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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
SEXOLOGIA NA EDUCAÇÃO

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

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CURSO DE
SEXOLOGIA NA EDUCAÇÃO

MÓDULO I

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para
este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou
distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do
conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências
Bibliográficas.

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SUMÁRIO

MÓDULO I
1 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO SEXUAL EM SALA DE AULA
1.1 SEXUALIDADE E APRENDIZAGEM
1.1.1 Definições
1.1.2 Educação Sexual – Um Breve Histórico
1.1.3 Necessidade da Educação Sexual
1.1.4 A Deseducação Sexual
1.2 POR QUE EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA?
1.2.1 Dados e Fatos
1.2.2 Declaração dos Direitos Sexuais

MÓDULO II
2 SEXUALIDADE DA CRIANÇA
2.1 DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL
2.1.1 Algumas Características
2.1.2 Tópicos Especiais
2.1.2.1 Freud e a sexualidade infantil
2.1.2.2 Abuso sexual
2.2 LIDANDO COM AS PERGUNTAS DAS CRIANÇAS

MÓDULO III
3 SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA
3.1 PUBERDADE: MUDANÇA DE CORPO
3.1.1 Definições
3.1.2 Corpo de Menina – Mulher

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3.1.3 Corpo de Menino – Homem
3.2 ASPECTOS PSICOLÓGICOS, SOCIAIS E CULTURAIS
3.2.1 Tópicos Especiais
3.2.1.1 Ficar e namorar
3.2.1.2 Virgindade
3.2.1.3 Masturbação
3.2.1.4 Aborto
3.3 MATERNIDADE E PATERNIDADE NA ADOLESCÊNCIA
3.3.1 Planejamento Familiar
3.3.1.1 Métodos de planejamento familiar (anticoncepção)
3.3.1.2 Como usar a camisinha
3.4 HOMOSSEXUALIDADE EM SALA DE AULA
3.4.1 Pensando a Homossexualidade
3.4.2 Homofobia

MÓDULO IV
4 O PAPEL DO EDUCADOR NA PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO SEXUAL
4.1 QUEM É O EDUCADOR?
4.1.1 Estratégias de Intervenção Educativa
4.2 CARACTERÍSTICAS DE UM PROMOTOR DA EDUCAÇÃO SEXUAL
4.3 PENSANDO A PRÓPRIA SEXUALIDADE
4.3.1 Viver é Relacionar-se
4.3.2 Sugestões
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MÓDULO I

1 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO SEXUAL EM SALA DE AULA

FIGURA 1 - SEXUALIDADE

FONTE: Disponível em: <http://pedagogiadoestudanteipa.blogspot.com.br/>.


Acesso em: 02 nov. 2012.

A maioria dos(as) educadores(as) acha importante e muito natural


discutir a sexualidade em sala de aula, desde que não sejam eles(as) quem o
façam. Então, você que se dispôs a aprimorar seus conhecimentos sobre
sexologia, sexualidade e educação sexual já tem um grande diferencial. No
final do curso você deverá estar mais bem preparado para lidar com a
sexualidade – sua, de seus filhos(as) e de seus alunos. É um crescimento
pessoal e profissional.
Estudos científicos realizados na área de sexualidade humana
demonstram que o trabalho em educação sexual, diferente do que muitos
pensam, não estimula a atividade sexual. Também não antecipa a idade do
primeiro contato sexual, tampouco aumenta a incidência de gravidez ou aborto
entre adolescentes. Na realidade, a educação sexual contribui para que as

