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STORYTELLING E TÉCNICAS DE APRESENTAÇÃO:
CONCEITOS GERAIS DE COMUNICAÇÃO
Vamos começar a nossa introdução à comunicação criando certa relatividade sobre o tema.
Afinal, para desenvolvermos e praticarmos técnicas, precisamos conhecer a sua forma teórica mais
densa, e, por vezes, também controversa. Com certeza, vocês já passaram por alguma situação em
que, por exemplo, uma pessoa insistia que via uma cor como verde enquanto a outra afirmava, com
veemência, se tratar de um tom de azul. Nesse sentido, reforçaremos a necessidade de relacionar a
comunicação às nossas percepções da realidade, o que parece muito bem exposto pela frase escolhida
para abrir esta seção. Afinal, o que parece um mapa muito claro em minha mente pode não
representar nada para outra pessoa, e, logicamente, isso afetará o nosso processo de comunicação.
Esta frase, “O mapa não é o território.”, foi cunhada por Alfred Korzybski na primeira metade
do século XX. O que Korzybski queria dizer era, que, na verdade, as pessoas não tinham contato
direto com a realidade, e sim com a sua própria percepção de realidade. Assim, por esse motivo,
nosso mapa ou nossa própria percepção da realidade poderia não representar exatamente o território
em seu sentido amplo, ou como aceito por todos.
Quando falamos em comunicação e em melhorar nossas ações no sentido de realizar uma
comunicação mais eficiente e eficaz, passa a ser necessário termos ciência do quanto esse espaço de
interpretações pessoais pode afetar a compreensão de nossas mensagens, afinal sempre estamos nos
comunicando com o outro. Mas será que o mapa desse outro é semelhante ao nosso? Para isso,
vamos revisar alguns tópicos que nos ajudarão a entender melhor essa questão, quais sejam:
a realidade não é uma verdade absoluta, e sim algo percebido por meio de subjetividades
e dos cinco sentidos. É representada internamente por imagens, sons, cheiros, sensações,
pensamentos, expressões físicas e faciais e palavras;
cada indivíduo cria seus próprios modelos ou mapas do mundo a partir das informações
sensoriais do ambiente, das recordações do passado e da interpretação do ambiente;
as pessoas interagem com essa percepção subjetiva do mundo, e não diretamente com uma
suposta realidade. Assim, o mapa individual determina como se interpretam os
acontecimentos na vida e o significado que damos a eles. Geralmente, é o mapa individual
que limita, não o mundo em si;
não existem comunicações fracassadas. Na verdade, elas nos dão resultados que podem
fornecer feedback do que precisa ser modificado;
nenhum mapa individual é mais verdadeiro ou real que o de qualquer outra pessoa;
enriquecer seu próprio mapa, ou ampliar a sua percepção, promove mais escolhas ao lidar
com um mundo complexo e
conhecer o mapa do outro possibilita melhorar a comunicação e os relacionamentos.
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Figura 1 – Percepção
Fonte: INAp
Funções da comunicação
De acordo com Robbins, Judge e Sobral (2011), a comunicação, tanto para indivíduos
quanto para organizações, possui quatro funções básicas: controle, motivação, expressão
emocional e informação.
Na dimensão de controle, estamos falando de relações de poder que sempre permeiam o meio
social, principalmente nas organizações ou em qualquer outro sistema hierárquico, como na sua
casa, em uma loja ou em lugares onde exista uma distribuição de papéis que, de alguma forma,
influenciará o seu posicionamento frente à defesa das suas ideias..
A comunicação também funciona fortemente como um veículo para a motivação, pois, por
meio de palavras (escritas ou faladas), olhares, gestos e outras ações, podemos encorajar, ou não,
outras pessoas de diversas formas. Quem de nós já recebeu um simples olhar desencorajador que
nos “falou” que deveríamos parar imediatamente uma determinada ação?
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Logicamente, a expressão emocional tem lugar de destaque entre as funções da comunicação,
pois será por meio de palavras, tom de voz, gestos e outras manifestações que conseguiremos dizer
ao outro e ao mundo como nos sentimos.
Por fim, na sua quarta dimensão, a da informação, estamos nos referindo ao conteúdo das
nossas mensagens e comunicações. Cabe destacar que, quando transmitimos informações, além de
abrirmos um mundo de opções, em tese, também estamos proporcionando uma alavanca para que
outras ações e decisões possam ser tomadas por outras pessoas.
