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Adriana Duarte Rodrigues, é definitivo quando afirma que não estamos numa aldeia
global com uma cultura humana mundial, e explica-o ao diferenciar os seguintes
conceitos:
Outro Modelo:
Modelo de Gerbner (1956)
O Modelo de Gerbner pretende o mesmo que o modelo de Shannon e Weaver: ser
aplicado universalmente.
Gerbner procurou desenvolver um modelo da comunicação para fins gerais; este modelo
pode explicar todos os exemplos da comunicação e chama atenção, em particular, para
os elementos-chave de todo e qualquer ato da comunicação.
O modelo de Gerbner foi considerado mais complexo que o de Shannon e Weaver, mas
manteve o modelo de processo linear.
O modelo revelou principais progressos:
- possibilidade de relacionar a mensagem com a “realidade a que se refere”, permitindo
tratar de questões como a perceção e a significância.
- vê no processo da comunicação duas dimensões que se alternam: a dimensão percetiva
ou recetiva e a dimensão comunicante ou de meios e controlo.
O Modelo de Gerbner assume duas dimensões horizontais e uma dimensão vertical.
O processo inicia-se primeiro na dimensão horizontal: é no acontecimento A, que o
processo começa, é algo que é da realidade exterior percecionado por M (M pode ser
uma pessoa, um objeto, uma máquina, um microfone, uma máquina fotográfica). A
perceção que M tem do acontecimento A é A1. Esta dimensão é a dimensão percetiva ou
recetiva que se encontra no início do processo. O acontecimento A tem uma relação com
a perceção A1 e envolve uma seleção, na medida que M não pode compreender a
complexidade do acontecimento de A. M seleciona o contexto e tem de o compreender e
largar a complexidade, é então, neste caso, que é preciso saber se M é uma máquina ou
uma pessoa, porque a seleção depende disso: se for uma máquina, a seleção é feita pelo
engenho, pelas capacidades físicas, enquanto se M for uma pessoa o processo é mais
complexo. A perceção humana assume um processo de interação ou negociação. Como
seres humanos somos capazes de enquadrar os estímulos exteriores em conceitos do
pensamento. E fazemos este enquadramento com o objetivo de lhe conferir significado –
assim, o “significado” deriva do enquadramento de estímulos externos em conceitos
internos, isto é, o que o ser humano perceciona da realidade (exterior) de acordo com o
pensamento atribuí-lhe um conceito que passa a ter significado (conceito interior).
Quando não conseguimos perceber o que estamos a ver, não conseguimos identificar o
que estamos a ver ou não conseguimos ainda dizer o que percebemos ficamos num
estado de frustração e num estado de orientação porque não conseguimos ver o
significados do que estamos a ver, isto porque a perceção implica sempre o impulso para
a compreensão e para a organização. Este enquadramento dos estímulos exteriores é
controlado pela nossa cultura, isto é, os conceitos interiores desenvolveram-se como
resultado das nossas experiências culturais. Assim, duas pessoas com diferentes culturas
têm diferentes perceções da realidade. Deste modo, a perceção assume-se como uma
questão cultural – um dos elementos-chave desta teoria.
A dimensão vertical inicia-se quando a perceção A1 é convertida num sinal sobre A, ou
seja, quando a perceção A1 é convertida em SA, numa forma de conteúdo (um sinal/uma
afirmação/uma mensagem) sobre o acontecimento A. Isto é o que habitualmente
designamos por mensagem. A mensagem está inserida num círculo dividido em duas
partes: uma representada pelo S, que se refere ao sinal, à forma que a mensagem assume
e a outra parte representada por A, que se refere ao conteúdo da mensagem. Existem
vários S para comunicar A, e esta é uma das preocupações dos comunicantes: encontrar o
melhor S para apresentar ou comunicar A.
Não deve-se pensar que SA são dois conceitos completamente separados, no sentido que
apenas se reuniram para explicar a mensagem, eles são dois conceitos unificados porque
uma vez que escolhido S esse irá afetar necessariamente a apresentação de A – eles
mantém uma relação interativa e dinâmica.
É necessário deixar ainda esclarecido que A só existe depois de S; isto é nunca podemos
ter uma mensagem ou articulá-la e codifica-la ante da forma. Primeiro, existe a forma e
depois o conteúdo. Depois de a forma, é que podemos codificar e articular a mensagem
para que o recetor a descodifique e a compreenda.
