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TEORIAS DA COMUNICAÇÃO

Pedro Frade, “Comunicação” em “Dicionário do pensamento Contemporâneo”


 Este texto remete para a entrada do Dicionário da Comunicação
 Complexidade da Sociedade Complexidade da Comunicação (isto é, a complexidade
interna da sociedade e a planetarização da informação rasgou fronteiras, o que conduziu
a comunicação a uma necessidade cultural, social e político-administrativa, tornado a
tecnologia incapaz de satisfazer essa necessidade. Deste modo, a nossa sociedade
transformou-se em sistemas sociais, políticos e económicos que promovem mecanismos
que promovem, a curto ou a longo prazo, a complexidade da sociedade e esta por sua
vez, a complexidade da comunicação e vice-versa).
 A comunicação adquiriu um papel importante no seio de um conjunto alargado de
reflexões provenientes da ciência, tecnologia, da teórica e até do meio operativo.
 A utilização do conceito “comunicação” assumiu uma diversidade do uso do termo
“comunicação” e também os domínios do saber e do saber fazer foram aplicáveis à
comunicação e considerado legitimável e compreensível
 O defronto dos investigadores ao comunicarem entre si: falar sobre comunicação nem
sempre fácil, principalmente, quando é o “objeto de estudo”. Estes discursos dos
investigadores com serias dificuldades, deram origem à oscilação entre as escolhas
específicas das ciências da comunicação e dos nominalismo comunicacionais. Isto
conduziu a alguns obstáculos.
 Os obstáculos podem ser vistos como os que decorrem da ligação de cada modo de saber
sobre a comunicação.
 As múltiplas instituições deram origem a teorias, metodologias e reflexões que atualmente
podem ser designadas como “comunicação”.
 Existe uma diversidade de domínios que se interessaram pela comunicação e
transformaram-na no seu “objeto de estudo” e de investigação, tais como: a psicologia, a
filosofia, a antropologia, engenharia, psiquiatra, sociologia, marketing, prática militar,
computação e investigação artificial, a socio-semiótica, teoria e a prática político-
administrativa, etc.
 A comunicação como estudo destes domínios e considerada como importante e relevante,
conduziu à utilização múltipla e diversificada das formas do uso da comunicação.
 A análise de qualquer uma das abordagens da comunicação feita pelas instituições e
domínios que se interessaram pela comunicação leva-nos a descobrir “o quê” dos
processos em estudo; o “como” e o “porquê” dos processos comunicacionais
mencionados na abordagem; mas só a referência à instituição ou domínio é que nos
permite responder ao “para quê”.
 Existem 3 tipos de teorias da comunicação, desenvolvidas no âmbito da atuação das
instituições:
- Teorias Cientificas da Comunicação (caracterizam-se pela codificação das suas
metodologias, pela objetivação da recolha (que tem de ser feita de forma correta), pelo
processamento de dados objetivos e importantes para a investigação e ainda pelos
requisitos de consistência, replicabilidade e refutabilidade nos enunciados formados)
- Teorias Normativas da Comunicação (correspondem à tentativa de definir “o que” ou
“como” devem estabelecer-se processos comunicacionais, se, onde e quando
determinados valores sociais e culturais fossem aceites e respeitados. Estas teorias
procuram saber quais as influências e desigualdades que se podem gerar numa cultura
e/ou sociedade)
- Teorias Operativas da Comunicação (correspondem ao saber especifico de cada
instituição ou organização atuante num ou mais domínios da comunicação e que
inevitalmente produz sobre o seu objeto e rotinas de trabalho)
- Teorias do Senso Comum (estas teorias defendem que os indivíduos comunicantes têm
de ser capazes de falar sobre comunicação de forma satisfatória e de forma espontânea
ao longo da sua existência. Têm que ter comunicado em condições dominantes e não
insatisfatórias e relacionando-se com grupos, indivíduos, instituições e organizações ou
meios de comunicação. Espera-se que o individuo ao relacionar-se com estes meios seja
capaz de aprender as primeiras noções essenciais da sua existência ou das atividades
praticadas em sociedade. A teoria do senso comum afirma que a comunicação na sua
simples prática conduz à ilusão da competência, isto é, espera-se que um individuo com
algum e especifico conhecimento seja capaz de falar sobre comunicação, mas a simples
capacidade de o fazer gera a ilusão de que é competente o suficiente para o fazer mesmo
sem ter nenhuma formação no ramo da comunicação)
 Estas teorias incidem sobre uma diversidade de processos de comunicação que é possível
diferenciar, tendo em conta o respetivo âmbito social-relacional de referência. Assim, os
processos de comunicação podem ocorrer numa pluralidade de patamares:
Coextensivamente à sociedade global
Inter-instituicional e inter-organizacional
Intra-instituicional e intra-organizacional
Intergrupal
Intragrupal
Interpessoal
Intrapessoal – neste ponto, destaca-se uma abordagem, feita por Charles Sanders Pierce,
com efeito, a Lógica de Pierce- Segundo esta lógica, é retirado ao raciocínio o seu
estatuto psicológico tradicional e consagra-o como pensamento mediado por signos;
chega a um ponto que a vida do pensamento é a vida dos signos em que o pensamento
se estrutura por interpretações sucessivas de signos por signos. A lógica de Pierce coloca
o pensamento individual como uma troca comunicacional estabelecida pelo próprio
sujeito com ele mesmo.
 A ordenação de patamares é casual, não tem necessariamente de ser esta.
 Sentido ascendente – relação de possibilidade
 Sentido descendente – relação de necessidade
 Este texto recorre ainda à nomeação de abordagens da Comunicação – 9 agrupamentos
transdisciplinares; peças de mosaico que configura a definição das ciências da
comunicação.
1. Signos, Símbolos, Códigos (esta abordagem direciona a sua atenção para as incidências
semióticas (ao nível dos signos), incidências semânticas (ao nível dos significados) e
incidências relacionais (a relação da linguagem com a experiência) dos processos
comunicacionais.
2. Linguagem Verbal, Língua, Fala, Discurso, Texto (esta abordagem direciona a sua
atenção para a linguagem, sendo esta fundamental no domínio da comunicação. A
filiação linguística permitiu o sucesso da imagem e do gesto como comunicação,
enquanto o discurso e o texto, mais amplos, sofreram alterações com o terrorismo
epistemológico da corrente de pensamento designada como estruturalismo).
3. Não-Verbal (esta abordagem está ligada à conceção pragmática. Define que os homens
procuram estabelecer processos comunicacionais, mas fá-lo de uma forma negativa. Se
definirmos “não verbal” dizemos que são os sistemas e as práticas de sentido que têm
pouco ou nada em comum entre si como a imagem, os diversos gestos, o afastamento de
uma pessoa que parece ameaçadora. Assim, quando falamos em “comunicação não-
verbal” estamos a dizer que virtualmente nada dos processo comunicacionais).
4. Relação, Interação, Sistema Relacional (esta abordagem assume uma importância nos
patamares inter e intra-grupal e interpessoal. São mencionadas aqui dois processos – o
processo sinergético – onde os indivíduos trocam ativamente informações para se
orientarem, no sentido, de se aproximarem cognitivamente, afetivamente, entre outras –
e o processo cismogenético – onde o esforço comunicacional pode fragmentar as
relações daqueles que comunicam (por exemplo: a terapia familiar).
5. Transferência, Transmissão, Transporte, Processo, Canal (esta abordagem é sobre
tudo uma abordagem tecnológica dos processos de comunicação. Aqui, encurta-se o
tempo em que as mensagens são transmitidas e aumenta-se a quantidade de mensagem
que é transmitida por um canal nesse curto tempo).
6. Situação, Contexto, Tipos de Contexto (a situação é o conjunto de elementos materiais
e situacionais objetivas, como por exemplo: características geográficas; o contexto
assume muitos efeitos nos demais patamares da comunicação, assim podemos afirmar
que existe uma variedade de tipos de contextos: o co-texto, o contexto existencial, o
contexto institucional, o contexto deôntico, o contexto acional, o contexto político-
ideológico, o contexto psicológico, o contexto ético).
7. Receção, Compreensão, Perceção Seletiva, Atenção Seletiva, Resposta
Discriminatória (esta abordagem procura estratégias para captar a atenção do público-
alvo uma vez que têm umas perceção seletiva. Incide a sua atenção nos patamares da
sociedade global, das instituições e das organizações).
8. Influência, Persuasão, Manipulação (esta abordagem define persuasão como um
principio da comunicação intencional; O sujeito persuade o outro com a sua opinião
formada sobre o que o outro deve fazer e acredita que tem as soluções para o problema
do outro que julga conhecer melhor que o próprio. É então, que a persuasão tem como
objetivo mudar e/ou influenciar o comportamento do outro. A persuasão é pautada com
ética. Já a manipulação mostra que o outro erro na sua ação enquanto esse defende que
tem a liberdade de escolher fazê-lo ou não. Então, a manipulação revela-se como uma
prática de ação comunicacional de controlar e condenar. Não é pautada com ética.
E/LO/R).
9. Ligação, Conexão, Articulação, Comunidade (esta abordagem está inclinada para os
meios de comunicação que assume a capacidade de elaborar uma agenda temática (os
meios não nos dizer “o que” pensar mas “sobre o que” devemos pensar”; têm a
capacidade de transformar um assunto complexo num assunto fácil de ser compreendido
por todos; a capacidade de produzirem uma distribuição desigual da informação o que
conduz a fissuras cognitivas no tecido social. Este processo de influência revela-se menos
aparente mas mais ativo).
Adriano Duarte Rodrigues, “Comunicação e Cultura”, Capítulo II – A
Planetarização da Informação Mediática e os Horizontes da experiência
Comunicacional
 Designamos comunicação social como o conjunto dos meios de comunicação social tais
como a imprensa escrita, a radiodifusão sonora e televisa, faz com que habitualmente se
confunda o domínio da informação com a esfera comunicacional.
 Comunicação e Informação são dois conceitos diferentes, com lógicas de funcionamento
opostas; são diferentes e têm características próprias, contudo, têm alguns pontos de
contato.
 Esta confusão é compreensível e até aceitável nas sociedades fechadas onde o nível de
desenvolvimento tecnológico é limitado.
 Atualmente, a esfera informativa tornou-se autónoma das restantes esferas de
experiências e atingiu um alcance planetário; isto ajudou a tornar evidente que a
informação é uma dimensão diferente das restantes dimensões da experiência.
 Razões patentes na confusão entre domínio da informação e esfera comunicacional:
- estratégias que legitimizam o domínio informativo
- o apelo às suas supostas funções comunicacionais
- a maior distância que se vai realizando entre as conceções tradicionais do mundo que
alimentam as instituições sociais e a realidade tecnológica moderna.
 A informação, atualmente, transformou-se planetária rompendo com as fronteiras. Mas
apesar da planetarização da informação, assistimos, hoje, ao recrudescimento dos
nacionalismos, regionalismos e fundamentalismo – fenómenos que não se deixam
enganar nem tocar pela homogeneidade da informação planetária.
 “Aldeia Global”
 Razões porque não somos uma aldeia global com uma cultura humana universal:
- as culturas cada vez mais e continuam a fazê-lo, definem os espaços de entendimento e
compreensão das mensagens e dos acontecimentos;
- o fato de partilhamos o mesmo mundo mediático nada tem a ver com o fato de
partilharmos um mesmo mundo cultural.
 Muro de Berlim
 Afirmação das minorias e a explosão de conflitos promovidos em nome da variedade de
identidades locais com as suas culturas.
 Existem duas dimensões da experiência: a esfera informativa e a dimensão
comunicacional. Por um lado, estas duas esferas são diferentes, mas, por outro lado,
mantêm relações entre si.
 Esfera Informativa – os acontecimentos que constituem o nosso dia-a-dia e que
constituem o nosso meio ambiente formam a esfera informativa sendo uma realidade
relativa, ou seja, imprevisível, tornando maior o seu valor informativo.
 A informação é uma realidade que pode ser teoricamente medida pelo cálculo da
probabilidade de um acontecimento ocorre de acordo com o valor informativo.
 Possui um caracter imprevisível (o valor informativo não é constante nem invariável:
depende dos acontecimentos historicamente disponíveis no seio de cada sociedade
concreta)
 É um produto
 É irreversível (porque sai de um ponto para outro) – a natureza do processo da informação
é irreversível porque reside na transmissão unidirecional de saber entre o destinador e
um ou mais destinatários que devem, supostamente, ignorar a mensagem, isto no
sentido de que devem desconhecer a mensagem ou o conjunto de mensagens
transportadas.
 Dimensão Comunicacional – ocorre entre pessoas dotadas de razão e liberdade e que
pertencem a um mesmo mundo cultural onde ocorrem trocas simbólicas generalizadas.
 A comunicação é um processo dotado de relativa previsibilidade e da previsibilidade do
processo comunicacional depende um dos seus princípios fundamentais, o da
intercompreensão.
 A intercompreensão é um princípio fundamental que é baseada num conjunto de
expetativas que se espera de acordo com as manifestações que um ato pode gerar
conduzindo ao entendimento da sua natureza. De tal modo, que quando um ato não é
reconhecido por outro, não há compreensão, logo, não há comunicação.
 A comunicação rege-se por princípios de natureza simbólica.
 Os processos comunicacionais são dotados de valores que põem em jogo as preferências,
as opções, os desejos, os amores e so ódios, os projetos, as estratégias dos intervenientes
na intercompreensão e na interação.
 É um processo (continuo)
 É reversível (a existência de x ou mais caminhos) – o processo comunicacional é um
processo reversível, no sentido, de que todos os intervenientes representam ambos os
papéis – de destinador (emissor) e destinatário (recetor) – no envio e no receber de uma
mensagem ou conjunto de mensagens.
 Relações de articulação e/ou encaixe entre a Informação e a Comunicação:
A esfera informativa coloca no círculo de transmissão entre o emissor que desempenha o
papel de destinatário (o que sabe) e o recetor que desempenha o papel de destinatário (o
que é ignora), os dados objetos, os acontecimentos e os conhecimentos. Já a
comunicação assume uma relação intersubjetiva (entre sujeitos) e presenceia-se nas
experiências individuais dos interlocutores, chamando atenção que se deve ter em conta
as experiências individuais e coletivas que entende que devem ser comuns.
 Então, um processo informativo pode ter um processo comunicacional como objeto.
(exemplo do debate desportivo). (podemos transmitir uma mensagem através do
processo comunicacional, isto é, contar uma história é informar sobre o processo
comunicacional).
 O objeto da informação é relativamente independente da experiência subjetiva e pessoal
dos intervenientes no processo. (o processo informativo é autónomo
independentemente da experiência do destinatário apesar de a compreender e
interpretar de acordo com a sua cultura.
 Pode-se informar os outros acerca das dimensões da experiência, mas o estabelecimento
dessas relações comunicacionais é independente e autónomo em relação a essa
informação.
 As relações comunicacionais têm a ver com os quadros de referência que lhes conferem
sentido e que são definidos a partir da experiência particular e singular dos
intervenientes. (aquilo que conta no interior de um processo comunicacional são os
quadros de referência em que se encontra integrada a história de uma pessoa, vivida
num determinado espaço de tempo em que se partilham códigos e valores que são
particulares desse determinado espaço de tempo).
 Aldeia Global?
Os média surgem como uma força que tende a homogeneizar a informação, mas só se a
informação se transforma-se em comunicação é que se podia falar num aldeia global.

