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Exame Modelos Sistémicos e Narrativos | Isabel Castro

Modelos Sistémicos
Enquadramento Teórico | Principais conceitos

A teoria geral dos sistemas, a cibernética e a teoria da comunicação são vistos como os pilares da emergência dos
modelos sistémicos.

 Teoria Geral do Sistemas (Von Berttalanffy) – os organismos vivos são sistemas abertos;
Os sistemas abertos apresentam uma dinâmica contínua de trocas com o meio ambiente.
Foco no organismo caracterizado por uma organização e integração complexa e com funções fisiológicas;
O todo determinada as características e funções das partes;
Importância dos mecanismos de autorregulação – K é um sistema orgânico;

o Darwin – perspetiva evolutiva: conclui que a presença de determinados seres vivos em


determinados contextos/ambientes influenciou o próprio ambiente mas também os próprios
seres vivos que se foram adaptando às alterações dos meios e consequentemente
selecionados por ele (os que não se adaptavam extinguiram-se)  Lógica Circular e
Reciproca (cérebro desenvolve-se e desenvolvem-se novas competências).

o Gilbert Gottlied – Influências bidirecionais no desenvolvimento: ambiente (físico, social e


cultural), comportamento, atividade neurológica e genética.

 Epistemologia Cibernética (Von Foerster, Wiener) – coloca a ênfase nos mecanismos de


feedback/mecanismos de controlo e retro - alimentação presentes, por exemplo, nos sistemas
termodinâmicos; Processo de informação – comunicação;
Wiener visava reproduzir nos sistemas mecânicos os mecanismos de funcionamento de sistemas vivos,
potenciando a adaptação destes sistemas aos seus fins;
A mensagem transmitida por meios mecânicos ou elétricos proporcionaria a auto regulação dos sistemas;
Os sistemas retêm estabilidade/equilíbrio por autorregulação – atuam em sistemas fechados, que por sua
vez, são limitados

Paradigma Mecanista (Locke, Hume)  Insuficiente para a compreensão do K


O ser humanos é passivo, logo o desenvolvimento é provocado por forças externas;
É possível, através da busca de relações causa - efeito aceder à proteção dos fenómenos;
Ênfase na mudança quantitativa;
Leitura simplista (problema – causa).
o Assente na causalidade linear e reducionismo – perspetiva demasiado linear e redutora.
o Ex: mãe perturbada “produz” uma criança perturbada; individuo inteligente tem
sucesso académico.
 No entanto, um aluno inteligente tem como facilitador a inteligência para ter
sucesso académico mas não significa obrigatoriamente que a alcance – o contexto, a
motivação, o NSE, contexto escolar/familiar… influenciam.
 A sua compreensão provém de estudos de fragmentos atómicos (reducionismo) –
o indivíduo compreende-se melhor se lhe fragmentarmos as suas dimensões.
(adotando a perspetiva atomista não atingimos a compreensão dos factos. Devemos
considerar a complexidade da compreensão do ser humano- organismo como um
todo – leitura sistémica!
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Paradigma/Modelo Organísmico (Darwin, Stanley Hall, Daldwin)


Surge como movimento de oposição ao Mecanicismo e delineia-se com forte influência na construção do
Pensamento Sistémico;
Segundo este modelo, as perspetivas essenciais de um organismo surgem justamente das interações entre as partes
e desta formas as propriedades das partes podem ser entendidas apenas a partir da organização do todo;
Coloca o foco no entendimento das relações organizadoras sendo que a conceção de organização foi aperfeiçoada
posteriormente com o conceito de auto-organização;
O ser humano é ativo;
O ser humano é um todo organizado e auto regulado em constante mudança (em determinada direção);
Importância da mudança qualitativa!
O indivíduo possui uma capacidade organizadora, acomodação e assimilação de respostas adaptativas
reguladas por princípios estáveis que garantem o equilíbrio homeostático do organismo.

Perspetiva dos Traços (Altman & Rogoff)


A psicologia visa o estudo do individuo, da mente, dos processos mentais e psicológicos;
O desenvolvimento ocorre obedecendo a um percurso pré-estabelecido de forma mais ou menos independente do
contexto ambientar;
Ênfase nas diferenças individuais e ambientais.

Perspetiva Interacionista (Altman & Rogoff)


O processo do desenvolvimento é analisado como um fenómeno em que os processos psicológicos, os cenários
ambientais e os fatores contextuais operam isoladamente;
Ênfase no impacto que as características situacionais têm nos comportamentos e processos psicológicos;
Valorização de relações de causalidade (causa – efeito).

Conceitos centrais no paradigma sistémico


Novos Conceitos:
Transacionalidade (trocas que acontecem no ciclo de vida do indivíduo) Contexto (perspetivas do
sistema desenvolvimental)
O indivíduo como um sistema aberto, em interação com o
Estes conceitos são trazidos para a compreensão meio num processo orientado pela homeostasia e adaptação
dos processos de desenvolvimento do individuo. ao meio envolvente.

O indivíduo em interação com o meio, o indivíduo Ex: a forma como se lida com a adolescência vai mudando ao
como sistema aberto; longo dos anos.
A natureza bidirecional das relações entre um organismo
vivo e um contexto ativo.

Perspetiva Bio ecológica do Desenvolvimento Humano - Bronfenbrenner

 A interação da pessoa com o ambiente é caracterizada pela reciprocidade


A pessoa em desenvolvimento molda-se, muda e recria o meio no qual se encontra inserida.
O ambiente também exerce influência no desenvolvimento da pessoa, sendo este um processo de
mútua interação
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 Diferentes contextos de desenvolvimento: micro, meso, exo e macrossistemas.

Consolidação do paradigma sistémico – Pressupostos:


Crença na complexidade, em todos os níveis da natureza;
Crença na instabilidade do mundo, dinâmica de transformação constante;
Crença na intersubjetividade como condição de construção do conhecimento do mundo.

Perspetivas dos sistemas desenvolvimentais:


 Desenvolvimental – o desenvolvimento não termina quando se atinge a maturidade;

 Perspetiva contextualista: o significado do K varia de contexto para contexto – importam as dimensões sócio
– históricas – ciclo de influências de vários contextos.

 Perspetiva do ciclo de vida (perspetiva desenvolvimental ao longo da vida) – o ser humano está em
permanente transformação ao longo de toda a vida – desenvolvimento psicológico.

 Perspetiva Ecológica e Modelo Ecológico (Bronfenbrenner) – Ex: influencia do contexto escolar (sala de aula)
no bem-estar, motivação e aprendizagem dos alunos

Perspetiva Organísmica (1) Vs. Perspetiva Transacional (2)


1. O indivíduo possui uma capacidade organizadora, acomodação e assimilação de respostas adaptativas reguladas
por princípios estáveis que garantem o equilíbrio homeostático do organismo.
2. O indivíduo está ativamente envolvido na aprendizagem e construção do seu mundo cognitivo e social –
transições contínuas e dinâmicas.