Tanto na dimensão horizontal como na dimensão vertical a seleção é muito importante.
Na dimensão vertical, primeiro, selecionamos o meio – o canal/meio por onde se vai
exercer a comunicação. Depois, selecionamos a perceção A1. Tal como A1 não abrange e
é completamente tudo o que representa A, a perceção que vamos selecionar de A1
também nunca vai atingir a globalidade ou a plenitude. Temos de ter seleção e difusão.
A1 não representa tudo o que A é; A1 já foi modificado ou simplificados, logo o sinal ou a
seleção sobre A1 nunca será a globalidade ou plenitude de A1.
Neste modelo, surge ainda um conceito importante: o acesso – este é o acesso que temos
aos meios/canais por onde se pode exercer a comunicação. Na dimensão vertical do
modelo diz-nos que A1 é uma seleção do acontecimento A; é importante saber que fez
esta comunicação para saber como é que a “imagem” dessa seleção é transformada em
SA. A1 é uma seleção, uma perceção, um resultado do acontecimento A, mas tanto um
como o outro dependem do meio ambiente que os rodeia.
Na 3ª parte do modelo, também considerada uma dimensão horizontal, inicia-se quando o
que percebido por M2 (o que M2 recebe e percebe já foi selecionado por A1 e pelos
meios e que deu origem ao SA) não é o acontecimento A, mas SA sobre o acontecimento.
Impõem-se depois todos os processos iniciais. Convém sublinhar, uma vez mais, que o
significado não está “contido” na mensagem. Isto porque, o significado que é dado à
afirmação/mensagem/sinal sobre o acontecimento é dado de acordo com a cultura em
que M2 está inserido. São as suas crenças culturais que permitem que os conceitos
internos adquiram significado. Temos que deixar claro, que toda a mensagem pode
assumir múltiplos significados. Assim, a mensagem só assume forma depois de M2
interagir com SA (porque a perceção humana se faz de acordo com um processo de
interação ou negociação). Dessa interação dá-se origem ao SA1 – o significado da
mensagem (perceção que se tem do sinal ou afirmação sobre o acontecimento).
Existe ainda um outro conceito também importante – o da disponibilidade: este ajuda a
determinar do que é percebido. É uma outra maneira de seleção, mas esta é feita pelo
comunicador. Ele decide aquilo que quer comunicar, o que ele seleciona é o como e a
quem quer transmitir a mensagem. Deste modo, o que o comunicador seleciona tem de
estar disponível para quem ou o quê que se vai transmitir a mensagem.
O modelo alargado e os seus significados:
O modelo de Gerbner tal como o modelo de Shannon e de Weaver possibilita
extensões/alargamentos múltiplos tendo, em simultâneo, a presença de seres humanos e
mecânicos no processo.
O modelo básico de Gerbner é uma relação triangular do acontecimento A, com a perceção
A1 e a afirmação sobre o acontecimento, SA. O significado era encontrado de forma
primária: Gerbner uniu A a SA com uma seta que designou como “qualidade de verdade”.
Ao alargar o seu modelo até M3, o recetor, fez com que este não pudesse acrescentar
esses fatores (a perceção e a “qualidade de verdade”) que determinam a significância à
perceção do recetor à mensagem transmitida.
Gerbner vê a comunicação como a transmissão de mensagens, e apesar de ter visto para
além de A, levantando a questão do significado, nunca procurou resolver problemas do
saber, isto é, nunca procurou saber como o significado é construído. O autor deste
modelo toma S como garantido.
Gerbner também se enganou ao afirmar que as duas dimensões horizontais são
semelhantes: a perceção que temos do acontecimento (algo da realidade exterior) não é
o mesmo que temos da mensagem.
Contudo, o Modelo de Gerbner é o único que se aproxima da combinação das duas
correntes para o estudo da comunicação.
O autor deste pequeno texto começa por explicar já vai lá o tempo em que os
recetores de informação eram moldados pelos meios de comunicação, pela
propaganda e pela publicidade. É neste ponto que podemos e devemos mencionar a
primeira corrente – a Teoria dos Efeitos Totais e Ilimitados: esta teoria define que o
pensamento é construído de acordo com o que sai no âmbito das massas.