Adriana Duarte Rodrigues, é definitivo quando afirma que não estamos numa aldeia
global com uma cultura humana mundial, e explica-o ao diferenciar os seguintes
conceitos:

 Informação Transnacional ≠ Partilhar uma mesma visão do Mundo


Cada cultura continua a definir os espaços de entendimento e de compreensão das
mensagens e dos acontecimentos
 Domínio da Informação Tecnologicamente Mediatizada ≠ Domínio Cultural da
Comunicação
O fato de partilharmos um mesmo mundo mediático não quer dizer que partilhamos o
mesmo mundo cultural. A cultura assume uma enorme influência.
 Problemática da Produção e da emissão VS problemática da receção
No que diz respeito à problemática da produção e da emissão, hoje em dia, estamos
perante um imenso movimento de emissão da informação à escala planetária, cuja
experiência não mediatizada do mundo é colocada de lado. A realidade é dada como um
produto tecnicamente elaborado.
Quanto à problemática de receção, esta prende-se com a detenção direta através da
experiência direta do mundo (exemplo do concerto – os efeitos da mediatização).
 O crescimento que se dá ao nível tecnológico e da problemática da produção e da emissão
origina a constituição de um novo campo – o campo jornalístico.
 A esfera da informação procede a uma emissão da realidade, isto é, o que é dado pela
informação é uma representação mediatizada da realidade e não a realidade.
 Planetarização da informação Mediática VS Horizontes da Experiência Comunicacional
 Aldeia Global? Sim, porque recebemos todos a mesma informação mas não porque cada
um faz uma interpretação diferente dessa informação de acordo com o seu mundo
cultural.

Stephen Littlejohn, “Fundamentos Teóricos da Comunicação Humana (Theories of


Comunicacion, 1978), a Natureza da Teoria da Comunicação

 Neste texto, o autor foca-se na pesquisa e no desenvolvimento da teoria


 A teoria e a realidade estabelecem uma relação entre si, isto é, estão interligadas entre si.
 Não devemos considerar a teoria como uma entidade puramente abstrata com uma
escassa relação com a experiência real.
 As teorias são consideradas abstratas, no sentido de que deixam elementos de fora e
apenas consideram aqueles que serão relevantes para o desenvolvimento da teoria.
Nenhuma teoria, por si só, revelará jamais a verdade, porque quem cria uma teoria está
sempre a sublinhar e a explicar o que o autor da teoria acredita ser importante, nada
mais do que isso.
 A teoria e a experiência interagem continuadamente com o objetivo de se aperfeiçoarem
uma à outra.
 O Modelo de Irwin Bross – Modelo da Teoria-experiência, expressa esta relação.
 As nossas experiências originais permitem que formulemos os nossos modelos simbólicos.
Como seres humanos, somos capazes de considerar, imaginar, inferir e manipular
variáveis, nas nossas cabeças, em simultâneo que consideramos parâmetros específicos
do mundo real.
 Com o passar do tempo, os modelos mudam, aperfeiçoam-se e desenvolvem-se. O modelo
de Bross não podia fugir à excepção.
 O autor sublinha que as melhores e boas teorias são aquelas que têm processos constantes
de verificação, formulação e reverificação.
 Seguindo este ponto de vista, a pesquisa é um ponto crucial no desenvolvimento de uma
teoria. Deste modo, a pesquisa está presente em três maneiras interligadas. A pesquisa
permite:
- a investigação especifica dos fatos destacados como especialmente importantes.
- o teste de utilização preditiva da teoria em face aos eventos reais.
- o desenvolvimento e a articulação de subsequentes (consequências) da teoria.

John Fiske, “Introdução ao Estudo da Comunicação” (Introduction to


Comunication Studies, 1990)
 O autor começa por explicar/definir o que é a comunicação. Afirma que a comunicação é
uma das atividades humanas, um ato humano que desenvolvemos desde todo o sempre.
Podemos afirmar, ainda, que comunicação é falarmos uns com os outros, é a televisão, a
rádio, é divulgar uma informação, é a crítica literária: a lista é infindável.
 É colocado uma questão pelos académicos: Será que a comunicação pode ser algo de uma
parte ou de objeto de estudo? Estas dúvidas podem dar lugar a ideia de que a
comunicação não é objeto, no sentido, académico normal da palavra mas sim uma área
de estudo multidisciplinar.
 O autor afirma que a comunicação é passível de ser objeto de estudo, desde que seja
abordada por múltiplas e diversas abordagens disciplinares, uma vez que apenas uma não
conseguir explicar e compreender toda a comunicação. Assim, as várias abordagens
disciplinares conseguiriam estudar a comunicação exaustivamente e exclusivamente e
conseguiríamos compreendê-la.
 O autor acrescenta que toda a comunicação envolve signos e códigos.
 Os signos são artefactos ou atos que se referem a algo que não a eles próprios, isto és,
construções significativas.
 Os códigos são os sistemas onde os signos se organizam e determinam a forma como estes
devem relacionar-se uns com os outros.
 Estes signos e códigos são transmitidos ou tornados acessíveis a outros e que transmitir ou
receber signos/códigos/comunicação é a prática das relações existentes.
 O autor defende que a comunicação é central na vida de uma cultura: o estudo da
comunicação envolve o estudo da cultura, isto porque sem comunicação toda a cultura
morrerá.
 Podemos então, definir a comunicação de um modo geral como “interação social através
de mensagens”.
 O autor defende a existência de duas escolas principais no estudo da comunicação:
 ESCOLA PROCESSUAL
Vê a comunicação como a transmissão de mensagens; vê a comunicação como um
processo onde se procura avaliar os efeitos da comunicação nos comportamentos ou
estados de espirito do outro.
Estuda o modo como os emissores e recetores codificam e descodificam; o modo como
os transmissores usam os canais e os meios de comunicação.
Estuda conceitos como a eficácia e a precisão.
Tende a abordar o tema de “fracasso da comunicação” quando o efeito é menor ou é
diferente do que é esperado. Quando tal acontece, procura analisar todos os estádios da
comunicação para saber onde falhou a comunicação.
Esta Escola tende aproximar-se das ciências sociais, da psicologia e da sociologia em
particular.
Debruça-se sobre os atos da comunicação.
 ESCOLA SEMÓTICA
Vê a comunicação como a produção e troca de significados.
Estuda como as mensagens e os textos interagem com as pessoas de modo a produzir
significados, ou seja, estuda o papel das mensagens e dos textos na nossa cultura.
Usa o termo significância.
Não vê os mal-entendidos como fracasso da comunicação, mas sim como diferenças
culturais entre o emissor e o recetor.
Esta Escola aproxima-se da linguística e das disciplinas de arte.
Debruça-se sobre os trabalhos da comunicação.
 Estas duas Escolas têm maneiras diferentes de ver e definir a interação social das
mensagens (comunicação): a primeira escolha vê a interação como o processo pelo qual
uma pessoa se relaciona com outras ou afeta o comportamento, estado de espirito ou
reação emocional de outra e vice-versa; a segunda escola vê a interação social como
aquilo que constitui o individuo como membro de um cultura ou sociedade determinada.
 As duas escolas divergem também na forma com entendem aquilo que constitui uma
mensagem: a Escola Processual vê a mensagem como aquilo que é transmitido pelo
processo comunicacional. Acrescenta ainda, que o que constitui a mensagem é a intenção
(sendo que muitos acreditam que é um principio crucial na mensagem): esta pode
explícita ou implícita, consciente ou inconsciente, mas tem de ser recuperável para a
análise. A mensagem constituiu todo aquilo que o emissor coloca nela. Enquanto a Escola
Semiótica vê a mensagem como a construção de signos, que na interação com o recetor,
produzem significados. Aqui, o emissor como transmissor da mensagem, perder a
importância. Um dos fatores que também têm importância, é a cultura. Neste sentido, os
significados que atribuídos, por exemplo, a um texto, provém dos signos e dos códigos
que possuímos devido à nossa cultura. Deste modo os significados que adquirimos nesse
texto estão de acordo com o nosso mundo cultura, o que nos leva a concluir que duas
pessoas com culturas desiguais, encontram no mesmo texto, significados diferentes.
 É então, que a mensagem não é aquilo que A envia a B, mas sim um elemento de uma
relação estrutura, cujos outros elementos incluem a realidade exterior e o
produtor/leitor.
 Podemos representar esta estrutura como um triângulo no qual as setas representam
interação constante.