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crianças e os(as) adolescentes tornem-se mais conscientes e responsáveis ao
terem conhecimento sobre seus corpos e os direitos sexuais.
A educação sexual tem recebido pouca atenção das políticas públicas
e educacionais. Apesar da Lei de Diretrizes de Base – LDB regulamentar que é
dever da família e, sobretudo, do Estado favorecer o pleno desenvolvimento do
educando e dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (que estudaremos
adiante) aborda a sexualidade – orientação sexual como um dos temas
transversais, as escolas ainda relutam para incluí-la como uma de suas
intervenções pedagógicas.
Além disso, existem alguns(as) professores(as) que acham esse
assunto incômodo e complexo e que eles devem ser transmitindo por uma
pessoa “capacitada”. Por que, então, não se tornar essa pessoa “capacitada”?
A possibilidade que a criança e o(a) adolescente têm de falar sobre a
sexualidade abre um canal para a construção de seus conhecimentos. Cabe
ao(à) educador(a) mediar o aprendizado por meio de músicas, histórias,
poesias, filmes. E, facilitar o clima de descontração e ludicidade.
Encare esse curso como uma “luz”, um início, não o fim em si mesmo.
Abra-se para pensar a sexualidade. Assim, você se encontrará com seus
desejos, suas emoções e sua história de vida. Terá uma oportunidade de
pensar sua sexualidade e, quem sabe, ressignificá-la. Ajudando a você mesmo
(a) e seus alunos e alunas.
Falas como: “Preciso ter mais esclarecimentos para poder responder
de forma correta meus alunos”; “Gostaria de uma especialização”, “Eu me sinto
muito insegura em lidar com o tema”, “Preciso vencer meus preconceitos”, “As
perguntas das crianças me surpreendem” mostram que hoje há interesse de
muitos educadores em atender seus alunos e alunas na questão da
sexualidade. Porém, é preciso ter mais esclarecimentos e formação no tema.
Será abordada aqui a questão da sexualidade na sala de aula. Mas,
muitos outros profissionais e pais podem ganhar em informação e
conhecimento.

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A sexualidade é construída, basicamente, a partir das primeiras
experiências afetivas do bebê com a mãe e com o pai ou com quem
cuida dele. Seguem-se as relações com a família, amigos e as
influências do meio cultural. A capacidade da mãe de tocar o filho,
aconchegá-lo, acolhê-lo psicologicamente, será a base para o
desenvolvimento da resposta erótica e da capacidade de construir
vínculos amorosos e do desejo de aprender. (GTPOS, 1994, p. 7).

SEXUALIDADE NA EDUCAÇÃO

FIGURA 2 - DÚVIDAS

FONTE: Disponível em: <www.adolescencia.org.br>. Acesso em: 01 nov. 2012.


Mito: Desperta a sexualidade;
Não desperta a curiosidade, ela existe por si só!
Dificuldades:
- Falta de interesse das escolas e dos educadores;
- Dificuldade para lidar com temas referentes à sexualidade;
- Influência da repressão sexual advinda da educação familiar;
- Ausência de diálogo entre a escola e a família;
- Resistência dos pais.

Neste curso será utilizado o termo Educação Sexual. Porém, os termos


Orientação Sexual e Educação Sexual têm causado confusões em seus

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significados. É importante saber que existe uma diferença e que estudiosos da
área, por falta de padronização dos termos, vem utilizando as duas
terminologias, ora como sinônimos, inclusive.
Alguns dizem que o termo Educação Sexual está em desuso, que ele
foi substituído pelo termo Orientação Sexual. Porém, não há um consenso
sobre isso. Vamos, então, diferenciar conceitualmente os termos.

Orientação Sexual – Segundo Silva (2002, p. 25), Orientação Sexual


é:

Um processo de intervenção sistemático e contínuo, realizado na


escola com o envolvimento de toda a comunidade escolar,
assegurando ao aluno espaços necessários para receber uma
informação clara e precisa, por intermédio de conceitos que o levem à
construção do pensamento, à reflexão de valores, para chegar a uma
ação autônoma e criativa.

O termo Orientação Sexual, na área de educação, foi pensado por


meio do conceito pedagógico de Orientação Educacional.

