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ISCED - HUILA

PSICOLIGIA DO DESENVOLVIMENTO
PROF. PFNB
Tema 2 – Teorias do desenvolvimento

Tema 2 – Teorias do desenvolvimento


Questões Teóricas Básicas
O modo como os teóricos explicam o desenvolvimento depende, em parte, do
modo como encaram três questões básicas: (1) o peso relativo dado à
hereditariedade e ao ambiente; (2) se as pessoas são activas ou passivas em
seu próprio desenvolvimento; (3) se o desenvolvimento é contínuo, ou ocorre
em etapas.
O Que É Mais Importante: Hereditariedade ou Ambiente?
O que tem mais impacto sobre o desenvolvimento: a hereditariedade ou o
ambiente?

Essa questão gerou intenso debate. Os teóricos diferem quanto à


importância relativa que dão à natureza (os traços e as características inatas,
herdados dos pais biológicos) e à experiência (influências ambientais, tanto
antes como depois do nascimento, incluindo as influências da família, dos
amigos, da escola, do bairro, da sociedade e da cultura).

Quanto é herdado? Quanto é influenciado pelo ambiente? Essas questões são


importantes.
Se os pais acreditam que a inteligência pode ser fortemente influenciada
pela experiência, podem fazer esforços especiais para conversar com os filhos,
ler para eles e oferecer-lhes brinquedos que os ajudem a aprender. Se os pais
acreditam que a inteligência é inata e imutável, podem ter menos inclinação
para fazer tal tipo de esforço.
Actualmente, os cientistas dispõem de modos mais precisos para medir
os papéis da hereditariedade e do ambiente no desenvolvimento de traços
específicos em uma população. Mas quando nos detemos a uma determinada
pessoa, a pesquisa em relação a quase todas as características aponta para
uma mescla de herança e experiência. Assim, ainda que a inteligência tenha
um forte componente hereditário, os factores estimulação dos pais, educação,
influência dos amigos e outras variáveis fazem a diferença. À medida que as
crianças crescem, suas tendências naturais para, digamos, música ou
desportos as encaminham a actividades que reforçam essas tendências.
Embora ainda haja considerável discussão sobre a importância relativa
da natureza e da experiência, muitos teóricos e pesquisadores
contemporâneos estão mais interessados em descobrir modos de explicar
como elas interagem ou funcionam juntas.
O Desenvolvimento É Activo ou Passivo?

A segunda questão depende de nossa visão da natureza dos seres humanos:


as pessoas são activas ou passivas em seu próprio desenvolvimento? Muitos
teóricos subscrevem a um dos dois modelos ou imagens contrastantes do
desenvolvimento: mecanicista e organísmico.
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Tema 2 – Teorias do desenvolvimento
No modelo mecanicista, as pessoas são como máquinas que reagem
ao que lhes chega do ambiente. Ponha gasolina em um carro, gire a chave de
ignição, aperte o acelerador, e o veículo irá andar. Na visão mecanicista, o
comportamento é muito semelhante. Se soubermos o suficiente sobre a
composição da "máquina" humana e as forças internas e externas que actuam
sobre ela, podemos predizer o que uma pessoa fará. A pesquisa mecanicista
procura identificar e isolar os factores que fazem as pessoas comportarem-se -
ou reagirem - do modo como o fazem.
O modelo organísmico vê as pessoas como organismos activos em
crescimento que põem em marcha seu próprio desenvolvimento. Elas
desencadeiam os eventos, e não simplesmente reagem a eles. O ímpeto para
a mudança é interno. As influências ambientais não causam desenvolvimento,
embora possam acelerá-lo ou retardá-lo. A totalidade do comportamento de um
ser humano é maior do que a soma das partes que o compõem. Assim,
segundo os teóricos organísmicos, não podemos prever o comportamento
subdividindo-o em simples respostas à estimulação ambiental, como sugere o
modelo mecanicista.
O Desenvolvimento é Contínuo, ou Ocorre em Etapas?
Os dois modelos teóricos básicos também diferem em relação à terceira
questão: o desenvolvimento e contínuo, ou ocorre em etapas?
Os teóricos mecanicistas vêem o desenvolvimento como algo contínuo –
sempre governado pelos mesmos processos, permitindo a predição de
comportamentos posteriores a partir de comportamentos anteriores. Esses
pensadores concentram-se na mudança quantitativa: por exemplo, mudanças
na frequência com que uma resposta é dada, em vez de mudanças no tipo de
resposta.

Os teóricos organísmicos enfatizam a mudança qualitativa. Eles vêem o


desenvolvimento como algo que ocorre em uma série de etapas distintas. Em
cada etapa, as pessoas lidam com diferentes tipos de problemas e
desenvolvem diferentes tipos de capacidades. Cada etapa fundamenta-se nas
anteriores e prepara o caminho para a seguinte.

Um Consenso Emergente

A medida que o estudo do desenvolvimento humano evolui, os modelos


mecanicista e organísmico têm mudado em termos de influência e apoio. A
maioria dos pioneiros no campo, incluindo Sigmund Freud, Erik Erikson e Jean
Piaget, favorecia as abordagens organísmicas ou de etapas. A visão
mecanicista conquistou adeptos durante a década de 1960, com a
popularidade das teorias de aprendizagem oriundas do trabalho de John B.
Watson. (Discutimos todos esses teóricos na secção a seguir.)
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Actualmente o pêndulo oscilou na direcção contrária - mas não
completamente. Abordagens semi-organísmicas centradas nas bases
biológicas do comportamento estão em ascensão; entretanto, no lugar da
ênfase a grandes etapas, existe um esforço para descobrir que tipos
específicos de comportamento apresentam continuidade ou falta de
continuidade e que processos estão envolvidos em cada um.
Assim como está surgindo um consenso sobre como a hereditariedade e
o ambiente funcionam juntos, muitos cientistas do desenvolvimento estão
chegando a uma visão mais equilibrada sobre o desenvolvimento activo e
passivo. Existe amplo consenso de que a influência é bidireccional: as pessoas
mudam seu mundo mesmo enquanto ele as muda.
As teorias geralmente se enquadram em várias perspectivas teóricas
amplas. Cada uma delas enfatiza diferentes tipos de processos de
desenvolvimento e possui diferentes concepções sobre questões como as que
acabamos de discutir. Essas perspectivas influenciam as perguntas que os
pesquisadores fazem, os métodos que utilizam e os modos como interpretam
os dados. Portanto, para avaliar e interpretar a pesquisa, é importante
reconhecer a perspectiva teórica em que ela se baseia.

TEORIA COGNITIVA
Jean Piajet elaborou uma teoria de desenvolvimento a partir do estudo da
inteligência da criança e do adolescente. Com este psicólogo ultrapassou-se a velha
concepção de que a inteligência da criança era semelhante à do adulto, existindo entre
elas mera diferença quantitativa. A partir dele, não mais foi possível ver a criança
como um adulto em miniatura.
A inteligência precede o pensamento e desenvolve-se por etapas progressivas
que exigem processos de adaptação ao meio. O desenvolvimento pressupõe, por um
lado, a maturação do organismo e, por outro, a influência do meio físico e social.
A compreensão da teoria piagetiana é facilitada com a elucidação prévia de
alguns conceitos.
ESQUEMA: Podemos entender o esquema como um registo cognitivo que serve como
base para o funcionamento das actividades psíquicas de uma pessoa. É neles que
todas as informações que nos chegam irão buscar suporte para se fixarem.
ASSIMILAÇÃO: é o processo pelo qual um novo estímulo é fixado a um esquema já
existente. Isto provoca o acúmulo de informações o que é muito bom para a criança.
Estes estímulos tanto podem ser mentais (ler) como podem ser de acção, aprender a
montar ou limpar algo.
ACOMODAÇÃO: é o processo em que um esquema é modificado para ter condições
de receber um estímulo que até então, não encontrava um local para se fixar. Com as
modificações a criança pode continuar a assimilar.
COORDENAÇÂO: processo que se desenrola entre a assimilação e acomodação para
que ocorra o desenvolvimento intelectual progressivo.
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ORGANIZAÇÃO: pensamento actua como um todo organizado e não isolado do meio.
Adaptação ao meio conduz à organização do pensamento, e o pensamento
organizado estrutura melhor os objectos do meio.
ESTÁDIO: fases ou etapas qualitativamente diferentes por que passa o
desenvolvimento intelectual.

Assimilação Acomodação
Da experiencia nas a
das estruturas do sujeito
estruturas do sujeito novas experiencias .

