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JURÍDICO

APOSTILA
O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO E O ATO COMUNICATIVO JURÍDICO
CAPÍTULO 01

CARGA HORÁRIA 20H


PROFESSOR LUDOVICO OMAR BERNARDI
Jouberto Uchôa de Mendonça Alexandre Meneses Chagas
Reitor Supervisor

Amélia Maria Cerqueira Uchôa Caroline Gomes Oliveira


Vice-Reitora Designer Gráfico

Jouberto Uchôa de Mendonça Júnior Marcio Carvalho da Silva


Superintendente Geral Corretor

Ihanmarck Damasceno dos Santos Andira Maltas dos Santos


Superintendente de Relações Institucionais Claudivan da Silva Santana
e Mercado Edivan Santos Guimarães
Diagramadores
Eduardo Peixoto Rocha
Superintendente Acadêmico Matheus Oliveira dos Santos
Shirley Jacy Santos Gomes
Jucimara Roesler Ilustradores
Diretora de Educação a Distância
Ana Lúcia Golob Machado
Flávia dos Santos Menezes Antonielle Menezes Souza
Gerente de Operações Lígia de Goes Costa
Assessoras Pedagógicas
Jane Luci Ornelas Freire
Gerente de Ensino

Lucas Cerqueira do Vale Shutterstock


Gerente de Tecnologias Educacionais Banco de Imagens

Milena Almeida Nunes Pinto


Designer Instrucional
APRESENTAÇÃO

Olá!

De múltiplas e multifacetadas formas ensina-se que a argumen-


tação se faz presente no correr dos dias. Testemunham nas páginas
dos jornais as incontáveis ofertas da propaganda no rádio e televisão
e o falar quotidiano. Nesse sentido, não se torna falaciosa a afirmação
de que todo e qualquer texto seja, até certo ponto, argumentativo, ao
que passo que no universo jurídico esta premissa torna-se clarividente.
Nessa perspectiva, este curso tem tonalidade argumentativa,
seja na parte teórica, seja no aspecto prático, destinando-se aos futuros
operadores do direito, com vistas a desmistificar o juridiquês e a traba-
lhar os recursos linguísticos que tornem clara e objetiva a linguagem,
como convém à linguagem forense.
Proponho oferecer neste curso as colunas metras das letras jurí-
dicas. Assim, abordaremos comunicação e argumentação, vocabulário,
além de percorrer caminhos da linguagem forense. No entanto, não só
aos iniciantes interessa, mas sim a todos os cultores do Direito, afinal,
a linguagem é o instrumento do jurista. E, tal qual o artífice, a qualidade
de sua produção depende de quão habilidoso seja no manejo de seu
instrumento.
E não se esqueça: este material é a base para que você realize as
atividades do curso.

Bom estudo!
SUMÁRIO

O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO................................... 05
O ATO COMUNICATIVO JURÍDICO................................... 07
A LINGUAGEM NA COMUNICAÇÃO................................. 09
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................ 12
REFERÊNCIAS................................................................... 13
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Comunicar consiste em colocar algo em comum com o próxi-


mo, cuja origem derivada do latim, communicare, remete-nos à ideia de
convivência, relação com um grupo. Sendo assim, o objetivo da comu-
nicação é o entendimento. Lembremos: o homem é um ser essencial-
mente político, e a comunicação só pode ser um ATO POLÍTICO, uma
PRÁTICA SOCIAL BÁSICA.
Mas vamos lá, já é hora de começarmos a trabalhar. Para tanto,
tenha em mente que nosso objetivo central nesta apostila é situar os
elementos e o contexto da comunicação jurídica, enfatizando as mar-
cas da situação de produção e da relação dialógica de emissor e re-
ceptor na produção dos textos jurídicos. Nesse sentido, estudaremos
o processo de comunicação, o ato comunicativo jurídico e a linguagem
na comunicação.

