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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – UNESA

CURSO SUPERIOR TECNÓLOGICO EM SEGURANÇA PÚBLICA – CSTSP

ELIJOCI DE CARVALHO SOUZA

O AUMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHER NO PERÍODO DA


PANDEMIA DO COVID-19 E A ATUAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO

Artigo a ser apresentado à Banca do Exame do Curso


Superior de Tecnólogo em Segurança Pública da
Universidade Estácio de Sá – CSTSP/UNESA, como
requisito para aprovação na disciplina de TCC em
Segurança Pública.

ORIENTADOR

Professor George Wilton Toledo

Salvador – BA
Novembro de 2023
AUMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHER NO PERÍODO DA
PANDEMIA DO COVID-19 E A ATUAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO

THE INCREASE OF VIOLENCE AGAINST WOMEN DURING THE


COVID-19 PANDEMIC AND THE ROLE OF THE BRAZILIAN STATE

Elijoci de Carvalho Souza1


George Wilton Toledo 2

RESUMO

A violência contra as mulheres, que já era um problema social antes da pandemia de COVID-
19, agravou-se durante o confinamento obrigatório. Essa violação de direitos humanos
abrange diversas dimensões, indo desde agressões físicas até impactos na saúde mental. É
imperioso a atuação do estado na formulação de políticas públicas eficazes que venham a
combater essa violência de gênero. O presente artigo tem como objetivo central analisar os
fatores que contribuíram para o aumento dos casos de violência contra a mulher durante a
pandemia de COVID-19 e avaliar a atuação do estado no combate a esse problema. A
metodologia utilizada foi uma revisão teórica de livros e artigos científicos, utilizando a base
de dados disponível no Google Acadêmico. Esse processo contribuiu para a formação de uma
base sólida de conhecimento, permitindo a elaboração de uma análise crítica e sistemática do
problema. Assim, espera-se construir um fundamento teórico que poderá contribuir na criação
de políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade de vida das mulheres no Brasil.

Palavras-chave: violência de gênero; direitos humanos; políticas públicas.

1
Graduanda em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá. E-mail:
elijocicarvalho@outlook.com

2
Professor orientador – Universidade Estácio de Sá. E-mail: george.toledo@live.estacio.br
ABSTRACT

The escalation of violence against women, already a social issue before the COVID-19
pandemic, worsened during mandatory lockdowns. This violation of human rights
encompasses various dimensions, ranging from physical assaults to impacts on mental health.
The state's intervention in formulating effective public policies to combat gender-based
violence is imperative. This article aims to analyze the factors contributing to the increase in
cases of violence against women during the COVID-19 pandemic and evaluate the state's role
in addressing this issue. The methodology employed involved a theoretical review of books
and scientific articles, utilizing the Google Scholar database. This process contributed to the
establishment of a robust knowledge base, allowing for a critical and systematic analysis of
the problem. Thus, the goal is to construct a theoretical foundation that can contribute to the
creation of public policies aimed at improving the quality of life for women in Brazil.

Keywords: gender-based violence, human rights, public policies.


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1. INTRODUÇÃO

A violência contra as mulheres já era um problema social no Brasil e no mundo antes da


