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FACULDADE DE PSICOLOGIA DA UNIVERS IDADE DE LISBOA

P E R C E ÇÃ O, ATE N ÇÃ O E
M EM Ó RI A
CAROLINA LOUREIRO

1º ANO / 1º SEMESTRE

2019/ 2020

Perspetiva histórica da psicologia em 5 abordagens:


 Abordagem Psicodinâmica

 Sigmund Freud (1856-1939);

 Início do séc. XX; baseada na Psicanálise (noção de inconsciente);

 Foco na terapia;

   Alargada ao desenvolvimento da criança e desenvolvimento da personalidade.

 Behaviorismo

 John Watson (1878-1958);

 Origem na investigação com animais; Com o foco na observação do


comportamento sob condições altamente controladas;

 Recompensa ou reforço com impacto na aprendizagem.

 Humanismo (“a 3ª força na Psicologia”)

 Carl Rogers (1902-1987) e Abraham Maslow (1908-1970);

 Anos 50;

 Origem na filosofia;

 Foco na terapia e no desenvolvimento do “eu”;

 Abordagem não-científica.

 Psicologia cognitiva

 Donald Broadbent (1926-1993) e George Miller (1920-2012);

 Meados dos anos 50;

 Surge como resposta ao behaviorismo, uma vez insatisfeitos com o mesmo;

 Foco nos processos psicológicos internos (perceção, atenção, memória,


pensamento, linguagem);

 Investigação experimental em laboratório (“condições científicas”);

 Influencia e é influenciada pelas abordagens que se lhe seguiram:

o Neuropsicologia Cognitiva (a partir dos anos 70)

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o Neurociência cognitiva (a partir dos anos 90)  

 Psicologia Evolucionária

 Steven Pinker (1954);

 Exagera a importância dos fatores genéticos na influência do comportamento e


subestima o papel dos fatores sociais e culturais;

 Abordagem controversa.

  

Psicologia Cognitiva:

Esta abordagem da Psicologia surge em meados dos anos 50, como reação ao Behaviorismo, uma
vez insatisfeito com o mesmo. Tenta assim “não o reformar mas sim substituí-lo”. Enquanto que o
Behaviorismo analisa apenas os comportamentos observáveis, a psicologia cognitiva examina e tenta
entender o processo entre esses mesmos comportamentos.

É depois da segunda guerra mundial que o avanço tecnológico se efetua, dando abertura à existência
de novos estudos e processos científicos, auxiliando assim o estudo da Psicologia Cognitiva.

A Psicologia Cognitiva estuda os processos mentais de aquisição, processamento, armazenamento e


recuperação de informações com o objetivo de perceber a cognição humana, através da observação e
da medida do comportamento de pessoas que realizam diversas tarefas cognitivas e de inferências
sobre os processos e estorturas internas envolvidos. Nesta área, a metodologia experimental, serve
para testar as suas teorias e hipóteses.

A teoria do processamento de informação é o estudo do modo  como tomamos a informação do


mundo exterior, como lhe damos sentido e qual o uso a dar-lhe.

A Cognição refere-se aos processos relacionados com a aquisição do conhecimento envolvendo


diversos e diferentes tipos de processamento de informação que ocorrem em diferentes estádios. O
processamento de informação passa por várias fases a partir do seu estímulo. São estas a perceção,
aprendizagem, memória, receção e pensamento.

O estudo da cognição admite várias abordagens tais como a experimental e cognitiva. A psicologia
experimental é o teste científico dos processos psicológicos através da metodologia experimental que
serve para testar as suas teorias e hipóteses.

Processamento de informação:

A perceção não é um processo imediato, não resultando da transmissão de uma imagem formada na
retina diretamente para o cérebro. A informação passa por diversas etapas.

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Os modelos de processamento da informação baseiam-se na hipótese de que, entre a configuração da
luz na retina e a experiência visual, são necessárias etapas de processamento que implicam
representações internas e processos de transformação destas noutras representações.

O modelo de processamento da informação é tido como:

Estímulo  Atenção  Perceção  Pensamento  Decisão  Resposta/ação

Quando um estímulo nos é apresentado, seja através de uma tarefa ou de um problema, esse mesmo
estímulo faz com que certos processos cognitivos ocorram.

Esses processos originam a resposta ao estímulo. O processo que ocorre devido a um estímulo
proveniente do ambiente é chamado de processamento ascendente, ou bottom-up e, o processo que é
influenciado pelas expectativas e pelo conhecimento do indivíduo é chamado de
processo descendente ou top-down  (Ex: “ I love paris in the the springtime”). Provavelmente,
ambos os tipos de processamento têm um papel na análise do input percetivo e, na maioria dos casos,
o processamento da informação envolve uma combinação de ambos.

O processamento serial é um processo com etapas bem definidas em que para passarmos para o
processo seguinte teremos de completar o processo atual e o processamento em paralelo consiste
no envolvimento de vários processos cognitivos em simultâneo.

Pontos fortes da Psicologia Cognitiva:

 É promotora de outras abordagens (Neuropsicologia Cognitiva e modelização


computacional);

 Influência no desenvolvimento e análise de tarefas cognitivas.

Limitações da Psicologia Cognitiva:

 Validade ecológica: As pessoas comportam-se de maneira diferente daquela que


normalmente se comportam no dia-a-dia quando estão num laboratório. Estudos levados a
cabo num ambiente experimental no qual as variáveis são rigorosamente controladas pode
fazer com que os resultados desses mesmos estudos tenham erros e desta forma não possam
ser aplicados às situações do quotidiano;

 Medidas (velocidade e precisão): Os psicólogos cognitivistas costumam recolher medidas


como a velocidade e a precisão na realização de tarefas. No entanto, estas medidas dão-nos
apenas evidências indiretas sobre os processos internos que envolvidos na cognição;

 Especificidade da tarefa (do paradigma): Os resultados obtidos usando qualquer uma


tarefa experimental ou paradigma tendem a ser específicos para esse mesmo paradigma e não
podem ser generalizados a outros tipos de tarefas;

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 Falta de integração dos componentes do sistema cognitivo: Se a Psicologia Cognitiva não
tivesse este problema, falta de visão geral da arquitetura cognitiva, a clarificação das inter-
relações entre os diferentes componentes do sistema cognitivo seria possível.

 Psicologia Cognitiva e Ciências Cognitivas:

 Ciência cognitiva computacional (modelização, simulação);

 Neuropsicologia cognitiva (lesões cerebrais);

 Neurociências cognitivas (comportamento e imagens cerebrais).

Psicologia Cognitiva:

A Modelização computacional é o desenvolvimento de modelos computacionais com vista à


compreensão da cognição humana. Um modelo computacional permite-nos prever o comportamento
em novas situações, e como ocorre o processamento da informação em sistemas complexos.

Neuropsicologia cognitiva:

Esta área examina os padrões de desempenho em tarefas cognitivas, em pacientes com lesões
cerebrais. De acordo com os especialistas desta área, o estudo de pacientes com lesões cerebrais
permite-nos saber mais sobre a cognição humana dita normal. O estudo das lesões cerebrais deve ser
feito logo após a ocorrência da lesão devido à plasticidade cerebral e não deve ser aplicada a crianças
pois a sua cognição ainda não está totalmente desenvolvida.

Hipóteses Teóricas da Neuropsicologia Cognitiva (Colheart, 2001):

 Noção de Modularidade: Existem inúmeros módulos de processamento,  independentes.


Cada módulo é responsável por responder apenas a uma classe de estímulos particular.

 Modularidade Anatómica: Cada módulo está localizado numa zona específica e


possivelmente identificável do nosso cérebro.

 Uniformidade da Arquitetura Funcional: Supõe-se que todos os humanos têm uma


arquitetura funcional idêntica ao nível do cérebro.

 Subtração de módulos e não adição: Quando sofremos uma lesão, essa pode prejudicar ou
até mesmo eliminar um módulo mas não pode criar novos.

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 Modularidade (Fodor (1983; 1985):

O sistema cognitivo, em sentido lato, é constituído por dois conjuntos de processos:

 Os sistemas de entrada ou módulos: responsáveis pelo processamento inicial dos


estímulos.

 Os módulos são encapsulados;

 Só têm acesso à informação que lhes é específica;

 Não têm acesso aos conhecimentos gerais, vontades, entre outros, que
caracterizam os sistemas centrais.

 Os sistemas centrais: responsáveis pelos conhecimentos gerais, expectativas, pensamento,


resolução de problemas, entre outros.

 Não são encapsulados, específicos e obrigatórios;

 São lentos, controlados, voluntários.

Propriedades dos módulos que os diferenciam dos sistemas centrais:

 Especificidade do domínio de aplicação: processamento da cor, da forma, dos rostos, da


fala;

 Especificidade da arquitetura neuronal: os diferentes módulos estariam associados a


mecanismos neuroanatómicos específicos;

 Estrutura especificada de maneira inata: a informação contida nos módulos não tem
origem na aprendizagem mas é pré-determinada de maneira inata;

 Desenvolvimento dependente da maturação: o módulo desenvolve-se segundo um


determinado ritmo e uma sucessão de estádios pouco influenciados pelas particularidades do
meio;

 Autonomia: o módulo não partilha os seus recursos atencionais e mnésicos com os outros
sistemas;

 Funcionamento obrigatório e rápido: responde a uma exigência biológica e que não


depende da vontade do indivíduo.

Metodologia da Neuropsicologia Cognitiva:

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 Dissociação simples: Ocorre quando um paciente consegue realizar normalmente a tarefa X
mas não consegue realizar a tarefa Y. Esse mesmo paciente tem uma lesão numa área
cerebral relacionada com a tarefa Y. Será que podemos assumir que o paciente não realiza a
tarefa Y devido à lesão? Não. É possível que o paciente não realize a tarefa Y apenas porque
essa é mais complexa que a tarefa X, não estando sequer relacionada com a lesão.

 Dupla associação: Para resolver o problema da incerteza de conclusões da dissociação


simples criou-se a dissociação dupla. Nesta técnica analisam-se dois pacientes e depois
cruzam-se os resultados. Se os resultados forem iguais podemos concluir que a tarefa não foi
realizada devido à lesão.

Limitações da Neuropsicologia cognitiva:


 Impacto da lesão camuflado por estratégias de compensação: Devido à plasticidade
cerebral humana, o impacto de uma lesão pode ser camuflada através das estratégias de
compensação que ajudam os pacientes a cooperar com a lesão sofrida.
 Extensão da lesão: A lesão pode não só afetar os módulos da área lesada como também pode
afetar outras áreas cerebrais.
 Importância das diferenças individuais (idade, perícia, escolaridade, etc.).

Neurociências Cognitivas:
Corresponde ao estudo do cérebro, bem como do comportamento, recorrendo a técnicas de
neuroimagem que variam na resolução temporal e espacial.

PERCEÇÃO:
O estudo da perceção admite duas perspetivas:
 Estruturalismo: (Wundt e Titchener - final do séc. XIX)
Hipóteses teóricas:
 Atomismo ou Elementarismo: Analisar, decompor a perceção nas suas sensações
elementares através da introspeção analítica;
o Elementos essenciais de qualquer sensação: qualidade (ex. frio, azul) e
intensidade (ex. brilho, ruído).

 Empirismo ou Associacionismo: As sensações estão ligadas por associações mentais


criadas pela contiguidade no espaço e no tempo.

 Gestalt: (1ª metade do séc. XX) (ver Wertheimer, Kölher, Koffka, etc.)
 Reagem contra a ideia de dicotomia entre sensação e perceção, defendida pelos
associacionistas;
 A perceção é sempre a de um todo organizado;
 O todo percecionado possui propriedades ditas emergentes ou qualidades globais que
não fazem parte das características dos elementos;

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 Negam a possibilidade de encontrar, através da introspeção, sensações elementares
que seriam invariantes;
 O efeito percetivo de um estímulo particular depende sempre do contexto em que está
inserido;
 As propriedades emergentes do todo resultam de princípios/leis de organização dos
elementos (e.g., proximidade, similaridade, fechamento);
 Várias leis de agrupamento operam de uma maneira bottom-up (guiada pelos dados)
de modo a produzir a organização percetiva.

Princípio fundamental da organização


Estruturalismo vs. Gestalt perceptiva:
Atomismo Holismo Lei de Pregnância:
Associacionismo Organização
 Entre várias organizações
(gestalts) geometricamente
possíveis, será percebida
aquela que se caracterizar pela
melhor forma, a mais simples e
estável.

 Funcionalismo Probabilista (Brunswick (1955; 1956)


 Perceção incide sobre o estímulo distal (objeto em si);
 Seleção dos estímulos distais (e pistas) com maior validade ecológica:
o Alguns estímulos fornecem uma representação mais precisa do ambiente real
do que outros.
 O meio físico ao qual o organismo tem que se adaptar fornece informações
parciais e não fiáveis sobre os objetos. Essas informações devem ser julgadas em
função do conhecimento estatístico/probabilístico de certos índices visuais e das
suas correlações com os dados do meio/contexto físico.

Estímulos para a visão:


Estímulo distal: O objeto em si (que projeta uma imagem na retina).
Estímulo proximal: A configuração dos raios luminosos refletidos pelos objetos e que incidem sobre
a retina, criando uma imagem 2D.

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Relações entre estímulo distal e estímulo proximal:

Parâmetros físicos vs Experiências subjetivas


Intensidade → Brilho, luminosidade
Comprimento de onda → Cor
Sem relação linear

Variabilidade do estímulo proximal:


 Intensidade da luz;
 Composição espectral;
 Tamanho;
 Forma;
 Movimento.
Como, a partir da variabilidade do estímulo proximal, se torna possível uma perceção estável?
 Constâncias Percetivas (ex. constância do tamanho)

Perspetiva construtivista, indireta, interacionista:


Esta perspetiva surgiu com Helmholtz (1821-1894).
A perceção é vista como um processo inferencial, indireto e inconsciente.

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A informação Retiniana (contida no estímulo proximal) é ambígua e incompleta.
A informação Sensorial é o conjunto de índices servindo de base para gerar
hipóteses/interpretações.
Os mecanismos de interpretações são chamados de Inferências inconscientes derivados de
conhecimentos implícitos sobre o meio.
As diferenças individuais e a experiência passada têm relevância na perceção, sendo assim diferente
a perceção que cada um tem de diferentes coisas.

Gregory (1966; 1970)

 O sistema percetivo
elabora, a partir dos dados
sensoriais disponíveis,
hipóteses acerca da
natureza dos objetos
percecionados

Paradoxo:
Precisamos saber o que
estamos a ver antes de
saber o que vemos.
Ou seja, no caso de nos depararmos com uma
imagem da qual não conseguimos diretamente percebê-la, é preciso que alguém nos diga o
que realmente existe na imagem para a conseguirmos descodificar, num ato
consciencializado.
Ex: No caso da imagem a cima apresentada, quem não consegue ver claramente a presença de
um cão, torna-se muito mais fácil a sua perceção depois de alguém o identificar.

As Ilusões percetivas são usadas como argumento para defender a natureza inferencial da perceção
porque seriam falsas inferências. Ou seja, muitas vezes a perceção leva-nos a falsas inferências,
através das ilusões percetivas. Por exemplo, a distância percebida é diferente da distância real
prejudicando a constância do tamanho. É verificável que uma pessoa mais perto de nós
comparativamente com alguém que está mais longe pareça maior, em contrário da outra que parece
menor. Mas, mesmo assim, não pomos em dúvida o tamanho real da pessoa.

