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COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL

NO BRASIL: CAMPO DE
CONHECIMENTO EM CONSTRUÇÃO A
PARTIR DE AUTORES BRASILEIROS

Autoras: Ivone de Lourdes Oliveira, Isaura Mourão, Anice B. Pennini


Criada no ano de 2006, a Associação Brasileira de Pesquisadores de
Comunicação Organizacional e de Relações Públicas (Abrapcorp) sempre
esteve conectada aos grandes movimentos e às indagações de seus
pesquisadores e do campo em que se inserem as questões ligadas à
comunicação no contexto das organizações.

Os cinco Grupos de Pesquisa da Abrapcorp:


1. Comunicação, pesquisa e ensino;
2. Comunicação, inovação e tecnologias;
3. Comunicação, identidade e discursos;
4. Comunicação, responsabilidade e cidadania;
5. Comunicação, políticas e estratégias;
Neste artigo as autoras buscam identificar os paradigmas, as teorias e os
conceitos que vêm fundamentando as produções, que visam
compreender e dar visibilidade à comunicação no contexto organizacional
na última década.

O ambiente organizacional é um contexto vivenciado por sujeitos sociais,


que nele convivem e/ou com ele se relacionam cotidianamente. Cada um
dos sujeitos implicados nesse contexto traz consigo seu próprio universo
cultural, que, por sua vez, se abre em múltiplas perspectivas cognitivas e
subjetivas.

Ao mesmo tempo, os sujeitos sociais coexistem e relacionam-se com


vários outros, em torno de uma mesma organização, que, por seu turno,
apresenta seus objetivos e interesses.
Dessa forma, o corpus da metapesquisa foi constituído pela produção científica
dos professores: Cleusa Scroferneker (PUC-RS), Eugênia Barichello (UFSM),
Ivone de Lourdes Oliveira (PUC-Minas), João José A. Curvello (UNB), Luiz Carlos
A. Iasbeck (UCB), Márcio Simeone Henriques (UFMG), Margarida M. K. Kunsch
(USP) e Rudimar Baldissera (UFRGS), no período de 2005 a 2012.

Na referida pesquisa, a metodologia se constituiu, inicialmente, do


levantamento de artigos e de capítulos de livros publicados pelos autores,
presentes em seus respectivos currículos Lattes, no período determinado.

Independentemente da quantidade de trabalhos encontrados, a análise se deu


a partir de um roteiro, elaborado em sala de aula, que indicava os pontos de
análise, tais como as ideias centrais dos autores, os principais aportes teóricos
e metodológicos utilizados e os campos de interface abordados em suas
produções científicas.
É sobre as seguintes perspectivas que as autoras trataram na parte inicial
do presente artigo.
São elas:
a perspectiva interacional/relacional,
o paradigma da complexidade,
o paradigma sistêmico, sob as lentes da Teoria dos Sistemas Sociais.

O fazer comunicacional em ambientes organizacionais se desenvolve em


processos dinâmicos e complexos, que demandam reflexões consistentes,
no sentido de se pensar essa teia intrincada de relacionamentos.
Posteriormente, serão abordados os principais pensamentos que
norteiam a produção científica dos oito pesquisadores.
PERSPECTIVAS TEÓRICAS PARA A COMPREENSÃO DA COMUNICAÇÃO
ORGANIZACIONAL

A partir da década de 1990, iniciam-se os estudos sobre a Comunicação


Organizacional, em uma perspectiva ampla, que compreende a interação entre
os sujeitos sociais nas sociedades contemporâneas.

A partir da emergência e fortalecimento de fenômenos na sociedade, a


exemplo da globalização da economia, da valorização dos direitos dos
cidadãos, do reconhecimento da liberdade de expressão e do desenvolvimento
tecnológico a Comunicação Organizacional passa a ser questionada.

Nesse cenário, a complexidade do processo comunicacional tem dificultado a


ênfase na visão linear da transmissão da informação. A interação entre sujeitos
interlocutores e o espaço da circulação das informações tornaram-se mais
perceptíveis e valorizados na dinâmica comunicativa.
A perspectiva relacional/interacional oferece uma forma de pensamento
condizente com o ambiente de compartilhamento simbólico
contemporâneo, em que sujeitos sociais se afetam mutuamente.