Adaptação

Estado de equilíbrio
progressivamente superior

O desenvolvimento mental faz-se, pois, por etapas sucessivas em que as


estruturas intelectuais se constroem progressivamente. Cada novo estádio representa
uma forma de equilíbrio cada vez maior, que permite uma adaptação mais adequada
às circunstâncias.
Em todos os estádios, a permuta entre o sujeito e o mundo opera-se por dois
mecanismos constantes que são a assimilação e a acomodação.
Assim, face a uma nova situação, a criança começa por incorporar os objectos aos
esquemas já construídos (se possui, por exemplo, esquemas de agarrar, sacudir ou
puxar, aplica-os aos objectos) e, simultaneamente, transforma esses esquemas para
uma melhor adaptação.
(...) A cada instante, a acção é desequilibrada pelas transformações que aparecem no
mundo, exterior, e cada nova conduta vai funcionar não só para restabelecer o
equilíbrio, mas também para tender a um equilíbrio mais estável que o do estádio
anterior a esta perturbação.
(...) pode dizer-se que toda a necessidade tende: 1.º a incorporar as coisas e pessoas
à actividade própria do sujeito, isto é, “assimilar” o mundo exterior às estruturas já
construídas, 2.º, a reajustar estas últimas em função das transformações ocorridas, ou
seja, “acomoda-las” aos objectos externos. Assim, toda a vida mental e orgânica tende
a assimilar progressivamente o meio ambiente.
(...) ora, assimilando assim os objectos, a acção e o pensamento são compelidos a
acomodarem-se a estes, isto é, a reajustarem-se por ocasião de cada variação
exterior. Pode chamar-se “adaptação” ao equilíbrio destas assimilações e
acomodações. O desenvolvimento mental aparecerá, então, como uma adaptação
sempre mais precisa à realidade.
J. Piaget, seis estudos de psicologia

São estes dois mecanismos funcionais que possibilitam a construção das novas
estruturas. Estes são, primeiramente, esquemas e acção que, quando interiorizados,
se transformam em esquemas operatórios.
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Os factores do desenvolvimento intelectual
Este desenvolvimento (...) pode explicar-se por diferentes factores, dos quais
se distinguem quatro.
Primeiro factor: a hereditariedade, a maturação interna. Este factor deve
certamente ser considerado sob todos os pontos de vista, mas é insignificante
porque não actua isolado.
Segundo factor: a experiência física, a acção dos objectos. Constitui também
um factor essencial, que não se trata de subvalorização, mas que por si só é
insuficiente. A lógica da criança, em especial, não advém da experiência dos
objectos, mas sim das acções exercidas sobre os objectos, o que não é de
maneira nenhuma a mesma coisa, isto é, a parte activa do indivíduo é
fundamental, não bastando a experiência extraída do objecto.
Terceiro factor: a transmissão social, o factor educação no sentido lato. Factor
determinante, sem dúvida, no desenvolvimento, mas só por si insuficiente, pela
seguinte razão evidente: para que uma transmissão seja possível entre o
adulto e a criança, ou entre o meio social e a criança educada, é necessário
que haja, por parte da criança, assimilação do que se pretende inculcar-lhe de
fora. Ora, esta assimilação é sempre condicionada pela lei deste
desenvolvimento pericialmente espontâneo.
Quero falar dum quarto factor a que chamarei equilibrarão. (...) A partir do
momento em que já há três factores, torna-se necessário que estes se
equilibrem entre si; (...) uma descoberta, uma noção nova, uma afirmação, etc.,
deve equilibrar-se com as outras. É necessário todo um jogo de regulações e
de compensações para chegar a uma coerência. Empregou palavra “equilíbrio ”
não num sentido estático, mas no sentido de uma equilibração progressiva,
sendo a equilibração a compensação por reacção do indivíduo Às perturbações
exteriores, compensação que conduz à reversibilidade operatória no final
deste desenvolvimento.
Jean Piajet, problema de psicologia genética

Estádios de desenvolvimento intelectual


O desenvolvimento da inteligência faz-se pelo intercâmbio constante entre a criança e
o meio, pelo que são as novas experiencias que permitem construir novas estruturas
cognitivas a partir da anterior, no sentido de uma organização mental cada vez mais
ampla e completa.
Piajet distingue fundamentalmente quatro estádios de desenvolvimento.
Estádio sensório-motor
(Do nascimento aos 2 anos)
No inicio, a criança encontra-se num estado de indiferenciação entre ela e o mundo,
não se distinguindo dos objectos que a rodeiam, compreendendo as relações entre os
objectos independentemente dela.
Em vez de palavras e conceitos, a criança serve-se de percepções e movimentos,
organizados em esquemas de acção. Na presença de um objecto novo, o bebé
incorpora-o sucessivamente em cada um dos seus esquemas de acção como, por
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exemplo, sacudir, esfregar, balançar, como se se tratasse de os compreender pelo
uso.
Ao longo destes dois anos, e ao nível da acção, a criança vai construir algumas
noções fundamentais para o desenvolvimento ulterior, entre as quais se destacam a
de objecto permanente e a de causalidade.
Objecto Permanente: Se taparmos com um lenço um objecto que
interessa ao bebé, este não afasta o obstáculo para lhe chegar. Se bem que já seja
capaz de agarrar e puxar, não o faz porque o objecto que desapareceu do seu campo
perceptivo deixou de existir para ele.
No fim deste período, acredita já na permanência do objecto, mesmo quando é
escondido em sítios diferentes. É já capaz de acompanhar as deslocações e de o
procurar no local próprio.

Causalidade: Quando o bebé puxa o cordão de um brinquedo pendurado sobre o


berço, apercebe-se, com agrado, das oscilações que provoca. Esta acção, ligada à
actividade do seu próprio corpo, vai ser generalizada, permitindo-lhe agir sobre os
objectos, mesmo à distância. Assim, se de longe lhe mostrarmos um brinquedo, agita
os braços e as pernas e ergue a cabeça como se essa acção pudesse agir sobre o
objecto.
Trata-se de uma causalidade egocêntrica, ligada à acção própria, caracterizada pela
ausência de relações objectivas entre o meio (uso da acção corporal) e o fim a atingir
(agarrar brinquedos).
Por volta dos dezoito meses, sempre que deseja alcançar um objecto que está sobre o
pano de uma mesa e que não consegue atingir com a mão, puxa o pano para atrair a
si o objecto visado. Com o mesmo fim, é capaz de servir de uma vara quando o
objecto se situa fora do seu alcance. Estas condutas mostram que a criança, nesta
idade, é já capaz de reconhecer relações objectivas de causalidade, na medida em
que se serve de meios apropriados para alcançar os seus fins.
As noções de objecto permanente e de causalidade, construídas neste estádio, ainda
não são conceitos abstractos, situando-se a nível da acção e não da representação.
São, antes, categorias práticas ou esquemas de acção.
Estádio pré-operatório
(Dos 2 aos 7 anos)
O que marca a entrada no período pré-operatório é o aparecimento da função
semiótica ou simbólica, acontecimento que assinala o início do pensamento.
A função simbólica
A função simbólica refere-se à capacidade de criar símbolos para substituir ou
representar os objectos e de lidar mentalmente com eles.
Entre as principais manifestações da função simbólica temos a linguagem, a
imagem mental e o jogo simbólico.
Linguagem: Com a aquisição da linguagem abre-se um mundo novo para a
criança, em que as palavras substituem os objectos e as situações.
O uso da linguagem permite-lhe comunicar com os outros, mas, em virtude de
egocentrismo típico da criança neste período, o diálogo é praticamente inexistente.
Mesmo quando brinca com outras crianças verifica-se que cada uma fala para si sem
se interessar com as respostas dos outros. A este propósito, devemos falar de
monólogo colectivo, em vez de diálogo.
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Jogo simbólico: O jogo simbólico é, também marcado pelo egocentrismo, na
medida em que o real se torna no real dos seus desejos. Um pau ou uma caixa
perdem significado objectivo, para simbolizarem um avião, navio, uma mesa ou aquilo
que ela quiser.
O jogo simbólico manifesta a tendência realista da inteligência da criança nesta
idade.
Designamos por realismo a capacidade que a criança tem de materializar os
seus próprios “fantasma”, dando-lhes corpo e existência reais. O Pai Natal existe e o
Lobo Mau também.
Imagem mental: A emissão de palavras significa que a criança já possui imagens
mentais. Elas não são ainda conceitos, mas representações dotadas das
características particulares dos objectos que representam. Piaget fala, a este respeito,
de pré-conceitos, na medida em que a criança, não dispondo ainda de esquemas de
generalização, é incapaz de distinguir com nitidez “todos” de “alguns”.
Cada indivíduo é considerado como um exemplar-tipo, sendo «um gato»
equivalente a «o gato», não sabendo se os gatos que vê em diferentes locais são ou
não o mesmo indivíduo.
Neste período, os esquemas de acção começam, pois, ser substituídos por
esquemas de representação, que significa o início da inteligência representativa ou
pensamento.
A criança manifesta viva curiosidade por aquilo que a rodeia, mas interpreta as
coisas sempre em função de si, do seu esquema corporal e dos seus interesses. Isto
significa que apesar do substancial progresso feito pela criança ao longo do período
anterior, o pensamento é ainda incipiente e altamente egocêntrico. A criança
considera-se o centro do mundo e é incapaz de se colocar no ponto de vista de
outrem.