O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO

Existe alguma atividade humana que não seja afetada ou que


não possa ser promovida através da Comunicação? Certamente, não.
A história do homem constitui-se um esforço de comunicação, sendo a
sociedade moderna fruto de um aperfeiçoamento dos processos comu-
nicativos – do grunhido à palavra, da expressão à significação. Através
dela, passamos de um mundo, inegavelmente, em que as interações
eram concebidas como sendo sempre lineares – aquelas onde as cau-
sas pequenas geravam consequências pequenas e as causas grandes
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geravam consequências grandes – para um mundo de interações não


lineares. Interações estas que se caracterizam basicamente pelo fato
de não ser possível prever o resultado de um fenômeno apenas tendo
como base a causa a que o mesmo é submetido, como um dia se ima-
ginou. Consequência: essa potencialização desencadeou interações
comunicacionais por meio de encadeamentos, multiplicidades, singu-
laridades, incertezas, desordem e hipertextualidade. Nada mais natural,
portanto, que o estudo da comunicação assuma lugar de destaque.
É preciso considerar que o homem é aquilo que consegue comu-
nicar a seus pares, na sociedade em que vive, sendo a comunicação
um processo imperativo numa reunião de famílias, na estruturação de
movimentos sociais, na comunidade política. Consideremos que toda
e qualquer relação pública depende dela, tornando-se ineficazes, até
mesmo precários, os programas de relações de trabalho sem seu do-
mínio. Como pode um líder exercer sua atividade sem comunicar? Lide-
rança é sinônimo de comunicação, sendo ela quem legitima o comando
por meio do consentimento do grupo, a ponto de mesmo a ausência de
um enunciado dentro dessa comunidade caracterizá-la. Não é absurdo,
pois, parodiar o ditado popular “Quem cala, consente”, para, “Quem cala,
comunica-se”. O silêncio, portanto, está entre um dos mais notáveis ins-
trumentos de Comunicação humana, apenas carecendo ser lido.
Estamos, enfim, imersos num oceano de comunicação, e não vi-
vemos um instante fora dele. Como Albert Einstein nos anunciou na dé-
cada de 50, vivemos os efeitos da explosão da terceira bomba do século
XX, “a bomba das telecomunicações”. Por conseguinte, a sociedade urba-
na mundial vive um terceiro estado, “móvel”, que permite a interconexão,
multiplicando os contatos e permitindo o reencontro e a conexão das
pessoas consigo mesmas. O crescimento demográfico não leva mais à
separação e ao afastamento como outrora, no tempo dos caçadores-co-
letores, mas ao contrário, conduz à intensificação dos contatos em esca-
la planetária. Tudo se torna comunicação – o outdoor, a carta de amor, o
whatsapp, o Papai Noel, o livro de orações, os blogs, os chats, o twitter, o
facebook, o linkedin, o comício político, o terno e a gravata, o jato de luz
dos faróis. É preciso apenas saber escolher o meio.
O social deixa, assim, de ser para tornar-se evento, acontecimento
comunicativo, único e assistêmico. A esfera comunicativa, nesta
perspectiva, não pode ser mais pensada apenas como mídia, isto
é, como um conjunto de meio e instrumentos de repasse de flu-
xos de informações. A comunicação deixa também de ser o elo de
junção entre os atores para se tornar forma constituidora (LEMOS,
2013, p. 14-15).
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Assim, em meio à ascensão dos modos de comunicação des-


centralizados (telefone, microcomputadores, i-pads, tablets, impresso-
ras, smart-phones, televisão por satélites etc.), o sujeito e os objetos não
podem ser pensados como fenômenos isolados, nem a comunicação
como algo bem determinado. Ela parte de algum lugar.

O ATO COMUNICATIVO JURÍDICO

Todo ato de comunicação envolve ao menos a cooperação de


duas partes: a de um emissor e de um receptor. Aquele, por sua vez,
possui um pensamento e está em busca de uma expressão verbal para
fazê-lo conhecido no mundo sensível; já este trabalha no caminho in-
verso, haja vista ser detentor da expressão verbal e estar em busca do
pensamento, com o propósito de compreender a mensagem. Nesse
sentido, podemos dizer que a linguagem representa o pensamento e
funciona como um mediador das relações sociais, advindo daí a máxi-
ma de que toda comunicação é, por si só, um ato político e social.
Em específico no caso do Direito, o primeiro fato a se considerar
é que todas as narrativas jurídicas nascem de um conflito, de interes-
ses conflitantes ou de ações humanas que ferem os valores da norma
jurídica, exigindo-se uma reparação e criando-se, por conseguinte, um
novo centramento na relação entre os interlocutores processuais: a
polêmica. Para Damião (2010, p. 13) “no confronto de posições, a lin-
guagem torna-se mais persuasiva por perseguir o convencimento do
julgador que, por sua vez, resguarda-se da reforma de sua decisão,
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explicando, na motivação da sentença, os mecanismos racionais pelos