A pesquisadora Vera França(2002) propõe alguns eixos para fundamentar a


forma de lidar com a comunicação nesse contexto:
- comunicação como um processo de interação e de prática de produção e
interpretação entre sujeitos sociais, em vez da polarização entre emissores e
receptores;
- comunicação como uma realidade em que é possível identificar marcas
simbólicas desses sujeitos e do ambiente que os envolve;
- comunicação como um processo dependente de determinado contexto, no
qual ocorrem manifestações singulares da prática discursiva e do
panorama sociocultural de dada sociedade.
Alguns conceitos mostram-se bastante imbricados nesse arcabouço teórico.
Destacamos a mediação, a interação e a midiatização.

Tomamos a mediação como um conceito amplo, que abarca tanto as mediações


abstratas, a exemplo da cultura, das convicções políticas, da origem social etc., como
também as realizadas por aparatos materiais, tais como computador e televisão.

As mediações podem ser pensadas, portanto, como meios para se atingir a interação.

Ao mesmo tempo, deve-se ter em mente que todas essas relações são ainda mais
complexificadas, na medida em que se identifica um processo cada vez mais intenso
de midiatização da sociedade, entendida como um processo construído pela
articulação entre sujeitos sociais, mercado, tecnologias, entre outras instâncias, que
tem produzido transformações nas diversas práticas diárias, seja na relação com outros
indivíduos e organizações, seja na conformação da cultura de uma dada sociedade.
Em suma, na perspectiva relacional/interacional a comunicação nas
organizações é percebida como uma área de relacionamentos, em que a
alteridade apresenta seus próprios valores, sentimentos e expectativas, em
uma concepção em que as divergências são percebidas como elementos
inerentes ao processo comunicacional.

Essa perspectiva dialoga com o paradigma da complexidade, marco teórico


da produção do filósofo e sociólogo francês Edgar Morin, na medida em
que o conceito da complexidade contempla a relação com a alteridade. A
complexidade para Morin (2011) é um conceito desvinculado dos
pressupostos da complicação, e traz em si a ordem e a desordem, bem
como o uno e os múltiplos, noções essas que se influenciam mutuamente
(MORIN, 2011).
- Alteridade é o reconhecimento de que existem pessoas e culturas singulares e subjetivas que pensam, agem e
entendem o mundo de suas próprias maneiras. (sociedade justa, equilibrada, democrática e tolerante)
- O francês Edgar Morin é considerado um dos principais intelectuais da atualidade.
A noção de pensamento complexo emerge em contraponto ao pensamento
simplificador, que busca expulsar a desordem do universo, a serviço de uma
racionalidade, privilegiando a fragmentação.
Assim, o pensamento simplificador trata de ordenar os fenômenos e afastar
a incerteza. Contudo, a partir desse raciocínio, corre-se o risco de não se
enxergar importantes aspectos envolvidos nos processos.
No caso da Comunicação Organizacional, ao se focar em apenas uma das
partes – por exemplo, a emissão, o veículo, a mensagem ou a recepção –,
assume-se a possibilidade de não se considerar os elementos envolvidos na
circulação e na produção de sentidos, instâncias essas intrínsecas ao
processo comunicacional.
A complexidade considera os paradoxos: a ordem e a desordem, a
contradição e a incerteza, na busca da compreensão do fenômeno como
um todo.
Nos aportes do pensamento complexo, é possível perceber as
organizações como sistemas vivos e abertos, o que sublinha a
importância das interações entre os sujeitos no processo comunicacional.
Morin (2010) aponta uma questão inerente à complexidade, que é o
conceito da autonomia, concebido a partir de uma teoria de sistemas
abertos e fechados, simultaneamente, em um processo que compreende
que os sistemas precisam se abrir para renovar as energias.
Por outra via, o sistema mantém-se fechado, quando se trata de preservar
sua individualidade.
Fazendo esse raciocínio no contexto organizacional, tem-se que é na
sociedade que a organização se auto-organiza, envolvida no ambiente de
ordem e desordem, de resistências e cooperações, em um processo de
regeneração e atualização.
Os conceitos que compõem o paradigma da complexidade se
coadunam com o paradigma sistêmico, em que se filiam, além das
ideias moranianas, os pensamentos de Niklas Luhmann (2010), em sua
proposta de se conceber as organizações como sistemas sociais que se
fecham para sobreviver, mas que também se abrem ao exterior, como
forma de regeneração.