Todas as quatro funções são importantes e complementares. As quatro funções básicas da
comunicação estão representadas na figura 2, a seguir:
Processo da comunicação
Todas as atividades de uma organização, seja esta empresarial ou pública, dependem do inter-
relacionamento de seus integrantes e da capacidade de adequação dos processos de comunicação às
suas aptidões pessoais e administrativas.
Na organização, a comunicação influencia o comportamento das pessoas tanto pela
transferência de informações (fatos, atos, ideias, valores, cultura, pensamentos, ordens, etc.), quanto
pelo uso do instrumental dos colaboradores para a transmissão de ensinamentos (que pode ocorrer
por meio de treinamento, integração, desenvolvimento, etc.). Os processos de comunicação são
responsáveis pela extensão dos nossos objetivos pessoais e organizacionais aos outros indivíduos e
grupos. Por esse motivo, foi definido por Robbins, Judge e Sobral (2011, p. 327) como um
“processo de transferência de informação com a respectiva compreensão da mensagem.”
A figura 3, a seguir, apresenta o modelo clássico de processo de comunicação, com os seus
elementos principais: receptor, emissor, codificação, decodificação, canal (que veicula a mensagem),
ruídos e feedback (indicado pelas linhas com setas nas partes superior e inferior da figura).
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Figura 3 – O processo de comunicação
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sobrecarga de informação: quando temos informações demais por vários canais e existe
a tendência de que alguma mensagem não fique retida;
defesa: quando alguém entende uma mensagem como ameaça e tende a se fechar e até
responder de forma agressiva, o que não contribui para a comunicação;
linguagem: quando as pessoas possuem origens e formações profissionais diferentes e,
eventualmente, embora falando o mesmo idioma, podem não se entender, devido ao
uso de gírias, jargões ou regionalismos;
feedback – parte fundamental do processo, consiste em obter o retorno do que realmente
foi compreendido pelo emissor e funcionará como um balizador para melhorar os
próximos episódios de comunicação.
Robbins, Judge e Sobral (2011) apresenta um diagrama (figura 4) que ilustra bem a riqueza
dos canais de comunicação, permitindo que a sua escolha seja feita não de maneira aleatória, e sim
propositalmente, como se espera em processos de gestão estratégica da comunicação.
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Figura 4 – Escolha e riqueza dos canais de comunicação
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Com isso em mente, para compreender por que é valioso analisar o público para o qual
estamos nos dirigindo, imagine como se sentiria na seguinte situação: você precisa falar de improviso
para um grupo que se supõe formado majoritariamente por mulheres jovens, entretanto, quando
entra no palco, percebe que tem diante de si uma audiência de homens bem idosos. É justamente
para evitar esse tipo de surpresa que é importante ter o controle dessa análise, de preferência com
antecedência: em primeiro lugar, para que você possa ter certeza sobre quem são as pessoas a quem
vai se dirigir; em segundo lugar, para poder imaginar o que elas pensam sobre você ou sobre sua
organização; e, por último, mas também muito importante, para calcular o que cada uma já sabe
sobre a comunicação que será realizada e sobre o assunto que será abordado. A seguir, vamos analisar
esses três aspectos de maneira separada.
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Figura 5 – Exemplos de stakeholder
Fonte: autora.
Além do mais, devemos ficar atentos, pois, nesse exercício de identificar os públicos, muitas
vezes, há a necessidade da formação de nichos mais específicos. Por exemplo, podem existir
diferenças a serem consideradas quando um líder se dirige a um colaborador direto ou a um
terceirizado. Ou ainda se, ao falar para a comunidade, estamos falando para um grupo de elite ou
para uma tribo indígena que será impactada por um empreendimento local.
A partir do momento em que sabemos para quem estamos falando, podemos passar a
direcionar nossa atenção para identificar qual a atitude desse público ou interlocutor a nosso
respeito. Pense bem: você acredita que falar para uma pessoa que, com certeza, já lhe conhece e tem
uma boa imagem sua será igual a falar para alguém que você desconfia não gostar de você ou ter
posições muito divergentes da sua? Por isso, trataremos desse tema a seguir.
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Qual a atitude do público em relação a você ou à sua empresa?
