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VULNERABILIDADE E RESILIÊNCIA

Organização: Profa. Dra. Maria Izabel Calil Stamato


Referência: KOTLIARENCO, M. A.; CÁCERES, I.; FONTECILLA,
M. Estado del Arte en Resiliencia. Organização
Panamericana de Saúde, Fundação Kellogg, Agencia Sueca
de Cooperación Internacional para el Desarrollo, 1997.
O Conceito de Resiliência
• Origem etimológica: resilio (latim) = voltar atrás,
voltar de um salto

• Engenharia Civil (Física): capacidade de um material


de retomar sua forma original depois de submeter-se
a uma pressão deformadora
 
• Psicologia Social: conjunto de processos sociais e
intrapsíquicos que possibilitam uma vida sã em um
meio desequilibrado; processo interativo entre
crianças e seu meio
O Conceito de Resiliência
• Conceitos relacionados:
• Invulnerabilidade: campo da psicopatologia
• Competência social: boas habilidades para interagir em
diferentes ambientes sociais
• Modelo da competência: características que identificam
influências recíprocas entre os sistemas sociais e individuais, e
que promovem desenvolvimento adequado entre as crianças;
múltiplos domínios de funcionamento competente explicam as
diferenças individuais nos padrões de competência
• Robustez: combinação de traços pessoais de caráter adaptativo,
incluindo o sentido do compromisso, do desafio, da
oportunidade e da capacidade de exercer controle sobre as
próprias circunstâncias, que se manifestam em situações difíceis;
em algumas pessoas atua como reforçadora da resistência ao
Processos de vulnerabilidade e proteção
 
• Definição: processos interativos que se relacionam com
momentos chaves na vida da pessoa

• Conceito de vulnerabilidade: fenômeno caracterizado por


certo nível de stress, que resulta em condutas
desadaptadas; intensificação da reação frente a estímulos
que, em circunstâncias normais, conduzem a uma
desadaptação

• Fatores de risco e protetores: significado de um


acontecimento estressante, que depende das capacidades
cognitivas e emocionais de cada pessoa; mesma variável
pode atuar, em diferentes circunstâncias, como fator de
Processos de vulnerabilidade e
proteção
• Fatores protetores: influências que modificam, melhoram ou alteram
as respostas de uma pessoa a algum perigo que predispõe a um
resultado não adaptativo; evento desagradável e potencialmente
perigoso que pode fortalecer frente a eventos similares e que inclui
interação; pode ser uma experiência, uma qualidade ou característica
individual.
• Mecanismos protetores: recursos ambientais disponíveis e forças
internas que permitem a adaptação a um contexto
• Modelo compensatório: fatores estressantes e atributos individuais se
somam na predição de uma consequência, o stress severo pode ser
enfrentado por qualidades individuais ou fontes de apoio
• Modelo do desafio: stress tratado como potencial estimulador de
competência (quando não excessivo)
• Modelo de imunidade: relação condicional entre stress e fatores
protetores, modulando o impacto do stress na qualidade da
adaptação.
Processos de vulnerabilidade e proteção
• Fatores distais (macrosociais): não afetam diretamente o sujeito, mas atuam
através de mediadores
• Fatores proximais: interagem diretamente com o sujeit
• Cadeia causal: começa com variável distal (pobreza), atuando pelas consequências
sobre as variáveis mediadoras (ansiedade materna), para afetar a criança através
de uma ou mais variáveis proximais (irritabilidade da mãe)
• Mecanismos mediadores: determinam aumento ou diminuição dos fatores de
risco, preditores dos processos protetores
• 4 tipos:
reduzem o impacto do risco, alterando o significado para a criança ou modificando
sua participação na situação de risco (hospitalização, supervisão da criança)
reduzem a probabilidade de reações negativas em cadeia
promovem o estabelecimento e manutenção da autoestima e auto eficácia
(relações afetivas seguras e harmônicas e êxito em tarefas importantes)
experiências ou momentos chaves na vida da pessoa, capazes de criar
oportunidades de desenvolvimento adaptativo
Pobreza como situação de privação e stress
• Pobreza: condição especialmente geradora de dor e stress,
semelhante ou superior a conviver com pais com patologias
mentais graves
• Consequências objetivas: exposição a condições precárias que
prejudicam a saúde física e mental
• Consequências subjetivas: sentimentos de culpa, preocupação,
instabilidade nas relações familiares, reações negativas dos pais e
punição, que aumenta probabilidade de problemas emocionais e
sociais e sintomas psicossomáticos, e reduz aspirações e
expectativas
• Adolescentes: problemas de conduta e saúde mental relacionados
às características da infância, da família e do estilo parental
• Crianças pequenas: particularmente suscetíveis aos efeitos
adversos da pobreza e mais expostos à combinação de fatores de
Características Psicossociais de Crianças e Adolescentes Resilientes