Educação Sexual – Segundo o Guia de Orientação Sexual (GTPOS,


1994, p. 8), Educação Sexual é “aquela que inclui todo o processo informal
pelo qual aprendemos sobre sexualidade ao longo da vida, seja por meio da
família, da religião, da comunidade, dos livros ou da mídia.”.
Aqui será mantida a terminologia Educação Sexual, pois a sexualidade
pode sim ser ensinada e aprendida. Ela é para além do sexo. É
comportamento, relacionamento, sentimento e emoções E usada também para
evitar a dúvida entre os dois significados de orientação sexual, pois Orientação
Sexual pode também pressupor a orientação do desejo sexual, sendo que a
atração sexual pode ser direcionada para o indivíduo do mesmo sexo
(homossexual), do sexo oposto (heterossexual) e ainda de ambos (bissexual).

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1.1 SEXUALIDADE E APRENDIZAGEM

FIGURA 3 – EDUCAÇÃO SEXUAL

FONTE: Disponível em: <www.cpg.colband.net.br>. Acesso em: 28 fev. 2013.

1.1.1 Definições

As Ciências Humanas surgiram na metade do século XIX para


responder às necessidades da sociedade. Necessidades de compreender e
explicar a realidade social. E prever o seu funcionamento para, então, ter o
domínio.
Dentre as ciências humanas tem-se a Sexologia, surgida a partir da
década de 50. É uma ciência humana, social e independente, apesar da
interdisciplinaridade com a Filosofia, Antropologia, Psicologia, Pedagogia,
Direito, Biologia e Sociologia. O seu objeto de estudo é o comportamento
humano, a sexualidade e o fenômeno sexual. Foi criada para medir, conhecer e
avaliar a resposta sexual humana. Porém, por ser ciência humana ela não
possui lei definida, é regida pelas leis do amor e da saúde segundo os valores
sociais e individuais.
Para definirmos o sexo, devemos analisar seus detalhes. Ele surge a
partir do genético (ou cromossômico) xx/xy, definindo a estrutura
feminino/masculino do indivíduo. Este processo é seguido pelo gonadal (as
gônadas), na qual o masculino forma os testículos e o feminino os ovários. Os

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hormônios passam a potencializar o que é feminino e o que é masculino, na
visão biológica, formando os genitais internos e as características secundárias.
Formando também a genitália externa, que é o que eu aparento ser
(fenotípico). (QUINTAS, 2002).
Esmiuçando! Os “tipos” de sexo que compõem o aspecto biológico da
sexualidade humana consistem em: Sexo Cromossômico (ou genético): XX
(mulher) XY (homem); Sexo Gonadal: Gônadas femininas: Os ovários;
Gônadas masculinas: Os testículos; Sexo Genital: Interno: Feminino: trompas
de Falópio, útero, colo, vagina. Masculino: epidídimo, canais deferentes, ductos
ejaculatórios, vesículas seminais, próstata. Externo: Feminino: monte da pube,
grandes lábios, pequenos lábios, clitóris, introito vaginal. Masculino: pênis.
(Atenção! Essa diferenciação será retomada e aprofundada no Módulo III –
Sexualidade na Adolescência.).
Para estas estruturas terem um bom desenvolvimento devem estar
integradas as seguintes dimensões: o biológico e o psicossocial. O biológico se
subdividindo em fisiológico (funcionamento), anatômico (estrutura) e
morfológico (desenvolvimento das células masculinas e femininas). E o
psicossocial sendo o sentimento de pertencer a um sexo, está diretamente
ligado à criação do indivíduo, aos papéis sociais preestabelecidos, a vivência
da sexualidade.
A sexualidade é a expansão dinâmica da vida. É o encontro de si
mesmo, promovendo o crescimento biológico, afetivo, intelectual,
transcendental. É o bem-estar da vida tanto biológico quanto psicológico e
social. É a autorrealização de viver o que se é.
A sexualidade é muito confundida com o sexo e a genitalidade. Como
já exposto, o sexo é a divisão estrutural do feminino/masculino e, a genitalidade
é apenas uma parte da sexualidade. Está ligada à satisfação física, do ato
sexual propriamente dito, enquanto a sexualidade é além deste prazer físico, o
prazer de viver a sua individualidade.