Segundo essa vertente de pensamento, as organizações se fecham,


com a finalidade de elaborarem suas próprias atividades e de
estabelecerem sua identidade, mas também se abrem, pois, mesmo
correndo riscos de terem sua ordem interna alterada ou de terem sua
imagem percebida de forma indesejável, precisam interagir com outros
sistemas para manterem-se atualizadas.
Niklas Luhmann foi um dos mais influentes estudiosos na Sociologia alemã contemporânea.
Em síntese, no pensamento luhmanniano, as organizações constituem-se
sistemas fechados, já que precisam impor limites entre suas atividades e
o ambiente complexo que as cercam.
O estabelecimento dessas fronteiras é que propicia a particularização das
organizações, e se dá por meio da auto-organização e da autopoiese*.
Essa corrente de pensamento considera então, a ruptura com a
linearidade, pois reconhece a importância da interação com a alteridade
no fazer comunicacional.
Pode-se observar que as três perspectivas sobre as quais as autoras
discorreram trazem em seu arcabouço os pensamentos da
complexidade, da imprevisibilidade e da subjetividade.

*Por meio da autopoiese organizações são vistas como sistemas autônomos, interdependentes e constituídos de sentidos.
PENSAMENTOS DOS AUTORES BRASILEIROS
• MARGARIDA KUNSCH

A trajetória acadêmica da pesquisadora está intimamente relacionada


ao encadeamento do pensamento científico da Comunicação
Organizacional e sua produção contribui para a institucionalização e a
consolidação do campo no Brasil. Para a autora, a Comunicação
Organizacional e as Relações Públicas estão imbricadas. Reconhecida
no País e internacionalmente, Kunsch articula as dimensões
instrumental, estratégica e humana do processo comunicacional das e
nas organizações, e trabalha em sua produção acadêmica os conceitos
de planejamento, alinhamento, administração estratégica e
humanização das organizações.
A partir de 2005, os estudos da autora passam a enfatizar a
Comunicação Organizacional como a disciplina que estuda o fenômeno
comunicativo e seu contexto sociopolítico, numa perspectiva mais
complexa, como fenômeno inerente à natureza das organizações. No
entanto, continua sua produção relativa às Relações Públicas,
apontando as diferenças entre as duas áreas.

Para a autora, a Comunicação Organizacional é um fenômeno


constituído por processos complexos que ocorrem no contexto
específico das organizações. Já as Relações Públicas atuam na gestão
dos processos comunicativos organizacionais, fazendo sua gestão por
meio de todo o aparato de comunicação, visando a mediação com os
interlocutores (KUNSCH, 2009).
Um dos principais conceitos desenvolvidos pela autora é o da
Comunicação Integrada, que abarca a Comunicação Institucional, a
Mercadológica, a Interna e a Administrativa. Observadas separadamente,
cada uma possui objetivos distintos, mas, de forma integrada, devem estar
articuladas na política de Comunicação Organizacional.

Outra contribuição teórica trazida por Kunsch é a compreensão da


comunicação em três dimensões: a instrumental, a estratégica e a
humana. A instrumental, de caráter funcional e técnico, ainda é a que
predomina nas organizações, segundo a autora. A dimensão estratégica
guarda fortes semelhanças com a instrumental. Nesse viés, a comunicação
é vista como forma de agregar valor à organização e aos negócios, a partir
de uma visão pragmática, buscando eficácia e resultados nos processos
comunicativos.
A dimensão humana, que tem sido mais enfatizada pela autora em suas
produções mais recentes, é considerada por ela como inerente ao
processo comunicativo e provoca uma mudança na perspectiva dos
estudos da área, uma vez que a comunicação acontece entre as pessoas,
que não vivem sem se comunicar.