Além de identificar e analisar quem é o público ou a pessoa a quem dirijo a minha
comunicação, também é necessário ter atenção para avaliar a percepção desse outro sobre mim.
Sabemos que a tendência é que o resultado das comunicações com pessoas que têm apreço por nós
e por nossas empresas seja muito melhor do que em casos contrários. Suponha, por exemplo, que
vai apresentar um projeto internamente para um diretor que você já teve oportunidade de conhecer,
alguém que já expressou admiração e gratidão pelo seu trabalho e pelas suas conquistas na empresa.
Agora pense em um cenário oposto, em que está prestes a apresentar seu novo projeto para um
diretor que teve um problema com você no passado e que o trata com distância e frieza.
Quando existe falta de confiança ou boa vontade entre emissor e receptor, a comunicação
pode se transformar em um conflito bastante negativo. Por isso, é tão importante dar importância
a pesquisas, quando elas existem, ou a instrumentos que permitem antecipar possíveis problemas.
Nesse caso, ao planejar a sua apresentação, é sempre bom não diminuir as chances de ser mal
interpretado ou subestimar problemas do passado. Por exemplo, existem ferramentas disponíveis
na internet, como o mapa da empatia, criado a partir do design thinking, que poderá ajudá-lo a
entender melhor a posição de seu interlocutor a seu respeito.
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Assertividade e empatia
Acabamos de ver que, para efetuar uma boa comunicação, é necessário termos noção de que
nem sempre a nossa forma de ver o mundo é parecida com a de outras pessoas, de que compreender
a função e o processo da comunicação que fazemos é necessário e, também, de que identificar
exatamente quem é o nosso interlocutor ou stakeholder é fundamental. Todos esses elementos
trazem para a cena da comunicação, no mínimo, duas pessoas, o emissor e o receptor da mensagem.
Sendo assim, a partir dessa conclusão, precisamos estar atentos, de forma mais que especial, para a
necessidade da promoção de uma comunicação empática e assertiva, de modo que o outro ocupe um lugar
de destaque. Afinal, de que adianta produzirmos uma comunicação que não será minimamente entendida?
A assertividade é vista por muitos como uma filosofia de vida, sendo mais do que um mero
comportamento, pois engloba valores, atitudes, pensamentos e sentimentos frente à vida. Nesse
sentido, nosso comportamento assertivo será a nossa forma de expressar essa filosofia,
principalmente naquelas relações humanas nas quais almejamos as soluções do tipo “ganha-ganha”.
Muitos confundem o conceito de assertividade e dizem que não querem ser assertivos para
não magoar as pessoas, entendendo que esse conceito estaria relacionado a um significado de
extrema objetividade e clareza; no entanto, a assertividade é o “ingrediente” mais eficaz dos
relacionamentos saudáveis. De fato, o conceito de assertividade consiste em encontrar uma
interseção com o outro. Consiste em pensar se o nosso conteúdo de comunicação fará sentido para
aquela pessoa em específico. É estarmos conscientes de que precisamos nos encontrar com o outro
no meio do caminho. Dessa maneira, o conceito de assertividade assemelha-se muito ao de empatia,
que consiste no exercício constante de nos colocarmos no lugar do outro.
O conceito de assertividade representa o equilíbrio entre duas atitudes: estar apenas
preocupado com o que a mensagem significa para você, em uma posição agressiva, e estar somente
interessado no que representa para seu interlocutor, nesse caso, em uma atitude passiva. Nenhum
desses extremos representaria uma comunicação assertiva, pois esta só acontece no centro, ou no
encontro dessas duas atitudes. Ambos os lados e interesses, do receptor e do emissor, devem estar
contemplados, como podem ser vistos na figura 6, representada a seguir.
Fonte: autora.
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Algumas perguntas nos ajudam a avaliar se somos pessoas assertivas. Por exemplo: você é do tipo
que tem dificuldade de dizer não? Fica quieto ou concorda com o outro em uma situação polêmica para
não arrumar confusão? Tem a sensação de que está “engolindo sapo” com frequência? Ou você é do
tipo que “bate e depois pede desculpas”, arrependido do que fez? Tem mais facilidade para criticar do
que elogiar ao outro e a si mesmo? Ao ganhar um presente, pensa que querem seduzi-lo? Não tem
paciência para ouvir? Não desiste até que concordem com você, ou seja, vence pela insistência?