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1.1.2 Educação Sexual – Um Breve Histórico

FIGURA 4 - HISTÓRIA

FONTE: Disponível em: <www.blog.cengage.com.br>. Acesso em: 30 nov. 2012.

Pensar a Sexualidade e a Educação Sexual não é uma preocupação


recente, principalmente no que tange à sexualidade na escola. Vejamos
algumas datas marcantes deste percurso.
Século XVIII – A história da “entrada” da sexualidade na escola não é
clara. Mas alguns estudiosos como Barroso e Bruschini (1982 apud SAYÃO,
1997) apontam o surgimento da educação sexual na França, no século XVIII.
Seu objetivo era combater a masturbação. Uma forma de reprimir a
manifestação da sexualidade infantil e proteger as crianças dos “perigos” da
sexualidade.
Século XIX – A Educação Sexual estava voltada para o combate à
masturbação, prevenção de doenças venéreas e diminuição de abortos
clandestinos. (SAYÃO, 1997).
Século XX – A Educação Sexual estava pautada na reprodução
humana. (SAYÃO, 1997).

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Considera-se a França como o berço das discussões sobre a
sexualidade humana. Porém, a primeira Educação Sexual sistematizada na
escola ocorreu na Suécia. (SAYÃO, 1997).

1920: Promulgação da lei francesa que proíbe o aborto e a propaganda


anticoncepcional. (SAYÃO, 1997).
1973: Educação Sexual oficialmente inserida nas Escolas Francesas.
(SAYÃO, 1997).
1956: Educação Sexual obrigatória nas escolas da Suíça. (SAYÃO,
1997).

No Brasil:

1920: Primeiras preocupações sobre a Educação Sexual nas Escolas


no Brasil. Combater a masturbação, as doenças venéreas, preparar a mulher
para bem exercer o papel de mãe e esposa. Foco na saúde pública e na
reprodução saudável – Influência médico-higienista. (COSTA, 1986).
1928: o Congresso Nacional de Educadores aprova a proposta de
programa de Educação Sexual nas escolas, apenas para criança acima de 11
anos. (SAYÃO, 1997).
Lacuna entre 1935 – 1950: considerado retrocesso nas iniciativas
ligadas à educação sexual no Brasil. (SAYÃO, 1997).
Década de 50: predomínio da Igreja Católica no sistema educacional.
Promoção da repressão sexual. (SAYÃO, 1997).
Década de 60: movimento político – repressão sexual (SAYÃO, 1997).

1968: Deputada Júlia Steimburck, do Rio de Janeiro, apresentou


projeto de lei à Câmara dos Deputados propondo a implantação obrigatória da
Educação Sexual nas escolas do país em todos os anos escolares. (SAYÃO,
1997).

Década de 80 – A década de 80 foi pródiga na veiculação de questões

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ligadas à Educação Sexual. A abertura política pela qual passou o Brasil trouxe
significativas implicações no campo da sexualidade. Enquanto o povo fazia
reivindicações políticas, escolhia seus representantes políticos e saía às ruas
gritando “Diretas Já”, as revistas eróticas publicavam fotos de mulheres e
homens nus, até pouco tempo proibido. Os cinemas exibiam nas grandes
cidades os chamados sexshops. Surgiram, também, enciclopédias e fascículos
vendidos em bancas de jornal, todos destinados a responder a questões sobre
sexo.
“Essa década trouxe novos comportamentos, em que os preconceitos
foram questionados, tabus foram derrubados e sólidas tradições conservadoras
foram abaladas.” (SANTOS, 2001, p.17).

1995: Coordenação do Ministério da Educação (MEC) da elaboração


dos PCNs (Parâmetros Nacionais de Ensino), para o Ensino Fundamental.
(SAYÃO, 1997).
1997: O MEC propõe os PCNs para o Ensino Fundamental em todas as
escolas do país. Incluindo o tema transversal da Orientação Sexual. (SAYÃO,
1997).
Hoje: Atualmente fala-se abertamente sobre a necessidade de Educação
Sexual nas escolas. Sabe-se do despreparo dos(as) professores(as). Por isso,
cursos (como esse) sobre o tema vêm sendo difundidos.

