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Psicologia da Educação

Desenvolvimento Cognitivo na Educação

Teoria do Desenvolvimento de Piaget

Ao trabalhar com Binet, Piaget ficou interessado nas respostas erradas nas perguntas para
avaliar a inteligência.

➔ Questão: É possível seres genebrino e suíço ao mesmo tempo?


➔ «Não, não é possível já sou suíço não posso ser genebrino» Resposta de uma criança de 9
anos (Estudos de Piaget, 1965/1995)
➔ Interpretação: Dificuldades na classificação de um conceito (Genebra) como parte de
outro conceito (Suíça);

Acreditava que aprender era muito mais do que armazenar informação (factos, ideias, dados).
Ao professor cabia muito mais do que acrescentar conhecimentos. Acredita que o processo de
pensamento mudava de forma radical através dos fatores de influência:

➔ Maturação biológica: maturação das nossas capacidades motoras que vão limitar ao
potenciar a nossa atividade
➔ Atividade: exploração do mundo da criança
➔ Experiência Sociais: são influenciadas pelas capacidades motoras.

Como respondemos a estes fatores de influência?

A organização é a tendência biológica para organizar o processo de pensamento em estruturas


psicológicas, que são os esquemas. Os esquemas do mundo vão se alterar devido aos processos
de adaptação, nomeadamente a assimilação (os esquemas que tenho permitem dar sentido ao
meio) e de acomodação (mudar os esquemas). Procuramos sempre um equilíbrio entre os
esquemas cognitivos atuais e a informação recebida do meio (equilibração). Os desequilíbrios
(perceção que os esquemas que não tenho não me permitem compreender o mundo que a rodeia)
funcionam com um estímulo para aprender.

➔ Ajustamos o nosso pensamento a nova informação e não a informação ao pensamento


➔ O desequilíbrio pode ser um problema e ser desmotivador (se eu perceber que aquilo que
tenho de aprender está muito longe das minhas capacidades, posso sentir-me
desmotivado).

Implicações da teoria de Piaget para o ensino e a aprendizagem

➔ Ouvir e observar: ouvir como a criança explica a suas respostas, fazer perguntas para
explicar como percecionaram a pergunta….. Permite compreender o pensamento do aluno
➔ Provocar desequilíbrios: através de apresentar situações com resultados inesperados
(p.e.: apresentar o Alice no Pais das Maravilhas permite que as criança percebam que os
seus esquemas não permitem perceber conceitos mais simbólicos)
➔ Atividades e construção do conhecimento: o professor propõem atividades ao aluno que ele
possa escolher o que fazer (papel relevante na construção do conhecimento e
aprendizagem é um processo construído pelo próprio).
➔ Envolver o aluno na sua aprendizagem (e.g. agir, manipular, observar, falar sobre,
escrever sobre as suas experiências)
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Papel ativo do aluno na aprendizagem

Aprender é um processo interno de reorganização cognitiva (aluno reestrutura o seu


pensamento). Os objetivos pedagógicos devem estar centrados no aluno. Os conteúdos e matérias
são uma fermenta para ajudar o aluno a ir mais além. A interação é um meio social que favorece
os processos de aprendizagem (o outro na interação pode ajudar os processos de
aprendizagem).

Como decorre o desenvolvimento cognitivo? - Teoria do desenvolvimento de Piaget

Sensório Motor (0-2 anos)

A aprendizagem através dos movimentos, reflexos e sentidos (ação sobre o meio). Vai se
adquirir a permanência do objeto. As ações reflexas são atividades intencionais.

Pré-operatório (inicia-se quando a criança começa a falar até aos 7 anos de idade)

Começa o desenvolvimento da linguagem e do pensamento simbólico. O pensamento é no presente


e há uma dificuldade em compreender o ponto de vista dos outros.

Operações Concretas (inicia-se no 1º ano de escola até 11 anos)

Compreende o passado, o presente e o futuro. O jovem começa a pensar de forma lógica sobre
problemas concretos. Já compreende a reversão de ações e organiza o mundo em categorias.

Operações Formais (adolescência e continua na vida adulta)

Adquire o pensamento indutivo e dedutivo (fazer hipóteses, partir do todo para o particular).
Consegue resolver problemas abstratos (pensamento científico). Considera múltiplas perspetivas.

Estes estádios serão universais?

O maior conflito prende-se com o estádio das operações formais. As crianças conseguem
perceber que os objetos são permanentes, a quantidade de água não muda de acordo com
o recipiente e que as ações passadas precedem as presentes

No entanto, existem dificuldade na resolução de problemas hipotéticos. Apenas 30 a 40%


dos alunos do ensino secundário é capaz de resolver as tarefas do último estádio de
desenvolvimento

Piaget afirmava que o pensamento formal do adulto seria idêntico, do ponto vista qualitativo, aos
adolescentes e que estes têm mais conhecimento

A investigação mostra que muitos adolescentes não atingem o nível mais sofisticado de
pensamento e que muitos adultos não usam o raciocínio formal.

Além de Piaget? Novas formas de pensar na adultez (Neo-Piagetianas).