Inteligência Representativa

O pensamento que agora começa apresenta, neste período, as seguintes


características:
Antropomorfismo: neste estádio, a criança tem uma visão animista ou
antropomórfica do mundo. Concebe as coisas como vivas e dotadas de intenção e
sentimentos, à semelhança do que se passa com os seres humanos. Assim, uma
árvore fica triste quando lhe caem as folhas do Outono; a noite é uma nuvem negra
que cobre o céu na hora em que os meninos vão dormir. Crê que a noite surge
intencionalmente porque esta na hora dos meninos irem para cama.
A lua “segue” a criança que vai á noite de automóvel. Se lhe perguntarmos: e
se fossemos em sentido inverso? A criança antes dos 7 anos dirá que a lua a seguia
do mesmo modo, não se apercebendo de que há contradição em a lua se poder
deslocar simultaneamente para os dois lados
Finalismo: O carácter antropomórfico deste pensamento manifesta-se ainda na noção
de causalidade da criança.
Em face dos acontecimentos, a todo momento pergunta: “o que é”?, “porque?”.
Este “porquê” não exige apenas resposta causal, mas também final, na medida em
que ela entende que tudo é orientado para um fim. Mesmo para as coisas que
acontecem por acaso, como, por exemplo, haver montanhas e rios no lugar e não
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haver noutro, ela pretende uma justificação final. Tudo tem que existir para alguma
coisa. Os rios existem para se poder pescar, tomar banho ou passear de barco.
Vemos, portanto, que, apesar de possuir já inteligência representativa, a
causalidade que atribui aos objectos é de natureza finalista.
Raciocínio analógico: A utilização dos pré-conceitos permite à criança produzir
interferências. Mas estas não são do tipo indutivo nem do tipo dedutivo. O raciocínio
da criança procede por vaga analogia associativa:
A criança ao ver um tigre, na televisão exclama: olha um gato se lhe
perguntarmos porque diz isso, responderá: - “é um gato porque tem orelhas, pelos e
bigodes”. Parte do principio de que todos os que têm orelhas pelos e bigodes são
gatos, quando, de facto, só alguns animais com essas características se incluem na
classe dos gatos.
Este tipo de raciocínio, próprio do pensamento infantil, é designado por Piajet
por raciocínio transductivo.
O pensamento da criança, preso ainda ao sensível, vai apenas do particular ao
particular, pois a generalização, ainda incipiente, apresenta-se imprecisa e sem
controlo.
Raciocínio intuitivo: Se colocarmos em fila, oito fichas brancas, separadas por
pequenos intervalos, e pedirmos, a uma criança nesta fase que, com fitas pretas,
construa uma fila igual, veremos que fará uma fila do mesmo comprimento da branca,
mas sem se preocupar com a correspondência termo a termo.
Esta pequena experiência mostra que a criança avalia a quantidade pela
percepção do espaço ocupado, ou seja, configuração global, sem se deter na análise
das relações entre os objectos.
Se, com as mesmas fichas, construirmos duas filas com correspondência termo
a termo, a criança admite a igualdade das suas colecções.
Mas se, em seguida, à vista dela, afastarmos as fichas de uma fila, de modo a
ficar mais longa do que a outra, a criança afirmará que a fila mais longa contém mais
fichas.
De facto, o pensamento da criança está submetido aos dados perceptivos,
intuitivamente captados, não sendo capaz de acompanhar as alterações efectuadas.
Ela realiza já acções mentais, mas estas são ainda irreversíveis, isto é, a criança emite
juízos sobre os estados finais, mas não é capaz de voltar mentalmente ao ponto de
partida.

Estádio das operações concretas


(dos 7anos aos 11anos)
As estruturas intuitivas transformam-se, agora, num sistema de relações de tipo
operatório. Quer dizer, as acções interiorizadas ou acções mentais que se manifestam
já no período precedente tornam-se agora reversíveis e designam-se por operações.
Piaget realizou várias experiências para estudar a reversibilidade de
pensamento, presente nas operações que as crianças são capazes de efectuar neste
estádio. Algumas delas podem ser efectuadas por nós.
A conservação: Se deitarmos em dois copos iguais a mesma quantidade de água e
se fizermos notar a uma criança de quatro ou cinco anos que o líquido se encontra ao
mesmo nível nos dois copos, ela admiti-lo-á imediatamente.
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Porém, se, em seguida, transvasarmos o líquido de um dos copos para um
recipiente mais estreito e mais alto e lhe perguntarmos qual é o que contém mais
água, ela apontará para o recipiente alto e estreito.
Isto significa que a criança no estádio anteriormente referido ainda não atingiu
o nível operatório, uma vez que é capaz de regressar mentalmente ao ponto inicial. As
suas “operações” não possuem ainda a reversibilidade.
Quando uma criança atinge o pensamento operatório, afirmará sem reservas
que a quantidade de líquido não se alterou pelo facto de ter sido mudado de um vaso
para outro. Poderá mesmo servir de argumentos para justificar a sua resposta. São
três os tipos de argumentos a que pode recorrer: o da identidade, o da reversibilidade
e o da compensação.
Identidade: é a mesma água porque não se pôs nem se tirou nenhuma.
Reversibilidade: é a mesma água porque, se se voltasse a deitar no copo pequeno,
ficava como dantes.
Compensação: é a mesma água porque este copo é mais alto mas também é mais
estreito.
Quando a criança justifica de uma destas formas, significa que já está de posse
de esquema da conservação da quantidade. Ainda neste período adquirirá a
conservação de peso, de volume, etc.
A classificação: Se colocarmos uma criança, ainda em estádio pré-operatório,
perante brinquedos ou figuras de animais, em que haja oito cães “caniche”, dois cães
“terrier” e três gatos, e lhe pedirmos para fazer colecções de animais, ela fará três
grupos simples, um de “terriers”, outro de “caniches” e outro de gatos.
Se lhe perguntarmos em seguida quais os brinquedos são cães ela mostrará o
grupo de “terriers” e o dos “caniches”. Se lhe pedirmos para dizer quais são os gatos,
não terá qualquer dificuldade em responder.
Outras questões lhe podemos pôr que ela resolverá acertadamente, como:
- Quais os brinquedos que representam animais? A criança apontará para os três
grupos.
- Há mais “terriers” ou mais “caniches”? Responderá: - Há mais caniches.
- Há mais cães ou mais gatos? Dirá: - Há mais cães.
Com estas respostas poderemos ficar com a impressão de que a criança já tem
a noção de inclusão em classes. Mas se, em seguida, lhe perguntarmos se há mais
caniches ou se há mais cães ou mais animais, a criança do estádio anterior dirá que
há respectivamente mais caniches e mais cães.
A criança só responderá acertadamente a estas últimas questões se atingiu o
pensamento operatório. Então, sim, as suas respostas mostram que inclui as duas
raças de cães na classe dos cães que, por sua vez, funciona, tal como a dos gatos,
como subclasse de animais.
A confusão entre “todos” e “alguns”, características dos períodos anteriores,
tende, portanto, a desaparecer nesta fase.
Contudo, as estruturas lógicas apresentam ainda algumas limitações. As operações
são concretas, recaindo directamente sobre os objectos e situações actuais, não
sendo ainda capaz de raciocinar sobre situações hipotéticas.
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Estádio das Operações Formais


(Dos 11 aos 15 anos de idade)
A inteligência formal, que se desenvolve durante e adolescência, faculta a entrada
num domínio que é o do pensamento puro, isto é, independente da acção concreta. O
adolescente é capaz de raciocinar sobre hipóteses abstractas. Estas não são factos ou
objectos concretos, mas proposições enunciadas verbalmente, ou através de outros
símbolos, a partir das quais se efectuam os encadeamentos típicos da lógica formal.
Piaget apresenta-nos o problema:
Edite é mais clara que Susana; Edite é mais escura que Lili. Qual é a mais
escura das três?
Se a seriação implicada na resolução do problema fosse acompanhada de
objectos concretos, uma criança de sete anos não terá dificuldade em o resolver. Mas
como o enunciado é apresentado simbolicamente, isto é, de forma abstracta, só uma
criança a partir de doze anos responderá, acertadamente, que a mais escura é a
Susana.
Além de ser capaz de raciocinar dedutivamente a partir de hipóteses, o
adolescente é já capaz, também, de formular hipótese para resolver um problema,
posteriormente, compara-as de forma sistemática na experiencia, até encontrar a
solução explicativa mais adequada.
Com esta capacidade, surge também a possibilidade de compreender
princípios abstractos, o que permite grande abertura a conceitos científicos e
filosóficos a que não tinha acesso em fases anteriores. Não admira, pois, que o
adolescente se preocupe com ideias morais, políticos, sociais e religiosos, mantendo
acaloradas discussões acerca deles.
A sua nova capacidade para pensar abstractamente leva-o a fazer da sua
própria reflexão um objecto sobre o qual pode reflectir.
Dei comigo a pensar no meu futuro e depois comecei a pensar por que é que
pensava no meu futuro e, em seguida, pus-me a pensar por que é que eu pensava
acerca do que pensava para o meu futuro.
Esta atitude reflexiva é inicialmente imbuída de um novo egocentrismo
intelectual que se manifesta na convicção de que: 1. O seu pensamento está apto a
resolver todos os problemas. 2. As suas ideias são idubitavelmente as melhores.
O jovem actua como se os outros e o mundo tivessem que se organizar em função
dos pontos de vista, que apresenta e defende por via lógico-argumentativa.
Progressivamente, vai efectuando a sua reconciliação com a realidade e vai sendo
capaz de se colocar na perspectiva do outro, atingindo um novo equilíbrio eu-mundo.
As estruturas da inteligência do homem adulto estão formadas no fim da
adolescência. Na idade adulta, as estruturas adquirem mobilidade e maleabilidade
maiores, para o que contribui a diversidade de experiencias pelas quais o ser humano
vai passando.
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DESENVOLVIMENTO COGNITIVO SEGUNDO PIAGET
Estádio Idade aproximada Características principais
(ao aproximar-se da parte de cada estádio)
- O “pensamento” ocorre principalmente através de acções.
- Melhora a coordenação do “input” sensorial.
-Melhora a coordenação de respostas físicas.
Sensório-motor Do nascimento aos 2 anos - Objectos e pessoas, incluindo a si mesmo, são diferenciados uns
dos outros e reconhecidos como permanentes.
- Aumenta o uso da linguagem e do pensamento simbólico.
- Predomina o egocentrismo.
- A centralização (prestar atenção a uma característica ou parte
marcante), em vez da descentralização (análise do todo em partes)
caracteriza a percepção e o pensamento.
Pré-operatório - Produz imagens mentais de situações e coisas estáticas, em vez de
Dos 2 aos 7 anos processos e transformações.
- Irreversibilidade no pensamento (sabe pensar de um modo, mas não
de modo reverso; por exemplo, contar, dizer letras do alfabeto).
- Objectos perceptivamente similares são classificados como
semelhantes.
- Palavras (nomes) são associadas com algumas coisas e com
algumas classes de coisas.