Atualmente sabe-se e tem-se conhecimento do modo como os recetores assimilam as
informações que recebem, como as filtram, as rejeitam, as esquecem e as
transformam, isto é, o que o recetor decide fazer com a informação recebe e o modo
como vai interpretar essa informação. Mas interpreta essa informação de acordo com
as suas crenças culturais, com os seus valores sociais e os seus conhecimentos. É a sua
experiência cultural e toda a sua cultura que lhe vão dar a possibilidade de interpretar,
compreender e conhecer a informação que recebe bem como atribuir-lhe um
significado.
Para além disto, no interior dos grupos sociais encontramos os tais mediadores de
opinião. Estes encontram-se entre a fonte e o recetor. Os mediadores de opinião são
os primeiros a serem bombardeados/atacados com informação, mas também o são
porque têm mais interesse pelos temas e pelas questões em causa que podem variar.
São os mediadores de opinião que nos indicam o caminho quando afirmam: “já viste o
filme daquele fulano?” ou “ tens de ler aquele artigo!”.
É neste ponto que podemos de falar de duas outras correntes: a abordagem
empiroexperimental e a abordagem empírica de campo. Estas duas abordagens
assumem efeitos limitados.
Toda a informação que recebemos e que não corresponde, isto é, que vá contra as
nossas crenças culturais é rejeitada, apesar do bombardeamento constante de
informação e até mesmo a informação que circula de boca em boca tem tendência
para neutralizar o que a imprensa, a rádio e a televisão nos dão. Isto acontece porque
somos portadores e possuidores de crenças culturas que se assumem como mais
influentes e poderosas que a própria informação que nos é dada pelos meios de
comunicação.
Podemos definir informação como a noção socialmente dependente e que ocorre num
espaço de interlocução.
Devemos ainda de abordar o problema da receção de informação ao nível da teoria da
informação.
A teoria da informação define a informação como algo novo, algo desconhecido e
imprevisível que suscita uma surpresa ou liberta uma incerteza.
Mas o puro desconhecido não existe, algo que seja 100% imprevisível, não é possível
existir algo que não se saiba ou que não se saiba por muito pouco.
Toda a informação deve ser introduzido no que a teoria da informação chama de
redundância, mas que o autor do texto prefere chamar a estrutura do pensamento.
Se a informação não for inserida na estrutura do pensamento ela não é apreendida e
acaba por ser esquecida.
A informação só é importante para aqueles que não sabem ou que não têm nenhuma
opinião formada, sendo que é apenas veiculada pela pequena fração de indivíduos
hesitantes e inseguros, uma vez que aqueles que já sabem e têm uma opinião formada
apenas confirmam o que sabem e são convencidos do que já estão convencidos.
Para que a informação se torne importante é necessário haver o mínimo de abertura.
Abertura no sentido de que os indivíduos têm ter a possibilidade de receber novas
informações e de aprender com essas novas informações permitindo que essas
informações possam mudar o seu modo de pensar. Não podemos ser tão “fechados” à
nova informação seja ela positiva ou negativa.
Muitas vezes uma informação é aceite e válida para um grande número de pessoas,
mas tem tendência para ser caracterizada como improvável porque não se enquadra
na estrutura de pensamento dos recetores.
Os indivíduos criam muitos meios para se defenderem – defendem-se das suas ilusões,
dos seus erros e muitas vezes defendem da sua própria experiência vivida.
O autor defende que a sobrevivência dos seres humanos depende das trocas que
estabelecem com o meio ambiente e que também estabelecem com os outros seres
vivos. Estas trocas estão inscritas nos quadros biológicos pertinentes e obedecem a uma
esquema comportamental de natureza mecânica, que a teoria dos sistemas defende
como uma relação entre um estímulo e uma resposta.
O autor acrescenta que se somos portadores de dispositivos comportamentais
automáticos, então, os mecanismos de transação entre os seres vivos e o meio ambiente
são indispensáveis.
Adriano Duarte Rodrigues afirma que os seres vivos têm alguns dispositivos
comportamentais automáticos que garantem a sobrevivência dos indivíduos (como a
fome e a sede) e outros dispositivos comportamentais automáticos que garantem a
sobrevivência da espécie (como o instinto sexual).
