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Fairhurst, G. T. & Putnam, L. (2004).

Organizations as discursive constructions, Communication Theory,


14(1): 5-26. (Linguistic and Discursive Perspectives).

Este artigo explora as diferentes interpretações das organizações como construções discursivas e como elas moldam as
tradições de pesquisa sobre linguagem organizacional e interação social.

As três diferentes interpretações das organizações como construções discursivas:

 Ver a organização como objeto significa tratá-la como uma entidade pré-formada, com características ou
resultados discursivos já definidos. Isso implica em uma abordagem top-down, em que a organização é vista
como um objeto estático e dominante, em vez de um processo emergente e dinâmico. Essa abordagem pode
limitar a compreensão da complexidade e da fluidez das práticas organizacionais, bem como das relações de
poder e identidade que emergem a partir da interação social.
 Ver a organização em constante estado de transformação significa adotar uma abordagem bottom-up, em que
a organização é vista como um processo emergente e dinâmico, em vez de uma entidade pré-formada e
estática. Nessa abordagem, a organização é vista como um fenômeno em constante mudança, moldado pelas
práticas sociais e discursivas que emergem da interação entre os membros da organização. Isso implica em
uma compreensão mais complexa e fluida das práticas organizacionais, bem como das relações de poder e
identidade que emergem a partir da interação social.
 Ver as organizações baseadas na ação significa adotar uma perspectiva em que a ação e a estrutura são vistas
como mutuamente constitutivas. Nessa abordagem, a organização nunca assume a forma de uma entidade
identificável, porque está ancorada no nível das práticas sociais e formas discursivas. Isso implica em uma
compreensão mais dinâmica e fluida das práticas organizacionais, em que a organização é vista como um
processo emergente e em constante mudança, moldado pelas práticas sociais e discursivas que emergem da
interação entre os membros da organização.

Discurso x Discursos

 O termo "discurso" refere-se ao estudo da fala e do texto nas práticas sociais.


 Enquanto "discursos" refere-se a sistemas gerais e duradouros de pensamento que constituem objetos e
sujeitos.
 Enquanto o discurso é visto como uma realização local, em que os detalhes da linguagem em uso e do
processo de interação são preocupações centrais dos analistas, os discursos são vistos como sistemas mais
amplos e duradouros que moldam a forma como pensamos e agimos em relação a objetos e sujeitos
específicos.

Relação entre as 3 orientações: as principais relações entre as orientações são de complementaridade e


interdependência. Cada orientação oferece uma perspectiva única sobre a relação entre discurso e organização, e
juntas elas fornecem uma compreensão mais completa e complexa das práticas organizacionais. Embora cada
orientação tenha suas próprias forças e limitações, elas podem ser combinadas e integradas para fornecer uma visão
mais abrangente e sofisticada da relação entre discurso e organização.
Além disso, o artigo destaca a importância de considerar o contexto histórico e social em que as diferentes orientações
surgiram, bem como as implicações políticas e éticas de cada abordagem.

Como a análise do discurso contribui para os avanços nas ciências organizacionais?

 A análise do discurso contribui para o avanço das ciências organizacionais ao cruzar vários campos de estudo,
incluindo a sociolinguística, a análise da conversação, a linguística cognitiva, a pragmática, a semiótica, os
estudos retóricos e literários, a análise crítica do discurso e os estudos pós-modernos.
 Os estudiosos desta área afirmam que as organizações são construções discursivas porque o discurso é o
próprio fundamento sobre o qual a vida organizacional é construída. Ao analisar a linguagem e a interação
social dentro das organizações, os investigadores podem obter insights sobre como as organizações são
construídas, como o poder e a identidade são negociados e como o significado é criado e mantido.

Você pode fornecer exemplos de como as práticas sociais e as formas discursivas ancoram as organizações?

 As práticas sociais e as formas discursivas ancoram as organizações ao moldar as formas como as


organizações são construídas e mantidas.
 Por exemplo, práticas sociais como rotinas, rituais e normas proporcionam uma sensação de estabilidade e
continuidade dentro das organizações, enquanto formas discursivas como narrativas, metáforas e símbolos
ajudam a criar e reforçar a identidade e a cultura organizacional. Estas práticas sociais e formas discursivas
são muitas vezes tidas como certas e podem ser difíceis de discernir, mas desempenham um papel crucial na
formação da vida organizacional.
Feldman, M.S., & Orlikowski, W.J. (2011). Theorizing practice and practicing theory. Organization Science,
22: 1240-1253.

Este artigo descreve o campo emergente da teoria da prática conforme ela é praticada em relação aos fenômenos
organizacionais.
 A teoria da prática é uma abordagem emergente que se concentra na compreensão das práticas cotidianas
como uma forma de entender os fenômenos organizacionais. Ela se preocupa com a consequencialidade da
ação cotidiana e a relacionalidade dos fenômenos, e procura teorizar os processos constitutivos da prática em
vez de assumir a existência de entidades discretas.