pandemia, mas tornou-se ainda mais grave devido ao confinamento obrigatório imposto pela
pandemia de COVID-19, com reflexos presentes no período atual.
Conforme estabelecido pela Lei 11.340/2006, a violência doméstica abrange qualquer ato
ou negligência de caráter discriminatório de gênero que resulte em lesão, sofrimento físico,
sexual, psicológico, ou prejuízo moral ou patrimonial à mulher, ocorrendo no contexto da
unidade doméstica, da esfera familiar, ou em qualquer relação íntima de afeto. A aplicabilidade
desta legislação ocorre quando o agressor teve ou tem convívio com a vítima, sem a necessidade
de coabitação. (Brasil, 2006).
A violência enfrentada pelas mulheres engloba um vasto espectro de agressões, que
incluem várias dimensões. Por vezes, essas agressões ocorrem em uma progressão que pode
culminar no extremo da violência, que é o assassinato, representando a manifestação mais grave
da violência direcionada às mulheres. (FBSP, 2023).
Embora o fenômeno da violência contra a mulher não seja inerentemente uma questão de
saúde, ele é reconhecido como um problema que afeta tanto a saúde individual quanto a coletiva,
pois tem impactos adversos na saúde das mulheres. (Silva et al., 2015).
Os impactos da violência na saúde da mulher abrangem uma série de aspectos. Além das
repercussões físicas, como a possibilidade de óbito, síndrome do intestino irritável, gastrites,
invalidez, entre outras, surgem também as consequências mentais e psicológicas. Estas se
manifestam por meio de sintomas como depressão, ansiedade, distúrbios do sono, medos e
ataques de pânico, entre outros. (Souza, 2022a).
Nesse contexto, a pandemia de COVID-19 trouxe consigo um aumento alarmante da
violência contra as mulheres em todo o mundo. No período de confinamento obrigatório e
restrições de movimentação, muitas mulheres ficaram mais vulneráveis a agressões físicas,
psicológicas e sexuais, tornando-se reféns de suas próprias casas. Essa situação agravou um
problema social já existente, tornando-o mais evidente e preocupante.
De acordo com a pesquisa, um dos principais fatores que contribuíram para o aumento da
violência contra as mulheres durante a pandemia foi o aumento das tensões familiares. Com o
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estresse provocado pela incerteza econômica, o medo do contágio e o isolamento social, muitos
agressores encontraram na violência uma forma de descarregar suas frustrações, resultando em
uma escalada de abusos domésticos.
Além disso, o isolamento social dificultou o acesso das vítimas aos recursos de apoio,
como abrigos e redes de apoio, tornando-as ainda mais vulneráveis. As mulheres muitas vezes
ficaram presas em situações de abuso, sem poder buscar ajuda ou denunciar seus agressores.
Com as medidas de isolamento, as vítimas de violência muitas vezes se viram limitadas
em sua capacidade de buscar ajuda ou apoio fora de casa. O agressor, geralmente alguém com
quem a vítima convive, ao monitorar seu movimento e restringir sua liberdade, cria dificuldades
para que ela escape da situação de abuso. Além disso, com a família inteira em casa devido ao
isolamento, as vítimas muitas vezes enfrentavam a falta de privacidade necessária para buscar
ajuda ou conversar com alguém sobre a violência que estavam sofrendo. Isso limitou sua
capacidade de compartilhar suas experiências com outras pessoas e de buscar orientação.
A pandemia do novo coronavírus representou um desafio significativo para o Brasil,
sobretudo devido às desigualdades preexistentes, uma vez que as regiões mais desenvolvidas
foram atingidas, sendo o impacto ainda mais acentuado nos estados menos prósperos. (Kerr et al.,
2020).
Diante dessa perspectiva, é essencial reconhecer a função central do Estado na formulação
e execução de políticas públicas voltadas para a proteção das mulheres. Nesse sentido, torna-se
imperativo que o Estado aporte recursos substanciais nas áreas da educação, segurança e
cidadania. Tais investimentos devem visar a promoção de melhorias nas condições de vida e
saúde das mulheres ao longo de todas as fases de seu ciclo de vida.
Ademais, as políticas públicas desempenham um papel crucial na criação de um ambiente
seguro, na promoção da igualdade de gênero e na redução da violência contra a mulher. A
abordagem abrangente e colaborativa entre governo, sociedade civil e setor privado é essencial
para enfrentar esse desafio complexo.
O objetivo desta pesquisa é examinar os fatores que contribuíram para o aumento dos
casos de violência contra a mulher durante a pandemia de COVID-19, ao mesmo tempo que se
avaliou a intervenção do Estado no combate a esse problema. Dessa forma, busca-se desenvolver
um embasamento teórico que poderá apoiar a elaboração de políticas públicas destinadas a
aprimorar a qualidade de vida das mulheres no cenário brasileiro.
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Este artigo conduz uma análise qualitativa de caráter descritivo, embasada em fontes
bibliográficas. A abordagem metodológica adotada consistiu em realizar uma revisão teórica de
livros e artigos científicos, utilizando a base de dados disponível no Google Acadêmico. O foco
dessa revisão foi direcionado para a temática da violência contra a mulher no contexto da
pandemia de COVID-19, explorando também a intervenção do Estado na mitigação dessa
violação dos Direitos Humanos.
Destaca-se que a pesquisa envolveu uma análise crítica e sistemática da literatura
existente sobre o tema, buscando compreender as teorias, conceitos e abordagens previamente
explorados em outros estudos. A revisão teórica permitiu a contextualização do problema,
oferecendo uma base sólida para a construção de conhecimento, identificação de lacunas e
aprofundamento no entendimento do assunto em questão.