Para que os seres vivos sejam capazes de sobreviver necessitam de dispositivos instintivos
e são estes que permitem que os seres vivos percecionem sensorialmente os sinais
enviados pelo mundo que os rodeia e permitem também que façam uma correta
interpretação desses sinais e que respondam de forma adequada aos estímulos que
recebem do mundo que os rodeia.
Os dispositivos instintivos permitem que os seres vivos estabeleçam relações e
mecanismos de transação com o mundo físico que os rodeia e com os seres vivos que
coabitam no mesmo mundo ecológico.
Estes processos de transação só são possíveis porque o mundo natural se assume como
uma fonte de estímulos que se convertem em sinais e são captados sensorialmente pelo
recetor que responde a esses sinais de forma correta.
Esta transação é indispensável à manutenção, preservação e reprodução dos organismos
individuais e às outras espécies biológicas, isto porque os sinais se transformam numa
realidade sensorial e garantem que o mundo emita os sinais aos destinatário, neste caso,
aos seres vivos, garantindo ainda, a sua sobrevivência.
Estes processos obedecem a uma lógica comportamental, no sentido, de que os seres vivos
regem os seus comportamentos que adotam de acordo com os sinais que percecionam
do mundo que os rodeia (é este mundo que emite esses sinais aos seres vivos) e que
respondem de forma mecânica, automática, espontânea e imediata aos estímulos que o
mundo envia.
Apesar de os seres humanos terem idênticos dispositivos instintivos de transação com o
meio ambiente, as respostas que dão aos estímulos que provem do mundo que os rodeia,
não são respostas determinadas. É aqui que podemos falar de pulsões.
As pulsões são modalidades específicas dos dispositivos instintivos do homem e uma
modalidade virtual que exige a concretização cultural.
Deste modo, os seres humanos assumem a capacidade de se relacionarem com o mundo
que os rodeia, com os outros e com eles próprios segundo signos culturais que cria e
elabora de acordo com uma determinada lógica, diferente das leis dos comportamentos
animais (estes regem-se de acordo com os seus instintos e não lhe podem fugir).
Neste sentido, os signos estão destinados a atualizar culturalmente as pulsões que são
responsáveis pelo desempenho das funções das relações.
A autonomia que os seres humanos têm em relação aos sinais que o mundo que o rodeia
envia, permite que sejam capazes de transformar os sinais em signos, isto é, substituir os
sinais por signos.
Contudo, estes relevam uma diferença: os sinais só podem existir na presença de estímulos
que irão dar origem à produção de uma resposta adequada, enquanto os signos são
concebidos culturalmente e só podem existir na ausência de uma fonte de estímulos
sensoriais.
Os signos representam o meio ambiente e intervêm na elaboração do mesmo,
convertendo-o numa realidade cultural, transformando-a no que hoje conhecemos como
o nosso mundo.
Existe uma separação impossível de transpor entre os seres humanos e o meio ambiente,
mas essa separação pode ser preenchida com os signos culturais.
É então, que o homem assume a capacidade de comunicar com o meio ambiente tendo a
possibilidade de o transformar porque é capaz de inventar mediações simbólicas de
natureza cultural. A linguagem é um dos meios que leva o ser humano a entrar em
contato com o meio ambiente.
O homem é ainda capaz de elaborar um mundo só para ele, projetar esse mundo perante
ele e ainda dominá-lo, enquanto os outros seres vivos estão condicionados e submissos
aos instintos inatos com que vem ao mundo.
Os signos assumem ainda uma outra propriedade: a de serem capazes de se
representarem a si próprios. A linguagem é uma função unicamente humana. Mas faz
parte do sistemas dos signos, isto porque é capaz de explicar os outros objetos mas
também consegue representar-se e explicar-se a si mesma.
Podemos, então, definir comunicação humana como o processo em que ocorre a interação
de mensagens consideradas estímulos que dão origem a respostas representadas pelos
destinatários; respostas essas que são dadas de acordo com os reflexos condicionados.
A comunicação humana é semelhante à comunicação e aos mecanismos das plantas e dos
animais.
Adriano Duarte Rodrigues inicia este texto a explicar o que entendemos por comunicação.
Neste sentido, afirma que a comunicação são os processos de transação entre os
indivíduos, a interação entre os indivíduos e a natureza, a interação entre os indivíduos e as
instituições sociais bem como o relacionamento que é estabelecido consigo próprio.
