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VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER:

VULNERABILIDADE PROGRAMÁTICA EM TEMPOS DE SARS-COV-2/ COVID-19 EM SÃO PAULO


VIOLENCIA CONTRA LA MUJER: VULNERABILIDAD PROGRAMÁTICA EN TIEMPOS DE SARS-COV-2
/ COVID-19 EN SÃO PAULO VIOLENCE AGAINST WOMEN: PROGRAMMATIC VULNERABILITY IN
TIMES OF SARS-COV-2 / COVID-19 IN SÃO PAULO
Brisa Campos1, Bruna Tchalekian1 e Vera Paiva1
1Universidade de São Paulo, São Paulo/SP, Brasil

RESUMO: O artigo discute os desafios da assistência à violência contra a mulher (VCM) no início
da pandemia de SARS-CoV-2/Covid-19. Informantes-chaves de serviços de acolhimento na cidade
de São Paulo entrevistadas destacaram como a crise sanitária ampliou e intensificou a sinergia de
violências coproduzidas pela crescente vulnerabilidade social.
Os resultados indicaram uma resposta programática contraditória ao inédito contexto
psicossocial marcado pela redução brusca da renda familiar e aumento do uso abusivo de álcool e
outras drogas. Com governantes individualizando a VCM sem oferecer apoio suficiente para
manter distanciamento/isolamento necessário à prevenção de SARS-CoV-2/ Covid-19, diminuiu a
procura dos serviços pelas mulheres mesmo enquanto as denúncias cresciam. Ao mesmo tempo
que as usuárias do serviço perdiam acesso à comunicação remota, as profissionais usavam
celulares e recursos pessoais para atendê-las, sem protocolos éticos de sigilo. Antecipa-se a
necessidade de ampliação da rede intersetorial e do acolhimento em saúde-mental.
PALAVRAS-CHAVE: Violência doméstica; Rede intersetorial; Covid-19; Vulnerabilidade.