1.1.3 Necessidade da Educação Sexual

Ao se discutir a necessidade da Educação Sexual é comum encontrar


argumentos contra e a favor desta ação. Os argumentos contra variam desde a
total negação da necessidade da educação sexual, como da própria existência
da sexualidade, à negação camuflada. Exemplos de falas contra a Educação
Sexual, pela total negação: “Vai despertar o sexo nas crianças”, “Se não tocar

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no assunto eles não vão perguntar”, “Tudo no seu devido tempo”, “Não precisa
ensinar, a ‘natureza’ ensina”, “Pra que atiçar a curiosidade”.
Exemplos de falas camufladas contra a Educação Sexual: “A escola não
tem condições financeiras no momento”, “os pais não permitem”, “já tem na
aula de biologia”, “vamos discutir o assunto, com prudência”.
Você se identificou com alguma das falas? Por outro lado, têm os
argumentos a favor da necessidade de Educação Sexual que nos trazem a
cursos como este. Podemos pensar em três modelos de Educação Sexual,
baseados na concepção de sexualidade:
Tradicional: a proibição é a palavra chave deste modelo. Segundo esta
concepção, nada pode e mantém-se o dualismo entre o bem e o mal. Tem uma
forte base na força moral, religiosa e cultural. A reprodução é o único objetivo
da sexualidade, existindo toda uma orientação fisiológica para isso. A atividade
sexual é considerada suja, pecado, doença, o que favorece a obsessão, pois
não se fala sobre, mas se faz escondido. Temos, ainda hoje, resquícios deste
modelo na sociedade atual.
Permissiva: aqui tudo é permitido. Há uma postura de oposição ao
tradicional, mas não de conscientização da sexualidade. Mudam-se as atitudes
e comportamentos, mas ninguém sabe o por quê.
Relacional: os objetivos da sexualidade são reprodução, prazer e
comunicação. E acredita-se que a educação sexual seja a principal forma de
promover mudança de atitude, sendo esta da responsabilidade de todos. Pode-
se assim concluir que a educação sexual é um desafio é que para isso deve
haver envolvimento, conhecimento, ética e espontaneidade.
A partir deste atual movimento de mudança, qual seria a real
necessidade da educação sexual e como envolver pais e educadores no
processo? Tendo em vista que as informações sexuais disponíveis são
inúmeras e vêm de vários âmbitos (formais, não formais) e nem todas são de
boa qualidade, há sim uma necessidade de sistematizar a educação sexual, do
mesmo modo que os outros aspectos da educação são sistematizados.
A família está envolvida neste processo desde a concepção e deve
iniciar o processo de educação sexual desde o nascimento da criança. É,

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então, de responsabilidade primária da família o processo de educação sexual,
devendo depois ser articulada com a escola e assessorada por esta, que por
ter a função de formadora, saberá como continuar esta educação sexual da
forma a desenvolver um indivíduo saudável.

TIPOS DE EDUCAÇÃO SEXUAL

FIGURA 5 - SÍMBOLOS

FONTE: Disponível em: <www.acesa.com>. Acesso em: 28 fev. 2013.


> Repressivo (tradicional):
Palavra-chave: Proibição
Certo x Errado
Moralização religiosa
Vincula a sexualidade à reprodução
> Permissivo:
Palavra-chave: Prazer (sexual)
Tudo pode (não conscientização)
Reduz a sexualidade ao prazer sexual
> Relacional:
Palavra-chave: Comunicação
Personaliza e humaniza a sexualidade humana
Valoriza o diálogo.