O autor deixa claro que os processos comunicacionais abrangem domínios bastantes
divergentes mas que são eles que compreendem os atos discursos como o silencio, os
gestos, os comportamentos, os olhares, as posturas, as ações e as omissões.
Afirma que para compreendermos os atos comunicacionais devemos/podemos recorrer as
duas dimensões:
a dimensão expressiva – refere-se à elaboração de manifestações significantes.
a dimensão pragmática – refere-se à prossecução das transformações do mundo que nos
rodeia que podem tratar-se do mundo físico natural ou do mundo institucional.
O autor define como ato comunicacional a palavra que se esperava que fosse dita mas que
não chegou a ser afirmada; a ação que foi sugerida ou que se esperava que se manifesta-se
mas não chegou a ser realizada; a omissão e o silêncio que afirma que podem ser mais
fortes do que uma palavra proferida. Todos estes atos comunicacionais exercem domínio
na comunicação e transformam as interações.
Adriano Rodrigues refere que existem critérios para a averiguar a existência de processos
comunicacionais. Um desses critérios e um dos mais importantes é a expetativa a que
responde, a resposta pode ser positiva ou negativa.
Um outro critério que ajuda também a saber se existe um processo comunicacional e que
está associado à prova de que o processo comunicacional se realizou é a sanção – pode ser
positiva ou negativa e recai sobre o interlocutor.
Neste sentido, não dizer ou não fazer algo esperado pode merecer a aprovação ou a
reprovação de acordo com o sentido da expetativa. Mas, tanto no caso de a sanção ser
positiva como negativa, se existir sanção indiscutivelmente ocorreu um processo
comunicacional.
A expetativa e a sanção são dois indicadores fundamentais na natureza do processo
comunicacional.
As relações comunicacionais são de natureza ambivalente, não porque são independentes
das respostas seres negativas ou positivas mas porque se encontra acima e abaixo das
instituições das regras que regulam as relações comunicacionais.
As regras, por um lado, são instituídas pelos processos comunicacionais, enquanto por
outro lado, dão sentido e regulam os processos comunicacionais.
Seguindo este raciocínio, um ato comunicacional é muito mais do que aquilo que
observamos entre os interlocutores, numa relação comunicacional (de natureza
ambivalente) porque são as regras que dão sentido ao que foi dito e feito e significado às
mensagens e ações trocadas.
A comunicação não se faz apenas entre dois interlocutores, existe uma terceira instância –
a instância institucional.
A instituição faz parte dos processos e das relações comunicacionais porque são elas que
normalizam, regulam e castigam de acordo com as regras impostas tudo o que foi dito e
feito e todas as mensagens e ações trocadas pelos protagonistas.
A relação dos interlocutores e da instituição é uma relação simbólica, no sentido de que é
prévia à constituição e reconhecimento dos significados por parte dos protagonistas. Esta
relação impõe-se nos processos comunicacionais dos interlocutores e remete para modelos
de natureza cultural.
A descoberta desta terceira instância conduziu à distinção da comunicação humana e da
teoria do sinal. O critério que se encontra nesta distinção é de natureza
metacomunicacional que os processos da comunicação humana comportam de forma
inevitável.
O trabalho metacomunicacional nem sempre é explícito, no sentido em que os
interlocutores podem explicitar (ou não) o princípio que dá sentido às relações
comunicacionais presentes ou passadas. Mesmo quando o trabalho metacomunicacional
não é explicitado, ele está disponível para o ser e os interlocutores sabem disso. É este
saber que garante a natureza metacomunicacional dos processos da comunicação humana.
O processo metacomunicacional é de natureza genético e é a instituição que lhe confere
sentido definindo o que obriga ou proíbe, o que torna plausível ou não plausível,
necessário ou contigente aquilo que constitui os processo de transação. Deste modo, só se
explicita o processo comunicacional quando o sentido ou a legitimidade do mesmo está em
causa ou quando o sentido se perdeu ou entro em crise.
Quando se explicita o trabalho comunicacional está a expor-se o mundo interior a todos.
É aqui que podemos falar de uma articulação do trabalho metacomunicacional e o trabalho
da comunicação.
Por outro lado, só existe processos comunicacionais quando cada um dos interlocutores vê
a sua experiência individual transformada pelo confronto com a experiência do outro.
