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A FRAGILIDADE MASCULINA

Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

Palestra preparada pelo Pr. Isaltino G. C. Filho, para os casais da IB do Cambuí - 7.9.2

O sexo masculino é chamado de "sexo forte" por causa da

força física. Como tem mais massa muscular e força física, o

homem estruturou a sociedade em função da força, tornando-se

dominador. Ficou com o físico e o racional. À mulher, o homem

legou o intuitivo e o emocional. Ao longo da história, as relações

entre homem e mulher ficaram nestes termos: ele dominou e a

mulher foi dominada.

Isto se tornou uma arma de dois gumes. Assim fazendo, o

homem privou-se da intuição e das emoções. Alardeou a força e

reprimiu as emoções. Uma expressão muito ouvida, desde que

se é menino, é esta: "homem não chora". Não sei quem foi o

pateta que criou esta frase, mas ela se tornou uma regra. O

elemento masculino é instruído, desde cedo, a reprimir o

intuitivo e o emocional. Os tempos atuais são tempos de

prevalência da voz das emoções e da intuição. A própria razão,

que se tornou uma arma masculina (a mulher é emocional e o


homem é racional) contribuiu para isto. A razão nos mostra que

deve haver igualdade de direitos, entre os sexos. Por exemplo, o

direito ao voto, a espaço no trabalho, etc.

Dizer que os tempos em que vivemos são tempos de

mudanças aceleradas é chover no molhado. São mudanças tão

bruscas que têm causado desestruturação em muita gente, mas

muito mais no elemento masculino. Sobre isto falarei mais à

frente.

Voltando à questão de aludida fragilidade feminina, idéia

criada pela sociedade dominada pelos homens, vejamos

algumas frases muito comuns, ouvidas entre nós. Vamos ouvir

um homem tipicamente machista, desses que acham que

mulher é inferior, um ser de cabelos compridos e idéias curtas:

"Mulher chora a toa e fala demais".

"Qualquer coisa que acontece com uma mulher, ela desaba,

fala, fala, reclama muito, esperneia e chora"

"Mulher sempre chora e fala demais"

"Se você está no trabalho, e lá tem uma mulher e ela leva

uma bronca qualquer... ou alguém a trata como não gostaria,

um cliente por exemplo.......qual é a atitude que ela


normalmente tem..... chora.... entra em crise....é... a mulher é

frágil.... Com os homens é diferente. A gente agüenta

tudo...suporta tudo...enfrenta qualquer situação... damos

bronca quando precisa.....seguramos as pontas...convivemos

todos os dias, com a grande responsabilidade de manter nossas

família...não atuamos igual ao nhém-nhém-nhém das

mulheres...falamos bem menos... ah ,não vou ficar expondo

meus sentimentos...vão pensar que sou frouxo...eu sou

homem.... tenho que me garantir.... chorar???........... só

escondido....."

Este homem é sério candidato a morrer, em média, doze

anos antes da sua mulher.

Por que isto acontece?

A mulher, pela sua própria natureza, externaliza as suas

emoções. Ela não se envergonha em demonstrar o que sente,

nem tem a necessidade de provar que é forte. Sua sensibilidade,

normalmente, está aflorada. O homem não foi educado a

externalizar sua sensibilidade. Pelo contrário, foi ensinado a

reprimi-la. Ela ri mais, emociona-se mais com os fatos, presta

mais atenção a detalhes. Em outras palavras, está mais pronta


para a vida, por ser mais receptível às mudanças do que o

homem. Sua grande força, que normalmente os homens

chamam de fragilidade, é por para fora a sua fragilidade. Por

assumir sua fragilidade é que a mulher é forte. Por não saber

lidar com ela, o homem se fragiliza, se torna mais fraco. Todo

conteúdo emocional que não for bem vivenciado ou entendido

fica em nossa mente cobrando uma solução. Como este

conteúdo fica dentro do homem sem ser entendido ou

elaborado, geralmente, explodimos em atitudes machistas e

fechadas, como mecanismos de defesa, para não sermos

tocados. A explosão emocional ou a ira são barreiras para

impedir o extravasamento da sensibilidade. O homem não pode

ser sensível.

Este é o primeiro aspecto da fragilidade masculina: ter medo

de externar as emoções.

O segundo aspecto é a dependência psicológica no

relacionamento com o sexo oposto. Psicologicamente, o homem

é mais dependente da mulher que ela é dele. Isto é diferente de

dependência econômica. Um artigo de um psicólogo, Dr. Irineu

Deliberalli, "O bebezâo", aborda aspectos do anteriormente


mostrado num livro, "Síndrome de Peter Pan", que trata de

homens que se recusam a crescer. Ele menciona, no artigo, o

caso de homens que não conseguem se ajustar no casamento.

Procuram uma segunda mãe. Ser cuidado pela esposa é bom.

Como sou daltônico, se minha esposa não cuidar, saio à rua

como arco-íris. Mas procurar uma segunda mãe é problemático.

