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Perspectivas

teóricas sobre o
desenvolvimento
Prof. Dra. Morgana Queiroz
Estudos Transculturais

Margaret Mead (1901-1978) foi uma antropóloga norte-


americana mundialmente famosa. Passou nove meses na ilha
de Samoa, no Pacífico Sul, estudando a adaptação das
meninas à adolescência. Seu primeiro livro. Atingindo à
Maioridade em Samoa, contestava a visão aceita sobre a
inevitabilidade da rebeldia adolescente.
Estudos Transculturais

"Fui a Samoa - assim como, mais tarde, fui conhecer


outras sociedades sobre as quais realizei um trabalho - para
descobrir mais sobre os seres humanos, seres humanos como
nós em tudo, exceto em cultura. Através dos acidentes da
história, essas culturas desenvolveram-se de uma forma tão
diferente da nossa, que nosso conhecimento delas poderia
lançar uma espécie de luz sobre nós, sobre nossas
potencialidades e nossas limitações" (Mead, 1972, p. 293)
Pesquisa e ciência

Os estudos transculturais levantam alguns pontos sobre o desenvolvimento:

→ O estudo das pessoas não é seco, abstrato ou esotérico. Ele lida com a substância da
vida real.
→ uma perspectiva transcultural pode revelar quais padrões de comportamento são
universais - se existirem - e quais não o são.
→ Teoria e pesquisa são dois lados da mesma moeda. À medida que refletia sobre suas
próprias experiências e observava o comportamento dos outros, Mead constantemente
formulava explicações possíveis de serem testadas em futuras pesquisas.
→ Embora o objetivo da ciência seja obter conhecimento verificável através de investigação
imparcial e sem preconceitos, a ciência do desenvolvimento não pode ser totalmente
objetiva.
Questões Teóricas Básicas
O modo como os teóricos explicam o
desenvolvimento depende, em parte, do modo
como encaram três questões básicas:

● O peso relativo dado à hereditariedade e ao


ambiente;

● Se as pessoas são ativas ou passivas em seu


próprio desenvolvimento;

● Se o desenvolvimento é contínuo, ou ocorre em


etapas;
1. Herdabilidade e
Ambiente
Quanto é herdado? Quanto é influenciado pelo ambiente?
Herança Ambiente
A pesquisa em relação a quase todas as características aponta para uma mescla de herança e
experiência. Assim, ainda que a inteligência tenha um forte componente hereditário, os fatores
estimulação dos pais, educação, influência dos amigos e outras variáveis fazem a diferença. muitos
teóricos e pesquisadores contemporâneos estão mais interessados em descobrir modos de explicar
como elas interagem ou funcionam juntas.
2. O Desenvolvimento É Ativo ou Passivo?

Modelo mecanicista Modelo organísmico


As pessoas são como máquinas As pessoas são como organismos
que reagem ao que lhes chega do ativos em crescimento que põem em
ambiente. As pesquisa mecanicista marcha seu próprio desenvolvimento. O
procura identificar e isolar os fatores ímpeto para a mudança é interno. As
que fazem as pessoas comportarem-se influências ambientais não causam
- ou reagirem - do modo como o fazem. desenvolvimento, embora possam
acelerá-lo ou retardá-lo.

(Pepper, 1942,1961)
3. O Desenvolvimento é Contínuo,
ou ocorre em Etapas?
Modelo mecanicista Modelo organísmico
Predição de comportamentos Em cada etapa, as pessoas lidam
posteriores a partir de comportamentos com diferentes tipos de problemas e
anteriores. desenvolvem diferentes tipos de
capacidades.
Modelos mecanicista Modelo organísmico
Perspectivas teóricas
01 02 03
Psicanalítica Aprendizagem Humanista
Emoções e pulsões Comportamento Controle das pessoas sobre seu
inconscientes observável desenvolvimento

04 05 06
Cognitiva Etológica Contextual
Análise dos processos de Bases evolucionistas do O impacto do contexto
pensamento comportamento histórico, social e cultural
1. Perspectiva Psicanalista

Teoria psicossexual de Freud Teoria psicossocial de Erikson

O comportamento é controlado por A personalidade é influenciada pela


poderosos impulsos inconscientes. sociedade e desenvolve-se através de uma
série de crises.
Teoria psicossocial de Erikson
2. Perspectiva da Aprendizagem

Behaviorismo ou teoria da aprendizagem


Teoria da aprendizagem social
tradicional
(sociocognitiva) (Bandura)
(Pavlov, Skinner, Watson)

As pessoas são reativas; o ambiente As crianças aprendem em um contexto social


controla o comportamento. pela observação e imitação de modelos; a pessoa
contribui ativamente para a aprendizagem.
3. Perspectiva Humanista

Teoria da auto-realização de Maslow: As pessoas têm a capacidade de tomar conta de suas


vidas e promover seu próprio desenvolvimento.
4. Perspectiva Cognitivista

Teoria dos estágios cognitivos de Piaget Teoria do processamento de informações.