Na comunicação, a elaboração da experiência e o seu horizonte é feita pela pergunta que
está subjacente ao processo de transação. O interlocutor procura explicitar a pergunta
quando questiona o sentido daquilo que foi dito: “Porque dizes isso?”.
Mas, a elaboração da experiência e do seu horizonte está igualmente subjacente à
dimensão pragmática quando procura o sentido da ação humana: “Porque fazes isso?”.
É então, que a construção do horizonte do acontecimento de qualquer processo
comunicacional só pode ser feita através da linguagem porque é a única modalidade com
capacidade metacomunicacional.
O autor do texto afirma que todas as perguntas feitas dão origem à elaboração de novas
experiências. Assim cada pergunta assume duas características importantes: a
singularidade e a imprevisibilidade.
O reconhecimento da familiaridade da experiência realizada no processo comunicacional é
tanto mais esperado quanto mais funcional e ritualizada for a relação institucional
enquanto é menos esperando quanto menos funcional, ritualizada e mais imprevisível for a
relação institucional.
As relações dos protagonistas da comunicação estão presentes ao logo do processo de
troca de mensagens e ações. As relações encontram-se nos processos de transação.
Podemos, então, concluir que o trabalho metacomunicacional consiste num processo de
moldagem do que foi dito e feito, das marcas da pessoa, do tempo, do espaço e do modo.
O trabalho metacomunicacional é fundamentalmente de natureza estratégica.
Roman Jakobson, Fatores e funções do processo linguístico ou do ato de
comunicação, in Comunicação e Jornalismo (1970)
Modelos da Comunicação
Modelo Orquestral, Paul Watzlawick
O Modelo Matemático de Shannon e Weaver é abandonado, passando a ser destacado o Modelo
Orquestral segundo a Escola de Palo Alto (ou Colégio Invisível).
Deixa-se a noção de que a comunicação é a transmissão de mensagens, para se assumir e focar-
se na comunicação como um processo relacional. Isto através da Cibernética e da Teoria dos
Sistemas.
A Escola de Palo Alto é constituída por um conjunto de investigadores, provenientes de várias
áreas do conhecimento, que estudam a comunicação interpessoal, apoiando-se na Cibernética e
na Teoria Geral dos Sistemas.
Com este modelo, a comunicação é estendida à generalidade do comportamento humano.
Este autor estudou como é que a trajetória anterior explicava a trajetória posterior.
A mensagem transmitida pelo emissor ao recetor vai influenciar o comportamento do recetor,
por outro lado, o recetor também influência o emissor porque se trata de um processo de
transmissão de informação através de uma lógica circular.
A CIBERNÉTICA introduz a noção de circularidade. A ideia-chave é a que todo o efeito
reage sobre a sua causa, sendo introduzidos os conceitos de feedback e retroação (do
efeito sobre a causa).
A reacção do receptor à mensagem e a sua influência no emissor é importante. “Todo o
efeito retroage sobre a sua causa: todo o processo deve ser concebido segundo um
esquema circular.”
O processo deve ser visto como um esquema circular. A partir da ideia de retroação, a
linearidade de Shannon e Weaver torna-se ultrapassada.
É então, que esta concepção se torna possível devido à descoberta da retroalimentação
(feedback). Uma cadeia em que o evento A gera o evento B e este o evento C e por sua
vez provoca D e assim por diante. Deste modo, assume propriedade de um sistema
circular e funciona de um modo completamente diferente – manifesta um comportamento
que é, essencialmente, equivalente aos fenómenos que desafiaram a análise em termos de
um estrito determinismo linear.
O feedback pode ser positivo ou negativo. O feedback positivo conduz a mudanças, isto
é, à perda de estabilidade ou equilíbrio. O feedback negativo assume um papel
importante na realização e manutenção da estabilidade nas relações.
Não podemos encarar a retroalimentação negativa como desejável e a positiva como a
desintegrada. O principal ponto é que os sistemas interpessoais podem ser encarados
como circuitos de retroalimentação, dado o comportamento de cada pessoa afeta e é
afetado pelo comportamento de cada uma das outras pessoas.
A admissão (input) num tal sistema pode ser ampliado e redundar em mudança ou pode
ser neutralizada para manter a estabilidade.
Podemos definir, então, corretamente, a retroalimentação como o segredo da atividade
natural. A lógica da retroalimentação é descontínua.