Assunções centrais do paradigma sistémico:


 Complexidade – causalidade complexa, causalidade circular e mecanismos de feedback;
 Instabilidade – Não estamos perante leis deterministas ou relações de causalidade linear – irreversibilidade e
“falta” de controlo;
 Intersubjetividade – Forma como vou construindo o conhecimento (relacionando-me com outra pessoa) –
inerente à natureza humana – perante uma mesma realidade existem opiniões diferentes e influenciadoras
e nós temos que saber lidar com a subjetividade e com a nossa própria realidade e não a do outro (os
mesmos e diferentes acontecimentos têm diferentes significados para cada pessoa).

Pertinência das assunções do paradigma sistémico para a Psicologia, nomeadamente:


 Leitura dos processos de desenvolvimento (perspetiva dos sistemas de desenvolvimento, perspetiva
bioecológica (brofenbrenner) e perspetiva transacional (sameroff);
 Compreensão da família como sistema (contexto central para a compreensão do risco e da resiliência nas
trajetórias individuais).
 Importância da comunicação e dinâmicas familiares na compreensão da psicopatologia (Bateson,
Watlzawick, Minuchin).
 Emergência dos primeiros modelos de compreensão da família como sistema (modelo estrutural –
Minuchin; modelo transgeracional – Bowen).

Mudança Paradigmática
A perspetiva interpessoal – Olhamos para a pessoa, para o seu contexto e para a sua influência mútua.
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Teoria Geral do Sistemas:
Sistema tem estas dimensões:
“Uma totalidade de elementos ligados por um conjunto de relações” – como um todo e interrelação;
“Uma totalidade organizadora, feita de elementos solidários, só podendo ser definidos numa relação com
o outro em função do seu lugar nessa totalidade” – Estrutura;
”Um conjunto de elementos em interação dinâmica, organizados em função da funcionalidade” –
Complementaridade;
Sistema composto por sistemas distintos e diversas relações - Complexidade

Paradigma Sistémico – Propriedades fundamentais do sistema:


 Totalidade e Ordem
O todo é mais do que a soma das partes;

 Auto estabilização adaptativa


O sistema é capaz de compensar mudanças nas condições ambientais (pai demasiado autoritário – mãe mais
benevolente);

 Auto-organização adaptativa
A direção da mudança visa sempre o melhor funcionamento face às circunstâncias;

 Hierarquia
Os sistemas desenvolvem-se em ordem a uma estrutura hierárquica cada vez mais complexa;

 Movimento dialético
As mudanças que o organismo opera no ambiente criam novas situações adaptativas que por sua vez vão exigir
novas mudanças no organismo;

 Contextualismo
Cada sistema existe no contexto de uma hierarquia de interações e interações entre ambientes.

Teoria da Comunicação (Watzlawick, Bateson)


A comunicação é intrínseca às relações – há sempre comunicação mesmo quando não comunicamos (o k não verbal
também é uma forma de comunicação);
Quando falamos num sistema, tudo o que são relações estruturais, interpessoais e organizacionais estão
relacionadas com a comunicação.

FAMÍLIA
Teoria dos sistemas, cibernética e terapia familiar

1.A família é um sistema em que o todo não corresponde à soma das partes;
2.O seu funcionamento é regulado por regras gerais em que os mecanismos de feedback entre as partes do sistema
são importantes – têm impacto uns nos outros – Cada ciclo retorna a uma posição diferente;
(ex: existem regras no sistema familiar, mas a opinião de cada elemento constituinte é importante e pode traduzir-se
em mudanças nessas mesas regras ou nesse mesmo sistema).
Genograma: Fornece informações acerca das hierarquias, organização, funções, competências, complementaridade
e estrutura que está inerente a cada sistema.
Família = Sistema Aberto
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3.Fronteiras permeáveis, verificando-se que, por vezes, o “material” pode passar num sentido mas não no outro –
Função protetora vs ameaçadora
Se abrir demasiado o sistema, pode comprometer a sua identidade; (demasiada gente = não parece uma família)
Se fechar demasiado o sistema, pode não permite que se desenvolva. (sistema muito fechado = pouca interação
com elementos externos = ex: crianças não se desenvolvem)

4.Os sistemas tendem a alcançar estados de relativa mas não de total estabilidade, dado que estão sempre em
movimento/ dinâmica permanente.

5.Valorização dos processos de causalidade circular como base de compreensão dos processos que ocorrem nas
famílias.
Ex: um aluno recebe mais do professor quanto mais pede dele, assim o professor dá mais conforme o aluno
pede.

Família = contexto para compreender a funcionalidade ou disfuncionalidade individual!


Forma como o sistema de transação de funcionalidade, como entidade dele próprio.
 A terapia familiar representa uma nova forma de concetualizar os problemas humanos, de compreender o K, o
desenvolvimento dos sintomas e a sua própria resolução.
A família representa um sistema em transformação, organizado como um todo (sistema em constante interação –
aberto), influenciado pela cultura, contexto, etc.
 A mudança faz parte da transformação – uma mudança leva a outra.

Efeito sistémico: mudança de um componente inevitável é associada a mudanças de outros componentes e da sua
relação.

COMUNICAÇÃO:
 Jay Haley
Resposta origina reação;
Falta de resposta origina perda de potencial de amor.
 Bateson
Mistura de ideias cibernéticas sobre a comunicação e padrões de interação;
Exploração das relações entre as partes que integram o todo;
A psicopatologia emerge da comunicação parental disfuncional.
 Don Jackson
Estudou a possibilidade de ligação entre a comunicação patológica e o relacionamento interpessoal.
 Murray Bowen
Faz referência à diferenciação;
Impacto da transgeracionalidade;
Concetualização da família como unidade emocional, uma rede de relacionamentos interligados dentro de um
quadro multigeracional ou histórico.
 Minuchin
Comportamentos delinquentes nos jovens;
Família como sistema – importante estrutura familiar.

Com isto, podemos concluir que a Perspetiva Sistémica traz também uma visão diferente relativamente ao modo
como vemos a psicopatologia.
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Teoria da Comunicação

Axiomas da Comunicação Humana


É impossível não comunicar (mesmo em silêncio comunicamos);

A comunicação configura relações;

A perceção acerca de uma sequência (ordem da mensagem na comunicação) de acontecimentos (causa)


depende da sua pontuação;

A comunicação digital diz respeito ao uso do código verbal (palavras que se ordenam de forma a formar um
significado);

A comunicação analógica é o uso do código não-verbal (expressões faciais, gestos, tom de voz, etc.);

Diferentes formas de comunicação exprimem diferentes tipos de relações (simetria, flexibilidade)

O sintoma enquanto forma de comunicação;

A comunicação paradoxal: “vou fazer-te uma visita surpresa esta noite” – (já não é surpresa);

Não é só a comunicação que promove relações mas sim é a comunicação que está nas relações.

