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FAMÍLIA NA

CONTEMPORANEIDADE

Professora Daniela Duarte Dias.


Psicologia – UCS.
A TEORIA DA COMUNICAÇÃO HUMANA:
 Na comunicação há três áreas de estudo:
 Sintática: se refere a transmissão de informação em relação
aos aspectos como a codificação e a redundância. Estudo da
relação entre as palavras.
  Ex. Ela, à noite, chegou. Por causa da crase, a expressão "à
noite", se relaciona com "chegou." Traz informação de
acréscimo, representa o período em que ela chegou.
 Semântica: significado na comunicação (sentido).
 Pragmática: influência da comunicação na conduta do
indivíduo. (BERMÚDEZ; BRIK, p. 51)
A PRAGMÁTICA DA COMUNICAÇÃO
HUMANA:
O livro a Pragmática da Comunicação Humana
de Watzlawick, Beavin e Jackson entrou para a
história da terapia de família devido ao debate
sobre a comunicação.
 Por que pragmática da comunicação?

 Devido aos efeitos comportamentais da


comunicação;
 Toda a conduta é comunicação e toda a
comunicação afeta a conduta.
PAUL WATZLAWICK (1921-2007):
 Estudou filosofia na
Universidade de Veneza
 Psicoterapeuta Junguiano

 Fundador do Mental
Research Institute – MRI
– Palo Alto Califórnia
1960
 Teoria do duplo vínculo –
Bateson
 Teoria da Comunicação
Humana
O LIVRO A PRAGMÁTICA DA
COMUNICAÇÃO HUMANA DE
WATZLAWICK, BEAVIN E
JACKSON
A NOÇÃO DE FUNÇÃO E RELAÇÃO:
A noção de número foi modificada a partir de
Descartes. Em 1591, Vieta introduziu anotações
com letras em vez de algarismos, surgindo o
conceito de variável.
 “Em contraste com um número significativo de
uma grandeza perceptível, as variáveis não
possuem significado próprio; elas só são
significativas em suas relações mútuas.”
A NOÇÃO DE FUNÇÃO E RELAÇÃO:
O conceito de função diz respeito à relação
entre variáveis.
 Assim, não são as ‘coisas’, mas as funções que
constituem a essência das nossas percepções; e
as funções não são grandezas isoladas, mas
“sinais representando uma ligação”.
A CIBERNÉTICA:
 O termo cibernética provém do grego kybernetes, que
significa “timoneiro” (homem responsável pela navegação).
 A cibernética inclui os vários tipos de processos que
dependem da troca e do fluxo de informações.
 É o estudo de sistemas dotados de dispositivos de controle
(feedback negativo, retroalimentação), quer natural ou
artificial. (CIBERNÉTICA)
 Pressupõe que as funções de controle, troca de
informação e processamento da informação seguem os
mesmos princípios, independente de ser uma máquina,
um organismo ou uma estrutura social. (BERMÚDEZ;
BRIK, p. 54)
PRINCIPAIS CONCEITOS DA
CIBERNÉTICA:
 Em um sistema linear (determinismo) “uma cadeia em
que o evento a gera o evento b, e b gera então c, e c, por
sua vez, provoca d etc.;
 Com o advento da cibernética surgiu o conceito de
retroalimentação (feedback):
 - quando, d conduzir de volta a a, o sistema é circular;

 Há a retroalimentação negativa (caracteriza-se pela


homeostase, estado constante, manutenção das relações)
e a positiva (conduz à mudança, perda de equilíbrio ou
de estabilidade).
EXPLIQUE:
 1. Quais as três áreas de estudo da comunicação
humana?
 2. O que é a cibernética? Cite e explique os principais
conceitos da cibernética:
 3. Qual a diferença entre a retroalimentação (feedback) e
o sistema linear?
AXIOMAS DE COMUNICAÇÃO
1. TODO O COMPORTAMENTO É COMUNICAÇÃO:
É IMPOSSÍVEL NÃO COMUNICAR