Se você respondeu sim a uma ou mais dessas questões, provavelmente você está precisando
fazer alguns acertos no seu comportamento para se tornar mais assertivo, ou empático, nas suas
relações. É muito importante fazermos um exercício de autorreflexão para pensarmos em como
temos conduzido nossas comunicações até o momento.
Ao assumir uma postura assertiva, você desenvolve relações mais maduras e produtivas nos
ambientes profissional e familiar e, também, em situações do cotidiano, que podem ser desde
reuniões sociais, com os amigos ou na escola dos filhos, até relações corporativas.
Desenvolver relações maduras significa criar laços de interdependência, e não de dependência
ou de independência. Relações de dependência implicam imaturidade ou incompetência de uma
das partes para assumir a responsabilidade por seus atos, necessitando do apoio de outra pessoa para
atingir um resultado.
Vamos ver alguns exemplos:
um bebê ou uma criança dependem dos pais para sobreviver, pois ainda não têm
maturidade e competência para viverem sozinhos;
uma pessoa doente ou com dificuldade de se movimentar fica dependente de alguém
que a auxilie;
um profissional em estágio inicial de carreira e que não domina ainda uma atividade
precisa de outros mais experientes para desempenhar a sua função.
Já a relação de independência pode ser compreendida como uma fase de transição para a
maturidade e implica uma posição autossuficiente para o alcance de objetivos. Seria o caso dos
adolescentes, que querem ser independentes e, por isso, resistem, uns mais e outros menos, a seguir
as orientações de seus pais, por vezes mostrando até alguma rebeldia.
No ambiente organizacional, é comum verificar pessoas e áreas de trabalho que assumem
posturas independentes, quando, na verdade, deveriam posicionar-se de forma interdependente.
Esse erro de percepção acarreta conflitos nos relacionamentos interpessoais, com a ausência da
cooperação e a falta de visão do todo, emperrando, na maioria das vezes, os processos produtivos e
bloqueando os canais de comunicação interna.
A interdependência fomenta relações saudáveis, porque as duas partes têm consciência dos seus
papéis e sabem por que, quando e como afetam positiva ou negativamente a outra pessoa. Enfim, ser
interdependente é assumir com humildade a dependência ou independência relativas e transitórias e
aceitar a mesma coisa no outro; ou seja, é estar presente em uma relação de reciprocidade. Nesse
sentido, uma comunicação assertiva lhe permitirá ser uma pessoa interdependente.
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Podemos ver vários exemplos de relacionamentos que necessitam ser interdependentes para ter
sucesso, como entre marido e mulher, chefe e equipe, cliente e fornecedor, áreas de uma empresa que
participam do mesmo processo de trabalho, etc. As relações produtivas e maduras sempre devem levar
em consideração os sentimentos e as opiniões das outras pessoas sem que se perca o foco no problema
que está sendo encaminhado por você. O foco, pois, deve ser buscar soluções, e não culpados.
Pessoas que agem de forma madura, como dissemos anteriormente, canalizam com mais
naturalidade as emoções e os sentimentos para resultados positivos e produtivos. Esse equilíbrio
equivale a um bom senso no uso da racionalidade para administrar as emoções.
Pessoas imaturas do ponto de vista emocional, normalmente, sentem-se mais confortáveis em
relações dependentes e agressivas, e, ao mesmo tempo, são suscetíveis e vulneráveis ao domínio e
controle das emoções. Por isso, frustram-se e ofendem-se com mais facilidade. Diante de situações
de conflito, reagem para se defender, não assumem responsabilidade e colocam a culpa do problema
nas outras pessoas. Também podem manifestar reações passivas, pedindo desculpas até por ações
que não são da sua responsabilidade.
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PROFESSORA-AUTORA
Ana Christina Celano Teixeira é doutora em Administração de
Empresas pela FGV/EBAPE e graduada em Desenho Industrial e
Comunicação pela PUC-Rio. Acumulou experiências de mais de vinte
anos na área corporativa como consultora, tendo atuado em diversos
projetos para grandes organizações do país, nas áreas de comunicação
organizacional, gestão de pessoas, planejamento estratégico e gestão por
processos. Atualmente, na área acadêmica, é professora e pesquisadora na
área de Gestão de Pessoas em programas de pós-graduação lato e stricto
sensu em instituições de ensino como a FGV, dentre outras.
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