Introdução

Em abril de 2020, o editorial da revista Lancet (Hall et al., 2020) já discutia como na crise
sanitária e social resultantes da SARS-CoV-2/Covid-19, que afeta desproporcional- mente ricos e
pobres, as desigualdades entre mulheres e homens seriam determinantes.
Em todas as crises humanitárias anteriores, reduziram-se o acesso aos serviços de atenção
à violência de gênero, à saúde mental e à saúde materna e infantil (Hall et al., 2020).
Como nos recentes surtos dos vírus de Ebola e Zika, são as mulheres que saem mais de
casa para trabalhar, que ocupam mais postos de trabalho em saúde e dedicam mais tempo aos
cuidados da casa, dos filhos e dos enfermos (Measure Evaluation, 2017). As mulheres são a
maioria entre trabalhadores da saúde e informais, o que as expõe a maior risco de infecção pelo
vírus, perda de emprego e renda; assim “as sobreviventes da violência podem enfrentar
obstáculos adicionais” (ONU Mulheres, 2020).
O fenômeno da violência contra a mulher não escolhe cultura, grupo étnico e religioso,
classe e escolaridade, mas as experiências das mulheres mudam conforme a desigualdade no
acesso à justiça e aos serviços de saúde (Curia et al., 2020). São muitas as barreiras à adesão
pelas mulheres aos serviços de saúde que oferecem atenção à violência por parceiro íntimo
(Schraiber, D’Oliveira, França-Junior, & Pinho, 2002).
No contexto prolongado que se prevê para a pandemia de Covid-19, os obstáculos serão
maiores. Comparados com 2019, em 2020 os casos de feminicídio cresceram 22,2% entre março
e abril, cresceram 37,6% as chamadas para o no 190 para situações de violência doméstica em
abril, período em que todos os estados já adotavam medidas de isola- mento social; por outro
lado houve a redução de 28,2% dos registros de estupro e estupro de vulnerável, dado
preocupante, pois as vítimas podem não estar conseguindo chegar até a polícia para denunciar a
violência (Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2020).
O município de São Paulo, epicentro da epidemia brasileira, estabeleceu um plano de
contingências e enfrentamento à Covid-19 em março (Prefeitura de São Paulo, 2020).
Fechou-se o comércio e as atividades nos diferentes segmentos educacionais, indicou-se o
“distanciamento social” e o “isolamento domiciliar”, “lavar as mãos” e uso de álcool-gel,
higienização dos ambientes e capacitação dos profissionais da saúde. Serviços de saúde e
assistência social produziram protocolos de atendimento e acompanhamento das atividades.
O objetivo deste artigo é discutir a resposta à violência contra as mulheres nos primeiros
meses da pandemia de SARS-CoV-2/Covid-19, focalizando a dinâmica da vulnerabilidade pro-
gramática com base em relatos de profissionais de saúde e assistência social que estão atuando
na atenção de mulheres em situação de violência em territórios socialmente vulneráveis.
A análise da vulnerabilidade programática das mulheres à violência permite compreender
sua maior ou menor suscetibilidade focalizando políticas, ações, serviços e as estratégias
disponibilizadas e institucionalizadas que deveriam apresentar respostas efetivas para mitigar essa
violência. A análise das relações sociais que estruturam situações de vulnerabilidade e/ou violação
de direitos humanos (V&DH) em uma perspectiva psicossocial assume a relação indissociável
entre as dimensões programática e os planos individual e social (Ayres, Paiva, & Franca Jr, 2012).
Incluem a análise das relações de gênero e raciais, além do contexto socioeconômico com
impacto no cotidiano das pessoas.
No caso da violência contra a mulher, implica pensar que não resulta de interações
individuais isoladas com os homens, nem que todos os homens são violentos, mas que é
estruturada por um “sistema de dominação masculina que produz e reproduz, orienta práticas,
comportamentos, instituições e normas”, além de condicionar a “experiência feminina” (Barroso,
2019, pp. 142-145). O contexto que produz as interações individuais pode ser mitigado por ações
programáticas e políticas públicas.
Sobre violência contra a mulher Saffioti (2015) concebe violência como ruptura de qualquer
forma de integridade da pessoa, seja física, psíquica, sexual ou moral. Busin (2015) acrescenta
que as violências podem ser rejeitadas ou condenadas, toleradas ou incentivadas, explícitas ou
invisíveis. Existem violências que deixam marcas físicas, outras simbólicas, porém todas provocam
ruptura e podem deixar marcas permanentes em quem as sofre. A autora define violência de
gênero como a violência contextualizada pelas relações de gênero, que se produz e reproduz no
bojo do sistema patriarcal, e fundamenta atos sociais derivados da hierarquização naturalizada de
gênero e do sexo, que supervalorizam atributos considerados masculinos em detrimento de
características consideradas femininas, cuja forma de expressão pode ser física, sexual e
econômica (Busin, 2015). A extensa literatura mundial, inspirada pela contribuição de Scott
(1995), que cunhou gênero como categoria de análise, permitiu superar o determinismo biológico
relacionado ao uso do termo sexo ou diferenciação sexual.
A violência contra a mulher (VCM) pode ser definida como qualquer ato ou conduta que
cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual, psicológico, patrimonial e moral, tanto na esfera
pública quanto na privada (Lei n. 11.340/2006). Nesse fenômeno global e complexo, a associação
das violências física, sexual e psicológica aparece em episódios recorrentes e sobrepostos, e as
violências emocional e moral coexistem a outras agressões (Guimarães & Pedroza, 2015). A
violência psicológica contra as mulheres aparece como a mais frequente, naturalizada, difícil de
identificar e denunciar (Curia et al., 2020; Guimarães & Pedroza, 2015; Silva & Oliveira, 2015). A
violência também pode ser tipificada com base no espaço em que ocorreu (doméstica, pública,
urbana, rural); por quem sofre (menina, idosa, não-branca, LGBTQIA+); por quem a comete
(individual, coletiva); ou por sua forma (psíquica, física, sexual). (Busin, 2015).
A violência contra a mulher é, portanto, uma expressão da violência de gênero, perpetrada
significativamente no ambiente doméstico pelo parceiro íntimo, nomeada como violência
doméstica (VD) ou violência doméstica contra a mulher (VDM). As consequências dessa violência
são observadas no plano individual, familiar e coletivo (OMS, 2010).
No Brasil, o tema da violência contra a mulher entrou na agenda política no período de
redemocratização nos anos 1980, quando os primeiros serviços de atendimento às mulheres
vítimas de violência, a primeira Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), o Conselho Nacional dos
Direitos da Mulher e o primeiro programa público de aborto legal em São Paulo advieram (Aguiar,
D’Oliveira, & Schraiber, 2020).
Em 2002, a violência contra a mulher passou a ser considerada pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) como um grave problema de saúde pública e violação de direitos humanos. Essa
definição apoiou no debate brasileiro a promulgação da Lei Maria da Penha, a criação dos
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e o aprimoramento de atendimentos
multidisciplinares no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), como já debatia Saffioti (Curia et
al., 2020).
Guimarães e Pedroza (2015) destacam a inovação jurídica, processual, política e cultural
que redefiniu a violência depois da promulgação da Lei Maria da Penha, com impacto na
formulação de políticas públicas na saúde, educação e assistência.
O detalhamento das modalidades de violência definidas na lei ampliou a compreensão
sobre suas expressões e situações que, como as diferentes formas de humilhação, não eram
definidas como violência (Guimarães & Pedroza, 2015). Nesse contexto, se ampliou tanto a escuta
das mulheres vítimas de violência para as diversas expressões das violências, quanto a
compreensão sobre a construção histórica e cultural das relações desiguais de poder entre
homens e mulheres.
Em revisão da literatura brasileira sobre VCM, Silva e Oliveira (2015) e Curia et al., (2020)
indicam que estudos quantitativos e qualitativos das disciplinas psicologia, enfermagem e
medicina incluem as mulheres vítimas e a escuta de profissionais, além da análise documental. As
mulheres relacionam como principais causas da violência o ciúme, o jogo de poder e histórico
familiar (Fonseca, Ribeiro, & Leal, 2012; Curia et al., 2020).
A promulgação da Lei Maria da Penha estimulou o aumento dos estudos sobre o tema,
embora poucos incluam os homens autores de violência. O trabalho junto aos homens, previsto
na Lei, também é apontado pela OMS como relevante medida de prevenção.
A literatura indica que frequentemente intervenções junto a condenados ou denunciados
buscam a responsabilização dos homens pela violência cometida. Esse processo de
responsabilização ocorre por meio da adequação dos participantes a um discurso hegemônico que
é pouco problematizado (Billand & Paiva, 2017).
Homens são socializados para usar a agressividade e a violência física como provas de
masculinidade, enquanto são convocados a reprimir suas emoções publicamente e estimulados a
“uma postura destrutiva e, muitas vezes, autodestrutiva” (Dantas & Méllo, 2008, p. 3). As
consequências são maior índice de mortalidade entre os homens em todas as faixas etárias, maior
taxa de internação relacionadas à saúde mental, bem como penalidades como a prisão (Dantas &
Méllo, 2008).
Billand e Paiva (2017) notam que a forma coercitiva com que muitas das intervenções junto
aos homens autuados pela Lei Maria da Penha ocorrem – com ameaça de punição e humilhação –
produz resistência em expor fragilidades, grandes taxas de abandono e falta de adesão às
propostas de intervenção. Porém, experiências de grupos reflexivos em diversas regiões do país
permitem um espaço de acolhimento e escuta, troca de experiências e reflexão sobre as diversas
formas de violência, o pensar e agir frente a situações conflituosas (Freitas & Cabrera, 2011,
citados por Vasconcelos & Cavalcante, 2019).
A taxa de reincidência mostra-se baixa após participação em grupos reflexivos, de acordo
com levantamento feito por Vasconcelos e Cavalcante (2019), que ressaltam a dificuldade de
medir essa taxa com exatidão. A mudança de discurso por parte dos homens não exclui outras
formas de controle do homem sobre a mulher, sobretudo a violência psicológica. Assim, afirma-se
a importância da intervenção junto a homens autores de violência ocorrer de forma dialógica
(Billand & Paiva, 2017).
A transgeracionalidade dessa violência é observada na história de vida de pessoas em
relacionamentos violentos (Silva & Oliveira, 2015) e há relação entre violência conjugal e
experiências de violência na família de origem, tanto de homens, quanto de mulheres.
A violência cometida por parceiro íntimo (VPI) impacta filhas e filhos que presenciam situ-
ações de violência e desenvolvem problemas de ordem física e emocional, como alterações no
sono, ansiedade, depressão, baixa autoestima e baixo rendimento escolar, como também indica a
OMS (Krug et al., 2002).
As consequências da violência incluem agravos significativos de saúde física e mental das
vítimas, com efeitos de médio e longo prazo, crônicos, resultando em lesão corporal e óbito (Curia
et al., 2020; Santos et al., 2018; Silva & Oliveira, 2015). As consequências ultrapassam a
dimensão individual, afetam relações familiares e sociais, produzem isolamento social e prejuízos
no exercício de atividades laborais e no acesso ao cuidado (Mendonça & Lurdemir, 2017).
Para Fonseca, Ribeiro e Leal (2012), a violência psicológica compromete a autoestima, e a
vergonha aparece como sentimento predominante entre as mulheres que se es- condem, e a
“indiferença com que são tratadas contribui para que elas permaneçam na inautenticidade” (p. 5).
Categoriza-se o sofrimento mental mais frequentes entre vítimas da VCM em diagnósticos como:
(a) humor depressivo-ansioso; (b) sintomas somáticos; (c) decréscimo de energia vital; (d)
pensamentos depressivos, incapacidade de desempenhar atividades e pensamentos suicidas
(Santos et al., 2018). A depressão seguida de estresse pós-traumático aumenta a chance de uso
de substâncias, sobretudo uso abusivo de álcool (Curia et al., 2020; Santos et al., 2018). No caso
específico de mulheres com histórico de violência sexual, globalmente tem se observado a maior
ocorrência de sintomas psiquiátricos (Krug et al., 2002, p. 163).
No plano programático, os avanços legais dos anos 2000 implicaram na articulação dos
serviços da rede intersetorial de atenção às mulheres, nos equipamentos e nas modalidades
assistenciais ofertadas. A caracterização das mulheres que sofreram violência ressalta a
importância de abordagens interseccionais, além de intersetoriais. Estudos brasileiros apontam
que a maioria das mulheres é jovem, negra, em situação econômica desfavorável (Curia et al.,
2020) e indicam poucas análises a partir de marcadores sociais e sua intersecção com a
desigualdade de gênero no Sistema Único de Saúde (SUS). (D’Oliveira et al., 2020).
Os serviços regionalizados que compõe a Atenção Primária em Saúde (APS) – que
integram ações preventivas, promoção de saúde e cuidados longitudinais à família e à
comunidade – são a porta de entrada para o SUS e podem apresentar respostas importantes à
VCM, se oferecem assistência contínua às mulheres (D’Oliveira et al., 2020; Mendonça et al.,
2020). Aguiar et al., (2020) discutem que as ações de encaminhamento a serviços devem
continuar facilitando o acesso à assistência (como “trama” que são) mas que uma “rede” deve
construir um projeto assistencial comum que garanta a interação entre os diversos profissionais
compartilhando modelos assistenciais e ações que tenham em vista a atenção integral a partir das
demandas particulares de cada caso. Por outro lado, a violência doméstica contra as mulheres
(VDM) nem sempre é reconhecida como um problema de saúde. Quando o fazem, afirmam as
autoras que os profissionais o reconhecem na perspectiva da integralidade, do gênero e dos
direitos humanos, mas há pouco conhecimento sobre as leis, dificuldade em abordar o tema
junto às mulheres, desconhecimento sobre protocolos e fluxo de atendimento e medo dos
profissionais frente às ameaças de agressores.
Antes da epidemia da SARS-CoV-2/Covid-19, já se acumulavam a diminuição de recursos
humanos e materiais para os serviços, corte no repasse de verbas, a precariedade nas delegacias
da mulher e a falta de interesse na capacitação/treinamento de profissionais, um sucateamento
visível nos três níveis de governo (municipal, estadual e federal). Além disso, na cidade de São
Paulo, onde o estudo se desenvolveu, os de assistência psicossocial nesse campo são tanto de
administração municipal direta da Secretaria de Direitos Humanos, como de administração indireta
pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), gerenciados via
organizações sociais, o que dificulta o entrosamento entre serviços e aumenta a divergência de
cunho ideológico sobre como se concebe a VCM (Aguiar et al., 2020).
No campo da assistência jurídica e policial, também há falta de recursos humanos e
materiais e, apesar do aumento da quantidade de DDM’s (só em São Paulo são 129)2, esse é um
serviço pouco valorizado na carreira e organização policial. Há, portanto, resistência à capacitação
profissional e às abordagens de gênero como pretendia o movimento de mulheres na criação das
DDM’s (Aguiar et al., 2020). Curia et al., (2020) identificam quatro obstáculos à assistência
jurídica: (a) a banalização da VCM por parte de equipes no campo da justiça; (b) pouco
conhecimento sobre a Interseccionalidade gênero-raça-etnia por parte de juízes/as; (c) pouco
acesso das mulheres negras à justiça; (d) e pouca compreensão da diferença entre notificação e
denúncia por profissionais na área da saúde, o que diminui a efetividade dos encaminhamentos.
A VCM no contexto da pandemia de Covid-19 Vieira, Garcia e Maciel (2020) ressaltam que
a coexistência forçada entre casais no contexto do isolamento, o estresse econômico crescente e
o medo de adoecer por Covid-19 são gatilhos para a violência. A divisão sexual das tarefas da
casa sobrecarrega as mulheres (especialmente as casadas com filhos) e aumenta o trabalho
invisível e não remunerado da mulher. O estresse econômico e a perda real dos postos de
trabalho, acirrados pela pandemia do Covid-19, pode desestabilizar os homens, potencializando
comportamentos violentos no lar. O machismo estrutural, as desigualdades de gênero, raça e
renda são acirrados pela pandemia (Barbosa et al., 2020).
O governo federal reconheceu que o confinamento produz aumento de casos de violência,
mas as falas do presidente sobre o tema reduzem a questão à necessidade de sair do
“confinamento”, situação que “estimula brigas” e “mau comportamento” dos homens nervosos,