 Não existe um não-comportamento, o indivíduo não


pode não se comportar.
 Atividade ou inatividade, palavras ou silêncio, tudo
possuiu um valor de mensagem.
 Unidades de Comunicação (Mensagens, Interação,
Padrão): o aspecto pragmático da teoria da comunicação
humana é chamado de comunicação, enquanto as várias
unidades de comunicação (comportamento) serão
divididas em: mensagem (unidade comunicacional
isolada), interação (série de mensagens trocadas) e
padrões de interação (unidade de comunicação de nível
superior).
1. TODO O COMPORTAMENTO É COMUNICAÇÃO:
É IMPOSSÍVEL NÃO COMUNICAR
 As Tentativas Esquizofrênicas de Não Comunicar:
 - o dilema do paciente com esquizofrenia é o de não
comunicar.
 O silêncio, o ensimesmamento, a imobilidade é, em si,
uma comunicação, a pessoa com esquizofrenia não
consegue não comunicar.
 Resumindo: todo o comportamento é uma forma de
comunicação. Como não existe forma contrária ao
comportamento ("não-comportamento" ou
"anticomportamento"), também não existe "não-
comunicação”.
2. TODA A COMUNICAÇÃO TEM UM ASPECTO DE
CONTEÚDO E UM ASPECTO DE RELAÇÃO

 Como não se pode não comunicar, isso implica que há uma


relação, uma comunicação que transmite informação (relato) e
implica num comportamento (relações entre os comunicantes
- ordem).
 Segundo Bateson, a comunicação tem dois aspectos o de
relato (conteúdo) e o de ordem (relações entre
comunicantes).
 Exemplo: um computador necessita de informação (dados)
e informação sobre essa informação (instruções).
 As instruções são a metainformação.
2. TODA A COMUNICAÇÃO TEM UM ASPECTO DE
CONTEÚDO E UM ASPECTO DE RELAÇÃO:

 Comunicação e Metacomunicação: na comunicação


humana, o relato transmite os dados da comunicação, e a
ordem aponta como essa comunicação deve ser entendida.
 Ou seja: “toda a comunicação tem um aspecto de conteúdo
e um aspecto de comunicação tais que o segundo classifica
o primeiro e é, portanto, uma metacomunicação”.
 Isto significa que toda a comunicação tem, além do
significado das palavras, mais informações. Essas
informações são a forma do comunicador dar a
entender a relação que tem com o receptor da
informação.
3. A PONTUAÇÃO E A SEQUÊNCIA DE
EVENTOS:
 A sequência de eventos são as trocas de mensagens, que
para um observador “externo” é uma série de
comunicações vistas como um sequência sem
interrupção de trocas.
 A pontuação organiza as sequências comunicacionais.

 A natureza de uma relação está dependente da


pontuação das sequências comunicacionais entre os
comunicantes: tanto o emissor como o receptor da
comunicação estruturam essa comunicação de forma
diferente, e dessa forma interpretam o seu próprio
comportamento durante a comunicação dependendo da
reação do outro.
3. A PONTUAÇÃO E A SEQUÊNCIA DE
EVENTOS:
 Em um problema num relacionamento de casal,
suponhamos que o marido responda que suas frustrações
são uma forma de defesa contra as implicâncias da
esposa, enquanto ela se justificado dizendo que “ela o
critica por causa da passividade do marido”.
 “Eu me retraio porque você implica”, “eu implico
porque você se retrai”.
 A relação de natureza oscilatória dessa comunicação
poderia seguir ad infinitum e muitas vezes é
acompanhada de “acusações de maldade ou loucura”.
3.A PONTUAÇÃO E A SEQUÊNCIA DE
EVENTOS:
O problema está na incapacidade do casal de se
metacomunicarem, compreendendo os padrões de
sua interação.
 Para Bateson, o dilema surge “da pretensão de
que existe um começo e é esse, precisamente, o
erro os parceiros” (casal) na situação.
 Definição desse axioma: “A natureza de uma
comunicação está no contexto da pontuação das
sequências comunicacionais entre os comunicantes”.
4. COMUNICAÇÃO DIGITAL E
ANALÓGICA:
 Comunicação Humana pode ser: por semelhança
autoexplicativa (comunicação analógica) e referidos
por uma palavra (comunicação digital).
 A comunicação analógica é toda a comunicação não-
verbal.
 Ou seja: Para além das próprias palavras, e do que é
dito (comunicação digital), a forma como é dito (a
linguagem corporal, a gestão dos silêncios, as
onomatopeias) também desempenham uma enorme
importância - comunicação analógica.
4. COMUNICAÇÃO DIGITAL E
ANALÓGICA:
O Uso Exclusivamente Humano de Ambos os
Modos: os dois modos de comunicação se
complementam em todas as mensagens.
 Problemas de Tradução de um Modo no Outro: na
linguagem analógica há uma ausência da negativa
(do não), o ser humano precisa constantemente
“traduzir” um modo de linguagem para o outro, na
sua necessidade de utilização das duas linguagens.
 Porém essa tradução é feita com perdas.
5. A COMUNICAÇÃO SIMÉTRICA E
COMPLEMENTAR
 Elas podem ser:
 - no sentido complementar (um sujeito é imperativo e
outro passivo (submisso apenas quando a comunicação é
deletéria), por exemplo);
 - ou no sentido simétrico (situações competitivas, por
exemplo).
 Ou seja: todas as trocas comunicacionais ou são simétricas ou
complementares, segundo se baseiam na igualdade ou na
diferença.
5. A COMUNICAÇÃO SIMÉTRICA E
COMPLEMENTAR
 Podem ser saudáveis e construtivos
 Podem ser deletérios e destrutivos

