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DOSSIÊ FRANÇA

A comunicação
pelo meio (teoria
complexa da
comunicação) DE ALGUMA MANEIRA, eu nunca me interessei
pela comunicação em si mesma, embora
te nha tratado de temas adjacentes
RESUMO em livros como O Cinema e o homem
O artigo trata da complexa relação entre os meios de imaginário, Cultura de massa no século
comunicação e a sociedade num mundo cada dia mais XX e As Estrelas, isso pela simples razão
mediado tecnologicamente. Morin questiona o papel da mídia que me parecia fundamental refletir sobre
e, principalmente chama atenção para a questão referente a cultura de massa, evidentemente uma
ao potencial do receptor. Para o autor o desenvolvimento cultura que só pôde desenvolver-se graças
tecnológico da comunicação não substitui a compreensão, aos mídia. Essencial não era constatar
sendo esse um problema filosófico da humanidade. que a mídia permitia uma explosão da
comunicação, mas que trazia consigo as
ABSTRACT condições de criação de uma nova arte e
This paper discusses the complex relationship between the de uma nova indústria, como o cinema e a
means of communication and society in a world increas-ingly televisão.
dependent on technology. The author questions the role of Em meu livro As estrelas, por
the media and the potential of the receiver, considering that exemplo, abordei a mitologia das estrelas
the technological development of the communications is not a de cinema. A existência desses novos
substitute for comprehension. mitos era a conseqüência de uma cultura
de massa gerada pelos novos meios de
PALAVRAS-CHAVE (KEY WORDS) comunicação. Esse cruzamento é que
- Mídia (Media) sempre me interessou e continua me
- Imaginário (Imaginary) parecendo muito importante do ponto
- Complexidade (Complexity) de vista de pesquisa e de compreensão
da complexidade comunicacional e
cultural contemporâneas. O tema da
comunicação permanece decisivo, mas só
faz plenamente sentido quando é tomado
em conexão com outros fenômenos
so ci o cul tu rais e políticos: que significa
comunicar? Como se comunicar?
Quando falo de mundialização ou de
globalização, fenômenos que se tornam
centrais nos últimos dez anos do século
XX, é evidente que percebo o papel
relevante exercido pelo desenvolvimento
extraordinário dos meios de comunicação
e das novas tecnologias (informática,
internet, fax, e-mails, telefones celulares,
Edgar Morin tecnologias digitais...) na consolidação e
CNRS/França
difusão desse estado das coisas. Mesmo
assim, não reduzo a globalização ao