Mudanças qualitativas no pensamento


ocorrem entre a primeira infância e a
Seres humanos são processadores de símbolos.
adolescência. Pessoa desencadeia
ativamente o desenvolvimento.
Perspectiva da Neurociências
Cognitiva
Estudo do cérebro, sua estrutura e sistemas de funcionamento e como ele sustenta
as atividades mentais relacionadas à cognição, no processo de desenvolvimento.
5. Perspectiva Etológíca
Teoria do apego de Bowlby e Ainsworth: Os seres humanos possuem mecanismos para
sobreviver; dá-se ênfase aos períodos críticos ou sensíveis e para as bases biológicas e
evolucionistas para o comportamento e predisposição para a aprendizagem são importantes.
6. Perspectiva Contextual

Teoria bioecológica de Bronfenbrenner Teoria sociocultural de Vygotsky

O desenvolvimento ocorre através da


interação entre uma pessoa em O contexto sociocultural da criança tem
desenvolvimento e cinco sistemas contextuais importante impacto sobre o desenvolvimento..
de influências circundantes, interligados, do Zona de desenvolvimento proximal
microssistema ao cronossistema.
Teoria Bioecológica de Bronfenbrenner
Questões de fixação
1. Quais os pressupostos dos modelos mecanicistas sobre o desenvolvimento?
2. Enumere as seis perspectivas teóricas sobre o desenvolvimento humano?
3. Qual o principal interesse da perspectiva psicanalítica?
4. Quais as contribuições da teoria cognitiva de Piaget para o estudo do
desenvolvimento?
Pesquisa Científica no
campo do desenvolvimento
Memória e envelhecimento

Durante o envelhecimento, as habilidades cognitivas sofrem alterações e a incapacidade de monitorar


efetivamente essas mudanças pode ter consequências negativas. Dentro desse contexto, o surgimento de queixas
subjetivas de memória pode indicar a existência de um possível declínio no funcionamento cognitivo. Com o
objetivo de investigar a acurácia do monitoramento metacognitivo durante o processo de envelhecimento,
avaliamos o desempenho de adultos jovens, adultos de meia idade e adultos mais velhos ao realizarem tarefas de
memória. Todos os participantes realizaram uma tarefa experimental, na qual foram instruídos a estudar imagens
neutras apresentadas na tela do computador. Deveriam ainda fornecer um julgamento de aprendizagem para cada
imagem, em uma escala que variou entre 1 e 10. A fase de teste foi composta por uma tarefa de reconhecimento,
julgamento de confiança para a resposta. Os resultados revelaram um menor desempenho dos adultos mais
velhos para reconhecer corretamente as imagens estudadas, assim como maiores estimativas de confiança para os
erros e alarmes falsos, em comparação aos adultos mais jovens. A acurácia dos julgamentos de aprendizagem
não diferiu entre os grupos. A partir do conjunto de dados, concluímos que, assim como o declínio na memória
episódica, o monitoramento metacognitivo é influenciado pela idade e já podem ser observados prejuízos em
faixa-etárias intermediárias. Concluímos, ainda, que as queixas de memória relatadas pelos participantes desse
estudo não se correlacionam com o desempenho objetivo, sendo mais bem explicadas pelos escores na escala de
ansiedade.
Palavras-chave: Metacognição, Memória episódica, Julgamento de Aprendizagem, Julgamento de confiança,
O Idoso em Quarentena e o Impacto da Tecnologia em sua Vida

Em 2020, a sociedade foi assolada pela presença de uma epidemia que trouxe uma série de
consequências econômicas, políticas e sociais em todo o mundo. No Brasil, os impactos se fizeram
sentir a partir dos primeiros meses do ano, quando foram identificados sintomas da epidemia em
algumas regiões, levando a mudanças significativas para a vida coletiva, principalmente para a
população idosa, considerada como de maior risco. A proposta deste estudo é trazer para a
discussão a percepção de idosos sobre o isolamento social, causado pela pandemia Covid-19. O
estudo de natureza exploratória qualitativa fez uso do método descritivo para tratar as informações
registradas pelos idosos, sobre o tema. Os relatos analisados mostram as percepções das
primeiras semanas de isolamento e os sentimentos decorrentes, evidenciando as dificuldades
acerca da mudança de hábitos, de impactos diretos do isolamento como a redução do contato com
outras pessoas e o aumento do uso das tecnologias.