Em
suma, a

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Perceção, segundo a perspetiva construtivista, é o processo inferencial que tem como premissas os
dados sensoriais e o conhecimento acerca do mundo. Ou seja, é através das sensações que se obtém
as perceções e que dependem dos nossos conhecimentos e “background” pessoal.
A perceção obedece a um duplo processo de processamento de informação:
 Ascendente bottom-up (processamento dos dados sensoriais);
 Descendente top-down (influência dos conhecimentos que vai permitir a interpretação dos
dados sensoriais).

Os meios para pôr em evidência o processo de interpretação/inferencial dos dados sensoriais,


introduzidos por Lindsay e Norman (1977) são:
1. Degradação do dado sensorial (redução de índices visuais);

Segregação ou
agrupamento percetivo

2. Figuras ambíguas;

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3. Organização de figuras sem significado

4.

Contexto
O contexto é importante para a integração das informações numa interpretação consistente, uma vez
que esta pode alterar consoante o seu contexto.

5. Figuras impossíveis:
Não há interpretação global sendo considerado um processamento ascendente.

Perceção direta:
 Surgiu com Gibson (1966; 1979);
 Esta perspetiva entende a perceção como um processo direto e sem inferência;
 Defendem que o sistema visual tem mecanismos (extração de invariantes) para a apreensão
direta das propriedades dos objetos e dos seus usos potenciais (affordances);

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 Gibson refuta os argumentos da insuficiência de informação na estimulação retiniana
descrevendo a informação contida nos estímulos proximais;
 As estimulações retinianas têm lugar no tempo (paralaxe de movimento) e no espaço
(gradiente de textura);
 As mudanças constantes que apresentam uma certa regularidade obedecem a regras chamadas
invariantes;
 O organismo, então, extrai diretamente a informação das superfícies (objetos distais) a partir
dos estímulos proximais.
Paralaxe de movimento e Distância Pista monocular de profundidade:
Movimento da imagem de um objeto/cena pela retina devido a movimentos da cabeça do observador.
A direção do movimento percebido muda em função da distância dos objetos; objetos com diferentes
distâncias parecem mover-se a diferentes velocidades

Gradiente de textura:

Os organismos percecionam:
 Características do meio (disposição dos objetos e das superfícies);
 A situação do organismo em relação ao meio;
 Acontecimentos (movimentos e mudanças);
 Affordances (possibilidades em relação à ação).

Affordances:
As affordances são propriedades do meio que apresentam diferentes possibilidades aos organismos
que nele vivem, ou seja, tornam possíveis ou pelo contrário inibem certos tipos de atividades.
Basicamente, determinam o que um individuo pode ou não fazer num determinado meio.

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As possibilidades de ação são especificadas na informação presente na configuração ótica e a sua
perceção é primária.

Perceção Indireta Perceção Direta

Pobreza do estímulo proximal Estímulo rico em informações

Inferência percetiva Ausência de processos mentais superiores

Perceção indireta, vários estádios de tratamento Perceção direta, imediata


de informação

Importância da memória e da experiência Nenhum papel da memória ou da experiência

Enfatiza os processos e mecanismos Enfatiza a análise da estimulação recebida


subjacentes à perceção

Gregory, Rock Gibson

Perceção Visual:
"A visão é o processo de descoberta, a partir de imagens formadas sobre a retina, do que está
presente no mundo e onde está." (Marr, 1982).
Responde assim às perguntas:
 O que é? - Perceção dos Objetos (Via Ventral)
 Onde está? - Localização de Objetos (Via Dorsal)

Campo visual: Região do espaço que elicita uma resposta.

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Córtex visual primário: Primeiro nível de processamento no córtex; as regiões mantêm as relações
espaciais encontradas na retina e combinam características simples em mais complexas.

Organização olho direito / olho esquerdo:


 As camadas 2, 3 e 5 recebem input do olho ipsilateral.
 As camadas 1, 4 e 6 recebem input do olho contralateral.

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Milner e Goodale – Modelo de Perceção e Ação:
 A via ventral é a via do sistema visual que permite a identificação do objeto, ou seja, a
sua perceção;
 A via dorsal é a via que permite a ação guiada visualmente do sistema visual.

Modelo de Norman (2002):


 Na abordagem do processo dual, concordo com as vias ventral e dorsal serem separadas e
com as funções destas propostas por Milner e Goodale;
 Apresenta diferenças entre os dois sistemas mais detalhadas.

Resumo:

Estudos com pacientes com lesão cerebral:


Ataxia ótica: Dificuldade em realizar movimentos guiados visualmente apesar de uma
perceção visual relativamente intacta
Lesões na via dorsal:
 Agnosia visual: dificuldade em reconhecer objetos apresentados visualmente apesar da
informação visual chegar ao córtex visual

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Lesões na via ventral:
 Dupla associação

Evidência experimental de Kroliczak et al.


Métodos:
Utilizaram três estímulos:
1. Máscara convexa
2. Máscara percecionada como convexa
3. Máscara oca percecionada como côncava

Tarefas:
1. Desenhar num papel a posição do alvo
2. Fazer movimentos rápidos com o dedo para o alvo
3. Fazer movimentos lentos com o dedo para o alvo

Conclusões:
 Condição de desenho envolve a via ventral: tem um forte efeito de ilusão
Visual;
 Condição de movimento rápido envolve via dorsal: tem um efeito muito reduzido de ilusão
visual;
 Condição de movimento lento: tem um forte efeito de ilusão visual, isto é, a visão para a
perceção influência a resposta de apontar.

Evidência experimental de Rossetii et al. em relação a pacientes com lesão cerebral:


Os pacientes com uma lesão na via dorsal não conseguem atingir alvos através de movimentos
rápidos. No entanto, melhoram o seu desempenho quando incentivados a abrandar o movimento e a
efetuá-lo de maneira deliberada, isto é, usando mecanismos da via ventral.

Dois sistemas visuais separados:


A maior parte das ações ocorrem rapidamente e sem planeamento consistente, já outras nem tanto,
por exemplo, comer com pauzinhos. Ou seja, as nossas ações podem envolver o sistema ventral
(visão para a perceção) além do sistema dorsal (visão para a ação).

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Creem e Profitt (2001):
 Evidenciaram o envolvimento do sistema ventral na perceção para a ação. Distinção entre
preensão eficaz e preensão adequada, por exemplo, agarrar um martelo pela sua cabeça
ou pelo seu cabo.
Tarefa: Agarrar objetos familiares com diferentes alçar ou cabos
Condições:
1. Simples
2. Com aprendizagem de pares associados (envolve a recuperação de palavras da memória a
longo-prazo)
3. Com tarefa visuoespacial
Medida: a percentagem que o objeto é agarrado adequadamente
Hipótese: se a preensão adequada envolve a recuperação do conhecimento sobre o objeto na
memória a longo prazo, então a tarefa da condição 2 vai interferir sobre a preensão adequada dos
objetos
Resultados:
 Condição 2 que envolve a recuperação de palavras da memória a longo prazo interfere com a
preensão adequada do objeto;
 O conhecimento semântico sobre os objetos é requerido para uma ação apropriada;
 Evidência do envolvimento do sistema ventral na visão para a ação.

Produção da ação humana:


As informações visuais são usadas na produção da ação humana através de dois sistemas:
 Sistema de planeamento;
 Sistema de controlo.

Modelo de planeamento e controlo de Glover (2004):

Sistema de planeamento:
 Antes ou no início do movimento;
 Função de selecionar o alvo, decidir como deve ser agarrado e o timing do movimento;
 Influenciado por fatores cognitivos (objetivo da pessoa; natureza do objeto, etc.); usa
informações espaciais e não espaciais (peso, fragilidade, etc.);
 Lento;

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 Depende de uma representação visual localizada no lobo parietal inferior e de processos
motores nos lobos frontais e nos gânglios basais (subcorticais).

Sistema de controlo:
 Depois do sistema de planeamento, durante a realização do movimento;
 Função de garantir a precisão do movimento (com possibilidade de ajustamentos);
 Influenciado apenas por características espaciais do objeto (tamanho, forma, orientação);
 Rápido porque usa pouca informação e não influenciado pela cognição;
 Depende de uma representação visual localizada no lobo parietal superior e de processos
motores no cerebelo.

Evidência experimental- Experiência de Glover & Dixon (2002):


Ilusão de Ebbinghaus; Círculos de Titchener

Tarefa: agarrar a parte central


Desempenho avaliado pelo grau de abertura entre polegar e indicador.

Resultado:
 A Precisão do desempenho aumenta (i.e. a ilusão diminui) quando a mão se aproxima do alvo
 Processo de planeamento inicial é influenciado pela ilusão (menos preciso), mas o processo de
controlo não é (mais preciso).

Evidência com pacientes com lesão cerebral- Clark et al. (1994):


Os pacientes com Apraxia ideomotora (lesão no lobo parietal inferior esquerdo) têm dificuldade em
realizar movimentos aprendidos.
Por exemplo, têm dificuldade em cortar pão (porque o sistema de planeamento foi afetado) mas
conseguem movimentos simples de apontar e pegar (porque o sistema de controlo está intacto).

Binkofski et al. (1998):


Os pacientes com Ataxia ótica (lesão no lobo parietal superior) têm dificuldade em realizar
movimentos precisos guiados visualmente.
Por exemplo, a velocidade e grau de abertura da mão estão corretos no início do movimento (sistema
de planeamento não afetado) mas incorretos depois do mesmo (sistema de controlo afetado).

Reconhecimento de objetos:

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O cérebro “divide” um padrão contínuo de luz em objetos e superfícies transformando a imagem
retiniana bidimensional num modelo interativo tridimensional.
O reconhecimento de objetos e faces é um processo complexo apesar de não requerer esforço, uma
vez que a variabilidade do estímulo distal é a mesma que a do estímulo proximal e vice-versa.

Variabilidade do estímulo:
 Intensidade da luz;
 Composição espectral;
 Tamanho;
 Forma;
 Movimento;

O reconhecimento de objetos é complexo, porque:


1. Variabilidade de estímulos distais - mesmo estímulo proximal;
2. Variabilidade de estímulos proximais - mesmo estímulo distal;
3. Existe variabilidade no ângulo de visão;
4. Existe Variabilidade das propriedades visuais de objetos de uma mesma categoria (Ex.
Cadeiras baixas, redondas, disfuncionais, tradicionais);
5. Numa só imagem visual podem existir vários objetos sobrepostos (Ex. Fruteira);

Organização precetiva:
(Gestaltistas)
Segregação percetiva: Capacidade humana em determinar que partes da informação visual fazem
parte do mesmo objeto ou de objetos separados.

Princípio Fundamental: Lei de Pregnância


A pregnância é uma qualidade que possuem as figuras que se podem captar através do sentido da
visão. Essa qualidade está vinculada à forma, à cor, textura e outras características que fazem que a
pessoa que observa a possa captar de forma mais rápida e simples.
Quanto maior a pregnância, maior é a facilidade com que o ser humano capta a figura. Isto significa
que, entre 3 ou 4 figuras, aquela que tiver maior pregnância é aquela que consegue chamar em
primeiro a atenção.
A pregnância também é uma das leis que fazem parte da doutrina da Gestalt, uma vez que este
movimento afirma que a experiência que deriva da perceção costuma adotar a forma que é mais
simples.

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Está na base das outras leis que descrevem como elementos tendem a ficarem agrupados
(organizados):
 Proximidade;
 Semelhança;
 Bom prolongamento;
 Fechamento;
 Destino comum: Elementos visuais que aparentemente se movimentam juntos são também
agrupados juntos (Johansson, 1973, 1975). Movimento aparente na mesma direção; perceção
do movimento como parte de um mesmo estímulo.

Segregação figura/fundo: É a organização percetivo do campo visual numa figura, o objeto de


interesse principal, e num fundo, menos importante. Assim, a figura tem uma forma ao contrário do
fundo, é vista como se estivesse à frente do fundo e o seu contorno separa a figura do fundo.
 A figura tem uma forma, o fundo não;
 O contorno que separa a figura do fundo pertence à figura;
 A figura é vista como se estivesse à frente do fundo;
 Na segregação figura/fundo há uma maior atenção (e processamento) para a figura em
relação ao fundo.

Leis na base da segregação figura/fundo:


Área: De duas áreas sobrepostas, a menor será vista como sendo a figura e a maior como o fundo
Simetria: Quanto maior for a simetria de uma figura, maior será a tendência em vê-la como figura
fechada que se destaca do fundo.
(Segundo os gestaltistas, o agrupamento ocorre no início do processamento visual e no sentido
ascendente (bottom-up).

Fatores:
As imagens, isto é, as projeções na retina, de objetos refletem fatores intrínsecos e extrínsecos:
 Fatores intrínsecos: características do objeto (forma, propriedades da sua superfície);
 Fatores extrínsecos: mudanças na imagem do objeto (relacionadas com o ponto de vista do
observadores em relação ao objeto, composição da luz, oclusões parciais, natureza do fundo,
etc.).

Teorias do Reconhecimento de Objetos:


As teorias do reconhecimento de objetos variam na maneira de lidar com fatores extrínsecos:

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 Independentes do ponto de vista: representações de objetos que representam apenas as
propriedades intrínsecas dos objetos;
 Dependentes do ponto de vista: representações dos objetos que incluem os efeitos de
diferentes pontos de vista.

Marr (1982):
 Questão central: como o sistema visual deriva de representações conscientes dos objetos
tridimensionais do meio a partir de padrões de intensidades luminosas que estimulam as duas
retinas;
 Aborda de um modo explícito o problema do processamento percetivo necessário à
elaboração de uma representação da forma, útil para o emparelhamento de uma representação
armazenada em memória;
 Sequência de estágios: processamento ascendente tendo como ponto de partida a imagem
retiniana.

Teoria computacional dos processos envolvidos no reconhecimento de objetos


(Marr 1982)
Uma sequência de representações (descrições) da luz que chega à retina com informações cada vez
mais detalhadas sobre o meio visual:
 Matriz de níveis de cinzento: Representação em escala de cinzento da imagem retiniana;
intensidades da luz em cada área muito pequena da imagem (pixel);
 Esboço primário (bruto e completo): Uma descrição 2D das principais mudanças de
intensidade da luz incluindo essencialmente informação sobre o contorno dos objetos.
Descrição centrada no observador/dependente do ponto de vista;
 Esboço 2 ½ D: uma descrição da profundidade e orientação das superfícies visíveis.
Descrição centrada no observador/dependente do ponto de vista;
 Representação 3D: descrição tridimensional das formas dos objetos, independentemente do
ponto de vista do observador (invariável em termos de ponto de vista);

Reconhecimento dos objetos:


Podemos calcular os comprimentos e as disposições dos eixos da maioria dos objetos visuais
independentemente do ângulo de visão.
As informações sobre os eixos podem distinguir os objetos uns dos outros.
A descrição geral 3D fica armazenada na memória e permite-nos reconhecer os estímulos visuais
apropriados independentemente do ângulo de visão. Correspondência da representação 3D de um
estímulo visual com um “catálogo de representações 3D” armazenado em memória.

