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PROTEÇÃO COMPROMETIDA: repercussões da

pandemia de COVID-19 no atendimento a adolescentes


em situação de violência sexual em um Hospital
Universitário

Thainá Bastos Soares


Silse Teixeira de Freitas Lemos
PROTEÇÃO COMPROMETIDA: repercussões da pandemia de COVID-19 no
atendimento a adolescentes em situação de violência sexual em um Hospital
Universitário
1. INTRODUÇÃO
• Faleiros (2005) ao analisar a categoria família “ressalta que ela não é uma
instituição natural, mas sim mutável, que se organiza de acordo com as
diferenças culturais, e assume diversas configurações ao longo das
transformações que acontecem na sociedade, do campo econômico ao
social.”
LÓCUS DE EXERCÍCIO DE
PODER

CONFLITO E VIOLÊNCIA

TENSÕES

APOIO E COOPERAÇÃO
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1. INTRODUÇÃO

• A cisão do público para o privado foi uma das transformações que trouxe
diversos rebatimentos ao longo da história da família. A partir de então,
as relações familiares começaram a restringir-se unicamente ao
ambiente privado e isso resultaria em uma ressignificação da categoria
família.
• Família como uma instituição sagrada e natural;
• É no falseamento dessas relações que emerge o fenômeno da violência.
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1. INTRODUÇÃO

O estudo em questão objetiva analisar de quais formas o contexto


pandêmico da COVID-19 refletiu no atendimento ofertado por um Hospital
Universitário à adolescentes em situação de violência sexual, bem como
os rebatimentos na vida social deste público, uma vez que a pandemia, em
seus diferentes momentos, além de intensificar as problemáticas já
vivenciadas por elas, impôs novas, a exemplo da redução massiva da
procura pelo serviço de saúde nos períodos de maior incidência do vírus.
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• A pesquisa a ser realizada é classificada, com base no objeto de estudo,


como uma pesquisa explicativa.
• A abordagem adotada para análise e compreensão dos resultados é
mista, tanto qualitativa
• como quantitativa, pois compreendem-se as múltiplas camadas de
significâncias que permeiam o objeto, somadas à precisão e relevância
dos dados estatísticos coletados
• Os dados coletados serão de caráter secundário.
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2. Pandemia, saúde pública e violência: novos agravantes, velhos problemas


• A pandemia emerge em um contexto de notável desmonte de políticas
necessárias à redução da pobreza e da desigualdade em prol da lógica de
acumulação capitalista. Além de aprofundar uma crise já existente no
Brasil, a pandemia revela o quão debilitado está o país, no que diz respeito
ao enfrentamento da crise sanitária (JUNIOR, 2020)
• Conforme lembra Matos (2020), a pandemia obrigou os serviços de saúde
a estabelecerem mudanças que trariam uma série de impactos à
população;
• Isto teve impacto direto no atendimento ofertado às pessoas em situação
de violência sexual.
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2. Pandemia, saúde pública e violência: novos agravantes, velhos


problemas

O abuso sexual no ambiente doméstico contra crianças e adolescentes ainda


é um fenômeno social grave que atinge todas as idades, classes sociais,
etnias, religiões, culturas e limitações individuais. Esse tipo de violência
acontece em um ambiente relacional favorável, às expensas da confiança
que a vítima deposita no abusador que, aproveitando-se da ingenuidade da
criança ou adolescente, pratica a violência de forma repetitiva, insidiosa,
fazendo crer que ela, a vítima, é culpada por ser abusada (BAPTISTA et al.,
2008)
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3. Saúde integral ameaçada: impactos da Covid-19 para adolescentes em situação


de violência sexual

• O HU-UFMA desde 2003 é referência estadual no atendimento dos casos


de violência sexual.
• Fluxo de atendimento perpassa por toda uma equipe multiprofissional.
• Os atendimentos realizados são registrados no AGHUx, mas também
ficam armazenados no setor através das Fichas de Entrevista de
Acolhimento Social e da planilha alimentada pelas profissionais.
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de violência sexual

ANO QUANTIDADE DE 12-18 ANOS


ATENDIMENTOS
2019 214 125
2020 139 73
2021 178 118

Tabela 1 - Quantitativo de atendimentos realizados pelo Serviço Social


por ocasião de violência sexual entre 2019 e 2021.
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3. Saúde integral ameaçada: impactos da Covid-19 para adolescentes em situação


de violência sexual
• Acredita-se que a queda na quantidade de atendimentos em 2020 se dê por conta das
restrições impostas pela pandemia. Vale ressaltar que o ambulatório de Ginecologia e
Obstetrícia do HU-UFMA interrompeu consultas eletivas, e o Serviço Social do
setor passou a prestar atendimento prioritariamente às situações de violência
sexual que adentravam à unidade de saúde.
• A análise dos registros em prontuário feitos pelo Serviço Social apontou também que a
necessidade de distanciamento social e o surgimento de sintomas gripais foram fatores
que dificultaram o segmento dos atendimentos e/ou a construção de registros mais
robustos.
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3. Saúde integral ameaçada: impactos da Covid-19 para adolescentes em situação de violência