Assisti a um filme, na semana passada, intitulado "Viciado

em sexo". Não recomendo porque há muitas cenas

pornográficas. E antes que alguém questione o porquê de eu

assistir um filme pornográfico, devo dizer que me centrei no

aspecto que interessava: o psicológico. Um homem maduro, já

na casa dos sessenta anos, bem casado, tendo uma mulher

bonita, atraente, bem mais jovem, se envolvia com várias outras

ao mesmo tempo. Em alguns momentos ia com duas para a

cama. Algumas delas eram autênticos tribufus. Uma das

prostitutas que ele arranjou era feia como guerra de foice no

escuro. Enquanto ele se esgotava no ato sexual, ela se

preocupava em fumar seu cachimbo de crack. Não havia

nenhuma comunicação emocional entre os dois. Isto se

constitui numa aberração porque o ato sexual é a mais


profunda forma de comunicação entre duas pessoas (por isso

que a prostituição é um absurdo psicológico). Ele apenas

extravasava seus impulsos pondo em funcionamento um

mecanismo de defesa para agredir a figura feminina, porque

praticava sexo violento, inclusive com agressão. Ele não queria

prazer. Sexo, para ele, não se ligava a ternura, mas a agressão.

Ele queria agredir para não aceitar sua fragilidade em relação à

figura feminina. Várias cenas dele com a mãe eram

intercaladas, ao longo do filme. Havia uma profunda indiferença

dela para com ele. Tornava-se óbvio, para o conhecedor dos

mecanismos psicológicos, quão arrasador isto fora para ele. Ele

procurava seduzir as mulheres porque teve um relacionamento

deficiente com uma, a mãe. Também ele queria mostrar que era

capaz de subjugar a figura feminina. Muitos homens entram no

casamento em busca de uma segunda mãe ou se vingam

porque não tiveram uma mãe que achavam que mereciam ter.

Deveriam procurar uma mulher para cuidar, mas buscam uma

que cuide deles. Isto apenas evidencia que a figura feminina

domina o psicológico masculino. Voltando ao filme: mesmo

cometendo tais atos, o personagem tinha uma mulher em casa,


porque precisava de um álibi emocional. Assim, ele mostrava

para si que era capaz de ter uma, de amá-la, tentando se

justificar. A mulher que ele tinha em casa era a mãe que queria

ter. As mulheres que pegava na rua eram uma vingança

inconsciente contra a mãe que teve. Ele era dependente da

figura feminina. Nós, homens, o somos, em grau maior ou

menor. Podemos não ter uma patologia como este personagem,

mas somos dependentes da figura feminina.

Esta dependência emocional se verifica também na viuvez.

Geralmente, a mulher absorve mais a viuvez que o homem. Na

estrutura social que construímos, o lar lhes foi destinado, e a

rua ao homem. Ora, não se pode ter um lar na rua ou no bar. A

mulher se realiza na casa. O homem também precisa de uma

casa para se realizar. Precisa de uma mulher. A mulher não

precisa de uma rua, de um bar. O homem precisa se submeter

ao domínio da mulher, nesta área.

Ela não precisa se submeter ao domínio dele, nesta área.

Consideremos algo mais. O lar é algo seguro e definitivo. É onde

ficamos. O bar é transitório, um paliativo. É aonde vamos. O

homem fica fragilizado sem lar. A mulher não fica fragilizada


sem um bar. O transitório não substitui o definitivo. A mulher

pode ter dificuldades econômicas, se depender de um homem e

tiver que viver sozinha, em caso de viuvez. O homem terá mais

dificuldades emocionais, mesmo que tenha segurança

econômica, em caso de viuvez. Emocionalmente, o homem

depende mais da mulher que ela dele.

O terceiro aspecto a considerar é a fragilidade sexual. Hoje o

homem está em desvantagem nesta área. A mulher pode falhar,

no ato sexual. O homem, não. Ela pode fingir um orgasmo, mas

ele não pode fingir uma ereção. A cobrança é maior para o

homem. A frigidez feminina pode ser atribuída ao desinteresse

pelo parceiro, à falta de romance, de gentileza do parceiro. Ou à

famosa "dor de cabeça". "Hoje não, benzinho, estou com dor de

cabeça". O homem não pode alegar dor de cabeça. A falta de

ereção é imediatamente entendida como se a sua masculinidade

estivesse se esvaindo. A mulher não deixará de ser feminina por

não ter orgasmo. Mas o homem sem ereção terá mais

dificuldade em afirmar a masculinidade. Dizem que a pior frase

para um homem é dizer pela segunda vez: "Isto nunca me

aconteceu antes". Se uma mulher não tem orgasmo, a culpa é


do homem. Não soube dar um à mulher. Se ele não tem ereção,

a culpa é dele. Há um ditado que diz que "não há mulher fria,

há mulher mal amada". Mas ninguém diz que "não há homem

frio, há homem mal amado". Se ele é frio, é porque não gosta de

mulher. Mais um peso sobre o homem.