Alguns estudos tentam verificar as capacidades cognitivas especificas do adulto e outros estudos
que pretendem verificar aspetos da inteligência que são acentuados na idade adulta.

Duas linhas de estudo: Pensamento Reflexivo (níveis elevados de raciocino abstrato) ou


Pensamento Pós-Formal (lógica, emoção e experiência prática)
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Pensamento Reflexivo

Surge entre os 20 e os 25 anos. Associado à maturação cerebral. É um tipo de pensamento lógico


que envolve uma avaliação permanente e ativa, considerando crenças, evidencias e implicações.
Envolve o questionamento dos factos, realização de inferência e conexões entre as informações
recebida. São sistemas intelectuais complexos que conciliam ideia aparentemente opostas. A
educação universitária permite uma maior probabilidade de desenvolver este tipo de pensamento.

Pensamento Pós-Formal

Pode iniciar no início da idade adulta ou até mais tarde na idade adulta (adulto emergente –
realidade e tarefas distintas do que um “adulto normal”, p.e. não tem casa nem filhos aos 28). É
um tipo de pensamento ligado à experiência, no contexto social e emociona, flexível, aberto e
adaptativo. Caracteriza-se pela capacidade de lidar com a inconsistência e a imperfeição. Tem
sido associado mais a um estilo de personalidade.

Teoria das Competências Dinâmicas de Fisher

Articula a maturação das estruturas cognitivas e uma ligação à prática (compreender


aprendizagem quando estamos próximas das realidades escolares).

É uma teoria compreensiva do desenvolvimento humano que descreve os mecanismos e a


sequência do desenvolvimento, assim como realça o papel do contexto e dos fatores interpessoais
na aprendizagem.

Ao longo do desenvolvimento, adquirimos e melhoramos as nossas capacidade e formas de agir,


de maneira eficaz, para uma melhor adaptação ao meio.

A skill é a capacidade para agir de determinar forma, em determinado contexto/situação. É


influenciada pela emoção, o significado, a ação e a motivação. O desenvolvimento implica que o
pensamento se torne cada vez mais abstrato, complexo e integrado.

O desenvolvimento de competências ocorre através de níveis crescentes de complexidade,


diferenciação e integração, num sistema dinâmico que inclui o self, os outros e o ambiente. Há uma
lógica de desenvolvimento cognitivo, crescendo em complexidade, organizada em 13 estádios. Estes
estádios estão organizados em quatro categorias: reflexos, ações, representações e abstração.

A variabilidade no desempenho das habilidades é expectável. Existe uma grande variabilidade na


aquisição das competências, nos domínios de aprendizagem e em termos de idade. Isto porque a
skill é influenciado pela motivação, contexto…

 As habilidades são construídas ao longo do tempo e é esperada variabilidade no seu


desempenho.
 Há também variabilidade dentro de uma única habilidade
 Os alunos podem demonstrar uma habilidade num contexto e não o fazer noutro.

O contexto importa. O contexto influencia a transferência de aprendizagens (aplicar conhecimento


numa área a outra).
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Pode ter três perspetivas:

➔ Contexto Externo (ambiente ou setting onde a competência de desenvolve)


➔ Contexto Interno (estados emocionais e biológicos)
➔ Contexto Interpessoal (outras pessoas e nível
de suporte, desafio ou stress inerente).

O suporte também é essencial. O contexto também


permite chegar a níveis ótimos. Em contextos de alto
suporte, o individuo pode chegar a níveis ótimos de
aquisição de competências. Em baixo suporte, o
individuo chega aos níveis funcionais (é a baseline,
aquilo que espera da aquisição da skill em qualquer
contexto). A partir dos 24/28 anos, esta diferença
tende a aumentar.

Implicações para o ensino e aprendizagem dos


adultos

A aprendizagem adulta é caracterizada por uma maior autonomia, self-directed learning e uma
maior motivação intrínseca. As experiências da vida e biografia individual tornam-se importantes.
O ensino é mais individualizado e autoestruturado.

Haverá desafios associados:

➔ Dificuldades na memoria a curto prazo


➔ Maior interferência de informações aprendidas em simultâneo
➔ Efeitos negativos da pressão do tempo

Estratégias: sempre que possível reforçar estratégias que o próprio aprendendo tenha para
autoestruturar a sua aprendizagem (apoio do professor no processo de aprendizagem, repetição
da informação e tempo adicional); ambientes de aprendizagem estruturados, caloroso e com
emocionalidade positiva

Perspetiva Sociocultura de Vygotsky

A cultura influencia o desenvolvimento cognitivo. Muito do que eu aprendo, como me desenvolvo e o


ritmo está associada à cultura que estou inserida. O comportamento humano ocorre em contexto.
A cultura determina aquilo que a criança vai conhecer e como vai conhecer e aprende o mundo
que a rodeia, o que influencia o conteúdo e o processo de pensamento. A interação com os outros
é feita num meio/contexto. As estruturas e os processos mentais desenvolvem-se na interação
com outros

Teoria Sociocultural

Enfatiza o papel do diálogo cooperativo (diálogo que a criança estabelece com outros elementos
da sociedade no meio social e cultura para o desenvolvimento). Determina formas de pensar. As
interações tem um peso relevante na aquisição do conhecimento. As criança aprendem a cultura
da sua comunidade (formas de pensar e comportamentos) através das interações sociais. Isto é
a base da estratégia Scaffolding
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Recursos culturais

Os recursos culturais que são oferecidos à criança facilita comunicação, o pensamento e a


resolução de problemas (papel, lápis, computador, internet…)

Recursos psicológicos

Importância da linguagem e do discurso privado. A interação com o outro permite o


desenvolvimento da linguagem. O discurso privado (falar consigo próprio) é importante e é base do
treino de autoinstrução de Meichenbaum.