Da perspetiva da família como um sistema (assente nos referenciais concetuais da teoria geral dos sistemas,
cibernética e da comunicação) decorre:

 Uma alteração no modo como problematiza os problemas dos indivíduos e no modo como perspetivamos a
mudança;
 A consolidação da visão da família como sistema autónomo capaz de se auto-organizar e de uma lógica
interna, contudo, em interação com o meio num processo de co-evolução;
 A dinâmica do sistema familiar enquanto sistema aberto e capaz de auto-organização é caracterizada pela
causalidade e pela recursividade da dinâmica internacional.

Família (sistema) = organização complexa


A família é um todo com vários fins que se divide em subsistemas;
Todos os elementos têm necessidades diferentes (importa a individualidade).
A família, pelos seus processos e sistemas, é única e original.

Progressão no tempo  Mudanças  Necessidades de adaptação  O processo de evolução do sistema familiar


decorre de mudanças estruturais e funcionais.

Os subsistemas familiares interligam-se entre si = interação permanente.


No entanto, a fronteira entre cada um tem de ser bem definida.
Ex: os pais transportam muitas vezes os problemas parentais para o subsistema conjugal.
 É suposto que o papel de “pai” e “mãe” estejam bem definido (…)
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Ciclo Vital da Família (McGoldrick & Carter, 1982)

Necessidade de equilibrar o
subsistema parental com o
conjugal.

A partir do nascimento do filho,


existe abertura a outros sistemas
(creches, avós, pediatras, etc.)

Casal tem necessidade de


reorganizar a sua relação.

As relações familiares estabelecem-se a partir dos padrões comunicacionais entre os intervenientes;


Cada família é única, dados os seus processos, sistemas e intervenientes.
Cada trajetória do ciclo familiar deve ser contextualizado.

Desenvolvimento Familiar
 Diferenciação estrutural: decorre da mudança e organização dos elementos pertencentes aos vários
subsistemas;
 Conjugação interacional: como me relaciono com os diferentes elementos – os padrões de interação vão-se
alterando e ajustando às mudanças desenvolvimentais dos diferentes elementos;
 Dinâmicas funcionais: diferentes funções para diferentes elementos; as funções têm de ser bem
diferenciadas e bem establecidas;
Ex: Um filho pede um gelado à mãe; a mãe diz para falar com o pai; o filho acha que a mão não
tem autoridade no assunto.

Eixo sincrónico – “foto” da família num momento exato/atual (espaço) – aqui e agora;
Eixo diacrónico – história da família (tempo) – contínuo, enquadramento histórico.
Os dois eixos cruzam-se;
Não podemos apenas olhar para um quadro presente, temos também de olhar para um eixo diacrónico para
integrar as situações e conseguir entendê-las;
O eixo sincrónico é algo que está sempre em transformação – as mudanças, adaptações e ajustamentos
constantes.

A família é vista como um sistema em constante transformação:


Tendência homeostática e capacidade de transformação;
Continuum circular;
Evolução no sentido de complexificação;
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Família como um sistema ativo e autorregulado por modalidades peculiares ao próprio sistema e suscetíveis de
novas formulações e adaptações no tempo.
Mudanças intra e extra sistémicas exigem transformações constantes = imprevisibilidade (mudança fora do sistema
familiar pode original mudanças dentro do sistema familiar, e vice-versa.)

Família como um sistema aberto em interação com outros sistemas (modelo ecológico) = dinâmica permanente.

Os processos da multidireccionalidade e da multidimensionalidade estão na base da emergência de novas


estruturas organizativas de que depende a capacidade de adaptação do sistema familiar.

Níveis do sistema familiar


1. Social, cultural, político, económico (género, religião, etnia, etc.)
2. Comunidade
3. Família alargada
4. Família nuclear
5. Individuo

Processo de Interação Familiar


Recursos familiares =
características da família,
pessoais, etc.

Ciclo de vida da família =


Conjugal/Parental/
transições, alterações
Filhos
sociais, etc.

Funções da família =
proteção, económica,
educação, socialização, amor,
identidade.

Vulnerabilidade e Risco “Vs” Resiliência e Proteção


Modelo ABC-X
A – Exigências da nova situação (ameaças ao equilíbrio da família);
B – Contexto de significação do acontecimento;
C – Acessibilidade a recursos;
X – Produção ou não de uma crise.

Double Blind Process:


Situação comunicacional em que simultaneamente são emitidas duas mensagens contraditórias e são incapazes de
lhe responder satisfatoriamente;
Indicador de patologia;
Próprio de famílias “não normais”/disfuncionais.
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Transições Familiares
Período de desequilíbrio e conflito interno que exige reorganização (a família como um todo deverá encontrar uma
solução);
Processo longo que resulta numa reorganização qualitativa da própria vida e do comportamento externo (trabalho,
vida conjugal, social, etc.);
Implica uma alteração na perspetiva acerca de si próprio e alterações no seu funcionamento (reorganização de
papeis, relações tarefas, etc.)
Perspetiva Funcional
Destaca-se a permeabilidade/abertura ao exterior e capacidade auto-organizadora no sentido homeostático e
adaptativo;
Ao longo do ciclo de vida combina a capacidade de transformação e tendência homeostática.

Perspetiva Estrutural
É valorizada a organização em subsistemas, que obedecem a determinada hierarquização sistémica, definição de
fronteiras, e que pressupõem diferenciação e determinada distribuição de papéis, funções e tarefas;
Aspetos do seu funcionamento (regras que regulam as transações, coligações (de duas pessoas contra uma
terceira/triangulação (situação problemática)) e alianças, exercício do poder, definição de papeis,
flexibilidade/rigidez, escassez/riqueza de funções).

Perspetiva Construtivista
Com a segunda cibernética o observador é incluído no sistema;
Enfatiza-se a reflexividade e auto-referência;
Ênfase na auto-organização dos sistemas (autopoiéticos) considerados como entidades autónomas e
operacionalmente. O fator acaso e a imprevisibilidade assim como a irreversibilidade são introduzidos no processo;
Irreversibilidade está sempre presente nos sistemas e nas relações que se estabelecem – os sistemas humanos
redefinem-se como sendo geradores de significado, através de ações comunicativas;
Os sistemas humanos redefinem-se como geradores de significados através de ações comunicativas;
Influências recíprocas.

Cada família é única  Cada sistema tem a sua individualidade e originalidade.