- Ocorre o pensamento lógico, usando objectos concretos.


- Ocorre a comunicação menos egocêntrica e mais socializada.
- Ocorre a descentralização e a reversibilidade.
- Compreende mudanças, processos, eventos e relações estáticas
Operações concretas Dos 7 aos 11 anos mais complexas.
- As relações entre coisas reais e classes de coisas são
compreendidas; também são estabelecidas relações entre as palavras
que representam coisas e classes de coisas que forem vivenciadas e
compreendidas.
- São conduzidas operações mentais sob – formas simbolica e
são realizadas operações sobre ideias ,comparações
,contrastes ,edições e inferencias são realizados a partir de
OPERAÇÕES Dos 11 aos 15 anos um conteudo ideacional,em vez de coisas e eventos
FORMAIS concretos.
-são compreendidas relações entre inter simbolos que
representam conceitos que não foram vivenciados
directamente.
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TEORIA PSICOSSEXUAL

Freud é o grande teorizador do desenvolvimento do homem, considerado sob o


ponto de vista afectivo. Tal como Piaget na perspectiva cognitiva, também Freud
considera que a compreensão do comportamento requer uma análise dos fenómenos
psíquicos, isto é, um estudo da dinâmica dos acontecimentos da mente. Porém,
enquanto a perspectiva cognitiva encara as pessoas como processadoras racionais de
informação, a perspectiva psicodinâmica, pelo contrário, procura evidenciar aspectos
em que a racionalidade humana falha: enfatiza as motivações inconscientes e o papel
desempenhado pelas vivências emocionais infantis na estruturação da personalidade
do adulto.
Segundo Freud, o nosso aparelho psíquico, ou estrutura da personalidade, é
formado por três componentes ou sistemas motivacionais, também designados por
instâncias do eu ou instâncias de personalidade: id, ego e superego.

ID

Também chamado infraeu ou infraego, é constituido por todos os impulsos biológicos, como a fome, sede e sexo, que exigem
satisfação imediata. É o fundamento da sobrevivência individual e da espécie.
SUPEREGO

Também chamado supereu, é constituído pelo conjunto de regras e proibições impostas primeiramente pelos pais e depois pela
sociedade em geral e que foram interiorizados pelo indivíduo. É o fundamento da moral.

EGO

Também chamado eu, é elemento decisor dos conflitos travados entre o id e o superego. Constitui o fundamento racional da
personalidade humana.

Estas três instâncias, na opinião freudiana, estabelecem entre si uma relação


dinâmica, muitas vezes conflitual, de que resulta a conduta das pessoas. O
comportamento de umas pessoas compreender-se-á pela supremacia do id, enquanto
o de outras se entende pela predominância do superego.
.
Geneticamente, o id é o primeiro elemento. Nasce com a criança, constituindo o único
sistema de motivações de bebé nos primeiros meses de vida. Isto significa que a
energia psíquica deriva apenas de tendências instintivas de natureza biológica que
visam a satisfação imediata na busca exclusiva do prazer.
A vida em sociedade seria impossível se as pessoas orientassem os seus actos
para o prazer conferido pela satisfação rápida dos seus desejos. A busca narcísica e
egocêntrica do prazer levaria a constantes frustrações e conflitos dado que, no mundo
real, não existem condições que permitam que o objecto necessário à libertação da
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energia pulsional seja encontrado, ou seja disponível sempre que o indivíduo o
procura.
Segundo a teoria psicanalítica, começa a surgir, relativamente cedo, uma outra
instância: o ego. Este desenvolve-se à medida que a criança vai experienciando e se
vai apercebendo de privações e recusas no mundo exterior.
O ego tem por função orientar as pulsões de acordo com as exigências da realidade,
de modo a tornar possível a adaptação do indivíduo ao mundo externo, ficando apto a
enfrentar situações geradoras de ansiedade. No seu papel de árbitro na luta entre as
pulsões inatas e o meio, o ego conta com a ajuda de um conjunto de mecanismos de
defesa que se vão progressivamente formando e que exercem um controlo
inconsciente sobre as pulsões que ameaçam o equilíbrio psíquico do indivíduo,
canalizando-as para formas indirectas e substitutivas da obtenção do prazer.
Se considerássemos a criança apenas em termos de id e de ego, poderíamos
dizer que ela seria perfeitamente amoral. O desenvolvimento do sentido de moralidade
só é possível, na perspectiva freudiana, quando se forma uma outra instância do
aparelho psíquico: o superego.
A sua origem radica na relação da criança com os pais. Estes são fonte de
exigências, sanções, interdições e ameaças que pesam sobre a criança. Este controlo
imposto a partir do exterior tende, pouco a pouco, a ser interiorizado e, por volta dos
sete anos, o superego é já uma instância interna que, segundo Freud, actua de modo
automático e espontâneo. Norteado por princípios morais, poder-se-á dizer que o
superego representa um conjunto de valores nucleares como: honestidade, sentido de
dever, obrigações, sentido de responsabilidade e outros.
A constituição e a manifestação do superego não eliminam a actuação do id,
que se mantém activo ao longo da vida. Toda a teoria freudiana se desenvolve à roda
do conceito de energia psicossexual ou libido, cuja proveniência são as pulsões
biológica e instintivas do id.

EDUCAÇÃO DA TENSÃO

LIBERTAÇÃO DA LIBIDO SATISFAÇÃO


TENDÊNCIAS ENERGIA OU
INSTINTIVA PULSÃO NÃO – LIBERTAÇÃO INSATISFAÇÃO
LIBIDO

Aumento da tensão


Freud acredita que o desejo ou busca do prazer psicossexual surge no
individuo antes da puberdade, logo a partir do nascimento.
Usa o termo psicossexual num sentido muito amplo, que inclui as sensações
agradáveis resultantes da estimulação de diversas áreas do corpo e considera que a
energia psicossexual ou libido deriva de processos metabólicos. Os órgãos envolvidos
na digestão e procriação, fundamentais para a sobrevivência do individuo e da
espécie, são zonas erógenas, isto é fontes instintivas do prazer sexual.
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ESTADIOS DE DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL

No seu desenvolvimento, a criança atravessa uma série de fases ou estádios, cada


um dos quais se associa a sensações de prazer ligadas a uma zona erógena
específica. O controlo destas sensações origina conflitos cuja resolução influencia a
formação da personalidade adulta. Para alcançar a maturidade psicológica, o indivíduo
tem de resolver positivamente os conflitos próprios de cada etapa.
As pessoas que experienciam excesso de frustração ou satisfação dos
sentimentos sexuais de cada período poderão permanecer psicologicamente presas a
esse estádio, fenómeno que Freud designa por fixação.

Estádio Oral
(Do nascimento aos 12-18 meses)
Neste período, a boca é a principal fonte de prazer. Esta não se presta apenas a
satisfação das necessidades alimentares do bebé, como também se constitui como
zonas erógena, ou seja, como fonte de prazer sensual. Por isso, nesta fase, trate-se
ou não de alimento tudo o que a criança consegue agarrar é levado à boca. O seio
materno é fonte de grande satisfação que lhe permite estabelecer uma relação
afectiva de proximidade com a mãe, cuja natureza marca o modo como futuramente
se relacionará com o mundo.
No início deste estádio, a criança vive num estado de indiferenciação eu-
mundo com o qual contacta fundamentalmente através da boca. Por isso, durante
alguns meses limita-se a passivamente mamar no seio, na chupeta ou no biberão.
Posteriormente, ela própria procura agarrar qualquer objecto, chegando a morde-lo, de
acordo com o desenvolvimento de uma oralidade mas agressiva, para a qual contribui
o aparecimento da dentição.
A fixação neste estádio segundo Freud, à tendência exagerada para
comportamentos de gratificação oral, como, por exemplo, comer, beber, beijar e fumar.
É na fase oral que se começa a estruturar personalidade, desenvolvendo-se
determinadas características com dimensões de bipolares, dependendo do excesso de
satisfação ou do excesso de desprazer: optimismo-pessimismo; admiração-inveja,
credulidade-desconfiança.