Teoria da Comunicação; Esquema Geral da Comunicação – Shannon and Weaver,


1949, The Mathematical Theory of Comunication
 Objetivo destes autores era acelerar a transmissão das mensagens
 Preocupavam-se em que as mensagens que fossem transmitidas de um ponto para o outro
perdem-se informação, assim engendraram um modo para que o canal de comunicação
transmite-se a informação de um modo com máxima eficácia
 Não lhe interessava o contexto da mensagem mas a quantidade de informação que uma
mensagem tinham e qual a outra tem.
 Esta teoria é muito importante quando se tem como “objeto de estudo” a comunicação, uma
vez que foi a 1ª vez que alguém formalizou a comunicação e realizou o 1º esquema para o
processo de comunicação que nos permitiu conhecer melhor a comunicação
 O ano em que se desenvolveu esta teoria poderá ter influenciado as pesquisas realizadas nos
EUA e o modo como as mensagens foram transmitidas
 Desenvolveram uma teoria que lhe permitiria estudar o problema de como enviar uma
quantidade máxima de informação por meio de um determinado canal e de modo a medir a
capacidade de qualquer canal para transportar informação.
 Afirmaram que esta teoria podia ser aplicável a todas as questões da comunicação humana.
 Processo destes autores é linear e caracterizado pela simplicidade e linearidade
 Fonte de Informação – Transmissor – Canal – Recetor – Destino
 Fonte de ruido (conceito alargado)
 3 Níveis de problemas no estuda da comunicação:
Nível Técnico (Nível A) – Com que precisão as mensagens podem ser transmitidas; é neste
nível que é fácil de compreender os problemas e foi para explica-los que o modelo foi
desenvolvido. O problema passa pelo acesso; o que está em causa não é se a fonte conseguiu
transmitir a informação ao destino, mas se a mensagem que chegou ao destino chegou com a
mesma precisão, isto é, se chegou a mesma mensagem que foi enviada pela fonte.
É ainda neste nível, que Shannon e Weaver dedicaram todo o seu trabalho. A informação ao
nível A assume como uma medida da previsibilidade do sinal, isto é o número de escolhas que
estão à disposição do emissor e nada tem a ver com o seu conteúdo. Um sinal é uma forma
física da mensagem. Eu posso ter um código com dois sinais e a informação contida em cada
um dos sinais é indêntica: 50% de previsibilidade. Isto independentemente do que significam.
(por exemplo a lâmpada).
Nível Semântico (Nível B) – Com que precisão os símbolos transmitidos transportam o
significado pretendido? Os problemas semânticos são mais fáceis de identificar mas mais
difíceis de solucionar. Shannon e Weaver consideram que significado está contido na
mensagem: assim, se se melhorar a codificação, aumenta-se a exatidão semântica. Mas os
fatores culturais assumem uma importância no modelo e este não os especifica: o significado
de um sinal, de um texto, de uma noticia encontra-se tanto na cultura como na mensagem.
Nível da Eficácia (Nível C) – Com que eficácia os significados recebidos afetam a conduta da
maneira desejada? Há primeira vista, podemos considerar que Shannon e Weaver vêm a
comunicação como manipulação e propaganda, no sentido que A comunica com B, e B reage
como A deseja. Estes autores acabam por afirmar que a reação emocional ou estética ocorre
devido ao efeito da comunicação. É neste nível que surge o objetivo de saber o que o destino
faz com a mensagem recebida. Saber se se concretizou o que o emissor queria que se realiza-
se.
 Estes três níveis estão interligados e são independentes. O interesse em estudar a
comunicação a cada um destes três níveis, e a todos eles, reside em compreender como
podemos melhorar a precisão e a eficácia do processo comunicacional.
 BIT – medir a informação. (considera-se dúvidas no que diz respeito a aplicar este processo ao
significado).
 Redundância (a favor do status quo e contra a mudança)
Duas funções:
Função Técnica:
- A redundância facilita a exatidão da descodificação e fornece um teste que ajuda a
identificar erros.
- A redundância ajuda a superar deficiências/dificuldade de um canal com ruído.
- O aumento da redundância ajuda a superar as dificuldades de transmitir mensagens
entrópicas.
A redundância ajuda a resolver problemas relacionados com a audiência.
Função Social (alargamento da redundância a uma dimensão social)
- “Olá” que mantém a relação existente.
- As relações só são redundantes quando a comunicação é constante, caso contrário, são
relações entrópicas.
- Comunicação Fática (mantém e reafirma as relações e mantem a sociedade e/ou
comunidade coesas; a comunicação fática é redundante por ocorre ao nível das relações
existentes e não quando há novas informações).
- Boas maneiras são os comportamentos ou as palavras convencionais em situações
interpessoais como as saudações que são comunicações fáticas e redundantes que fortalecem
e reafirmam as relações existentes).
REDUNDÂNCIA E CONVENÇÃO:
- A estruturação de mensagens faz-se de acordo com os padrões culturas ou convenções que
aumentam a redundância e diminuem a entropia.
- Exemplos convenções: poesia rítmica e sintaxe
- Acessibilidade
- A forma e a estrutura podem conduzir a quebrar as convenções e serem entrópicas
- Podem transformar-se em novas convenções e à medida que são aceiteis aumentam a
redundância
- Os codificadores que criam redundância querem comunicar
- Os codificadores que criam entropia preocupam-se com questões relacionadas com a forma
e a estrutura
 Entropia (menos confortável, mais estimulante, mais difícil de comunicar com eficácia) –
menor valor para os que estudam a comunicação porque constitui um problema de
comunicação; a Nível Técnico, Nível A, a entropia é simplesmente uma medida de número de
escolhas de sinal que poder ser feitas através da casualidade dessas escolhas.

Outro Modelo:
Modelo de Gerbner (1956)
 O Modelo de Gerbner pretende o mesmo que o modelo de Shannon e Weaver: ser
aplicado universalmente.
 Gerbner procurou desenvolver um modelo da comunicação para fins gerais; este modelo
pode explicar todos os exemplos da comunicação e chama atenção, em particular, para
os elementos-chave de todo e qualquer ato da comunicação.
 O modelo de Gerbner foi considerado mais complexo que o de Shannon e Weaver, mas
manteve o modelo de processo linear.
 O modelo revelou principais progressos:
- possibilidade de relacionar a mensagem com a “realidade a que se refere”, permitindo
tratar de questões como a perceção e a significância.
- vê no processo da comunicação duas dimensões que se alternam: a dimensão percetiva
ou recetiva e a dimensão comunicante ou de meios e controlo.
 O Modelo de Gerbner assume duas dimensões horizontais e uma dimensão vertical.
 O processo inicia-se primeiro na dimensão horizontal: é no acontecimento A, que o
processo começa, é algo que é da realidade exterior percecionado por M (M pode ser
uma pessoa, um objeto, uma máquina, um microfone, uma máquina fotográfica). A
perceção que M tem do acontecimento A é A1. Esta dimensão é a dimensão percetiva ou
recetiva que se encontra no início do processo. O acontecimento A tem uma relação com
a perceção A1 e envolve uma seleção, na medida que M não pode compreender a
complexidade do acontecimento de A. M seleciona o contexto e tem de o compreender e
largar a complexidade, é então, neste caso, que é preciso saber se M é uma máquina ou
uma pessoa, porque a seleção depende disso: se for uma máquina, a seleção é feita pelo
engenho, pelas capacidades físicas, enquanto se M for uma pessoa o processo é mais
complexo. A perceção humana assume um processo de interação ou negociação. Como
seres humanos somos capazes de enquadrar os estímulos exteriores em conceitos do
pensamento. E fazemos este enquadramento com o objetivo de lhe conferir significado –
assim, o “significado” deriva do enquadramento de estímulos externos em conceitos
internos, isto é, o que o ser humano perceciona da realidade (exterior) de acordo com o
pensamento atribuí-lhe um conceito que passa a ter significado (conceito interior).
Quando não conseguimos perceber o que estamos a ver, não conseguimos identificar o
que estamos a ver ou não conseguimos ainda dizer o que percebemos ficamos num
estado de frustração e num estado de orientação porque não conseguimos ver o
significados do que estamos a ver, isto porque a perceção implica sempre o impulso para
a compreensão e para a organização. Este enquadramento dos estímulos exteriores é
controlado pela nossa cultura, isto é, os conceitos interiores desenvolveram-se como
resultado das nossas experiências culturais. Assim, duas pessoas com diferentes culturas
têm diferentes perceções da realidade. Deste modo, a perceção assume-se como uma
questão cultural – um dos elementos-chave desta teoria.
 A dimensão vertical inicia-se quando a perceção A1 é convertida num sinal sobre A, ou
seja, quando a perceção A1 é convertida em SA, numa forma de conteúdo (um sinal/uma
afirmação/uma mensagem) sobre o acontecimento A. Isto é o que habitualmente
designamos por mensagem. A mensagem está inserida num círculo dividido em duas
partes: uma representada pelo S, que se refere ao sinal, à forma que a mensagem assume
e a outra parte representada por A, que se refere ao conteúdo da mensagem. Existem
vários S para comunicar A, e esta é uma das preocupações dos comunicantes: encontrar o
melhor S para apresentar ou comunicar A.
Não deve-se pensar que SA são dois conceitos completamente separados, no sentido que
apenas se reuniram para explicar a mensagem, eles são dois conceitos unificados porque
uma vez que escolhido S esse irá afetar necessariamente a apresentação de A – eles
mantém uma relação interativa e dinâmica.
É necessário deixar ainda esclarecido que A só existe depois de S; isto é nunca podemos
ter uma mensagem ou articulá-la e codifica-la ante da forma. Primeiro, existe a forma e
depois o conteúdo. Depois de a forma, é que podemos codificar e articular a mensagem
para que o recetor a descodifique e a compreenda.
Tanto na dimensão horizontal como na dimensão vertical a seleção é muito importante.
Na dimensão vertical, primeiro, selecionamos o meio – o canal/meio por onde se vai
exercer a comunicação. Depois, selecionamos a perceção A1. Tal como A1 não abrange e
é completamente tudo o que representa A, a perceção que vamos selecionar de A1
também nunca vai atingir a globalidade ou a plenitude. Temos de ter seleção e difusão.
A1 não representa tudo o que A é; A1 já foi modificado ou simplificados, logo o sinal ou a
seleção sobre A1 nunca será a globalidade ou plenitude de A1.
 Neste modelo, surge ainda um conceito importante: o acesso – este é o acesso que temos
aos meios/canais por onde se pode exercer a comunicação. Na dimensão vertical do
modelo diz-nos que A1 é uma seleção do acontecimento A; é importante saber que fez
esta comunicação para saber como é que a “imagem” dessa seleção é transformada em
SA. A1 é uma seleção, uma perceção, um resultado do acontecimento A, mas tanto um
como o outro dependem do meio ambiente que os rodeia.
 Na 3ª parte do modelo, também considerada uma dimensão horizontal, inicia-se quando o
que percebido por M2 (o que M2 recebe e percebe já foi selecionado por A1 e pelos
meios e que deu origem ao SA) não é o acontecimento A, mas SA sobre o acontecimento.
Impõem-se depois todos os processos iniciais. Convém sublinhar, uma vez mais, que o
significado não está “contido” na mensagem. Isto porque, o significado que é dado à
afirmação/mensagem/sinal sobre o acontecimento é dado de acordo com a cultura em
que M2 está inserido. São as suas crenças culturais que permitem que os conceitos
internos adquiram significado. Temos que deixar claro, que toda a mensagem pode
assumir múltiplos significados. Assim, a mensagem só assume forma depois de M2
interagir com SA (porque a perceção humana se faz de acordo com um processo de
interação ou negociação). Dessa interação dá-se origem ao SA1 – o significado da
mensagem (perceção que se tem do sinal ou afirmação sobre o acontecimento).
 Existe ainda um outro conceito também importante – o da disponibilidade: este ajuda a
determinar do que é percebido. É uma outra maneira de seleção, mas esta é feita pelo
comunicador. Ele decide aquilo que quer comunicar, o que ele seleciona é o como e a
quem quer transmitir a mensagem. Deste modo, o que o comunicador seleciona tem de
estar disponível para quem ou o quê que se vai transmitir a mensagem.
 O modelo alargado e os seus significados:
O modelo de Gerbner tal como o modelo de Shannon e de Weaver possibilita
extensões/alargamentos múltiplos tendo, em simultâneo, a presença de seres humanos e
mecânicos no processo.
 O modelo básico de Gerbner é uma relação triangular do acontecimento A, com a perceção
A1 e a afirmação sobre o acontecimento, SA. O significado era encontrado de forma
primária: Gerbner uniu A a SA com uma seta que designou como “qualidade de verdade”.
Ao alargar o seu modelo até M3, o recetor, fez com que este não pudesse acrescentar
esses fatores (a perceção e a “qualidade de verdade”) que determinam a significância à
perceção do recetor à mensagem transmitida.
 Gerbner vê a comunicação como a transmissão de mensagens, e apesar de ter visto para
além de A, levantando a questão do significado, nunca procurou resolver problemas do
saber, isto é, nunca procurou saber como o significado é construído. O autor deste
modelo toma S como garantido.
 Gerbner também se enganou ao afirmar que as duas dimensões horizontais são
semelhantes: a perceção que temos do acontecimento (algo da realidade exterior) não é
o mesmo que temos da mensagem.
 Contudo, o Modelo de Gerbner é o único que se aproxima da combinação das duas
correntes para o estudo da comunicação.