Desafios para as Famílias do Sec. XXI:

 Mudanças na estrutura das famílias


(Famílias monoparentais, famílias de um só elemento, reconstituídas, multigeracional, homossexuais, etc.)
 Mudanças na relação do mundo laboral com o estilo de vida da família;
 Mudanças resultantes da diversidade cultural, minorias étnicas, imigração;
 Desigualdades económicas marcantes. (Pobreza, exclusão social, etc.)

É necessário perceber que recursos a família dispõe para lidar com as situações (stressantes).
Todas as famílias precisam de recursos e capacidades para evitar situações de crise:
Competências de cada elemento (físicas, sociais, psicológicas)
Rede social (isolamento, não ter amigos)
Recursos económicos (emprego)
Apoios da sociedade (suporte para resposta a situações de crise – subsídios)
Recursos da comunidade (hospitais, escolas próximas)
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Dimensões nos processos de resiliência familiar:
Sistema de crenças familiares – construção de significado na adversidade, perspetiva positiva, transcendência e
espiritualidade;
Padrão de organização – flexibilidade, conexão, orientação no sentido de construção da segurança económica,
capacidade na mobilidade de recursos;
Comunicação/Resolução de problemas – clareza, abertura na expressa emocional, resolução de problemas
participada.
O que significa que o sistema/situação familiar está bem?
Fornecer um senso de pertença e significado;
Providenciar apoio económico;
Educação e socialização para todos os membros;
Proteção dos membros mais vulneráveis da família.

Do paradigma sistémico decorre do enunciado de que cada família é única!


Dimensões pertinentes na dinâmica funcional de famílias saudáveis :
Compromisso – nas famílias consideradas fortes o compromisso para com a família está acima de qualquer
outro; para os membros da família, a família esta primeiro; o compromisso inclui fidelidade conjugal.

Admiração – Os membros da família exprimem admiração reciprocamente. Cada elemento é valorizado pelo
seu contributo na vida familiar.

Comunicação - Nas famílias consideradas fortes, os seus elementos despendem algum tempo para dialogar
frequentemente sobre pequenas coisas, pelo prazer de conversar e não apenas para resolver problemas.
Os membros da família sabem escutar e estão interessados em ouvir os restantes.
A comunicação é predominantemente calorosa e honesta – evitam o criticismo e sarcasmo.

Despendem tempo juntos – Nas refeições, nas atividades de lazer, em atividades religiosas e em eventos
(ferias, aniversários).

Apresentam bem-estar espiritual – otimismo e esperança, sistema de valores éticos bem definidos;
Reconhecimento de uma rede de suporte de natureza religiosa ou não.

Capacidade para lidar com a crise e o stress de forma construtiva e criativa, identificando os seus recursos,
mantendo uma visão “alargada”.

As mudanças no ciclo de vida familiar englobam:


 Mudanças estruturais – hierarquia, diferenciação, regras…
 Mudanças funcionais – organização de papéis, homeostasia, feedback…
 Transições – vulnerabilidade.

Na consulta de psicologia, a nossa abordagem não fica cingida indivíduo mas sim percorre o sistema familiar.
Enquanto psicóloga:
Dar oportunidade para todos os membros darem o seu ponto de vista;
Não interpolar o membro mais novo;
Perceber as expectativas de cada um (fazer circular a informação).
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Modelo Ecológico do Desenvolvimento Humano – Bronfenbrenner
o Sistemas que influenciam os indivíduos.
o Importância dada ao mesossistema
o Ligação dos sistemas entre si (trabalho - família)
o Contexto escolar realça esta importância (reuniões com encarregado de educação) – pois é
na escola que o individuo passa mais tempo – contexto social e cultural.

Perspetiva sistémica e Escola


(enquanto contexto de formação = sistema)

Possui uma história, organização estrutural, hierarquia, regulado por regras, configurando padrões de relação e
comunicacionais;
Sistema aberto interativo.
(Enquanto pai não podemos escolher o que é ensinado na escola: isto reflete o poder da escola);
Sobrevaloriza o individuo/realidade interna e contextos que o rodeiam/influenciam (não apenas o individuo).

Necessidade de contextualizar, de privilegiar uma analise global, holística e não fragmentado, de encontrar um
sentido;
O valor comunicacional do contexto (estrutura, hierarquia…)
Caráter regulador, simbólico, adaptativo, uniformizante dos sinais, problemas, disfuncionamentos…

Necessidade de considerar a criança numa perspetiva global considerando aspetos sociológicos, pedagógicos e
culturais e não apenas nos cognitivos e psicológicos, focando exclusivamente o processo ensino - aprendizagem.

 Ênfase na multifatorialidade e na causalidade circular


Necessidade de contextualizar as ocorrências e a sua significância.

Importância da especificidade dos grupos sociais presentes – os códigos de comunicação (escola – família; escola –
pares).

Um inventor sistémico deve:


Criar a possibilidade de ouvir as vozes de todos os elementos do sistema facilitando o desenvolvimento de
diferentes pontos de vista.

Intervenção sistémica na Escola:


Diagnóstico:
Análise do pedido (ser/ter… o caráter transitório da crise…)
Observação/leitura sistémica do conteúdo (analise funcional, estrutural, comunicacional…)
Hipótese sistémica (natureza transformadora) – o que pode estar a contribuir para o mal-estar do
luís?
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Modelos Narrativos

Um mesmo contexto pode ter várias visões/interpretações.


Uma determinada visão pode originar estereótipos (algo do qual nos apropriamos, não significa que esteja errado).
Uma história passa a ser nossa quando nos apropriamos dela;
Existe identificação (já passamos pela mesma situação) e aceitação (para mim não faz sentido aquela história, não é
a realidade para mim, no entanto com o tempo acabei por a aceitar) = não precisamos de nos identificar, podemos
apenas compreender = EMPATIA.

Importa percebermos onde começa a história, qual o ponto pelo qual comecei, de modo a tornar a informação
congruente  Auto e heterorreferente.
Ex: A única historia que tinha da família do João era a pobreza (era o que a mãe dele contava)

Isto gera estereótipos: não conhecia mais nada da sua realidade até ao momento de conhecer a sua família e
perceber que a sua realidade não era apenas essa.
A revisão da própria identidade é estabelecida na relação com os outros;
A construção da identidade é feita narrativamente (não só relacionalmente).

Modernismo:
Perspetiva racionalista e positivista da Psicologia;
Abordagem empírica independente de valores ideológicos e culturais;
A realidade existe enquanto realidade intrínseca ao individuo = Realidade objetiva, externa (interna se tiver
psicopatologia) e estável.

Realismo:
Essencialismo;
Realidade interna e inequívoca = Psicopatologia.
A conceção do realismo organiza-se dentro de 3 vetores:
 Identidade: algo que existe e pode ser observado;
 Psicopatologia: algo real que pode ser quantificado, observado e mensurável;
 Psicoterapia.
Estas conceções têm implicações no modo como me posiciono enquanto psicoterapeuta (psicopatologia como
algo disfuncional).
Realidade objetiva, externa e estável.