Palavras-chave: Sociabilidade, Isolamento Social, Idoso, Pandemia Covid-19.


Pesquisa quantitativa
Baseia-se no método científico, que
tradicionalmente tem caracterizado a maior parte da investigação. Suas etapas usuais
são:
1. identificação do problema a ser estudado, geralmente com base numa teoria ou
pesquisa prévia;
2. formulação de hipóteses a serem testadas pela pesquisa;
3. coleta de dados;
4. análise estatística dos dados para determinar se sustentam a hipótese
5. Formulação de conclusões provisórias; e
6. divulgação dos resultados, de modo que outros observadores possam verificá-los,
conhecê-los, analisá-los, repeti-los e aproveitá-los.
Memória e envelhecimento

Durante o envelhecimento, as habilidades cognitivas sofrem alterações e a incapacidade de monitorar


efetivamente essas mudanças pode ter consequências negativas. Dentro desse contexto, o surgimento de queixas
subjetivas de memória pode indicar a existência de um possível declínio no funcionamento cognitivo. Com o
objetivo de investigar a acurácia do monitoramento metacognitivo durante o processo de envelhecimento,
avaliamos o desempenho de adultos jovens, adultos de meia idade e adultos mais velhos ao realizarem tarefas de
memória. Todos os participantes realizaram uma tarefa experimental, na qual foram instruídos a estudar imagens
neutras apresentadas na tela do computador. Deveriam ainda fornecer um julgamento de aprendizagem para cada
imagem, em uma escala que variou entre 1 e 10. A fase de teste foi composta por uma tarefa de reconhecimento,
julgamento de confiança para a resposta. Os resultados revelaram um menor desempenho dos adultos mais
velhos para reconhecer corretamente as imagens estudadas, assim como maiores estimativas de confiança para os
erros e alarmes falsos, em comparação aos adultos mais jovens. A acurácia dos julgamentos de aprendizagem
não diferiu entre os grupos. A partir do conjunto de dados, concluímos que, assim como o declínio na memória
episódica, o monitoramento metacognitivo é influenciado pela idade e já podem ser observados prejuízos em
faixa-etárias intermediárias. Concluímos, ainda, que as queixas de memória relatadas pelos participantes desse
estudo não se correlacionam com o desempenho objetivo, sendo mais bem explicadas pelos escores na escala de
ansiedade.
Palavras-chave: Metacognição, Memória episódica, Julgamento de Aprendizagem, Julgamento de confiança,
Pesquisa quantitativa
Contrastando com a, a pesquisa qualitativa é mais flexível e informal e menos
estruturada e sistemática. Em vez de gerar hipóteses a partir de pesquisas anteriores,
como geralmente fazem os pesquisadores quantitativos, os pesquisadores qualitativos
podem reunir e examinar um grande volume de dados para ver quais são as hipóteses
que porventura surgirão, e talvez até mesmo mudar seus métodos no meio do caminho
para acomodar descobertas emergentes.
Hipóteses
.
❖O desempenhos dos pelos adultos mais velhos será menor em comparação aos adultos
mais jovens e de meia idade.

❖ Os julgamentos de aprendizagem fornecidos pelos adultos mais velhos serão menos


precisos em comparação aos julgamentos estimados pelos adultos mais jovens e de meia
idade

❖ Entretanto, os itens acompanhados por julgamentos de aprendizagem elevados terão maior


chance de serem reconhecidos no teste de memória para todos os grupos.

❖ Os itens acompanhados por julgamentos de aprendizagem altos terão maior chance de


serem reconhecidos com alta confiança.
Variáveis
◈ variável independente é algo sobre o qual o experimentador tem controle direto.

◈ Uma variável dependente é algo que pode ou não se alterar como resultado de
mudanças na variável independente; em outras palavras, ela depende da variável
independente.

