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INTRODUÇÃO

A abordagem cognitivista da aprendizagem diverge da visão comportamentalista pelo


facto de sublinhar a complexidade imanente a este processo e de se centrar nos
processos mentais que ocorrem para que a aprendizagem tenha lugar.

Para os cognitivistas a aprendizagem é concebida como um processo de aquisição de


esquemas de resposta e de adaptações sucessivas ao meio. Para que possamos falar de
aprendizagem terá de ocorrer uma mudança da estrutura cognitiva do sujeito, na forma
como ele percebe, selecciona e organiza os objectos e os acontecimentos e nos
significados que lhes atribui. A capacidade de aprender novos conceitos depende do
conhecimento prévio e das estruturas cognitivas já existentes no indivíduo e as novas
informações que o indivíduo recebe são relacionadas umas com as outras e provocam
alterações cognitivas na estrutura já existente.

Objectivos gerais e específicos

Objectivo geral

 Falar das teorias cognitivas da aprendizagem.

Objectivos específicos

 Explicar as técnicas usadas no desenvolvimento cognitivo;

 Explicar o funcionamento dos processos cognitivos.


TEORIAS COGNITIVAS DA APRENDIZAGEM

A Teoria cognitiva surgiu nos Estados Unidos entre as décadas de 1950 e 1960 como
uma forma de crítica ao Comportamentalismo, que postulava, em linhas gerais,
a aprendizagem como resultado do condicionamento de indivíduos quando expostos a
uma situação de estímulo e resposta.

O termo cognição pode ser definido como o conjunto de habilidades mentais necessárias


para a construção de conhecimento sobre o mundo.

O que significa cognição

Cognição é a capacidade de todo indivíduo de processar informações que se originam


de diferentes fontes para transformá-las em conhecimento. Elas podem vir da percepção
dos estímulos do ambiente, da experiência e de nossas características pessoais, como
crenças e valores.

De forma geral, o termo “cognição” se refere ao que está relacionado ao conhecimento,


ou seja, ao acúmulo de informações adquiridas por meio da aprendizagem e da
experiência. Esse processo é estudado por diferentes campos científicos, como a
neurociência, a psicologia e a antropologia.

A psicologia, em especial, deu grandes contribuições para entendermos como o


processamento das informações influencia o nosso comportamento e como adquirimos
conhecimento. Foi Jean Piaget quem trouxe grandes avanços para as pesquisas sobre o
desenvolvimento cognitivo e aprendizagem na década de 1950,
OS PROCESSOS COGNITIVOS

Os processos cognitivos são os recursos que todo indivíduo tem para adquirir, processar
e transformar informações, que também vão ajudar na tomada de decisões. Eles podem
se manifestar de forma orgânica ou artificial, consciente ou inconsciente, mas sempre de
maneira rápida e integrada. Os processos cognitivos básicos são:

 Percepção
 Atenção
 Memória
 Pensamento
 Linguagem
 Aprendizagem

PERCEPÇÃO

A percepção se refere à capacidade de adquirir novas informações por meio dos


estímulos captados pelos sentidos. Aqui estamos falando dos 5 sentidos (visão, audição,
paladar, olfacto e tato) e também da propriocepção e da interocepção.

A propriocepção é o sentido que nos ajuda na orientação espacial, enquanto a


interocepção é o sentido que nos dá consciência sobre o nosso corpo, nos alertando
quando estamos com fome ou sede.

ATENÇÃO

A atenção é fundamental no processamento de um estímulo ou atividade que se


converterá em conhecimento. Ela é indispensável para a regulação dos demais processos
cognitivos, da percepção à aprendizagem, e, consequentemente, para o desenvolvimento
cognitivo.
MEMÓRIA

A memória é a função cognitiva que nos ajuda a codificar, armazenar e acessar


informações. Ela pode ser dividida em diferentes tipos, sendo os principais:

 Memória de curto prazo: capacidade de reter informações durante um curto


período de tempo;
 Memória de longo prazo: capacidade de reter informações por um longo período
de tempo;
 Memória declarativa: subcategoria da memória de longo prazo. É a capacidade
de adquirir conhecimento por meio da linguagem, da educação formal e de
experiências pessoais;
 Memória processual: subcategoria da memória de longo prazo. A aquisição de
conhecimento acontece por meio da repetição, da rotina.

PENSAMENTO

O pensamento é o que nos permite unir todas as informações recebidas via os demais
processos cognitivos, além de criar relações entre acontecimentos e conhecimento.