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1.1.4 A Deseducação Sexual

Uma importante leitura para pensar a sexualidade é o livro


“Deseducação Sexual”, de Marcello Bernadi (1985). A obra revela que o que
chamamos de educação sexual na verdade é deseducação. E, além de termos
aceitado essa deseducação, continuamos reproduzindo seus conceitos.
Vamos, então, pensar juntos: de que forma você acredita estar
educando quando na verdade pode estar reproduzindo um modelo
preexistente, ou seja, deseducando? Lembrando que a atual educação sexual
aborda dois principais pontos: as informações biológicas (reprodução e
menstruação, por exemplo) e as normas, moral e juízos de valor.
É visível a dificuldade dos adultos em aceitar que a sexualidade não se
inicia com a vida adulta. E que o adulto tem que rever a sua própria
sexualidade para poder ensiná-la. Pois, ser educador(a) sexual não é reprimir a
sexualidade do(a) educando (a), mas sim proporcionar-lhe meios de exercer
sua sexualidade sem medo e sem culpa.
Então, será que o que você fala condiz com o que você faz e acredita
sexualmente? Você utiliza instrumentos conceituais de forma a validar seus
comportamentos ou apenas conceituá-los ao invés de mudá-los?

Cuidado! Muitos têm utilizado A MORAL de forma a manter o sistema, a


civilidade e o progresso; A NATUREZA e suas leis naturais; A EDUCAÇÃO
ditada pelos adultos; A RESPONSABILIDADE resignificando a culpa; A
MATURIDADE retomando o poder do adulto; O DEVER E O SACRIFÍCIO em
detrimento do prazer e do desejo; A INOCÊNCIA, um direito da criança; A
PUREZA, idealizando a maternidade e a dedicação ao marido; O PUDOR
resignificando o medo da agressão e da desaprovação sexual; e, O
ALTRUÍSMO resignificando o egoísmo no prazer. (VIDAL, 1991)
Estas “muletas” têm perdurado, de forma a manter a tradicional
educação sexual. E, como um hábito, nos acostumamos à repressão e
consequentemente a sublimar nossos desejos. Que tal começar uma mudança

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e pensar de forma relacional, visando além da reprodução, o prazer e a
comunicação?

A educação sexual na escola visa colocar o diálogo sobre a


sexualidade dentro da sala de aula, por meio de professores com
preparo adequado para bem desempenhar essa tarefa informativa e
formativa que tem como finalidade transmitir à criança informações
biológicas corretas sobre a sua sexualidade, ao mesmo tempo em
que acentua o conceito do sexo ligado ao bonito, ao afeto, ao respeito
mútuo, à responsabilidade e ao prazer. (SUPLICY, 1983, p. 49).

Relembrando!
O QUE É EDUCAÇÃO SEXUAL?

FIGURA 6 – SALA DE AULA

FONTE: Disponível em: <www.graosdeareia.wordpress.com>. Acesso em: 28 fev.


2013.

Definição:
Processo que possibilita a plena formação do sujeito (ser sexual)
Biopsicossocial Sexual
Processo de socialização
Objetivos:
Promover a valorização da vida e das relações.
Promover compreensão das mudanças psico-orgânicas advindas do
desenvolvimento sexual
Promoção de uma sexualidade responsável e gratificante

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1.2 POR QUE EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA?

FIGURA 7 - SEXUALIDADE

FONTE: Disponível em: <www.adolescencia.org.br>. Acesso em: 01 nov. 2012.

Quer nós queiramos ou não, a educação sexual está acontecendo


nas escolas. Atrás das portas, nos banheiros, no grafite, na
pornografia e por meio de atitudes de professores que não têm o
menos preparo para lidar com esse tipo de solicitação. (SUPLICY,
1983, p. 49).

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990) é um


instrumento legal que visa garantir os direitos e deveres de cidadania às
crianças e adolescentes. Determina à família, à sociedade e ao Estado a
corresponsabilidade pela proteção integral das crianças e dos adolescentes.
Ou seja, fazer valer os direitos já descritos na Constituição Federal.
Assim, o artigo 227 da Constituição Federal (Brasil, 1988) preconiza que:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e


ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
(CF/1988)