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Teoria do Reconhecimento pelos componentes de Biederman (1990):
 Biederman formulou a hipótese de que podemos compreender ou
configurar representações mentais de objetos tridimensionais,
considerando apenas algumas formas geométricas simples.
 Ou seja, Biederman propõe que todos os objetos podem ser reduzidos,
na sua estrutura mais básica, a uma composição de formas primitivas –
“geons”.
 A favor do reconhecimento independente do ponto de vista do
observador.

“Geons” – São simples formas 2D ou 3D como cilindros, tijolos, cones,


círculos, retângulos e pirâmides. São simples e invariantes quanto à sua orientação, apresentando
cinco propriedades invariantes:
 Curvatura;
 Paralelismo;
 Co-terminação;
 Simetria vs. Assimetria;
 Co-linearidade.
Essas propriedades invariantes são “não – acidentais” i.e. refletem as propriedades dos objetos
(Lowe, 1984). Por ex., contornos curvos na imagem refletem bordas curvas no objeto.

O reconhecimento de um objeto é feito pela identificação dos “geons” que o compõem e discrições
estruturais e pelo emparelhamento com uma representação armazenada na memória visual. O
reconhecimento é independente do ângulo de visão.

O reconhecimento de objetos envolve uma correspondência entre:


 Representação centralizada no objeto, independente do ponto de vista do observador;
 Modelo estrutural do objeto armazenado na memória a longo prazo.

Teorias do Reconhecimento de objetos:


Vantagem:
 Tomam em conta a complexidade do processo de reconhecimento;
Limitações:

23
 Não dão conta de discriminações percetivas subtis dentro de classes de objetos – de nível
básico (os mesmos geões descrevem qualquer chávena mas não permitem identificar a
chávena que costumamos usar);
 Há evidências que contrariam a ideia de que o reconhecimento de objeto é independente do
ponto de vista do observador;
 Não tomam em conta o papel do contexto no reconhecimento de objetos;
 Teoria eficaz para objetos com partes identificáveis mas não para objetos sem partes
identificáveis (ex. nuvens).

Teorias Dependentes vs. Teorias Independentes do Ponto de Vista:


 Teorias dependentes: As mudanças no ponto de vista reduzem a velocidade e/ou a precisão
do reconhecimento de objetos;
 Teorias independentes: A facilidade do reconhecimento de objetos não é afetada pelo ponto
de vista do observador.

Teorias do reconhecimento dos objetos:


 Tarr e Bülthoff (1995)
o Os mecanismos invariantes (independentes do ponto de vista) são usados quando a
tarefa envolve discriminações de categorias (por ex., carros vs. bicicletas)

o Os mecanismos dependentes do ponto de vista são usados quando a tarefa requer


discriminações difíceis dentro de uma categoria (por ex., diferentes modelos de
carros)

 Vanrie et al. (2002): A questão fundamental não é mais se o reconhecimento de objeto é


dependente ou não-dependente do ponto de vista, mas sim quando, isto é, em que
circunstâncias.

Neuropsicologia da Perceção
Agnosia Visual: Dificuldade em nomear ou reconhecer um objeto apresentado visualmente, mas não
há dificuldade se for apresentado noutra modalidade sensorial.
(Lesões no córtex occipito-temporal inferior e médio)
 Agnosia apercetiva: Défices no processamento percetivo, pré-categorial;
 Agnosia associativa: Dificuldade no acesso à informação sobre o objeto, armazenada na
memória.
Podemos distinguir as duas agnosias através de um teste de figuras incompletas realizado por Gollin,
1960 e Pillon e Lhermitte, 1978 ou então através da cópia de objetos que não são reconhecidos.

24
No teste de figuras incompletas, os pacientes com agnosia apercetiva requerem desenhos mais
completos para identificar os objetos. Na cópia dos objetos que não são reconhecidos, há um sucesso
na agnosia associativa e um insucesso na agnosia apercetiva.
Ao copiar objetos que não são reconhecidos (Humphreys, 1999), se os participantes tiverem
insucesso na tarefa, são pacientes de agnosia apercetiva, se por outro lado, obtiverem sucesso na
tarefa, apresentam agnosia associativa.

Anomia: Capacidade de dar informações sobre o objeto apresentado. Há reconhecimento do objeto,


mas incapacidade em dar o nome. (Ex. Capacidade de dar informações sobre o animal canguru sem
saber o seu nome “salta, vive na Austrália”).
Demência Semântica: Perda central de qualquer conhecimento sobre os objetos independentemente
da modalidade.

Reconhecimento dos objetos e nomeação:


Após processamento sensorial do movimento, cor, forma, profundidade, até à nomeação, existem 5
estádios de processamento:
1. Extração dos componentes elementares da forma: bordas, cantos, curvas;
2. Combinação dos traços numa forma do objeto;
3. Processo que leva a uma representação invariante do ponto de vista;
4. Etapa de processamento que dá acesso ao conhecimento sobre a descrição estrutural do
objeto: correspondência entre a descrição visual agrupada e uma representação do objeto
armazenada;
5. Acesso ao conhecimento semântico relacionado com o objeto.

É possível encontrar diferentes pacientes com agnosia visual que apresentam problemas em
diferentes estádios de processamento:

BORB (Birmingham Object Recognition Battery de Riddoch & Humphreys, 1993)


Evidências de pacientes com lesões cerebrais:

 Défice em processos percetivos precoces: Agnosia visual da forma - problemas com


agrupamento das bordas.
Prova da BORB: Cópia de formas e de objetos.
o O paciente DF só reconhece alguns objetos reais, não reconhece objetos a partir
de desenhos
o Dificuldades com agrupamento de elementos em padrões simples (por ex., com
base na co-linearidade, proximidade).

25
 Défice em processos percetivos intermédios: Agnosia visual integrativa (problema na
ligação/integração dos traços.
Prova da BORB: Figuras sobrepostas.
o O paciente HJA produz desenhos precisos de objetos que não reconhece;
o Consegue desenhar objetos de memória mas considera ser difícil integrar as
informações visuais;
o Afirma ter mais dificuldade de reconhecimento quando os objetos estão juntos.
o Dificuldade na segregação de formas

 Défice em processos percetivos tardios: Agnosia visual de transformação - Dificuldade


em elaborar uma representação independente do ponto de vista.
Prova da BORB: Reconhecimento de objetos sob vários pontos de vista.
o Pacientes incapazes de reconhecer objetos em pontos de vista não usuais, mas
capazes de os reconhecer no ponto de vista canónico.

Agnosias associativas:
 Dificuldade a nível das descrições estruturais: Conhecimento visual dos objetos.
Prova da BORB: Decisão de objetos.
Tarefa de decisão de objetos: decidir se desenhos são objetos ou não-objetos:
o Alguns pacientes têm dificuldades nesta tarefa tendo no entanto desempenhos
normais em tarefas que avaliam estádios anteriores, mais precoces de
processamento;
o Mas, alguns pacientes têm bom desempenho nesta tarefa; no entanto, dificuldade
no reconhecimento;
o Incapaz de nomear figuras de objetos (na modalidade visual);
o Consegue fazer associações semânticas entre os objetos apresentados
verbalmente capaz de dizer os nomes.

 Dificuldade em aceder a informações semânticas (não-visuais) sobre objetos


Prova da BORB: Associação por categoria ou por relações funcionais.

Reconhecimento visual de faces:


No processamento holístico ou configural de faces, os traços faciais, como os olhos, o nariz, a boa,
etc., não são processados independentemente. A face é processada como uma unidade estrutural
global, mas a modificação de um ou mais traços pode modificar por completo a perceção da face.

26
A face é processada como uma unidade estrutural global. A modificação de traços (mesmo um só)
pode modificar a perceção da face.

Reconhecimento de Faces:
 Processamento configuracional / relacional Processamento holístico;
 Processamento das faces em áreas cerebrais (giro fusiforme) diferentes das envolvidas no
reconhecimento de objetos;
 Pacientes com prosopagnosia: não reconhecem faces familiares mas reconhecem objetos
familiares.

Processamento relacional / configuracional de faces:


(Dois tipos de informação relacional / configuracional (Diamond & Carey, 1986)
1. Propriedades relacionais de primeira ordem (ou configuração de primeira ordem) =
configuração básica dos traços na face
(e.g., olhos acima do nariz, boca abaixo do nariz)
2. Propriedades relacionais de segunda ordem (ou configuração de segunda ordem) =
variação no espaçamento dos traços faciais
(e.g., distância entre os olhos).
 Deteção de faces;
Discriminação entre faces individuais

Evidência do Processamento Holístico:


Efeito de inversão:
 As faces são mais difíceis de reconhecer quando invertidas do que na sua posição normal;
 O efeito não é tão pronunciado com objetos;
 Medida indireta do processamento holístico de faces, porque efeito de amplitude diferente em
faces e objetos;
 Este efeito não permite afirmar que existem diferenças qualitativas nos processamentos de
faces e de objetos;
 As relações espaciais que fazem parte da configuração de um rosto perdem-se, modificam-se;
 Menos pronunciado com objetos.

Efeito Parte-Todo: Reconhecimento de uma parte (de uma face) apresentada na face inteira vs.
apresentada isoladamente.
 Reconhecimento da parte mais precisa quando apresentada na face inteira.

27
Efeito da Face Compósita: Decidir se partes de duas faces são diferentes ou idênticas, ignorando as
outras parte.
 Tarefa compósita: Decidir se partes de duas faces (por ex. parte de cima) são diferentes ou
idênticas, ignorando as outras partes (por ex. parte de baixo)
o Julgamento da identidade de metades superiores de faces negativamente
afetado por estarem associadas a metades inferiores diferentes. Mais erros
e/ou tempos de respostas mais lentos;
o Decidir se as partes de cima de duas faces são diferentes ou idênticas é mais
fácil na condição “desalinhado”.

Prosopagnosia (“face-blindness”):
Condição em que um paciente com lesão cerebral tem dificuldades em reconhecer faces familiares
mas não tem dificuldades em reconhecer objetos familiares.
Apresentam défices no processamento de faces que não refletem dificuldades na análise visual inicial
e conseguem fazer corresponder diferentes pontos de vista da mesma face e nomear outros objetos.
A prosopagnosia tem uma grande variabilidade entre pacientes. Apresenta grandes diferenças na sua
origem, isto é, se é adquirida ou de desenvolvimento.
Uma razão da maior dificuldade no reconhecimento de faces do que dos objetos é uma lesão na área
cerebral especializada para o processamento de faces (fusiform face área (FFA)). Mas pode haver
outra interpretação, o reconhecimento é mais difícil para faces do que para objetos porque no
reconhecimento de faces há uma distinção entre membros da mesma categoria, enquanto que, no
reconhecimento de objetos, em geral, há uma identificação da categoria a que pertence o objeto, por
exemplo, gato, carro, etc.

Evidência de que o processamento de faces é diferente do processamento de objetos:


Dupla Dissociação:
O paciente tem dificuldade em reconhecer faces familiares, mas não sente dificuldades em
reconhecer objetos familiares e vice-versa.
 Certos pacientes com prosopagnosia de desenvolvimento têm um desempenho normal em
tarefas de memória de reconhecimento de exemplares de diversas categorias de objetos:
carros, ferramentas, casas, etc. (Duchaine e Nakayama, 2005);
 Pacientes com dificuldades severas no reconhecimento de objetos têm bom desempenho em
tarefas envolvendo faces (paciente CK, Moscovitch, Winocur e Behrmann,1997; paciente
HH, McMullen, Fisk, Phillips & Mahoney, 2000).

28
ATENÇÃO:
A atenção é a seletividade no processamento de informação.
Seleção de informação:
 Focalização da atenção numa fonte auditiva (“Prestem atenção ao que eu digo!”);
 Focalização da atenção numa área do espaço (“Prestem atenção a este slide).
Atenção = distribuição/disponibilização de recursos:
 Seleção de informação;
 Focalização;
 Melhor tratamento da informação.
A atenção para o …
 Senso Comum: Implica voltar a cabeça e/ou o olhar;
 Ponto de Vista Psicológico: Mecanismo meramente mental (captura de informação)

William James, em 1890, define dois modos de atenção:


 Ativos: Atenção controlada por mecanismos descendentes – objetivos, expectativas (top-
down);
 Passivos: Atenção controlada por mecanismos ascendentes – estímulos externos (bottom-up).
Atenção focalizada: Situação na qual os indivíduos procuram atender a uma única fonte de
informação, ignorando outros estímulos – atenção seletiva.
Atenção Dividida: Situação em que duas tarefas são executadas ao mesmo tempo – multitasking.

Atenção Auditiva Focalizada:


(“Cocktail Party Problem” – Colin Cherry (1953))
No meio de múltiplas conversas conseguimos seguir apenas uma devido a diferenças físicas como a
voz masculina ou feminina, a intensidade ou a localização do locutor.
Quando existem duas mensagens com a mesma voz nos dois ouvidos ao mesmo tempo, há uma
eliminação de todas as diferenças físicas.
Assim, é muito difícil separar as duas mensagens com base no seu significado. A isto, Collin chamou
de “repetição acompanhante” – “Shadowing task”).
Na repetição acompanhante pouca informação é extraída da mensagem não atendida, por exemplo,
os participantes não se dão conta se a mensagem é numa língua estrangeira ou se é invertida, mas
conseguem detetar mudanças físicas, como o som tonal.
No meio de múltiplas conversas conseguimos atender apenas uma através do uso de diferenças
físicas para manter a atenção numa mensagem auditiva selecionada. (exemplo: voz masculina, voz
feminina, intensidade, localização do locutor).

29
Atenção Auditiva Focalizada – Teorias:
Teorias de Broadbent (1958):
É difícil ouvir duas mensagens ao mesmo tempo. Esta dificuldade é de natureza central, ou seja, o
tratamento da informação é realizado por um dispositivo central com limite na quantidade de
informação total tratada por unidade de tempo impedindo a sua subcarga.
O input (estímulo) é paralelo no registo sensorial.
Segundo o modelo de Boardbent, 1958, o filtro deixa passar apenas as características físicas da
mensagem irrelevante, não atendida. Mas existem evidências de que aspetos semânticos da
mensagem irrelevante podem passar o filtro sem serem processadas, como por exemplo, na
experiência de Moray, em 1959, o participante detetou o seu nome.
Os estímulos não atendidos são submetidos a um processamento mínimo antes de serem filtrados.
O filtro seleciona o input com base na característica física mais saliente, distinguindo a entrada (i.e.,
que “orelha”).
Apesar disto, o modelo de Broadbent não explica a grande variabilidade na quantidade de análises da
mensagem irrelevante nem que características da mensagem irrelevante, para além das físicas,
possam ser selecionadas pelo filtro.
Escuta dicótica: tendência para repetir ouvido por ouvido.
Segundo Broadbent, é preciso tempo para reorientar a atenção (mudar a atenção de um ouvido para o
outro sendo a atenção seria lenta a mudar. Mas tais considerações foram contestadas por Lather et al.
Chegando-se à conclusão de que as mudanças atencionais podem ser mais rápidas. Assim, o modelo
de Broadbent foi capaz de acomodar o que antes pareciam dados incompatíveis.

Teorias de Treisman (1960):


Treisman mantém a noção de filtro, mas para ele o filtro reduz a análise da mensagem irrelevante de
modo a torna-la menos apta a ativar unidades lexicais. Isto é, há uma atenuação da mensagem
irrelevante mas algumas palavras passam a barreira da atenção porque são unidades léxicas, no
dicionário mental, com um limiar de ativação mais baixo.
O input é paralelo no registo sensorial.
A informação não atendida/irrelevante é atenuada depois do registo sensorial. A análise do estímulo
é feita através de uma hierarquia (e.g., de pistas físicas, estruturais e semânticas).Quando a
capacidade é atingida, a análise hierárquica é impedida.