 Comunicação saudável: posições que variam

 Simétrica deletéria:

 Como vocês se conheceram?

 Ele: numa festa • Ela: foi na casa da Rita, na verdade


era um jantar • Ele: não deixa de ser uma festa • Ela:
Jorge, você sempre implica com o que eu falo! Vai
discutir agora o conceito de festa? Você sempre me
critica! (Material da professora Patrícia Santos da
Silva)
5. A COMUNICAÇÃO SIMÉTRICA E
COMPLEMENTAR
 Complementar deletéria:
 Como vocês se conheceram?

 • Ele: fomos apresentados por colegas de trabalho...


Ela era estagiária... • Ela: é... • Ele: estou mentindo?
• Ela: não, não! Mas é que eu queria dizer que eu
estava pra me formar já... • Ele: que diferença faz?
Era estagiária, na verdade era isso... Você era uma
das estagiárias de lá! • Ela: eu sei disso, mas... • Ele:
agora vai me contradizer? Tá com vergonha porque
era estagiária? (Material da professora Patrícia
Santos da Silva)
COMUNICAÇÃO SAUDÁVEL:
 Como vocês se conheceram?
 • Ele: fomos apresentados por colegas de trabalho... Ela
era estagiária... S
 • Ela: era... Estava no último ano de faculdade e ele não
tirava os olhos de mim! S
 • Ele: ela era linda! Fiquei louco! C

 • Ela: Bom... Eu também achei ele um gato! C

 • Ela: Aí ele implorou pra um colega nos apresentar... S

 • Ele: Implorei não! É claro que li seus sinais... S

 • Ela: ele sempre foi muito atento a mim C

 (Material da professora Patrícia Santos da Silva)


EXPLIQUE:
 4. Crie um diálogo entre um casal que seja saudável:
COMUNICAÇÃO PARADOXAL E
O USO DO PARADOXO EM
PSICOTERAPIA
O PARADOXO EM PSICOTERAPIA: A
PRESCRIÇÃO DO SINTOMA
 Se alguém deseja modificar o comportamento de outra
pessoa, ela deve fazer com que a pessoa se comporte de
maneira diferente (há fracasso por causa do sintoma) ou
fazer com que se comporte da maneira como já vem se
comportando, de forma espontânea.
 Quando um terapeuta solicita que o paciente represente
seu sintoma, através de comportamento espontâneo, ele
“impõe ao paciente uma mudança comportamental”.
 A prescrição do sintoma é apenas uma entre muitas
formas de intervenção paradoxal.
COMUNICAÇÃO PARADOXAL:
 “O paradoxo pode ser definido como uma
contradição que resulta de uma dedução
correta a partir de premissas coerentes.”
 Quando um paradoxo é verdadeiro, haverá
uma explicação para o acontecido e então este
tende a deixar de existir, quando é falso, é
uma falácia.
 Entretanto, esta definição é incompleta, pois algo
que é verdadeiro hoje, no campo da ciência,
pode não ser amanhã.
COMUNICAÇÃO PARADOXAL:
 Bateson, Jackson, Haley e Weakland, em 1956,
descreveram os efeitos do paradoxo, ao abordar o
fenômeno da comunicação em famílias com
esquizofrenia.
 Eles adotaram uma abordagem inversa a do distúrbio
intrapsíquico, para eles a sequência da experiência
pessoal incitavam um comportamento esquizofrênico – a
teoria do duplo vínculo.
 A hipótese é de que o esquizofrênico: “deve viver num
universo onde as sequências de acontecimentos são de
tal natureza que os seus hábitos comunicacionais não-
convencionais resultarão, em certo sentido, adequados”.
O DUPLO VÍNCULO:
 Esta comunicação se desenvolve num tipo de relação
caracterizada pela dependência emocional e funcional
de um pelo outro (relação mãe-filho), com a
existência de uma certa tensão, como o medo do
castigo e a exposição a um mensagem paradoxa em
que há uma contradição entre mensagens.
 - por exemplo: dizendo que ama o filho, mas aos gritos.