Estádio Anal
(Dos 12-18meses aos 3 anos)
Após a digestão dos alimentos, estes vão-se acumulando na área rectal, até
que a pressão nos músculos do esfíncter anal provoca a descarga reflexa. Esta
descarga alivia a tensão, pelo que se torna agradável.
É, normalmente durante o segundo ano de vida que as crianças começam a
desenvolver o controlo muscular ligado à defecação; é também por esta altura que os
pais se preocupam com a criança de hábitos de higiene. Se a exigência dos pais é
demasiado rígida, a criança tanto pode tender a reter as fezes como a liberta-las nos
momentos mais inoportunos. Quer reter, quer expulsar as fezes se torna fonte de
prazer, pelo que a região anal é a zona erógena desta fase.
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Segundo Freud, a educação do asseio demasiado restritiva ou demasiado
tolerante pode determinar dois tipos de personalidade adulta:
No retentivo-anal, verificam-se características como avareza, obstinação,
meticulosidade, ordem compulsiva.
No expulsivo anal, verifica-se a tolerância, a submissão, genorosidade excessiva e
desordem.
Estádio Fálico
(Dos 3 aos 5-6 anos)
É durante este período que rapazes e raparigas descobrem que o corpo do homem e
da mulher são diferentes e começam a explorar o seu próprio corpo, apercebendo-se
que a relação entre as pessoas envolve elementos de natureza sexual.
O objecto da libido é, nesta fase, constituído pelos órgãos genitais, pelo que a
criança obtém prazer ao tocar-lhes. Se os pais ensinam aos filhos que isso é
vergonhoso, os rapazes podem contrair o medo da castração e as raparigas a inveja
do pénis. Rapazes ou raparigas podem apresentar, futuramente, dificuldades de
relacionamento sexual.
É nesta fase que as crianças vivem a primeira experiência de amor
heterossexual. O rapaz alimenta uma atracção especial pela mãe, ao mesmo tempo
que desenvolve uma agressão competitiva em relação ao pai. A rapariga sente-se
atraída pelo pai, vendo a mãe como um obstáculo à realização dos seus desejos.
Estas vivências foram designadas, no caso do rapaz, por complexo de Édipo,
e, no da rapariga, por complexo de Electra, inspirando-se em personagens da tragédia
grega.
O que aqui nos parece negativo e de certo modo chocante é, pelo contrário,
positivo e basilar para a estruturação da personalidade. É que a atracção pelo
progenitor do sexo oposto e o sentimento de rivalidade para com o outro fazem com
que surja no rapaz o desejo de imitar o pai, de ser como ele, para conquistar a mãe.
Por sua vez, a rapariga identifica-se com a mãe querendo parecer-se com ela para
seduzir o pai.
Num e noutro caso, as crianças estão a construir o conceito de masculinidade
e feminilidade pela interiorização das atitudes, valores, regras morais, do progenitor do
mesmo sexo, ao mesmo tempo que desenvolvem o sentimento de si próprios como
seres sexuais masculinos ou femininos.
Quando os complexos de Édipo ou de Electra não são bem resolvidos, quer
porque as fantasias sexuais infantis são satisfeitas quer por defeitos, quer por
excesso, pode ocorrer uma fixação nesta fase da qual resultam dimensões bipolares
de personalidade: Orgulho-humildade, sedução-retraimento, promiscuidade-castidade.

Estádio de Latência
(Dos 5/6 anos aos 12/13 anos)
Após a vivência da situação edipiana, a criança entra numa fase em que os
desejos sexuais estão praticamente ausentes. Segundo Freud, o apaziguamento das
pulsões sexuais é devido à amnésia infantil, processo pelo qual a criança “esquece”,
reprime no inconsciente as experiências fortes do estádio fálico.
A criança canaliza a energia psíquica para actividades de outro tipo. A
curiosidade sexual cede lugar à curiosidade intelectual que a entrada na escola ajuda
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a desenvolver. O conhecimento do mundo físico e social amplia-se, afastando-se dos
limites do mundo familiar e carregado de afectividade. A convivência com professores,
colegas, ou outras pessoas, e a participação no grupo exige a adopção de condutas
reguladas por normas bem diferentes das que regiam o grupo familiar.
A exploração, a descoberta, a procura e a invenção ocupam a criança num
sem-número de actividades de acordo com os seus gostos ou metas a atingir.
Durante este período de acalmia sexual, a criança assume atitudes, manifesta
sentimentos e desenvolve actuações de modo a cumprir o que se espera dela. Deseja
obter sucesso na escola ou noutras actividades, procurando tornar-se uma espécie de
criança–modelo bem comportada, e apreciada pelos pais, professores e amigos.
De acordo com a teoria freudiana, o aparelho psíquico, constituído pelas três
instâncias – id, ego e superego -, está completamente organizado nesta fase, pelo que
a estrutura da personalidade se encontra praticamente formada. No estádio seguinte,
o desenvolvimento psicossxual está terminado.

Estádio Genital
(Depois da puberdade)
Ao período de uma sexualidade latente sucede-se um estádio em que a
sexualidade desperta de novo e com grande intensidade. Isso deve-se ao fenómeno
de maturação orgânica e aos impulsos desencadeados pela consequente produção de
hormonas sexuais.
Para Freud, este estádio é uma repetição dos períodos precedentes, pelo que
se reactivam os conflitos vividos na infância. O complexo de Édipo é revivido pelo
adolescente de uma forma muito especial. O amor vivido no período fálico em relação
ao progenitor do sexo oposto é agora canalizado para uma atracção heterossexual por
pessoas alheias ao universo familiar. A satisfação dos impulsos da libido é agora
procurada pela prática de actividades sexuais de natureza genital.
Os jovens, rapazes e raparigas que atingem este estádio após terem resolvido
os conflitos inerentes às fases anteriores, estão preparados, a partir de agora, não só
para o exercício de actos ligados à reprodução, como também para assumir as
responsabilidades da idade adulta.
Segundo Freud, não há fixação neste período, dado ser a última do
desenvolvimento psicossexual.
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DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL SEGUNDO FREUD

Estádio Idade aproximada Fonte de prazer Conflito Características de


personalidade
Do nascimento aos Bocas, lábios e língua. Desmame -Optimismo - pessimismo.
12-18 meses Mamar, comer e -Impaciência.
Oral morder -Inveja.
-Agressividade
Retentivo-anal:
-Avareza
Dos 12-18meses Anus. Reter, expulsar, Treino de higiene -Obstinação
aos 3 anos controlar. Asseio -Ordem compulsiva
-Meticulosidade
Anal Expulsivo-anal:
-Crueldade
-Destruição
-Desordem
-Desarrumação

Dos 3 aos 5-6 anos Órgãos genitais.


Explorar o próprio Complexo de -Orgulho-humildade
Fálico corpo e o dos outros. Édipo-Electra -Sedução-timidez
Tocar nos órgãos -Castidade-promiscuidade
genitais.
Dos 5-6 anos aos Ausência de interesses - Aprendizagem social
12-13anos sexuais. Curiosidade - Desenvolvimento da
Latência intelectual e consciência moral.
relacionamento social.
Depois da Contactos sexuais com
Genital puberdade outras pessoas
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Teoria Psicossocial
A ênfase nos aspectos psicossociais é o que caracteriza a perspectiva de Erik Erikson,
quando comparadas às perspectivas desenvolvimentistas já estudadas por nós.
De facto, apesar de discípulo de Freud, Erikson discorda da teoria deste psicólogo, em
especial quanto aos seguintes aspectos:
1. Valorização exagerada da energia libidinal como chave explicativa do
desenvolvimento.
2. Redução do desenvolvimento aos períodos que decorrem da infância à
adolescência.
3. Subestimação das interacções indivíduo-meio.
4. Privilégio concedido à vertente patológica da personalidade.
Erikson apresenta uma teoria de desenvolvimento cujos pressupostos são os
seguintes:
1. A energia que orienta o desenvolvimento é essencialmente de natureza
psicossocial, pelo que valoriza as interacções entre a personalidade em transformação
e o meio social.
2. O desenvolvimento é um processo contínuo que se inicia com o nascimento e se
prolonga até final da vida.
3. A personalidade constrói-se à medida que a pessoa progride por estádios
psicossociais que, no seu conjunto, constituem o ciclo de vida.
4. Em cada estádio manifesta-se uma crise que é vivida em função de aspectos
biológicos, individuais e sociais. A crise consiste num conflito ou dilema que tem que
ser enfrentado e resolvido, havendo uma solução positiva e uma negativa para cada
um deles.
5. Os conflitos estão, desde o nascimento, latentes no indivíduo, só se tornando
patentes e predominantes em fases específicas do ciclo da vida.
6. As soluções positivas das crises resultam em equilíbrio e saúde mental; as
negativas conduzem ao desajustamento e ao sentimento de fracasso.
7. Ajustamento ou desajustamento não são situações ou estados definitivos. Em fases
subsequentes, o indivíduo pode passar por experiencias positivas e negativas que
contrariem as vivencias tidas em estados anteriores.
Atentando nestes pressupostos, vemos que o conceito de crise é fundamental
para a construção da personalidade. De facto, esta desenvolve-se em função da
vivencia de crises sucessivas. Conforme for resolvida a crise, a pessoa situar-se-á
mais ou menos adequadamente no contexto social, retirando ilações para o
relacionamento consigo próprio, com os outros e com a vida. A resolução positiva leva
o indivíduo a dominar mais eficientemente o ambiente que o rodeia, a funcionar de
modo mais consistente e seguro e a ser capaz de se compreender melhor a si próprio
e aos outros.
Se crises psicológicas que permitem ao indivíduo a aquisição de sentimentos,
como confiança em si próprio, autonomia, iniciativa ou, ao invés, falta de confiança,
sentimentos de inferioridade e de culpabilidade, surgem ao longo do ciclo da vida,
distribuídas por oito estádios, em cada um dos quais aparecem, segundo Erikson,
virtudes específicas.
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Erikson emprega o tema virtude com o significado de uma aquisição positiva
que ocorre quando é favorável a resolução de crise. Tal aquisição constitui um ganho
psicológico emocional e social que se pode traduzir por um valor, por uma
característica de personalidade, por uma competência, por uma qualidade pessoal ou
por um sentimento.

Os oito estádios do ciclo de vida


Por facilitar a compreensão da teoria de desenvolvimento de Erikson, começaremos
por enunciar uma questão-chave, à roda da qual se ordenam os conceitos
organizadores de cada um dos estádios.

1ª Estádio Confiança versus desconfiança


( Do nascimento aos 18 meses)

Questão-chave: o meu mundo social é previsível e protector?

O conflito típico desta idade é: confiança versus desconfiança. O relacionamento com


a mãe é da maior importância. Se a mãe alimenta bem o filho, se o aconchega e
acarinha, brinca e fala ternamente com ele, o bebé desenvolve o sentimento de que o
ambiente é agradável e seguro, criando uma atitude básica de confiança face ao
mundo.
Se o comportamento da mãe não o satisfaz, a criança desenvolve medos e
suspeitas que contribuem para a formação de uma atitude negativa de desconfiança.
A virtude desenvolvida durante este período é a esperança. Este período
aproxima-se do estádio oral da teoria de Freud.