A estabilidade e objetividade decorrem da conceção de que o indivíduo é um ser isolado; é uma unidade que existe
para além e independentemente do contexto;
Se o indivíduo também existe para além do contexto, as assunções que (por exemplo) o psicoterapeuta segue são
universais.

Racional subjacente ao modelo comportamental :


Ação do indivíduo decorre da aprendizagem e em função da contingência do mesmo poderá ter de ser ajustado;
Papel do terapeuta é ajustá-lo  Modelo cognitivo  Ajuste e desajuste do indivíduo.
Identifica-se o comportamento do cliente, considera-se que é ou não ajustado e procura-se este ajustamento
(corrigir isto).

Daí falarmos de uma evidência de uma visão positivista: objetividade deste modelo  realidade mensurável.
Compreendendo a realidade dos aspetos para termos capacidade de agir sobre eles.
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Pós-Modernismo:
Antítese do modernismo;
Postula que a estabilidade da psicopatologia deve ser colocada em causa  A realidade por si só atenta num
processo comunicacional, de construção de significado, que é culturalmente contextualizado, sendo por isso diverso
e múltiplo.
O conhecimento deve ser visto como algo que é culturalmente contextualizado  Conhecimento construído numa
comunidade conversacional, culturalmente contextualizada.

Da análise de significado à construção de significado


 Não se assume que o significado existe à priori mas sim que se constrói (isso ocorre na comunidade
comunicacional) – é culturalmente contextualizado

O indivíduo existe porque existe contexto;


Conhecimento construído numa comunidade conversacional, culturalmente contextualizada;
A palavra não espelha, cria pensamento/expressão emocional;
“O mundo é um lugar menos certo e ordenado do que é mostrado pelo modernismo”;
Discurso – partilha – comunicação enraizada

A centração no caráter imprevisível e incerto da realidade externa e na experiência intersubjetiva do indivíduo dessa
realidade em mutação faz emergir a multipotencialidade da experiência de uma realidade múltipla  podemos
experienciar vários tipos de realidades.

Possibilidade de criação de outras histórias = Libertador.

Pressupostos epistemológicos do pós-modernismo (construcionismo social) :


1. Poder constitutivo da linguagem;
2. Construção relacional do significado;
3. Posicionamento histórico-cultural.

1.Veracidade Vs. Poder Social – as histórias exercem poder social não limitando a sua veracidade;
O que se escolhe contar sobre algo ou sobre alguém tem como objetivo ser orientador  Exerce poder sobre aquilo
que é a realidade.
Grelha da compreensão da vida pessoal e do controlo social “verdadeiro” cujo efeito é a sua manutenção.
o Linguagem para os positivistas: reflexão/expressão do real;
o Linguagem para os construtivistas: constituição do real (cria a realidade)

2.O significado não se constrói individualmente  lógica relacional da construção do significado  sequência
linguística;
A construção de significado como o “re-arranjar das “vozes” presentes no espaço social” dos indivíduos ou de
procurar trazer novas vozes para o diálogo, de modo a construir uma visão de si (e da realidade) mas de acordo com
os seus objetivos.

 Para contar uma história é preciso que o interlocutor tenha um determinado conjunto de características
(consoante a nossa história);
 Ao longo do relato estão presentes sentimentos;
 Não podemos narrar sem recorrer à linguagem – marcador da relação;
 Todas as histórias têm um objetivo;
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NARRAR
Criação de uma dada representação;
Assenta no princípio da coerência/incoerência da história;
Implica recordar a história (não reviver);
A coerência é um sustento de uma história que fica assim validade episodicamente.

Quando contamos a nossa história a alguém, ela deixa de ser apenas nossa (individual) e passa a ser “pública”.

Construção relacional de significado


Significado co-construído com o outro;
Isto ocorre porque a história tem um peso na reação do interlocutor  co-representação da história.
A partir do momento em que alguém me conta uma história, nós passamos a ser participantes passivos dessa
história  por termos memória de eventos em que não participamos ativamente.
 A linguagem constitui-se como narrador da relação.
Processo que subjaz a mudança!  A mudança é atingida através da narração e partilha de histórias

Cada história contém vários elementos/constituintes/dimensões:


Tempo, espaço, ação, participantes (sujeitos), sentimentos, acontecimentos, intenção (desejo),
consequências.
Não existe história sem estes elementos.

Alguém nos conta uma história – nós somos o interlocutor dessa história.
Para podermos contar essa mesma história a alguém, temos de recorrer à nossa memória autobiográfica
(momento em que nos contaram a historia)  historia/evento já está na nossa biografia, logo tbm é nossa.

Construção Identitária!
 Na construção relacional de significado ocorre também a construção identitária!
Não podemos recordar algo que de alguma forma não nos tenha ocorrido ou não tenha sido contado.
Ao narrar historias, narramos histórias integradas de forma coerente (processo condicionado e de revisão
continuada).

Revisão identitária: quando narro uma história minha, tenho de me rever naquele momento.

Quando melhor evocamos histórias?


Quanto mais ativos, participantes ativos na história;
Quanto mais recente for a história;
Quanto mais relevante for a história;
Dependendo do contexto (há estímulos que nos aproximam da historia – cheiro).

Em qualquer processo de construção narrativa, há necessidade de seleção de informação (tópico e qualificação
do mesmo).
Esta seleção é sempre realizada pelo próprio, uma seleção motivacionalmente orientada, visando cumprir dados
objetivos específicos, o que, conduzirá, em possíveis momentos, à narração de histórias que do ponto de vista
identitário são diversas.
 Características do ponto de vista emocional de uma historia têm tonalidade positiva e/ou negativa.
 A seleção que fazemos das histórias é realizada motivacionalmente.
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Ao narrarmos histórias que validam um dado “eu”, estamos perante um “eu” preferencial;
Estamos a gerar emoções com as historias narradas e a “desselecionar” historias que não são referenciais.

O que faz com que crie a realidade do ponto de vista identitário, implicando uma trajetória (componentes entre si)
coerente  poder constitutivo da linguagem  atribuir significado à história.
(Se trocarmos de historia, o significado que vou atribuir vai
ser diferente de pessoa para pessoa)

Ao considerar um significado, estou não só a selecionar a narrativa (desseleccionando outras), como também a
selecionar e atribuir o próprio significado.

Narrativas orientadas tal como condensação de significado = condensar implica selecionar, como componente
motivacional.

Validação individual
A validação individual implica a seleção de narrativas emocionais e a seleção de significado, sendo aquilo que
escolhemos ser.
O potencial de mudança ocorre também, desta forma, de modo narrativo ou iminentemente narrativamente.