No caso das organizações, tem-se um contexto específico no qual esse


fenômeno ocorre, sendo vivenciado pelas pessoas que nelas convivem e
com elas se relacionam, num fazer comunicativo diário.

Essas pessoas querem ser reconhecidas e não sufocadas pelo excesso de


comunicação técnica e instrumental, de interesse da empresa e dos
negócios. A partir dessa perspectiva, torna-se necessário a abertura de
canais diretos de diálogo entre a alta direção e os trabalhadores (KUSNCH,
2012).
Kunsch ressalta que é a dimensão humana a propulsora de
transformação das organizações, uma vez que olhar para a
comunicação a partir da humanização das organizações significa, acima
de tudo, respeitar o outro, permitindo pensar numa convivência com
mais harmonia, capaz de produzir significado.

Analisar a Comunicação Organizacional a partir dessa perspectiva é


pensar em um fenômeno com processos complexos, constituído pelas
interações humanas, pelos meios e mensagens internas, institucionais e
mercadológicas, e pela valorização humana e social nas organizações.
PENSAMENTOS DOS AUTORES
BRASILEIROS
• CLEUSA SCROFERNEKER

A autora traz uma abordagem mais complexa da Comunicação


Organizacional, com aportes oriundos do paradigma da complexidade,
de Edgar Morin, e da Teoria dos Sistemas Sociais, de Niklas Luhmann,
especialmente em suas produções mais recentes. Suas reflexões têm
sido marcadas pelos estudos comparativos entre as Relações Públicas e
a Comunicação Organizacional que, segundo a pesquisadora, abrange
toda a comunicação nas suas diferentes formas e modalidades para
que a organização possa interagir e relacionar-se com os diferentes
públicos (SCROFERNEKER, 2006).
Scroferneker enfatiza que as pesquisas desenvolvidas recentemente
têm buscado evidenciar a importância da comunicação para as
organizações e definir a abrangência de sua atuação, uma vez que, nos
últimos anos, uma série de reflexões, fundamentadas por novos
paradigmas, dentre eles o da complexidade, alteram conceitos,
convicções e certezas acerca do campo.

Ainda assim, ressalta que elementos do paradigma funcionalista devem


ser considerados. No entanto, as organizações contemporâneas, muito
mais complexas, demandam outras perspectivas e modelos que
possam contribuir com a compreensão e o desenvolvimento das
atividades de comunicação nesse espaço.
A transposição do paradigma da complexidade para fundamentar as reflexões
teóricas da autora imprime à sua produção uma visão da comunicação
organizacional que compreende seus antagonismos e contradições.

Além disso, como a mudança tornou-se a constante, faz-se necessário, segundo


Scroferneker, (re)visitar permanentemente as concepções de comunicação, de
organização e de sujeito organizacional (SCROFERNEKER, 2008).

Para a autora, a consolidação dos conceitos do campo é hoje um grande desafio.


Além da consolidação acadêmica do campo, ressalta que é fundamental o apoio e
o entendimento por parte da alta direção das organizações para viabilizar os
processos de Comunicação Organizacional, uma vez que a comunicação é
complexa e constitutiva da organização, atentando para a importância do
planejamento e do conhecimento profissional (SCROFERNEKER, 2008).
PENSAMENTOS DOS AUTORES
BRASILEIROS
• EUGÊNIA BARICHELLO

A produção científica da pesquisadora tem como conceitos centrais a


mídia, a midiatização, a visibilidade midiática e a legitimação, articulando
toda sua fundamentação com os estudos sobre estratégias de
Comunicação, Comunicação Institucional e Comunicação Organizacional.
Ela concebe a midiatização para além do suporte, uma vez que considera
as possibilidades de interação presente nas mídias, especialmente nas
digitais, e a ‘autonomia’ dos sujeitos nesse ambiente de manifestação.
Segundo Barichello, a midiatização leva a sociedade a outras formas de
estruturação, assim como os processos sociais interativos, que
interferem nos processos de legitimação das organizações no mundo.
A mídia é entendida não como um fluxo comunicacional conectado a um
dispositivo técnico, mas como uma concepção da vida, um bios virtual,
que tem uma lógica específica de funcionamento e uma responsabilidade
na dinâmica interativa da sociedade, além de ser um campo de
legitimidade, que acontece por meio da visibilidade.

