
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Teoria do Desenvolvimento Psicossocial

▪ Erik Erikson (1902-1994), psicanalista alemão que originalmente fez


parte do círculo de Freud em Viena, modificou e ampliou a teoria
freudiana, enfatizando a influência da sociedade no desenvolvimento
da personalidade.

▪ Erikson foi também um pioneiro ao assumir a perspetiva do ciclo de


vida.

▪ Enquanto Freud sustentava que as primeiras experiências na infância


moldavam permanentemente a personalidade, Erikson afirmava que o
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desenvolvimento do ego se estende por toda a vida.
Teoria do Desenvolvimento Psicossocial

▪ Desenvolvimento psicossocial - Na teoria dos oito estágios de Erikson,


o processo de desenvolvimento do ego, ou self, é influenciado por
fatores sociais e culturais.

Abrange oito estágios ao longo do ciclo de vida

Cada um caracteriza-se por uma dificuldade concreta, crise (mais


tarde conflito ou tendências competitivas) - um grande tema
psicossocial, particularmente importante naquele momento/que
é primordial na etapa de vida em questão e que deve ser 16
resolvida.
Teoria do Desenvolvimento Psicossocial

▪ Esses problemas, que emergem segundo um cronograma maturacional, devem ser


satisfatoriamente resolvidos para o desenvolvimento de um ego saudável.
▪ Cada estágio requer o equilíbrio entre uma tendência positiva e uma tendência
negativa correspondente.
▪ A qualidade positiva deve ser dominante, mas também é necessário um pouco da
qualidade negativa para um desenvolvimento ideal.
▪ “O tema crítico da primeira infância, por exemplo, é confiança básica versus
desconfiança. É preciso confiar no mundo e nas pessoas. No entanto, também é
preciso um pouco de desconfiança para se proteger do perigo”.
▪ O êxito em cada estágio é o desenvolvimento de uma determinada virtude, ou
força – nesse caso, a virtude da esperança. Uma solução bem-sucedida para uma
crise deixa o indivíduo em boa posição para lidar com a próxima. 17
Teoria do Desenvolvimento Psicossocial
▪ As cinco primeiras etapas estão muito relacionadas com as etapas de Freud. As
três restantes representam a principal diferença entre ambas as abordagens.

▪ Em vez de se centrar numa parte do corpo, cada uma das etapas de Erikson
centra-se na relação da pessoas com o contexto social (teoria psicossocial). É
importante devido à sua ênfase nas influências sociais e culturais e no
desenvolvimento para além da adolescência. Talvez ele seja mais conhecido pelo
seu conceito de crise da identidade, que tem produzido muita pesquisa e debates
públicos.

▪ Nesta teoria, a resolução de cada crise de desenvolvimento depende da interação


entre as características do indivíduo e o apoio proporcionado pelo contexto social.
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Estágios de desenvolvimento

Fases psicossexuais (Freud) Estágios psicossociais (Erikson)

Confiança básica versus desconfiança (nascimento aos 12-18 meses). O bebê


Oral (nascimento aos 12-18 meses). A principal fonte de prazer do
desenvolve o senso de perceber se o mundo é um lugar bom e seguro. Virtude:
bebê envolve atividades ligadas à boca (sugar e alimentar-se).
esperança.

Anal (12-18 meses aos 3 anos). A criança obtém gratificação sensual Autonomia versus vergonha e dúvida (12-18 meses aos 3 anos). A criança
retendo e expelindo as fezes. A zona de gratificação é a região anal, e desenvolve um equilíbrio de independência e auto-suficiência em relação à
o treinamento para o uso do toalete é importante. vergonha e à dúvida. Virtude: vontade.

Fálica (3 a 6 anos). A criança se apega ao genitor do sexo oposto e,


posteriormente, se identifica com o progenitor do mesmo sexo. O Iniciativa versus culpa (3 aos 6 anos). A criança desenvolve a iniciativa quando
superego se desenvolve. A zona de gratificação transfere-se para a experimenta novas atividades e não é dominada pela culpa. Virtude: propósito.
região genital.

Produtividade versus inferioridade (6 anos à puberdade). A criança deve


Latência (6 anos à puberdade). Época de relativa calma entre fases
aprender as habilidades da cultura ou enfrentar sentimentos de incompetência.
mais turbulentas.
Virtude: habilidade.

Identidade versus confusão de identidade (puberdade ao adulto jovem). O


Genital (puberdade à idade adulta). Ressurgimento dos impulsos adolescente deve determinar o seu próprio senso de eu (“quem sou eu?”) ou
sexuais da fase fálica, canalizados na sexualidade adulta madura experimentar uma confusão de papéis. Virtude: fidelidade.
Intimidade versus isolamento (adulto jovem). A pessoa procura estabelecer
compromissos com os outros; se não for bem-sucedida, poderá sofrer isolamento
e autoabsorção. Virtude: amor.
Generatividade versus estagnação (vida adulta intermediária). O adulto maduro
preocupa-se em estabelecer e orientar a próxima geração, ou então sente um
empobrecimento pessoal. Virtude: cuidado.
Integridade versus desespero (vida adulta tardia). O idoso alcança a aceitação
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da própria vida, o que favorece a aceitação da morte, ou então desespera com a
incapacidade de reviver a vida. Virtude: sabedoria.
Desenvolvimento
Humano

Mónica Costa – UTAD


2022/2023

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