como se estes fossem os únicos fatores responsáveis pelo aumento de casos de violência
(Brandalise, 2020). Expressões públicas como estas contra a quarentena e o isolamento domiciliar
desconsideram as raízes estruturais da VCM. O histórico político do presidente Jair Bolsonaro é
povoado de atitudes que evidenciam sua posição sexista, contra a igualdade das mulheres e
demais concepções da Declaração dos Direitos Humanos.
Em 2014, por exemplo, ofendeu a deputada Maria do Rosário e foi condenado à
indenização. Os cortes significativos de verba para programas vinculados à Secretaria da Mulher
ressaltam uma agenda não-prioritária (Lindner, 2020). O Ministério da Saúde exonerou
funcionárias que assinaram nota técnica sobre métodos contraceptivos, interrupção da gravidez
legal, redução de gravidez não planejada e eliminação da VCM relacionada a casos de abuso
sexual no contexto da epidemia (Mariz, 2020). A orientação foi distorcida pelo presidente
Bolsonaro como legalização do aborto, reiterando sua posição contrária aos direitos sexuais e
reprodutivos das mulheres. Ainda assim, registrava-se o aumento de denúncias de VCM em 2019
e o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (2019) lançou o aplicativo “Direitos
Humanos Brasil” (abril de 2020) viabilizando denúncias, sem necessidade de a vítima fazer
ligações. Contudo, não se tem notícia de ações resultantes dessas denúncias.
Há entraves para a efetividade das denúncias nestes formatos. O que devem fazer as
mulheres em situação de violência que não acessam a internet ou têm sua comunicação
cerceada? Como a crise da Covid-19 interfere na mediação programática local que mitiga- ria as
desigualdades de gênero quando creches, escolas, espaços de convívio comunitário das mulheres
e religioso permanecem fechados? Como respondem localmente os serviços de proteção à
mulher? Método No âmbito de pesquisa-intervenção em andamento onde o tema emergiu,
realizaram-se entrevistas semiestruturadas por meio remoto (Google Meets), em maio de 2020,
com profissionais que atuam na linha de frente de serviços da Rede de Enfrentamento à Violência.
Os três serviços contam com equipe multiprofissional e recebem casos encaminhados da Rede
intersetorial, pela comunidade ou por busca espontânea. Dois dos serviços são vinculados à Rede
de Assistência Social e localizam-se na zona sul e sudeste da cidade de São Paulo, regiões de alta
vulnerabilidade, que não aderiram massivamente à proposta de quarentena com isolamento
social. O terceiro serviço é vinculado ao SUS, em território de média vulnerabilidade na Zona
Oeste da capital.
As três regiões são internamente heterogêneas e processos locais reproduzem as
desigualdades sociais definindo o grau de “vulnerabilidade social”, segundo o Atlas
Socioassistencial da Cidade de São Paulo (2015), com base nas “características do território, ciclo
etário, dificuldades enfrentadas pelas famílias e falta de acesso a políticas públicas”. O bairro na
Zona Sul de São Paulo tem intensa ocupação demográfica e reúne a maior proporção de
população preta e parda da cidade de São Paulo (60% dos habi- tantes no bairro), com 25% dos
domicílios em favelas (Rede Nossa São Paulo, 2019).
Era o 4o bairro com maior número de mortes pela Covid-19 (Tarja, junho de 2020).
No bairro em distrito da Zona Oeste, de média vulnerabilidade, 16% da população se
declara preta e parda (Mapa da desigualdade de São Paulo, 2019) e no distrito registrou-se um
dos maiores índices de óbitos por Covid-19 (junho de 2020).
O bairro de alta vulnerabilidade da região sudeste onde 31% da população se declara preta
e parda inclui a maior favela do município, com 38% dos domicílios sem saneamento, e registrou
o 2o maior número de mortes pela Covid-19 no município (Tarja, junho de 2020).
Os serviços investigados são de média complexidade, ou seja, atendem famílias e
indivíduos em situação de risco pessoal e social, e protagonizam o acolhimento à mulher vítima de
violência nos territórios, atendendo mulheres sob impacto social da crise de desemprego e renda
ampliada pela epidemia.
As três informantes-chave, formadas em assistência social ou psicologia, foram
entrevistadas sobre a dinâmica dos serviços antes e depois das políticas de isolamento e
distanciamento social, e os desafios que enfrentam e antecipam para os serviços de proteção à
mulher cujo cotidiano estará afetado pela crise da Covid-19. A identidade das entrevistadas e o
nome dos serviços em que atuam serão omitidos por compromisso ético.4 Para tanto, serão
referenciadas com nomes fictícios: Camila (Zona Sul), Ana (Zona Sudeste) e Mariana (Zona
Oeste).
A análise temática do conteúdo das entrevistas semiestruturadas (Minayo, 2008), privilegia
a fala como unidade de significação. A leitura flutuante permitiu categorizar temas que
possibilitaram ampliar a compreensão e hipóteses iniciais e interpretar as narrativas.
A análise temática de conteúdo focalizou a dinâmica da vulnerabilidade programática das
mulheres à situação de violência vividas nos três primeiros meses da epidemia de Covid-19. No
quadro da vulnerabilidade e direitos humanos (Ayres, Paiva, & França- Junior, 2010) considera-se
as três dimensões da vulnerabilidade inextricavelmente ligadas: a “dimensão individual e
pessoal”, compreendida como trajetória intersubjetiva que coproduz a pessoa em cena na relação
eu-outro, implicadas em contextos que compõem a “dimensão social” das interações cotidianas e
com a rede próxima, estruturadas pelas relações étnico-raciais, de gênero e classe, geracionais e
pela cultura. A “dimensão programática” da vulnerabilidade, foco desse estudo, trata das ações
institucionalizadas e organizadas por processos político-sociais e que podem mitigar ou aumentar
a vulnerabilidade pessoal e social das mulheres à violência. No curto período de observação e
pesquisa não foi possível seguir as mulheres vítimas de violência atendidas e aprofundar a
compreensão da relação entre cada trajetória individual em seu contexto sociocultural e os
serviços que as acolhem, observando a mediação dos processos político-programáticos nos
territórios onde vivem.
Resultados As entrevistadas concordam que a vulnerabilidade social das mulheres vítimas
de violência foi intensificada desde a primeira fase da pandemia. Anteciparam o aumento da
vulnerabilidade nos territórios em que as mulheres residem, a necessidade de implementação de
medidas de emergência diante da ausência de acesso a direitos, e alteraram protocolos de
atendimento nos serviços de proteção, fatores que poderiam intensificar o silenciamento da VCM.
A primeira resposta dos serviços foi adequar os espaços físicos para garantir protocolos de
distanciamento físico, adequar critérios para atendimento presencial e testar a possibilidade de
monitoramento remoto.
Vulnerabilidade social nos territórios investigados A psicóloga Camila (Sul) associa o
cenário no bairro como sendo muito parecido com a década de 1980. Conta que na abertura
democrática, época de hiperinflação, empresas situadas na periferia Sul da cidade de São Paulo
faliram ou mudaram de território, o que gerou um brusco desemprego na região. Algumas famílias
migraram, mas muitas permaneceram em condição de desemprego, o que intensificou o consumo
de álcool por parte dos homens e aumentou a violência nos lares.
O bairro não está e nunca ficou em estado de isolamento social para a Covid-19.
O auxílio do governo que deveria sustentar a população mais pobre e desempregada
demorou a chegar ou não chegou (Roubicek, 2020), além de encontrar como barreira o acesso à
internet e o uso de aplicativo em celular para liberação do auxílio. Assim, a distribuição do auxílio
foi um obstáculo à adesão ao isolamento.
Aqui os bares estão abertos com muita bebida em cima da mesa, estamos vendo e é fato!
(...) tem muita gente que não recebeu auxílio. Então, a falta alimento, a dificuldade de pagar as
contas é gatilho para violência doméstica, a própria questão das crianças não estarem na escola,
porque aqui normalmente é um cômodo para 10 pessoas, e dessas pessoas tem 5 ou 6 crianças,
então a violência começa a estender para as crianças, porque o próprio adulto está sem jeito de
prover o lar, sem recurso e sem paciência para prover o lar e acaba batendo, espancando... .
(Camila, Sul) A instituição, preocupada com a segurança alimentar, passou a distribuir cestas
básicas, e centralizou cerca de 150 inscrições por dia (quase todas por mulheres) solicitando
comida depois de perder o emprego como domésticas.
Como parte da rede de enfrentamento à violência na cidade de São Paulo, o serviço atende
110 mulheres da região e permaneceu ativo por meio de monitoramento remoto destas. Dentre
elas, apenas nove precisaram de subsídios, como comida, gás, água ou luz, o que pode indicar
resultado positivo do ativo trabalho de apoio à emancipação financeira e do direito ao trabalho
promovido pela instituição, que possibilitou maior segurança a estas mulheres, mesmo neste
contexto. Já o abuso de álcool pelos homens, fator associa- do à violência doméstica em diversos
estudos (Curia et al., 2020; Silva & Oliveira, 2015) associou-se ao uso abusivo de álcool por parte
das mulheres vítimas de violência, crescente antes da epidemia.
Ana (Sudeste) conta que na região também não se garantiu o distanciamento.
No serviço, assustaram-se quando a Secretaria de Assistência Social notificou o encerra-
mento completo de todas as atividades coletivas, gerando “medo” de contrair o novo vírus, tanto
nas usuárias como nas profissionais (em março de 2020). A equipe, composta apenas por
mulheres, se viu na delicada posição entre criar critérios para dar conta das demandas urgentes e
não se expor à Covid-19.
Alteração de protocolos de atendimento os protocolos de atendimento em todos os serviços
foram gradualmente modificados, adotando medidas semelhantes. Três modificações foram
destacadas pelas entrevistadas: (a) os acolhimentos presenciais se mantiveram apenas para
casos novos, situações de violência física que aconteceram recentemente (no dia, ou em dias
anteriores), para garantir orientação e apoio para realizar Boletim de Ocorrência ou solicitar
medida protetiva, para atender mulheres que sofreram a violência e não têm pra onde ir, e
mulheres que estão com o agressor em casa; (b) o monitoramento à distância de casos que já
eram acompanha- dos pelo serviço passou a ser feito por telefone ou WhatsApp; (c) medidas de
distanciamento físico foram tomadas no espaço do serviço, como afastamento de mobiliário,
número de pessoas permitidas no espaço, uso de máscaras e higienização recorrente das mãos.
Acessar as mulheres e desenvolver atividades de forma remota apareceu como desafio e
as profissionais entrevistadas entendem que esta forma de trabalho virá para ficar.
Para Camila (Sul) e Ana (Sudeste) é significativo o desafio da inclusão digital, meio que
viabilizaria a comunicação e acesso a direitos mantendo a proteção do estado.
Mulheres que têm [nosso] celular e WhatsApp só conseguem entrar quando vão em algum
lugar com wifi, não têm na casa, não têm computador (...)ela tem um chip com número, parou de
colocar crédito e perdeu o número. Só o WhatsApp ela vai conseguir usar, quando tiver wifi e ela
não vai ter (...) como a gente faz com essa parcela de mulheres que não tem o mesmo acesso
que a gente, de estar usando a internet e falando no computador em casa? Como se inclui essas
mulheres? O desafio principal é esse. (Ana, Sudeste) Já para Mariana (Oeste), a situação de
atendimento remoto introduz temor de quebra de sigilo, pois as equipes do serviço estão
monitorando as usuárias com telefones pessoais, ou se viram obrigadas a comprar novos chips ou
pegar aparelhos emprestados. Seria preciso ter um plano de segurança online, a mulher atendida
precisaria saber que sua fala não será gravada, que seu sobrenome não será exposto, que o
registro de mensagens será apagado, pois a confiança é primordial para que a vítima se sinta à
vontade. Importante destacar que o cárcere privado e cerceamento de comunicação podem ser
realidades no contexto da VCM, acrescentando um desafio ao atendimento. As condições de
trabalho das equipes de saúde e assistência aumentam a vulnerabilidade programática: “o meu
medo é que o serviço não está conseguindo responder a isso rapidamente (...) por exemplo,
assassinatos de profissionais, coisa que não é tão incomum de acontecer em casos, enfim, muito
graves” (Mariana, Oeste).
Para esta mesma profissional, a conjuntura oferece a oportunidade de construir cartilhas e
documentos de orientação profissional qualificados, que considerem: o registro de pseudônimos;
a criptografia; o trabalho profissional em casa com infraestrutura fornecida pelo serviço. Essas
demandas dependem de investimento programático de recursos em políticas nesse campo e, no
caso do SUS, incluir a atenção à VCM como uma questão prioritária na saúde.
Ainda sobre acessibilidade, princípio fundamental da perspectiva dos direitos humanos, os
territórios de alta vulnerabilidade queixam-se que o aplicativo 180 – Boletim de Ocorrência (BO)
on-line não funciona. O serviço Sudeste chegou a acompanhar mulheres para fazer o BO
diretamente na DDM da região no contexto da epidemia, e a delegacia disponibilizou computador
e a orientação do escrivão. Por mais que em todos os serviços pesquisados se critique a maneira
inadequada como a polícia trata mulheres vítimas de violência, sobretudo em relação as mulheres
negras, o suporte permanente desta instituição é necessário e deve ser qualificado.
Para a entrevistada Mariana (Oeste), as delegacias são relevantes para a violência
institucional na rota de garantia de direitos das mulheres, então evitá-las é positivo.
Quem faz o BO online disponível em tempos de epidemia é instruído a permitir
autorizações por e-mail ou WhatsApp, plataforma que as mulheres preferem e passaram a
acessar.
Políticas públicas e Medidas implementadas na primeira fase da pandemia na ausência do
BO, dois dos serviços estão orientando a vítima a fazer a solicitação de medida protetiva
diretamente. O processo é mais lento, exige mais provas, mas garante a rápida retirada do
homem violento do lar, o que no contexto pode ser mais urgente ainda, e aparece como
alternativa ao BO.
Há iniciativas parlamentares para que durante a pandemia se altere a Lei Maria da Penha,
determinando que União, Estados e Municípios assegurem medidas protetivas para atender
mulheres/filhos, recursos emergenciais para casas-abrigo e Centros de
Atendimento Integral e Multidisciplinares específicos. Nenhuma informante acompanhava o
assunto, embora mencionasse a necessidade de ampliar o número de vagas em abrigos.
A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo lançou um pacote de
medidas para mulheres em situação de violência (em junho de 2020): auxílio- -hospedagem de R$
400 reais para quem possui medida protetiva ou que viva situação de extrema vulnerabilidade;
disponibilização de vagas em quartos de hotéis para vítimas de violência doméstica; qualificação e
otimização do atendimento via canal 156 e conexão mais ágil à DDM ou serviços de proteção,
processo esse antes mais extenso; ampliação de ações de visita de Agentes de Saúde com foco na
violência doméstica (Secretaria Especial de Comunicação, 2020).
O aborto legal foi citado pelas entrevistadas como fonte de preocupação. Permitido para
mulheres nas situações de gravidez por estupro, mulheres com risco de vida, funda- mentadas no
Artigo 128 do Código Penal, e na presença de anencefalia fetal resultante do julgamento da
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF-54), foi ratificada pelo Supremo
Tribunal Federal em 2012. No contexto da Covid-19, Mariana (Oeste) constatou que um hospital
de referência da região teve seu serviço de aborto legal suspenso, o que retrata a retirada de
direitos sexuais e reprodutivos essenciais.
Silenciamento e invisibilização da VCM nos primeiros meses da epidemia foi unânime entre
as entrevistadas que a procura das mulheres pelos serviços de acolhimento diminuiu
significativamente desde o início da pandemia em contraste com os dados que apontam para um
aumento no número de denúncias e de casos de feminicídio.
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os casos de feminicídio
aumentaram 41,4% durante o período de quarentena em todo o estado de São Paulo, mas a pro-
cura por serviços de atendimento diminuiu 20% durante o período de isolamento social (SEC,
2020). Esse dado é percebido com preocupação pelas profissionais entrevistadas: A gente
compreende que no cenário do [bairro] vamos ter um boom depois que passar, vai chegar um
número bem expressivo (de casos) (...) fica uma incógnita: não estão procurando o serviço, mas
também não estão fazendo o isolamento. (Camila, Sul) Confirmando a bibliografia além da