Para isso, o pensamento recorre a funções executivas como o raciocínio, a síntese e a


resolução de problemas.

LINGUAGEM

A linguagem é a capacidade de se expressar por meio da palavra, sendo indispensável


para comunicação, organização e transmissão de informações.

APRENDIZAGEM

É o processo cognitivo em que novas informações são adicionadas ao conhecimento


prévio do indivíduo, como novos comportamentos e hábitos.

.
Teoria Cognitiva da Aprendizagem

De acordo com a Teoria Cognitiva da Aprendizagem (TCA), aprender é construir o


conhecimento, de maneira significativa, a partir do que já se sabe. As chamadas
operações cognitivas – pensar, raciocinar, tomar decisões – são valorizadas, e não
somente os resultados ou a mudança de comportamento, como propõe a Teoria
Comportamental (Behaviourism).
Jerome Bruner, considerado o Pai da Psicologia Cognitiva, propõe uma série de
premissas e diretrizes para a aplicação da TCA no processo de ensino-aprendizagem,
destacando-se a aprendizagem por descoberta (Learning by Discovery), a importância
da participação ativa do estudante em todo o processo de ensino-aprendizagem, desde o
desenho do programa educacional até sua avaliação, e a proposta do currículo em
espiral, no qual os temas são trabalhados em diferentes momentos e em diferentes
contextos e complexidade. Schmidt (1993) propõe seis princípios cognitivos da
aprendizagem do aluno:

 Disponibilidade de conhecimentos prévios;


 Activação dos conhecimentos prévios;
 Estruturação dos conhecimentos na memória;
 Elaboração das novas informações;
 Dependência contextual; e
 Motivação para a aprendizagem (intrínseca e extrínseca).

De acordo com os principais teóricos cognitivistas, dentre os quais se destacam Piaget,


Wallon e Vigotsky, é preciso compreender a acção do sujeito no processo de construção
do conhecimento. Apesar de diferenças entre suas teorias, procuraram compreender
como a aprendizagem ocorre no que se refere às estruturas mentais do sujeito e sobre o
que é preciso fazer para aprender.

Jean Piaget (1896-1980) centraliza sua explicação para o desenvolvimento cognitivo nas
fases de desenvolvimento da criança. Para ele, o desenvolvimento cognitivo ocorre em
uma série de estágios sequenciais e qualitativamente diferentes, através do quais vai
sendo construída a estrutura cognitiva seguinte, mais complexa e abrangente que a
anterior. Nesse sentido a teoria piagetiana considera a inteligência como resultado de
uma adaptação biológica, aonde o organismo procura o equilíbrio entre assimilação e
acomodação para organizar o pensamento. O que determina o que o sujeito é capaz de
fazer em cada fase do seu desenvolvimento é o equilíbrio correspondente a cada nível
mental atingido. Assim, o desenvolvimento cognitivo ocorre progressiva e
descontinuamente, numa sequência de quatro estádios.

 Sensório - motor;

 Pré - operatório ou intuitivo;

 Operatório ou das operações concretas;

 Formal ou das operações formais.

O primeiro estádio - sensório-motor (0-2anos) - caracteriza-se pela predominância de


acções motoras e da sua coordenação no âmbito do funcionamento cognitivo da criança.
Neste estádio, a criança concebe o mundo de uma forma sensório-motor construindo as
primeiras formas do conhecimento, do tempo, espaço, número e causalidade. Uma
criança de 12 a 18 meses tem a capacidade de imaginar um objecto quando ele não está
presente, e com esta conquista abre a possibilidade de novas aquisições.

O segundo estádio - pré-operatório ou intuitivos (2-7anos) anos- caracteriza-se pelo