Estas mudanças trouxeram uma crise de identidade a

muitos homens. O aumento do homossexualismo masculino

tem muito a ver com a liberação sexual da mulher. Esta se

tornou mais agressiva e mais exigente, sexualmente Muitos

homens se recolheram. Alguns não sabem como lidar com uma

mulher, só conhecendo a linguagem da dominação. Não

conhecem o entendimento. Na realidade, o homem não é tão

forte assim. Tem alguns problemas sérios, mas se recusa a

reconhecê-los. Tem vergonha de falar sobre eles, ou nem sabe

como fazê-lo.

COMO ENFRENTAR A FRAGILIDADE MASCULINA

O que o homem pode fazer, para superar estes aspectos

desfavoráveis a ele?
Primeiro, ele necessita reconhecer sua bipolaridade. Ou

seja, que tem um lado feminino, que ele tem reprimido.

Bipolaridade é diferente de bissexualidade. É reconhecer que o

homem tem aspectos de sua personalidade que ele relegou à

mulher como exclusividade dela. São aspectos que enriquecem

a personalidade e dão um senso de realização pessoal muito

grande. Por exemplo, a poesia, a arte em geral, a sensibilidade

diante do cotidiano, o admirar uma flor, o chorar. A estética não

tem sexo. E cultivá-la não é ser frágil. É ser humano. Ser

sensível não é ser gay. Chorar não faz mal, e pode evitar

problemas mais sérios. Homem que é homem chora. Este é o

primeiro passo. Reconhecer sua bipolaridade e saber

externalizar as emoções. Não significa explodir, mas ser bipolar.

Assumir emoções que atribuímos como reserva de domínio das

mulheres.

O segundo é: reconhecer e aceitar que depende da mulher.

Todos os homens nasceram de uma. Os termos hebraicos para

homem e mulher nos ajudam. "Homem" e "mulher", em termos

de gênero, são ish, para homem, e ishsha, para mulher. A

palavra mulher deriva da palavra homem, porque ela veio dele,


da costela. Ela não existiria sem ele. Adão vem do hebraico

Adam, que significa "humanidade". Adão é um termo coletivo.

Eva vem do hebraico Hawa, que significa "vida". Na exegese dos

termos Adão e Eva, ele precisa dela. Isto porque a humanidade

se propaga através da vida. Sem vida, a humanidade acaba. A

mulher não é fonte de pecado, como ensinava Agostinho. É

fonte de vida. Gostamos, os homens, de saber que nossas

mulheres dependem de nós. Devemos aceitar que dependemos

delas. E devemos nos jubilar com isto. Deus fez a mulher por

causa do homem. Então, ele precisa dela. No relato da criação

da mulher, em Gênesis, a dependência emocional é bem

ressaltada. Sem a mulher, o homem é incompleto.

Sobre o terceiro aspecto, a fragilidade sexual, posso dizer

que os homens têm mais dificuldades em falar sobre uma vida

sexual problemática que a mulher. Contar vantagem é fácil,

principalmente após a sexta cerveja, no bar, com os amigos.

Isto, alguns homens fazem bem. Mas reconhecer dificuldades e

resolvê-las é problemático. Significa assumir que tem perda de

virilidade ou não consegue seduzir a própria esposa. Isto é


perder sua própria característica de dominador. Não conseguir

seduzir a própria esposa é um golpe no ego de muitos homens.

Sem ser muito freudiano, é forçoso reconhecer que muitos

problemas de relacionamentos de homens com mulheres têm

origem em questões não resolvidas em relacionamento nos

papéis filho e mãe. Algumas mães de hoje estão estragando os

futuros maridos de suas futuras noras. Uma mãe dominadora

ou indiferente é sinal de um futuro marido com problemas.

Mães, amem seus filhos, mas dêem liberdade a eles de

crescerem como homens. Não os vejam como os eternos

meninos.

Como a mulher pode ajudar? Reconhecendo que o papel

que a sociedade deu ao homem hoje lhe é um fardo. Sendo

sábia para ajudar o marido a superar isto. Reconhecendo que

ela levanta ou derruba um homem com palavras ou gestos. Que

ele não é tão forte assim, e que, na realidade, a força vem dela,

pela sensibilidade, apoio e sabedoria na correção. Na realidade,

quem governa o mundo são as mulheres. Como alguém disse,

se o homem é a cabeça do lar, a mulher é o pescoço. A cabeça


só pode ir para onde o pescoço se move. Que as mulheres nos

ajudem a superar nossas limitações e perdoem nossas falhas.

A melhor maneira de concluir é com o texto de 1Coríntios

11.11-12, que é uma excelente recomendação para o critério de

relacionamento entre homem e mulher: "Todavia, no Senhor,

nem a mulher é independente do homem, nem o homem é

independente da mulher. Pois, assim como a mulher veio do

homem, assim também o homem nasce da mulher, mas tudo

vem de Deus"..

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