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O Nascimento do “artista”

BAXANDALL, Michael. O olhar renascente. Pintura e experiência social na Itália


da Renascença. SP: Paz e Terra, 1991 (seminário Rafael e Renata Cremasco)
HEINICH, Nathalie. Etre artiste : les transformations du statut des peintres et
des sculpteurs. Paris: Klincksieck, 1996.
II parte do curso: perspectiva “genética” sobre o processo de construção e autonomização do campo artístico.
 
Isso significa entender:

1) o nascimento do status de artista;

2) Formação e consequências do regime/sistema acadêmico/ profissional

3) Do regime/sistema acadêmico/ profissional ao regime moderno/vocacional

4) Sistema/regime acadêmico x de mercado (caso holandês e França XIX)


Aula de hoje: o nascimento do status (ou categoria) de artista. Para Natalie Heinich isso engloba não apenas a
dimensão real e material do exercício da atividade, mas também a dimensão imaginária das representações a que
essas estão associadas, ou seja, a dimensão simbólica do nome artista (NH, pg 9)
 
 
Características de um regime “artesanal”- trabalho artístico visto como “manual” efetuado mediante um pagamento.
Aprendizagem feita no ateliê, a partir da prática e da imitação, tendo como objetivo a habilidade técnica, incorporação
de um saber. Recrutamento familiar. O trabalho culmina em uma obra prima reconhecida como produto de um ateliê
(autoria não individualizada)- Regime do “cliente rei” (Heinich, pg 13-4).
 
 
 
O regime profissional/ sistema acadêmico tratará mudanças profundas: recrutamento por mérito; apoio estatal;
estudo a partir do desenho; carreira controlada pelo estado; hierarquia dos gêneros (isso começa a ser instituído no
século XVI, na Italia, e culmina no século XVII com a abertura da Academie na França)- FUNDAMENTAL PARA A
ASCENSÃO COLETIVA DO STATUS DE ARTISTAS.
O nascimento das academias é fundamental para a ascensão coletiva dos artistas.
Para a mudança desse status o nascimento da “assinatura” do artista é fundamental

Junto à assinatura, que significa autoria individual, se desenvolvem as noções de autenticidade e originalidade
(N. Heinich, pg 27).
Não por acaso, na mesma época, aparecem as biografias de artistas, que permitem a passagem para a
posteridade não apenas do nome, mas também da história pessoa. (N H, pg 27)

“ Enobrecimento, assinatura, biografia: em todos esses casos, a valorização do nome próprio contribui para
colocar em destaque a pessoa do autor, e não apenas a obra em si. Essa é, também, uma característica da
concepção moderna de arte” (n. Heinich, pg 27. Tradução minha)
O OLHAR RENASCENTE, de Baxandall é um livro fundamental por demonstrar e historicizar esse processo de
nascimento do reconhecimento do valor da assinatura do artista.
Em termos de fontes, ele inova ao estudar um tipo de documento que até então não era visto em termos
analíticos: os contratos. Partindo da noção de que pinturas são fósseis da vida econômica.
 
Cap 1- análise dos contratos evidencia como paulatinamente os clientes passaram a reconhecer (e demandar) o
“toque do mestre”, sua “habilidade” mais do que a exibição de materiais preciosos.

O consumo ostensivo dos materiais é substituído pelo consumo ostensivo da habilidade do pintor [ler pg 25-6]

Ex;c ontrato de Ghiarlandaio x contrato de Botticelli.


Cap 2- Noção de HABITUS
Ao introduzir a noção de “olho do período” Baxandall cunha a expressão CULTURA VISUAL, hoje reconhecida como uma
área de estudos, que vincula claramente a arte à experiência social.
A noção de “olhar do período” identifica hábitos de visão e modos de percepção cognitivos cristalizados em estilos
artísticos. Ou seja, o estilo é derivado da PRÁTICA/experiência SOCIAL.

Ou seja, para se conhecer os esquemas de percepção e produção artística do período não é relevante ir para os “tratados”
(filosofia), como usualmente se faz. Antes, trata-se de buscar na experiência cultural, que configura o “habitus” dos
homens do Renascimento, que permite que artistas, clientes e públicos disfrutem dos mesmos esquemas cognitivos
cristalizados nas obras.
As capacidades visuais são provenientes de algumas experiências fundamentais:

Sermões religiosos (convenção gestual/ expressões- anterior aos tratados) ;

Festaiolos: o amor à dança e à figura do festaiolo permite a compreensão de um tipo de narrativa nas obras.

Aritmética/ matemática: a perspectiva que é uma organização matemática do espaço, que é uma convenção criada e
partilhada no período, provém dos hábitos mentais adquiridos na principal atividade econômica do período- o comércio.
Geometria, regra de três—formas de medição de massas e corpos usados no mercado inculcam um “habitus” mental que
redunda em uma dada representação dos corpos no espaço.
Capítulo 3-

Análise do nascimento de um vocabulário artístico- nele fica clara a imprecisão dos termos, o
sentido historicamente diversos que os termos de ontem possuíam em relação aos de hoje.

E, assim, documenta a importância de se HISTORICIZAR as percepções/ críticas e discursos.


Vê-los mais como um produto da época do que como uma fonte privilegiada para se
compreender a obra

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