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Os direitos acima relatados, por si só, já definiriam a educação sexual
como um direito a ser mantido. Lembrando que a sexualidade é a vivência das
relações e da saúde. Porém, têm-se, ainda, os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs), cuja proposta é a inclusão da Orientação Sexual como tema
transversal a ser abordado em sala de aula.
O tema transversal é definido como um assunto a ser trabalhado em
todas as disciplinas (não apenas biologia como de costume). Assim, os PCNs
sugerem que o assunto sexualidade seja trabalhado em todas as disciplinas,
sempre que uma oportunidade aparecer. Por isso, é importante que os(as)
professores(as), de todas as disciplinas, abordem questões sexuais nas salas
de aula cotidianamente. (MEC/SEF, 1997)
Infelizmente “o fato de temas relacionados à sexualidade constarem dos
programas não é garantia de que o assunto será abordado e, menos ainda,
que o será de forma aberta e participativa” (GTPOS, 1994, p. 4).

Você Sabia?

FIGURA 8 - SPE

FONTE: Disponível em: <www.aids.gov.br>. Acesso em: 03 nov. 2012.

Existe o Programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), que tem por
objetivo promover a saúde sexual, reduzir a vulnerabilidade de adolescentes e
jovens às doenças sexualmente transmissíveis (DST), à infecção pelo HIV e à
gravidez não planejada. Qualquer escola pode aderir ao Programa Saúde e
Prevenção. Basta entrar em contato com a Secretaria de Educação do

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respectivo Estado. Para saber mais: http://portal.mec.gov.br/.

1.2.1 Dados e Fatos

Foi realizada pelo Ministério da Saúde (2009), a pesquisa “Retrato do


Comportamento Sexual do Brasileiro”. Com a amostra de oito mil pessoas,
mostrou que 35,4% dos brasileiros fizeram sexo antes dos 15 anos de idade.
Sendo que 39,1% da população entre 15 e 24 anos não usou preservativo na
primeira relação sexual. (MINISTÉRIO DA SAÚDE/2009).
Dados alarmantes do Estudo Epidemiológico AIDS/DST, também do
Ministério da Saúde, divulgados no ano de 2010, indicam, ainda, que 170 mil
casos notificados de AIDS no Brasil correspondem a adolescentes, portadores
de 13 a 19 anos de idade. O número é equivalente a 30% dos casos
notificados de AIDS no país em todas as faixas etárias. E, ainda, que o número
de casos entre as meninas é maior que entre os meninos. (MINISTÉRIO DA
SAÚDE/2009).
Sendo assim, é fato que crianças e adolescentes estão descobrindo a
sexualidade e os limites do próprio corpo cada vez mais cedo. Por isso é
importante o foco na educação sexual. É preciso passar a informação sem
reforçar mitos e preconceitos e possibilitar o diálogo da forma mais aberta e
tranquila possível. Isso deve acontecer tanto na escola quanto em casa.
O ensino nas escolas pode enfatizar tanto a questão do prazer quanto
a do direito ao livre exercício da sexualidade. O mais importante é que as
informações sobre sexualidade humana sejam repassadas às crianças e
aos(às) adolescentes com a clara intenção de conscientização.
Por fim, todos esses dados e fatores, por si só, corroboram para o
direito e a real necessidade da educação sexual.

1.2.2 Declaração dos Direitos Sexuais

FIGURA 9 – DIREITOS HUMANOS

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FONTE: Disponível em: <www.queconceito.com.br>. Acesso em: 03 nov. 2012.

O papel da escola de oferecer Educação Sexual deve ser pautado nos


Direitos Sexuais. Para tanto, é importante ter conhecimento. Assim, você tem
ciência e responsabilidade sobre as suas vivências.
A Declaração dos Direitos Sexuais foi definida em 1997, na cidade de
Valência (Espanha), durante o XIII Congresso Mundial de Sexologia. E foi
aprovada pela WAS (World Association for Sexology) em 1999 em Hong Kong
(China), durante o XV Congresso Mundial de Sexologia.
Os Direitos Sexuais não visam apenas à reprodução. Apresenta a
sexualidade como fonte de prazer e comunicação. E sua importância para o
pleno desenvolvimento humano e de suas relações. Assim, os Direitos Sexuais
são direitos humanos! Baseados na Liberdade, Igualdade e Dignidade.