Teorias de Deutsh e Deutsh (1963):


Para Deutsh toda a informação é analisada e a seleção faz-se ao nível das respostas, ou seja, só os
estímulos importantes conduzem a uma resposta em que apenas estímulos mais relevantes
determinam a resposta dada.

30
Suma das teorias:

Teoria plausível
(Lasher et al., 2004)

Teoria mais
adequada

Teoria menos
adequada

Atenção visual focalizada:


Atenção implícita/encoberta: Mudanças atencionais para uma dada localização na ausência de
movimentos oculares. (efeito = para pistas centrais ou periféricas).
Pistas endógenas/centrais (válidas ou inválidas: Remetem para um certo lado, (como setas, por
exemplo).
Pistas exógenas/periféricas (válidas ou inválidas – estão no suposto local).

Pistas válidas em fraca proporção (poucos ensaios):


 Ignoradas se forem centrais;
 Influenciam se forem periféricas.

Inibição de retorno:

31
Existem processos de inibição que reduzem a probabilidade da atenção visual voltar à mesma
localização ou ao mesmo objeto previamente atendidos existindo um enviesamento favorável a novas
localizações e objetos.

Principais sistemas atencionais:


Sistema Endógeno Sistema Exógeno
Voluntário Involuntário
Envolvido quando são apresentadas pistas Envolvido quando são apresentadas pistas
centrais, simbólicas* periféricas, sensoriais
Estímulos mais salientes ou que diferem
de outros estímulos são atendidos com
maior probabilidade

Sistema Atencional Top-Down (Sistema Endógeno, Dorsal):


 Rede fronto-parietal dorsal;
 Áreas cerebrais ativadas quando se espera um estímulo que ainda não foi apresentado;
 Envolvida no sistema atencional dirigido para um objetivo;
 Sistema influenciado pelas expectativas, conhecimento, experiência;
Sistema Atencional Bottom-Up (Sistema Exógeno, Ventral):
 Rede fronto-parietal ventral (hemisfério direito);
 Sistema controlado pelo estímulo – deteção de alvos de baixa frequência ou seja, inesperados,
potencialmente importantes.

Top-Down e Bottom-Up: Dois sistemas em interação


Sistemas de atenção que interagem influenciando-se mutuamente:
 Conexões entre a junção temporo-parietal (TPJ) e o sulco intraparietal (IPS) suspendem a
atenção dirigida a um determinado objetivo quando estímulos inesperados são detetados;
 Informação acerca da importância dos estímulos inesperados passa da junção intraparietal
(IPS) para a junção temporo-parietal (TPJ).
Os Processos atencionais estão envolvidos em inúmeras tarefas. Há pouca probabilidade numa
determinada tarefa ser tratada puramente por um ou outro dos dois sistemas.

Perturbações da Atenção Visual:


Síndrome de Heminegligência visual Esquerda:

32
 Não há deteção de estímulos ou partes de estímulos apresentados no lado do espaço oposto à
lesão cerebral;
 Lesões no sistema bottom-up, controlado pelo estímulo;
 Lesão habitualmente no lobo parietal inferior do HD:
 Junção Temporo-parietal;
 Giro Angular.
 Défice habitualmente no campo visual esquerdo (contrário à lesão);
 Heminegligência devida a uma desconexão das redes cerebrais de larga escala entre as
regiões parietal e frontal;
 Lentos a mudar de foco atencional;
 É possível algum processamento de estímulos não atendidos em pacientes com
heminegligência (lesão parietal direita.
Alguns pacientes com heminegligência esquerda detetam um estímulo isolado apresentado no campo
visual esquerdo, mas deixam de o detetar quando outro estímulo é apresentado no outro campo
visual. Segundo Marzi et al. (1997), A extinção ocorre em parte porque o estímulo do lado contrário
à lesão não pode competir pela atenção. Os estímulos contralesionais são processados mais
lentamente. A Heminegligência e extinção consideradas perturbações separadas (Karnath et al.,
2003).
A Heminegligência afeta fundamentalmente os processos bottom-up. Corbetta e Shulman (2002)
argumentaram que a heminegligência se deve principalmente ao Sistema controlado pelo estímulo.
Bartolomeo e Cockron (2002) defenderam que o sistema guiado pelos objetivos/expetativas parece
estar relativamente intacto. Por fim, Snow & Mattingley (2006) defendem que os pacientes com esta
condição têm também défice top-down ligeiro no HD (ipsilesional) por serem incapazes de ignorar
estímulos irrelevantes no campo do mesmo lado da lesão.

Atenção baseada na localização:


Componentes da Atenção Posner e Petersen, 1990:
 Desprendimento da Atenção;
 Desvio da atenção;
 Envolvimento da atenção.

Modelo “Zoom Lens” da Atenção (Eriksen & Yeh, 1985):


Atenção é de alcance limitado:
 Foco de resolução variável;
 Resolução inversamente proporcional ao campo de visão.

Baixa resolução:

33
 Região grande, abarcando mais objetos, menos detalhes;
 Percebem-se grupos de entidades como todos coerentes.
Alta resolução:
 Região pequena, abarcando menos objetos, mais detalhes;
 Percebem-se entidades individuais.

Teoria da Carga Percetiva de Lavie (e.g., 2005):


A suscetibilidade à distração é maior quando:
 A tarefa envolve baixa carga percetiva porque “há recursos atencionais de sobra”;
o O Número de estímulos a percecionar na tarefa;
o Exigência de processamento de cada estímulo.

 Existe uma elevada carga sobre as funções cognitivas de controlo executivo (e.g., a memória
de trabalho).
o Especialmente quando a discriminação alvo-distrator é difícil.
A Carga Percetiva é uma condição necessária para a atenção seletiva. Todos temos uma capacidade
atencional limitada.

Procura Visual:
Exploração do ambiente em busca de algo
Processos de procura examinados em tarefas experimentais em que um determinado alvo deve ser
detetado o mais rapidamente possível no meio de "distratores" (alvo presente em metade dos ensaios)
num display visual:
 Variando o conjunto ou o tamanho do display;
 Variando as características do alvo e a probabilidade.

Teoria da Integração de Traços – Treisman, 1998; Treisman e Gelade, 1980; Treisman e Gormican,
1988:

Basearam-se na distinção entre dois tipos de procura de alvos:


 Procura de um alvo que se distingue dos distratores apenas por uma característica/traço
(feature);
 Procura de um alvo que se distingue dos distratores por uma combinação/conjunção de
características (conjunction).
Existe uma diferença qualitativa entre os dois tipos de procura.

34
Na experiência, a primeira tarefa era procurar um alvo no meio dos distratores. O alvo difere dos
distratores por uma característica simples, como por exemplo a cor, a forma, a orientação, etc.
Efeito “Pop-out” - O tempo de procura do alvo independente do número de distratores (± 10
ms/item). A procura é feita em paralelo, ou seja, num estágio pré-atentivo;
A segunda tarefa era procurar um “O” vermelho no meio de distratores. O alvo diferiu dos distratores
por uma combinação de características simples, como a forma e a cor. O tempo de procura aumenta
com o número de distratores e a procura é sequencial, ou seja, exige uma atenção focalizada.
Procura serial - Estádio atentivo (exige atenção focalizada).

Mapas de traços sensoriais/características:


Contêm 2 tipos de informação:
 A presença de uma característica algures no campo visual;
 Informação espacial implícita (algures) sobre a característica.
A atividade nos mapas de características pode dizer-nos o que está no campo visual mas não nos
pode dizer onde está localizado com precisão.
Mapa de localizações: Codifica a localização exata dos traços, mas não que traços estão localizados
num dado ponto.
Processamento visual hierárquico ascendente:
 A atenção desloca-se no mapa de localizações;
 Seleciona os traços que estão ligados a uma dada localização;
 Traços de outros objetos que não estão na mesma localização são excluídos;
 Os traços atendidos constituem a representação temporária do objeto que irá contatar o
armazém estrutural;

A maioria dos objetos no mundo real não são definidos por traços simples, mas sim por
«conjunções» de dois ou mais traços. (Ex. Não procuramos pelo «vermelho», mas por uma maçã que
é uma conjunção de vermelho, curvo, brilhante, de um determinado tamanho etc.). Mesmo que os
traços estejam na mesma localização física, eles não são considerados atributos de uma maçã
vermelha até “a atenção chegar à cena.

Conjunções ilusórias (Treisman & Schmidt, 1982): Erros de associação de traços.


As conjunções ilusórias são indicativas de processos analíticos inconscientes precoces.
Os segmentos de um triângulo não estão mais “aglutinados” do que segmentos isolados
espacialmente. Ou seja, para haver uma combinação ilusória, os segmentos das figuras visuais têm
que ter sido analisados num estádio de processamento prévio, provavelmente inconsciente.

35
Arquitetura funcional apoia a Teoria de Integração de Traços de Treisman:

Limitações desta teoria:


Attentional engagement theory /Teoria do envolvimento atencional (Duncan & Humphreys,
1989, 1992):
Crítica “mais de ordem física” (itens).
O tempo para detetar um alvo depende de dois fatores fundamentais:
1. A procura será mais lenta quando a semelhança entre o alvo e os distratores aumenta;
2. A procura será mais lenta quando há pouca semelhança (heterogeneidade) entre os
distratores.
Natureza paradoxal do estádio pré-atentivo (Foster & Westland, 1995; Foster & Ward, 1991;
Wolfe et al., 1992):
Processos pré-atentivos parecem ter propriedades associadas com estádios tardios do processamento
cortical (Laack & Olzak, 2002).

Teoria da Procura Guiada - Wolfe et al., 1987 e Wolfe, 1998:


A procura visual não é um processo puramente ascendente (bottom-up) mas pode ser guiado por
processos descendentes (top-down), ou seja, por interação. Todas as procuras envolvem dois estágios
consecutivos:
 Estágio Paralelo: Ativação simultânea de todos os alvos potenciais, cada um com o seu
próprio nível de ativação;
 Estágio Serial: Avaliação serial de cada um dos potenciais alvos que foram ativados.
O objeto com maior ativação recebe atenção.

36
Atenção dividida:
Situação em que duas ou mais tarefas são executadas ao mesmo tempo – Multitasking.
No desempenho de duas tarefas ao mesmo tempo, condição de tarefa dupla, ou separadamente,
condição de tarefa única, de um modo geral, há um pior desempenho na situação de multi-tarefas.
Fatores determinantes do desempenho numa tarefa dupla:
1. Semelhança das tarefas;
2. Prática;
3. Dificuldade das tarefas.

1. Semelhança das Tarefas


Modalidade de Estímulos: Treisman e Davies, 1973
Afirmaram que há uma maior interferência quando os estímulos das duas tarefas são da mesma
modalidade sensorial.
Resposta Exigida: McLeod, 1977
McLeod defendeu que existe uma maior interferência quando as modalidades de resposta são as
mesmas, como por exemplo, respostas manuais nas duas tarefas.

2. Prática (Spelke, Hirst & Neisser, 1976)


Realizaram uma experiência de treino de cinco horas semanais durante quatro meses com dois
estudantes.
 Primeiramente, os participantes tinham que ler histórias curtas para compreensão e escrever
palavras ditadas. Era difícil na fase inicial, mas após seis semanas de treino o desempenho na
leitura era semelhante para a situação de tarefa dual e de tarefa única. Mesmo assim, os
participantes só se lembravam de 35 das 1000 palavras que tinham escrito e não se davam
conta que 20 palavras sucessivas formavam uma frase ou pertenciam à mesma categoria
semântica.
 A outra tarefa era escrever os nomes das categorias a que pertenciam as palavras ditadas ao
mesmo tempo que liam. Após mais treino, os participantes conseguiram escrever os nomes
das categorias a que pertenciam as palavras ditadas com um desempenho na leitura igual ao
da situação de leitura unicamente.
 Assim, concluímos que a prática pareceu produzir um aumento importante na capacidade
para realizar duas tarefas simultaneamente. No entanto, será que se pode afirmar que duas
tarefas complexas podem ser realizadas em simultâneo sem interferência?

3. Dificuldade da Tarefa (Sullivan, 1976)


A tarefa do participante consistia em ouvir a repetição acompanhantes de uma mensagem auditiva e
ao mesmo tempo detetar as palavras-alvo na mensagem não repetida.

37
Quando há um aumento do grau de dificuldade da primeira tarefa, há uma menor deteção das
palavras-alvo.

Teorias da Atenção dividida:


Teorias da Capacidade Central (Kahnemann (1973)) vs. Recursos Múltiplos (Wickens (1984))
 Capacidade central (Kahnemann)I: Capacidade de atenção limitada - Varia com o grau
de dificuldade da tarefa, do esforço e da motivação.
o Capacidade central de atenção: Utilizada de um modo flexível numa série de
atividades;
o Capacidade limitada: Duas tarefas podem ser realizadas ao mesmo tempo se os
graus de exigência combinados não excederem o limite dos recursos totais da
capacidade central;
o Limite de velocidade: varia com o grau de dificuldade da tarefa, do esforço e da
motivação.

 Recursos múltiplos (Wickens) - Sistema de processamento consiste em mecanismos de


processamento independentes (recursos múltiplos). Admite uma Estrutura tri-dimensional dos
recursos de processamento.

3 Estádios sucessivos de processamento:


 Codificação: Envolve o processamento percetivo, modalidade visual ou auditiva e códigos
espaciais ou verbais;
 Processamento central: Envolve códigos espaciais ou verbais;
 Resposta: Respostas manuais ou vocais.

Suposições do modelo:
 Há vários conjuntos de recursos baseados nas distinções nos estádios de processamento, em
termos de modalidade, códigos e respostas;
 Se duas tarefas fazem uso de diferentes recursos, então é possível desempenhá-las sem
interferência.

O modelo explica o efeito de semelhança de tarefas:


 Tarefas semelhantes competem para os mesmos recursos específicos (interferência);
 Tarefas dissemelhantes envolvem recursos diferentes (não há interferência).
Evidências:
 Experimentais:

38
o Há mais interferência quando as duas tarefas partilham a mesma modalidade ou o
mesmo tipo de resposta. Treisman e Davies (1973) e McLeod (1977);
 De neuroimagiologia:
o Tarefas muito diferentes envolvem ativação em áreas cerebrais largamente separadas.
Limitações da teoria: Considera apenas as modalidades visual e auditiva. Mesmo quando duas
tarefas envolvem modalidades diferentes, há muitas vezes algum grau de interferência (Treisman e
Davies, 1973).
Evidências da Neurociência Cognitiva: Evidências de que a ativação cerebral durante uma dupla
tarefa é menor do que a soma da ativação das duas tarefas isoladas.