2. A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER DURANTE A PANDEMIA

A violência é caracterizada pelo emprego de força física, poder ou ameaça direcionados a


si mesmo, a outra pessoa, ou a um grupo e/ou comunidade, resultando em lesão, dano
psicológico, privação, deficiência no desenvolvimento ou mesmo morte. Este fenômeno
transcende fronteiras, manifestando-se em diversas localidades e estratos sociais, configurando-se
como um expressivo desafio de saúde pública devido ao impacto significativo que exerce na vida
em sociedade (OMS, 2002).
Num contexto social regido pelo patriarcado, o homem é colocado como o detentor da
razão. Nesse sentido cultural, é conferido ao homem o poder de nomear as condutas femininas,
sendo socialmente autorizado ou tolerado para sancionar os atos das mulheres que se desviem do
código moral estabelecido pela Ordem Patriarcal de Gênero. A construção social resultante desse
modelo patriarcal estabelece um padrão de masculinidade no qual a afirmação do 'ser homem' é
frequentemente associada ao recurso à violência, constituindo um desafio também para os
homens que não aderem a esse código moral (Ravane, 2022).
Essa forma de violência tem suas raízes na construção social de gênero, que se baseia na
ideia de que os homens têm uma suposta superioridade biológica sobre as mulheres. Essa
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percepção tem sido historicamente utilizada para justificar desigualdades sociais e políticas,
alimentando uma dinâmica de dominação-exploração, com a supremacia masculina no centro
dessa relação.
Destaca-se que a violência contra as mulheres representa uma preocupação alarmante,
intrinsecamente ligada à responsabilidade do Estado em assegurar os direitos fundamentais das
mulheres. Essa incumbência estatal inclui a garantia do mínimo existencial, a fim de proporcionar
proteção a tais formas de violência e assegurar que a justiça seja efetivamente aplicada às vítimas
de injustiças.
Reconhecida como uma violação dos Direitos Humanos, a violência contra as mulheres
traz implicações políticas, econômicas, sociais, psicológicas e culturais, o que demanda a
construção de estratégias que tenham como horizonte o fortalecimento da cidadania feminina.
Nessa direção, é fundamental destacar a centralidade do papel do Estado, com a participação da
sociedade civil, no processo de construção de políticas públicas voltadas para sua prevenção e
superação (Carvalho, 2021).
Nesse contexto, verifica-se que a pandemia do COVID-19 agravou essa violação dos
Direitos Humanos, devido a criação de um ambiente propício para o aumento dos casos de
violência doméstica.
A caracterização como pandemia foi feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em
11 de março de 2020, indicando que a doença se espalhou de forma extensa, afetando múltiplos
países e continentes. O termo "pandemia" refere-se à disseminação global de uma nova doença,
muitas vezes com impactos significativos na saúde pública, economia e sociedade.
No Brasil, a declaração formal do surto pandêmico da COVID-19 foi oficializada em 7 de
fevereiro de 2020, quando entrou em vigor a Lei n.º 13.979/2020, estabelecendo medidas para
enfrentar a emergência de saúde pública de alcance internacional causada pelo coronavírus
(BRASIL, 2020).
A pandemia do COVID-19 teve repercussões profundas em diversos aspectos. Na saúde,
sobrecarregou sistemas de saúde em todo o mundo, exigindo respostas rápidas e adaptáveis para
enfrentar a alta demanda por cuidados médicos. No âmbito social, as medidas de distanciamento
social, lockdowns e restrições de deslocamento alteraram drasticamente o modo de vida das
pessoas.
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A crise pandêmica da COVID-19 impacta diretamente os grupos vulneráveis,


especialmente as mulheres. Isso demanda o reforço de medidas efetivas de saúde pública para
melhor atender a essas populações, assim como a ampliação da proteção social e econômica. As
condições desfavoráveis resultantes das desigualdades estruturais acabam por restringir o acesso
a diversos serviços, como os de saúde, saneamento e acesso à justiça (Souza, 2020b).
Diante da pandemia de COVID-19, as autoridades e governantes introduziram diversas
restrições, incluindo o isolamento social, como uma estratégia para reduzir a disseminação do
vírus. Essas medidas criaram um contexto que favorece o surgimento de situações estressantes,
contribuindo, por conseguinte, para um aumento nos casos de violência contra mulheres (Fornari
et al., 2021).
Apesar de o isolamento social ter sido reconhecido como uma medida eficaz na contenção
da disseminação do vírus COVID-19, observou-se um aumento nos casos de violência contra
mulheres em várias nações, incluindo China, Reino Unido, Estados Unidos, França e Brasil.
Consequentemente, o período pandêmico contribuiu para a ampliação das desigualdades de
gênero e o surgimento de situações de violência, agravando a vulnerabilidade das mulheres
(Marques et al., 2020).
Durante esse período, a discussão sobre o advento da pandemia do coronavírus foi tema
de debates no contexto da violência doméstica contra as mulheres e de suas repercussões nas
relações intrafamiliares.
A Organização Pan-Americana da Saúde (2020) reconheceu que a COVID-19 poderia
intensificar os riscos de violência contra as mulheres devido ao estresse, à redução do convívio
social, e ao acesso mais restrito aos serviços de segurança. Detalhadamente, afirmou que a
probabilidade de as mulheres serem expostas à violência aumentava consideravelmente à medida
que os membros da família passavam mais tempo juntos, enfrentando estresse e possíveis perdas
econômicas ou de emprego. Além disso, destacou que as mulheres passaram a ter menos contato
com familiares e amigos que poderiam oferecer apoio e proteção contra a violência, suportaram o
peso do aumento da carga de trabalho relacionada aos cuidados com a família durante a
pandemia, e os perpetradores do abuso puderam usar as restrições impostas pela doença para
exercer poder e controle sobre suas parceiras, limitando o acesso a serviços, ajuda e apoio
psicológico.
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O confinamento domiciliar acarretou um aumento significativo na responsabilidade das