A Cibernética olha para o processo como um tubo evidenciando relações e não
separações. Na comunicação, especialmente na comunicação humana, há uma interação,
uma troca, há sempre uma adaptação a cada situação.
MORRIS
Este autor desenvolveu também um estudo sobre a comunicação na qual a definiu subdividida
em três áreas:
1. Área da Sintática – preocupa-se com problemas na transmissão de informações. Esses
problemas residem no ruido, na redundância, no código, no canal, na capacidade, entre outros.
2. Área da Semântica – preocupa-se com o significado. Define que sempre que o emissor e o
recetor pretendam iniciar um sistema comunicacional devem previamente concordar com o
significado dos símbolos, caso contrário, ficam condicionados à exatidão sintática.
3. Área da Pragmática – preocupa-se em como a comunicação afeta o comportamento. É
importante gerar a nossa atenção para o efeito da comunicação tanto no recetor como no
emissor.
Estas três áreas são interdependentes.
Este grande autor leva-nos ainda a definir pontos essenciais para a compreensão da
comunicação:
Sendo a matemática a disciplina mais imediatamente interessada nas relações entre
entidades e não na natureza destas, conduz-nos à definição de variável: não possuem
significado próprio; elas são significativas nas suas relações mútuas.
A relação entre as variáveis constitui o conceito de função: são sinais que representam
uma ligação destituída de todas as características de grandeza, formato e significado
singular, uma infinidade de posições possíveis e um conjunto unificado.
Um outro conceito é também nomeado e de máxima importância: a redundância
pragmática – é semelhante à redundância sintática e semântica, deste modo, a
redundância pragmática é uma vasta soma de conhecimento que nos permite pautar,
avaliar e prever os nossos comportamentos e os dos outros no quando de cada cultura –
avaliar o nosso comportamento e o dos outros retoma para o jogo das expetativas. É
ainda, nesta área, que se estamos inconscientes das regras que devem ser seguidas na
comunicação bem-sucedida ou na comunicação perturbada que viola as regras.
Somos constantemente afetados pela comunicação e até a nossa própria consciência
depende da comunicação.
As regras da comunicação existem e somos regulados por elas mas sem termos
consciência disso.
Estamos em constante comunicação e somos incapazes de comunicar sobre comunicação.
O autor sugere ainda o conceito de cálculo – é um método que assenta no emprego de
símbolos, cujas leis de combinação são conhecidas e gerais e cujos resultados admitem
uma interpretação coerente.
Há ainda um conceito bastante primordial e importante que deve ser mencionado: a
metacomunicação – quando usamos a comunicação para comunicar sobre comunicação.
Na interação humana e na sequência de comportamentos comunicacionais o que interessa
é quais as regras dessa sequência da interação humana e é possível formular enunciados
metacomunicacionais.
O autor assume ainda o conceito de caixa escura (BLACK BOX) – este conceito tem a
vantagem de que podemos limitar-nos, apenas, às relações observáveis de admissão-
saída, isto é, à comunicação. Tal abordagem caracteriza uma importante tendência
recente na psiquiatria, no sentido, de considerar sintomas como uma espécie de admissão
no sistema familiar, em vez de serem uma expressão de conflito intrapsíquico.
A questão de saber se tal troca de informação é feita de forma consciente ou inconsciente
perde importância, porque essa intenção/conhecimento baseia-se na nossa avaliação dos
motivos da outra pessoa e em suposições do que se passa na cabeça dela.
Todo o presente e passado das experiências de um individuo está presente nas relações
existentes com as outras pessoas.
É sempre importante saber o “porquê” de um comportamento e o “para quê?” pode
fornecer uma resposta válida.
Não existe princípio e fim num círculo. (isto surge no sentido da interação humana,
quando mabas as pessoas A e B pretendem estar apenas reagindo ao comportamento do
parceiro, sem se aperceberem de que influenciam também o parceiro pela sua reação).
MODELO TELEGRÁFICO VS MODELO ORQUESTRAL
O modelo Telegráfico dá a ideia de que a comunicação é vista como a transmissão de
informação de um ponto para o outro e pode voltar, ou seja, assume um princípio e um
fim.
O Modelo Orquestral afirma que a comunicação deriva de vários canais e não de um só:
ou seja, a comunicação é transmitida através de vários canais, não tendo nem principio
nem fim.