aperfeiçoamento da linguagem e de outras competências cognitivas, mas ainda sem a
noção de conservação. A criança adquire os conceitos intuitivos de número e
causalidade e pode usá-los de forma prática, mas não ainda de forma lógica. O que mais
falta neste estádio de desenvolvimento é o que a escola de Genebra denominou conceito
de reversibilidade. Por exemplo, quando a forma de um objecto é alterada, como quando
se muda a forma de uma bola de plástico, a criança não capta a ideia de que ela possa
retornar ao estado original. Devido a essa carência, a criança não pode compreender
facilmente certas ideias fundamentais em Matemática, como, por exemplo, a ideia de
que a quantidade se conserva mesmo quando se reparte um conjunto de coisas em
subconjuntos. Mesmo se “traduzido” para a linguagem intuitiva da criança do pré-
escolar é difícil transmitir-lhe esse conceito matemático.
O terceiro estádio - operatório ou das operações concretas (7-11/12anos) -
caracteriza-se pelo aparecimento de três operações lógicas que caracterizam a
inteligência operatória: identidade, negação e reversibilidade. Em contraste com o
estádio anterior, que é meramente activo, o período operatório concreto é operacional. A
operação é um tipo de acção que tanto pode ser executada directamente pela
manipulação de objectos, como internamente com manipulação mental de símbolos que
representam coisas e relações. Uma operação é uma ação interiorizada e reversível.
Interiorizada significa que para resolver um problema a criança pode efectuar o ensaio e
erro na sua mente. Reversível significa que uma operação pode ser compensada pela
operação inversa. Existe ainda a necessidade de recorrer a actividades concretas, pelo
que a criança só adquire o conceito em presença de um estímulo concreto.

O quarto estádio - formal ou das operações formais ( a partir dos 11/12 anos) - é
aquele em que a criança é capaz de lidar com problemas que contêm uma multiplicidade
de factores, e que exigem raciocínio hipotético-dedutivo e pensamento perspectivista.
No estádio operatório abstrato, a criança pode raciocinar ao nível das proposições. Os
objectos podem ser construídos mentalmente, as operações podem ser interiorizadas. O
matemático, ou o cientista, por exemplo, podem progredir sentando-se e pensando,
porque as operações podem ser desempenhadas a um nível meramente abstrato

Henry Wallon (1879-1962) compreende o desenvolvimento cognitivo como um


processo social e interacionista, no qual a linguagem e o entorno social assumem um
papel fundamental. Assim como Piaget, Wallon também categoriza o desenvolvimento
em etapas, mas procura o entendimento do sujeito em sua integralidade: biológica,
afectiva, social e intelectual. Desta forma, a existência do indivíduo se dá entre as
exigências do organismo e da sociedade e seu desenvolvimento ocorre por meio de uma
construção progressiva em que predominam ora aspectos afetivos, ora cognitivos
estabelecidos, através das relações entre um ser e um meio que se modificam
reciprocamente.
Lev Vygotsky (1896-1934) postula que o desenvolvimento do indivíduo e a aquisição
de conhecimentos é resultado da interacção do sujeito com o meio, através de um
processo sócio histórico construído colectivamente e mediado pela cultura. De acordo
com sua teoria, a aprendizagem promove o despertar de processos internos de
desenvolvimento que não ocorreriam senão por meio das interacções estabelecidas com
o meio externo ao longo da vida. Como fruto dessas trocas e interacções, o cérebro tem
a capacidade de criar novos conhecimentos, isto porque o contacto com outras
experiências activa as potencialidades do aprendiz em elaborar seus conhecimentos
sobre os objectos, em um processo mediado pelo outro.

IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS DESTAS TEORIAS

Na concepção cognitivista a motivação é um elemento de grande importância no


processo de aprendizagem. O que leva um indivíduo a aprender são sobretudo as suas
necessidades internas, a sua curiosidade e as suas expectativas. A motivação é um
fenómeno intrínseco, interno ao sujeito, e voluntário, sendo possível estimular o desejo
de aprender através do apelo à curiosidade, à autonomia.

O professor que adopte estratégias enquadradas nas teorias cognitivistas deverá ter em
atenção os seguintes aspectos:

Segundo Ausubel:

 Fazer introduções no início de cada nova etapa da formação em contexto de


trabalho (FCT);

 Procurar a ancoragem do novo conhecimento: recorrer a problemas concretos,


usar uma linguagem adequada e compreensível para o formando, sinónimos,
citar exemplos, explicar de maneiras diferentes (por exemplo, usar termos como
"isto é", "ou seja") e usar uma argumentação lógica.

 Recorrer à diferenciação progressiva, isto é, apresentar primeiro as ideias mais


gerais e, progressivamente, deverá diferenciá-las com detalhe e especificidade;
 Utilizar a reconciliação integradora, isto é, no final de cada etapa da FCT o tutor
deverá apresentar as relações entre essa etapa/tarefa e o processo global da
aprendizagem na FCT.