quais decide”.
Outro ponto importante: o ato comunicativo jurídico não se dá,
pois, apenas como linguagem enquanto língua. Nas peças processuais,
mais do que pensamentos organizados à luz das operações de racio-
cínio, residem também discursos, não sendo possível, portanto, sim-
plificar toda comunicação à lógica formal. Ou seja, o ato comunicativo
jurídico exige a construção de uma manifestação discursiva que possa
convencer o julgador da veracidade do “real” que pretende provar.
Mas o que é discurso? Trata-se de pontos de vista, opiniões, ide-
ologias, as quais são materializadas no texto e, ao mesmo tempo, vali-
dadas pela circulação na sociedade. Não há, portanto, textos neutros,
fazendo-se o discurso presente em tudo, desde as falas cotidianas aos
grandes pronunciamentos políticos. Além do mais, é preciso considerar
que todos os indivíduos estão inseridos em alguma ordem social, tendo
cada um desses grupos um modo diferente de ver e entender o mundo
em que vivem. Eis aí o que compreendemos como ideologia.
Já sei, você deve estar se perguntando agora: “mas como, então,
estruturar o meu pensamento, construir o meu discurso, a minha men-
sagem?”. Vamos lá, retomando o que vínhamos discutindo, o emissor
é dono de um pensamento e busca a expressão, ou seja, a criação de
uma mensagem. Por outro lado, o receptor possuirá esta expressão
(mensagem) e partirá em direção ao pensamento. Para tanto, o emis-
sor terá um objetivo, valendo-se da escolha de um canal acessível ao
receptor. Pois bem, notório, então, que precisamos agora entender o
processo de comunicação e os elementos nele envolvidos, haja vista
que toda comunicação jurídica é, antes de tudo, uma construção dis-
cursiva. Iniciemos:

1. Quem sou eu, emissor? Você se recorda de que os indivíduos


estão inseridos em alguma ordem social, certo? Pois bem,
dependendo do papel social, a codificação deve direcionar a
mensagem e selecionar o vocabulário. Agora fica claro por-
que a linguagem de um juiz é diferente da utilizada pelo ad-
vogado de defesa, por exemplo.
2. O que dizer? Neste caso o uso de um vocabulário específi-
co, que também denominamos de fechado ou especializado,
evitará o excesso de palavras plurissignificativas, estabele-
cendo precisão e objetividade à mensagem.
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3. Para quem? Jamais podemos perder de vista a figura do re-


ceptor, pois ele é fundamental no processo. Por quê? Não
faria o menor sentido e soaria até descabida a ação, por
exemplo, de um advogado detalhar um conceito simplista de
direito em sua petição dirigida a um juiz.
4. Qual é o objetivo de sua comunicação? De acordo com a fi-
nalidade de seu texto, você escolherá ideias e palavras para
expressá-la.
5. Qual o meio? O meio influirá diretamente na linguagem, afi-
nal, quando o operador do Direito peticiona, por exemplo, em-
prega a língua escrita, devendo preocupar-se e muito com o
emprego da língua-padrão, organizando com precisão lógica
seu raciocínio. Por outro lado, este mesmo profissional assu-
mirá postura diferente perante um Tribunal do Júri, haja vista
que nesta ocasião a linguagem afetiva colorirá e enfatizará
sua argumentação.