Edgar Morin, “Recetores Seletivos”, Project 124, Abril de 1978 in Comunicação


e Jornalismo, volume 1

 O autor deste pequeno texto começa por explicar já vai lá o tempo em que os
recetores de informação eram moldados pelos meios de comunicação, pela
propaganda e pela publicidade. É neste ponto que podemos e devemos mencionar a
primeira corrente – a Teoria dos Efeitos Totais e Ilimitados: esta teoria define que o
pensamento é construído de acordo com o que sai no âmbito das massas.
 Atualmente sabe-se e tem-se conhecimento do modo como os recetores assimilam as
informações que recebem, como as filtram, as rejeitam, as esquecem e as
transformam, isto é, o que o recetor decide fazer com a informação recebe e o modo
como vai interpretar essa informação. Mas interpreta essa informação de acordo com
as suas crenças culturais, com os seus valores sociais e os seus conhecimentos. É a sua
experiência cultural e toda a sua cultura que lhe vão dar a possibilidade de interpretar,
compreender e conhecer a informação que recebe bem como atribuir-lhe um
significado.
 Para além disto, no interior dos grupos sociais encontramos os tais mediadores de
opinião. Estes encontram-se entre a fonte e o recetor. Os mediadores de opinião são
os primeiros a serem bombardeados/atacados com informação, mas também o são
porque têm mais interesse pelos temas e pelas questões em causa que podem variar.
São os mediadores de opinião que nos indicam o caminho quando afirmam: “já viste o
filme daquele fulano?” ou “ tens de ler aquele artigo!”.
 É neste ponto que podemos de falar de duas outras correntes: a abordagem
empiroexperimental e a abordagem empírica de campo. Estas duas abordagens
assumem efeitos limitados.
 Toda a informação que recebemos e que não corresponde, isto é, que vá contra as
nossas crenças culturais é rejeitada, apesar do bombardeamento constante de
informação e até mesmo a informação que circula de boca em boca tem tendência
para neutralizar o que a imprensa, a rádio e a televisão nos dão. Isto acontece porque
somos portadores e possuidores de crenças culturas que se assumem como mais
influentes e poderosas que a própria informação que nos é dada pelos meios de
comunicação.
 Podemos definir informação como a noção socialmente dependente e que ocorre num
espaço de interlocução.
 Devemos ainda de abordar o problema da receção de informação ao nível da teoria da
informação.
 A teoria da informação define a informação como algo novo, algo desconhecido e
imprevisível que suscita uma surpresa ou liberta uma incerteza.
 Mas o puro desconhecido não existe, algo que seja 100% imprevisível, não é possível
existir algo que não se saiba ou que não se saiba por muito pouco.
 Toda a informação deve ser introduzido no que a teoria da informação chama de
redundância, mas que o autor do texto prefere chamar a estrutura do pensamento.
 Se a informação não for inserida na estrutura do pensamento ela não é apreendida e
acaba por ser esquecida.
 A informação só é importante para aqueles que não sabem ou que não têm nenhuma
opinião formada, sendo que é apenas veiculada pela pequena fração de indivíduos
hesitantes e inseguros, uma vez que aqueles que já sabem e têm uma opinião formada
apenas confirmam o que sabem e são convencidos do que já estão convencidos.
 Para que a informação se torne importante é necessário haver o mínimo de abertura.
Abertura no sentido de que os indivíduos têm ter a possibilidade de receber novas
informações e de aprender com essas novas informações permitindo que essas
informações possam mudar o seu modo de pensar. Não podemos ser tão “fechados” à
nova informação seja ela positiva ou negativa.
 Muitas vezes uma informação é aceite e válida para um grande número de pessoas,
mas tem tendência para ser caracterizada como improvável porque não se enquadra
na estrutura de pensamento dos recetores.
 Os indivíduos criam muitos meios para se defenderem – defendem-se das suas ilusões,
dos seus erros e muitas vezes defendem da sua própria experiência vivida.

Adriano Duarte Rodrigues (1991) – Introdução à Semiótica, páginas 12-21

 O autor do texto começa por definir o que é a semiótica: a semiótica estuda o


conjunto de significações (os significados estão presentes em todo o lado e são uma
realidade universal), compreende a totalidade da experiência humana e está limitada
pelos limites traçados pelas próprias fronteiras do mundo.
 O autor refere ainda uma corrente apelidada por pansemiótica – esta considera que
semiótica engloba todas as restantes disciplinas. A pansemiótica distinguiu uma
pansemiótica metafísica – considera que a experiência humana deve ser objeto da
semiótica e uma pansemiótica metodológica – considera que a experiência humana
também pode ser objeto da semiótica, embora possa ser objeto de outras disciplinas
com pontos de vista diferentes.
 Uma outra corrente delimitou dos limiares:
- O limiar inferior da semiótica, abaixo do qual estão as experiências e os
comportamentos instintos
- O limiar superior da semiótica, acima do qual estão as ideologias e as visões do
mundo.
 Limiar inferior da semiótica:
É no campo inferior da semiótica que se encontram os fenómenos sensoriais que o
homem partilha com os outros seres vivos. Falamos de sinais e não de signos.
 O sinal é um impulso de determinado estímulo do meio ambiente que desencadeia um
processo de transmissão que vai desencadear uma resposta adequada. É então, que
uma mensagem emitida por uma fonte de estímulos cujo efeito termina numa
resposta ou numa descarga de um destinatário. Podemos dizer que se trata de um
processo de natureza mecânica.
 Nestes casos, podemos falar de dispositivos, isto é, instrumentos que estão em
simultâneo dispostos e disponíveis para funcionar de uma maneira perfeitamente
regulada ou pré-determinada.
 Podemos dizer que estes sistemas funcionam assim: uma fonte produz um
acontecimento que aciona um dispositivo transmissor de um sinal de acordo com um
determinado código. O sinal, codificado, vai circular num canal apropriado, sendo
captado por um dispositivo recetor que descodifica o sinal e o envia a um destinatário
mecânico que produz uma resposta adequada.
 Quando apresentamos verbalmente o funcionamento da sinalização de um dispositivo
procedemos à significação linguística.
 Quando num dispositivo apenas houver dois acontecimentos possíveis, a informação
da mensagem do sinal emitido pelo emissor não está relacionado com as significações
que podemos associar a esses acontecimento; será apenas a medida de probabilidade
de uma acontecimento possível vir a ser efetivamente realizado.
 Assim, a informação é uma medida estatística da probabilidade de um determinado
acontecimento ocorrer de entre um número de acontecimentos possíveis. Assim,
quando menor for o número de acontecimentos possíveis, maior a probabilidade de
ocorrer e menor a informação obtida e vice-versa.
 A teoria do sinal ensina-nos algumas funções fundamentais:
- O código (o sinal e o signo ocorrem ao nível do código). Podemos chamar código a
quatro realidades diferentes:
1. Uma série de sinais regidos por leis da combinação interna (aspeto sintático)
2. Uma série de valores correspondentes ao surgimento de vários sinais (aspeto
semântico)
3. Uma série de possíveis respostas comportamentais por parte do destinatário de
uma série de sinais (aspeto pragmático ou comportamental).
4. A regras de associação de elementos da série 1 com elementos da série 2 ou 3
(noção de código no sentido restrito do termo).
 O código é um sistema de equivalências entre um sistema de sinais, um sistema de
valores e um sistema de comportamentos ou então entre um sistema sintático, um
sistema semântico e um sistema pragmático.
 O ruído – são as perturbações que ocorrem na transmissão de um sinal.
 A Redundância – os sistemas de informação habitualmente têm dispositivos de
redundância. Entendemos por redundância todos os dispositivos suplementares dos
sistemas de informação e tem em vista assegurar uma ou mais funções como:
1. Corrigir eventuais perturbações provocadas por ruídos
2. Aumentar a força do estímulo
3. Possibilitar a transmissão de informações suplementares, mais finas, do
acontecimento produzido na fonte
4. Manter disponíveis, no seio do sistema, outras possibilidades de sinalização, com
vista à ocorrência de informações virtuais.
 Estamos perante o domínio do sinal sempre que se verifiquem as seguintes
condições:
1. Uma fonte física de acontecimentos possíveis em que um código seleciona, para os
transmitir, certos acontecimentos julgados pertinentes;
2. Um destinatário é um dispositivo máquinico, um aparelho, que responde sempre de
maneira unívoca às mensagens recebidas;
3. O emissor e destinatário possuem em comum o mesmo código;
4. Nem o emissor ou o destinatário podem discutir o código porque é programado
 Sempre que estas condições se alteram deixamos de estar ao nível do sinal para
estar ao nível do signo. Estamos ao nível do signo que ocorre:
1. A fonte é um ser humano e assume indistintamente a função de fonte, destinador e
destinatário da mensagem;
2. O destinatário é um ser humano e confunde-se com o recetor (assume em
simultâneo o papel de emissor e de recetor);
3. Não existe um código unívoco; existe uma pluralidade de códigos que determinam o
sentido da mensagem e sempre que esses códigos não são inteiramente comuns ao
emissor e ao destinatário;
4. Em certas circunstâncias, emissor e destinatário discutem efetivamente o código e,
mesmo quando não o discutem, sabem que o podem fazer, sempre que o pretendam.
 Quando se verificam estas condições, estamos no campo da semiótica enquanto
disciplina inserida no conjunto das ciências humanas no sentido estrito.
 Seria errado estabelecer uma fronteira entre o campo do sinal e o campo do signo. É
que os signos, embora seja redutíveis do domínio do sinal, também assentam em
entidades que funcionam segundo a teoria do sinal.
 A teoria do sinal, centrada na teoria dos sistemas e na teoria da informação, contribui
para a compreensão da esfera infra-semiótica que encontramos na base dos signos.
Permite precisar o modo de funcionamento das figuras que os integram e utiliza
noções como as de sistema, código, ruído, redundância na compreensão das entidades
sensoriais que intervêm também na manifestação semiótica da significação.
A teoria do sinal dá igualmente conta de processos de natureza sintoreal, sob a forma
de indícios.
 O limiar superior da semiótica tem em cima de si uma vasta esfera, uma espécie de
magma mental sem forma definida. Este campo é inominável e inexplicável. Assume as
ideologias e as visões do mundo, compreendidos de forma igual como aspetos
funcionais das obras culturais.
 Existe um relativo paralelismo entre o campo supra-semiótico e o campo infra-
semiótico: abrangem ambos a matéria mítica-ideológica que se alimenta o conteúdo
significado pelos signos.
 O campo semiótico encontra-se entre o campo do sinal e o campo funcional e mítico-
ideológico.
 Os objetos culturais escapam à teoria da informação e ao campo do sinal. O objetos
culturais não se limitam a desempenhar uma função meramente utilitária, não existem
apenas para desempenhar uma determinada função também desempenham um
significado.
 Assim, a semiótica tem como objeto de estudo os componentes significantes das
manifestações culturais enquanto deixa para as outras disciplinas humanas os outros
aspetos dos objetos e das manifestações culturais.
 Trata-se, então, de perspetivas inteiramente sobrepostas.
 Toda e qualquer ação humana é assim significante e expressiva.
 Podemos definir o âmbito da semiótica como o estudo da forma de expressão e da
forma do conteúdo que os objetos culturais apresentam.