Nesta perspectiva, a autora se fundamenta em Braga (2007) e em Sodré


(2002), apropriando-se do conceito de midiatização como ambiência que
ultrapassa os meios tecnológicos e que intervém nas formas de
sociabilidade.

A pesquisadora transpõe esses conceitos para o contexto organizacional,


o que representa um avanço para o campo em estudo. Sua contribuição
é direcionada à compreensão da legitimação e da visibilidade das
organizações a partir da midiatização.
Nesse aspecto, trabalha a visibilidade institucional midiática em duas
perspectivas:
1. uma a partir das estratégias organizacionais concebidas no
planejamento;
2. outra a partir da construção de sentido dos sujeitos sobre as
organizações nos espaços midiáticos tradicionais e digitais.

Sob a perspectiva do campo midiático, a pesquisadora admite que a


imagem da organização é construída pelo indivíduo, baseada nas ações
que a torna visível. Com isso, a pesquisadora reforça a importância dos
relacionamentos da organização com seus públicos.
A partir de 2007, Barichello direciona seus estudos para a internet,
relacionando-a aos suportes tecnológicos e digitais como meios e
estratégias constituintes da representação organizacional e de sua
visibilidade.

Nesse contexto, afirma que para que isso se materialize, deve-se investir nas
interações, no compartilhamento, nas reciprocidades e nas apropriações,
para além dos suportes impressos, tais como jornais e folders.

A partir dos autores Verón (2007) e Fausto Neto (2005), a pesquisadora


instiga um tensionamento, ao declarar que as instituições midiáticas estão
perdendo a posição de mediadora, tradicionalmente a elas designadas, para
dividir o espaço com instituições não midiáticas, que adquirem cada vez
mais espaços de conquista na sociedade.
PENSAMENTOS DOS AUTORES
BRASILEIROS
• IVONE OLIVEIRA

Uma marca da pesquisadora é o olhar para o contexto organizacional que,


segundo ela, vai além de um agrupamento de pessoas. Trata-se de uma
realidade comunicacional com múltiplas perspectivas. A partir desse olhar,
compartilhado também por outros pesquisadores, lança a perspectiva da
comunicação no contexto das organizações, conferindo maior abrangência
aos estudos de comunicação na e das organizações.
Para a autora, a comunicação é um processo constitutivo da sociedade, que
se dá a partir da representação e da narrativa feita pelos indivíduos nele
inseridos, uma vez que é por meio dos atos comunicativos que esses
indivíduos constroem o mundo (OLIVEIRA, LIMA E MONTEIRO, 2011). Nesse
raciocínio, Oliveira (2011) define o fenômeno comunicativo como processo
sempre marcado pelo contexto social e histórico no qual é produzido.
Diretamente influenciada pela perspectiva relacional, a pesquisadora
também se fundamenta em abordagens que enfatizam a complexidade
do processo comunicativo, e, em sua tese de doutorado, formula o
Modelo de Comunicação Interacional Dialógica.

O modelo privilegia a relação dialógica entre organização e interlocutores


ativos, num processo de comunicação em movimento, no qual os
sujeitos desempenham, simultaneamente, múltiplas funções, tornando-
se emissores e receptores ao mesmo tempo, em um contexto de
incertezas, indeterminações, contradições e aleatoriedades.

A autora critica a falta de autonomia do campo frente a outras áreas de


conhecimento e o modo funcionalista de se tratar o fenômeno
comunicacional, amparado na perspectiva da Administração.
Segundo afirma, tal direcionamento reduz o fenômeno comunicacional
a um fluxo linear e transmissional, a serviço da gestão organizacional –
denotando uma visão simplificadora da Comunicação.