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fator comunicacional, pois a comunicação constatar que estamos vivenciando uma
não existe so zi nha e está sempre em de gra da ção do conhecimento na/pela
relação com outros problemas. Para informação, acarretando uma degradação
usar a linguagem de hoje, a pesquisa em da arte de viver no/pelo conhecimento.
comunicação exige sempre o exame da Precisamos separar todas essas noções
interface da comunicação com outras áreas para me lhor compreendê-las e praticá-
do conhecimento. Por isso, nunca me tornei las. A compreensão humana é um tipo
um comunicólogo. de conhecimento que necessita de uma
Hoje, considero prioridade criticar o relação subjetiva com o Outro, de simpatia,
mito da comunicação. Existem afirmações, o que é favorecido, talvez, pela projeção,
verdadeiros slogans, que não contam do pela identificação, como ocorre quando
real e geram novos reducionismos. Diz-se vamos ao ci ne ma ou lemos romances
que estamos na “sociedade da informação”, e simpatizamos com os personagens. A
na “sociedade da comunicação” ou na compreensão, mais do que a comunicação,
“sociedade do conhecimento”. Refuto. ou em conseqüência desta, é o grande
Estamos em sociedades de informação, problema atual da humanidade.
de comunicação e de conhecimento. Paradoxalmente, pode-se dizer que
Claro que estamos em sociedades de a comunicação não pode substituir a
informações, até do ponto de vista físico, compreensão. Dito de outra maneira, para
da teoria da informação, basta pensarmos a compreensão não basta a comunicação.
nas tecnologias digitais (DVD, televisão Bem entendido, a compreensão pode ser
digital, etc.), que são aplicações da teoria afe ta da ou ajudada pela comunicação,
da informação. Mas a informação, mesmo seja tecnicamente (telefone, e-mail, fax),
no sentido jornalístico da palavra, não é seja pelo domínio do código (língua). Essas
conhecimento, pois o conhecimento é o condições de base. Mas é preciso que
resultado da organização da informação. a compreensão exista, aconteça, pois a
Ora, na atualidade, temos excesso de comunicação por si mesma não pode criá-
informação e insuficiência de organização, la. A compreensão não é, essencialmente,
logo carência de conhecimento. Eis a um problema de meios, mas de fins. É um
razão para evitar o discurso publicitário que problema que questiona o aspecto subjetivo
produz uma euforia que excede os ganhos profundo da pessoa. Nesse sentido, é um
con quis ta dos e mascara os problemas problema filosófico.
sur gi dos. Ao discurso eufórico que diz A comunicação depende de meio; os
“tudo comunica” oponho outra afirmação: fins podem estimular a decodificação das
quanto mais desenvolvidos são os meios mensagens. Já a compreensão pode estar
de comunicação, menos há compreensão aquém ou além disso tudo. Pode vir, por
entre as pessoas. A compreensão não está exemplo, da compaixão, de uma simpatia,
ligada à materialidade da comunicação, de um amor. Na compreensão há sempre
mas ao social, ao político, ao existencial, a um componente afetivo. Fala-se muito em
outras coisas. comunicação e na hegemonia da mídia em
Tudo consiste em fazer a diferença nossa época. Trata-se de uma concepção
en tre comunicação, informação, que não compreende bem o fenômeno e
conhecimento e compreensão. Por isso, isola o papel dos meios de comunicação,
sempre cito Eliot: “Qual é o conhecimento dando a estes uma autonomia exagerada.
que perdemos na informação? Qual É um clichê que atravessou o século XX e,
é a sabedoria que per de mos no apesar dos esforços de pesquisa, não foi
conhecimento?” Ou seja, a sa be do ria dissipado.
é a capacidade de integrar, incorporar Nos Estados Unidos, nos anos trinta
conhecimentos à vida cotidiana. É fácil do século passado, havia uma grande

