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Família na Contemporaneidade

Professora Daniela Duarte Dias.


Psicologia – UCS.
Resiliência:
 Contextos diversos
interagem ao longo do
ciclo vital e, quando
consistem em conexões
positivas, podem
promover processos de
resiliência e resultar em
uma melhor qualidade
de vida para as pessoas
e as sociedades nas
quais estão inseridas.
ORIGEM DO CONCEITO:

Resiliência é um conceito originário da física, ciência na


qual este constructo é definido como a capacidade de um
material absorver energia sem sofrer deformação
plástica. Em psicologia este conceito está superado, pois
uma pessoa não pode absorver um evento estressor e voltar
à forma anterior. Ela aprende, cresce, desenvolve e
amadurece. (POLETTO; KOLLER, 2008, p.408)
Resiliência é um conceito multifacetado,
contextual e dinâmico:
 Têm a função de interagir
com os eventos de vida e
acionar processos que
possibilitem incrementar
a adaptação e a saúde
emocional.
 - não é uma característica
individual, mas processos
psicológicos;
Interação dinâmica
existente entre as
características
individuais/familia
r e o contexto.
Fatalismo x empoderamento:
- determinismo social e
“fatalismo;
- populações não devem
ser vistas simplesmente
como vítimas de um
sistema social injusto;
- resgatar e fortalecer as
dimensões sadias dessa
pessoa, as quais
possibilitam luta e
superação das situações
de risco.
Fatores de risco:
Aumentam a probabilidade de a pessoa
apresentar problemas físicos, sociais ou
emocionais, por ex.:
Estressores no desenvolvimento infantil:
- divórcio dos pais, abuso sexual/físico contra a
criança, pobreza e empobrecimento, desastres e
catástrofes naturais, guerras e outras formas de
trauma. (POLETTO; KOLLER, 2008, p.409)
Fatores de risco:
Esses estressores eram concebidos de maneira
estática, na presença de qualquer um deles já
eram previstas consequências indesejáveis.
A relação das pessoas com eventos passa por
graus de ocorrência, intensidade, frequência,
duração e severidade. (POLETTO; KOLLER,
2008, p.409)
Fatores de proteção: podem desencadear processos
de resiliência.
Referem-se a influências que modificam,
melhoram ou alteram respostas pessoais a
determinados riscos;
- modificação da resposta da pessoa à situação
de risco;
- fatores de proteção difere de condições de
baixo risco; (POLETTO; KOLLER, 2008,
p.409)
Fatores de proteção: podem desencadear processos
de resiliência.
 Proteção: o modo como a pessoa lida com as
transições e mudanças de sua vida, o sentido que ela
dá às suas experiências, seu sentimento de bem-
estar, autoeficácia e esperança, e a maneira como
ela atua diante de circunstâncias adversas.
 - processos, nos quais diferentes fatos interagem e
alteram a trajetória da pessoa, produzindo uma
experiência de cuidado, fortalecimento ou anteparo
ao risco. (POLETTO; KOLLER, 2008, p.409)
Fatores de proteção: podem desencadear processos
de resiliência.
a) atributos: autonomia, autoestima, bem-estar subjetivo e
orientação social positiva, competência emocional,
representação mental de afeto positivo e inteligência.
b) rede de apoio social, com recursos individuais e
institucionais, que encoraje e reforce a pessoa a lidar com
situações ruins;
c) coesão familiar, ausência de negligência e possibilidade
de administrar conflitos, presença de pelo menos um adulto
com interesse pela criança, e presença de laços afetivos no
sistema familiar e/ou em outros contextos. (POLETTO;
KOLLER, 2008, p.409)
Uma abordagem familiar


Visa identificar e fortalecer processos interacionais
fundamentais que permitem às famílias resistir aos
desafios desorganizadores da vida e renascer a
partir deles.