Slowen (1996) postula que a psicologização da sociedade é a alegria. Os objetivos psicológicos da sua essência são
atribuídos na medida em que esta definição constitui-se para este autor como cariz dos problemas psicológicos.
A definição de nós é mutável de tal forma que aquilo que identificamos como características antagónicas
que são características que fazemos emergir da nossa história = a definição de “si” é necessariamente
incompleta.

A ideia de que as pessoas devem conhecer-se de modo a anteciparem o seu K (capaz de se autorregularem), assenta
no posicionamento do ponto de vista epistemológico - MODERNISMO

Viabiliza que as palavras são múltiplas coisas em múltiplos contextos


com múltiplos interlocutores (ideia da previsibilidade deixa de fazer
sentido);

No entanto, o “eu ideal” não deixa de fazer sentido porque nós


selecionamos na mesma.

O autodesconhecimento assume-se como adaptativo:


O facto de eu deselecionar algo e o fazer de forma motivacionalmente orientada constitui-se como adaptativo de
modo a aproximar-se do meu ideal  Eu é que escolha o que quero ser, redefino-me de acordo com o eu ideal.
Identidade Multipotencial (a dos modelos narrativos)
Transitamos de uma lógica em que o inconsciente determina uma pessoa em que a construção de si se faz
sociolinguisticamente (eu opto/seleciono o que quero ser).
O que temos até ao momento, de modo positivista, é que o “eu” existe. No entanto, nesta lógica, a identidade é
construída e vai sendo reconstruída exatamente para ser construída sociolinguisticamente  trata-se de uma critica
a estas 2 conceções acerca da identidade (positivismo e pós-modernismo).
No limite, nesta lógica dos pós-modernismo, deixa de fazer sentido perguntar “quem sou eu?”, dado que o eu se vai
construindo ao longo do tempo.
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Narrativas inteligíveis do modo em que integram a multiplicidade do self:


Existe um limite de diferenciação desejável, caso contrário desencadeia-se uma psicopatologia;
K que contraponham a narrativa central, têm de ser interligadas.
O eu constrói-se sempre que existem transições.

Porque existe um Psicólogo?


Atingir um equilíbrio;
Combater comportamentos e atitudes desadaptadas/desajustadas;
Potenciar o desenvolvimento social e pessoal;
Pela necessidade que surgiu de compreender a mente humana.

Psicopatologia – Estudo cientifico das perturbações mentais – estudo científico das construções (Rover, 1985)
(construção da realidade física).
Para (Georgga), o exercício/conhecimento em torno da psicopatologia (teórico e prático) do processo de construção
de contingência.

Pelo desenraizamento dos constructos de uma forma cientifica de critérios de diagnóstico que permitem o
estabelecimento do diagnóstico.

 Um quadro depressivo faz-se linguisticamente ;


 Psicopatologia enquanto discurso sócio - emocional enquadrado;
 Psicologia não apenas como áreas dirigidas à medicação da loucura (transição entre o realismo e a harmonia
do poder) como também depositados psicologisadores (incluírem um discurso que outrora lá não estava).

Enquadramento Epistemológico:
Identidade
o Linguagem constrói-se socialmente;
o O eu é construído relacionalmente;
Ex: O que é ser mulher nos anos 70 é diferente do que é agora – implicações da construção do eu em
função do contexto.
o Psicopatologia enquanto entidade é questionável – a forma como o indivíduo com a psicopatologia assume-
se como indivíduo é mutuamente influenciável.

Psicoterapia:
Tratamento psicológico;
Adaptação de modelos de intervenção;
Dirigido à satisfação de objetivos do cliente e do terapeuta.

(não utilizar a terminologia “paciente” mas sim “cliente”: não está incorreto, utiliza-se das duas formas, no entanto,
nos modelos narrativos utiliza-se apenas “cliente”, dado que a terminologia “paciente” pode contribuir para o
individuo aumentar ainda mais o seu sofrimento/ significa que o individuo tem obrigatoriamente uma doença)
Cliente = utiliza-se pela necessidade de diferenciar o indivíduo do problema (psicólogo presta um serviço ao cliente).

Nestes processos de psicoterapia, faz todo o sentido falarmos da relação terapêutica que tem inerente a
comunicação:
Processo que envolve obrigatoriamente o terapeuta e o cliente – relação terapêutica – implica
obrigatoriamente a comunicação;
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Processo terapêutico assenta na linguagem;
A linguagem ao constituir-se como dispositivo da experiencia, portanto, a psicoterapia assume-se como
contexto de redefinição da experiencia.

A psicoterapia assume-se como um contexto de redefinição da experiência:


O terapeuta facilita este processo permitindo que o cliente “resignifique” a sua história/ reatribua significado à sua
experiencia;
O terapeuta deve colocar o cliente a refletir = a melhor forma de o fazer é colocar questões pertinentes, que
coloquem a pessoa numa posição diferente.
Permite que ele conte a sua história, que a veja noutro contexto, reconstruindo-a junto com a própria pessoa
(cliente);
O significado é algo que esteve sempre lá, o cliente é que não o “viu”.
A mudança faz-se relacionalmente, logo faz-se linguisticamente.

O maior preditor da mudança terapêutica é a relação terapêutica – logo, se a mudança se dá socialmente


significa que se faz linguisticamente.
Importância de perceber eu “EU” não sou o PROBLEMA.
Nos modelos narrativos, consideramos a identidade como construção narrativa de si – reflexão
que fazemos de nós mesmos.

Multipotencialidade = potencialidade de se construir como múltiplo/ de construir diferentes significados.


 Eu sou tantas histórias conto (se eu contar uma história de mim incapacitante, eu ver-me-ei incapacitado)
 O indivíduo é determinado pela realidade;
 A psicopatologia para estes modelos faz-se pela multiplicidade de personagens, contextos, momentos de
vida.
Eu narro algo de forma motivacionalmente orientada, em função do que para o próprio se constitui como
preferencial.

Linhas de intervenção dos Modelos Narrativos:


 Conversão Externalizada: Relação diferente que o individuo estabelece com o problema;
 Equipas reflexivas: múltiplas vozes perante um determinado problema;
 Competências narrativas.

Estas 3 linhas permitem o ciclo terapêutico como constructo gerador ou não de mudança  Promotor ou não de
diversidade  A relação terapêutica postula condições necessárias para a mudança, no entanto, não são suficientes.

A mudança dá-se não só pela relação terapêutica mas também pelas competências do terapeuta  Mudança dá-se
no contexto relacional no qual o terapeuta deve ser competente.