mulheres no que diz respeito ao trabalho e cuidado com crianças e idosos. Consequentemente, os
níveis de estresse e as dificuldades no convívio social tendem a se intensificar mais facilmente do
que anteriormente. Além disso, o desemprego, a incerteza em relação ao rumo dos
acontecimentos devido à pandemia, entre outros fatores, contribui para a criação de uma
atmosfera perigosa e propícia a conflitos. Nesse cenário, a agressão física ou verbal vitimou
muitas mulheres durante o período pandêmico (Marques et al, 2020).
De acordo com Balbino et al. (2020), na emergência da pandemia, a violência doméstica e
familiar contra mulheres aumentaram devido à intensificação das tensões no ambiente doméstico,
às medidas de isolamento social, às restrições de deslocamento durante a quarentena e aos
impactos econômicos da pandemia, que criaram barreiras adicionais para que as vítimas rompam
o ciclo da violência doméstica.
Durante este período, no qual houveram restrições ao convívio, as mulheres se
encontravam isoladas em seus domicílios. Isso limitou as opções de suporte familiar, de vizinhos
e de amigos, o que intensificou a violência vivida por elas e suas consequências. Esses fatores
que contribuíram com o aumento da violência, uma vez que é reconhecido que o apoio de pessoas
próximas desempenha um papel fundamental para encorajar mulheres em situação de violência a
enfrentá-la e a buscar ajuda.
De acordo com Lobo (2020), no que diz respeito aos registros de violências domésticas, o
protocolo é que a vítima se desloque pessoalmente até uma delegacia de polícia para informar o
crime à autoridade policial. Contudo, devido à interrupção temporária dos serviços em
decorrência da pandemia, as mulheres se depararam com um obstáculo, pois não sabiam como
proceder para relatar o crime à polícia. Isso resultou no enfrentamento não apenas das agressões,
mas também do medo e da incerteza quanto à efetiva proteção de sua integridade.
Verifica-se que a estratégia de confinamento, recomendada pelas autoridades sanitárias
como uma medida necessária e fundamental para combater a COVID-19, está associada ao
aumento significativo da violência doméstica em diversos países. Na China, país de origem do
vírus e primeiro epicentro da pandemia, observou-se um aumento expressivo no número de
pedidos de divórcio, sugerindo que a situação de reclusão domiciliar contribui para o aumento de
conflitos conjugais (Goulart, 2020).
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Conforme Santos et al. (2023), ao longo da pandemia de COVID-19, registrou-se um