- muda a perspectiva de se encarar a família em
situação de angústia como defeituosas, para
encará-las como desafiadas, evidenciando seu
potencial para o reparo e o crescimento. (WALSH,
2005, p. 3)
Resiliência familiar:
 Para Walsh é a capacidade de renascer da
adversidade fortalecido e com mais recurso.
 - é um processo ativo de resistência;
 - forjada pela abertura a experiência.
 Em vez de focarmos em como as famílias
fracassam, devemos nos focar em como elas
obtém sucesso.
 Não tem relação com invulnerabilidade ou
autossuficiência. (WALSH, 2005, p. 4)
Individualismo x visão interacional:
 Tem-se atribuído a resiliência
a traços de personalidade ou
estilos de enfrentamento;
Algo inato ou adquirido por
recurso próprio;
Visão desdenhosa por aqueles
que não adquirem sucesso.
Porém, a resiliência está
relacionada com a interação
entre natureza e educação,
estimulada por
relacionamento de apoio.
(WALSH, 2005, p. 6)
A resiliência é forjada
pela diversidade e não
apesar dela. (WALSH,
2005, p. 6)
Questões:
1- O que é resiliência e qual a origem do conceito?
2- Qual a diferença entre a visão fatalista e a visão
que evidencia o empoderamento nas pessoas?
3- O que são fatores de risco? Cite quais poderiam
ser:
4- O que são os fatores de proteção e como podem
desencadear processos de resiliência?
5- Explique qual a diferença entre a visão
individualista e a interacional sobre a resiliência:
A visão sistêmica:
A maior parte dos estudos sobre resiliência
concentrou-se nos traços e disposições individuais.
 Estudos recentes: apontam a importância de uma
visão sistêmica;
 Mas a maior parte das pequisas apontam a
influência de uma única pessoa: estudos de
Bowlby - aborda o contexto em termos de
influência de uma única pessoa importante num
relacionamento diádico com uma criança em risco.
 - vínculos precoces determinantes da vida;
(WALSH, 2005, p. 11-12)
Perspectiva ecológica e
desenvolvimental:
A resiliência é tecida em uma rede de
relacionamentos e experiências no
decorrer do ciclo de vida e entre as
gerações.
É necessário tanto uma perspectiva
ecológica quanto desenvolvimental para
compreender a resiliência no contexto
social e no decorrer do tempo. (WALSH,
2005, p. 11-12)
PERSPECTIVA
ECOLÓGICA:
O modelo bioecológico do
desenvolvimento humano:
Bronfenbrenner e Evans :
- referências para “avaliar ecologicamente” o
dinamismo das interações e das transições na
vida das pessoas, em diferentes momentos do
ciclo vital.
Deve-se observar: a pessoa, os ambientes
imediatos, suas interações e transições em
ambientes mais distantes. (POLETTO;
KOLLER, 2008, p.406)
O modelo bioecológico do
desenvolvimento humano:
 Modelo ecológico: toda experiência individual se dá em
ambientes “concebidos como uma série de estruturas
encaixadas, uma dentro da outra, como um conjunto de
bonecas russas”.
 - “os aspectos do meio ambiente mais importantes no
crescimento psicológico são aqueles que têm
significado para a pessoa numa dada situação”;
 - propõe que o desenvolvimento humano seja estudado
por meio da interação do meio ambiente com: o
processo, a pessoa e o tempo. (POLETTO; KOLLER,
2008, p.406)
Visão sistêmica: o contexto
Microssistemas (mais
próximo):
- produzem e sustentam o
desenvolvimento,
- compreende um conjunto de
relações entre a pessoa em
desenvolvimento e seu
ambiente mais imediato, como
a família, a escola, a
vizinhança;
Características: disposição,
recurso e demanda das pessoas
envolvidas. (POLETTO;
KOLLER, 2008, p.406)
Visão sistêmica: o contexto
Mesossistema:
- conjunto de relações entre
dois ou mais
microssistemas nos quais a
pessoa em
desenvolvimento
participam de maneira ativa
(as relações família-
escola, por exemplo).
Os diferentes ambientes são
interdependentes.
(POLETTO; KOLLER,
2008, p.406)
Visão sistêmica: o contexto
 Exossistema: estruturas sociais formais e informais
que influenciam o que acontece no ambiente mais
próximo;
 - a família extensa, as condições e as experiências
de trabalho dos adultos e da família, as amizades, a
vizinhança;
 - ambientes que a pessoa não frequenta;
 - principais: o trabalho dos pais, a rede de apoio
social e a comunidade em que a família está
inserida. (POLETTO; KOLLER, 2008, p.407)
Visão sistêmica: o contexto
Macrossistema: é composto
pelo padrão global de
ideologias, crenças,
valores, religiões, formas
de governo, culturas e
subculturas, situações e
acontecimentos históricos
presentes no cotidiano das
pessoas e que influenciam
seu desenvolvimento.
(POLETTO; KOLLER,
2008, p.407)
PERSPECTIVA
DESENVOLVIMENTAL:
Enfrentamento e adaptação:
Pesquisadores tem investigado o
enfrentamento e adaptação sob diversas
condições de estresse, como doença crônica,
transições desenvolvimentais, morte de um
ente querido, divórcio, privação econômica,
maus-tratos, negligência, guerra, genocídio e
desastres comunitários.
Intensificam quando: inesperados, grave
ou persistente, efeitos cumulativos.
(WALSH, 2005, p. 12)
O funcionamento adaptativo:
O funcionamento adaptativo na infância e
adolescência serve como um previsor em geral
bom na vida adulta;
 - porém, estudos longitudinais apontam que a
resiliência não pode ser avaliada uma vez e
definitivamente;
 - algo pode ser bom por um tempo e não
funcionar mais depois; as pessoas estão sempre
se desenvolvendo; diferenças entre meninos
(maior risco na infância) e meninas (maior risco
na adolescência). (WALSH, 2005, p. 13)
Resiliência familiar:
processo de
enfrentamento e
adaptação na família
como uma unidade
funcional. (WALSH,
2005, p. 14)

A resiliência familiar:
Atividade:

A turma será dividida em dois grupos:

Conceituem resiliência e façam uma crítica
e um elogio.