Aprendemos perante a novidade


Aquilo que já sabemos não nos gera aprendizagem;
Na interação com o outro comprometemo-nos com a realidade;
O processo psicoterapeuta que se constrói com ele próprio, como sendo novidade;
O processo de resignificação está aqui inerente.
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Modelo de Episten (White diferente Epston)
3 grandes momentos
o Linguagem Externalizadora: Não é uma técnica, mas sim uma prática discursiva (não é uma técnica de
intervenção).
A linguagem externalizadora existe porque existe num posicionamento epistemológico que ao postular que
a realidade é construída relacional e linguisticamente, ela não existe á priori  O modo como olho para o
outro, para o problema, obriga a que vejamos a realidade como uma construção.
 É a linguagem que separa a pessoa do problema.
 Está presente ao longo do processo terapêutico, logo não se utiliza a linguagem externalizadora
numa sessão e noutra não, por exemplo.

o Enquadramento discursivo do problema: Identificação com o problema - O contexto especifico da vida do


cliente, o problema que se foi desenvolvendo.
Identificação de momentos de inovação: movimentos que sejam alternativos à narrativa dominante, ou seja,
a que é percebida por problemática;
Perceber de que modo o problema se insere nos contextos da pessoa (contexto social, relacional e
histórico).

Modelo de Re -autoria (Episton e White)


O indivíduo continua a ser ele próprio e não o problema, podendo confrontá-lo;
Ao situar o problema fora do sujeito, estamos a colocá-lo no espaço discursivo, onde o problema pode ser desafiado;
 Este desafio passa essencialmente e exige que o indivíduo compreenda as estratégias utilizadas pelo
problema, para existir e se manter.
 Falamos assim da caracterização das estratégias utilizadas pelo problema (para existir e se manter);
 Falamos assim da caracterização das estratégias utilizadas pelo problema (como se o problema
tivesse vida/ existência própria) para se fazer presente na vida do sujeito e conseguir relacionar-se
com ele, como entidade separada;
 Utilizando as estratégias face ao problema. Uma estratégia é por exemplo a dúvida;
 O objetivo da linguagem será que a pessoa antecipe o que seria a sua vida sem problemas.

“O que é que a culpa faz sentir?” – algo exterior é passível de ser desafiado, ao contrario de “o que pensa quando se
sente culpa ou o que isso implica ou impede de fazer/sentir?” – mais interno – estabelecimento de uma relação
diferente com o problema.

Enquadramento discursivo do problema passa por compreender quais são os dispositivos discursivos/ narrativas do
contexto que mantêm e alimentam o problema.
Ex: Entre marido e mulher não se mete a colher  Mantém-se o problema por alimentar esta frase ou como
“és sempre a mesma coisa”, “o que andas a fazer no psicólogo? tu não mudas” Ao tentar compreender os
discursos desta rede conseguimos entender o papel que têm na relação com o problema.

Necessidade de identificação e ampliação de momentos de inovação:


Momentos, pensamentos, sentimentos livres da influência do problema (na linguagem comum seriam restaurantes
indianos) que podem ser referentes ao passado, presente ou futuro e não circunscritos no tempo que permite
emergência de narrativas mais congruentes com a narrativa preferencial da pessoa e permitem, também,
possibilidade de as pessoas representarem como podendo separarem-se do problema do ponto de vista identitário.
 Estes momentos de inovação são cruciais no modelo. Devem ser claros para os clientes e podem ser não
apenas constatados/registados pelo terapeuta, como também serem planificados, antecipados e projetadas
alternativas/estratégias.
 O processo terapêutico envolve atribuir ao indivíduo um caráter autoral e não de vítima.
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A mudança, mais concretamente, a mudança narrativa corresponde à transformação das narrativas de vida dos
indivíduos, potenciando o desenvolvimento de novas vozes1 que veiculam significados alternativos.
Neste sentido, a terapia é uma oportunidade de re-autoriar a narrativa de vida pela identificação de acontecimentos,
sentimentos, intenções e pensamentos que diferem da narrativa dominante e problemática, o que White e Epston
(1990) designam por resultados únicos.

Modelo de Reautoria (continuação)


Desenvolvido por Gonçalves;
Para o modelo de reautoria narrativa, o sujeito é autor da mudança.
Objetivo: desenvolver a capacidade narrativa dos indivíduos que permita uma construção múltipla de si e do mundo.
Génese: potenciar o desenvolvimento da capacidade narrativa e tem em si os 3 elementos que compõem a narrativa
falada por Bruner (cognitivo – narrativo);
Os 3 eixos: coerência, complexidade e multiplicidade temática.

As narrativas protótipo são criadas na fase da recordação e vão sendo complexificadas.
Objetivamos e subjetivamos nessas 2 fases e, posteriormente há a transição deste para metaforização.
Sendo esta a narrativa preferencial. Sendo ela inicialmente parca porque desconsidera dimensões do ponto
de vista cognitivo que o individuo não integrou.
Este modelo é complexo e implica psicoterapia longa (na opinião da professora).

Proposta de Peritover:
1. Quais as estratégias na relação do problema com a pessoa;
2. Reconstrução (alternativas ao problema);
3. Solidificação (prática e validação social).

Modelo Cognitivo – Narrativo (Óscar Gonçalves)

5 fases envolvidas no processo terapêutico (cognitivo – narrativo):


1. Recordação
Processo construtivo, dirigido ao nível da estrutura da narrativa, isto é, da coerência.
Apelando à memória semântica e episódica, que envolve a recordação guiada (terapeuta posiciona o cliente num
dado momento e contexto da vida (familiar, escolar, emocional, etc), as narrativas diárias (numa lógica focada no
presente antecedem a recordação através da vida).
Estes 3 elementos que se inscrevem na recordação permitem a elaboração (resultado) da fase da recordação pela
elaboração das narrativas protótipo que são condensações de significado que caracterizam a experiência da pessoa
(significados narrativos).
2. Objetivação
Procura-se explorar dados da experiência que não tenham sido valorizados ate ao momento. Feita de modo
particular nas narrativas diárias e nas narrativas protótipo.
3. Subjetivação
Cariz cognitivo, isto nas narrativas diárias e nas narrativas protótipo.
4. Metaforização
Aquilo que se pretende fazer é promover diferentes significações das experiencias e metáforas a atribuir às
narrativas diárias. Passando a um processo de elaboração de uma metáfora de raiz que vão sendo inscritos na
narrativa. Derivação de multiplicidade.
5. Projeção
Dá-se a construção intencional de narrativas, não lógica de recordação, procurando enraizar historicamente a
metáfora alternativa, que é identificar momentos na história individual (que é sempre relacional).
Procede-se à projeção de narrativas alternativas, bem como consolidação e implementação naquela que é a
experiencia do sujeito.
Posteriormente são derivadas novas narrativas para construção da multiplicidade.
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A Recordação como processo que envolve seleção de experiências, que sendo autoreferentes, são comunicadas
linguisticamente. Este processo de recordação envolve e permite a construção de significados alternativos.

Nesta fase criam-se narrativas protótipo.