Apesar da interface com outras áreas do conhecimento, ressalta que o


fenômeno deve ser estudado tendo como base a própria Comunicação
e não a partir de outras áreas do conhecimento.

Para a autora, a comunicação praticada nas organizações não deve ser


pensada de forma “divorciada” de uma ideia geral da comunicação: a
organização como contexto, onde ocorre o fenômeno comunicativo, é
tão plausível, legítimo e específico para ser pesquisado quanto diversos
outros.
Por essa perspectiva, as organizações se transformam na medida das
mudanças da sociedade, ao mesmo tempo em que transformam a
própria sociedade a partir de suas ações.

Ao jogar luz sobre a importância da alteridade nos processos e


fenômenos comunicacionais, a autora mostra outros caminhos de
pesquisa, além daqueles da busca de causa e efeito, interessados em
encontrar ações e estratégias bem sucedidas.

Assim, coloca-nos em zonas de desconforto, instigando-nos a refletir


sobre o que é fora do padrão ou pouco visto. Enfim, a autora instiga a
visão sobre a comunicação sem os filtros funcionalistas.
PENSAMENTOS DOS AUTORES
BRASILEIROS
• JOÃO JOSÉ AZEVEDO CURVELLO

O pesquisador, a partir de sua produção teórica, nos provoca a refletir sobre a


complexidade das organizações e da comunicação nesse contexto, enfatizando
os estudos relacionados à cultura e aos processos organizacionais.

Fundamentando suas reflexões em Edgar Morin, Niklas Luhmann, e


considerando a perspectiva autopoiética de Humberto Maturana e Francisco
Varela, a partir da qual as organizações devem ser vistas como sistemas
autônomos, interdependentes e constituídos de sentidos, Curvello ressalta
que as organizações devem ser observadas como organismos vivos e como
sistemas sociais altamente complexos, questionando a ordem e a simetria que
devem dar lugar ao imprevisível e ao complexo.
A perspectiva sistêmico-comunicacional, apropriada por Curvello para
estudar a cultura e a comunicação organizacional, postula que o ser
humano é comunicativo em sua essência, e se posiciona como ator
social em um ambiente organizacional.

Nesse sentido, há maior probabilidade de se ter conflito do que


consenso nas relações sociais, e as conversações e embates devem ser
considerados instâncias de aprendizagem.

A abordagem sistêmica possibilita compreender essa aprendizagem,


bem como a construção do conhecimento, do sentido e da identidade
em ambientes complexos, gerando novas formas de conexão entre
organização e indivíduo.
Suas contribuições tornam possível um exame ampliado sobre os
processos comunicacionais. As relações entre os atores sociais não são
homogêneas e cada um se torna elemento importante no sistema ao
compartilhar experiências dentro da organização.

Assim, diálogos, impressões e sentidos são recriados, invariavelmente,


sob a influência de processos interacionais. Essa perspectiva valoriza a
relação mútua dos interlocutores, na qual os sentidos são construídos,
e a dimensão simbólica passa a ser considerada.

Para o autor, o fenômeno comunicacional deve ser compreendido


como processo dinâmico e ágil, ocorrendo em cenários de
imprevisibilidade.
PENSAMENTOS DOS AUTORES
BRASILEIROS
• LUIZ CARLOS IASBECK

As contribuições teóricas de Iasbeck sinalizam outras perspectivas para


as pesquisas em Comunicação Organizacional. O autor é um estudioso
da Semiótica e a adota como referência conceitual para entender as
relações comunicativas nos universos organizacionais.