aumento nas notificações de violência contra mulheres, especialmente no início, quando as
medidas restritivas de convívio social foram implementadas. Estas medidas resultaram no
confinamento de mulheres com parceiros violentos, levando a um aumento nas denúncias. Entre
essas denúncias, a violência psicológica foi a mais prevalente, seguida pela violência física.
Mulheres negras, sem escolaridade e de baixa renda foram os principais alvos dessas agressões.
No ano de 2018, foram registrados 263.067 casos de violência doméstica no Brasil, todos
classificados como dolosos. Isso implica que, a cada dois minutos, uma mulher é agredida ou
perde a vida no país. Considerando uma base de cem mil habitantes, a taxa de violência contra
mulheres atinge a marca de 126,2. Entretanto, é crucial observar que essas taxas se multiplicaram
em períodos de calamidade pública, como durante a emergência do Coronavírus, quando o
isolamento social tornou-se necessário, obrigando as mulheres a compartilharem o ambiente
doméstico com agressores. O que era um suposto lar, nesse contexto, transformou-se em um
espaço permeado por medo e abuso (Ravane et al., 2022).
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), em colaboração
com a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (ONDH), anunciou que, nos meses de
fevereiro, março e abril de 2020, houve um acréscimo de 14,12% no número de denúncias de
violência doméstica em comparação com o mesmo período de 2019 (Souza, 2022a).
Em comparação com o ano de 2017, constatou-se um aumento significativo de
aproximadamente 143% nas denúncias de violência contra a mulher na Bahia em 2021. No
Ceará, no ano de 2020, a média foi de 7,1 óbitos a cada 100 mil mulheres vítimas de violência de
gênero. Na região nordeste do Brasil, mais especificamente no estado de Pernambuco, foram
registrados 19.496 casos de agressão doméstica e familiar contra a mulher. Ademais, observou-se
um aumento de 22,2% na taxa de feminicídio no país, passando de 117 vítimas nos meses de
março e abril de 2019 para 143 vítimas durante o mesmo período de 2020. Nos estados do Acre,
Maranhão e Mato Grosso, o crescimento foi notavelmente expressivo, atingindo percentuais de
300%, 166,7% e 150%, respectivamente. (Santos et al., 2023).
Segundo informações apresentadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2020),
observou-se um aumento de aproximadamente 5,2% nos incidentes de violência doméstica no
Brasil durante o ano de 2020. Esses eventos se traduziram em aproximadamente 267.930
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registros de lesões corporais intencionais, 66.348 casos de abuso sexual, e um acréscimo de cerca
de 7,1% nos casos de feminicídio.
No contexto de distanciamento social, é possível inferir que essas situações se
intensificam devido ao convívio constante com parceiros e familiares dentro de casa, amplia-se a
possibilidade de ocorrência de discussões, brigas e atos violentos, considerando período de
instabilidade emocional e econômica. Ademais, à medida que as mulheres se mantêm reclusas e
isoladas no mesmo ambiente que seus agressores, possuem menores possibilidades de se
distanciar do domicílio ou de solicitar ajuda frente à situação de violência. (Ferreira et al, 2020).
Outrossim, além das responsabilidades do trabalho remunerado, muitas mulheres
enfrentaram o acúmulo de tarefas domésticas e o cuidado prolongado de filhos, idosos e animais
de estimação. Isso ocorreu devido à ausência ou limitação no acesso às instalações públicas de
educação, lazer e convívio social, como escolas infantis e centros de vivência, ou devido à
impossibilidade de contar com assistência profissional externa. As expectativas sociais que
atribuem predominantemente às mulheres as responsabilidades do trabalho reprodutivo e de
cuidado gerou sobrecargas significativas, intensificando os conflitos dentro do ambiente
doméstico, especialmente durante períodos prolongados de permanência em casa. (Schabbach,
2022).
Possivelmente, em tempos de COVID-19, as características de uma cultura que valoriza
predominantemente o trabalho produtivo dos homens em detrimento do trabalho reprodutivo das
mulheres tornam-se mais evidentes. A divisão sexual do trabalho exerce o poder de hierarquizar
tarefas, espaços e aspirações: para os homens, o domínio público, carregando consigo
implicações significativas em termos de poder pessoal e econômico; enquanto para as mulheres,
o âmbito privado, onde as atividades relacionadas ao cuidado das pessoas e à preservação da vida
simbolizam a inferioridade e a subordinação (Ferreira et al, 2020).
Dessa observação, conclui-se que compartilhar o espaço doméstico e participar
ativamente das atividades domésticas representam, para o homem, a possível perda da autoridade
e masculinidade associadas à sua concepção do trabalho doméstico. Isso se deve ao fato de que
tal trabalho é frequentemente invisível e não remunerado, sendo socialmente desvalorizado. Além
de enfrentarem o isolamento e a perda da liberdade, os homens se veem imersos, durante a
pandemia, em um cenário de responsabilidades para as quais não foram previamente instruídos
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nem encorajados a dominar ou admirar. No entanto, são subitamente chamados a se envolver e,


possivelmente, a contribuir de maneira mais igualitária com suas parceiras.
Neste cenário pandêmico, marcado por uma crise econômica, o desemprego resultou em
instabilidade e dificuldades financeiras, o que pode ser percebido como uma ameaça para o
provedor da família. Para os homens, essa situação tende a ser interpretada como uma perda de
poder, representando uma possível ferida na imagem do responsável pela provisão. A perspectiva
de perder o poder masculino pode desencadear comportamentos violentos, conforme indicado por
gatilhos. Dessa forma, as tensões sociais, emocionais e econômicas decorrentes da pandemia
aumentam o risco de ocorrência de violência por parte dos parceiros íntimos, especialmente
quando combinadas com o distanciamento social (Ferreira et al, 2020).
Destaca-se que violência contra a mulher não é um fenômeno novo nem gerado pela
covid-19. O machismo estrutural e a desigualdade de gênero já estavam presentes antes do
isolamento social e da quarentena.
Compreender a abordagem da violência doméstica e familiar contra mulheres no contexto
do novo coronavírus implica reconhecer como a pandemia influencia esse tipo de violência.
Nesse sentido, é crucial destacar que esse cenário atua como um fator agravante, não sendo a
causa explicativa do fenômeno de violência contra as mulheres, especialmente em contextos nos
quais as adversidades desse tipo de violência já fazem parte significativa da realidade social
(Stuker, 2020).
No Brasil, as medidas de isolamento social decorrentes do coronavírus apenas agravaram
um fenômeno social preexistente, evidenciando uma realidade desafiadora na qual as mulheres
brasileiras não se encontram seguras nem mesmo dentro de seus próprios lares.
Dessa forma, diante da séria crise provocada pela pandemia, é responsabilidade do Estado
assegurar a proteção social da população mais vulnerável e implementar políticas públicas
direcionadas ao combate da violência doméstica. Tais iniciativas devem visar à promoção,
proteção e defesa dos direitos humanos das mulheres que se encontram em situação de violação.
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3. POLÍTICAS PÚBLICAS DE COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