A teoria da prática é aplicada em estudos sobre os fenômenos organizacionais por meio de três abordagens: empírica
(um enfoque empírico sobre como as pessoas agem em contextos organizacionais), teórica (em enfoque teórico na
compreensão das relações entre as ações que as pessoas realizam e as estruturas da vida social) e filosófica (um foco
filosófico no papel constitutivo das práticas na produção da realidade social), que se relacionam com o quê, o como e
o porquê do uso de lentes práticas.
 Empírica: reconhece a centralidade das ações cotidianas das pessoas para resultados organizacionais e reflete
um reconhecimento crescente da importância das práticas no operações contínuas das organizações. Essa
abordagem busca entender como as práticas são realizadas, como são aprendidas e como mudam ao longo do
tempo. Ela se baseia em dados empíricos coletados por meio de observação, entrevistas e outras técnicas de
pesquisa qualitativa para descrever e analisar as práticas em questão.
 Teórica: a abordagem teórica da prática se concentra na compreensão das relações entre as ações que as
pessoas tomam e as estruturas da vida social. Essa abordagem busca entender como as práticas são moldadas
por contextos sociais mais amplos e como elas, por sua vez, moldam esses contextos. Ela se baseia em teorias
e conceitos para analisar as práticas em questão e pode ser usada para desenvolver novas teorias sobre a
prática.
 Filosófica: a abordagem filosófica da prática se concentra no papel constitutivo das práticas na produção da
realidade social. Essa abordagem vê o mundo social como sendo criado através da atividade cotidiana das
pessoas e entende as práticas como os blocos de construção fundamentais da realidade social. Ela se baseia em
uma ontologia da prática, que afirma que as práticas são ontologicamente primárias em relação a outras
entidades sociais, como estruturas, instituições e indivíduos.

Discutimos três princípios da abordagem teórica da prática:


 1) Ações situadas são consequenciais na produção da vida social: Isso significa que as ações cotidianas das
pessoas têm um impacto na produção das estruturas sociais mais amplas. Essa ideia de "consequencialidade" é
um princípio fundamental da teoria da prática e é trabalhada de maneiras diferentes por diferentes teóricos.
Por exemplo, Bourdieu argumenta que o habitus é um princípio gerador de improvisação regulada que reativa
o sentido objetivado nas instituições, enquanto Giddens argumenta que as práticas sociais produzem e
reproduzem as estruturas que limitam e permitem as ações.
 2) Dualismos são rejeitados como forma de teorização: Isso significa que a teoria da prática rejeita a ideia de
que as coisas devem ser entendidas em termos de dualismos, como mente e corpo, cognição e ação, indivíduo
e instituição, livre-arbítrio e determinismo, entre outros. Em vez disso, a teoria da prática reconhece a relação
intrínseca entre esses elementos e busca entender como eles se relacionam e se constituem mutuamente. A
rejeição de dualismos é uma forma de superar a dicotomia entre sujeito e objeto e reconhecer a complexidade
da vida social.
 3) Relacionamentos de constituição mútua são importantes: Este princípio enfatiza a ideia de que nenhum
fenômeno pode ser tomado como independente de outros fenômenos e que eles existem em relação uns aos
outros, produzidos através de um processo de constituição mútua. Isto significa que práticas, estruturas e
agentes não são entidades separadas, mas sim interdependentes e co-constitutivas. As interações específicas
dos fenômenos decorrentes da relacionalidade variam entre os estudiosos, mas a ideia de constituição mútua
implica que eles se produzam e se reproduzam.
 A teoria da prática é uma abordagem ampla e complexa, mas esses princípios são comuns aos estudiosos que
trabalham dentro dessa área.

Aplicações da teoria da prática:


O artigo afirma que a teoria da prática promoveu novos insights sobre comunidades de prática, objetos fronteiriços e
conhecimento na prática, ao mesmo tempo que forneceu aos estudiosos formas de ajudar as organizações a resolver
problemas associados à produção e partilha de conhecimento. As descobertas e percepções dos estudos práticos
podem identificar alavancas organizacionais para permitir a mudança nas práticas, ao mesmo tempo que apoiam e
reforçam as práticas que estão a funcionar. As intervenções organizacionais que são informadas por essa
microdinâmica fundamentada podem ser mais diretamente relevantes para os locais específicos e para os profissionais
específicos envolvidos. Portanto, a teoria da prática é prática e pode ser aplicada a vários campos, incluindo pesquisa
organizacional, educação e saúde, entre outros.

Desafios e oportunidades proporcionados pela teoria prática:


Uma série de desafios acompanham o uso da teoria prática para conceituar fenômenos organizacionais. Estas têm a
ver com o movimento intrínseco à teoria prática de focar a atenção na consequência da ação quotidiana e na relação
entre os fenómenos.
O artigo afirma que um dos desafios de usar a teoria da prática para conceituar fenômenos organizacionais é
problematizar e então teorizar os processos constitutivos de atuação, em vez de tomar como certa a existência de
entidades distintas. Outro desafio é encontrar uma linguagem e uma lógica que expressem adequadamente a natureza
recorrente e relacional das práticas cotidianas. No entanto, o artigo também destaca as oportunidades proporcionadas
pela teoria da prática, tais como a identificação de alavancas organizacionais para permitir a mudança nas práticas, ao
mesmo tempo que apoia e reforça as práticas que estão a funcionar.
O artigo também enfatiza a importância de reconhecer a complexidade dos fenómenos organizacionais e a necessidade
de uma compreensão mais matizada da microdinâmica das interações cotidianas. No geral, o artigo sugere que a teoria
da prática oferece uma perspectiva valiosa para a compreensão dos fenómenos organizacionais, mas também
reconhece os desafios de aplicar esta perspectiva na prática.

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