Adota as linhas de Charles Peirce (1839-1914) e da semiótica da


cultura, iniciada por estudiosos russos e estonianos das escolas de
Moscou e Tartu (década de 1960), com destaque para Ivanov, Lotman,
Uspenskij, Piatgorski, Toporov e Bystrina.
Semiótica é Ciência que analisa todos os sistemas de comunicação presentes numa sociedade.
Para o pesquisador, a comunicação é um processo de criação e
perpetuação de vínculos, conceito que se fundamenta nas teorias de
Bateson (1979) e Baitello Júnior (2005).
Fundamenta-se ainda, no filósofo Paul Watzlawick (1968) e em Erich
Fromm (1956), de onde tira argumentos para declarar que a
comunicação é um processo inerente ao ser vivo e fundamental para a
vida, porque o homem precisa se comunicar para enfrentar a solidão.
Conclui afirmando que a comunicação representa o compartilhamento
de experiências nas dinâmicas interativas, consideradas como espaço
onde o homem cria vínculos de afinidades e diferenças.
Esses se concretizam nas relações, que conformam redes de
relacionamentos e de informações, que intensificam ou esgarçam,
conforme a qualidade dos processos comunicativos que são instituídos.
Para o autor, a comunicação constrói vínculos entre sujeitos
comunicantes e entre organizações e seus públicos, podendo aumentá-
los e administrá-los, sustentados pelas informações, objetos, pessoas e
fenômenos.

O pesquisador desenvolve os conceitos de discurso e imagem,


respaldado também pela perspectiva da Semiótica, trazendo-os para
compreender o universo organizacional.

Assim, Iasbeck conceitua imagem como o encontro das instâncias da


produção e da recepção, no processo comunicativo. Devido a
interligação entre os conceitos de imagem e identidade, o autor
trabalha com a noção de identidades relativas, motivado por
Waismann (1896-1959).
A questão da cultura é outro conceito que perpassa sua obra. Para o
pesquisador, a cultura não está desassociada da comunicação e da
linguagem (LOTMAN, 1978). A cultura de uma organização é refletida
em seu discurso, que explicita os modos de ser e atuar das
organizações e dos públicos, e se caracterizam pelas intenções, desejos,
crenças e convicções.

Outra vertente de destaque de sua produção acadêmica são os


estudos sobre ouvidorias. O pesquisador defende que a ouvidoria é
lugar de comunicação, pois é uma instância mediadora da relação entre
organizações e públicos, cuja função primordial é curar vínculos
estremecidos originados no relacionamento. Para Iasbeck, as
ouvidorias são mídias, pois atuam como lugares de trocas
informacionais e de mediação.
PENSAMENTOS DOS AUTORES
BRASILEIROS
• MÁRCIO SIMEONE HENRIQUES

A contribuição de Henriques na construção epistemológica do campo da


Comunicação Organizacional está relacionada ao desenvolvimento dos
conceitos de público, formação de público e mobilização social, frente às
tensões existentes nas interações entre sujeitos coletivos, que vivem uma
controvérsia e/ou são afetados pelas ações e estratégias das organizações.

Para o autor, os públicos são entes coletivos em permanente formação, a


partir da interação que os constituem e as estratégias adotadas pelas
organizações. Declara, baseando-se em estudos empíricos, que os públicos
não existem a priori e que não devem ser classificados como alvos, já que
eles se constituem na relação estabelecida em um acontecimento ou em
uma controvérsia.
O autor reforça a ideia de que os públicos são entes que se mobilizam
socialmente para defenderem seus interesses ou um bem público, e se
constituem também, por meio da circulação dos discursos
organizacionais, que manifestam intencionalidades específicas de cada
ator na relação.

A formação de públicos pode se dar em duas dimensões, a real e a


virtual. A virtual abarca o sentido de o público vir a se instituir a partir
da controvérsia, em interações que surgem em determinada situação.

Na dimensão real, os públicos são identificados a partir das políticas e


discursos organizacionais postos em circulação, que podem provocar ou
não o conflito.
A análise de sua produção acadêmica possibilita-nos compreender que
a comunicação é fundamental ao processo de mobilização social.

O autor vincula esse conceito à comunidade e às relações públicas para


compreender os relacionamentos entre as organizações e as
comunidades, a partir do olhar sistemático sobre a movimentação de
públicos, a opinião pública e as estratégias de comunicação.