Adriano Duarte Rodrigues, “Comunicação e Cultura”, Capítulo III – a


Comunicação Humana

 O autor defende que a sobrevivência dos seres humanos depende das trocas que
estabelecem com o meio ambiente e que também estabelecem com os outros seres
vivos. Estas trocas estão inscritas nos quadros biológicos pertinentes e obedecem a uma
esquema comportamental de natureza mecânica, que a teoria dos sistemas defende
como uma relação entre um estímulo e uma resposta.
 O autor acrescenta que se somos portadores de dispositivos comportamentais
automáticos, então, os mecanismos de transação entre os seres vivos e o meio ambiente
são indispensáveis.
 Adriano Duarte Rodrigues afirma que os seres vivos têm alguns dispositivos
comportamentais automáticos que garantem a sobrevivência dos indivíduos (como a
fome e a sede) e outros dispositivos comportamentais automáticos que garantem a
sobrevivência da espécie (como o instinto sexual).
 Para que os seres vivos sejam capazes de sobreviver necessitam de dispositivos instintivos
e são estes que permitem que os seres vivos percecionem sensorialmente os sinais
enviados pelo mundo que os rodeia e permitem também que façam uma correta
interpretação desses sinais e que respondam de forma adequada aos estímulos que
recebem do mundo que os rodeia.
 Os dispositivos instintivos permitem que os seres vivos estabeleçam relações e
mecanismos de transação com o mundo físico que os rodeia e com os seres vivos que
coabitam no mesmo mundo ecológico.
 Estes processos de transação só são possíveis porque o mundo natural se assume como
uma fonte de estímulos que se convertem em sinais e são captados sensorialmente pelo
recetor que responde a esses sinais de forma correta.
 Esta transação é indispensável à manutenção, preservação e reprodução dos organismos
individuais e às outras espécies biológicas, isto porque os sinais se transformam numa
realidade sensorial e garantem que o mundo emita os sinais aos destinatário, neste caso,
aos seres vivos, garantindo ainda, a sua sobrevivência.
 Estes processos obedecem a uma lógica comportamental, no sentido, de que os seres vivos
regem os seus comportamentos que adotam de acordo com os sinais que percecionam
do mundo que os rodeia (é este mundo que emite esses sinais aos seres vivos) e que
respondem de forma mecânica, automática, espontânea e imediata aos estímulos que o
mundo envia.
 Apesar de os seres humanos terem idênticos dispositivos instintivos de transação com o
meio ambiente, as respostas que dão aos estímulos que provem do mundo que os rodeia,
não são respostas determinadas. É aqui que podemos falar de pulsões.
 As pulsões são modalidades específicas dos dispositivos instintivos do homem e uma
modalidade virtual que exige a concretização cultural.
 Deste modo, os seres humanos assumem a capacidade de se relacionarem com o mundo
que os rodeia, com os outros e com eles próprios segundo signos culturais que cria e
elabora de acordo com uma determinada lógica, diferente das leis dos comportamentos
animais (estes regem-se de acordo com os seus instintos e não lhe podem fugir).
 Neste sentido, os signos estão destinados a atualizar culturalmente as pulsões que são
responsáveis pelo desempenho das funções das relações.
 A autonomia que os seres humanos têm em relação aos sinais que o mundo que o rodeia
envia, permite que sejam capazes de transformar os sinais em signos, isto é, substituir os
sinais por signos.
 Contudo, estes relevam uma diferença: os sinais só podem existir na presença de estímulos
que irão dar origem à produção de uma resposta adequada, enquanto os signos são
concebidos culturalmente e só podem existir na ausência de uma fonte de estímulos
sensoriais.
 Os signos representam o meio ambiente e intervêm na elaboração do mesmo,
convertendo-o numa realidade cultural, transformando-a no que hoje conhecemos como
o nosso mundo.
 Existe uma separação impossível de transpor entre os seres humanos e o meio ambiente,
mas essa separação pode ser preenchida com os signos culturais.
 É então, que o homem assume a capacidade de comunicar com o meio ambiente tendo a
possibilidade de o transformar porque é capaz de inventar mediações simbólicas de
natureza cultural. A linguagem é um dos meios que leva o ser humano a entrar em
contato com o meio ambiente.
 O homem é ainda capaz de elaborar um mundo só para ele, projetar esse mundo perante
ele e ainda dominá-lo, enquanto os outros seres vivos estão condicionados e submissos
aos instintos inatos com que vem ao mundo.
 Os signos assumem ainda uma outra propriedade: a de serem capazes de se
representarem a si próprios. A linguagem é uma função unicamente humana. Mas faz
parte do sistemas dos signos, isto porque é capaz de explicar os outros objetos mas
também consegue representar-se e explicar-se a si mesma.
 Podemos, então, definir comunicação humana como o processo em que ocorre a interação
de mensagens consideradas estímulos que dão origem a respostas representadas pelos
destinatários; respostas essas que são dadas de acordo com os reflexos condicionados.
 A comunicação humana é semelhante à comunicação e aos mecanismos das plantas e dos
animais.

Adriano Duarte Rodrigues, “Comunicação e Experiência” em “Estratégias da


Comunicação”, páginas 67-73

 Adriano Duarte Rodrigues inicia este texto a explicar o que entendemos por comunicação.
Neste sentido, afirma que a comunicação são os processos de transação entre os
indivíduos, a interação entre os indivíduos e a natureza, a interação entre os indivíduos e as
instituições sociais bem como o relacionamento que é estabelecido consigo próprio.
 O autor deixa claro que os processos comunicacionais abrangem domínios bastantes
divergentes mas que são eles que compreendem os atos discursos como o silencio, os
gestos, os comportamentos, os olhares, as posturas, as ações e as omissões.
 Afirma que para compreendermos os atos comunicacionais devemos/podemos recorrer as
duas dimensões:
a dimensão expressiva – refere-se à elaboração de manifestações significantes.
a dimensão pragmática – refere-se à prossecução das transformações do mundo que nos
rodeia que podem tratar-se do mundo físico natural ou do mundo institucional.
 O autor define como ato comunicacional a palavra que se esperava que fosse dita mas que
não chegou a ser afirmada; a ação que foi sugerida ou que se esperava que se manifesta-se
mas não chegou a ser realizada; a omissão e o silêncio que afirma que podem ser mais
fortes do que uma palavra proferida. Todos estes atos comunicacionais exercem domínio
na comunicação e transformam as interações.
 Adriano Rodrigues refere que existem critérios para a averiguar a existência de processos
comunicacionais. Um desses critérios e um dos mais importantes é a expetativa a que
responde, a resposta pode ser positiva ou negativa.
 Um outro critério que ajuda também a saber se existe um processo comunicacional e que
está associado à prova de que o processo comunicacional se realizou é a sanção – pode ser
positiva ou negativa e recai sobre o interlocutor.
 Neste sentido, não dizer ou não fazer algo esperado pode merecer a aprovação ou a
reprovação de acordo com o sentido da expetativa. Mas, tanto no caso de a sanção ser
positiva como negativa, se existir sanção indiscutivelmente ocorreu um processo
comunicacional.
 A expetativa e a sanção são dois indicadores fundamentais na natureza do processo
comunicacional.
 As relações comunicacionais são de natureza ambivalente, não porque são independentes
das respostas seres negativas ou positivas mas porque se encontra acima e abaixo das
instituições das regras que regulam as relações comunicacionais.
 As regras, por um lado, são instituídas pelos processos comunicacionais, enquanto por
outro lado, dão sentido e regulam os processos comunicacionais.
 Seguindo este raciocínio, um ato comunicacional é muito mais do que aquilo que
observamos entre os interlocutores, numa relação comunicacional (de natureza
ambivalente) porque são as regras que dão sentido ao que foi dito e feito e significado às
mensagens e ações trocadas.
 A comunicação não se faz apenas entre dois interlocutores, existe uma terceira instância –
a instância institucional.
 A instituição faz parte dos processos e das relações comunicacionais porque são elas que
normalizam, regulam e castigam de acordo com as regras impostas tudo o que foi dito e
feito e todas as mensagens e ações trocadas pelos protagonistas.
 A relação dos interlocutores e da instituição é uma relação simbólica, no sentido de que é
prévia à constituição e reconhecimento dos significados por parte dos protagonistas. Esta
relação impõe-se nos processos comunicacionais dos interlocutores e remete para modelos
de natureza cultural.
 A descoberta desta terceira instância conduziu à distinção da comunicação humana e da
teoria do sinal. O critério que se encontra nesta distinção é de natureza
metacomunicacional que os processos da comunicação humana comportam de forma
inevitável.
 O trabalho metacomunicacional nem sempre é explícito, no sentido em que os
interlocutores podem explicitar (ou não) o princípio que dá sentido às relações
comunicacionais presentes ou passadas. Mesmo quando o trabalho metacomunicacional
não é explicitado, ele está disponível para o ser e os interlocutores sabem disso. É este
saber que garante a natureza metacomunicacional dos processos da comunicação humana.
 O processo metacomunicacional é de natureza genético e é a instituição que lhe confere
sentido definindo o que obriga ou proíbe, o que torna plausível ou não plausível,
necessário ou contigente aquilo que constitui os processo de transação. Deste modo, só se
explicita o processo comunicacional quando o sentido ou a legitimidade do mesmo está em
causa ou quando o sentido se perdeu ou entro em crise.
 Quando se explicita o trabalho comunicacional está a expor-se o mundo interior a todos.
 É aqui que podemos falar de uma articulação do trabalho metacomunicacional e o trabalho
da comunicação.
 Por outro lado, só existe processos comunicacionais quando cada um dos interlocutores vê
a sua experiência individual transformada pelo confronto com a experiência do outro.
 Na comunicação, a elaboração da experiência e o seu horizonte é feita pela pergunta que
está subjacente ao processo de transação. O interlocutor procura explicitar a pergunta
quando questiona o sentido daquilo que foi dito: “Porque dizes isso?”.
 Mas, a elaboração da experiência e do seu horizonte está igualmente subjacente à
dimensão pragmática quando procura o sentido da ação humana: “Porque fazes isso?”.
 É então, que a construção do horizonte do acontecimento de qualquer processo
comunicacional só pode ser feita através da linguagem porque é a única modalidade com
capacidade metacomunicacional.
 O autor do texto afirma que todas as perguntas feitas dão origem à elaboração de novas
experiências. Assim cada pergunta assume duas características importantes: a
singularidade e a imprevisibilidade.
 O reconhecimento da familiaridade da experiência realizada no processo comunicacional é
tanto mais esperado quanto mais funcional e ritualizada for a relação institucional
enquanto é menos esperando quanto menos funcional, ritualizada e mais imprevisível for a
relação institucional.
 As relações dos protagonistas da comunicação estão presentes ao logo do processo de
troca de mensagens e ações. As relações encontram-se nos processos de transação.
 Podemos, então, concluir que o trabalho metacomunicacional consiste num processo de
moldagem do que foi dito e feito, das marcas da pessoa, do tempo, do espaço e do modo.
 O trabalho metacomunicacional é fundamentalmente de natureza estratégica.
Roman Jakobson, Fatores e funções do processo linguístico ou do ato de
comunicação, in Comunicação e Jornalismo (1970)

 No estudo da linguagem temos de ter em conta os fatores e as suas respetivas funções no


processo linguístico.
 O autor deste texto explica que o processo se efetua da seguinte maneira: o destinador
envia uma mensagem ao destinatário. A mensagem para ser operante, tem de remeter para
um contexto que tem de ser compreendido pelo destinador e pelo destinatário e ter de ser
verbal ou suscetível e o ser. A mensagem requer ainda um código que tem de ser comum ao
destinador e ao destinatário. Para além do contexto e do código, requer ainda o contato
(canal físico e conexão psicológica) que deve ser estabelecido entre o destinador e o
destinatário. É o contato que mantém e estabelece a comunicação.
 Estes fatores têm uma função linguística que os representa no processo linguístico. Mas não
podemos distingui-los separadamente a 100% uma vez que se o fizéssemos, seria difícil
encontrar mensagens que desempenhassem apenas uma só função.
 A função referencial refere-se/está ligada ao contexto. A estrutura verbal depende desta
função. Esta função é ainda importante em inúmeras mensagens. O contexto é algo exterior
à mensagem. Contudo, temos ainda que considerar as outras funções por muito secundárias
que sejam.
 A função emocional está centrada no destinador porque é quem envia a mensagem. O
destinador coloca as suas emoções, atitudes, estatuto e classes quando envia a mensagem.
Torna, assim, a mensagem exclusivamente pessoal. De tal modo que, visa a ver a expressão
do sujeito relativamente ao que foi dito. Dá a impressão de uma emoção, verdadeira ou
fictícia. Há ainda, segundo o autor do texto, uma elemento que dá cor e enfase ao diálogo,
são as interjeições. Estas permitem-nos compreender melhor o sentido e o significado do
diálogo verbalizado. A informação, nesta função, assume dois sentidos: pode ser uma
informação fonética (uma vogal assume dois sentidos opostos) e uma informação de ordem
emotiva (as mesmas vogais as emoções só são manifestadas depois de pronunciadas).
 A função apelativa está orientada para o destinatário. Assume expressão gramatical no
imperativo e no vocativo. As frases imperativas e declarativas são diferentes, no sentido, que
umas podem e outras não podem ser submetidas à experiência de verdade. Isto no sentido,
que as frases imperativas assume uma ordem como: “Bebe!”, e não podem ter uma resposta
como “é verdade ou não?”, apenas as frases declarativas como “bebia-se” é que podem ser
submetidas à experiência de verdade. Também só as frases declarativas podem ser
convertidas em frases imperativas ao contrário das frases imperativas que não podem.
Assim, a função apelativa assume como objetivo o efeito da mensagem no destinatário.
 O modelo linguístico era limitado apenas a estas três funções, enunciando, em particular,
por Buhler. Neste sentido, os vértices do modelo triangular, assume no primeiro, a primeira
pessoa – o destinador – a segunda pessoa – o destinatário – e a terceira pessoa
propriamente dita – “alguém” ou “algo que se fale”.
 Foi este modelo que permitiu averiguar ainda a existência de outras três funções linguísticas
que também devem ser consideradas.
 A função fática está concentrada no contato. Existem, em algumas vezes, “fórmulas” que
surgem como diálogos completos com o objetivo de prolongar a comunicação/conversa,
como por exemplo: “Acho que estamos aqui. Sim, creio que é aqui que estamos. Sim,
estamos aqui”. É então essas fórmulas prolongam, complementam ou interrompem as
comunicações, ou verificam se o sistema está a funcionar correta ou chamam para a atenção
do interlocutor de algo que está acontecer. Esta função é a única que os seres humanos têm
em comum com os pássaros falantes. É ainda a primeira função verbal que as crianças
desenvolvem porque têm tendência para comunicar primeiro do que enviar e receber
mensagens que contém informação.
 A função metalinguística está orientada para o código. É nesta função, que o destinador
e/ou destinatário usam o código para verificar a ligação e o código estão a ser usados de
forma correta. Como por exemplo: “Estás a ouvir-me?”; “Compreendes o que te estou a
dizer?”.
 A lógica moderna assume dois níveis de linguagem:
- A linguagem-objeto: falando dos objetos.
- A metalinguagem: falando da linguagem. É uma atividade que os seres humanos fazem
continuadamente nos seus dias-a-dias e não têm consciência desse ato.
 A função poética concentra-se na mensagem. A mensagem assume a sua importância na
própria mensagem. É a função dominante e determinante do processo linguístico, apesar de
noutras atividades verbais revelar-se secundária. É ainda esta função que aprofunda a
dicotomia entre os sinais e os objetos.
 Em alguns casos, quando dizemos, por exemplo: “Joana e Margarida vêm?”, o interlocutor
não di-lo com o objetivo de dizer de acordo com a ordem alfabética, mas fá-lo devido à
coordenação sequencial e fá-lo sem intenção. Quando o interlocutor precede a esta tarefa
na linguagem recorre primeiro palavra mais pequena a configuração possível da mensagem,
mas fá-lo sem conseguir explicar.
 Há ainda que acrescentar que a seleção e a combinação são dois elementos fundamentais na
comunicação verbal presente na função poética.