dificuldade para identificar a violência (sobretudo a violência psicológica), vergonha e medo de
expor a situação para outras pessoas, pouco conhecimento sobre os subsídios legais que impõe
limites ou promovem proteção a situações de violência e se desenvolve no interior da
desigualdade de gênero (Silva & Oliveira, 2015), observa-se a transgeracionalidade.
Outra questão que eu venho reparando, as mulheres passam por essa questão de
violência desde o útero materno.
Tenho um número que não é expressivo de meninas, 16, 17, 14 anos, mas já aparece...
de meninas que já estão em relacionamento abusivo.
Tem mulheres com sessenta anos que dizem que não foram elas que escolheram este
parceiro, parceiros que a família delas escolheram: “Minha família escolheu o que era melhor para
mim, mas meu pai batia na minha mãe, meu sogro batia na minha sogra”.
É toda uma história transgeracional. (Camila, zona sul)
Essa transgeracionalidade da violência aponta para uma violência que se reproduz no
âmbito privado e doméstico por muito tempo, cenário legitimado para acobertar violências,
espaço de relações de poder e domínio da lógica patriarcal, tal como Curia et al.
(2020) encontram em sua revisão da literatura. Como ressalta a entrevistada, muitas
mulheres naturalizam a relação afetiva violenta como se esse comportamento fosse intrínseco a
esse tipo de relação (aceitável também em relações de outra natureza). A transgeracionalidade
marca também a experiência dos homens que na família de origem foram expostos a situações de
violência e as reproduzem.
A situação de violência se agrava na epidemia, de acordo com as entrevistas, estimuladas
por questões sobre cuidados com a família e manutenção da casa, pela necessidade de criar
estratégias para prover sustento, menor acesso a espaços de convívio e serviços de acolhimento.
Ana (Sudeste) destaca que o distanciamento dos espaços de convívio acarreta prejuízo, na
medida em que são nesses espaços, no caso nos serviços de proteção, que o diálogo com as
mulheres permite dar voz e identificar que elas estão sofrendo algum tipo de violência, sobretudo
a violência psicológica. No caso dos serviços da Zona Sul e Zona Sudeste, oficinas de diversas
naturezas estão suspensas, perdendo acesso a espaços de cuidado e fortalecimento para as
mulheres.
Então, por mais que os serviços tenham criado protocolos de atendimento e bus- quem
assistir as mulheres de diversas formas, é notória a dificuldade de acompanhamento e
monitoramento à distância em curso, que resulta no silenciamento percebido pelas entrevistadas e
é destacado nos dados oficiais. A dificuldade em abordar a violência por meio de aplicativos,
quando a mulher muitas vezes está na presença do agressor, é ampliada pela dificuldade concreta
de fazer conexão pela internet para denunciar e buscar apoio em contexto onde uma sinergia de
fatores aumenta a desigualdade de gênero, reforçada e naturalizada.
Nessa sinergia, mesmo depois do demorado processo de inserção das mulheres na agenda
política nos anos 1990 e 2000, o crescente corte de programas arduamente implementados e a
ausência de escuta qualificada de profissionais da Rede intersetorial afetam especialmente a
assistência a estas mulheres.
No serviço de Mariana (Oeste), há treinamento para os profissionais de referência na
unidade para acolhimento dos casos, mudam os critérios programáticos dos acolhimentos à VCM e
qualifica a política de assistência às mulheres, como indica a entrevistada: Tem muitos
profissionais que são mais jovens, mais sensíveis, mais militantes, né (...) falam sobre
abortamento legal com as usuárias, entendem que essa não é uma questão de julgamento moral,
que o papel profissional é oferecer acolhimento e apoio, para que seja preservada a saúde da
mulher.
Parece que os profissionais já entendem que a violência doméstica contra a mulher é uma
questão de saúde, mas conseguir identificar aquilo como uma questão que pode ser cuidada pelo
serviço é um pouco mais difícil.
Muitas vezes, é possível quando o serviço está mais sensibilizado com treinamento e for-
mação continuada. (Mariana, Oeste)
(Oeste) ainda ressalta que não é fácil que o desejo da mulher, suas experiências, o que
cada uma quer e pode sejam de fato incorporadas nas ações de profissionais cuja formação
biomédica e farmacológica não inclui princípios baseados em direitos humanos; estes princípios
informam ao sistema a sustentação da dignidade humana das mulheres vítimas de violência.
Considerações finais as entrevistas destacam como a crise da Covid-19 ampliam as
desigualdades que produzem a violência doméstica no cotidiano, intensificando a sinergia de
violências produzi- das pela vulnerabilidade social, que poderia ser mitigada por programas que,
por sua vez, estão precarizados ou se reduzem a discursos ineficazes e que desconsideram a
desigualdade de gênero. Nessa conjuntura tão difícil e inédita, falas de governantes carregadas de
sexismo e machismo contribuem para naturalizar o cenário onde as cenas de violência ocorrem,
coproduzindo a violação de direitos; embora os programas de atenção à mulher vítima de
violência doméstica tenham sido adaptados, muitas mulheres não conseguem manter o acesso a
esses programas.
Em outras palavras, no contexto da pandemia em curso, fatores que aumentam a
vulnerabilidade social à VCM, como falta de renda, a fome, o desemprego, se somam à
precarização de programas que a mitigariam – incluindo as creches e escolas que garantem a
alimentação, o cuidado e educação dos filhos ou espaço de convivência de idosos fecha- dos –
entre outras ações programáticas que resultam dos movimentos sociais que, por décadas,
buscaram diminuir a violência ancorada na desigualdade de gênero. Ao acúmulo de tarefas de
cuidado, da casa, filhos e dos enfermos acrescentou-se a insegurança e medo de adoecimento
pela Covid-19.
O medo e o risco real de infecção e adoecimento pela SARS-CoV-2/Covid-19 é, por sua vez,
desqualificado ou minimizado pelo governo federal e seus aliados locais que, sem garantir
condições para que as mulheres fiquem em casa, impõem escolher entre o desemprego e a fome
ou a exposição ao vírus, além de desqualificar as evidências sobre a dimensão estrutural da
violência contra a mulher. Mulheres negras são as mais afetadas em periferias onde é impossível
trabalhar remotamente devido as condições materiais e a natureza dos trabalhos. Na periferia
explode o número de infectados e mortos por Covid-19.
A necessidade de trabalhar, em condições informais e de risco, se soma ao número de
pessoas por cômodos nas moradias que produz, ao mesmo tempo, a circulação do vírus e o
aumento da tensão doméstica que acirra a violência de homens agressores, e deveria estar sendo
mitigada pelo acesso a outros direitos – além do direito ao trabalho e moradia decentes, acesso à
saúde e prevenção integral e serviços de proteção contra a violência, que deveria incluir o
trabalho com os homens. Há experiências de grupos reflexivos com homens em diversas regiões
do país, com espaço de acolhimento e escuta, troca de experiências e reflexão sobre as diversas
formas de violência, que trabalha o pensar e agir frente a situações conflituosas.
Assim, será preciso analisar o impacto de iniciativas alternativas no contexto da epidemia,
como a cartilha de “Recomendações para homens com antecedentes de violência contra mulheres
durante o isolamento”, traduzido e adaptado pelo projeto de extensão universitária “Projeto
Ágora”: grupo reflexivo para atendimento de homens autores de violência
contra a mulher, do departamento de Psicologia/UFSC em parceria com o Instituto Noos-
SP. O documento explica as sensações físicas, os pensamentos possíveis e os sinais que os
homens violentos podem ter e identificar durante o isolamento social, orienta como pro- curar
ajuda ou administrar a situação sem comprometer o bem-estar e a saúde de si, do casal ou de
outras pessoas com quem convive (Beiras, Zucco, & Instituto Noos-SP, 2020).
Consideramos que essas medidas, como as iniciativas da prefeitura de São Paulo
mencionadas acima, devem ser acompanhadas e avaliadas em sua efetividade pela pesquisa no
campo da VCM.
Nos serviços de acolhimento e proteção, aumenta o desafio da qualificação profissional
com abordagem interseccional que considere pelo menos gênero-raça e classe: são as mulheres
mais pobres as mais afetadas pela epidemia e suas consequências sociais e humanitárias,
inclusive o aumento da VCM. A educação continuada de profissionais pode contribuir, mas não
resolve automaticamente o problema das equipes diante de novos obstáculos referentes à
organização cotidiana do trabalho, a gestão dos serviços e financiamento de políticas que
respondam efetivamente à violência bem como a implementação efetiva da rede intersetorial
(D’Oliveira et al., 2020). O desenvolvimento de projeto terapêutico singular, o treinamento e
capacitação para esse trabalho em equipe, com destaque para a presença de profissionais da
psicologia em visitas domiciliares, entre outras atividades, permitem o reconhecimento de casos
de violência como propõem vários autores no campo (D’Oliveira et al., 2020; Mendonça et al.,
2020).
Entre os desafios programáticos pré-existentes, também intensificados pela pandemia,
estão o acolhimento de agravos de saúde mental, a redução de danos e do sofrimento
psicossociais que compõem a dinâmica da experiência da mulher agredida pelo homem, com
frequência diagnosticados de maneira isolada do fenômeno da violência, levando a exames e
intervenções de saúde mental e psiquiátricas desnecessárias (Santos et al., 2018).
O precário diálogo entre os serviços de assistência social e de saúde, e desses com o
segmento da segurança pública e o judiciário, é outro obstáculo histórico ao qual se somam no
contexto da SARS-CoV-2/Covid-19 as condições concretas de acesso e funcionalidade de um
aplicativo para o BO que depende de acesso à internet.
Finalmente, conceituar e praticar o acolhimento no quadro da VCM nesse contexto é outro
desafio para a dinâmica dos serviços, pois implica em (a) reconhecer o lugar social da violência,
capacitar a rede de emergência, a rede de encaminhamento e todos os técnicos envolvidos; (b)
qualificar os protocolos de atendimento, tendo clareza na diferenciação do que são outros tipos de
violência que se interseccionam com a VCM; (c) não ser moralista na escuta e no acolhimento; (d)
conhecer a rede de enfrentamento a violência que cada mulher viverá; (e) não vitimizar a mulher
acolhida e conceber cada uma como uma agente autônoma capaz de fazer suas escolhas; (f)
oferecer apoio e não tutelar, pois cada serviço com cada mulher fará um plano de assistência
individual, concebido em conjunto entre serviço e mulher.
Desta maneira, poderemos enfrentar a sinergia de desafios sociais, humanitários e de
saúde intensificados durante esses primeiros meses de pandemia de SARS-CoV-2/ Covid-19 que
afetam o acolhimento das mulheres em situação de violência doméstica, em síntese: (a) redução
brusca da renda familiar e falta de insumos básicos como comida, gás, água e energia e elétrica;
(b) aumento do uso abusivo de álcool e outras drogas por parte dos homens perpetradores; (c)
recusa de aborto legal, entre outros direitos de saúde sexual e reprodutiva suspensos; (d)
usuárias do serviço frequentemente privadas de
direito à comunicação remota, e profissionais usando celular e rede pessoal para atendê-
las, oferecendo risco para os dois lados; (e) a diminuição da procura de mulheres aos serviços de
acolhimento, tenha-se registrado que queixas e denúncias aumentaram.
Antecipa-se como áreas de ação programática em futuro próximo: (f) a criação de novas
casas de abrigos ou ampliação de vagas nas já existentes; (g) a ampliação do acolhimento de
agravos na saúde mental e uso abusivo de álcool e outras drogas; (h) ampliar apoio para cestas
básicas e outros insumos básicos para a sobrevivência (i) criar protocolos éticos de sigilo no
atendimento remoto pelo
profissionais. Por fim, (j) é urgente a mudança do discurso de governantes na contramão
da implementação de medidas para o bom enfrentamento da VCM.
A VCM observada no primeiro semestre de 2020 não é consequência direta da epidemia de
SARS-CoV-2/Covid-19 em curso, embora seja evidente a intensificação de uma
violência historicamente estruturada, expressão de um sistema de poder patriarcal que
ganha novas facetas neste contexto. Romper o silêncio de mulheres vulnerabilizadas pela
violência doméstica que não é produto apenas da necessidade de quarentena e distancia-
mento físico demanda escuta delicada capaz de reconhecer a violência nas suas mais variadas e,
certamente, inéditas formas de expressão.
Notas Agradecemos a CAPES pela bolsa de doutorado de Brisa Bejarano Campos e Bruna
Borba de Araújo Tchalekian, agradecemos a ao CNPQ pela bolsa PQ da professora Vera Paiva, por
fim, agradecemos a FAPESP pois o artigo está associado ao Projeto Temático FAPESP
(2017/25950-2) “Vulnerabilidades de jovens às IST/HIV e à violência entre parceiros: avaliação de
intervenções psicossociais baseadas nos direitos humanos”.
1 Heleieth Saffioti foi professora, socióloga marxista e feminista brasileira, cuja
contribuição científica versa sobre o papel da mulher na sociedade de classes, capitalista,
compreendendo a perspectiva histórica da questão de gênero e da opressão do patriarcado como
forma de dominação própria da sociedade de classes.
2 Em 2012 o Brasil contava com mais de 300 delegacias especializadas, com diferentes
denominações: Delegacia da Mulher (DDM), Delegacia de Defesa para a Mulher (DM), Delegacia
Especializada no Atendimento a Mulher (DEAM). (Fonseca, Ribeiro e Leal, 2012).
3 Associado ao Projeto Temático FAPESP (2017/25950-2). “Vulnerabilidades de jo- vens às
IST/HIV e à violência entre parceiros: avaliação de intervenções psicossociais baseadas nos
direitos humanos”, à CAPES pelas bolsas de doutorado de Brisa Campos e Bruna Tchalekian e ao
CNPQ pela bolsa PQ de Vera Paiva.
4 As entrevistadas assinaram termo de consentimento informado.
5 Projeto de Lei n.o 1.444/2020 (Portugal, 2020) que aguarda constituição de comissão
temporária na Câmara dos Deputados (23/06/2020) propõe essa alteração.
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ISSN 1807-0310 19 Vasconcelos, C. S. S. & Cavalcante, L. I. C. (2019). Caracterização,
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549720200033] BRISA CAMPOS https://orcid.org/0000-0002-2607-7247 Doutoranda pelo
Programa de Pós-graduação em Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia na
Universidade de São Paulo (2019/2022). Mestre pelo Programa de Estudos pós-graduados
Educação: Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2016).
Psicóloga pela PUCSP (2008).
Endereço: Universidade de São Paulo, Instituto de Psicologia.
Avenida Professor Mello de Morais, 1721 - Butantã, São Paulo/SP, 05508-030.
E-mail: brisabejarano@gmail.com BRUNA TCHALEKIAN https://orcid.org/0000-0001-9272-
6279 Doutoranda pelo programa de Pós-graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento
Humano na Universidade de São Paulo. Mestre pelo Programa de Estudos pós-graduados
Educação: Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2016);
Psicóloga pela PUCSP (2013).
E-mail: bruborba@usp.br VERA PAIVA https://orcid.org/0000-0002-8852-3265 Professora
Titular de Psicologia Social no Instituto de Psicologia da Universidade São Paulo. Orientadora nos
programas de Psicologia Social/ Intituto de Psicologia da Universidade São Paulo e Medicina
Preventiva/ Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo.
E-mail: veroca@usp.br
Histórico Submissão: 02/07/2020 Revisão: 29/07/2020 Aceite: 29/07/2020 Contribuição
dos autores Concepção: B.B.C.; B.B.A.T.; V.P.; Coleta de dados: B.B.C.; B.B.A.T.; Análise de
dados: B.B.C.; B.B.A.T.; V.P.; Elaboração do manuscrito: B.B.C.; B.B.A.T.; V.P.; Revisões críticas
de conteúdo intelectual importante: B.B.C.; B.B.A.T.; V.P.; Aprovação final do manuscrito: B.B.C.;
B.B.A.T.; V.P.; Consentimento de uso de imagem Não se aplica.
Aprovação, ética e consentimento A pesquisa cumpriu os princípios éticos contidos nas
Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos (Resolução CNS,
196/96).
A participação na pesquisa foi voluntária e realizada apenas quando o participante
concordou e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
O estudo está vinculado pesquisa temática que tem parecer aprovado pelo Comitê de Ética
em Psicologia, do Instituto de Psicologia da Universidade São Paulo, CEEA:
00530918.9.0000.5561, n0 do parecer: 2.979.702 Financiamento Brisa Bejarano Campos e
Bruna Borba de Araujo Tchalekian tem bolsa de doutorado da CAPES.
Vera Paiva tem Bolsa Pq/CNPq.
Associado ao Projeto Temático FAPESP (2017/25950-2).
“Vulnerabilidades de jovens às IST/HIV e à violência entre parceiros: avaliação de
intervenções psicossociais baseadas nos direitos humanos”.

MASCULINIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA: ONDE O PODER ENCOLHE, A


VIOLÊNCIA SE INSTALA
MASCULINITY IN PANDEMIC TIMES: WHERE POWER DECREASES, VIOLENCE INCREASES
Dherik Fraga Santos1 Rita de Cássia Duarte Lima2 Stephania Mendes Demarchi3 Jeanine
Pacheco Moreira Barbosa4 Marcos Vinicius da Silva Cordeiro5 Marcelo Eliseu Sipioni6 Maria
Angélica Carvalho Andrade7

RESUMO A emergência da pandemia causada pela COVID-19 reclama enfaticamente pensar


o estreitamento da relação homem-poder-violência e a ressignificação do lugar dos homens na
sustentação da vida reprodutiva, dos laços emocionais e do cuidado. Nesse contexto de
isolamento social, como importante estratégia contra a disseminação da doença, buscando
compreender o aumento de violência doméstica contra a mulher, o objetivo deste ensaio é refletir
sobre as relações homem-poder-violência a partir das concepções
1 Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-
graduação em Saúde Coletiva, Vitória, Espírito Santo. E-mail: dherik@msn.com; ORCID:
https://orcid.org/0000-0002- 9351-7185 - Lattes: http://lattes.cnpq.br/6430212957030088 2
Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-graduação
em Saúde Coletiva, Vitória, Espírito Santo. E-mail: ritacdl@gmail.com; ORCID:
https://orcid.org/0000-0002- 5931-398X - Lattes: http://lattes.cnpq.br/2384472795664270 3
Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-graduação
em Saúde Coletiva, Vitória, Espírito Santo. E-mail: stephaniamendes2008@hotmail.com; ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-2403-8842 - Lattes: http://lattes.cnpq.br/8912778148744941 4
Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-graduação
em Saúde Coletiva, Vitória, Espírito Santo. E-mail: jeaninepacheco@yahoo.com.br; ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-1024-4378 - Lattes: http://lattes.cnpq.br/2549903749170929 5
Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-graduação
em Saúde Coletiva, Vitória, Espírito Santo. E-mail: marcosvscordeiro@gmail.com; ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-8992-5514 - Lattes: http://lattes.cnpq.br/2323462352006932 6
Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-graduação
em Saúde Coletiva, Vitória, Espírito Santo. E-mail: mesipioni@yahoo.com.br; ORCID:
https://orcid.org/0000- 0003-1536-6374 – Lattes: http://lattes.cnpq.br/9872086695302119 7
Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Medicina
Social, Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Vitória, Espírito Santo. E-mail:
geliandrade@gmail.com; ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3690-6416 - Lattes:
http://lattes.cnpq.br/5427520110626795

de Hannah Arendt, problematizando o conceito normalizado de masculinidade hegemônica.