Essencialmente, este momento é dirigido á dimensão ao nível da estrutura da narrativa (coerência da narrativa).
Processo evocativo e construtivo. Deste ponto de vista, apelamos à relação entre memória semântica e memória
episódica.

Esta recordação envolve vários processos/fases/inscrevem-se na recordação:


1. Recordação guiada – terapeuta posiciona cliente num dado momento/contexto relacional da sua vida
(terapeuta faz questões dirigidas relativas a diferentes momentos e contextos);
2. Narrativas diárias – lógica mais focada no presente; antecedem a fase seguinte…
3. Recordação através da vida – lógica diacrónica.

Estes 3 elementos permitem a elaboração (resultado desta fase que é a recordação) de narrativas protótipo. Estas
são condensações de significado que caracterizam a experiencia na pessoa.
Narrativas protótipo da depressão – Ângela Maia (indivíduos com quadros depressivos…)

Na fase da objetivação, aquilo que se faz é explorar dados da experiencia que não tenham sido ate ao momento
valorizados (não contemplados pelo cliente).
Este processo é refeito nas narrativas diárias e na narrativa protótipo – atentar aos elementos que fazem parte da
experiencia e que na narrativa tendem a ser desconsiderados – estes elementos de cariz essencial dão complexidade
Á experiência/ dar significado per se/viabilizar a impressão (algo que ocorrerá de modo particular na fase seguinte
que é a subjetivação)

A subjetivação tem cariz cognitivo (atribuição de novo significado) – nas narrativas diárias e nas narrativas protótipo.

Na fase de aferização - promover significações alternativas da experiencia e metaforizar as narrativas diárias.


Chegado a este momento procedemos à criação de metáfora de raiz (construção de uma metáfora de raiz – integrar
elementos anteriores que são inscritos na narrativa)

Fase de metaforização – transitar da narrativa protótipo para a construção de uma metáfora (narrativa preferencial)

A narrativa protótipo complexifica-se ao longo de todas as fases.

Ao longo do processo de metaforização e projeção, permite a derivação de multiplicidade (introduzir/criar uma nova
narrativa – alternativa a narrativa protótipo)

Na fase da projeção: construção intencional de narrativas (não numa lógica de construção mas modos alternativos
de significado) – de modo a enraizar a metáfora alternativa;
Identificando elementos da historia relacional;
Projeção de narrativas alternativas e consequentemente consolidação (daquela que é a experiencia do sujeito).

Após a implementação da narrativa alternativa, espera-se que se criem novas narrativas dirigidas a multiplicidade
(não se cristalize).

Este modelo de elevada complexidade, tipicamente obriga a um processo psicoterapeuta mais longo.

Estes dois modelos têm em comum o paradigma (partilha total do racional), o processo terapêutico é sempre
dirigido à elaboração de narrativas alternativas e atribuição de significado.
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Os 2 modelos (reautoria e processo terapêutico) têm em comum:
O racional;
Todo o processo dirigido à elaboração de narrativas alternativas ou criação de significado
independentemente das especificidades do processo.

Modelo de Auto-Confrontação (Hermans)


Assume a narrativa como elaboração de significado e deriva desse posicionamento narrativo;
Assume um caráter temporal e espacial;
A Identidade enquanto processo motivado de narração permitiria a identificação de valorações, enquanto unidades
de significado/condensação de significado (unidade básica de analise inscritas neste método);
A terapia decorre de como é concetualizada a psicopatologia e o indivíduo.

“Especialização” do self:
O self é constituído por “esses diálogos que ocorrem entre uma parte do self e outra parte do self: o self imaginado
em diferentes tempos, em diferentes espaços, ou tomando diferentes perspetivas narrativas.
Ao pensar, por outras palavras, estamos sempre a dizer ou a mostrar algo a nos próprios = fazemos isto pela
natureza inerentemente social da nossa experiencia que nos leva a criar múltiplas perspetivas. “
 Síntese daquela que é concetualização do que é identidade segundo os modelos narrativos – o self existe
num contexto, assim como a narrativa tbm esta inscrita num contexto – aquele que é o processo de
identificação das valorações (enquanto unidades de significado) são sempre referentes ao self/ao próprio.

A valoração decorre do próprio conteúdo da história, deve conter uma significação.


As valorações devem ter uma valência emocional:
Ex: a relação com a minha mãe era marcada por conflitos (valência emocional)

Da narrativa do indivíduo são realizadas 3 fases:


1. Construção das valorações – da narrativa do cliente, é o próprio cliente que constrói as suas
valorações/unidades de significado/características relevantes (com ajuda do terapeuta);
Quanto mais diversificadas forem as unidades de significado melhor porque informa sobre a qualidade de
avaliação
2. Construídas e identificadas as valorações, estas são classificadas emocionalmente que é iminentemente
feita em função da valência emocional e do ser referente à self (individual) ou envolver outro
3. Intervenção.

Para Hermans, que questões devem ser colocadas para gerar valorações?
Questões organizadas em 3 momentos: passado, presente e futuro.
o Passado: rever aspetos que tenham sido relevantes para si (apelar à memoria de acontecimentos
passados que continuem a exercer influencia sobre si);
o Presente: equivalente
o Futuro: equivalente projetando para o futuro (algo que ira ter influencia na vida futura)

Aqui estamos a apelar ao processo narrativo sobre experiências relevantes, a partir das quais podem ser
identificadas as valorações.
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Construídas as valorações, elas são avaliadas:
Avaliação em 16 emoções: alegria, auto estima, felicidade, força, satisfação, amor, intimidade, desespero,
calma interior…….. – Para cada uma delas (emoções), o sujeito vai atribuir cotações (ex: quanto é que o inicio
da sua relação com o seu marido esta associado à alegria?) – cotação quantitativa que permite a
transposição para emoções de cariz neutro, positivo ou negativo; referentes ao self (auto-estima) ou
referentes ao outro (amor). – Fazemos isto em relação ao passado, ao presente e ao futuro – permite-nos
identificar índices referentes ao self ou ao outro, à emocionalidade positiva ou negativa – a partir daqui
conseguimos proceder à intervenção: devolver ao cliente a informação para que ele se posicione sobre os
objetivos (o que quer para consigo e para com os outros – que valências devem ser construídas)

Este método de auto confrontação corresponde a uma transposição quantitativa da narrativa:


Isto não acontece à priori, nem sem narrativa;
A semelhança do que acontece nos modelos anteriores, também queremos a atribuição de significados distintos,
sendo que aqui eles têm um cariz emocional e relacional.

O papel do terapeuta é menos influenciador do que acontece no modelo cognitivo narrativo (as valorações são
identificadas pelo próprio sujeito, assim como é este que as classifica) – papel ativo do cliente (autoconfrontação)
Para o processo de intervenção devem estar incluídos elementos do ponto de vista narrativo e experiencial.

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