sexual

Conforme apresentado no gráfico


1, se percebe uma prevalência da
faixa etária de 12 a 18 anos nos
atendimentos. Apesar da queda
considerável desse público em
2020, verifica-se o crescimento da
faixa etária de crianças de 0 a 11
anos.
• Faixa etária predominante nos anos de 2019, 2020 e 2021
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3. Saúde integral ameaçada: impactos da Covid-19 para adolescentes em situação


de violência sexual
O aspecto de gênero também é
notadamente visível quando se trata da
violência.
A diferença da incidência entre os sexos
percebida no gráfico 2 evidencia os
traços de uma cultura heteropatriarcal,
machista e racista que atravessa a vida
de todas as mulheres, independente de
que fase da vida se encontrem, como
expressão do uso do poder e do controle
sobre os corpos femininos.
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3. Saúde integral ameaçada: impactos da Covid-19 para adolescentes em situação


de violência sexual
O aspecto de gênero também é
notadamente visível quando se trata da
violência.
A diferença da incidência entre os sexos
percebida no gráfico 2 evidencia os
traços de uma cultura heteropatriarcal,
machista e racista que atravessa a vida
de todas as mulheres, independente de
que fase da vida se encontrem, como
expressão do uso do poder e do controle
sobre os corpos femininos.
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3. Saúde integral ameaçada: impactos da Covid-19 para adolescentes em situação


de violência sexual
•A análise dos prontuários também evidenciou consequências psicológicas
graves para as adolescentes, em decorrência das situações de violência que
vieram à tona. A automutilação foi conduta muito relatada por parte destas.
•A grande maioria dos relatos destacou a postura punitiva do núcleo familiar
ao descobrir sobre a violência, sobretudo quando o agressor o compunha.
•A despeito da influência da pandemia, há que se considerar os problemas
históricos que permeiam a denúncia e a procura pela unidade de saúde por
vítimas de violência.
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4. Considerações Finais
• Foi possível verificar que a pandemia afetou todos os níveis da vida social. O
Sistema Único de Saúde entrou em colapso muitas vezes durante as diferentes
ondas, afetando o atendimento a muitas outras situações de saúde da população.
• Apesar do HU-UFMA não paralisar os atendimentos ao público em situação de
violência, houve declínio da busca, o que não necessariamente implicou na
diminuição da violência sexual.

• A literatura especializada evidenciou que o processo de isolamento social intensificou


o fenômeno da violência, em todas as suas expressões, dificultando ainda mais a
denúncia e o rastreamento dos casos.

• Verificou-se também que a continuidade do atendimento ficou prejudicada por


questões relativas, principalmente, a deslocamento e questões familiares.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática em serviço. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.
________. Ministério da Saúde. Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde. Organização Mundial de Saúde declara pandemia do novo Corona vírus. [online].
UNASUS 2020a. Disponível em: <https://www.unasus.gov.br/noticia/organizacao-mundial-desaude-declara-pandemia-de-coronavirus>. Acesso em 13 de junho de 2021.
BRASIL. Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal [Internet]. Diário Oficial da União. 31 dez. 1940 (acesso set. 2021). Disponível:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm. Acesso em jun 2020.
BAPTISTA, R. S. et al. Caracterização do abuso sexual em crianças e adolescentes notificado em um Programa Sentinela. Acta Paulista de Enfermagem, 21(4), 602-
608. 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s0103-21002008000400011. Acesso em jan 2023
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). Parâmetros para a atuação de Assistentes Sociais na Saúde. Série: Trabalho e Projeto Profissional nas políticas
sociais. Brasília, 2010.
FALEIROS, V. P. Abuso sexual de crianças e adolescentes: trama, drama e trauma. Serviço Social e Saúde, v. 2, n. 1, p. 65–82, 2005. Campinas, SP. DOI:
10.20396/sss.v2i1.8636441.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública: 2021. São Paulo, 2021.
FUMAGALI, E. O.; SANTOS, C. C. A. Abuso sexual de crianças e adolescente no Brasil em tempos de COVID-19: a educação como forma de prevenção. Caderno de Graduação
Ciências Humanas e Sociais, v. 6, n. 3, p. 171, UNIT – SERGIPE, 2021.
JUNIOR, E. S. C. A Pandemia Frente à Constituição Fragilizada: Impactos da Emenda nº 95. [online]. Revista Direito Público, Dossiê Especial Covid-19 – Volume II, Brasília, Volume
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2021.
MATOS, M. C. A Pandemia do Coronavírus (COVID-19) e o trabalho de Assistentes Sociais na Saúde. Pela Saúde, Rio de Janeiro: Blogspot, 2020. Disponível em:
<http://cressms.org.br/sh-admin/editor/ckfinder/userfiles/files/Artigo-A-pandemia-do-coronavirusCOVID-19-e-o-trabalho-de-assistentes-sociais-na-saude-2.pdf>. Acesso em 23 julho de
2021.
MINAYO, M. C. S. Violência contra crianças e adolescentes: questão social, questão de saúde. Rev. Bras. Saúde Materno Infantil, 1(2):91-102, maio-ago., Recife, 2001.
ROCHA, L. M. L. N. Casa Abrigo: no enfrentamento da violência doméstica e gênero. São Paulo: Veras Editora, 2007

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