Segundo Farah (2021), pode-se definir Política Pública como “um curso de ação,
escolhido pelo Estado, com o objetivo de resolver um problema público. Tal curso de ação é
integrado por ações do Estado – e de atores não-governamentais - derivadas da autoridade
legítima do Estado, com poder de se impor à sociedade. O curso de ação escolhido é influenciado
por ideias e valores, por uma interpretação do problema e pela disputa entre diferentes atores e
grupos e se baseia em conhecimento técnico e em outras formas de saber.”
Políticas públicas referem-se a projetos, ações e programas implementados por um
governo para abordar problemas e atender às necessidades da sociedade. Essas políticas são
geralmente desenvolvidas com o objetivo de promover o bem-estar público, reduzir iniquidades,
resolver questões sociais, econômicas ou ambientais, e alcançar objetivos específicos que são
considerados importantes para o interesse coletivo.
A expressão “políticas públicas” tem sido usada, em profusão, para se referir a um certo
tipo de ação estatal eficaz para promover e garantir quaisquer direitos e, no limite, um remédio
capaz de resolver todas (ou quase todas) as demandas da sociedade. As políticas públicas têm
sido relacionadas quase que exclusivamente aos direitos sociais, já que os direitos individuais
teriam a qualidade de serem garantidos diretamente pela lei, sem necessidade de recursos
públicos direcionados à sua promoção. (Mastrodi, 2019).
Em 20 de dezembro de 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a
Declaração sobre a Eliminação da Violência Contra as Mulheres por meio da resolução 48/104.
Nessa declaração, são destacadas as aspirações das mulheres pela conquista da igualdade nos
âmbitos social, jurídico, político e econômico, bem como pela garantia da preservação de seus
direitos, tanto nacionais quanto internacionais, na sociedade. (Lopes, 2022).
A Convenção de Belém do Pará (1994), firmada no âmbito do sistema interamericano de
direitos humanos, representa o primeiro tratado internacional de direitos humanos dedicado à
proteção da mulher. Ela reconhece que a violência doméstica, seja em âmbito público ou privado,
constitui um problema que afeta a sociedade como um todo, visando a prevenção, erradicação e
punição daqueles que violam os direitos humanos da mulher. (Yasmin, 2023).
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Nesse contexto, o Brasil estabeleceu em 2003 a Secretaria de Políticas para Mulheres,


fortalecendo desde então as políticas públicas de combate à violência contra as mulheres. Essas
medidas incluíram a criação de normas e padrões, aprimoramento da legislação, estímulo à
formação de redes de serviços, apoio a iniciativas educativas e culturais para a prevenção da
violência, bem como a expansão do acesso das mulheres à justiça e aos serviços de segurança
pública.
O Plano Nacional de Políticas para Mulheres (PNPM), que tem dentre os objetivos a
redução dos índices de todas as formas de violência contra as mulheres, apresenta como
princípios orientadores: “Autonomia das mulheres em todas as dimensões da vida; Busca da
igualdade efetiva entre mulheres e homens, em todos os âmbitos; Respeito à diversidade e
combate a todas as formas de discriminação; Caráter laico do Estado; Universalidade dos
serviços e benefícios ofertados pelo Estado; Participação ativa das mulheres em todas as fases das
políticas públicas; e Transversalidade como princípio orientador de todas as políticas públicas.”
(Brasil, 2013).
Ademais, a Constituição de 1988 assume um papel fundamental, representando uma
verdadeira transformação no paradigma do direito brasileiro em relação à igualdade de gênero. A
participação ativa do movimento de mulheres, em colaboração com o Conselho Nacional dos
Direitos da Mulher (CNDM), foi crucial para o êxito de uma histórica campanha intitulada
"Constituinte pra Valer Tem que ter Direitos da Mulher". Este movimento, conhecido como
Lobby do Batom, envolveu ações diretas junto ao Congresso Constituinte. Pela primeira vez na
história constitucional brasileira, consagrou-se o princípio da igualdade entre homens e mulheres
como um direito fundamental, conforme estabelecido no artigo 5º, inciso I do texto (Costa,
2022).
No que concerne aos direitos das mulheres na Carta Magma, é essencial destacar as
garantias que ela proporciona nesta legislação, respaldando juridicamente crianças, adolescentes,
mulheres, população negra, pessoas com deficiência, idosas e presidiárias. Tal abordagem ao
longo dos anos subsequentes levou à criação de leis específicas, visando orientar as decisões
judiciais relacionadas às minorias, simplificar os trâmites de julgamentos e fortalecer a defesa e
proteção das vítimas.
Um dos aspectos mais marcantes nos quais a defesa da mulher se destaca na constituição
Federal é o princípio da igualdade: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
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natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do


direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.”
(Brasil, 1988).
Este dispositivo constitucional é de suma importância para a formulação, em 2006, de
uma legislação específica sobre violência doméstica, conhecida como Lei Maria da Penha, cujo
conteúdo foi inspirado pela Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra as Mulheres, também denominada Convenção de Belém do Pará. (Costa, 2022).
A Lei nº 11.340/2006, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha, representou um
significativo progresso no sentido de prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher.
A criação da Lei Maria da Penha está diretamente ligada à história de Maria da Penha
Maia Fernandes, que se tornou um símbolo na luta pelos direitos das mulheres no Brasil. Nascida
em 1º de fevereiro de 1945, foi vítima de violência doméstica por parte de seu marido por muitos
anos. Em 1983, ela sofreu duas tentativas de feminicídio, resultando em paraplegia. Diante da
violência que enfrentou e da constatação de que a justiça brasileira não estava atuando de maneira
eficaz em seu caso, Maria da Penha decidiu buscar justiça em instâncias internacionais.
Ela denunciou o caso à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH) da
Organização dos Estados Americanos (OEA). A CIDH responsabilizou o Estado brasileiro por
negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica praticada contra Maria da
Penha. Em 2001, o Brasil foi condenado por essas falhas. Como resultado desse processo e da
pressão de movimentos feministas e de direitos humanos, a Lei Maria da Penha foi promulgada
em 7 de agosto de 2006.
A Lei nº 11.340 reitera que todas as mulheres, independentemente de classe, raça, etnia,
orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, possuem os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana. A elas são garantidas as oportunidades e facilidades
para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental, bem como buscar seu
aprimoramento moral, intelectual e social.
Para a Lei Maria da Penha configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual
ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
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“I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio


permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente
agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade
ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação” (BRASIL, 2006).
Destaca-se que a violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas
de violação dos direitos humanos. Os direitos humanos buscam garantir a igualdade, a liberdade e
a proteção de todos os indivíduos, independentemente de gênero, raça, religião ou qualquer outra
característica. No contexto da violência doméstica e familiar, é fundamental reconhecer que as
vítimas têm o direito fundamental de viver livres de qualquer forma de abuso. As Nações Unidas,
por meio de diversos instrumentos e convenções, afirmam a importância da proteção contra a
violência baseada no gênero como parte integrante dos direitos humanos.
De acordo com os dados apresentado nesta pesquisa, as medidas de distanciamento social
decorrentes da pandemia da COVID-19 intensificaram a violência contra a mulher no contexto
doméstico, destacando a importância na implementação de medidas preventivas por parte do
Estado brasileiro.
Como resultado, no país foram desenvolvidas várias propostas legislativas destinadas a
combater a violência contra a mulher durante a pandemia da Covid-19. Entre as propostas
apresentadas, a questão mais frequente está relacionada à comunicação do incidente às
autoridades competentes, seguida por proposições voltadas para garantir assistência efetiva e
imediata às vítimas de violência doméstica e familiar. (Amorim, 2023).
No entanto, somente dois deles receberam aprovação do Poder Legislativo. A Lei nº
14.188, de 28 de julho de 2021, que estabelece o programa de cooperação Sinal Vermelho contra
a Violência Doméstica como uma medida de combate à violência doméstica e familiar contra a
mulher. Além disso, ela altera a modalidade da pena para lesão corporal simples cometida contra
a mulher por razões da condição do sexo feminino e cria o tipo penal de violência psicológica
contra a mulher (Brasil, 2021). E a Lei nº 14.022, de 7 de julho de 2020, que trata das medidas
para enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher, assim como da violência
17