A mobilização social se organiza na união de objetivos dos sujeitos com


a intenção de transformar uma realidade. Para isso, Henriques salienta
que é necessário estabelecer o compartilhamento de responsabilidade,
sentimentos e conhecimentos para se atingir um interesse público e
comum aos envolvidos.
A partir dos conceitos de público e de opinião pública, o autor constrói sua
perspectiva comunicacional, associando-a à condição pública dos processos
que deflagram uma mobilização social.
Dessa forma, desenvolve o conceito de comunidade, fundamentado na
Sociologia, como um elemento chave do entendimento de sua obra. Para ele, a
comunidade se constitui pelo conjunto de públicos possíveis com objetivos em
comum, definida pelos limites territoriais.
No entanto, para se mobilizar em torno de problemas e controvérsias são
estabelecidos os vínculos de sociabilidade , nos quais estão presentes o
compartilhamento e a co-responsabilidade dos sujeitos envolvidos.
Henriques constrói seus conceitos fundamentando-se na Teoria Crítica, além
de estabelecer interfaces com a Psicologia Social e a Sociologia. Seus aportes
teóricos se encontram basicamente nos estudos dos sociólogos Herbert
Blumer, Erving Goffman, John Dewey e outros estudiosos da Escola de Chicago.
PENSAMENTOS DOS AUTORES
BRASILEIROS
• RUDIMAR BALDISSERA

O autor ressalta a necessidade de se considerar a produção e a


circulação de sentidos na Comunicação Organizacional, pois é mediante
processos comunicacionais que a teia de significados é (re)tecida,
reconfigurando-se e construindo sentidos.

Ao longo de sua trajetória, apropria-se do paradigma da complexidade,


de Edgar Morin, transpondo-o para os estudos da Comunicação
Organizacional e, fundamentado por ele, desenvolve os conceitos de
complexidade da comunicação, o que inclui os sujeitos em interação, a
imagem/alteridade e os processos identificatórios.
Em seus estudos mais recentes, conceitua o que denominou as três
dimensões da Comunicação:
a) organização comunicada, que consiste na fala autorizada da
organização ou a comunicação planejada e “controlada”;
b) organização comunicante, a fala autorizada e demais processos
comunicacionais que se atualizam sempre que alguém estabelece
relação direta com a organização;
c) organização falada, que consiste nos processos de comunicação que
não se dão a partir de relações diretas com a organização, mas
referem-se a ela, reforçando, com isso, a ausência de controle e a
complexidade dos processos de comunicação no contexto das
organizações.
Trazendo aportes de Michael Foucault, Baldissera reforça o conceito de
disputa de sentidos no processo de comunicação, compreendido como
relacional e, por isso, imbricado por relações de disputas de
significação e de sentidos.

Dessa percepção, decorre a compreensão de que a comunicação


qualifica-se como lugar de sujeitos-força em relações dialógico-
recursivas, em consonância com o paradigma da complexidade.

Ressalta, no entanto que, no contexto organizacional, as disputas de


sentido não implicam em sobredeterminação de uma força à outra,
mas em diálogo que tensiona, em diferentes graus, os sujeitos que
interagem (BALDISSERA, 2008b).
Pode-se inferir, a partir da análise de suas publicações, que Baldissera
problematiza o conceito de comunicação organizacional, evidenciando a
perspectiva política do processo comunicativo, compreendido como uma
disputa de forças e de sentidos.

Reforça a complexidade da comunicação e indica que, para compreendê-


la, é imprescindível considerar as incertezas da sociedade, os processos
identificatórios e a intersubjetividade que permeiam a dinâmica
interativa no contexto das organizações.

Para o autor, as organizações que percebem a comunicação


organizacional com base nos princípios do paradigma da complexidade
tendem a se afastar da rigidez administrativa e produtiva, com regras e
hierarquias fixas, para serem inoculadas pelas ideias das relações
participativas.
Questões para debate

1. O que é Comunicação Organizacional e como ela se estabelece?


2. Quais são as perspectivas teóricas de cada autor?
3. Quais as conexões conceituais e metodológicas entre os autores
escolhidos?
4. Com qual autor você se identifica? Porque?
5. Além dos autores apresentados, você conhece outro autor que trata
da comunicação organizacional? Qual sua perspectiva sobre o tema?

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