Stephen LittleJohn, “Fundamentos Teóricos da Comunicação Humana” (Theories


of Comunication, 1978), páginas 152-159

 Este texto remete para a explicação da Teoria da Informação.


 A Teoria da Informação é a perspetiva que se concentra na medição de informação; trata de
estudos quantitativos de informação em mensagens; trata do fluxo de informação entre o
emissor e o recetor. Esta teoria da informação permite-nos compreender melhor a
comunicação social.
 Os pais da Teoria da Informação são Claude Shannon e Warren Weaver.
 Weaver desenvolver três níveis de interesse:
- O nível sintático – preocupa-se com a exatidão da transmissão de mensagens;
- O nível semântico – trata dos significados da informação para a fonte e para o recetor;
- O nível de eficácia – trata da influência ou efeitos da informação no recetor.
 Podemos caracterizar a informação como uma medida de incerteza ou entrópica numa
situação. Isto é, a entropia é a ausência de organização, caracterizada pela imprevisibilidade
e consequentemente dá origem à incerteza. Neste sentido, uma situação totalmente
entrópica é uma situação com menor organização, elevada imprevisibilidade e incerteza
porque não sabemos o que poderá acontecer, seja no segundo, minuto ou hora a seguir,
tornando tudo bastante incerto. Assim, quando maior entropia numa situação, menor a
organização, menor a previsibilidade e maior a incerteza.
 Tudo isto está relacionado com a informação, no sentido, que quanto maior entrópica for
uma situação mais informação está presente. Em sentido oposto, uma situação
completamente previsível não tem nenhuma informação presente. Deste modo, a
informação diz respeito à quantificação de estímulos e sinais numa situação.
 Podemos ainda dizer que a informação é uma função do número de mensagens possíveis
para reduzir a incerteza numa situação.
 A informação também pode ser considerada uma função do número de alternativas ou
escolhas que estão à disposição do individuo para predizer o resultado ou o desfecho da
situação.
 Neste sentido, quando maior o número de mensagens possíveis que o interlocutor possuí,
maior a capacidade para prever o desfecho ou resultado de uma situação.
 Podemos então afirmar e definir a informação como uma medida estatística de
probabilidade de um determinado acontecimento ocorrer entre um número de
acontecimentos possíveis.
 Um outro conceito que esta teoria desenvolve é a redundância. A redundância é o inverso
da entropia. É a proporção de previsibilidade e uma medida de certeza. Numa relação, se
uma alternativa resulta de outra, ela é previsível, isto é, redundante. Assim, a redundância é
o grau de previsibilidade numa situação ou numa mensagem.
 Shannon e Weaver desenvolveram um esquema/modelo básico para a Teoria da
Informação:
Fonte – Transmissor – Canal – Recetor – Destino
Fonte de Ruído
 A comunicação inicia-se na Fonte. A Fonte seleciona uma mensagem que consiste nos signos
e envia-a ao transmissor. O transmissor recebe a mensagem selecionada pela fonte e
converte-a em sinais (codifica a mensagem). Esses sinais são enviados a um canal que os
envia ao recetor. O recetor descodifica os sinais e reconstrói a mensagem. Essa mensagem é
enviado ao destino que produz uma resposta adequada. O ruído é a perturbação do canal
que distorce ou massacra qualquer sinal.
 Ocorrem dois problemas na transmissão de mensagens:
- a exatidão
- a capacidade do canal
 Na transmissão de mensagens, o problema é sempre o mesmo: reconstruir a mensagem
com a mesma exatidão (enviada pela fonte) no destino. Se não fosse a presença de ruído, a
exatidão e a mensagem estavam asseguradas.
 A redundância ajuda a superar as dificuldades ou deficiências geradas/produzidas pelo ruído.
Neste sentido, o ruído, massacra, substitui ou distorce o sinal, e a redundância permite ao
recetor corrigir ou preencher os estímulos distorcidos ou que estão em falta. Deste modo, o
ruído assume-se como uma incerteza indesejada e não pretendido pela fonte, enquanto a
redundância se assume como uma previsibilidade desejada.
 Outro problema na transmissão de mensagens é a limitação da transmissão que é a
capacidade do canal. Esta é definida como a quantidade máxima de informação que pode
ser transmitida por um canal por segundo.
 A transmissão envolve sempre uma codificação, e esta codificação não pode exceder a
capacidade máxima do canal. Significa, aqui, também, que a utilização da redundância ajuda
a superar os problemas do ruído. Mas, se houver utilização de redundância excessiva, a
transmissão torna-se não eficaz, mas se a redundância for insuficiente, a transmissão torna-
se inexata.
 Esta teoria levanta a presença de um outro conceito: a informação semântica.
 A Informação semântica reduz a informação transmitida por uma mensagem. Neste sentido,
acrescenta o elemento humano na compreensão e interpretação da informação numa
situação.
 A informação semântica diz respeito a algo específico de uma situação. Está direcionada
para o conhecimento do individuo. Assim, o individuo da totalidade de informação recolhe
apenas o número suficiente de alternativas/escolhas percebidas por si e que o vão ajudar a
compreender e a interpretar a informação nessas situação.
 Em suma, a informação semântica é a quantidade de informação transmitida por uma
mensagem, mas quando transmitida a uma pessoa, a informação é removida, reduzida.
 O efeito de receber mensagens contribui para o efeito de redução da incerteza numa
situação.
 Generalizações que se destacam da Teoria da Informação:
- A informação é veiculada por mensagens;
- A informação produz-se num processo de realização de escolhas;
- A informação é suscetível de ser transmitida;
- A informação reduz a incerteza de uma situação;
- A informação altera o estado de organismos (tem impacto nos recetores).

Modelos da Comunicação
Modelo Orquestral, Paul Watzlawick
O Modelo Matemático de Shannon e Weaver é abandonado, passando a ser destacado o Modelo
Orquestral segundo a Escola de Palo Alto (ou Colégio Invisível).
 Deixa-se a noção de que a comunicação é a transmissão de mensagens, para se assumir e focar-
se na comunicação como um processo relacional. Isto através da Cibernética e da Teoria dos
Sistemas.
 A Escola de Palo Alto é constituída por um conjunto de investigadores, provenientes de várias
áreas do conhecimento, que estudam a comunicação interpessoal, apoiando-se na Cibernética e
na Teoria Geral dos Sistemas.
 Com este modelo, a comunicação é estendida à generalidade do comportamento humano.

NOBERT WIENER (1948) – CYBERNETICS

 Este autor estudou como é que a trajetória anterior explicava a trajetória posterior.
 A mensagem transmitida pelo emissor ao recetor vai influenciar o comportamento do recetor,
por outro lado, o recetor também influência o emissor porque se trata de um processo de
transmissão de informação através de uma lógica circular.
 A CIBERNÉTICA introduz a noção de circularidade. A ideia-chave é a que todo o efeito
reage sobre a sua causa, sendo introduzidos os conceitos de feedback e retroação (do
efeito sobre a causa).
 A reacção do receptor à mensagem e a sua influência no emissor é importante. “Todo o
efeito retroage sobre a sua causa: todo o processo deve ser concebido segundo um
esquema circular.”
 O processo deve ser visto como um esquema circular. A partir da ideia de retroação, a
linearidade de Shannon e Weaver torna-se ultrapassada.
 É então, que esta concepção se torna possível devido à descoberta da retroalimentação
(feedback). Uma cadeia em que o evento A gera o evento B e este o evento C e por sua
vez provoca D e assim por diante. Deste modo, assume propriedade de um sistema
circular e funciona de um modo completamente diferente – manifesta um comportamento
que é, essencialmente, equivalente aos fenómenos que desafiaram a análise em termos de
um estrito determinismo linear.
 O feedback pode ser positivo ou negativo. O feedback positivo conduz a mudanças, isto
é, à perda de estabilidade ou equilíbrio. O feedback negativo assume um papel
importante na realização e manutenção da estabilidade nas relações.
 Não podemos encarar a retroalimentação negativa como desejável e a positiva como a
desintegrada. O principal ponto é que os sistemas interpessoais podem ser encarados
como circuitos de retroalimentação, dado o comportamento de cada pessoa afeta e é
afetado pelo comportamento de cada uma das outras pessoas.
 A admissão (input) num tal sistema pode ser ampliado e redundar em mudança ou pode
ser neutralizada para manter a estabilidade.
 Podemos definir, então, corretamente, a retroalimentação como o segredo da atividade
natural. A lógica da retroalimentação é descontínua.
 A Cibernética olha para o processo como um tubo evidenciando relações e não
separações. Na comunicação, especialmente na comunicação humana, há uma interação,
uma troca, há sempre uma adaptação a cada situação.

MORRIS

Este autor desenvolveu também um estudo sobre a comunicação na qual a definiu subdividida
em três áreas:
1. Área da Sintática – preocupa-se com problemas na transmissão de informações. Esses
problemas residem no ruido, na redundância, no código, no canal, na capacidade, entre outros.
2. Área da Semântica – preocupa-se com o significado. Define que sempre que o emissor e o
recetor pretendam iniciar um sistema comunicacional devem previamente concordar com o
significado dos símbolos, caso contrário, ficam condicionados à exatidão sintática.
3. Área da Pragmática – preocupa-se em como a comunicação afeta o comportamento. É
importante gerar a nossa atenção para o efeito da comunicação tanto no recetor como no
emissor.
Estas três áreas são interdependentes.