Processamento Automático:
Com a prática há uma melhoria no desempenho de tarefas duplas porque algumas atividades tornam-
se automáticas. Como por exemplo, conduzir um carro e conversar com alguém.
Distinção teórica entre processos controlados e processos automáticos (Shiffrin & Schneider,
1977):
 Processos controlados: Processamento em série de capacidade limitada. Exigem atenção e
podem ser usados com flexibilidade em circunstâncias de mudança.
 Processos automáticos: Processamento em paralelo de capacidade ilimitada. Não exigem
atenção e são difíceis de modificar depois de apreendidos.
Os processos automáticos seguem alguns critérios. São rápidos, não é necessária atenção, não têm
qualquer efeito sobre a realização simultânea de outra tarefa, são indisponíveis para a consciência e
inevitáveis.
Ou seja, a automaticidade deve ser definida em termos de características potencialmente
independentes que a distingam da não-automaticidade:
 Não relacionada com objetivos/expetativas;
 Inconsciente;
 Eficiente;
 Rápida;
 Inevitável.
Muitos processos envolvem um misto de automaticidade e não automaticidade.
Cognitive bottleneck Theory - Teoria do estreitamento (gargalo) cognitivo (Welford, 1952; Pashler
et al., 2001)
Estreitamento (gargalo) no sistema de processamento que impossibilita a tomada de duas decisões
simultâneas sobre as respostas adequadas a dois estímulos - a seleção da resposta é serial.
Dados de fMRI e EEG (Sigman & Dehaene, 2008) sugerem que o efeito está relacionado com a
seleção de resposta.
Ou seja, o processamento percetivo em duas tarefas pode ocorrer em paralelo, Mas a seleção
subsequente da resposta ocorre de um modo serial.

39
MEMÓRIA:
A memória é a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar (evocar) informações disponíveis.
As teorias da memória consideram:
 A arquitetura do sistema de memória;
 Os processos que operam dentro desses sistemas.

Processos básicos envolvidos na memória:


Codificação  Armazenamento  Recuperação
Codificação: Processo de entrada e registo inicial da informação e a capacidade de mantê-la ativa
para o processo de armazenamento.
Armazenamento: Manutenção da informação codificada pelo tempo necessário para que possa ser
recuperada e utilizada quando evocada.
Recuperação: Recuperação de informação registada e armazenada, para que possa ser utilizada por
outros processos cognitivos como pensamento, a linguagem, etc.

Modelo Multi-Armazém- Atkinson (1968):

Este modelo nasce dentro de teorias que procuram estruturar a memória em diferentes locais para
explicar a maneira como o cérebro gerência a informação. Assim, o Modelo Multi-Armazém de
Atkinson e Shiffrin procura explicar isso através de três «armazéns».
 Memórias sensoriais
Os nossos sentidos captam muitas informações de diversos tipos (auditivas, visuais, hápticas, etc.).
Estas informações têm de ser armazenadas antes de serem processadas.
Aqui entram os registos sensoriais, um «armazém» temporário para os dados que ainda não estão
processados. Os registos sensoriais estão muito relacionados com a perceção e possuem

40
características diferentes dependendo da modalidade sensorial. Os dois registos mais estudados são a
memória icónica (0,5 seg) e a memória ecóica (2 a 4 seg).

 Memória icónica:
Tarefa: Recordação total ou parcial de listas de letras
Resultados: Os participantes conseguem apenas reportar 4-5 das 12 letras. A informação icónica
decai em menos de metade de um segundo de exposição a um estímulo.
Problema com o experimento: Memória das letras decai antes dos participantes as conseguirem
reportar.

 Memória ecóica:
Registo sensorial visual: muita informação, mas só durante frações de segundo. Informação sensorial
ainda não analisada.
Exemplo desta memória em funcionamento:
Estamos a ler; alguém nos faz uma pergunta; não prestámos atenção e respondemos “o quê?”,
mas rapidamente reconstituímos o que a pessoa disse; recuperamos a informação no armazém
ecóico.

 Memória a curto prazo:


A memória de curto prazo (MCP) é um armazenamento de memória que armazena uma pequena
quantidade de dados por um curto período de tempo. Esta capacidade geralmente têm uma amplitude
para guardar 7 a 9 elementos (limitação quantitativa) durante cerca de 18 segundos (limitação
temporal).

Limitação temporal- Paradigma de Brown-Peterson (1959):


Objetivo: Estudar o esquecimento de itens isolados para intervalos de retenção de variáveis na MCP.
Tarefa: Os participantes viam um trigrama (ex: LPD) seguido de um número (ex: 356) a partir do
qual tinham de contar para trás de três em três até ouvirem um sinal para recordar, isto é, reproduzir
o trigrama na ordem correta.

Resultados: Os resultados mostraram que a recordação era gravemente afetada por esta tarefa
intermédia de contar para trás  Esquecimento rápido.

MCP: Limitação quantitativa

41
Tarefa: Os participantes tinham de recordar-se de uma extensão de dígitos.
Resultados: Os participantes apenas se conseguiam recordar 7 a 9 dígitos.
Miller considerava que a capacidade da MCP era avaliada em termos de nº de agrupamentos
(chunks), a unidade de capacidade da MCP.
Noção de codificação: aumento da capacidade através do número de elementos em cada
agrupamento.
Efeito de primazia: maior evocação de itens na posição inicial da lista.
Efeito de recência: maior evocação de itens na posição final da lista.

Avaliação do modelo multi-armazém:


Recapitulação: Processo que permite a passagem da informação para a MLP.
Quanto mais tempo a informação ficar na MCP, maior a probabilidade da informação ser transferida
para a MLP.
Pontos positivos:
 O modelo faz sentido conceptualmente. Conseguimos compreender as diferentes funções e
reconhecer as diferentes capacidades dos sistemas;
 Cada armazém tem características distintas, o que sugere que são entidades separadas:
o Duração temporal;
o Capacidade;
o Mecanismos de esquecimento;
o Evidência de lesão cerebral.
Pontos negativos:
 Evidência que a MCP não é unitária;
 O armazém de MLP contém diferentes tipos de memória:
o Declarativa: episódica e semântica;
o Não-Declarativa: implícita.

MCP: Memória de Trabalho ou Operatória


Baddeley e Hitch (1974) propuseram uma abordagem mais funcional da MCP, isto é, em vez de
considerar a MCP como uma etapa na via para a MLP, orientaram-se para o exame das funções que
o sistema desempenha.

42
Executivo Central:
Características:
 Sistema sem capacidade de armazenamento;
 Associado aos lobos frontais;
 Sistema independente da modalidade sensorial.
Funções:
 Ativação, articulação e controlo dos dois sistemas de armazenamento (fonológico e visuo-
espacial);
 Funções mais gerais no desempenho de tarefas envolvendo atenção seletiva ou atenção
distribuída.

Ciclo fonológico:
Funções:
 Manter e recapitular informação sob a forma verbal, isto é, fonológica (preserva a ordem
de apresentação das palavras).
O ciclo tem dois componentes localizados no Hemisfério Esquerdo:
 Armazém fonológico: sistema passivo de armazenamento de material de fala por
períodos muito curtos;
 Sistema de recapitulação articulatória:
o Funções: Repetição da informação contida no armazém fonológico para prevenir o
declínio rápido do traço mnésico e Codificação fonológica, processo de
conversão de uma informação visual em fala.

Ciclo Visuoespacial:
Visualizamos histórias que nos contam, ou movimentos de dança, lances de um jogo relatado, etc.
Localizado no Hemisfério Direito, o ciclo visuoespacial armazena informação Visual e Espacial.
Funções:
 Armazenar e manipular informação espacial e visual.
Registo Episódico Temporário:
 Armazém temporário multimodal  Componente do modelo adicionado mais tardiamente;

43
 Combina informação do Ciclo fonológico e do Ciclo visuo-espacial numa representação
unitária multi-dimensional;
 Conectado à MLP.

Esquecimento:
O esquecimento é a capacidade de memorizar, recuperar e utilizar a informação por um período
limitado de tempo é essencial para muitos comportamentos humanos.

Recapitulação:
 Recapitulação de manutenção;
 Recapitulação elaborada (processos de reorganização/ recodificação) do material:
o Este tipo de recapitulação tem também a função de aumentar a probabilidade de, na
altura devida, melhorar a qualidade da recuperação.
o Permitindo, assim, uma maior consolidação da informação.
o Craik e Tulvig (1975): Estudo em que se variou o grau de elaboração do material:

1ª Fase: Completamento de frases (3 níveis de dificuldade).


Tarefa: Decidir se «sim» ou «não», a palavra-alvo se poderia enquadrar na frase.
2ª fase: Recordação incidental das palavras-alvo.
De acordo com a hipótese de recapitulação elaborada, a organização mais complexa das
frases conduziria a uma melhor recordação.
Resultados: Recordação 2x maior para as palavras que acompanhavam as frases mais complexas.
Conclusão: Quanto mais ricos os contextos de codificação, melhores as vias de recuperação.

Teoria dos níveis de processamento (Craik & Lockhart, 1972):


 Processamento superficial: Características físicas;
 Processamento profundo: Características semânticas.
Esta teoria defende que o sucesso em recordar depende do nível a que a informação foi processada e
não da quantidade de repetição.
Níveis mais profundos de análise produzem traços mnésicos mais elaborados, mais duradouros e
mais robustos.

Memória e esquecimento:
Explicações:
Declínio do traço mnésico:

44
o Peterson & Peterson (1959)  Teoria do esquecimento por declínio do traço
mnésico:
 Consideravam que a informação na MCP se degrada passivamente;
 O esquecimento é devido ao apagamento automático do traço mnésico.

 Interferência:
o Também se admite que o esquecimento tanto na MCP como na MLP possa ser devido
à interferência;
o O grau de esquecimento seria devido à perturbação do traço mnésico por outros traços
mnésicos;
o O grau de interferência dependeria do grau de semelhança dos dois traços em jogo;
o Interferência Proativa: Novas aprendizagens são perturbadas por aprendizagens
anteriores;
o Interferência Retroativa: Novas aprendizagens perturbam aprendizagens realizadas
anteriormente.
 Consolidação:
o Processo que dura várias horas ou mais e que fia a informação na MLP;
o Processo faseado (Eichenbaum, 2001):
 1ª Fase (horas): a informação permanece no hipocampo;
 2ª Fase (de dias a anos): a consolidação da informação envolve interações
entre o hipocampo e as áreas corticais;
 O esquecimento resulta da falha no processo de consolidação da MLP.
o A teoria da consolidação permite explicar duas leis antigas sobre o esquecimento:
- Lei de Jost (1897): “A mais antiga de duas memórias com a mesma força terá um
declínio mais lento” (memórias antigas são mais consolidadas e menos vulneráveis).
- Lei de Ribot (1882): “Os efeitos adversos de lesões cerebrais na memória são
maiores para as memórias mais recentes do que para as mais antigas” (memórias mais recentes são
mais vulneráveis porque estão em fase inicial de consolidação).

Memória a Longo-Prazo:
Os sistemas da MLP foram descobertos através de evidências de pacientes com amnésia:
 Pacientes amnésicos:
o Lesões cerebrais  Perturbações na MLP
 Características do síndroma amnésico:
o Amnésia anterógrada (paciente HM);
o Amnésia retrógrada;
o MCP pouco alterada;
o Alguma capacidade de aprendizagem preservada.

A MLP pode assumir duas formas (com áreas cerebrais distintas):


 Memória declarativa (Explícita):
o Envolve a recuperação consciente de acontecimentos e factos;

45
o Alterada em pacientes amnésicos.
 Memória não-declarativa (Implícita):
o Não envolve uma recuperação consciente; manifesta-se através de mudanças
comportamentais;
o Preservada em pacientes amnésicos.

A memória declarativa pode ainda ser dividida em duas formas: Memória Episódica e
Memória Semântica. Esta distinção foi avançada por Tulving em 1972. Surge numa perspetiva
crítica ao modelo multi-armazém, que considera que o armazém a Longo Prazo é constituído por
recordações permanentes, sem distinguir entre os vários tipos dessas recordações.
 Memória Episódica:
o Armazenamento e recuperação de eventos específicos;
o Associada a um local e tempo específicos;
o Associada a recuperação consciente;
o Associada a «Self-knowing»;
o Evolução recente, desenvolvimento tardio e deterioração precoce.
 Memória Semântica:
o Conhecimento geral de objetos, significado de palavras, factos, pessoas, etc.;
o Parece carecer de conexão particular a um tempo e espaço;
o Associada a «Knowing awareness».

Paciente KC:
Devido a lesões cerebrais que atingiram os lobos temporais mediais, o paciente KC ficou com
amnésia retrógrada assimétrica: amnésia acentuada para acontecimentos pessoais; no entanto, a
memória semântica adquirida antes do acidente manteve-se intacta.
 Dissociação entre memória episódica e memória semântica.

Organização da memória semântica:


Modelo de rede hierárquico (Collins & Quillian, 1969):
Este modelo descreve e organiza o conhecimento semântico numa hierarquia vertical. Cada
palavra é guardada com uma configuração de ponteiros para outras palavras em memória,
criando uma configuração de ligações que representa o significado/traços característicos da
palavra. A representação do conceito Dálmata como “um cão grande com manchas pretas”
consiste na palavra Cão (categoria superior de Dálmata) com um ponteiro para o conceito
Dálmata, e ponteiros para as suas propriedades/características. A informação geral a todos os
cães (ex: ladrar) não necessita de ser associada a cada nó representativo a cada tipo de cão, mas
apenas ao nó Cão, sendo os seus atributos herdados pelos nós inferiores.
Seguindo esta estrutura, os autores observaram que, a partir deste sistema de ligação de
proposições, é possível criar um sistema económico de armazenamento e generalização de
conhecimento.

46
Limitações:
 Familiaridade:
o “Um canário tem pele” é menos familiar que “ Um canário é amarelo”, o que pode
explicar o tempo superior de verificação:
o Conrad (1972): quando se controla o fator de familiaridade a distância entre conceito
e propriedade tem pouco efeito.
 Tipicalidade:
o A verificação de “Um canário é um pássaro” é mais rápida do que “Um pinguim é um
pássaro” mas, segundo o modelo, o tempo de verificação deveria ser o mesmo;
o Mais lento ainda porque conceito e propriedade são separados por dois níveis de
hierarquia.
Modelo de rede de ativação semântica espalhada de Collins e Lofthus (1975):
Nesta nova teoria, a rigidez da hierarquia vertical original foi abandonada, permitindo que se possam
estabelecer ligações entre quaisquer pares de conceitos. O peso das conexões entre conceitos varia
consoante o nó a que está ligado (maiores ligações  menor o grau de parentesco semântico),
variando, assim, a rapidez com que identificam certas características de dado conceito.
Desta forma, é possível justificar que é mais rápida a identificação de propriedades de conceitos
típicos, porque estes estão ligados a itens mais gerais (com conexões mais fortes e mais ativadas) que
os conceitos atípicos e o sistema é mais rápido a determinar que o pinguim é um animal,
estabelecendo a relação direta entre pinguim e animal sem forçosamente o deduzir a partir da ligação
pinguim  pássaro  animal.

Organização da memória episódica:


Esta memória foca-se na essência dos acontecimentos e não na listagem dos seus atributos. Assim,
esta acaba por ter uma função construtiva, mais do que reprodutiva.
 Familiaridade:

47
o Sensação de saber algo, mesmo sem ser capaz de relembrar o contexto;
o Rápido e automático;
o Baseado na perceção da força da memória.
 Recordação:
o Relembrar detalhes contextuais de uma memória;
o Mis lento e necessita de mais atenção.