2ª Estádio autonomia versus vergonha e dúvida


(Dos 18 meses aos 3 anos)

Questão-chave: Serei capaz de fazer sozinho as coisas, ou precisarei da ajuda dos outros?

O conflito típico desta idade é: autonomia versus vergonha e dúvida. As crianças


sentem necessidade de protecção, mas, simultaneamente, gostam de experimentar.
Por isso, sentem-se bem sempre que podem exercitar as suas capacidades motoras:
correr, puxar, empurrar, segurar, largar, são actividades que treinam e procuram
desenvolver.
Se os pais encorajam a criança a exercitar estas habilidades, ela desenvolve o
controlo dos seus músculos, o que contribui para o domínio do seu próprio corpo e do
ambienta que a rodeia. Deste modo, a criança ganha autonomia.
Se, pelo contrário, os pais a impedem de usar as suas capacidades ou exigem
que as usem precocemente, estão a contribuir para o aparecimento de sentimentos
negativos, nomeadamente vergonha e dúvida.
É de boa resolução do confronto entre aquilo que ela quer e o que os outros
exigem que a criança adquire força de vontade, virtude própria desta idade.
Este período aproxima-se do estádio anal da teoria de Freud.
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3ª Estádio: iniciativa versus sentimento de culpa
(dos 3 aos 6 anos )

Questão-chave: Sou bom, ou sou mau?

O conflito típico desta idade é: iniciativa versus sentimento de culpa. O desejo de


experimentar mantém-se e amplia-se com a aquisição de novas capacidades
intelectuais, como o pensamento e a linguagem, que usa como outras formas de
explorar e realidade. Com elas toma iniciativas, idealiza façanhas, realiza tarefas e
exibe-se.
Se os pais compreendem e aceitam o jogo activo das crianças, estas sentem
que o seu sentido de vida é valorizado. Se, pelo contrário, os pais se impacientam e
consideram disparatadas as suas perguntas, brincadeiras e actividades, as crianças
sentem-se culpadas e inseguras, evitando agir de acordo com os próprios desejos.
O conflito bem resolvido conduz á tenacidade, virtude própria deste período.
Este período aproxima-se do estádio fálico da teoria de Freud.

4ª Estádio: diligência versus sentimento de inferioridade


(Dos 6 aos 12 anos )

Questão-chave: Sou bem sucedido, ou não valho nada?

O conflito típico desta idade é: diligência versus sentimento de inferioridade. A criança


franqueia o universo da escola, onde se espera que faça grandes aprendizagens, quer
sob o ponto de vista académico quer social. Sonha com o sucesso, desenvolvendo
esquemas cognitivos para se tornar excelentes nas tarefas desempenhadas.
Quando as crianças se sentem menos capazes do que os seus pares, passam
pela vivencia de sentimento de inferioridade. Em caso contrário, ao sentirem-se bem
sucedidas e acreditarem nas suas capacidades e no seu valor pessoal, empenham-se
com prazer no trabalho, desenvolvendo a diligência.
A virtude própria desta idade é a competência ou perícia. Este período
aproxima-se do estádio de latência de teoria de Freud.

5ª Estádio: identidade versus confusão


(dos 12 aos 20 anos)

Questão-chave: Quem sou, ou o que virei a ser?

O conflito típico desta idade é: identidade versus confusão. É nesta fase que o
adolescente chega á compreensão da sua singularidade como pessoa, adquirindo a
noção de que é um ser único, com identidade própria, mas inserido num meio social
onde tem vários papéis a desempenhar. Neste sentido, o adolescente vai ter de
integrar diversas auto-imagens – jovem, amigo, estudante, seguidor, líder, trabalhador,
homem ou mulher – numa única imagem. É a partir desta única imagem formada de si
próprio, e em função dela, que escolhe uma carreira profissional e um estilo de vida.
Se nos períodos anteriores conseguiram obter confiança básica, autonomia,
iniciativa e diligencia, os adolescentes constroem mais facilmente a sua identidade.
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Se, ao contrário, manifestam dificuldades em saber o que são, o que querem, que
opções fazer e que papel desempenhar, vivem situações difíceis de confusão e
indecisão.
A virtude desenvolvida nesta fase é a lealdade ou fidelidade. Este período
aproxima-se ao estádio genital da teoria de Freud.

6ª Estádio: intimidade versus isolamento


(dos 20 aos 35 anos)

Questão-chave: Partilharei a minha vida com alguém, ou viverei sozinho?


O conflito típico desta idade é: intimidade versus isolamento. O jovem adulto está
preparado para estabelecer laços sociais caracterizados pelo bem-querer, amizade,
partilha e confiança.
A intimidade requer que o sentimento de identidade pessoal facilite o
relacionamento com outrem numa base de compromissos, alteração de hábitos e,
mesmo, de aceitação de sacrifícios. Por outras palavras, exige que se esteja
predisposto e se seja capaz de regular os ciclos de trabalho, os tempos de lazer e as
épocas de procriação com a pessoa com quem se partilha a vida.
As dificuldades em estabelecer relacionamentos íntimos contribuem para que
as pessoas se fechem em si mesmas e permaneçam no isolamento.
As virtudes desenvolvidas neste estádio são o amor e afiliação.

7º Estádio generatividade versus estagnação


(Dos 35 aos 65 anos)

Questão-chave: sou bem sucedido na vida conjugal e profissional?

O conflito típico desta idade é: generatividade versus estagnação. O termo


generatividade foi criado por Erikson para designar o comprometimento do adulto em
relação ao futuro e à nova geração. As preocupações com os jovens, o seu bem estar
e o desejo de contribuir para um mundo melhor desenvolvem as potencialidades do eu
e incrementam a afirmação pessoal do adulto.
Se, em vez de desenvolver actividades que considera produtivas e úteis aos
outros, o adulto se preocupa apenas consigo próprio, a sua vida caracteriza-se pela
estagnação. As virtudes adquiridas nestes estádios são a produção e a ajuda aos
outros.

8º Estádio: integridade versus desespero


DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL SEGUNDOERIKSON
Idade
aproximada Estádio
Resolução da crise Núcleo de relações Comportamentos Virtude
psicossociais
significativas
Êxito Fracasso
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Confiança: Desconfiança: retraído,
1ªidade: Do sente-se protegido e desprotegido ou
bebe nascimento seguro: desenvolve o abandonado pelos pais, Mãe ou substituta da -Dar
aos 18 meses sentimento básico de tem medo e aprende a mãe -Receber Esperança
confiança na vida desconfiar do mundo

Autonomia: Vergonha e dúvida :


2ªidade: Dos 18 meses sente-se demasiado controlado
criança de aos 3 anos independente, atreve- pelos pais, não se Pais -Dominar Força de
tenra idade se a fazer coisas e a atreve, duvida, aprende -Proteger vontade
desenvolver as suas tudo mais tarde -Largar
capacidades. -Deixar

Iniciativa: Sentimento de culpa:


3ªidade: Dos 3 aos 6 Imaginação, falta de espontaneidade. -Fazer
criança em anos vivacidade, actividade. Inibição, sente-se Família -Reproduzir Tenacidade
idade pré- Sente orgulho nas culpado, considera-se -Fazer de conta
escolar suas capacidade. medíocre. -brincar
Diligencia: Sentimento de
4ªidade: Dos 6 aos 12 Trabalhador, inferioridade -Fazer coisas
criança em anos empreendedor. Gosta Preguiçoso, sem Vizinhos. Escola -competir
Competência
idade de realizar coisas, de iniciativa. Evita entrar -Fazer coisas
escolar participar em jogos, de em competição. em conjunto
competir Considera-se inferior e
medíocre
Identidade: Confusão
Sabe quem é o que insegurança:
5ªidade: Dos 12 aos 20 quer da vida. Não sabe o que quer.
Adolescente anos Segurança, Não sabe situar-se face -Ser igual a si
independência. É ao trabalho, à sociedade Colegas e amigos próprio Lealdade
capaz de aprender e à sexualidade. -Partilhar
muito. Sexualidade
integrada.

Intimidade: Isolamento:
Capacidade de amar, Dificuldades em
6ªidade: e de se entregar. relacionar-se. Relações Parceiros com Encontrar -se Amor/
jovem Dos 20 aos 35 Sexualidade inautênticas, efémeras, ligações de amizade, ou perder-se no afiliação
adulto anos enriquecedora. problemáticas, instáveis. sexo ou cooperação. outro
Vínculos sociais
estáveis e aberto.
Generatividade:
Produtivo e criativo. Estagnação: Repartição entre
7ªidade: Dos 35 aos 65 Projectado para o Improdutivo, acabado, actividades -Fazer ser Produção
Adulto anos futuro. Gosta de Preocupado consigo profissionais -Cuidar de...
colaborar com as próprio, egocêntrico
novas gerações.
Integridade: Desespero
aceitar a sua Considera que a vida foi Humanidade, os da -ser pelo que se
8ªidade: Dos 65 aos existência como algo tempo perdido e que é mesma condição. foi Sabedoria
idoso em diante valioso. Satisfeito com impossível recuperar. -Encarar o não -
a vida Teme a morte ser

Teorias da aprendizagem

A perspectiva da aprendizagem preocupa-se em descobrir as leis objectivas que governam o


comportamento observável. Os teóricos da aprendizagem sustentam que o desenvolvimento
resulta de aprendizagem, uma mudança de longa duração no comportamento baseada na
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experiência ou adaptação ao ambiente. Os teóricos da aprendizagem vêem o desenvolvimento
como algo contínuo (e não em etapas) e enfatizam a mudança quantitativa.