ENVELHECIMENTO

O desempenhos dos pelos adultos mais velhos será menor em


comparação aos adultos mais jovens e de meia idade.

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Métodos – Estudo 1
A amostra deve representar
Amostra adequadamente a população em estudo;

❖ Adultos jovens (18 – 39): 28.4; DP = 5.6 Seleção randômica ou aleatória


82 voluntários; 42 mulheres, 16.7 anos de estudo; DP=3.84 ou amostras selecionadas
por conveniência ou
acessibilidade
❖ Adultos de meia idade (40 – 59): 51.8; DP = 6.4
41 voluntários; 28 mulheres; 16.4 anos de estudo; DP = 5.25

❖ Adultos mais velhos (60 +): 67.3; DP = 5.3


41 voluntários; 25 mulheres; 10.9 anos de estudo; DP= 5.5

(Anstey et al., 2014)


Métodos - Estudo 1
Google Form
❖ Termo de consentimento livre e esclarecido
❖ Questionário Sociodemográfico

PAVLOVIA - (Repositório online do Psychopy )


❖ Tarefa Experimental

Observação laboratorial

Autorrelato: diário, relatos


visuais, entrevista ou questionário
Métodos - Estudo 1
Material

❖ Psychopy (versão 1.90)

❖ Estímulos – BOSS base de dados


❖ 100 imagens neutras
❖ Familiaridade > 3.8
➢ 50 Fase de estudo
➢ 50 itens novos

(Santos, Justi, Buratto, Oliveira, & Jaeger, 2019)


Tarefa Experimental

RECONHECIMENTO
CONFIANÇA
MEMÓRIA PARA FONTE

Medidas de comportamento e
de desempenho
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Definição operacional
Ao medir uma característica como a inteligência, é importante definir exatamente
o que deve ser medido, de modo que os outros pesquisadores entendam e possam repetir o
experimento e comentar os resultados. Para isso, os pesquisadores usam uma definição
operacional – uma definição enunciada apenas em termos das operações ou procedimentos
utilizados para produzir ou medir um fenômeno.

36
Análise de dados

37
38
Tipos de estudos

39
Ética na pesquisa
Diretrizes da American Psychological Association (APA, 2002) incluem questões como: Consentimento
informado, proteger os participantes de danos e perda da dignidade, garantir a privacidade e o sigilo,
direito a recusar ou a se retirar de um experimento a qualquer momento e a responsabilidade dos
pesquisadores em corrigir quaisquer efeitos indesejáveis, como ansiedade e vergonha.

1. Beneficência;
2. Respeito;
3. Justiça;
Questões de fixação

1. Quais as características da pesquisa qualitativa e quantitativa?


2. Cite 2 métodos da pesquisa quantitativa;
3. Qual a importância de relatar os procedimentos da pesquisa?
Resultados
Tarefa de reconhecimento
❖ Acertos

Adultos jovens > Adultos mais velhos


b = 0.50; Exp (b)= 1.66

p = 0.002; d = 0.67
Resultados
Magnitude do JOL :
❖ Os grupos não diferiram significativamente.

O julgamento de aprendizagem prediz o


desempenho nas tarefas de memória?

Adultos jovens: b=.12; Exp (b) = 1.13


Adultos de meia idade: b=.11; Exp (b) = 1.12
Adultos mais velhos: b=.11; Exp (b) = 1.11
Resultados
Memória para Fonte
Jovens X A. de meia-idade BF01 = 3,37,
A. de meia-idade X A. mais velhos BF01 = 3,92
jovens X adultos mais velhos BF01 = 1,79
Resultados
Julgamento de confiança:

Rejeições corretas:
Adultos jovens < Adultos mais velhos
(p = 0.04)

Erros;
Adultos jovens < Adultos mais velhos
(p < 0.001)

Alarme Falso
Adultos jovens < Adultos mais velhos
(p < 0.001)
Adultos jovens < Adultos de meia idade
(p = 0.04)
Sumário de resultados
1. Declínio no desempenho de adultos mais velhos em comparação aos adultos mais jovens.

2. Os adultos mais velhos erraram com maior confiança do que os adultos mais jovens.

3. A magnitude dos julgamentos de aprendizagem não diferiu entre os grupos.

4. O julgamento de aprendizagem não é um bom preditor para tarefas de memória e julgamento


de confiança.

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