Memória não-declarativa:
A memória declarativa não é o único tipo de conhecimento que temos representado em memória.
Exemplo: sabemos andar de bicicleta, mas somos incapazes de descrever o tipo de conhecimento
envolvido nessa habilidade. Este tipo de memória não envolve uma recuperação consciente,
revelando-se através do comportamento.
Dois grandes tipos de memória não-declarativa:
 Primação (priming) de repetição: Facilitação no processamento de estímulo repetidos;
o Primação percetiva: apresentação repetida de um estímulo facilita o seu
processamento percetivo;
o Primação conceptual: apresentação repetida de um estímulo facilita o seu
processamento ao nível do seu significado.
Distinção entre estes dois tipos de primação suportados pela dissociação dos casos dos pacientes LH
(lesões bilaterais nos lobos occipitais- ausência de primação percetiva, mas primação conceptual) e
pacientes com Alzheimer (lesões nos lobos temporais e parietais- primação percetiva, mas primação
conceptual perturbada).
 Memória procedimental: Aprendizagem de habilidades.
o Demonstra-se através de um desempenho hábil e não através de um discurso sobre o
que seria um bom desempenho.

Memória não-declarativa e Memória declarativa:


Existe evidência empírica em favor da distinção da memória não declarativa da memória declarativa,
através de estudos realizados com pacientes amnésicos.
Wilder Penfield (1940) foi um neurocirurgião que atribuiu a existência de várias regiões nos
diferentes processos de memória.
Paciente HM- Estudado por Brenda Milner. Em 1957, Brenda Milner descreve os efeitos da
ressecação bilateral dos lobos temporais mediais para tratar a epilepsia no paciente HM.
Foram retiradas, bilateralmente, porções do lobo temporal (formação do hipocampo, amígdala e
parte associativa do córtex temporal). Após a cirurgia, HM exibiu severos problemas de memória,
mas as suas restantes capacidades intelectuais e percetivas permanecem largamente inalteradas.
 O que permaneceu inalterado:
o Memória a curto-prazo normal;
o Memória a longo-prazo (para acontecimentos anteriores à cirurgia) normal;

48
o Apenas amnésia retrógrada para eventos anteriores, muito próximos do momento da
cirurgia;
o QI manteve-se inalterado.
 O que se alterou:
o Amnésia retrógrada;
o Transferência de novas memórias a curto-prazo em memórias a longo-prazo;
o Incapaz de reter informação sobre pessoas ou locais por mais do que escassos
minutos;
o Capaz de repetir várias vezes um número que lhe era pedido (boa memória a curto-
prazo), mas se fosse distraído era incapaz de o evocar novamente;
o Incapaz de reconhecer pessoas que conhecer após a cirurgia;
o Imensa dificuldade na orientação espacial.

Memória Implícita- paciente HM:


Na tarefa de seguir os contornos de uma estrela através da sua imagem em espelho, verificou-se que:
 O paciente diminuía o número de erros ao longo da sessão;
 O paciente melhorava com a repetição das sessões, mesmo não se
lembrando de ter já efetuado a tarefa anteriormente.
Conclusão: A memória implícita permanece intacta uma vez que o
paciente está capaz de armazenar e transmitir informação procedimental,
mesmo tendo amnésia retrógrada para informação declarativa.
O paciente HM também é suscetível de “priming”, ou seja, está capaz de
recordar imagens vistas anteriormente face a uma pista.

Onde ocorre o armazenamento duradouro de memórias?


Exemplo: Imagem de uma cara
Córtex visual  Córtex associativo mesotemporal  Córtex parahipocampal, perrinal e entorrinal
 Hipocampo  Neocórtex
A informação fica armazenada no hipocampo durante alguns dias  Transferência da informação
para o centro de armazenamento de longa-duração  Neocórtex
Se a memória ainda está armazenada em regiões do lobo temporal medial, então lesões a este nível
vão impedir relembrar essas memórias.
Qualquer sistema de memória, para ser eficiente, precisa de articular 3 componentes distintos
(processo tripartido):
Codificação  Retenção  Recuperação
Codificação: Formação de novas memórias.
Retenção: Armazenamento da informação.

49
Recuperação: Recordação da informação memorizada.

Memória: aprendizagem tradicional vs. Abordagem à memória do dia-a-dia


As primeiras investigações sistemáticas sobre a
memória aconteceram devido aos estudos de
Ebbinghaus. Ele aprendeu 169 listas de 13 sílabas
sem qualquer significado- codificação.
Seguidamente, testou a capacidade de recordar essas
sílabas ao longo do tempo- recuperação- com
diferentes intervalos de retenção. Assim, descobriu a
«curva do esquecimento», o esquecimento é
exponencial.

Vários fatores influenciam o modo como os eventos


são codificados, incluindo:
 Natureza dos estímulos (ex. palavras, imagens);
 Tarefas de codificação (ex. tarefas semânticas, percetivas);
 Estratégias adotadas pelos participantes (ex. repetição, organização da informação,
construção de histórias).
Características de intervalo de retenção mais estudadas:
 Duração do intervalo de retenção (desde alguns segundos até anos);
 Natureza dos eventos que ocorrem durante a retenção.
o Paradigma de prevenção da retenção (paradigma de Brown-Peterson);
o Paradigma da recodificação.

Cada fase de memória envolve um conjunto de operações e processos cognitivos complexos. Os


estudos atuais procuram conhecer quais os processos envolvidos em cada fase e como as diferentes
fases interagem.
A maior parte dos estudos da memória centram-se na investigação sobre os processos de
recuperação. Vários paradigmas experimentais têm sido utilizados para explorar a natureza e a
quantidade de informação disponível durante a recuperação (ex. Recordação com pista, recordação
livre, priming (memória implícita)).
Recordação com pista: A recuperação de informação é facilitada pela apresentação de pistas.
Participantes estudam pares de palavras, compostos por uma palavra alvo e uma palavra pista. Mais
tarde, durante a recuperação, têm que recordar a palavra alvo, a partir de palavras-pista dadas.

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Mede-se:
 Proporção de palavras corretamente recordadas e associadas- memória de item e memória
associativa;
 Proporção de palavras corretamente recordadas, mas não associadas- memória de item sem
memória associativa;
 Proporção de falsos alarmes- recordação de um item que não foi apresentado.
Recordação livre:
Participantes estudam um conjunto de itens e seguidamente é-lhes pedido para recordar esses itens
independentemente da ordem.
Estudos de recordação livre evidenciam a existência de dois efeitos:
 Efeito de primazia: primeiros itens de uma lista são melhor recordados do que os itens do
meio;
 Efeito de recência: últimos itens de uma lista são melhor recordados do que os itens do
meio.
Murdock (1962) apresentou a 6 grupos de participantes listas de palavras que continham:
 10, 15 ou 20 palavras – apresentadas durante 2 segundos;
 20, 30 ou 40 palavras- apresentadas durante 1 segundo.
Em todos os casos, houve um efeito de primazia e um efeito de recência. Estes efeitos foram
independentes do tamanho da lista e da codificação das palavras.
Assim, Glantzer e Cunitz (1966) propuseram o efeito da posição serial, como evidências para a
distinção da MCP e da MLP, já que o efeito de primazia ocorre pois as palavras estão na MLP e o
efeito de recência ocorre pois as palavras ainda estão na MCP.
Priming: Paradigma de memória implícita em que o participante muitas vezes não tem consciência
de que está a recordar um item previamente estudado.
Tarefa de primação de repetição: facilitação da realização da tarefa quando um item foi apresentado
antes (ex. pão… pão).
Tarefa de primação semântica: facilitação da realização da tarefa quando são apresentados itens
semanticamente relacionados (ex. pão… manteiga).
Estudos com os paradigmas de primação indicam que os efeitos podem envolver algum acesso
inconsciente à memória (memória explícita), mas muitas vezes envolvem memória implícita, sem
acesso consciente.
Abordagem tradicional Abordagem à memória do dia-a-dia
 Metáfora do armazém: nº de itens  Metáfora da correspondência:
acessíveis; qualidade da adequação entre o relato
 Materiais: recentes e arbitrários; de um indivíduo e o evento real;
 Aprendizagem muitas vezes  Materiais: memórias antigas e
intencional; memórias recapituladas;
 Motivação: instruções arbitrárias;  Aprendizagem muitas vezes
acidental;

51
 Foco na precisão;  Motivação: objetivos pessoais;
 Abordagem de laboratório.  Foco na relevância;
 Abordagem ecológica
(representativa e generalizável).

Memória do dia-a-dia:
 Memória declarativa os explícita;
 Memória para eventos marcantes da vida de cada um;
 Investigação acerca da memória do dia-a-dia é baseada em ações intencionais que têm um
propósito, são influenciadas pela personalidade e outras características do indivíduo e são
influenciadas pro exigências da situação.
A precisão não é o mais importante quando recordamos os vários aspetos do dia-a-dia.
Marsh e Tversky (2004) pediram a estudantes que gravassem conversas sobre a sua vida, durante 4
semanas. Para cada conversa, preencheram um formulário onde descreviam o acontecimento original
e o seu reconto da conversa.
Classificaram emocionalmente o acontecimento quanto à valência (positivo, neutro ou negativo) e
quanto à intensidade (intenso, algo intenso, nada intenso).
Classificaram a precisão de cada reconto (preciso ou não preciso), tal como indicavam se tinha ou
não ocorrido algum dos 4 tipos de distorção: exagero, minimização, seletividade e adição.
No final, descobriram que o contexto social modela a forma de contar as histórias de vida: alteram-se
as histórias para as diferentes audiências e exageramo-las para entreter e simplificamo-las pra
informar.

Memória autobiográfica e episódica:


Ambas se encontram relacionadas (recordação de eventos pessoais), mas é possível distingui-las,
uma vez que pode existir memória episódica sem existir memória autobiográfica.
Memória autobiográfica Memória episódica
 Memórias relacionadas com a  Experiências pessoais que
nossa experiência passada e das acontecem num determinado
pessoas que nos são importantes; momento e num local específico;
 Relaciona-se com eventos  Acontecimentos triviais;
pessoais significativos;  Abrange apenas algum tempo;
 Ajuda a definir a identidade e  De âmbito mais limitado;
baseia-se em objetivos pessoais;  Gilboa (2004): associada à
 Abrange anos e décadas passadas; ativação do córtex médio-
 Memórias complexas; dorsolateral direito. Monitorização
 Gilboa (2004): associada à da precisão para evitar erros;
ativação do córtex pré-frontal.  Burianova e Grady (2007):
Medição da precisão relacionada associa-se exclusivamente à

52
com o autoconhecimento; ativação frontal medial direita.
 Burianova e Grady (2007):
associa-se exclusivamente à
ativação frontal medial.

Memórias autobiográficas:
As memórias autobiográficas de eventos do dia-a-dia dependem de vários fatores:
 Emoções: frequentemente associadas a acontecimentos com conteúdo emocionalmente rico;
 Relevância pessoal: referem-se a episódios com significado para o próprio;
 Construção do eu/da identidade: baseiam-se nos nossos objetivos pessoais, constroem-se
com base na interação com os outros e permitem o conhecimento acerca de nós próprios.
O estudo de Dolcos, LaBar e Cabeza (2005) pretendia estudar a importância da intensidade e da
valência das emoções, através da memória para imagens IAPS com manipulação de valência
(positiva, neutra, negativa) e intensidade (baixa, alta).
Os participantes estudaram um conjunto de imagens do IAPS com valência emocional positiva,
negativa ou neutra. Um ano depois, viram as mesmas imagens, misturadas com imagens novas e
tiveram de decidir se as imagens tinham sido vistas ou não. Descobriram que imagens emocionais
eram melhor recordadas do que neutras.
A recordação de imagens emocionais, relativamente a imagens neutras, envolveu maior ativação:
 Amígdala: associada ao processamento de eventos emocionais:
 Hipocampo (e córtex entorrinal): fundamentais para o sucesso na recordação e para
memórias duradouras.
Os dados de fRMI confirmam a importância da interação entre processos de memória e emoções na
recuperação de informação.
Fenómeno de Proust: Odores como pistas para a recordação de memórias pessoais/autobiográficas
muito antigas, vívidas e emocionais.
Porquê o olfato?
-Proximidade anatómica e funcional entre o bolbo olfativo e o hipocampo;
-Olfato ligado diretamente ao sistema límbico, que inclui o hipocampo.
Memória ao longo da vida:
 Amnésia infantil: quase total ausência de memórias pessoais dos 3 primeiros anos de vida;
 Alto de Reminiscência: nº de memórias surpreendemente elevado; Surge do período entre os
10-30 anos;
 Recência: mais memórias do passado recente.
A amnésia infantil surge devido ao desenvolvimento incompleto do cérebro, uma vez que existem
várias partes do hipocampo que não estão totalmente desenvolvidas antes dos 2-8 anos.

53
O córtex pré-frontal aumenta a sua densidade sináptica até aos 24 meses e a sua maturação completa
só se dá por volta dos 20 anos.
No entanto, as crianças formam memórias de longo prazo.
Freud propôs que a amnésia infantil ocorria através do fenómeno de repressão, com pensamentos
relacionados com a ameaça, banindo-os para o inconsciente e transforando-os em memórias inócuas
(não prejudiciais).
Howe e Courage (1997) acreditam que o desenvolvimento do sentido de identidade é necessário
para formar memórias autobiográficas. Este desenvolve-se por volta dos 2 anos e é indexado pelo
reconhecimento visual do eu, o que nos permite o reconhecimento da própria imagem no espelho.

Alto de reminiscência:
Existe um maior número de memórias para eventos passados entre os 10 e os 30 anos, em especial
entre os 15-25 anos. É também constantemente observado em pessoas com mais de 40 anos.
Rubin et al. (1998):
 Novidade:
o Mais esforço na atribuição de significado;
o Relativa falta de interferência proactiva (interferência da aprendizagem anterior);
o Produz memórias distintivas.
 Estabilidade:
o Eventos de um período estável da vida servem, mais provavelmente, como modelos
para eventos futuros;
o Fornece uma estrutura cognitiva de apoio a uma organização estável dos eventos.
Os acontecimentos positivos ocorridos no início da idade adulta são especialmente memoráveis.
Muitos acontecimentos ocorrem durante o período do alto de reminiscência (ex. Apaixonar-se, entrar
na faculdade, casar, ter filhos).
Gluck e Bluck, em 2007, propuseram uma tarefa que consistia em classificar memórias com base na
sua valência emocional, importância pessoal e sensação de controlo sobre o acontecimento.
Os resultados mostraram que o alto de reminiscência encontrado apenas para as memórias positivas
com elevada sensação de controlo. Chegaram á conclusão de que memórias autobiográficas deste
período são importantes para a criação de uma narrativa positiva de vida.
Imaginando a vida pessoal futura, a narrativa de vida cultural (cultural life scripts) constitui um
princípio organizacional global para memórias autobiográficas e representações futuras ao longo da
vida.
O alto de reminiscência parece ser guiado pelo modo como as pessoas organizam a sua história de
vida cultural, não por processos de memoria per si.
A narrativa cultural de vida explica o alto de reminiscência nos adultos (passado) e nas crianças
(futuro), mais do que os processos de memória per si.

54
Recência:
Maior recordação do passado recente (diários). Esta tendência é mediada pela importância dos
episódios recentes e envolvimento emocional e pela recapitulação e partilha de episódios da vida
com os outros.