A LINGUAGEM NA COMUNICAÇÃO

A observação dos comportamentos sociais dos animais nos re-


vela uma grande coordenação das atividades. Com efeito, seus códigos
são elementos de comportamentos (gritos, gestos, posturas), que se
encontram em todas as espécies animais, daí a importância da obser-
vação desses comportamentos.
O repertório de todas as espécies de gestos, de gritos ou quais
outras manifestações que façam parte do processo de troca, formam
o léxico do animal e suas combinações constituirão a articulação ou a
sintaxe da mensagem.
No entanto, o sentido e a compreensão da mensagem estarão
intimamente ligados com o meio ambiente do animal (estado fisioló-
gico, reações do animal receptor etc.), ou seja, com o contexto em que
ele estiver inserido.
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Assim, esses comportamentos supõem uma troca de estímu-


los interindividuais (sinais específicos de cada espécie) que se articu-
lam de um modo preciso e coordenam os comportamentos dos diver-
sos atores. Esses sinais específicos são chamados desencadeadores
sociais. Correspondem ao mecanismo inato de deflagração sobre o
qual agem.
Os deflagradores sociais nem sempre são fixados por heredita-
riedade, mas supõem uma aprendizagem nas espécies mais evoluídas.
Assim, as comunicações animais dependem primeiramente do equipa-
mento anátomo-fisiológico, pois ele define o “mundo percebido”.
Portanto, os códigos sociais ou deflagradores sociais estão li-
gados à espécie e sua aquisição é inata ou supõe uma aprendizagem
cujas condições são determinadas pelo código genético.
Em todos os grupos de animais em que as relações sociais são
diferenciadas existe, porém, um sistema de sinais rituais para que se
evitem conflitos e agressividade.
Todo esse ritual constitui as regras necessárias à vida social.
Nas crianças, por exemplo, as que não respeitam essas regras, são
excluídas do grupo.
Podemos dizer, então, que as informações não verbais são ao
mesmo tempo mais complexas e mais matizadas. Permite-nos fazer
referências a estados de espírito e sentimento; por outro lado, são
inferiores à linguagem, por serem restritas ao aqui e agora.
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Portanto, falar é exprimir o corpo, pois a palavra traz a marca do


corpo vivenciado.
Assim, esquematicamente, teremos:

Fonte: Autoria própria

Mas por que é tão importante considerar a linguagem não verbal


e os deflagradores sociais no Direito? Vamos lá:

DD A falsidade de um depoimento pode revelar-se até mesmo


pela transpiração, pela palidez ou simples movimento pal-
pebral;

DD O abaixar dos olhos e os desviar insistente do olhar podem


ser decodificados tanto como timidez excessiva quanto por
ausência de caráter, espírito mentiroso;

DD O olhar persistente assume, não raro, o sentido de desafio e,


muitas vezes, de cinismo;

DD O olhar para cima, com a cabeça levemente inclinada, prin-


cipalmente quando os olhos ficam descobertos pelos óculos
posicionados quase na ponta do nariz, em geral revela um
espírito inquisitivo e perspicaz.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta apostila foram apresentados os elementos básicos da


comunicação, com vistas a se entender o processo como um ato po-
lítico e social. Este é, aliás, o principal ponto em se tratando do gênero
jurídico, afinal, todas suas produções girarão em torno de uma disputa
ou lide. Nesse sentido, lembre-se: só podemos considerar a efetividade
de um processo comunicacional quando um organismo vem a afetar
um outro organismo, sendo o operador jurídico o principal ator deste
processo. Nesse sentido, faz-se necessário visualizar cada situação de
comunicação como um momento ímpar, de modo a se dimensionar
todos os organismos nele envolvidos e seus papeis – seu texto será
dirigido a um corpo de jurados, a um juiz, a um promotor, questionará
uma testemunha? Estas respostas dimensionarão toda sua articulação
argumentativa. Por fim, também ficou claro que linguagem e língua são
conceitos distintos, caracterizando-se o código apenas como uma das
ferramentas possíveis em um ato de comunicação, não sendo, porém
a única. Imagine o quanto você pode abstrair com seu corpo em uma
audiência ou em um júri popular. Daí a importância do domínio de um
repertório cultural, já que todo e qualquer signo contextualmente inserido
resultará em um texto.
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REFERÊNCIAS

LEMOS, André. Comunicação das coisas: a teoria ator-Rede e cibercul-


tura. São Paulo: Anablume, 2013.
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