Ao longo deste ensaio, buscamos desconstruir a ideia de que existe um único modelo de
masculinidade hegemônica e que propõe uma dominação global dos homens sobre as mulheres,
uma vez que mulheres também apresentam aspectos de masculinidade, sendo uma construção
histórico-social, que se transforma continuamente. Assim, diante das reformas históricas de
gênero acrescidas da instabilidade provocada pela pandemia da COVID-19, observa-se o aumento
da violência domiciliar como efeito da diminuição do poder patriarcal, na tentativa de estabilizar o
modelo de masculinidade definido por esse poder patriarcal, ou tenta-se reconstituí-lo em novas
configurações. Frente a essa realidade, faz-se necessário, no âmbito da Saúde Coletiva, refletir
sobre a reformulação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem.
Palavras-chave: Pandemias; Masculinidade; Violência Doméstica; Violência contra a mulher;
Violência de gênero.

INTRODUÇÃO
“Os homens normais não sabem que tudo é possível”.
(Arendt) A pandemia causada pela COVID-19, nessa era da globalização, apresenta
considerável velocidade de propagação. Visto que, neste momento, a comunidade científica se
encontra em busca da cura, o distanciamento social ampliado (DSA), o isolamento social e o
bloqueio total (lockdown) se tornaram estratégias importantes para reduzir essa velocidade de
transmissão, desacelerar os casos de óbito, oportunizar mais tempo para melhores planos
terapêuticos e prevenir um colapso no sistema de saúde. Porém, essas mesmas medidas podem
trazer importantes impactos econômicos e sociais, como o aumento do desemprego e das
violências (BRASIL, 2020).
Dentre as violências, a violência contra a mulher emerge como uma consequência sombria
da pandemia pela COVID-19 e pode ser considerada um espelho para nossos valores e um desafio
para nossa resiliência e humanidade compartilhada (ONU BRASIL, 2020). Quando o vírus se
alastra entre países, acirram-se as desigualdades de gênero, raça, classe, geopolíticas e
econômicas, enquanto o caos e o medo revelam como a nossa sociedade se organiza e quais são
os seus principais problemas.
A recomendação de isolamento social para impedir a propagação da COVID-19 tem sido
associada ao aumento da violência contra as mulheres, especialmente a violência doméstica,
justificada pela preocupação com segurança, saúde e dinheiro (ONU BRASIL, 2020). Nesse
momento desafiador, o aumento da precariedade da situação de mulheres e a consequente
amplificação das suas vulnerabilidades revela a necessidade de responder às consequências
imediatas e de longo prazo da atual crise (ONU MULHERES, 2020).
Diante disso, não se pode contestar ou ignorar as estatísticas referentes ao envolvimento
dos homens com a violência doméstica. Porém, o grande desafio imposto é ultrapassar as
explicações fragmentadas sobre o fenômeno, centradas nos modelos hegemônicos de
masculinidade socialmente legitimados que naturalizam a violência como um atributo dos homens,
capaz de gerar relações humanas violentamente conflituosas nessa conjuntura de isolamento
social. É importante destacar que a masculinidade hegemônica encontra-se associada
principalmente a características negativas, que retratam os homens como não emocionais,
independentes, não cuidadores, agressivos e não passionais. Essas características são vistas como
causas de práticas tóxicas, incluindo a violência física e de comportamento criminal (CONNELL;
MESSERSCHMIDT, 2013).
Embora a masculinidade hegemônica seja normativa, é importante destacar que ela não se
assumiu frequente num sentido estatístico, uma vez que apenas uma minoria dos homens talvez a
adote. Entretanto, a partir do modelo estabelecido, a masculinidade hegemônica “incorpora a
forma mais honrada de ser um homem, ela exige que todos os outros homens se posicionem em
relação a ela e legitima ideologicamente a subordinação global das mulheres aos homens”
(CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013, p. 245).
Assim, afirma-se a masculinidade como uma configuração de práticas em torno da posição
dos homens na complexa estrutura das relações de gênero. Todavia, falar dessa configuração de
práticas significa colocar a ação em destaque, assumir que o que as pessoas fazem tem uma
racionalidade e um significado histórico. Contudo, isso não quer dizer que a prática seja
necessariamente racional, como a prática da violência (CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013).
Um tema central a ser discutido dentro do debate da violência é o questionamento da
existência de um masculino universal. Acredita-se que, da mesma forma que não se pode falar
sobre “uma mulher”, não é possível conceber como natural a identidade masculina.
Pelo contrário, é necessário desnaturalizar esse conceito enquanto uníssono e reconhecer
que a masculinidade não é essência, mas historicamente construída, devendo, portanto, ser
relativizada com relação às intersecções, tais como etnia, classe social, orientação sexual,
religiosidades, dentre outros, que apontam para a diversidade de comportamentos e experiências
masculinas ao longo da história (PRIORE, 2013). Nesse sentido, “o conceito de masculinidades,
com ênfase na pluralidade do termo, impulsionou o questionamento à noção de masculinidade
hegemônica, a qual incidia sobre a noção de homem, enquanto categoria naturalista e
essencialista” (BATISTA; LIMA, 2017, p. 176).
Outro importante aspecto a ser destacado é o entendimento de violência tratado neste
ensaio, definida como a dominação própria de relações humanas, marcadas pela ausência do
diálogo e pela instrumentalização do sujeito (ARENDT, 2008). A violência se instala onde o poder
se encolhe (ARENDT, 2009) e, nesses tempos de pandemia pela COVID- 19, esse conceito é
fundamental para buscar compreender a instrumentalização do sujeito, a fragilidade e a
aniquilação da fonte do poder legítimo – as interações humanas mais igualitárias – e a
consequente perda da condição humana, relacionadas à crescente violência doméstica. É
importante ressaltar que poder, em Hannah Arendt, relaciona-se à dimensão de legitimidade,
autoridade, significação, potência e constituição política, e deve ser compreendido como a
capacidade humana, não apenas para agir, mas também para agir em concerto, ou seja, o poder
é concebido como convivência, ação em conjunto (ARENDT, 2009).
A emergência da pandemia reclama enfaticamente pensar o estreitamento da relação
homem-poder-violência e a ressignificação do lugar dos homens na sustentação da vida
reprodutiva, dos laços emocionais e do cuidado. Além disso, em momentos de desmonte do
Estado, quando se vislumbra um cenário de instabilidade econômica, crise política e da saúde,
com a fragilização de políticas públicas para as minorias, a desproteção tem sido uma imposição
sistêmica, fazendo-se necessário refletir sobre as formas utilizadas para garantir proteção e
segurança nesses momentos de calamidade Nesse contexto de isolamento social, buscando
compreender o aumento de violência doméstica contra a mulher, o objetivo deste ensaio é
refletir sobre as relações homem- poder-violência a partir das concepções de Hannah Arendt,
problematizando o conceito normalizado de masculinidade hegemônica.
A PANDEMIA E A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER Mesmo que a quarentena seja a medida
mais segura, necessária e eficaz para reduzir os efeitos diretos da COVID-19, o regime de
isolamento também evidencia a fragilidade dos sistemas de saúde, desvelando repercussões
negativas para a vida de milhares de mulheres, que já viviam em situação de violência doméstica.
Sem lugar seguro, com a restrição da rede de apoio e proteção, elas estão permanecendo mais
tempo no próprio lar junto a seu agressor (FBSP, 2020). Nesse cenário, a chance do “agir em
comum acordo” na relação entre homens e mulheres pode falhar com maior frequência.
Embora haja uma queda no número de registros oficiais em boletins de ocorrência, a
chamada subnotificação, os números de feminicídios e homicídios femininos apresentam
crescimento, indicando que a violência doméstica e familiar está em ascensão, sendo necessária
urgência na implementação de novas estratégias de acesso das mulheres aos serviços de
enfrentamento à violência doméstica em diversos países (UN WOMEN, 2020).
No Brasil, um levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, evidencia que
o número de feminicídios no país cresceu 22,2% durante os meses de março e abril de 2020 em
relação ao mesmo período de 2019. Em São Paulo, o aumento dos feminicídios chegou a 46% na
comparação entre março de 2020 e março de 2019, tendo duplicado na primeira quinzena de
abril. No Acre, o crescimento foi de 300%, no Maranhão, a variação foi de 166,7%, e no Mato
Grosso o aumento foi de 150%. Apenas três estados registraram redução no número de
feminicídios: Espírito Santo (-50%), Rio de Janeiro (-55,6%) e Minas Gerais (-22,7%) (FBSP,
2020).
Somados a esses dados, os registros dos atendimentos de chamadas ao número de
emergências 190, feitos pela vítima ou vizinhos e pessoas próximas, apontam a mesma tendência,
indicando aumento dos atendimentos relativos à violência doméstica. No Acre, o aumento foi de
2% na comparação entre março de 2020 e março de 2019. Em São Paulo, o aumento chegou a
45% nas ocorrências registradas via 190. Uma pesquisa realizada em redes sociais mostrou um
aumento de 431% nos relatos de brigas entre vizinhos no Twitter entre fevereiro e abril de 2020,
reforçando a hipótese de que, embora as medidas de isolamento social sejam necessárias para a
contenção da pandemia de COVID-19, podem estar oportunizando o agravamento da violência
doméstica (FBSP, 2020).
Um importante aspecto a ser destacado nesse cenário no qual as pessoas estão restritas ao
ambiente domiciliar é que a pandemia não pode ser responsabilizada pelo aumento da violência
como causa direta, uma vez que o fenômeno da violência doméstica precisa ser historicizado e
possui relações imbricadas com outras perspectivas, como as relações de gênero e o patriarcado,
conceitos que não são estáticos, muito pelo contrário, sofrem transformações, gerando mudanças
nessas relações.
MASCULINIDADE HEGEMÔNICA: REFLEXÕES SOBRE A NORMALIZAÇÃO DO CONCEITO De
acordo com o senso comum, a violência contra a mulher é compreendida como um padrão ligado
à masculinidade hegemônica, seja como um efeito mecânico, no qual as agressões são as
consequências dessa masculinidade tóxica, por meio da busca da manutenção dessa dominação.
Com esse entendimento, a violência contra a mulher apareceria como um exercício disciplinar ou
como sinal de virilidade em sua máxima potência. Contudo, o conceito de masculinidade
hegemônica não pode ser pautado por uma prática contínua de dominação coletiva dos homens
sobre as mulheres, pois a violência e outras práticas tóxicas não são características essencialistas
de todas as masculinidades hegemônicas, uma vez que elas são plurais e se manifestam de
formas diferentes nos níveis local, regional e global (CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013).
As mudanças organizacionais geradas em resposta à pandemia da COVID-19 afetam
diretamente as estruturas de dominação interna e externa realizada pela masculinidade,
repercutindo nas formas de manifestação das masculinidades tóxicas nos seus níveis local,
regional e global. Ao passo de ter sido notado que a violência de gênero, uma das formas de
dominação dos homens às mulheres, aumentou mais que 45% em algumas regiões do Brasil
nesse período de isolamento social e diminuição de renda (FBSP, 2020), acompanhando a
tendência de aumento da violência contra a mulher observada em outros países que também
adotaram medidas semelhantes de combate ao coronavírus (UN WOMEN, 2020).
A masculinidade é definida como uma configuração de práticas projetadas sobre as
estruturas das relações de gênero. A sociedade (re)produz, historicamente relações de gênero
(CONNEL; MESSERSCHIMIDT, 2013) que em determinadas situações permitem a manutenção da
dominação coletiva dos homens sobre as mulheres, sendo definida como masculinidade
hegemônica. Não é incomum que em algumas ocasiões a masculinidade hegemônica seja
identificada como masculinidade tóxica.
A dominação dos homens e a subordinação das mulheres representam um processo
histórico, não um sistema auto reprodutor. A “dominação masculina” é aberta à contestação e
demanda um esforço considerável à sua manutenção. Há uma série de estudos que mostram as
táticas de manutenção da dominação através da exclusão das mulheres (CONNELL;
MESSERSCHIMIDT, 2013).
Com isso, é importante ressaltar que a masculinidade hegemônica se expressa de
diferentes maneiras. Na hegemonia interna ocorre a ascendência social de homens sobre outros
homens. Na hegemonia externa ocorre a dominação dos homens sobre as mulheres.
Tais diferenças devem ser observadas com cautela, pois devem ser consideradas as
múltiplas masculinidades e feminilidades e os papéis dinâmicos de suas relações. Somada a essas
formas de dominação, Connell e Messerschimidt (2013) afirma que a masculinidade hegemônica é
analisada em três níveis geográficos: local (construídas nas arenas da interação face a face das
famílias, organizações e comunidades imediatas), regional (construídas no âmbito da cultura ou
do Estado-nação) e global (construídas nas arenas transnacionais das políticas mundiais, da mídia
e do comércio transnacionais).
Na pandemia ocasionada pela Covid-19, na qual ocorrem mudanças relevantes que vão do
nível individual ao global, é implicada a manutenção da dinâmica desses níveis geográficos das
masculinidades.
Nesse sentido, a crise da pandemia deve ser compreendida como uma oportunidade de
desvelar a essência dos problemas relacionados à violência, que ficaram encobertos na máscara
dos preconceitos, como a ideia de que toda masculinidade é tóxica. Dessa forma, compreende-se
que a crise aumenta quando se responde a ela com preconceitos (juízos pré-formados) que
acabam por impedir que a realidade seja vista como uma oportunidade de reflexão (ARENDT,
2016).
Diante do exposto, o conceito de masculinidade hegemônica não pode ser compreendido
como uma característica inerente aos homens, sendo necessário abandonar esse caráter
essencialista, uma vez que mulheres também apresentam aspectos das masculinidades
hegemônicas. Nesse sentido, a masculinidade não é uma entidade fixa encarnada num corpo ou
nos traços de personalidade dos indivíduos masculinos, mas são configurações de práticas que
são realizadas na ação social e, dessa forma, as masculinidades podem ser postas em ato por
pessoas com corpos femininos (CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013).
Sendo assim, não se pode fazer uma análise simplista, que beira o preconceito, a partir do
pressuposto de que há uma dominação global dos homens sobre as mulheres, já que convivemos
com múltiplas masculinidades e diferentes formas de se relacionar com elas.
Seguindo essa ideia, não existe uma masculinidade única, universal. O que existem são
processos de produção de masculinidades sujeitadas construídas a partir de modelos
estabelecidos (CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013), inscritos em um contexto relacional
(BATISTA; LIMA, 2017).
O conceito de masculinidade hegemônica, neste ensaio, é compreendido como uma
pluralidade de masculinidades, hierarquizadas, que coexistem numa relação de subordinação por
parte de masculinidades não hegemônicas. Esses padrões múltiplos de masculinidade se
apresentam em diversos contextos, institucionais e culturais, evidenciando que algumas
masculinidades são socialmente mais centrais, sendo referências para outras, tornando-se
hegemônicas. Destaca-se que essa hegemonia não é obtida pela força, mas pelo consenso
cultural, pelos discursos dominantes e institucionalizados, acarretando a marginalização e a
deslegitimização das outras masculinidades.
Esse processo de hegemonia, que tem numerosas configurações, se dará por meio da
(re)construção de exemplos que têm autoridade e potência para produzir a imagem ideal de
masculinidade padrão e normativa, não necessitando estar presente na vida diária da maioria de
meninos e homens (CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013).
É importante ressaltar que o conceito de masculinidade hegemônica é uma construção
histórico-social, em constante transformação, gerando mudanças nas relações de gênero,
suscitando novas estratégias nas relações de poder, e resultando na redefinição das
masculinidades socialmente aceitas.
Assim, as masculinidades devem ser compreendidas nos aspectos das hierarquias de
gênero, como também nos níveis nos quais ela está inserida de modo global, regional ou local.
Destaca-se que o nível local é de grande interesse para este estudo, pois a construção, ou melhor,
a desconstrução das práticas tóxicas atribuídas à masculinidade hegemônica (Figura 1) encontra
grande potencial de transformação no nível local – a família, a escola, a casa – buscando
estranhar aquilo que foi naturalizado, sedimentado pelo senso comum e manifesto em forma de
preconceito (CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013).
Figura 1. Conceito de Masculinidade Hegemônica – Fonte: autores do texto (2020) A
partir do modelo de masculinidade hegemônica instituído e aceito, são construídas expectativas
sociais sobre o perfil dos homens, esperando que sejam provedores de suas famílias, sexualmente
dominantes, apresentem comportamentos que envolvam riscos, tenham dificuldades para
demonstrar ou discutir suas emoções ou procurar ajuda. Esse perfil está associado às maiores
taxas de vícios, suicídio, homicídio e acidentes de trânsito entre os homens, promovendo também
o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão, problemas cardíacos,
diabetes, dentre outras (PAHO, 2019).
Além de atingir a saúde dos homens, esse padrão de comportamento leva a desfechos
negativos também para crianças e mulheres, relacionando-se à violência interpessoal, às infecções
sexualmente transmissíveis, à paternidade ausente e à gravidez imposta (PAHO, 2019).
Nesse cenário, os riscos das masculinidades dominantes podem ser acentuados ao agregar
vulnerabilidades, às quais os homens são expostos, tais como: ser pobre, imigrante, jovem,
indígena ou afrodescendente, omissão de morbidades, mortalidade elevada, não ser heterossexual
e estar desempregado. Tais vulnerabilidades contribuem para que a socialização das
masculinidades dominantes esteja exposta a uma tríade de comportamentos de risco à saúde,
composta através da socialização do homem em relação a mulheres e crianças, em relação a
outros homens e em relação ao próprio homem (PAHO, 2019).
Mesmo a violência, pertencente ao grupo de causas externas, possuindo um impacto
expressivo na morbimortalidade do homem, é ainda um aspecto pouco explorado no debate em
torno da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), instituída em 2009
enquanto política de saúde que se atém à saúde do corpo social masculino, priorizando a faixa
etária dos 20 aos 59 anos. Embora os princípios e diretrizes da PNAISH sejam fundamentadas em
dados epidemiológicos e indiquem para os fatores de risco associados aos indicadores de
morbimortalidade, a política adotou como seu objeto principal o câncer de próstata. Desse modo,
questionar a saúde do homem e a questão social da violência é uma discussão necessária, ao
contextualizar as tensões existentes na constituição dessa política de saúde.
Os homens têm sido o grande ator ausente na formulação da PNAISH, de forma que nunca
foi fruto de reivindicações. Seguem distantes dos espaços de cuidados e das ações de saúde,
sobretudo, aquelas oferecidas no âmbito da Atenção Primária. Tal postura diverge da construção
da Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM), uma vez que tal política é fruto das
lutas e reivindicações das mulheres e movimentos feministas para que a mulher conquistasse
acesso integral a serviços de saúde, considerando suas especificidades e singularidades
(MARTINS; MALAMUT, 2013).
Após o levantamento das diferentes perspectivas às quais os homens são atravessados
durante a pandemia, a PNAISH parece não comportar essa demanda ao priorizar majoritariamente
suas ações a partir de dados epidemiológicos de morbimortalidade masculina, sem levar em
consideração que há comportamentos de risco nos homens, como as atitudes violentas, que