Os teóricos da aprendizagem ajudaram a tornar o estudo de desenvolvimento humano


mais científico. Suas palavras são definidas com precisão, e suas teorias podem ser testadas no
laboratório. Por salientarem as influências ambientais, ajudam a explicar as diferenças culturais
no comportamento.

Duas importantes teorias da aprendizagem são o behaviorismo e a teoria da


aprendizagem social.

Behaviorismo

O behaviorismo (ou comportamentalismo) é uma teoria mecanicista, a qual descreve o


comportamento observado como uma resposta previsível à experiência. Embora a biologia
estabeleça limites sobre o que as pessoas fazem, os behavioristas vêem o ambiente como algo
muito mais influente. Eles sustentam que os seres humanos em todas as idades aprendem sobre
o mundo da mesma forma que outros organismos: reagindo a condições ou a aspectos de seu
ambiente que acham agradáveis, dolorosos ou ameaçadores.

Os behavioristas procuram eventos que determinem se um determinado comportamento


irá ou não se repetir. A pesquisa comportamental concentra-se na aprendizagem associativa, na
qual se forma uma ligação mental entre dois fatos. Dois tipos de aprendizagem associativa são o
condicionamento clássico e o condicionamento operante.

Condicionamento Clássico: Os princípios do condicionamento clássico foram


desenvolvidos pelo fisiologista russo Ivan Pavlov (1849-1936), o qual criou experimentos em
que os cães aprendiam a salivar quando ouviam uma sineta que tocava na hora da alimentação.
O behaviorista norte-americano John B. Watson (1878-1958) aplicou as teorias de estímulo-
resposta em crianças, afirmando que poderia moldar qualquer bebê do modo que desejasse. Em
uma das primeiras e mais célebres demonstrações de condicionamento clássico em seres
humanos, ensinou um bebé de 11 meses, conhecido como "Albertinho", a temer objectos
brancos peludos.

Neste estudo, Albert foi exposto a um ruído intenso quando estava prestes a acariciar
um rato branco peludo. Assustado com o ruído, ele começou a chorar. Após repetidas
associações do rato ao ruído intenso, Albert choramingava de medo sempre que via o rato.
Embora a ética dessa pesquisa seja bastante questionável, o estudo realmente demonstrou que
um bebé poderia ser condicionado a temer coisas que antes não temia.

Os críticos destes métodos, às vezes, associam o condicionamento ao controle do


pensamento e à manipulação. O condicionamento clássico é uma forma natural de
aprendizagem que ocorre mesmo sem intervenção. Ao aprenderem quais factos ocorrem juntos,
as crianças podem prever o que irá acontecer, e esse conhecimento torna o mundo delas um
lugar mais organizado e previsível.

Condicionamento Operante: Amaro está tranquilamente deitado em seu berço. Quando


ele sorri, sua mãe aproxima-se do berço e brinca com o bebé. Mais tarde, o pai faz a mesma
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coisa. A medida que a sequência se repete, Amaro aprende que algo que ele faz (sorrir) pode
produzir algo de que ele gosta (atenção carinhosa dos pais); assim, ele fica sorrindo para atrair a
atenção dos pais. Um comportamento originalmente acidental (sorrir) tornou-se uma resposta
condicionada.

Este tipo de aprendizagem é chamado de condicionamento operante porque o indivíduo


aprende com as consequências de "operar" sobre o ambiente. O psicólogo norte-americano B. F.
Skinner (1904-1990), o qual formulou os princípios do condicionamento operante, trabalhava
principalmente com ratos e pombos, mas afirmava (1938) que os mesmos princípios aplicam-se
aos seres humanos. Ele descobriu que um organismo terá a tendência de repetir uma resposta
que foi reforçada e irá suprimir uma resposta que foi punida. O reforço é uma consequência do
comportamento que aumenta a probabilidade de que o comportamento repita-se no caso de
Amaro, a atenção dos pais reforça o sorriso dele. A punição é uma consequência do
comportamento que diminui a probabilidade de repetição. Uma consequência será um reforço
ou uma punição dependendo da pessoa. O que é reforço para uma pessoa pode ser punição para
outra.

O reforço pode ser positivo ou negativo. O reforço positivo consiste em dar uma
recompensa, como comida, troféu, dinheiro ou elogio - ou brincar com um bebé. O reforço
negativo consiste em tirar alguma coisa da qual o indivíduo não gosta (conhecido como evento
aversivo), como, por exemplo, um ruído intenso. O reforço negativo, às vezes, é confundido
com punição. Entretanto, eles são diferentes. A punição suprime o comportamento, ocasionando
um evento aversivo (como bater numa criança ou aplicar um choque eléctrico em um animal) ou
retirando um evento positivo (como assistir à televisão). O reforço negativo estimula a
repetição de um comportamento pela remoção de um evento aversivo.

O reforço é mais eficaz quando segue um comportamento imediatamente. Se uma


resposta não é mais reforçada, com o tempo irá retornar a seu nível original (linha de base). Isso
se chama extinção. Se, depois de certo tempo, ninguém brinca com Amaro quando ele sorri, ele
pode não parar de sorrir, mas sorrirá muito menos do que se seus sorrisos ainda trouxessem
reforço. A modificação do comportamento, ou terapia comportamental, é uma forma de
condicionamento operante utilizada para eliminar um comportamento indesejável ou promover
um comportamento positivo. Isso pode ser feito por modelação: reforçar respostas que sejam
cada vez mais parecidas com a resposta desejada. A modificação do comportamento é
particularmente eficaz entre crianças com necessidades especiais, tais como jovens com
deficiências mentais ou emocionais.

Aprendizagem Social (Sociocognitiva)

A teoria da aprendizagem social sustenta que as crianças, em especial, aprendem


comportamentos sociais pela observação e imitação de modelos. O psicólogo norte-americano
Albert Bandura (nascido em 1925) desenvolveu muitos dos princípios da teoria da
aprendizagem social, também conhecida como teoria sociocognitiva, que hoje é mais influente
do que o behaviorismo.

Diferentemente do behaviorismo, a teoria da aprendizagem social (Bandura, 1977,1989)


vê o aprendiz como activo. Enquanto os behavioristas consideram que o ambiente molda a
pessoa, os teóricos da aprendizagem social acreditam que a pessoa também actua sobre o
ambiente - na verdade, até certo ponto, cria o ambiente. Embora os teóricos da aprendizagem
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social, como os behavioristas, enfatizem a experimentação laboratorial, eles acreditam que as
teorias baseadas na pesquisa com animais não podem explicar o comportamento humano. As
pessoas aprendem em um contexto social, e a aprendizagem humana é mais complexa do que
simples condicionamento.

Os teóricos da aprendizagem social reconhecem a importância da cognição; vêem as


respostas cognitivas às percepções, em vez de respostas basicamente automáticas ao reforço ou
à punição, como centrais para o desenvolvimento. Assim, a teoria da aprendizagem social é uma
ponte entre a teoria da aprendizagem clássica e a perspectiva cognitiva. De particular
importância na teoria da aprendizagem social é a observação e imitação de modelos. As pessoas
adquirem novas capacidades através da aprendizagem por observação ou vicária, ou seja,
observando os outros. Elas demonstram sua aprendizagem imitando o modelo, às vezes, quando
o modelo não está mais presente. Segundo a teoria da aprendizagem social, a imitação de
modelos é o elemento mais importante na forma como as crianças aprendem uma língua, lidam
com a agressividade, desenvolvem um senso moral e aprendem comportamentos apropriados ao
gênero. Entretanto, a aprendizagem por observação pode ocorrer mesmo que a criança não imite
o comportamento observado.

As crianças promovem activamente sua própria aprendizagem social escolhendo


modelos para imitar. A escolha é influenciada pelas características do modelo, pela criança e
pelo ambiente. Uma criança pode escolher um dos pais, e não o outro. Ou a criança pode
escolher outro adulto (por exemplo, um professor, uma personalidade da televisão, um
desportista ou um traficante de drogas) ou um amigo admirado, além de - ou em vez de - um
dos pais.

O comportamento específico que as crianças imitam depende do que elas percebem que
é valorizado em sua cultura. Se todos os professores na escola de Carlos são mulheres, ele
provavelmente não imitará o comportamento delas, pois talvez o considera "indigno de
homem". Entretanto, se ele conhecer um professor do sexo masculino de quem gosta, pode
mudar de opinião sobre o valor dos professores como modelos.

Factores cognitivos, como as capacidades de prestar atenção e de organizar


mentalmente as informações dos sentidos, afectam o modo como as pessoas incorporam o
comportamento observado ao seu comportamento pessoal. Processos cognitivos estão em acção
quando as pessoas observam modelos, aprendem "partes" de comportamento e mentalmente
reúnem as partes formando novos padrões de comportamento. Rita, por exemplo, imita o
caminhar de sua professora de dança, mas modela seus passos de dança pelos de Carmem, uma
aluna um pouco mais adiantada. Mesmo assim, desenvolve seu estilo próprio de dançar,
reunindo suas observações e formando um novo padrão.

O desenvolvimento da capacidade de utilizar símbolos mentais para o comportamento


de um modelo permite que as crianças formem padrões para julgar seu próprio comportamento.