Segundo Gagné:

 Definir os resultados de aprendizagem desejados (quando os resultados forem


muito complexos, deverá subdividi-los em resultados mais simples);

 Estabelecer uma hierarquia de resultados;

 Identificar as condições internas do indivíduo requeridas (nível de


conhecimentos, motivação, interesse,...);

 Identificar as condições externas ao formando requeridas (métodos, técnicas,


abordagens e estratégias pedagógicas, meios e recursos de ensino);

 Planear os meios de aprendizagem em função do contexto de aprendizagem e


das características do grupo de formandos;

 Concretizar o processo de ensino-aprendizagem;

 Avaliar.

No ensino baseado na perspectiva cognitivista o professor motivar o formando para a


aprendizagem através da análise das suas necessidades pessoais e os objectivos da
própria aprendizagem. Reconhece-se que a estrutura cognitiva do formando depende da
sua visão do mundo e da sua experiência, a qual deve ser vista como uma mais valia no
processo de aprendizagem.

Assim, após identificadas as necessidades, o professor deve definir com rigor as tarefas
e subtarefas de aprendizagem que os formandos devem executar para construir novos
conhecimentos, dando indicações sobre as tarefas propostas, informando a relação de
cada uma com o todo.
No ensino tutorial influenciado pelo cognitivismo, o professor deve fornecer
informação, factos e pistas que possam ajudar o formando a compreender, organizar e
reter os conhecimentos de forma significativa, procurando adequar a FCT ao nível de
desenvolvimento do formando, ajudando-o a relacionar novos conhecimentos com os
que o formando já possui.

Ensinar não significava transmitir conhecimentos, mas orientar o formando no


desenvolvimento das suas capacidades naturais, pelo que se devem adoptar
metodologias activas de aprendizagem - os formandos aprendem fazendo. Na óptica das
teorias cognitivistas devem ser apresentadas situações problema para que os formandos
possam resolver por si mesmos.

Para os cognitivistas a aprendizagem é concebida como um processo de aquisição de


esquemas de resposta e de adaptações sucessivas ao meio. Para que possamos falar de
aprendizagem terá de ocorrer uma mudança da estrutura cognitiva do sujeito, na forma
como ele percebe, selecciona e organiza os objectos e os acontecimentos e nos
significados que lhes atribui. A capacidade de aprender novos conceitos depende do
conhecimento prévio e das estruturas cognitivas já existentes no indivíduo e as novas
informações que o indivíduo recebe são relacionadas umas com as outras e provocam
alterações cognitivas na estrutura já existente.

PRINCIPAIS CRÍTICAS APONTADAS

 As explicações sobre como se processa o conhecimento intuitivo não são


satisfatórias;

 Os mecanismos de memorização e conservação da informação estão longe de


serem satisfatoriamente explicados;
CONCLUSÃO

Na TCA, o estudante aprende, construindo, ativamente, ideias, gerando significado,


interpretando as informações, tomando como base o conhecimento e as experiências
preexistentes, o que caracteriza a Aprendizagem Significativa. Na Aprendizagem
Significativa, há a interação entre o novo conhecimento e o conhecimento prévio. Nesse
processo, que não é literal e nem arbitrário, o novo conhecimento adquire significados
para o aprendiz e o conhecimento prévio fica mais rico, mais diferenciado, mais
elaborado em termos de significados e adquire mais estabilidade (MOREIRA;MASINI,
1982; MOREIRA, 1999, 2000). A Aprendizagem Significativa ocorre quando a nova
informação ‘ancora-se’ em conhecimentos, especificamente, relevantes, preexistentes na
estrutura cognitiva, ou seja, novas ideias, proposições e novos conceitos podem ser
apreendidos, significativamente (e retidos), à medida que outras ideias, outros conceitos,
outras proposições relevantes e inclusivos estejam, adequadamente, claros e disponíveis
na estrutura cognitiva do indivíduo e funcionem, dessa forma, como ponto de
ancoragem para os primeiros (MOREIRA, 1999).
BIBLIOGRAFIA

LAKOMY, Ana Maria. Teorias Cognitivas da Aprendizagem. Ediora IBPEX.


Curitiba, 2008.

CARMO, Enedina Silva e BOER, Noemi. Aprendizagem e Desenvolvimento na


perspectiva interacionista de Piaget, Vygotsky e Wallon. XVI Jornada Nacional de
Educação. Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Santa Maria, RS: 2012.
Disponível em: http://jne.unifra.br/artigos/4742.pdf

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