Este grande autor leva-nos ainda a definir pontos essenciais para a compreensão da
comunicação:
 Sendo a matemática a disciplina mais imediatamente interessada nas relações entre
entidades e não na natureza destas, conduz-nos à definição de variável: não possuem
significado próprio; elas são significativas nas suas relações mútuas.
 A relação entre as variáveis constitui o conceito de função: são sinais que representam
uma ligação destituída de todas as características de grandeza, formato e significado
singular, uma infinidade de posições possíveis e um conjunto unificado.
 Um outro conceito é também nomeado e de máxima importância: a redundância
pragmática – é semelhante à redundância sintática e semântica, deste modo, a
redundância pragmática é uma vasta soma de conhecimento que nos permite pautar,
avaliar e prever os nossos comportamentos e os dos outros no quando de cada cultura –
avaliar o nosso comportamento e o dos outros retoma para o jogo das expetativas. É
ainda, nesta área, que se estamos inconscientes das regras que devem ser seguidas na
comunicação bem-sucedida ou na comunicação perturbada que viola as regras.
 Somos constantemente afetados pela comunicação e até a nossa própria consciência
depende da comunicação.
 As regras da comunicação existem e somos regulados por elas mas sem termos
consciência disso.
 Estamos em constante comunicação e somos incapazes de comunicar sobre comunicação.
 O autor sugere ainda o conceito de cálculo – é um método que assenta no emprego de
símbolos, cujas leis de combinação são conhecidas e gerais e cujos resultados admitem
uma interpretação coerente.
 Há ainda um conceito bastante primordial e importante que deve ser mencionado: a
metacomunicação – quando usamos a comunicação para comunicar sobre comunicação.
Na interação humana e na sequência de comportamentos comunicacionais o que interessa
é quais as regras dessa sequência da interação humana e é possível formular enunciados
metacomunicacionais.
 O autor assume ainda o conceito de caixa escura (BLACK BOX) – este conceito tem a
vantagem de que podemos limitar-nos, apenas, às relações observáveis de admissão-
saída, isto é, à comunicação. Tal abordagem caracteriza uma importante tendência
recente na psiquiatria, no sentido, de considerar sintomas como uma espécie de admissão
no sistema familiar, em vez de serem uma expressão de conflito intrapsíquico.
 A questão de saber se tal troca de informação é feita de forma consciente ou inconsciente
perde importância, porque essa intenção/conhecimento baseia-se na nossa avaliação dos
motivos da outra pessoa e em suposições do que se passa na cabeça dela.
 Todo o presente e passado das experiências de um individuo está presente nas relações
existentes com as outras pessoas.
 É sempre importante saber o “porquê” de um comportamento e o “para quê?” pode
fornecer uma resposta válida.
 Não existe princípio e fim num círculo. (isto surge no sentido da interação humana,
quando mabas as pessoas A e B pretendem estar apenas reagindo ao comportamento do
parceiro, sem se aperceberem de que influenciam também o parceiro pela sua reação).
MODELO TELEGRÁFICO VS MODELO ORQUESTRAL
 O modelo Telegráfico dá a ideia de que a comunicação é vista como a transmissão de
informação de um ponto para o outro e pode voltar, ou seja, assume um princípio e um
fim.
 O Modelo Orquestral afirma que a comunicação deriva de vários canais e não de um só:
ou seja, a comunicação é transmitida através de vários canais, não tendo nem principio
nem fim.
 No Modelo Orquestral existe um maestro que orienta os músicos, dá-lhes instruções e
tem uma partitura que os ajuda. Na comunicação humana não existe um maestro que a
oriente. Chega-se à conclusão que a comunicação se rege por uma Gramática Invisível
da Comunicação – isto é as regras da comunicação que estão presente em todas ou na
maior parte das situações e que regem a nossa comunicação mas não temos consciência
disso. Isto é a metáfora da orquestra:

METÁFORA DA ORQUESTRA
A Escola de Palo Alto metaforiza a comunicação a uma orquestra, opondo-a à ideia de
transmissão de informação proposta pelo modelo de Shannon e Weaver. Nesta afiguração, a
comunicação é entendida como um sistema de múltiplos canais, no qual o actor social participa,
quer queira, quer não. Este pertence à comunicação como um músico pertence à orquestra.
Existem semelhanças e diferenças entre a comunicação e a orquestra.

Comunicação VS Orquestra
O indivíduo executa comportamentos, estes regulados por códigos;
O músico executa a partitura, esta regulada pela linguagem musical;
Variações presentes no código verificam-se nos comportamentos;
Variações presentes na linguagem musical verifica-se na partitura;
Os códigos são aprendidos conscientemente e não são passíveis de serem escritos
A linguagem musical é aprendida conscientemente e passível de ser escrita
Não há maestro;
Há maestro

A metáfora da orquestra tem, assim, como objetivo principal mostrar que cada indivíduo participa
na comunicação, não podendo ser considerado como início ou fim.

 Estes autores propõem-se apresentar esta Gramática Invisível da Comunicação. Defendem


ainda que desde pequenos que estamos expostos a estas regras da comunicação.
 Na pragmática da comunicação: a comunicação afeta o comportamento e isto conduz ao
efeito pragmático da comunicação
 Comunicação = Comportamento
 Todo o nosso comportamento é comunicação
 Como atores sociais, quer queiramos quer não queiramos, participamos em todos os
momentos de comunicação: o silêncio, a linguagem, a ausência, entre outos, todos são
comunicação, todos assumem valor de importância.
 Tudo o que se diz e faz é comunicação.
 Vemos a comunicação como transmissão de informação num dando contexto. Neste sentido,
estes autores libertam o conteúdo da informação para um contexto: saímos do micro para o
macro. Chama atenção do que está em causa é o conteúdo/significado da mensagem mas
também o contexto em que essa mensagem ocorre.
 A visão destes autores está orientada no contexto da mensagem.
 Só valorizamos o conteúdo porque é novidade e nos é desconhecido. Este nunca vem
sozinho. O modo como o conteúdo é verbalizado assume diferenças, apesar de se querer
dizer o mesmo.
 O processo da comunicação é eficaz quando o recetor faz o que o emissor pretende. Mas os
autores defendem que se estudarmos os efeitos do recetor temos de estudar os efeitos do
emissor. Logo, abandonam a relação entre estímulo e resposta que o processo de informação
defende.
 Ao avaliarmos os efeitos do recetor e do emissor encontramos a Gramática Invisível da
Comunicação.
 Esta perspetiva pragmática destes autores é diferente e oposta às outras perspetivas porque
vê a comunicação como um processo circular enquanto as outras vê-a como um processo
linear.
 É então que a comunicação é um ato verbal, intencional, voluntario e consciente.
 Mas também é a mimica, a gestualidade, a postura, a relação entre os interlocutores, as
inflexões de voz, a cadência, o ritmo, a entoação das palavras.
 TODO O NOSSO COMPORTAMENTO (e não só o discursivo) É COMUNICATIVO
 “Entre os milhares de comportamentos corporais possíveis quais são os que cada cultura
pode considerar como sendo significativos?”
 Para estes autores a comunicação é a utilização de todos os códigos e como existe mais do
que um código é necessário analisar o contexto.
 A expetativa é um dos fatores que se presenceia na comunicação. Temos expetativas em
relação a tudo.
 Presença física dos interlocutores
 Cada individuo participa na comunicação. Não é a origem ou o fim da comunicação.
 A teoria ocorre em processo de natureza em que são todos simultaneamente emissores e
recetores.
 São emitidos comportamentos a todo o momento.
 E e R não são pessoas – são lugares que as pessoas ocupam simultaneamente no
decurso de uma interacção
 A atividade não está só do lado daquele que fala; o outro, estando em silêncio ou
tendo outro comportamento, está a ser também emissor para além de recetor.
Gramática Invisível da Comunicação
Axiomas Conjeturais da Comunicação

1º AXIOMA – IMPOSSIBILIDADE DE NÃO COMUNICAR


O comportamento não tem oposto, não existe o ‘não comportamento’, isto é, um individuo não
pode não se comportar. Se todo o comportamento é comunicação, o individuo é incapaz sendo
até mesmo impossível não comunicar. Comunicamos sempre, atividade ou inatividade, palavras
ou silêncio, tudo possui um valor de mensagem; influenciam outros e estes outros não podem
não responder a essas comunicações, e, portanto, também estão a comunicar. Manifestamente,
existe sempre comunicação – existe sempre troca de mensagens, mesmo quando comunicamos
que não queremos comunicar.
Podemos dizer que a “comunicação” acontece quando é intencional, consciente e bem sucedida,
ou seja, quando ocorre compreensão mútua, caso contrário, é uma comunicação mal sucedida.
Quando dizemos algo a alguém, uma simples frase, pode adotar múltiplos significados e sentidos
e sem nunca termos a certeza de qual é o mais correto a adotar para compreender o que foi dito,
torna-se possível negar qualquer ou todos os aspetos de uma mensagem. Mas se a pessoa que
verbalizou a frase a esclarecer, seremos capazes de compreender os aspetos (alguns ou todos)
do que foi dito.
Em algumas situações tentamos negar algo mas nem sempre sabemos o que negar ou estamos a
negar sem saber que estamos a negar, é então, que os efeitos pragmáticos da comunicação
ilógica pode ser inúmeros.
Quando não queremos comunicar, isto é, a tentativa de comunicar pode estar presente em
qualquer contexto que o compromisso da comunicação possa ser evitada.
Quando um individuo não quer comunicar e outro quer, existem quatro hipóteses/reações
possíveis:

 Rejeição da Comunicação – quando não queremos comunicar, dizemos, mais ou


menos, indelicadamente ao outro que não estamos interessados em comunicar,
mas é preciso termos coragem porque irá se gerar um silêncio embaraçoso, de tal
modo que a comunicação não foi de todo evitada.
 Aceitação da Comunicação – podemos aceitar comunicar com outro, mas devemos
contar apenas o necessário ou essencial, isto porque o outro poderá estar disposto
a querer saber tudo sobre nós incluindo os nossos pensamento, sentimentos e
convicções e se começarmos a responder será difícil parar de o fazer.
 Desqualificação da Comunicação – podemos utilizar a técnica da desqualificação da
comunicação, ou seja, podemos comunicar de um modo inválido à nossa própria
comunicação que afetará a nossa como a comunicação do outro. A desqualificação
da comunicação pode assumir múltiplas formas: frases declarativas contraditórias,
interrupções, mudanças bruscas ou repentinas de assunto, frases incompletas,
entre outras. A comunicação transforma-se tanto na forma como no conteúdo.
 O Sintoma como Comunicação – podemos fingir que temos sonos, surdez,
embriaguez, ignorância do idioma do outro ou qualquer outro defeito ou
incapacidade que torne a comunicação justificadamente impossível. Este sintoma
da comunicação surge como uma mensagem não-verbal.
Em resumo: podemos postular este primeiro axioma metacomunicacional da pragmática da
comunicação: não se pode não comunicar.

2º AXIOMA – O CONTEÚDO E OS NÍVES DA RELAÇÃO DA COMUNICAÇÃO


Qualquer comunicação implicam um compromisso, isto é, a comunicação transmite informação,
em simultâneo, impõe um comportamento.
A comunicação pode ser feita em dois níveis:

 Ao nível do conteúdo (“relato”) onde ocorre a transmissão de informação


 Ao nível da relação (“ordem”) que se refere à espécie de mensagem e como deve ser
considerada, isto é, acaba por induzir um comportamento.
O relato é o que dizemos (dizer algo) e a ordem dá construções do que foi dito, que conduz o
outro a agir em conformidade com a interpretação da informação – metacomunicação.
Na comunicação humana, existe uma relação entre relato e origem: o primeiro transmite os
“dados” da comunicação, e pode ser dito de muitas maneiras mas o significado é interpretado de
acordo com a relação; o segundo é como essa comunicação é ou pode ser entendida. A relação
também pode ser expressa não verbalmente, através de um sorriso, de um gesto, de um abraço,
etc. E a relação pode ser claramente entendida com base no contexto em que a comunicação
ocorre. Assim, a comunicação dá conta da relação entre os interlocutores e implica a própria
situação de comunicação.
Ainda neste axioma, podemos concluir que ao nível da comunicação estamos no domínio do
conteúdo e ao nível da metacomunicação estamos no domínio da relação.
Existe algumas discordâncias ao nível da relação mas tentamos resolver o desacordo ao nível do
conteúdo onde ele não existe, dado origem a pseudoacordos. O fenómeno “desacordo” pode
ocorrer ao nível do conteúdo e da relação e as duas formas dependem uma da outra. Para
resolver o desacordo os interlocutores têm de falar sobre si próprios e as suas relações. Por
outro lado, em algumas interações não existem desacordos ao nível do conteúdo – o valor de
verdade da afirmação não é nenhuma porque o que ele diz, ao nível do conteúdo, já é conhecido
pelos interlocutores. É então que o desacordo passa para o nível da relação – domínio da
metacomunicação – e aqui é mais importante pragmaticamente porque oferecem mutuamente
definições dessa relação e delas próprias.
Podemos definir-nos de múltiplas maneiras e o protótipo da metacomunicação será: “Isto é
como eu me vejo a mim próprio”. Face a isto, o outro poderá responder de três modos e todos
eles importantes para a pragmática da comunicação humana:

 1. Confirmação – o outro pode confirmar a definição do eu e contribui, assim, para a


estabilidade e desenvolvimento mental do eu.
 2. Rejeição – o outro pode rejeitar a nossa definição de eu, mas não a nega
necessariamente.
 3. Desconfirmação – o outro desconfirma a nossa definição através de uma incerteza e
deixa de se interessar pela veracidade ou falsidade da definição.

Assim: qualquer comunicação interliga dois aspetos: o conteúdo e a relação, de tal forma que o
segundo engloba o primeiro e por conseguinte trata-se de uma metacomunicação.