Implicações da teoria de Vygotsky

A linguagem privada tem um impacto na regulação do comportamento. As autoinstruções tem um


impacto na regulação da atenção e do comportamento, que por sua vez, tem impacto na
realização de tarefas de aprendizagem. As verbalizações audíveis e compreensíveis vão
diminuído com a idade (as crianças mais pequenas tendem a verbalizar), mais aumentam quando
os sujeitos enfrentam tarefas de maior relevância ou complexidade.

Estratégia de Regulação da Atenção: Treino de autoinstruções

Apresenta resultados positivos em indivíduos com dificuldades atencionais, pois pretende diminuir a
impulsividade e incrementar o autocontrolo verbal e motor. Assenta no pressuposto da relevância
dos processos linguísticos para o controlo do comportamento e do processamento cognitivo

• Meichenbaum e Goodman (1971) foram grandes precursores no desenvolvimento do treino


autoinstrucional, no enquadramento da perspetiva cognitiva, dirigido a crianças impulsivas

• Fases Modelagem: o professor modela em voz alta o que pode ser um discurso interno na
realização da tarefa
• Fase Seguinte: a criança imita isto, dando instruções em voz alta (o educador pode
corrigir)
• Objetivo Final: as autoverbalizações tornam-se inaudíveis.
o Em cada uma das fases o educador exemplifica a execução de uma tarefa dando
instruções a si próprio

Implicações da teoria socio cultural de Vygotsky para o ensino e a aprendizagem

A educação em contexto deve promover o desenvolvimento das estruturas mentais.

 Importância da Imitação, instrução e aprendizagem colaborativa


 Aprendizagem andaimada (Scaffolding): apoio de adultos e/ou pares na resolução de
problemas

Scaffolding

O processo de construção do conhecimento tem uma natureza fundamentalmente social (é aquilo


que aprendo com o outro, que tem mais conhecimento que eu).

É o apoio que é dado por um professor ou pai a um aluno de modo a progredir na sua
aprendizagem e desenvolvimento. Suporte que é dado a uma pessoa de forma a possibilitar-lhe a
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realização de uma tarefa que não é capaz de realizar sozinha. Dar apoio ao estudante até que
ele seja capaz de realizar a tarefa de forma independente.

Este apoio é retirado gradualmente quando se percebe que a pessoa compreendeu a tarefa. Pode
ser dado pelo professor ou por outros estudantes que já dominem essa tarefa. O suporte
proporcionado ao estudante deverá ser ajustado às suas necessidades e níveis de funcionamento
atuais.

Está relacionado com a zona de desenvolvimento proximal: a diferença entre o que aluno já sabe
e aquilo que ainda não sabe. Através desta aprendizagem do scaffolding, conseguimos fazer com
o aluno passe para o que ainda não sabe.

Fases

1. O professor deve modelar a tarefas (como fazer)


2. Trabalho conjunto de professor e alunos
3. Trabalho do estudante com um colega ou em pequenos grupo
4. Trabalho autónomo do estudante.
a. Pretende-se que haja uma transferência da responsabilidade do professor
para o aluno.

O professor deve:

1. Analisar com o estudante os objetivos curriculares e selecionar as tarefas adequadas


para o cumprimento desses objetivos
2. Trabalhar com o aluno para estabelecerem objetivos partilhados (este envolvimento
conjunto poderá fazer aumentar os níveis de motivação do estudante).
3. Diagnosticar as necessidades e aquisições do aluno, assegurando-se de que este faz
progressos
4. Dar o apoio necessário, nomeadamente fazendo sugestões, questionando e discutindo
com o estudante sobre a tarefa em estudo
5. Ajudar o aluno a manter-se focado no objetivo pretendido, quer fazendo perguntas
específicas e clarificando os conceitos, quer elogiando e encorajando
6. Dar feedback dos resultados, sumariando os progressos do aluno e mencionando os
comportamentos específicos que contribuíram para o progresso.
7. Dar oportunidade ao estudante para praticar as novas aprendizagens em diferentes
contextos, ajudando-o a tornar-se menos dependente e a internalizar as novas
tarefas.

Desafios: tempo, dificuldades na identificação das ZDP; Conhecer as necessidades, os


interesses e as capacidades dos estudantes; Identificar o momento em que se deve
começar a retirar gradualmente os apoios dados ao estudante

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