 Três condições para que se dê esta situação:


impossibilidade de metacomunicar (já que não pode falar
sobre o que ocorre), proibição de sair da situação,
presença constante dessa forma de comunicar.
(BERMÚDEZ; BRIK, p.46)
COMUNICAÇÃO PARADOXAL:
 Na injunção contraditória opta-se por perder
algo, por exemplo, ao escolher entre comer o
bolo ou guardá-lo, se toma uma atitude;
 - e na injunção paradoxal o que acontece é a
“falência da própria escolha”.
 Uma pessoa numa dupla vinculação pode ser
“punida”, chamada de louca ou má, pelas
suas percepções corretas.
 Essa é a essência do duplo vínculo.
OS EFEITOS DO DUPLO VÍNCULO NO
COMPORTAMENTO:
 Primeiro, a pessoa provavelmente acredite que
está “ignorando alguns indícios vitais ou
inerentes a situação”;
 - depois ela se verá obcecada “pela necessidade
de encontrar indícios, de inculcar um
significado ao que se passa nela e à sua volta;
 - e, finalmente, será forçada a ampliar essa busca
de indícios”, distanciando dos problemas
reais.
OS EFEITOS DO DUPLO VÍNCULO NO
COMPORTAMENTO:
 Por outro lado, essa pessoa poderá aceitar a
ausência de lógica, e como um militar, obedecer
às ordens abstendo-se de pensar, parecendo
incapaz de distinguir o trivial do importante
(como idiota).
 A terceira reação seria a de isolamento,
evitando o envolvimento humano.
O PARADOXO EM PSICOTERAPIA:
 Weakland e Jackson utilizaram pela primeira vez a
expressão ilusão de alternativas, sobre as circunstâncias
interpessoais de um episódio esquizofrênico.
 Quando pacientes com esquizofrenia tentam fazer a
escolha certa, encontram um dilema: “não podem, na
natureza da situação comunicacional, tomar uma decisão
correta, porque ambas as alternativas são parte integrante
de uma dupla vinculação e, por conseguinte, o paciente
‘perde se a toma e perde se não a toma”.
 Nesta situação, fica explícita a impossibilidade de
mudança de “dentro para fora”. A mudança só poderá
ocorrer quando o padrão é modificado, quando se sai do
padrão.
PERGUNTAS:
 5. Como pode ser utilizado o paradoxo em psicoterapia?
 6. O que é o duplo vínculo e os efeitos no
comportamento?
REFERÊNCIAS:
 BERMÚDEZ, C.; BRIK, E. Terapia Familiar Sistêmica:
aspectos teóricos y aplicación práctica. Espanha:
Editorial Sintesis. (S/A). Cap.2.
 CIBERNÉTICA. Sites do google. Disponível em:
https://sites.google.com/view/sbgdicionariodefilosofia/ci
bern%C3%A9tica
 WATZLAWICK, Paul; BEAVIN, Janet Helmick;
JACKSON, Don D. Jackson. A pragmática da
comunicação humana. São Paulo: editora Cultrix, 1993.

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