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS SEXUAIS

Sexualidade é uma parte integral da personalidade de todo ser


humano. O desenvolvimento total depende da satisfação de necessidades
humanas básicas, tais quais desejo de contato, intimidade, expressão
emocional, prazer, carinho e amor.
Sexualidade é construída por intermédio da interação entre o indivíduo
e as estruturas sociais. O total desenvolvimento da sexualidade é essencial
para o bem-estar individual, interpessoal e social. Os direitos sexuais são

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direitos humanos universais baseados na liberdade inerente, dignidade e
igualdade para todos os seres humanos.
Saúde sexual é um direito fundamental, então deve ser um direito
humano básico. Para assegurarmos que a sociedade desenvolva uma
sexualidade saudável, os seguintes direitos sexuais devem ser reconhecidos,
promovidos, respeitados e defendidos por todas as sociedades de todas as
maneiras. Saúde sexual é o resultado de um ambiente que reconhece,
respeita e exercita estes direitos sexuais.
Direitos Sexuais
WAS – World Association for Sexology
1. O Direito à Liberdade Sexual: A liberdade sexual diz respeito à
possibilidade dos indivíduos em expressar seu potencial sexual. No
entanto, aqui se excluem todas as formas de coerção, exploração e
abuso de qualquer época ou situações de vida.
2. O Direito à Autonomia, Integridade Sexual e à Segurança do Corpo
Sexual: Este direito envolve a habilidade de uma pessoa em tomar
decisões autônomas sobre a própria vida sexual em um contexto de
ética pessoal e social. Também inclui o controle e prazer de nossos
corpos livres de tortura, mutilação e violência de qualquer tipo.
3. O Direito à Privacidade Sexual: o direito às decisões individuais e aos
comportamentos sobre intimidade desde que não interfiram nos direitos
sexuais dos outros.
4. O Direito à Liberdade Sexual: liberdade de todas as formas de
discriminação, independentemente do sexo, gênero, orientação sexual,
idade, raça, classe social, religião, deficiências mentais ou físicas.
5. O Direito ao Prazer Sexual: prazer sexual, incluindo autoerotismo, é
uma fonte de bem-estar físico, psicológico, intelectual e espiritual.
6. O Direito à Expressão Sexual: a expressão sexual é mais que um
prazer erótico ou atos sexuais. Cada indivíduo tem o direito de
expressar a sexualidade por meio da comunicação, toques, expressão
emocional e amor.
7. O Direito à Livre Associação Sexual: significa a possibilidade de

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casamento ou não, o direito ao divórcio e ao estabelecimento de outros
tipos de associações sexuais responsáveis.
8. O Direito às Escolhas Reprodutivas Livres e Responsáveis: é o
direito em decidir ter ou não ter filhos, o número e o tempo entre cada
um, e o direito total aos métodos de regulação da fertilidade.
9. O Direito à Informação Baseada no Conhecimento Científico: A
informação sexual deve ser gerada por meio de um processo científico,
ético e disseminado em formas apropriadas, e em todos os níveis
sociais.
10. O Direito à Educação Sexual Compreensiva: este é um processo que
dura a vida toda, desde o nascimento, pela vida afora e deveria
envolver todas as instituições sociais.
11. O Direito à Saúde Sexual: o cuidado com a saúde sexual deveria estar
disponível para a prevenção e tratamento de todos os problemas
sexuais, preocupações e desordens.
Fonte: http://www.worldsexology.org

Finalizando, a dimensão pedagógica da sexualidade humana não se


fecha ao fato de apenas ensinar o sexo, mas sim a sexualidade e de dar
condições da criança e do(a) adolescente de desenvolvê-la na sua vida
pessoal. A Educação Sexual deve prezar pelo “abrir um espaço” de
conhecimento e de comunicação. Lembrando que é também função da escola
dar condições para o pleno desenvolvimento da criança e do(a) adolescente.

FIM DO MÓDULO I

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