TEORIA HUMANISTA

A perspectiva humanista desenvolveu-se nos anos de 1950 e 1960 em reacção ao


que alguns psicólogos identificavam como crenças negativas sobre a natureza humana
que subjazem as teorias psicanalítica e behaviorista. Os psicólogos humanistas, como
Abraham Maslow e Carl Rogers, rejeitam a ideia de que as pessoas são basicamente
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prisioneiras de suas primeiras experiências inconscientes, de impulsos instintuais ou de
forças ambientais. Diferentemente de Freud, o qual pensava que a personalidade define-
se no início da infância, ou dos behavioristas, que pensam que as pessoas reagem
automaticamente aos fatos, os pensadores humanistas enfatizam a capacidade que as
pessoas têm - independentemente de sua idade ou das circunstâncias - de tomar conta de
suas vidas.

Os psicólogos humanistas dão especial atenção a factores internos na


personalidade: sentimentos, valores e esperanças. Eles procuram ajudar as pessoas a
promover seu próprio desenvolvimento através das capacidades caracteristicamente
humanas de escolha, criatividade e auto-realização. Eles salientam o potencial para um
desenvolvimento positivo e saudável; qualquer característica negativa, dizem eles, são
consequência de danos infligidos à pessoa em desenvolvimento.

Maslow (1908-1970) identificou uma hierarquia de necessidades: uma ordem


de classificação das necessidades que motivam o comportamento humano.

Segundo Maslow (1954), as pessoas só podem empenhar-se para atender


necessidades superiores depois que satisfizeram necessidades básicas. A necessidade
mais básica é a sobrevivência fisiológica. Pessoas famintas correm grandes riscos para
obter alimento; somente depois de obtê-lo podem preocupar-se com o próximo nível de
necessidades, aquelas referentes à segurança pessoal. Essas necessidades, por sua vez,
precisam estar substancialmente satisfeitas para que as pessoas possam livremente
buscar amor e aceitação, estima e realização e, por fim, auto-realização, a plena
realização do potencial. As pessoas auto-realizadas, disse Maslow (1968), possuem uma
aguçada percepção da realidade, aceitam a si mesmas e aos outros e apreciam a
natureza. São espontâneas, altamente criativas, autodirigidas e boas na resolução de
problemas. Elas têm relacionamentos gratificantes, embora também sintam necessidade
de privacidade. Possuem uma forte compreensão de valores e um carácter não-
autoritário. Respondem à experiência com renovada apreciação e muita emoção. A
maioria delas tem experiências místicas ou espirituais profundas, chamadas de
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experiências culminantes, que podem trazer um sentimento de autotranscendência ou
integração com algo além de si mesmo.

Ninguém chega a ser totalmente auto-realizado; uma pessoa saudável está


constantemente ascendendo a níveis mais satisfatórios. A hierarquia de necessidades de
Maslow parece fundamentada na experiência humana, mas nem sempre ela se confirma.
A história está repleta de relatos de auto-sacrifício, em que pessoas abriram mão do que
precisavam para sobreviver para que outra pessoa (um ente querido ou mesmo um
estranho) pudesse viver. Apesar disso, teorias humanistas, como a de Maslow, fizeram
uma contribuição valiosa pela promoção de abordagens, tanto na educação dos filhos
como no auto-aperfeiçoamento adulto, que respeitam a singularidade do indivíduo. Suas
limitações como teorias científicas estão muito relacionadas com a subjetividade; seus
conceitos não são claramente definidos e por isso são difíceis de testar.

Teoria Sociocultural de Lev Vygotsky

O psicólogo russo Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934) foi um proeminente


proponente da perspectiva contextual, especialmente em sua aplicação ao
desenvolvimento cognitivo das crianças.

O foco central de Vygotsky é o complexo social, cultural e histórico do qual uma


criança faz parte. Para compreender o desenvolvimento cognitivo, dizia ele, é preciso
olhar para os processos sociais de onde se origina o pensamento de uma criança.

A teoria sociocultural de Vygotsky (1978), como a teoria piagetiana de


desenvolvimento cognitivo, enfatiza o envolvimento activo das crianças com seu
ambiente. Mas, enquanto Piaget descrevia uma mente desacompanhada absorvendo e
interpretando informações sobre o mundo, Vygotsky via o crescimento cognitivo como
um processo cooperativo. Segundo Vygotsky, as crianças aprendem através da
interacção social. Elas adquirem habilidades cognitivas como parte de sua indução a um
modo de vida. As actividades compartilhadas ajudam as crianças a internalizar os
modos de pensamento e comportamento de suas sociedades e a torná-los seus.

De acordo com Vygotsky, os adultos (ou pares mais desenvolvidos) devem


ajudar a dirigir e organizar a aprendizagem de uma criança até que ela possa aprender e
internalizar o aprendizado. Essa orientação é muito eficaz para ajudar as crianças a
atravessarem a zona de desenvolvimento proximal (ZDP), a lacuna entre o que elas já
são capazes de fazer e o que não estão totalmente prontas para fazer sozinhas. As
crianças na ZDP para uma determinada tarefa quase podem realizá-la sozinhas, mas não
totalmente. Com a orientação correcta, entretanto, elas podem realizá-la com êxito.
Durante o trabalho em conjunto, a responsabilidade pela direcção e pelo monitoramento
da aprendizagem gradualmente passa para a criança.

Um princípio semelhante aplica-se ao se ensinar uma criança a boiar. Primeiro o


instrutor segura a criança na água, soltando-a pouco a pouco à medida que ela relaxa o
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corpo e adquire uma posição horizontal. Quando a criança parece pronta, o instrutor a
apoia apenas com um dos dedos e, por fim, permite que a criança bóie livremente.

Alguns pesquisadores aplicaram a metáfora dos andaimes - as plataformas


temporárias sobre as quais se apoiam os operários da construção civil - para esse modo
de ensinar. Andaime, neste contexto, é o apoio temporário que pais, professores ou
outros dão a uma criança para realizar uma tarefa até que a criança possa fazê-la
sozinha.

A teoria de Vygotsky tem importantes implicações para a educação e para os


testes cognitivos. Testes baseados na ZDP, que focalizam o potencial de uma criança,
oferecem uma alternativa valiosa para os testes de inteligência padrão que avaliam o
que uma criança já aprendeu; muitas crianças beneficiam-se com o tipo de orientação
especializada prescrita por Vygotsky.

De modo geral, uma importante contribuição da perspectiva contextual tem sido


sua ênfase sobre o componente social no desenvolvimento. A perspectiva contextual
também nos lembra que o desenvolvimento das crianças em uma cultura ou em um
grupo dentro de uma cultura (como o de norte-americanos brancos de classe média)
pode não ser uma norma apropriada para crianças de outras sociedades ou grupos
culturais.

Nenhuma teoria de desenvolvimento humano é universalmente aceita, e


nenhuma perspectiva teórica explica todas as facetas do desenvolvimento. Na verdade, a
tendência actualmente é de distanciamento das teorias "grandiosas" (como as de Freud e
Piaget) e aproximação às "miniteorias", menores e mais limitadas, para explicar
fenómenos específicos, como a influência da pobreza sobre as relações familiares. Ao
mesmo tempo, existe um reconhecimento cada vez maior da interacção entre os
domínios físico, cognitivo e psicossocial - por exemplo, na relação entre
desenvolvimento motor e percepção, ou entre interação social e aquisição de habilidades
cognitivas. Também existe uma consciência cada vez maior da importância da mudança
histórica e da necessidade de explorar a diversidade cultural de maneira rigorosa e
disciplinada.

TEORIA ETOLÓGICA

A perspectiva etológica concentra-se nas bases biológicas e evolucionistas do


comportamento. Ela vai além do valor adaptativo imediato que um comportamento tem
para o indivíduo a fim de examinar sua função na promoção da sobrevivência do grupo
ou da espécie.

Na década de 1930, dois zoólogos europeus, Konrad Lorenz e Niko Tinbergen,


desenvolveram a disciplina científica da etologia, o estudo do comportamento de
espécies animais mediante sua observação, geralmente em seu ambiente natural. Nos
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anos de 1950, o psicólogo John Bowlby estendeu os princípios etológicos ao
desenvolvimento humano.

Os etologistas acreditam que, para cada espécie, uma variedade de


comportamentos inatos/específicos a cada espécie, foram desenvolvidos para aumentar
suas chances de sobrevivência. Os etologistas fazem pesquisas comparativas para
identificar quais comportamentos são universais e quais são específicos a uma
determinada espécie ou são modificados pela cultura. Eles também identificam
comportamentos que são adaptativos em diferentes períodos do tempo de vida; por
exemplo, um bebé precisa ficar perto da mãe, mas para uma criança mais velha, a
exploração mais independente é importante.

Bowlby (1951) estava convencido da importância do vínculo entre mãe e bebé e


desaconselhava a separação dos dois sem oferecer um substituto de boa qualidade. Sua
convicção provinha em parte do exame de estudos ecológicos sobre a formação de
vínculos entre animais e também de sua experiência com crianças perturbadas em uma
clínica psicanalítica em Londres. Mary Ainsworth, originalmente colega mais jovem de
Bowlby, estudou bebés africanos e norte-americanos e criou a hoje conhecida "Situação
Estranha" para medir o apego aos pais. A pesquisa sobre apego baseia-se na ideia de
que o bebé e o genitor são biologicamente predispostos a se apegarem um ao outro e
que esse apego promove a sobrevivência do bebé. Até o momento, a abordagem
etológica tem sido aplicada principalmente a algumas questões de desenvolvimento
específicas, como apego, dominância e agressividade entre amigos e habilidades de
resolução de problemas do dia-a-dia. Ela aponta para o valor da observação cuidadosa
das crianças em seu ambiente natural. Seus métodos podem ser frutiferamente
combinados com outras técnicas, como o questionamento verbal.

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