impactam as taxas de morbimortalidade também das mulheres. É necessário que a política amplie
a visão da saúde do homem para além de ações voltadas para o adoecimento do aparelho genital
e urológico. Nesse sentido, a PNAISH coloca os homens como atores coadjuvantes, tendo os
agravos e enfermidades como protagonistas dos processos de cuidado. Para ultrapassar essa
visão reducionista é preciso considerar, além dos aspectos biológicos, questões como os aspectos
psicológicos, políticos e sociais (SCHRAIBER; FIGUEIREDO, 2011).
É possível refletir que, a partir desses padrões estereotipados sobre masculinidade
hegemônica, que instituem a ideia de um homem autossuficiente, origina-se uma tensão entre a
saúde do homem e as políticas específicas (PNAISH), pois o homem que não zela pela sua saúde
por meio de atitudes de promoção e prevenção – disponibilizadas pelos serviços da Atenção
Primária à Saúde (APS) – passa a sobrecarregar os serviços de emergência, onerando a saúde
pública. Couto et al. (2010) salientam que nas representações dos profissionais de saúde da APS
os homens não são caracterizados como potenciais sujeitos de cuidado e os serviços desse nível
do sistema de saúde são substancialmente voltados a mulheres e crianças.
Diante do exposto, reitera-se que o uso do conceito de masculinidade hegemônica não é
reificador nem essencialista, nem equivale a um modelo de reprodução social. Nesse sentido, as
masculinidades precisam ser reconhecidas através das lutas sociais nas quais as masculinidades
subordinadas influenciam formas dominantes.
Finalmente, ressalta-se a ideia de masculinidades múltiplas, o conceito de hegemonia e a
ênfase na transformação e na dinâmica, enfatizando a interseccionalidade entre os níveis local,
regional e global, reconhecendo as contradições internas e as possibilidades de movimento em
direção à democracia de gênero (CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013).
Apesar disso, é importante salientar que a sociedade (re)produz, historicamente, relações
de gênero e que a masculinidade hegemônica é definida como uma configuração de práticas
projetadas sobre as estruturas das relações de gênero (CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013), o
que, em determinadas situações, pode permitir a manutenção da dominação dos homens sobre as
mulheres. Porém, é de se notar que o conceito de dominação não possui o mesmo significado de
poder. De acordo com Arendt (2009), poder refere-se ao agir em comum acordo. Nesse caso, as
práticas de dominação dos homens sobre as mulheres é uma resposta à perda do poder da
masculinidade em relação à feminilidade.
Esclarecidos os principais aspectos conceituais e a pertinência da abordagem, a seguir
analisaremos a relação homem-violência-poder através da lente teórica de Hannah Arendt.
HOMEM-VIOLÊNCIA-PODER EM HANNAH ARENDT A Organização Mundial da Saúde (OMS)
define a violência como o uso de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si
próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em
sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação (WHO, 1996). É
importante destacar a polissemia e complexidade do conceito de violência, que implicam em
vários elementos e posições teóricas.
A definição do conceito da OMS com base no uso de força ou poder exige questionarmos:
O homem age de forma violenta porque tem mais ou menos poder? De que poder estamos
falando? O que é o poder? Como e por que ele se manifesta? Dúvidas provenientes sobre esse
tema são pensadas desde primórdios da humanidade. Muitos estudiosos deram respostas
diferentes à questão do poder durante a nossa história. Entre eles, podemos destacar Maquiavel,
Hobbes, Foucault e Arendt (HERB, 2013).
Para Maquiavel, a ambição pelo poder é o principal desejo humano. O poder é algo da
natureza humana, que consiste em dominar o outro para não ser dominado (HERB, 2013;
MAQUIAVEL, 2010). Para Hobbes, o valor do indivíduo está em suas posses e no seu poder. O
poder é garantido através de um contrato social em que o súdito entrega o poder nas mãos do
soberano (HERB, 2013; HOBBES, 2003). Outro autor que se destaca nesse tema é Foucault
(1987). Para ele, o poder se manifesta nas relações e são praticadas em todos os níveis sociais,
contrapondo-se à ideia de que o poder é algo específico das relações do Estado e das altas
classes sociais. O poder é um ato que o indivíduo exerce e é acometido por ele nas relações
sociais (FOUCAULT, 1987). Dessa forma, entender o poder como uma força diluída das interações
sociais e sua ocorrência é comum em todos os setores da vida.
Chegando em Hannah Arendt, o poder é uma ação/um agir, mas um agir em comum
acordo. Para ela, o poder jamais é do indivíduo, mas entregue ao indivíduo por um grupo que lhe
permitiu atuar em seu nome. A partir do momento que este grupo se desfaz, o poder se desfaz
com ele. Arendt trabalha, ainda, quatros conceitos para entender melhor o poder: vigor, força,
autoridade e violência, sendo fenômenos distintos e diferentes entre si (ARENDT, 2009).
Para Arendt, confundimos poder com vigor, pois quando chamamos um homem de
“poderoso” usamos a palavra poder de forma alegórica. Aquilo que estamos narrando é o vigor,
que se trata de uma qualidade própria de um objeto ou pessoa e que se revela em relação a
outras coisas ou pessoas, mas que é independente deles. Já a autoridade tem como característica
o reconhecimento sem resistência por aqueles que são convocados a obedecer. A força, usada
popularmente como sinônimo de violência, é para Arendt, uma energia liberada através de
movimentos físicos e sociais e seria mais correto chamá-la de “força da natureza” ou “forças das
circunstâncias” (ARENDT, 2009).
O último conceito relevante sobre a ideia de poder e que iremos trabalhar mais
profundamente, é a violência. Para Arendt, violência possui um caráter instrumental. Por isso, há
sempre uma busca pela orientação e justificativa aos seus objetivos (ARENDT, 2009). A violência
é, tradicionalmente, o último e o mais vergonhoso recurso utilizado nas relações entre nações
e/ou na vida doméstica, sendo considerada um marco da tirania (ARENDT, 2016).
A violência pode servir para representar insatisfações, trazendo a atenção do público.
Algumas práticas violentas precisam do agir em conjunto, ou seja, de um acordo, já que o
homem isolado sem outros que o auxiliem não teria o poder necessário para fazer o uso da
violência de maneira eficaz. Apesar de ser comum encontrar violência e poder juntos, não se pode
concluir que autoridade, poder e violência sejam a mesma coisa. Isso só é possível se admitirmos
que poder é sinônimo de mando e obediência (ARENDT, 2009).
Para Arendt a violência é um fruto das relações humanas desiguais com fins de dominação
e o seu surgimento acontece quando o poder se desfaz. Neste ponto, é válido considerarmos que,
na nossa cultura, a dominação é um identificador da condição masculina e um requisito para a
sua socialização, relacionando o homem à violência (ALVES et al., 2012).
A masculinidade baseada na dominação, seja na relação entre homens e mulheres
(desigualdade de gênero) ou entre homens e homens (desigualdade multifatorial), afeta
sobremaneira os sujeitos considerados subordinados (CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013). Esse
padrão de masculinidade naturaliza a violência como algo inerente ao homem e como um
instrumento de confirmação do seu status quo, o que promove ações que colocam a sua vida em
risco e promove condutas autoritárias, sendo ambas geradoras de relações humanas violentas
(ALVES et al., 2012). Tal ideia de masculinidade serve de base para uma cultura patriarcal,
gerando um ambiente ofensivo para as mulheres e práticas violentas no ambiente domiciliar
(SILVA et al., 2020).
Além da luta contra o domínio do homem sobre a mulher, o movimento feminista
possibilitou às mulheres estarem à frente das causas femininas e de ocuparem a esfera pública,
colocando em pauta suas demandas agora no espaço em que se faz política..
Nesse deslocamento, as mulheres são inseridas em diversos setores da sociedade gerando
mudança nos papéis tradicionais de gênero, provocando um impacto no papel de provedor do
homem (SCHRAIBER; GOMES; COUTO, 2005).
Em virtude disso, rearranjam-se as relações de gênero e a perspectiva da perda de domínio
masculino, ferindo a figura do macho provedor, dado por um determinado modelo hegemônico de
masculinidade. Por sua vez, a insegurança em relação à saúde causada pela pandemia contesta o
estereótipo da invulnerabilidade masculina. Isso pode ser percebido pela manifestação de práticas
tóxicas, como violência doméstica, ou pela baixa adesão ao isolamento social por parte dos
homens, atitudes reforçadas por várias questões socioeconômicas e por práticas de algumas
masculinidades hegemônicas que alimentam esses comportamentos de risco.
Com estas e tantas outras mudanças sociais sobre papéis de gênero, o poder do homem é
questionado (BESKOW, 2020). É importante ressaltar que o conceito de poder em Hannah Arendt,
aqui utilizado, é entendido como dominação e o homem, na procura de garantir a sua posição de
dominador, de definir sua propriedade e de exteriorizar suas angústias, utiliza a violência como
um meio de tentar resolver os conflitos (ALVES et al, 2012). Lafer (2018), ao interpretar Arendt,
conclui que a incapacidade de agir em conjunto e a monopolização do poder é um convite à
violência, pois aqueles que perdem a capacidade de falar pelo outro, dificilmente abrem mão do
poder, que já está enfraquecendo, dando lugar ao domínio pela violência (Figura 2).
Figura 2. Relação homem x poder x violência - Fonte: autores do texto (2020) Nesse
sentido, podemos destacar, como causas do aumento da violência contra a mulher na pandemia,
a perda de contato socioafetivo da mulher, a condição financeira abalada, o uso do isolamento
como modo de controle da parceira, o aumento do uso de álcool, a diminuição do acesso das
mulheres a fontes de ajuda (MELO et al., 2020).
Dessas prováveis causas, chamamos a atenção para a alteração da condição econômica
dos homens no isolamento. Nesse período, muitos ficaram ou ficarão desempregados e podem
precisar do auxílio emergencial oferecido pelo Governo Federal, o que leva ao questionamento do
homem sobre o seu papel de provedor e líder, já que o Estado brasileiro reconhece a mulher
como provedora em lei específica (BRASIL, 2020).
Essa alteração do provimento financeiro associado ao isolamento significa a retirada
abrupta do homem da esfera pública, provocando o deslocamento das suas atividades.
Conforme Silva (2017), para Arendt, existem três atividades que se fazem presentes na
experiência do homem em sua condição social: o trabalho (labor), que consiste na manutenção da
vida; a obra, ou a atividade de produção ou fabricação; e a atividade de ação, que inclui a
atividade política e a vida pública. É nessa esfera que o sujeito desenvolve a defesa dos interesses
que são comuns a todos, e geralmente ocupada pelo homem.
Dessa forma, é nítido que a construção social com base na cultura patriarcal é um incentivo
ao controle de gênero pela violência, limitando a liberdade, a sexualidade e as atuações,
resultando dessa dominação patriarcal a violência contra a mulher (OLIVEIRA, 2020).
O modelo de masculinidade hegemônica, entendida como normativa, está cotidianamente
tornando o homem suscetível a conflitos internos e externos, diante da necessidade de se adaptar
à nova realidade, ao mesmo tempo em que luta pela manutenção da hegemonia e da dominação
sobre as feminilidades e outras masculinidades marginalizadas, chegando a fazer uso de práticas
tóxicas, como a violência em todas as suas manifestações (CONNELL; MESSERSCHIMIDT, 2013).
É importante ressaltar que as masculinidades marginalizadas coexistem com as hegemônicas e
que o homem caminha entre essas posições conforme enfrenta diferentes situações sociais.
É significativo ressaltar que esse homem, que é o agente causador da violência, não é um
monstro, mas uma pessoa igualmente normal às outras. Para Arendt (2003), um ser humano
normal é um sujeito comum que faz o que é esperado em relação às demandas sociais, que são
(re)produzidas pelas classes dominantes, na intenção de manter o modelo estabelecido.
É importante reforçar que nem todos os homens lutam pela dominação, ou que são maus,
ou que não devemos acreditar em dias melhores. Há fatores que permitem a mudança, como o
questionamento da masculinidade hegemônica. Ao questionarmos a masculinidade hegemônica
por meio do aumento da expressão de diversas formas de masculinidade possibilitamos uma
maneira de constituir o “ser homem” de forma mais humana e menos opressiva. Com isto, a
masculinidade vista como hegemônica sofre contestação, seja pela resistência das mulheres e/ou
dos próprios homens como portadores de masculinidades alternativas, o que facilita a
transformação das relações de gênero e da dominação masculina (CONNELL; MESSERSCHMIDT,
2013).
Essas masculinidades alternativas geram nos homens autores de violência de gênero uma
crise, vislumbrando a perda do seu lugar em mundo social. É uma crise de certezas, modelos,
padrões e estereótipos, que implica na mudança do paradigma de ser homem, sendo considerada
uma crise recente que implica transformação, mudanças, abertura, escuta e acolhimento e não
apenas julgamento e punição. A COVID-19 pode ser um potencializador para esse colapso, como
já mencionado.
Além de ser encarada como algo negativo, vale aqui ressaltar a definição de crise para
Arendt como uma situação inquietante que permite uma reflexão e que favorece a oportunidade
do pensamento e da análise crítica, assim “uma crise nos obriga a voltar às questões mesmas e
exige respostas novas ou velhas, mas, de qualquer modo, julgamentos diretos” (ARENDT, 2016,
p. 223).
Arendt nos direciona a pensar violência e poder além do senso comum, dos conhecimentos
mais vigentes e dos preconceitos (juízos pré-formados), já que esses dois conceitos são tratados
por estudiosos das mais diversas áreas e em outras correntes filosóficas, geralmente em
conjunção. Compreende-se, dessa forma, que alguns homens acabam por utilizar a violência que,
segundo Arendt (2009), é uma ação que pode indicar insatisfação, além de ser fruto das relações
humanas desiguais, com o objetivo de manter dominação. É importante ressaltar que, quando se
faz presente a violência, o poder se desfaz. Diante dessa diminuição do poder da relação entre
homem e mulher, e do aumento da violência, os ensinos de Arendt podem trazer a seguinte
elucidação: a nossa capacidade de natalidade, ou seja, de nos renovarmos enquanto sujeitos e/ou
como sociedade, em qualquer momento da existência. Há em nós a capacidade de natalidade que
consiste em colocarmos no mundo constantemente novos recém-chegados cujo agir não pode ser
previsto por aqueles que já estão no mundo (ARENDT, 2009).
CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste ensaio, buscamos desconstruir a ideia de que
existe um único modelo de masculinidade hegemônica e que propõe uma dominação global dos
homens sobre as mulheres, uma vez que mulheres também apresentam aspectos de
masculinidade. O conceito de masculinidade hegemônica não é reificador nem essencialista, nem
equivale a um modelo de masculinidade única e universal, devendo ser reconhecido como um
processo no qual as masculinidades subordinadas influenciam constantemente as formas
dominantes, e vice-versa, nos níveis locais, regionais e globais. As masculinidades se diferenciam
e se sobrepõem numa ação recíproca entre dinâmicas de gênero societais, dando origem a uma
hegemonia baseada no grau de variação de potência. Salienta-se que esse processo também se
aplica às feminilidades.
Para melhor compreender esse processo, elaborou-se uma imagem conceitual, na qual se
reforçou a ideia de masculinidades múltiplas, hierárquicas (a partir do conceito de hegemonia),
dinâmicas, com ênfase nas interseccionalidade, construídas no seio das relações de gênero. A
imagem busca destacar que o conceito de masculinidade hegemônica foi originalmente formulado
na relação com o conceito de feminilidade hegemônica, sendo, portanto, uma construção
histórico-social, que se transforma continuamente, gerando mudanças nas relações de gênero,
suscitando novas estratégias nas relações de poder, e resultando na redefinição das
masculinidades socialmente aceitas, bem como das feminilidades. Destaca-se que os padrões de
masculinidade são sempre definidos na relação com algum modelo de feminilidade socialmente
definido.
É importante ressaltar que o foco deste ensaio deu-se no “entre”, ou seja, numa relação
transversal entre as diversas categorias interseccionais, visto que esses processos são
responsáveis pelas constantes transformações que ocorrem nas relações de gênero e que se
materializam em suas práticas sociais.
Deve-se destacar, ainda, que a hegemonia não se dá pela sua representação estatística e
nem sempre se reduz a uma prática tóxica, apesar de, algumas vezes, ser sustentada pela força,
significando ascendência alcançada através da cultura, das instituições e da persuasão por meio
dos exemplos potentes. Nesse sentido, faz-se necessário ainda salientar que a masculinidade não
pode ser entendida como uma entidade fixa encarnada num corpo ou nos traços de personalidade
dos indivíduos masculinos. Ela deve ser entendida como prática social, podendo também ser posta
em ato por pessoas com corpos femininos. Por fim, faz-se necessário reconhecer, na
masculinidade hegemônica, as contradições internas e as possibilidades de movimento em direção
à democracia de gênero.
As práticas corporais também estão ligadas aos modelos de masculinidades e feminilidades
hegemônicos, que se materializam por meio da representação e uso dos corpos. Nesse aspecto,
os corpos participam na ação social ao produzir condutas sociais, entrelaçando-se aos contextos
sociais, como, por exemplo, o contexto da pandemia. Essas masculinidades e feminilidades
hegemônicas encorporadas são tanto objetos como agentes da prática social, em que as relações
de gênero são sempre consideradas arenas de tensão. Falar de uma configuração de prática
significa falar daquilo que as pessoas realmente fazem, não naquilo que é esperado ou imaginado,
como, por exemplo: a divisão sexual do trabalho no cuidado das crianças, no mercado de
trabalho, no provimento financeiro, nas tarefas domésticas, nas relações entre pais e filhos(as),
dentre outras. Essas masculinidades e feminilidades, que são vivenciadas pelo corpo, envolvem
relações de tensão, uma vez que estão constantemente se definindo numa relação dinâmica em
rede.
Historicamente, os esforços do movimento de mulheres em direção aos projetos de
mudanças vêm causando tensões nas relações de gênero, nos níveis locais, regionais e globais,
questionando continuamente um determinado padrão de masculinidade hegemônica, gerando
uma tensão entre a busca pela estabilização e restituição do poder patriarcal e o estabelecimento
de novas formas de relações de gênero e redefinição do modelo de masculinidade hegemônica.
A pandemia aumenta a arena de tensão nas relações de gênero, uma vez que as
masculinidades encorporadas encontram-se limitadas ao espaço privado, perdendo sua expressão
no espaço público, relacionado ao estabelecimento da sua reputação. Assim, diante das reformas
históricas de gênero acrescida da instabilidade provocada pela pandemia da COVID-19, observa-
se o aumento da violência domiciliar como efeito da diminuição do poder do homem. O poder que
consiste em falar por e do agir em comum acordo. Atribuído ainda ao deslocamento desse homem
da esfera pública e o questionamento da sua dominação na esfera privada. Buscando fornecer
uma solução a essas tensões, as práticas tóxicas e violentas aparecem na tentativa de estabilizar
o modelo de masculinidade definido pelo poder patriarcal, ou tenta-se reconstituí-lo em novas
configurações.
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WHO. World Health Organization. Global consultation on violence and health.Violence: a
public health priority. Geneva: WHO; 1996.
Contribuição dos autores: DF Santos e MAC Andrade foram responsáveis pela concepção e
desenvolvimento do estudo, análise de dados e redação do artigo. MVS Cordeiro e ME Sipioni
redação do artigo. JPM Barbosa, SM Demarchi e RCD Lima análise e interpretação dos dados.
Todos os autores participaram da revisão crítica do manuscrito e aprovaram a versão final.