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inquietação: imaginava-se que o cinema violência. A única diferença, no caso, é
estimulava a violência e a delinqüência que os criminosos de Shakespeare eram
juvenil. Depois, passou-se a fazer a mesma reis, enquanto os nossos são traficantes
acusação contra a televisão. Enfim, uma de drogas ou serial killers, embora também
concepção totalmente vulgar do marxismo, os tenhamos entre os chefes de Estado. A
embora sustentada por autores importantes mídia não inventou o crime, que faz parte
como Marcuse, defendeu que a mídia da história da humanidade. Basta dar uma
favorecia a alienação de trabalhadores, olhada nas tragédias gregas, em “Medéia”,
impedindo-os de tomar consciência dos na história de Édipo, homem que mata o
seus próprios problemas. No Brasil mesmo, pai e faz sexo com a mãe. Será que isso
mui tos intelectuais ainda pensam que fez aumentar o número de incestos? Não.
o futebol é o “ópio do povo” e aliena os Antes do cinema, o que se contava
torcedores. As coisas são simplesmente às crianças? Os contos de Perrault: a
mais complexas. Pode-se amar o futebol e história de um ogro que come crianças. É
ter consciência da realidade social. Quando horrível. Chapeuzinho Vermelho: história
falta essa consciência o responsável não de uma menina que vai à casa da avó e,
é o futebol, mas certamente a situação no lugar da velhinha, encontra um lobo;
política, social e educacional do país. Ver a criança é de vo ra da. Será que essas
telenovelas não impede de ter consciência narrativas terríveis não cumprem uma
política e de contestar as injustiças sociais. tarefa pedagógica: ensinar às crianças que
As teorias da alienação pela existem coisas horríveis no mundo? Nem
co mu ni ca ção e pelo entretenimento por isso as crianças, tornadas adultas,
são frágeis e têm enfrentado revisões começaram a devorar os outros. A mídia
e refutações cons tan tes. Pesquisas já não inventou o mal.
mostraram que a mídia pode influenciar A questão é outra: como enfrentar
na vida das pessoas, mas que ela não os problemas de civilização? À noite, na
desempenha um papel de ter mi nan te França, no Brasil imagino que aconteça
no essencial. As causas profundas da o mes mo, são exibidos programas
violência juvenil não estão na mídia, mas de en tre te ni men to (filmes, westerns,
na desintegração familiar, no tipo de programas de auditório, etc.). A reação
vida levada nos bairros problemáticos, politicamente correta consiste em afirmar
na miséria e na falta de perspectivas, que isso serve para imbecilizar as pessoas.
sem contar a formação de novos guetos Os homens e mulheres que trabalham
marcados pelo preconceitos e por todos durante o dia, situação da maioria, voltam
os tipos de exclusão social. Se existem cansados e necessitam de relaxamento,
bandidos, gângsteres, não é porque os de distração e de di ver ti men to. Se a
indivíduos foram demais ao cinema ou civilização, a cultura, fosse outra, mais
viram televisão em excesso. centrada no lazer, na qual os seres
Precisamos falar claramente de humanos não estivessem diuturnamente
comunicação, evitar as teorias obscuras ocupados com a produção, ou ocupados
e o rebuscamento inútil. As sociedades pela produção, pode ser que cada um
sempre tiveram seus subterrâneos, buscasse mais nos meios de comunicação
submundos, espaços marginais, violência, outro tipo de programação.
criminalidade, etc. A mídia não inventou O problema é mesmo de civilização.
nada disso, embora torne esses fenômenos Além disso, a existência comporta uma
mais visíveis. É disso que as teorias da par te lúdica, aberta aos jogos e às
comunicação precisam tratar. Shakespeare brin ca dei ras. A televisão atende parte
já mostrava o lado escuro da humanidade dessa necessidade lúdica. As crianças,
e não podemos acusá-lo de estimular a agora, gostam de videogames, mas antes