No Modelo Orquestral existe um maestro que orienta os músicos, dá-lhes instruções e
tem uma partitura que os ajuda. Na comunicação humana não existe um maestro que a
oriente. Chega-se à conclusão que a comunicação se rege por uma Gramática Invisível
da Comunicação – isto é as regras da comunicação que estão presente em todas ou na
maior parte das situações e que regem a nossa comunicação mas não temos consciência
disso. Isto é a metáfora da orquestra:
METÁFORA DA ORQUESTRA
A Escola de Palo Alto metaforiza a comunicação a uma orquestra, opondo-a à ideia de
transmissão de informação proposta pelo modelo de Shannon e Weaver. Nesta afiguração, a
comunicação é entendida como um sistema de múltiplos canais, no qual o actor social participa,
quer queira, quer não. Este pertence à comunicação como um músico pertence à orquestra.
Existem semelhanças e diferenças entre a comunicação e a orquestra.
Comunicação VS Orquestra
O indivíduo executa comportamentos, estes regulados por códigos;
O músico executa a partitura, esta regulada pela linguagem musical;
Variações presentes no código verificam-se nos comportamentos;
Variações presentes na linguagem musical verifica-se na partitura;
Os códigos são aprendidos conscientemente e não são passíveis de serem escritos
A linguagem musical é aprendida conscientemente e passível de ser escrita
Não há maestro;
Há maestro
A metáfora da orquestra tem, assim, como objetivo principal mostrar que cada indivíduo participa
na comunicação, não podendo ser considerado como início ou fim.
Assim: qualquer comunicação interliga dois aspetos: o conteúdo e a relação, de tal forma que o
segundo engloba o primeiro e por conseguinte trata-se de uma metacomunicação.
Quando se ouve uma língua estrangeira, entende-se-a melhor através da presença de sinais, ou
seja, através da comunicação analógica do que ouvindo incessantemente frases faladas. Nos
relacionamentos, confia-se muito na comunicação analógica.
A sua articulação é contudo uma operação muito problemática já que a sua mútua tradução
implica sempre uma perda significativa de informação.
É então que: os seres humanos usam para comunicar dois modos: o digital e o analógico. A
linguagem digital possui uma sintaxe lógica muito complexa e cómoda, mas falta-lhe uma
semântica apropriada à relação. A linguagem analógica, pelo contrário, possui uma
semântica muito rica, mas falta-lhe a sintaxe apropriada a uma definição não equívoca da
natureza das relações.
5º AXIOMA – INTERAÇÃO SIMÉTRICA E COMPLEMENTAR
Os indivíduos alteram os seus comportamentos devido à interação social. Esta alteração é
marcada devido à interação cumulativa de/com A, B, C, D … numa sociedade. Podemos então
dizer que:
As relações pacíficas são a relação/analógico e conteúdo/digital;
As relações problemáticas são conteúdo/analógico;
A articulação mais competitiva é a relação/digital:
Inadequado – o que está a ser dito não está a ser compreendido ao nível da relação.
Digitalizar a relação de forma implícita quando avaliamos o comportamento dos outros e
de forma explícita quando somos obrigados a metacomunicar para clarificar a situação.
Digitalizamos a relação através do pensamento
Quando falamos não só dizemos o que sabemos ou queremos como invocamos a relação
Digitalizamos a relação quando procuramos saber se o que o outro diz é verdadeiro ou
falso
Às vezes temos dificuldade de explicar o que fazemos ao nível da relação
O paradoxo ocorre porque o dito não corresponde; acaba-se por se fazer o que se disse e não se
o faz porque se tive intenção de o fazer.
O autor guarda um capítulo pequeno, na parte da desinformação, para a pontuação (podemos
relacionar com o 3º axioma). Assim, afirma que ordenar sequências de uma maneira ou de outra
chama aquilo que conhecemos como diferentes realidades. Isto torna-se evidente em alguns
conflitos humanos.
Julgamos muitas vezes que é a forma como os acontecimentos acontecem que nos levam a ter
diferentes pontuações, mas não é a forma mas a sua suposta ordem e esta conduz a significados
opostos. É o modo como pontuamos as situações que lhes dá ordens diferentes e por
conseguinte, significados diferentes. É neste sentido que a pontuação também está relacionada
com a semântica – por vezes não sabemos como pontuar uma sequência de palavras e dá-se
origem a vários significados diferentes.