3º AXIOMA – A PONTUAÇÃO DA SEQUÊNCIA DE EVENTOS


Qualquer interação (uma série de troca de mensagens/comunicação) implica uma sequência
comunicacional que aparentemente é ininterrupta. Mas que realmente se estrutura/se organiza
segundo uma sequência tacitamente definida pelos interlocutores.
Os intervenientes introduzem na interação a “pontuação sequencial dos factos” e essa
pontuação organiza os itens comportamentais orientando todo o processo futuro.
Culturalmente partilhamos essa pontuação com os outros. A instância dá-nos limites, definindo
como nos devemos comportar em cada uma das situações, definindo o correto e o incorreto.
Ajuda-nos a compreender os limites que impomos ou que nos podem ser impostos.
O desacordo da pontuação pode dar origem a problemas comunicacionais. De tal modo que as
diferentes pontuações assumem diferentes formas que o acontecimento/relação assume no
futuro.
Diferentes pontuações implicam diferentes “ordenamentos” da sequência comunicacional,
originando inevitavelmente inúmeros conflitos.
Nenhum dos intervenientes reconhece o seu comportamento para além de ser resposta é
também estímulo.
A discrepância na pontuação da sequência de eventos só ocorre quando um dos comunicantes
não possui a mesma soma de informação do outro mas não o sabe. Supõem, ainda, que ambos
têm a mesma informação e que o outro deve extrair as mesmas conclusões da informação em
causa.
Podemos, ainda, constatar que os conflitos de pontuação residem na ideia de que só existe uma
realidade, que o mundo é como eu vejo e que qualquer ideia diferente da minha deve ser devido
à irracionalidade ou má vontade do outro.
A pontuação discrepante conduziu a diferentes ideias de realidades, incluindo a natureza das
relações.
Então: a natureza da relação depende da pontuação/avaliação/ordenamento das sequências
comunicacionais estabelecidas entre os intervenientes.

4º AXIOMA – COMUNICAÇÃO DIGITAL E ANALÓGICA


Na Comunicação existem duas comunicações que nos ajudam a designar tudo:

 Comunicação Digital – apoia-se numa relação de representação arbitrária. Isto é, uma


relação entre a coisa e a palavra. Por exemplo: as omnotopeias – a linguagem serve para
exemplificar a realidade.
 Comunicação Analógica – estabelece uma relação mais direta (de uma certa semelhança)
com aquilo que representa. Há qualquer coisa de “cosiforma” (forma de coisa) naquilo
que utilizamos para exprimir essa coisa.
A comunicação analógica é praticamente toda a comunicação não-verbal. No entanto,
este termo é equívoco porque geralmente restringimos o seu sentido unicamente aos
movimentos corporais, ao comportamento conhecido pelo nome de Kinésia. Contudo, é
preciso englobar aqui a postura, a gestualidade, a mímica, flexões de voz, cadência, ritmo
e entoação das palavras e toda e qualquer outra forma de comunicação não-verbal que o
organismo/corpo humano seja capaz de exprimir assim como todos os índices que
tenham valor de comunicação e que surgem do próprio contexto em que a interação
ocorre.

Enquanto seres humanos temos a capacidade de comunicar ao nível analógico e digital.


A comunicação comporta dois níveis: o conteúdo e a relação; nela coexiste e articulam-se os dois
modos de comunicação: digital e analógico.
Digital e Analógico articulam-se.
Cada um destes modos de comunicação estabelece uma relação privilegiada com os dois níveis
da comunicação:

 O conteúdo é transmitido no modo digital enquanto a relação será essencialmente de


natureza analógica.

Problemas de tradução do digital para o analógico e vice-versa:


 A linguagem digital é mais complexa, permite uma maior abstração e é mais precisa,
enquanto que na linguagem analógica não existe nada que se compare à sintaxe lógica da
linguagem verbal, isto porque, neste tipo de linguagem temos dificuldades em dizer
palavras como: talvez, liberdade, paz, fantasma, entre outras.
 A comunicação analógica é marcada pela ambiguidade. Por exemplo: um sorriso pode ser
verdadeiro ou falso.
 Na linguagem analógica é difícil exprimir a negação falta-lhe o dígito “não”. Isto porque
abanar a cabeça como quem diz “não” é ao nível digital.

A comunicação humana articula permanentemente estes dois modos de comunicação, porém, a


sua articulação é uma operação muito problemática já que a sua mútua tradução implica sempre
uma perda significativa de informação.

Exemplo: a frase “O gato apanhou o rato” é comunicação digital. Para convertê-la em


comunicação analógica, poder-se-ia apontar para o gato e para o gato, com gestos adequados, ou,
alternativamente, fazer um desenho.

Quando se ouve uma língua estrangeira, entende-se-a melhor através da presença de sinais, ou
seja, através da comunicação analógica do que ouvindo incessantemente frases faladas. Nos
relacionamentos, confia-se muito na comunicação analógica.

Os dois modos de comunicação coexistem, articulam-se e comunicam-se em todas as mensagens,


mesmo sendo possível distingui-los.

A sua articulação é contudo uma operação muito problemática já que a sua mútua tradução
implica sempre uma perda significativa de informação.

Os conceitos das palavras aplicam em toda a comunicação, não só na verbal.

É então que: os seres humanos usam para comunicar dois modos: o digital e o analógico. A
linguagem digital possui uma sintaxe lógica muito complexa e cómoda, mas falta-lhe uma
semântica apropriada à relação. A linguagem analógica, pelo contrário, possui uma
semântica muito rica, mas falta-lhe a sintaxe apropriada a uma definição não equívoca da
natureza das relações.
5º AXIOMA – INTERAÇÃO SIMÉTRICA E COMPLEMENTAR
Os indivíduos alteram os seus comportamentos devido à interação social. Esta alteração é
marcada devido à interação cumulativa de/com A, B, C, D … numa sociedade. Podemos então
dizer que:
As relações pacíficas são a relação/analógico e conteúdo/digital;
As relações problemáticas são conteúdo/analógico;
A articulação mais competitiva é a relação/digital:

 Inadequado – o que está a ser dito não está a ser compreendido ao nível da relação.
 Digitalizar a relação de forma implícita quando avaliamos o comportamento dos outros e
de forma explícita quando somos obrigados a metacomunicar para clarificar a situação.
 Digitalizamos a relação através do pensamento
 Quando falamos não só dizemos o que sabemos ou queremos como invocamos a relação
 Digitalizamos a relação quando procuramos saber se o que o outro diz é verdadeiro ou
falso
 Às vezes temos dificuldade de explicar o que fazemos ao nível da relação

Existem dias mudanças progressivas que explicam as alterações comportamentais:


 Cismogénese complementar – ocorre ao nível do comportamento e os efeitos desses
comportamentos; baseia-se na maximização das diferenças – o comportamento de um
parceiro complementa o do outro.
 Cismogénese simétrica – ocorre ao nível competitivo entre 2 grupos; baseada na igualdade
– os parceiros tendem a refletir o comportamento um do outro.
Todo o processo comunicacional põe me relação dois (ou mais) interlocutores segundo uma
certa simetria ou complementaridade consoante a sua relação se apoia na igualdade ou na
diferença, respetivamente.
É então que: qualquer relação comunicacional é simétrica ou complementar, consoante se
funda na igualdade ou na diferença.
“A Realidade é Real?” de Paul Watzlawick
Este autor afirma que este livro fala sobre a forma como a comunicação cria o que chamamos de
realidade. Há primeira vista esta ideia parece estranha, porque a realidade é o que é, e a
comunicação serve para a expressar ou explicar. Mas não é assim que acontece. O livro retrata a
ilusão que desenvolvemos para fundamentar grande parte das nossas vidas. Contudo, a ilusão
mais perigosa de todas é a de que existe apenas uma realidade. Mas aquilo que de facto existe
são diferentes realidades, algumas das quais contraditórias mas resultam todas da comunicação
e não de reflexos de verdades infinitas.
Uma ideia bastante importante que devemos ter em conta é que a relação que existe entre a
realidade e a comunicação é uma ideia relativamente nova – “Esta área de estudo é a área que
as pessoas podem fazer a vida negra aos outros; temos noções diferentes da realidade –
convencemo-nos que a nossa verdade é a correta e queremos impor essa visão da realidade
como A REALIDADE, A VISÃO”, (página 7).
O autor deste livro propõe-se a apresentar a definição de confusão, isto é, as quebras da
comunicação e as distorções involuntárias e ainda, a definição de desinformação, segundo à qual
se refere a nós, aos impasses e às ilusões que podem ser desenvolvidas durante o processo de
procurar e/ou esconder informação.
Em primeiro lugar, temos de deixar claro que existe duas ordens da realidade:

 Realidade de primeira ordem – propriedades puramente físicas e objetivamente


discerníveis das coisas e que são acessíveis à perceção. Uma coisa é o que nós
percecionamos, outra coisa é o que fazemos ou como interpretamos essa perceção da
realidade.
 Realidade de segunda ordem – atribuímos de significado e valor a essas coisas (pontuação
de sequência de fatos) que se baseia na comunicação. Atribuímos significados ou valores
de acordo com as experiências do passado e poderá, eventualmente, também ser com
base nas experiências futuras devido às expetativas e/ou à antecipação/ansiedade. Nesta
realidade é absurdo discutir sobre qual é a realidade real, isto porque a minha realidade é
a minha e a do outro é a realidade do outro. Exemplo: a criança que acorda a meio da
noite com um pesadelo e acredita que há um monstro no quarto – este monstro faz,
nesse momento, parte da comunicação e da realidade da criança.

As realidades de segunda ordem variam porque atribuímos valores e significados diferentes às


coisas que fazem parte da realidade. Mas o facto de a realidade ser então subjetiva não quer
dizer que as várias e múltiplas realidades não possam ser estudadas.

Então, ao nível da 1ª realidade todos temos e vivemos a mesma realidade; ao nível da 2ª


realidade atribuímos significados diferentes o que torna a minha realidade diferente da realidade
do outro.

As diferentes perspetivas do mundo podem gerar:

 Confusão – representa as quebras da comunicação e distorções inerentes às mensagens


que surgem involuntariamente. Quando o significado da mensagem não é compreendido,
ou porque algo lhe aconteceu durante a transmissão (e/ou tradução) ou porque a própria
mensagem estava estruturada de tal forma que se contradizia a si própria e criava um
paradoxo. Em qualquer um dos casos, o resultado foi a confusão que provocou incerteza.
 Desinformação – ocorre em processos de esconder deliberadamente informação e
fornecer falsas informações, dando origem a impasses e ilusões. A desinformação assume
uma clara influência na realidade humana.

A articulação entre digital e analógico pode fazer-se no sentido da:


 Complementaridade – quando um sujeito levanta o tom de voz
 Redundância – quando explicamos o caminho a alguém e reforçamos o que estamos a
dizer com gestos
 Contradição – se tiver consequências pragmáticas leva ao paradoxo – duplo
constrangimento, no original, “double blind”, em que a confusão, inerente à estrutura da
mensagem tem repercussões. Exemplo: alguém nos diz para sermos espontâneos. Isto é
um paradoxo porque se temos a noção que temos de o ser já não o vamos ser porque
“espontâneo” é agir sem saber que estamos a fazê-lo ou a sê-lo e sem ter que pensar
como sê-lo. O que o autor percebeu é que este é o padrão entre os pais de uma criança
desde a tenra idade dos filhos.
Um outro exemplo: Pedimos ao nosso namorado que nos ofereça flores; ele acaba por
nos oferecê-las e nós acabamos por pensar que o fez porque lho dissemos; mas, por
outro lado, se ele não tivesse dado as flores teríamos ficado tristes porque queríamos que
nos oferecesse – PARADOXO
O ideal seria ter a capacidade de sair do círculo, no sentido, de sermos capazes de abordar os
assuntos, neste caso os paradoxos com clareza. No caso do namorado, o ideal seria ele ter a
capacidade de dizer: “Sabes que se te oferecer flores não terá o mesmo impacto/efeito ou
reação que teria se não me tivesses dito nada”.

O paradoxo ocorre porque o dito não corresponde; acaba-se por se fazer o que se disse e não se
o faz porque se tive intenção de o fazer.
O autor guarda um capítulo pequeno, na parte da desinformação, para a pontuação (podemos
relacionar com o 3º axioma). Assim, afirma que ordenar sequências de uma maneira ou de outra
chama aquilo que conhecemos como diferentes realidades. Isto torna-se evidente em alguns
conflitos humanos.
Julgamos muitas vezes que é a forma como os acontecimentos acontecem que nos levam a ter
diferentes pontuações, mas não é a forma mas a sua suposta ordem e esta conduz a significados
opostos. É o modo como pontuamos as situações que lhes dá ordens diferentes e por
conseguinte, significados diferentes. É neste sentido que a pontuação também está relacionada
com a semântica – por vezes não sabemos como pontuar uma sequência de palavras e dá-se
origem a vários significados diferentes.

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