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elas tinham outros jogos. Os adultos cotidiano das pessoas.
também gostam e necessitam de evasão, É inegável que a mídia difunde muita
de jogo, de ficção e de distração pura e coisa medíocre. Em A Cultura de massa
simples. Precisamos, portanto, ter uma no século XX, mostrei que Hollywood
visão multidimensional da realidade empregava meios industriais para fazer
humana. Na vida, no cotidiano, a mídia filmes, operando com base na divisão
desempenha um papel, porém não se do trabalho, na especialização das
trata do papel central nem mesmo de um funções, num certo números de regras
só papel. A sua influência depende de incontornáveis (final fe liz, história de
contexto, de filtros, de situações históricas, amor, protagonistas belos, encontros e
de percursos individuais e de uma série de desencontros, etc.) e na determinação de
outros fatores. ganhar dinheiro. Apesar disso, excelentes
As primeiras grandes pesquisas de filmes foram realizados e, algumas vezes,
campo sobre os meios de comunicação, obras-primas. O cinema produz a façanha,
nos Estados Unidos, feitas por Lazarsfeld por vezes, de unir indústria e arte. Por quê?
e outros, já diziam que o problema não A razão é simples e dialógica: não basta a
era saber o que a mídia faz de nós, mas produção para fazer um filme; é necessário
o que nós fazemos da mídia. A primeira criação, invenção, originalidade, inovação.
hipótese (o que a mídia faz de nós ou Os cineastas, chamados para atingir tais
conosco) toma o des ti na tá rio de uma objetivos, ou decididos a encontrar espaço
mensagem como um estúpido, colocando- nesse meio, podem ter muito talento ou
o numa situação de passividade absoluta. ser mesmo geniais. Re sul ta do: joga-se
Todas essas sociologias da manipulação com a situação, com as restrições, com
tomam o telespectador, o ouvinte, o leitor, o as possibilidades e, com fre qüên cia,
destinatário, enfim, como imbecis culturais, consegue-se o inimaginável.
seres incapazes de compreensão e de John Ford, por exemplo, soube fazer
leitura crítica. Trata-se de reducionismo e as limitações da indústria cinematográfica,
de preconceito sob a máscara de crítica compor com elas, e conceber obras de
radical da alienação pela mídia. arte. Ele tomou as marcas do gênero, do
Qualquer pessoa, mesmo a mais Wes tern, que são fatores de limitação
re tró gra da ou desinformada, quando ao gênero, e transformou-as em raízes,
vai ao cinema, é capaz de saber que se tirando delas seiva para a sua criação.
trata de cinema, ou seja, sabe separar a Certamente que a produção pode sufocar
realidade da ficção, o possível do vivido a criação. Toda história de Orson Welles é
e o espetáculo do cotidiano. Mesmo se a a de uma luta entre a criação e a produção,
pessoa chora, ri, participa, ela continua entre o artista e a indústria, entre o gênio
ciente de que essa identificação se dá e os elementos de limitação da sua época:
com o imaginário. Qualquer um que vá ao fatores técnicos, econômicos, estéticos,
cinema tem uma consciência complexa, ex pec ta ti vas dos produtores, gostos
forjada por experiências de vida e aptidões dominantes, etc. Apesar disso tudo, Welles
intelectuais. A educação formal é apenas concebeu, ao menos, duas obras-primas.
uma das pos si bi li da des de educação Sabemos que não conseguiu realizar
dos sentidos. Existe uma sabedoria não- alguns projetos. Foi sufocado. Mas deixou a
acadêmica. O in te lec tu al que reduz o sua inacreditável marca em nossas mentes
espectador de massa à condição de imbecil e corações.
não possui essa consciência complexa, Artistas foram sufocados, como Erich
embora imagine o contrário. Existe muita von Stroheim, o que é incontestável. Em
discussão sobre o papel da mídia e pouca li te ra tu ra, contudo, coisas semelhantes
clareza quanto ao seu real poder no acontecem. Quando Marcel Proust propôs