contra crianças, adolescentes, pessoas idosas e pessoas com deficiência durante a emergência de
saúde pública de importância internacional relacionada ao coronavírus. (Brasil, 2020).
Por outro lado, verificou-se que os governos estaduais realizaram iniciativas e ações para
conter o aumento da violência doméstica e dos casos de feminicídios no período da pandemia.
De maneira geral, os governos estaduais comunicaram a continuidade dos serviços de
assistência às mulheres em situação de violência, frequentemente com adaptações para garantir a
proteção contra a contaminação pelo novo coronavírus. Desde o início das medidas de isolamento
social, observou-se a ênfase dos gestores em destacar que os serviços de combate à violência
doméstica são considerados essenciais (Stuker, 2020).
Abordagens para empregar as tecnologias de informação e comunicação a fim de
simplificar o acesso das mulheres em situação de isolamento aos serviços de atendimento e à
polícia foram encorajadas e implementadas em praticamente todos os estados. Isso possibilitou
que denúncias e registros de ocorrência fossem iniciados por meio do preenchimento de
formulários em casa, envio de mensagens, além de chamadas telefônicas. (Stuker, 2020).
Diante disso, verificou-se que os estados implementaram diversas ações para lidar com a
problemática, no entanto, é importante ressaltar que muitas dessas medidas são consideradas
paliativas, ou seja, oferecem alívio temporário, mas não são abrangentes o bastante para uma
abordagem adequada e eficaz no enfrentamento dessas formas de violência. Há uma necessidade
premente de estratégias mais abrangentes e de longo prazo para lidar de maneira efetiva com o
desafio complexo representado por tais violências.
Visando a implementação de iniciativas mais robustas em esfera local, seja em nível
estadual ou municipal, reconhecemos a necessidade crucial de aumentar o aporte financeiro por
parte do governo federal para as políticas públicas voltadas à prevenção e combate da violência
contra as mulheres. Esta expansão orçamentária é fundamental para fortalecer e ampliar os
recursos destinados a programas, serviços e estratégias que visam efetivamente abordar e
solucionar o problema da violência de gênero. A alocação de recursos adequados é essencial para
garantir uma resposta abrangente e sustentável diante dessa questão complexa, permitindo a
implementação eficaz de medidas que promovam a segurança e o bem-estar das mulheres
brasileiras.
18

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência contra a mulher é uma questão enraizada ao longo de décadas no contexto


brasileiro. A emergência da pandemia de covid-19 revelou uma das numerosas vulnerabilidades
enfrentadas pelas mulheres, especialmente no que diz respeito à proteção contra crimes
motivados pelo gênero. Verifica-se que este período de isolamento social intensificou de maneira
alarmante os índices de violência doméstica, proporcionando uma perspectiva ampliada sobre as
complexidades e desafios enfrentados por mulheres em situações de crise.
É necessário ressaltar que a abordagem política de combate à violência doméstica requer
uma revisão, uma vez que os esforços do Estado, em níveis federal, estadual e municipal, foram
insuficientes durante e após a pandemia para evitar o aumento dos casos. Existe uma persistência
na adoção da mesma estratégia de monitoramento baseada em denúncias. No entanto, é
importante considerar que mesmo antes de uma denúncia ser feita, os direitos da mulher já foram
violados, e a vítima busca assistência para interromper a agressão por parte das autoridades.
A análise detalhada desses eventos revela não apenas a urgência de ações imediatas para
conter a violência de gênero, mas também evidencia a necessidade de abordagens mais profundas
e estruturais. A compreensão da raiz do problema exige a consideração de fatores
socioeconômicos, culturais e institucionais que contribuem para a perpetuação desse ciclo de
violência.
É importante ressaltar que, ao longo da pandemia de COVID-19, os registros de casos
continuaram a crescer de forma gradual, revelando a fragilidade da legislação, dos procedimentos
e dos mecanismos voltados para a erradicação da violência. Essa situação é influenciada pela
escassez de recursos para uma política pública eficiente e pela existência de questões que vão
além da atuação do Estado, indicando raízes culturais e sociais como fatores determinantes.
Diante disso, é essencial que as respostas governamentais incluam não apenas medidas
emergenciais de proteção, mas também abordem as desigualdades estruturais que alimentam a
violência de gênero. O fortalecimento dos sistemas de apoio, a implementação de políticas
educacionais que combatam estereótipos prejudiciais e a promoção de uma cultura de respeito e
igualdade são elementos fundamentais para reverter essa realidade persistente.
19

Portanto, ao examinar os impactos da pandemia no contexto da violência contra a mulher,


torna-se evidente a necessidade premente de uma abordagem abrangente e multidimensional que
vá além das respostas imediatas, visando a transformação estrutural necessária para erradicar esse
problema profundamente enraizado em nossa sociedade.

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