Processamento auto-referencial:
No estudo de Cabeza et al., 2004, os participantes tiravam fotografias de locais específicos. Dias
mais tarde, tinham que identificar quais as fotografias tiradas por si próprio vs. pelo outro.
O reconhecimento das fotos tiradas pelo próprio (em relação às fotos dos outros) envolveu maior
ativação do córtex pré-frontal medial, uma região muito associada ao processamento auto-
referencial. Refletir sobre si próprio ajuda na recuperação de informação.
Teoria da memória autobiográfica:
 Conhecimento autobiográfico de base (contém informação pessoal a três níveis de
especificidade):
o Períodos de vida: Intervalos de tempo longos definidos por
situações/objetos/atividades gerais em curso (ex. anos na universidade).
Conhecimento temático e temporal;
o Eventos gerais: Eventos únicos ou repetidos ao longo da vida (ex. férias num
determinado lugar);
o Eventos específicos: Conhecimento de detalhes relacionados com eventos gerais (ex.
sentimentos). Organizados por ordem temporal.
 Working self (construção do Eu/ identidade)
o Modo a partir do qual o conhecimento autobiográfico é acumulado e usado;
o Conjunto de objetivos e autoimagens compostos por autoconhecimentos conceptuais
(detalhes pessoais, objetivos profissionais) e que são em parte construídos
socialmente pelo contexto familiar, educação, pares, mitos e estereótipos;
o Para um working self ser eficaz, tem de ser provido de:
 Coerência: estabelecer um conhecimento de base sobre o EU, criar uma
história de vida integrada e coerente a longo-prazo;
 Corresponder à realidade: realização de objetivos e atividades com precisão,
minimizar a repetição de ações a curto-prazo.
Recuperação gerativa:
 Construção deliberada de memórias autobiográficas;
o Combina recursos do working self com a informação do conhecimento
autobiográfico de base.
 Produz memórias relacionadas com objetivos pessoais.
Recuperação direta:
 Recuperação involuntária, ativada por pistas específicas (ex. estar no mesmo lugar que x
acontecimento);

55
o Requer menos esforço/ envolvimento ativo.
 Não envolve o working self.
Existe evidência neuropsicológica de que a amnésia retrógrada envolve um défice para a recordação
de eventos específicos, mas a recordação de eventos gerais e períodos de vida está geralmente menos
prejudicada (paciente KC, sem memória episódica, mas capaz de recordar conhecimento
autobiográfico geral).
Esta teoria tem pontos fortes, como ser uma teoria compreensiva da memória autobiográfica, uma
vez que várias das suas hipóteses são apoiadas pela investigação, tal como existem evidências
neuropsicológicas e de neuroimagem. No entanto, tem também limitações, como o facto de a
memória autobiográfica poder envolver mais processos do que os que são assumidos. É também
necessário mais detalhe na explicação de como o working self interage com o conhecimento
autobiográfico de base e a distinção entre a recuperação gerativa e a recuperação direta.

Memórias Flashbulb:
São memórias autobiográficas vívidas, detalhadas e duradouras de eventos públicos importantes,
dramáticos, emocionalmente ricos e surpreendentes como:
 Os ataques do 11 de setembro;
 A morte da princesa Diana;
 25 de abril;
 A vitória de Portugal no Euro de 2016;
 …
As pessoas que os recordam acreditam tratar-se e memórias muito precisas.
Estas memórias dependem de fatores envolvidos na formação de qualquer nova memória,
incluindo conhecimentos anteriores relevantes, importância pessoal, surpresa, novidade do evento,
entre outros.
Incluem informações acerca do local onde aconteceu, o que estava a fazer, as reações e emoções
sentidas.
Os estudos de Ost (2002) e de Pedzdek (2003) verificaram que as memórias flashbulb podem ser
surpreendemente imprecisas.
Os estudos de Winningham (2000) e de Talarico & Rubin (2003) verificaram que as memórias
mudaram consideravelmente ao longo dos primeiros dias antes de se tornarem consistentes.
Memórias flashbulb não estão totalmente formadas no momento em que se “aprende” o evento.
O estudo de Talarico e Rubin queria avaliar o número de detalhes recordados e a consistência desses
detalhes ao longo do tempo, testando participantes acerca das suas memórias sobre o 11 de setembro
em diferentes momentos.
Com o seu estudo verificaram que a consistência nas memórias não difere, ambas declinam ao
longo do tempo. No entanto, a recordação e a confiança reportadas diferem nas memórias
flashbulb (recordação e confiança reportadas mantêm-se constantes no tempo) e nas memórias

56
diárias (recordação e confiança reportadas diminuem). As memórias flashbulb são semelhantes a
outras em termos de precisão, mas são percecionadas como sendo mais precisas.
O estudo de Hirst et al. (2009) verificou que o esquecimento das memórias flashbulb e da memória
para o evento (detalhes do evento) abranda após 1 ano. O conteúdo das memórias flashbulb e das
memórias para o evento estabiliza após 1 ano. As reações emocionais consequentes são pior
recordadas do que características não emocionais como onde aconteceu e quem informou.
Assim, pode-se afirmar que as memórias flashbulb são especiais porque são distintivas e não sofrem
interferência de eventos similares, tal como são de longa duração, uma vez que beneficiam de
múltiplas recuperações espaçadas no tempo.

Falsas memórias:
São distorções da memória que consiste em recordar eventos que nunca aconteceram ou recordá-los
de forma significativamente diferente de como realmente aconteceram.
O DRM é o paradigma utilizado para o estudo de falsas memórias.
Para estudar este fenómeno, Roediger e McDermott (1995) criaram um estudo em
que eram mostradas a participantes listas de 12 palavras com associação a uma
palavra não apresentada (ex. dormir).
Os resultados mostraram que 40% das vezes eram recordadas palavras não
apresentadas associadas ao “tema”. Nas listas maiores (+12), 55% das vezes eram
recordadas palavas não apresentadas associadas. Assim, eram reconhecidas com
um elevado grau de confiança.
Perante questões como: “A palavra x apareceu?” estas apresentam a indução de
uma falsa memória para um evento que não aconteceu. A ativação residual conduz
ao falso reconhecimento das palavras. Existe, assim, um erro de monitorização de
fonte: os participantes não conseguem distinguir a origem das palavas.

Testemunhas oculares:
Existem diversos fatores que podem distorcer a memória em situações de crime, como as
expectativas do observador (viés confirmatório), o efeito do foco atencional na arma do crime, a
ansiedade, o stress, a idade, a recordação de faces (transferência/familiaridade, ORE), o formato da
pergunta e a interferência retroativa e proactiva.
Em 1998, Lindholm e Christianson elaboraram um estudo com estudantes suecos e imigrantes, que
iriam assistir a um assalto simulado, em que o assaltante era sueco ou um imigrante. Os estudantes
foram, depois, convidados a identificar o assaltante de entre quatro suecos e quatro imigrantes.
Verificou-se que os imigrantes e suecos identificaram erradamente um imigrante inocente mais
frequentemente que um sueco inocente. Assim, a sobre-representação influenciou as expetativas dos
participantes.

57
A presença de uma arma provoca falhas na recordação de outros detalhes por parte das testemunhas.
Existe uma menor probabilidade de identificar com precisão um alvo quando uma arma está
envolvida, provavelmente devido á atenção estar a ser naturalmente atraída para a arma em
detrimento de outros aspetos da situação.
Em crimes reais, a presença de uma arma não inibe a identificação de suspeitos, mas isto não implica
precisão.
Pickel (1999) propôs duas explicações possíveis para as armas atraírem mais atenção: representam
uma ameaça e são inesperadas.
A ansiedade e o stress têm um impacto negativo na precisão da identificação por parte das
testemunhas, uma vez que reduz a habilidade das testemunhas para recordar detalhes do culpado, da
cena do crime e as ações das figuras principais.
Foi também verificado através de estudos que adultos mais velhos têm mais probabilidade do que os
mais jovens para produzirem falsas memórias. Existe, também, o enviesamento da mesma idade,
em que a precisão da identificação de alguém aumenta quando o culpado tem uma idade semelhante
à da testemunha.
Ao recordar faces, existe uma tendência para identificar erradamente uma face familiar (mas
inocente) como pertencendo a um culpado.
O efeito de “verbal overshadowing” (descrever uma face previamente vista) para faces prejudica o
reconhecimento da mesma.
Clare e Lewandowsky (2004) concluíram que fornecer uma descrição verbal do culpado faz com que
as testemunhas oculares fiquem mais relutantes em identificar qualquer pessoa num line up.
Descrições verbais breves têm maior probabilidade de produzir o efeito do que as descrições verbais
detalhadas.
Para verificar o ORE temos a hipótese da perícia, que afirma que temos mais experiência a
distinguir faces da mesma raça, tal como a hipótese Social-Cognitiva, o processo
profundo/minucioso de faces apenas ocorre para indivíduos com os quais nos identificamos.
A interferência retroativa diz respeito á interferência de informação depois de aprendermos algo,
mas antes que tenhamos de o recordar.
A interferência proactiva é a dificuldade em aprender novas informações porque a informação
pertinente que é aprendida interfere na nova aprendizagem.
Em contraste com os cenários da vida real, as condições de laboratório tendem a questionar/pedir
informação não diretamente envolvida no crime é menos stressante, dão uma perspetiva passiva da
testemunha ocular, concedem menos tempo para observar o acontecimento e têm apenas
consequências mínimas para a informação errada ou falsas identificações.
Testemunhas de acontecimentos da vida real têm menos precisão do que as que observam os eventos
em condições de laboratório. As distorções e imprecisões no laboratório fornecem um valor
subestimado das deficiências da memória da vida real. Assim, a investigação laboratorial continua a
ser relevante.

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Memória retrospetiva:
 Memória das pessoas, palavras e eventos acontecidos ou experienciados no passado;
 Geralmente envolve a recordação do «o que» sabemos acerca de algo;
 Normalmente tem um elevado conteúdo informativo;
 Mais disponível com pistas.

Memória prospetiva:
 Realizar uma ação prevista, na ausência de qualquer lembrete explícito para o fazer;
 Foca-se no «quando» fazer algo;
 Normalmente tem um baixo conteúdo informativo;
 Relevante para planos e objetivos que fazemos para a vida quotidiana;
 Pode ser baseada em acontecimentos ou no tempo.
Ellis e Freeman (2008) criaram um modelo para a memória prospetiva que consistia em 5 passos:
Codificação  Retenção  Recuperação  Execução  Avaliação
 Armazena informação acerca de qua a ação e quando precisa de ser executada. A intenção de
agir;
 Mantém a informação armazenada durante um determinado período de tempo;
 Quando a oportunidade surge, a intenção tem de ser executada;
 Avaliação do resultado dos estágios precedentes. Se a memória prospetiva falhou, dá-se o re-
planeamento.

Consciência:
É um conceito muito complicado de definir, tendo uma série de definições diferentes, dependendo do
ramo da ciência e da não-ciência da qual estamos a falar.
No entanto, existem 3 questões que permitem lidar com o estudo da consciência no âmbito da
neurociência (Pinker, 1997):
 Senciência:
o Consciência fenomenológica. Experiência subjetiva e disponível individualmente.
 Acesso à informação:
o Relato do conteúdo das experiências subjetivas.
 Autoconhecimento:
o A perceção de nós mesmos
A neurociência cognitiva pode responder acerca da organização do cérebro humano e da mente,
através do estudo da neuroimagem e de pacientes com lesões encefálicas.

59
A neurociência cognitiva da consciência tenciona determinar se existe uma forma sistemática de
processamento de informação e uma classe de padrões neuronais de ativação que distingam
sistematicamente os estados mentais referidos como conscientes dos outros estados.
A perceção consciente depende da ativação simultânea e coordenada de várias áreas especializadas e
muitas vezes distantes do cérebro.
São utilizados paradigmas para tentar comparar padrões de ativação cerebral associados com o
processamento consciente vs, inconsciente/perceção visual:
 Cegueira desatencional (não ver itens não atendidos);
 Rivalidade binocular (competição pela dominância percetiva);
 Paradigma “flicker” (incapacidade de detetar mudanças óbvias numa cena visual).

Relação entre consciência e estados cerebrais:


Existem três estados principais que podem ocorrer perante a apresentação do estímulo visual
(Modelo do Espaço de Trabalho Neuronal):
 Subliminar: Ativação bottom-up insuficiente para a ativação em larga escala;
 Pré-consciente: Ativação pode permitir acesso consciente mas sensório-motor. Bloqueio
atencional das áreas parietais e frontais superiores (top-down);
 Consciente: Forte orientação top-down da atenção. Ativação do espaço global da sua rede
parietal-frontal. Possibilidade de reportar a experiência.

Relação entre consciência e estados cerebrais:


Perceção sem consciência- hipóteses explicativas (Farah, 1988):
 Hipótese do papel privilegiado: Consciência como tendo o papel privilegiado de sistemas
cerebrais particulares; apenas alguns sistemas estão envolvidos na mediação da perceção
consciente;
 Hipótese da integração: Consciência como um estado de integração entre sistemas cerebrais
distintos, a perceção consciente envolve a junção de propriedades do estímulo;
 Consciência como uma propriedade graduada do processamento neuronal da
informação: A perceção consciente requer representações percetivas de alta qualidade.
Existem sistemas cerebrais particulares como mediadores da consciência, cujo funcionamento resulta
em experiências conscientes, embora não estejam especificamente dedicados à consciência.
A consciência é um estado cerebral no qual as várias perceções, recordações, ações atuais e planos de
ação de modalidade específica são coerentes entre si (Kinsbourne, 1988).
Ênfase na integração (resultado da interação entre sistemas) como base subjacente à experiência
consciente. No entanto, uma desconexão anatómica pode impedir a integração (ex. pacientes split-
brain- Paciente PS).
Paciente PS:

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O lado esquerdo do cérebro domina a linguagem, o discurso e a resolução de problemas. O
hemisfério direito domina as tarefas visuomotoras.
Foi apresentado a cada hemisfério uma imagem que estava
relacionada com uma das quatro cartas com itens à frente do
paciente PS. O hemisfério direito viu a imagem á esquerda (cada
coberta de neve) e o hemisfério direito viu a imagem á sua
esquerda (pata de galinha). Ambos os hemisférios conseguiam
ver as cartas.
O hemisfério direito e esquerdo rapidamente escolheram a carta
que mais se adequava. A mão esquerda apontou para a escolha
feita pelo hemisfério direito e a mão direita apontou para a
escolha do hemisfério esquerdo.
Depois disso, perguntaram ao paciente porque é que a mão
esquerda estava a apontar para a pá. Apenas o hemisfério
esquerdo tem a habilidade de falar, e este não sabia a resposta
porque quem decidiu essa carta foi o hemisfério direito. Imediatamente o hemisfério esquerdo criou
uma história sobre o que conseguia ver- a pata de galinha. E disse que o hemisfério direito tinha feito
esta escolha porque é preciso uma pá para limpar o galinheiro.
Consciência não unitária.