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aos diretores da Gallimard seu livro Em com ple xo, a visão multidimensional
Busca do tempo perdido, recebeu um dos fe nô me nos sociais, não pode se
não. A editora alegou que se tratava de entusiasmar com perspectivas unilaterais
histórias mundanas e sem interesse. Não e com críticas a tal ponto reducionistas e
são poucos os ca sos de editores que simplórias. O unilaterialismo de Bourdieu,
recusaram obras-primas. A existência de sobre a televisão, contém, evidentemente,
talentos, de gênios incompreendidos, é real algumas verdades, porém o essencial
e antecede o fenômeno da mídia. Rimbaud não está lá e a totalidade de concepção
e Vang Gogh viveram, sofreram e foram produz mais erro e confusão do que
incompreendidos antes da chamada era da esclarecimento.
mídia. O mesmo se pode dizer de Holderlin Na França, houve um tempo em que a
e de tantos outros. televisão não era privada, todos os canais
Há um fenômeno curioso em relação eram públicos, e havia mais espaço para
à crítica da mídia: a televisão adora os discussões intelectuais e argumentos.
intelectuais que a criticam. Nos últimos Po dia-se responder a questões, sem
anos, Pierre Bourdieu, com Sobre a pressa, durante mais de uma hora. Desde
televisão, e Serge Halimi, com Os Novos o momento em que surgiram os canais
cães de guarda, reativaram uma crítica fácil privados, voltados para a audiência, esses
da mídia. Há algo de sensacionalista nesse programas desapareceram, acusados de
tipo de ataque requentado, que retoma aborrecer os telespectadores. Por outro
alguns slogans da Escola de Frankfurt, e lado, os debates tornaram-se espetáculos,
o sensacional faz sensação na mídia. A shows, sendo que o apresentador pode
televisão digere facilmente esse gênero cortar a palavra aos que tentam se
de crítica, fazendo dos intelectuais que as estender. Ora, a evolução tec no ló gi ca,
assinam colaboradores em programas de com o surgimento dos canais a cabo,
debate, o que legitima a televisão, põe em determinou o surgimento de novos canais,
contradição os seus críticos e banaliza o segmentados, sobre muitos as sun tos
argumento. te má ti cos: história, esporte, artes, etc.
Tais críticas são unilaterais. Não é O debate ressurgiu. A televisão digital
por que certos jornalistas defendem certas permitirá ainda mais canais e, logo, mais
idéias políticas, mesmo oficiais, que devem especificidade.
ser considerados novos cães de guarda. No canal franco-alemão “Arte” eu
Este título, como se sabe, vem do livro mesmo já debati com um filósofo alemão
de Paul Nizan, dirigido contra os filósofos durante mais de uma hora. O programa
ide a lis tas, rotulados então de cães de foi ao ar entre onze horas e meia-noite.
guarda da burguesia. Retomar essa idéia, Para o público interessado isso não foi um
hoje, é algo delirante, fora de contexto, problema. Não podemos pedir à televisão
improcedente. Não podemos continuar que ministre cursos noturnos de filosofia
a pensar que Henri Bergson foi um cão para todo mundo. Não podemos achar que
de guarda da burguesia. O pecado está a televisão só será boa se falar de Platão,
no potencial excessivo dessa ordem de Aristóteles e Spinoza no horário nobre. A
interpretação. Lutar contra o pensamento vida não é feita só de Platão, Aristóteles e
único é fundamental, mas não com outro Spinoza. É pena que o público interessado
pensamento único tão rudimentar quanto o em filosofia não seja maior. Em todo caso,
primeiro. a culpa disso não é da mídia. Esse é o
O panfleto de Pierre Bourdieu é ex problema, antes de tudo, da educação.
traordinariamente simplificador. Ao pensar Num país em que todos freqüentam a
o tema, no seu conjunto, cabe precisar escola a tarefa de despertar o gosto pela
certas coisas. Quem busca o pensamento filosofia é dos educadores.

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Mais do que a manipulação,
pre ci sa mos estudar e compreender a
relação da mídia com nossos imaginários.
O cinema, por exemplo, corresponde ao
mito de uma sociedade em ascensão, ao
tempo de ascensão das classes populares,
em determinada situação histórica, à
condição de classes médias. Essa massa
em ascensão alcança um mundo de
individualismo e de vida privada, no qual o
amor se torna cada vez mais importante.
As estrelas embalam sonhos, difundem-
se fenômenos de mi me tis mo, filmes
retratam a busca do sucesso, de êxito na
vida, mostram os percalços, servem de
consolo, de estímulo, de identificação. Por
momentos, modas se impõem: mimetismo
na maneira de falar, nos cortes de cabelo,
nas roupas, em certas atitudes.
O cinema pornográfico influenciou
certamente no gosto pela felação. Mas a
felação já existia e era praticada com gosto
antes. Para cada estímulo ou influência,
existem outros estímulos ou influências,
an ta gô ni cos, complementares, mais ou
menos carregados de significação para
cada in di ví duo. A comunicação ocorre
em si tu a ções concretas, acionando
ruídos, cul tu ras, bagagens diferentes
e cruzando indivíduos diferentes. Ela é
sempre multidimensional, complexa, feita
de emissores e de receptores (cujo poder
multidimensional não pode ser neutralizado
por uma emis são de in ten ci o na li da de
simples). O fe nô me no co mu ni ca ci o nal
não se esgota na presunção de eficácia
do emissor. Existe sempre um receptor
dotado de inteligência na outra ponta
da relação comunicacional. A mídia
permanece um meio. A complexidade da
comunicação continua a enfrentar o desafio
da compreensão .

Nota

* Reflexão concebida dialogicamente, a partir de


proposições baseadas na obra de Edgar Morin, por
Juremir Machado da Silva, que também traduziu o texto.

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