• Crianças/adolescentes:
 nível sócio-econômico mais alto
 gênero feminino (prepúberes) e gênero masculino (etapas posteriores)
 ausência de deficiências orgânicas
 temperamento fácil
 menor idade no momento do trauma
 ausência de separações ou perdas precoces

• Meio social imediato:


 pais competentes
 boa relação com pelo menos um cuidador primário
 possibilidade de contar na vida adulta com apoio social do cônjuge,
família e outras figuras
 melhor rede informal de apoio (vínculos) com boa experiência
Características Psicossociais de Crianças e
Adolescentes Resilientes
• Funcionamento psicológico que protege do stress:
 maior coeficiente intelectual e habilidades de resolução de problemas
 melhores estilos de enfrentamento de problemas
 motivação ao êxito autodirigida
 autonomia e capacidade de controle interno
 empatia, conhecimento e manejo adequado de relações interpessoais
 vontade e capacidade de planejamento
 sentido de humor positivo
 maior tendência à grupalização
 maior autoestima
 menor tendência a sentimentos de falta de esperança
 maior autonomia e independência
 orientação para tarefas, melhor manejo econômico
 menor tendência a evitar problemas e ao fatalismo
• Humor: traço de personalidade, disposição inata que pode ser reforçada pelo
Características Psicossociais de Crianças e
Adolescentes Resilientes
• Mandala da Resiliência:
 Introspecção (insight): arte de perguntar a si mesmo e dar uma autoresposta
honesta
 Independência: capacidade de estabelecer limites entre si mesmo e os ambientes
adversos; capacidade de manter distância emocional e física, sem isolar-se
 Capacidade de relacionar-se: habilidade para estabelecer laços íntimos e
satisfatórios voltados à própria necessidade de simpatia e atitude para
compartilhar com os outros
 Iniciativa: prazer de exigir-se e colocar-se à prova em tarefas progressivamente
mais exigentes; capacidade de assumir problemas e exercer controle sobre eles
 Humor: capacidade de encontrar o cômico na tragédia
 Criatividade: capacidade de criar ordem, beleza e finalidade a partir do caos e da
desordem; na infância se expressa na criação e nos jogos, vias para reverter a
solidão, o medo, a raiva e a desesperança
 Moralidade: consciência informada, desejo de vida pessoal satisfatória, ampla e
com riqueza interior; consciência moral, capacidade de comprometer-se com
valores e diferenciar o bem do mal
Fatores que promovem a resiliência
• Características de temperamento: adequado nível de atividade, capacidade
reflexiva e responsividade frente às pessoas
• Capacidade intelectual: habilidade para resolução de problemas
• Natureza da família: coesão, ternura e preocupação pelo bem estar dos
membros
• Fontes de apoio externo: professor, pai/mãe de origem ou substitutos,
escola, agências sociais, igrejas
• Clima educacional: aberto, continente e com limites claros
• Relação com pares: positiva
• Gênero: feminino
• Eventos vitais: neutralizantes
• Processo transgeracional: pais que viveram história de privação, negligência
e/ou abuso têm maior predisposição a problemas durante as distintas etapas
de sua vida familiar - problemas de conduta, saúde física e mental, de
educação dos filhos, de relações no interior da família
• Teoria do Vínculo: vínculos seguros são mediadores de comportamentos
resilientes
Investigação sobre risco
• Origem: 1946, Spitz e Wolf

• Conclusões: condições ambientais de severa


privação têm significativo impacto no
desenvolvimento social, emocional, cognitivo
e físico das crianças; as crianças pequenas
dependem do bem estar biológico, de amor e
de alimento psicológico para sua
sobrevivência.
Programas de Intervenção
• Programas de Intervenção: objetivo viável de
modificação e reforço de variáveis proximais, por meio
de trabalho psicossocial específico; fatores distais
dependem das decisões políticas de nível macrossocial
 Foco na saúde e educação e não enfermidade e carência
 Ampliação da leitura sobre mecanismos que atuam como
moderadores e/ou protetores em situação de pobreza
 Detecção precoce de fatores estressantes ou de risco para
reduzir os efeitos no desenvolvimento da criança
 Detecção precoce de possíveis desordens permanentes em
crianças (como danos cerebrais) para favorecer melhor
qualidade de vida a elas e sua famílias
Programas de Intervenção
 Intervenções no início do problema provocam
maior impacto

 Incorporação da família no trabalho com as


crianças, por seu papel mediador

 Ações ativas de interferência precoce nos


fatores que podem impedir desenvolvimento
integral e normal para prevenir possíveis
alterações e desordens

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