Existe um corelação entre a qualidade da representação percetiva e a probabilidade de perceção


consciente- a consciência está associada com representações de maior qualidade.
A perceção subliminar acontece sempre que um estímulo apresentado abaixo dos limites da perceção
consciente é reconhecido como influenciando os nossos pensamentos, sentimentos ou ações. Assim,
são feitas manipulações experimentais que degradam a qualidade das representações percetivas, com
o objetivo de diminuir a consciência.
Um dos modelos que propõe a tarefa de explicar como funciona o cérebro a nível da consciência é a
Teoria do Trabalho Global, de Bernard Baars. A teoria descreve o cérebro como tendo uma rede
global de neurónios, unindo diversas áreas do cérebro que correspondem á consciência. Neste
modelo, o processamento cerebral pré-consciente tem lugar em sítios localizados no cérebro, como
por exemplo o córtex visual, olfativo, etc., e a união destas áreas seria então a base da consciência,
ao ser capaz de integrar corretamente a informação.
Não haveria, portanto, um lugar no cérebro único que fosse a base da consciência, mas sim por todo
o cérebro haveria uma estrutura neuronal que funcionasse sincronamente para proporcionar a
sensação de consciência.
Este modelo foi tomado como sendo de elevada credibilidade, uma vez que foi verificado
empiricamente como, por exemplo, ao se verificar um atraso entre a visualização de um estímulo e a
sua tomada de consciência. Sendo a atenção seletiva uma pré-condição para a consciência.
Nesta teoria, o conceito de memória de trabalho é também associado à consciência, uma vez que o
espaço global é visto como tendo capacidade de memória cujo conteúdo focal está distribuído e é

61
aqui integrado. Assim, há uma semelhança com o conceito de «executivo central da memória de
trabalho» de Baddeley.
No Modelo de Espaço Neuronal existem processadores espiralizados, que funcionam em paralelo,
têm uma especialização funcional e estão em áreas cerebrais distintas. Têm conexões neuronais
locais ou de médio alcance e um funcionamento bottom-up.

Trabalhos de grupo:
1º Trabalho (Perceção): A neurological dissociation between perceiving objects and grasping them
(Goodale et al. 1991) & Grasping two-dimensional images and three-dimensional objects in visual-
form agnosia (Westwood et al. 2002).
Objetivo: Testar a perceção e a preensão de objetos em pacientes com danos cerebrais e perceber
como o ato de agarrar pode ser afetado pela dimensão 2D ou 3D do objeto.
Testes neurológicos revelaram a presença de uma profunda agnosia visual (dissociação entre a
habilidade de perceção de objetos e de realizar corretamente movimentos para objetos em diferentes
orientações.
Resultado 1º artigo: Quanto à orientação e movimento de preensão de uma pessoa com lesão cerebral
(paciente DF), havia uma capacidade normal de calibrar a mira e os movimentos de preensão. No
entanto, existe uma profunda incapacidade de reportar (verbal e manualmente). Em encéfalos
normais, o processamento visual dos julgamentos de perceção conscientes deve ocorrer
separadamente dos julgamentos da orientação visuomotora «automática» de ações hábeis da mão e
do membro. Confirmando a dissociação dupla.
Conclusão 1º artigo: Existência de sistemas de processamento separado para os diferentes usos da
visão, e não para os diferentes subconjuntos ventral e dorsal.
Resultado 2º artigo: Com este estudo verificou-se que a via ventral seleciona uma resposta adequada
para um estímulo visual particular baseado na análise da estrutura. A via dorsal planeia, de forma
precisa, a ação, com base na análise pragmática das características espaciais do objeto.
A paciente DF, mesmo com a via ventral danificada, conseguiu agarrar nos objetos. Contudo, tentou
também agarrar nos objetos 3D. Os pacientes saudáveis não tentaram agarrar nos objetos 3D pois
sabiam que era impossível.
Conclusão 2º artigo: Apesar de ser importante para o reconhecimento de objetos, a via ventral não é
essencial para a formação dos movimentos e preensão.
2º Trabalho (perceção): Dorsal and ventral stream interaction: contributions from optic ataxia.
Objetivo: Entender como ocorre a interação entre a via ventral e a via dorsal.
Resultados: Em ambos os casos, os erros diminuíram significativamente com o aumento dos delays
entre o desaparecimento do alvo e o início do movimento.
Ataxia ótica (lesão na via dorsal): dificuldade em realizar movimentos visualmente guiados; deteção
e localização de estímulos visuais intacta.

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Agnosia Visual (lesão na via ventral): incapacidade de identificar objetos familiares, tamanhos e
formas; capacidade de utilizar objetos intacta.
Contribuição da Via Ventral no processamento visuomotor: sistema ventral parece participar em
movimentos direcionados.
Conclusão: O resultado sugere uma ligação da via dorsal no processamento de movimentos com
delay e, portanto, uma interação gradual entre as vias. Estes resultados contrariam a proposta de um
estudo de Westwood e Goodale, que afirmam que os delays não afetam a precisão do movimento, tal
como afirmavam que a interação entre as vias é instantânea.
3º Trabalho (perceção): Infants and toddlers show enlarged visual sensitivity to nonaccidental
compared with metric shape changes.
Objetivo: Testar se as diferenças na sensibilidade percetual podem ser encontradas em crianças mais
velhas e mais novas, ou se apenas adultos são sensíveis a mudanças não-acidentais em comparação
com mudanças métricas.
Utilizou-se o paradigma da habituação para se medir a sensibilidade visual de mudanças na forma
não-acidentais (mudar as formas) e mudanças métricas na forma (mudar as dimensões).
Conclusões: Certas mudanças da forma são sem dúvida mais importantes que outras. A sensibilidade
para a mudança não-acidental é promovida, especialmente, para o reconhecimento dos objetos. A
sensibilidade às mudanças métricas também é necessária, especialmente para agarrar objetos.
O sistema visual poderá suportar sensibilidade para ambas as mudanças de forma, através de um
compromisso entre as diferentes necessidades. Caso tal aconteça, este compromisso pode ser
alcançado antes dos 6 meses.
4º Trabalho (perceção): Holistic processing is finely tuned for faces of one’s own race.
Resultados: Other race effect em caucasianos e asiáticos (foram melhores a reconhecer caras da
mesma raça do que de raças diferentes).
Os resultados validam a hipótese de que há um processamento holístico maior nas faces da mesma
«raça». No entanto, sustenta-se a ideia de que o processamento holístico, apesar de necessário, não é
o único fator envolvido no reconhecimento facial. Isto devido a melhor performance por parte de
brancos aos identificar metades de rostos do «seu grupo». Apontando para a possibilidade de outros
mecanismos para realizar tal diferenciação.
Se o processamento holístico é necessário, mas não suficiente para a discriminação entre faces então
menos experiência seria necessária para ver a outra raça holisticamente do que para distinguir
eficientemente entre ambas.
Conclusão: O estudo demonstra que as caras da mesma raça são processadas mais holisticamente, o
que mostra que há uma forte probabilidade de serem produto de experiências visuais.
5º Trabalho (perceção/atenção): Contact and other-race effects in configural and componente
processing of faces.
Objetivo: Analisar o efeito de contacto entre dois aspetos distintos da memória para faces: a memória
configuracional e a memória por componentes.

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Conclusão: O tempo no país estrangeiro prevê negativamente o ORE configuracional, indicando que
chineses que viveram mais tempo na Austrália têm ORE configuracionais menores- pequena
melhoria na memória configuracional para faces de outras raças.
Ao contrário da memória configuracional, a memória por componentes não está relacionada com o
contacto, estando o ORE para a memória configuracional mais dependente da experiência.
6º Trabalho (percecção/atenção): Don´t text while driving: The effect of smartphone text messagins
on road safety during simulated driving.
Objetivo: Estudar o impacto de enviar mensagens (em teclado touch ou T9) na segurança rodoviária.
Resultados: No geral, houve um aumento significativo entre a condição baseline e as condições de
escrita. O tempo de reação duplica quando se conduz e escreve.
Teoria da capacidade central: temos capacidade atencional imitada, ou seja duas tarefas realizadas ao
mesmo tempo, para ocorrerem igualmente, necessitam de apresentar os mesmos graus de exigência e
que não excedam o limite dos recursos totais da nossa CC, que varia de acordo com o grau de
dificuldade da tarefa, do esforço e da motivação.
Tarefas cognitivamente mais exigentes interferem mais nas restantes e tarefas cognitivamente menos
exigentes interferem menos nas restantes.
As duas tarefas em conjunto ultrapassam a nossa CC de atenção. Ao utilizarmos o touch, precisamos
de mais tempo desviando o olhar para o telemóvel, por não termos feedback tátil, sendo assim
considerada uma tarefa com grande exigência a nível cognitivo, interferindo mais que a utilização do
T9, pois este apresenta feedback tátil.
Teoria dos recursos múltiplos: defende que o sistema de processamento consiste em vários
mecanismos independentes (recursos múltiplos). Há vários conjuntos de recursos baseados nos
diferentes estádios de processamento. Se duas tarefas fazem uso de recursos diferentes, então é
possível desempenhá-las sem interferência.
Os resultados da experiência estão de acordo com estas teorias.
Conclusão: A utilização de um telemóvel na condução, independentemente do seu sistema de escrita,
reduz significativamente a segurança rodoviária, devido a alterações significativas no
comportamento do condutor.
7º Trabalho (atenção): Laptop multitasking hinders classroom learning for both users and nearby
peers.
Objetivo (geral): Examinar os efeitos indiretos da multitarefa de laptops na aprendizagem dos
alunos.
Objetivo (1ª tarefa): Investigar se o multitasking dificulta o aprendizado pessoal.
Hipótese (1ª tarefa): Participantes que efetuaram o multitasking durante a palestra teriam menor
compreensão em comparação com os participantes que não realizaram.
Resultados (1ª tarefa): Participantes que realizaram multitasking durante a palestra tiveram
pontuações mais baixas que aqueles que não realizaram. Efeito forte e prejudicial do multitasking nas
pontuações de compreensão.

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Objetivo (2ª tarefa): Examinar se ter visão direta para um colega que estivesse a realizar multitasking
iria influenciar negativamente no processo de aprendizagem.
Hipótese (2ª tarefa): Os participantes sentados com visão para os colegas a realizar multitasking no
portátil teriam resultados de compreensão mais baixos em comparação com os participantes que
tiveram mínima ou mesmo nenhuma distração visual dos colegas multitasking.
Resultados (2ª tarefa): Participantes que tiveram visão do multitasking do colega obtiveram
resultados significativamente inferiores aos participantes que não tiveram. O multitasking distraiu os
participantes que estavam a tentar prestar atenção à aula.
Conclusão (geral): A realização do multitasking parece ter dificultado a recuperação de informação,
provavelmente devido a uma fraca codificação durante a aprendizagem e também uma ineficiência
na distribuição de recursos atencionais.
8º Trabalho (atenção): Off-task multitasking, note-taking and lower-order classroom learning.
Objetivo: Compreender se o uso de telemóveis pode destabilizar a atenção dos alunos em sala de
aula.
Resultados: Notou-se pior desempenho nas tarefas de LO. Nos exercícios de HO os resultados não
foram bons, mas o impacto do multitasking não foi significativo. A qualidade dos apontamentos
tirados influencia a aprendizagem e as notas, estando diretamente relacionada com as aprendizagens
de LO.
Conclusão: Os resultados de HO foram contra as expectativas.
9º Trabalho (memória): Does working memory training lead to generalized improvementes in
children with low working memory?
Objetivo: Verificar se o treino da memória de trabalho melhora significativamente as capacidades
das crianças na escola, fazendo-as atingir notas académicas superiores.
Resultados: Crianças que completaram o treino adaptado, tiveram melhorias significativas nos testes
visuoespacial STM e MT e verbal e visuoespacial do que as crianças que completaram uma versão
não adaptada do treino, ou as que não receberam intervenção.
O treino da MT não conseguiu melhorar o desempenho em testes de STM verbal.
Conclusões: O treino em crianças com fraca memória de trabalho leva a uma melhoria generalizada a
uma ampla gama de tarefas de memória de trabalho não treinadas. Estes ganhos não se traduzem em
melhorias de capacidade ecologicamente válidas de memória de trabalho ou em melhorias do
progresso académico.
10º Trabalho (memória): Working memory training and transfer in older adults: effects of age,
baseline performance and training gains.
Objetivo: Procurar efeitos de treino estáveis em consideração a uma amostra de indivíduos de uma
idade mais avançada.
Resultados: O estudo infere que uma dose de treino da memória de trabalho relativamente pequena
levou a efeitos provenientes do treino e transferência numa amostra mais ampla/abrangente de
participantes.

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Conclusão: O programa de treino da memória de trabalho provou ser efetivo no aumento do
desempenho em “adultos mais velhos”.
11º Trabalho (memória): The picture-naming task in the analysis of cognitive deterioration in
Alzheimer’s disease.
Conclusão: A capacidade de nomeação em pacientes com Alzheimer é influenciada pela relevância
semântica e pela informação sensorial, sendo esta última a mais importante.
12º Trabalho (memória): The role of feature sharedness in the organization of semantic
knowledge: Insights from semantic dementia.
Objetivo: Fazer uma avaliação direta do impacto da Partilha de Características, nas diferenças entre
conceitos superordenados e conceitos de nível básico em pacientes com demência semântica.
Resultados: O desempenho na condição de frases falsas revelou respostas ao acaso, comprometendo
a confiabilidade do seu desempenho geral. Os seus resultados foram excluídos (paciente P6).
Este foi o primeiro estudo a testar diretamente a relação entre a partilha de características e a
resistência à degradação do conhecimento, em doentes com DS.
Observou-se que a vantagem superordenada é modulada pela partilha de características e as
limitações semânticas derivam da deterioração inicial de características menos partilhadas.
O contraste do efeito da partilha de características entre os níveis superordenado e básico assemelha-
se à distinção alargada entre membros típicos e atípicos- Tipicalidade.
Conclusão: a relação entre a partilha de características e tipicalidade justifica o desempenho
diminuído de pacientes com DS, no nível superordenado, em relação à identificação de elementos
atípicos.
13º Trabalho (memória do dia-a-dia): The reminiscense bump in older adults’ life story transitions
& The reminiscense bum reconsidered childrens’ prospective life stories show a bump in young
adulthood.
Objetivo (1º artigo): Examinar o papel desempenhado pelas representações mentais de longos
períodos de vida.
Reminiscence Bump- vasto número de memórias recordadas, situadas no período de idades entre os
10 e os 30 anos, em comparação com qualquer outro período de vida. Este efeito é visível quando
são recordadas memórias específicas, vívidas, importantes ou através de palavras-pista.
As memórias mais específicas tendem a concentrar-se nas transições e capítulos.
Resultados (1º artigo): Os resultados sustentam a ideia de que períodos de via prolongados fornecem
uma estrutura organizadora para a recuperação de memórias específicas associadas.
Objetivo (2º artigo): Realçar a importância dos cultural life scripts na produção do reminiscence
bump nas representações da vida futura em crianças.
Cultural life scripts- expectativas partilhadas culturalmente sobre a ordem e o tempo esperado de
realização de certos acontecimentos.

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Resultados (2º artigo): O cultural life script cria uma estrutura narrativa para contar a história e atrai
assim a inclusão de non-life-script events que acontecem à volta do mesmo período. Os cultural life-
scripts fornecem scaffolds necessários para o bump nas histórias de vida futuras das crianças
Quando as representações de um evento futuro são provocadas sem a ativação do life-script, o bump
desaparece. Apenas as futuras representações word-cued que pertenciam aos eventos do cultural life-
script formaram um bump.
Conclusão (geral): O reminiscence bump parece ser conduzido pela forma que as pessoas organizam
as suas histórias de vida para seguirem as guidelines do cultural life-script e não pelos processos de
memória per se.
14º Trabalho (memória do dia-a-dia): Distinct processes shape flashbulb and event memories.

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