20 minutos.
Mitos em relação a família “normal”:
 Visões de normalidade e saúde são socialmente
construídas;
 Dois mitos:
 1. As famílias saudáveis são isentas de problemas:
 - o que diferencia a família saudável não é ausência de
problemas, mas a maneira de enfrentá-los e a competência
para resolvê-los;
 2. De que a família “tradicional” idealizada é o único
modelo possível para uma família saudável;
 - família branca, rica, pai provedor e mãe dona de casa.
(WALSH, 2005, p. 15)
NÃO É A FORMA, MAS OS
PROCESSOS

Não é a forma da família, mas os


processos familiares que mais
importam para o funcionamento
saudável e a resiliência. (WALSH,
2005, p. 16)
Contribuições da pesquisa no processo
familiar:
 Identificar elementos fundamentais no funcionamento
familiar saudável;
 - cautela para não generalizar os dados;
 Cuidar pois a maioria das pequisas foram feitas com
famílias brancas, classe média, protestantes, intactas,
que não estão sob estresse.
 - não tornar patológicas famílias que diferem deste
padrão. Por ex., uma grande coesão pode ser vista como
uma fusão disfuncional (mas como é para aquela
família?). (WALSH,2005, p.17-18)
Contribuições da pesquisa no processo
familiar:
 Visão ecológica multidimensional de Falicov: famílias
combinam e justapõem aspectos de muitos contextos
culturais baseados em configurações singulares:
 - etnia, classe social, religião, estrutura familiar,
papéis dos sexos, orientação sexual e fase da vida.
 - uma postura fundamentada na resiliência enxerga cada
família em seu nicho ecológico complexo (com
semelhanças e diferenças em relação a outras famílias)
(WALSH, 2005, p. 18)
Importância de uma perspectiva
desenvolvimental familiar:
 1.Modelo de vulnerabilidade e mecanismos de proteção:
Pesquisa com grupos de alto risco, verificam os mecanismos
biológicos e psicossociais na capacidade de adaptação sob
estresse.
 Três mecanismos que atuam no repertório adaptativo das
pessoas:
 Modelo da imunidade: experiências de aprendizagem
positivas podem evitar a desesperança (como uma vacina)
 Modelo compensatório: atributos pessoais e ambientais se
contrapõe aos efeitos negativos dos fatores de estresse.
(WALSH, 2005, p.18-19)
Importância de uma perspectiva
desenvolvimental familiar:
 Modelo do desafio: fatores de estresse podem se tornar
potenciais estimuladores da competência, contanto que o
nível de estresse não seja alto demais.
 Esses três mecanismos podem operar simultaneamente
ou sucessivamente no repertório adaptativo, das pessoas
resilientes, dependendo dos seus estilos de
enfrentamento e dos estágios de desenvolvimento.
 Os mecanismos de proteção buscam estimular a
imunidade ao estresse evitando ou reduzindo o impacto.
(WALSH, 2005, p. 19)
Importância de uma perspectiva
desenvolvimental familiar:
 2. Estresse, enfrentamento e adaptação familiar:
pesquisas sobre o enfrentamento familiar em tempos de
guerra. Enfatizaram a importância do ajustamento e do
equilíbrio para o desenvolvimento da unidade familiar.
 - os membros da família precisam pesar e equilibrar os
custos e os benefícios de suas opções (pais
sobrecarregados podem gerar problemas de casal, por
exemplo). (WALSH, 2005, p. 20)
Elementos fundamentais para a
resiliência familiar:
 1. Sistema de crenças familiares:
 Extrair significado da adversidade;
 Perspectiva positiva;
 Transcendência e espiritualidade;
 2.Padrões organizacionais:
 Flexibilidade;
 Conexão;
 Recursos sociais e econômicos;
 3. Processos de comunicação:
 Nitidez;
 Expressão emocional aberta;
 Resolução cooperativa dos problemas. (WALSH, 2005 p. 23)
Questões:
6- O que os estudos de Bowlby apontam?
 7- A resiliência é tecida em uma rede de relacionamentos e
experiências no decorrer do ciclo de vida e entre as gerações.
É necessário tanto uma perspectiva ecológica quanto
desenvolvimental para compreender a resiliência no contexto
social e no decorrer do tempo. Explique o modelo
bioecológico do desenvolvimento humano e a perspectiva
desenvolvimental:
8- Cite e explique cada um dos sistemas do modelo
bioecológico:
9- Quais são os mitos em relação a família “normal”?
10. Quais são os elementos fundamentais para a resiliência
familiar?
Vídeo:
FAMÍLIA - Resiliência - Maria Emídia
Coelho e Soraya Hissa de Carvalho
Entrevista com a psicóloga e tanatóloga
Maria Emídia Coelho (Sociedade de
Tanatologia de Minas Gerais) e com a
médica e psicanalista Soraya Hissa de
Carvalho. Programa FAMÍLIA. REDE
SUPER
https://www.youtube.com/watch?v=SX0
KabvZ_pE
Referências:
POLLETO, Michele; KOLLER, Silvia.
Contextos ecológicos: promotores de
resiliência, fatores de risco e de proteção.
Estudos de Psicologia I Campinas I 25(3)
I 405-416 I julho – setembro, 2008.
WALSH, Froma. Capítulo 1. In:
Fortalecendo a Resiliência Familiar. São
Paulo: Roca, 2005.

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