Texto 1

ESG ou Sustentabilidade Empresarial?

Publicado por Notícia Sustentável – (Redação NS em 3 de dezembro de 2020). Por Marcus


Nakagawa*
Não sei se é a minha bolha nas redes sociais, mas muitos dos meus contatos estão
postando e escrevendo sobre este tal de ESG. Muitas empresas estão indo atrás deste termo e
meus alunos e alunas começam a se confundir com as várias siglas e conceitos. Será que isso tem
a ver com a sustentabilidade? É um outro tema que conversa com o Desenvolvimento
Sustentável? Já temos que ir atrás de um outro curso ou indicador? Bom, primeiro vamos explicar
que ESG é a sigla para Environmental, Social & Governance, o que traduzido daria ASG:
Ambiental, Social e Governança. Interessante que, se você coloca este termo nos buscadores
resulta em um monte de empresas da área financeira, fundos e bancos colocando a importância
das questões ambientais e sociais como riscos aos negócios. Este termo apareceu na publicação
Who Cares Wins, de 2004, do Pacto Global da ONU junto com o Banco Mundial. No último Fórum
Econômico Mundial, no começo do ano, as questões ambientais e a emergência climática eram os
principais tópicos de riscos apresentados em longo prazo. E, logo depois, aconteceu a pandemia,
que subtraiu valores da maior parte das empresas e governos devido à falta de cuidado com a
gestão dos animais silvestres e à governança global. Klaus Schwab, fundador em 1971 do evento
que tem o objetivo de discutir práticas de gestão global, colocou que as empresas precisam gerar
valor para os acionistas e, também, para os outros stakeholders ou públicos de relacionamento.
Vimos isso bastante em tempos de pandemia: empresas de bebidas fazendo álcool em gel,
empresas de roupas fazendo máscaras e muitas empresas e pessoas físicas no País fazendo
doações para as reais necessidades da população. A pergunta é se isso continuará na retomada
da crise pós pandemia!teste!Neste processo haverá muitos outros movimentos que impactarão
negativamente ou positivamente o entorno e as pessoas que estão em contato. E aí sim estamos
falando dos stakeholders, que podem oferecer riscos de um acidente no trabalho, de uma
poluição no ar ou rio, de um fornecedor que tem práticas não aderentes aos Direitos Humanos, ou
um funcionário que dá comissão para um político. Estes riscos ambientais e sociais precisam ser
medidos, avaliados, controlados e melhorados, para isso existem as políticas, os procedimentos,
as regras, os códigos de condutas, certificações e o compliance nas empresas. Para apoiar e
operacionalizar tudo isso temos as áreas de sustentabilidade, de qualidade, de saúde e segurança,
de meio ambiente, de auditoria, de ética e compliance, entre os vários nomes para estas áreas. E
tudo isso precisa ser “orquestrado” pelo C-level (a liderança empresarial) na governança desta
empresa. A forma que a empresa seguirá as “regras e leis” que ela colocou será fundamental para
a gestão inclusiva e sustentável. Mas tudo isso vale a pena também financeiramente? Sim! É isso
que fundos como o ISE da B3 que tem mostrado nestes 15 anos com uma rentabilidade maior do
que os fundos tradicionais. E mais do que isso, já tirou desta carteira de empresas com ESG várias
delas que, no meio do caminho, tiveram problemas ambientais, sociais e éticos, mesmo que
fossem muito representativas no âmbito total do fundo!teste!A empresa XP criou uma área
específica para este tipo de investimento e os bancos tradicionais possuem fundos éticos, sociais e
ambientais desde o começo desta década. O maior fundo de pensão do mundo, o Fundo de
Investimento em Pensão do Governo do Japão também anunciou, no meio da pandemia, que está
priorizando investimentos ESG e está utilizando indicadores e análises de riscos relacionadas às
mudanças climáticas e as oportunidades que este desafio possa criar. No começo do ano, a maior
gestora de recursos do mundo, a BlackRock também apresentou a importância que estava dando
para as questões de ESG. E agora no final de outubro a empresa junto com a XP lançaram o
BlackRock Global Impact, que é um fundo formado por empresas globais com produtos e serviços
pautados nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Ou seja, trabalhando
com empresas que, efetivamente, estão buscando as melhorias necessárias no planeta e para as
pessoas! teste! Mas, afinal, ESG é a mesma coisa então que sustentabilidade? Sim, a ideia é a
mesma. E muitos usam a mesma base de indicadores da área de sustentabilidade que estamos
discutindo, há mais de três décadas. Para corroborar ainda mais com esta semelhança entre os
termos, o diretor executivo da Rede Brasil do Pacto Global, Carlo Pereira, coloca que o ESG é um
olhar do setor financeiro sobre as questões de sustentabilidade, as quais discutimos ao longo
deste artigo. Quando o mercado financeiro tornar este termo um mainstream, ou seja, um padrão
para todas as empresas e negócios, e não somente algumas carteiras e fundos, o
desenvolvimento sustentável ganhará ainda mais força.

Texto 2
A ÉTICA E OS VALORES DO INDIVÍDUO

Maria da Glória Dantas de Araújo A ética faz parte da vida do ser humano, todos os
homens têm comportamentos diferenciados e únicos. A ética é um princípio que cada indivíduo
traz consigo desde a infância.
É um valor adquirido na sua relação familiar, e cotidiano de sua existência. Segundo
ARDUINI (2007, p.35) O ser humano é chamado a estruturar, desde cedo, o sentido de sua
personalidade.
A pessoa constrói-se através de fases, desde a fecundação genética até a ida ao tumulo.
(FROMM 1968, p.30).
O Homem não é uma folha de papel em branco em que a cultura pode escrever seu texto:
É uma entidade com sua carga própria de energia estruturada de determinadas formas, que, ao
ajustar-se, reage de maneira específica e verificável as condições exteriores.
Através dos valores, que são princípios morais, o homem adquire o comportamento ético,
que rege suas atitudes na sociedade em que vive. O comportamento ético conduz o homem a
fazer o que considerar importante em sua vida.
VÁSQUEZ (1984, p.69) define a moral assim: a moral é um sistema de normas, princípios e
valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre
estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social,
sejam acatadas livres e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira
mecânica, externa ou impessoal.
Cada pessoa possui valores individuais e intransferíveis. A consciência do certo ou errado e
suas próprias convicções, ideais, opiniões sobre as pessoas e bens materiais, que influenciam e
manifestam nos relacionamentos sociais.
Como não existe verdade absoluta, o que é certo para um, pode ser errado para o outro,
porque os valores são trazidos do berço, ou seja, são construídos na relação primeira da criança.
Na infância, os pais ensinam os primeiros passos e as primeiras palavras, e no decorrer da
existência vão evoluindo, adquirindo a maturidade que possibilita crescimento e desenvolvimento
da personalidade.
Os primeiros valores são aprendidos na relação familiar; amor, segurança e felicidade, ou
o contrário, depende da qualidade da relação.
Para DURANT (1965, p.94), [...] a família é a primeira unidade social em que os indivíduos
aprendem a lealdade e a obediência; e o desenvolvimento moral do indivíduo se resume em ir
ampliando a órbita dessa lealdade e dessa obediência até atingir as fronteiras da pátria. Mas logo
que deixa a terra firme do lar a juventude mergulha no redemoinho da concorrência e perde a
boa vontade cooperante, adquirida na família. E a idade madura, próspera, porém infeliz, muitas
vezes se volta para o velho lar com um suspiro de alívio - encontrando nele uma serena ilhota
comunística.
Independentemente do tipo de família que o indivíduo pertença, pobre, rica, branca, preta,
índio ou de outras etnias, condições financeira e religião, eles terão seus princípios morais e
crenças, transmitidas pelos pais ou seus representantes. E estes valores são transferidos para as
futuras gerações. A partir da infância, a caminho da maturidade, o indivíduo vai adquirindo novos
costumes que vão surgindo com a convivência social, escola, grupos de amigos e trabalho.
KANAANE (2008, p.97) destaca que O conjunto de indivíduos associados forma a base da
sociedade, fundamentada nos valores, normas e sistemas de comunicação. Inicialmente, pode-se
considerar que o pensamento social se caracteriza por representações individuais que
gradativamente vão constituir as representações sociais.
Dentro ou fora da família os princípios adquiridos na infância estarão sempre presentes na
relação do homem com o homem. O conjunto de normas regulamentadoras rege o
comportamento ético em sociedade e estarão entrelaçando e interligando educação, cultura,
tradição e cotidiano. O todo aprendido na infância forma um indivíduo que prima pela
honestidade, à humildade, a moral, o respeito ao próximo e as leis, ao meio ambiente, a
solidariedade. Para VÁZQUES (1984, p. 195) O indivíduo, enquanto ser social faz parte de diversos
grupos sociais. O primeiro ao qual pertence e cuja influência sente, sobretudo na primeira fase da
sua vida (infância e adolescência), é a família.
Portanto ser ético é ser responsável por suas atitudes, sempre procurando meios em que
possa contribuir para uma sociedade melhor, seja com as atitudes, sendo honesto em qualquer
situação e ter coragem de assumir os seus erros e decisões para com o próximo e a própria
natureza.
No entendimento de ARDUINI (2007, p.42), é hora de abraçar o sentido da ética em favor
da sociedade livre e fraterna. A ética é solida e não apenas uma forma transitória. A ética é paixão
que não se cansa, paixão que enxerga vasta formas de ética. Há um tecido consistente que
elabora múltiplas faces de ética. São éticas fertilizantes que não podem ser dispensadas.
Quando o indivíduo busca aprendizagem e conhecimentos, procuram ambientes em que
todos tenham o mesmo objetivo, como as escolas. Alguns podem encontrar mais dificuldades para
alcançar o que almejam. Outros possuem ou encontram mais oportunidades de crescimento.
As oportunidades variam de indivíduo para indivíduo e também a forma que cada pessoa
vê as oportunidades e ameaças no ambiente externo. Cada indivíduo de acordo com a sua
convivência familiar cria a sua capacidade para melhorar a sua realidade de vida. Alguns criam
possibilidades e alimentam esperanças de mudanças e descobrem melhores caminhos para um
futuro promissor. Outros transformam as dificuldades em possibilidades e mudam o rumo dos
seus destinos.
Uns analisam tudo o que lhes cercam, copiam o que é bom para o seu crescimento e
desprezam o que não lhes servem. Cada indivíduo tem uma forma de ver as oportunidades e de
saber aproveitá-las. Desta maturidade ele trará bons resultados ou não, vai depender do seu
modo de vida. Segundo FROMM (1968, p.119) O homem só tem um interesse verdadeiro e este é
o seu desenvolvimento total de suas potencialidades como ser humano.
A cultura é o diferencial dos povos. E a ética é relativa a cada cultura.
BONDER (2006, p.15) afirma que [...] quando pensamos na palavra "cultura", imaginamos
um sistema externo a nós que nos impõe regras e direcionamentos. No entanto, esse sistema
nasceu da própria experiência humana da existência. Poderíamos dizer que cada indivíduo
constrói sua pequena cultura individual por meio do processo de experiência e do histórico de seu
existir no mundo. [...] Em qualquer cultura, a ética é a reflexão do ser humano, sobre a sua ação,
e pode torná-lo mais sensível e sensato, consciente de suas práticas no seu espaço da sua vida. A
forma de ver o próximo, as ações solidárias, depende da experiência de vida individual. O
compromisso com a ética parte da consciência crítica de cada indivíduo que se torna sujeito.
Segundo ARDUINI (2007, p.50), ética é valor fundamental na vida humana. A ética existe
para valer e não para enganar a verdade. Onde há ser humano, deve sempre prevalecer o
respeito pessoal. [...] O equilíbrio de uma sociedade depende de três fatores: governo, família e
empresa.
Então o futuro das nações está nas mãos das pessoas. Porém muito há que se refletir,
porque: muito se diz que pouco se pode esperar do governo, que falta à ética aos políticos que
cada um elegeu para ser o representante da sociedade. Dizem também que a família está se
destruindo, perdendo os valores morais e culturais aprendidos por tradição e pela falta de respeito
aos pais.
Sendo as organizações o lugar em que as pessoas passam a maior parte do seu tempo, e
ali gastam os melhores anos de sua vida o que cabe a elas? O trabalho é uma necessidade da
vida.
É essencial para a sobrevivência e pode melhorar as condições de vida do homem, por
meio de treinamento as empresas podem torná-lo mais inteligentes e hábeis. As modificações
existentes no mundo do trabalho, através do desenvolvimento, conhecimentos e habilidades pode
melhorar a qualidade de vida, mas e a ética? Alguns autores dentro deste contexto relatam que a
ética é válida quando articulada com as pessoas, pois ética não é adorno nem passatempo, é
expressão da personalidade. A ética não é estranha ao ser humano, mas é componente da vida
antropológica. A ética suscita a maturação pessoal. (ARDUINI, 2007, p.45) O trabalho quer como
fonte de satisfação e realização, quer como fonte de sobrevivência, insere-se numa categoria mais
ampla que reflete, entre outros pontos, a dicotomia entre o prazer e a sobrevivência. O trabalho,
enquanto categoria de mediação das relações entre sujeitos de diferentes contextos e classes
sociais estabelece a dinâmica as relações de poder e autoridade presentes nas organizações e na
sociedade como um todo. (KANAANE, 2008, p.99).
A ética dá ao homem os seus valores morais. Cabendo ao mesmo a responsabilidade por
suas ações. Quanto às organizações para ser vista eticamente deve responder pelas atitudes
sociais, e o desenvolvimento individual de seus colaboradores.
O planeta agradece às atitudes de todos. As organizações pela responsabilidade social
implantando normas regulamentadoras e o indivíduo pela conscientização da conservação do
planeta em que habita.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARDUINI, Juvenal. Ética responsável e criativa. São Paulo:
Paulus, 2007. 132p.
BONDER, Nilton. Ter ou não ter, eis a questão! A sabedoria do consumo. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2006. 131p.
DURANT, Will. Filosofia da Vida. Tradução Monteiro Lobato. 13a edição, 1 volume – São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1965. 268p.
FROMM, Erich. Análise do Homem. Tradução Octavio Alves Velho. 6a edição – Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1969. 211p.
KANAANE, Roberto. Comportamento Humano nas Organizações: O Homem rumo ao Século
XXI. 2a. Ed. – 10. Reimpressão. - São Paulo: Atlas, 2008. 131p.
VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Tradução João Dell'Anna. 7a edição – Rio de Janeiro:
Editora Civilização Brasileira S.A, 1984. 267p.

Texto 3

Política não se discute! Será?

Levando em consideração que toda a nossa vida em sociedade é regida pela política, seria um
pouco estranho falar que esse assunto não nos interessa, não é mesmo? Principalmente quando o
cenário político do nosso país passa por uma das maiores crises de sua história, envolvendo
escândalos de corrupção, desvio de verba pública, fascismo, lavagem de dinheiro etc. Para quem
é estudante, é comum estar sempre em contato com informação sobre temas atuais e sobre
política brasileira, seja na preparação para o exame vestibular, para o Enem ou para algum
concurso público. Mas será que saber política é somente relevante para se dar bem em provas? E
é pensando em ajudá-lo nessa tomada de consciência e para despertar o seu senso de cidadania
que preparamos um texto que vai convencê-lo da real relevância em se atualizar sobre política
brasileira.

Seja um cidadão consciente de suas decisões Em seus estudos, ao se deparar com conteúdos
sobre política, procure ir além daquilo que é cobrado pelos editais no que se refere ao tópico
“atualidades”.

Entender quem está defendendo os nossos interesses, modificando a forma de vivermos por meio
de leis e gerindo os impostos que pagamos é também uma forma de estar preparado para nas
urnas, assim como na hora da sua prova, fazer a escolha certa. E, se você acha que ainda não
tem nada a ver com isso, basta saber que a construção de universidades públicas, os sistemas de
cotas, programas de assistência, como o ProUni, a liberação de verbas para a abertura de
concursos públicos e várias outras coisas do seu interesse passam pelas mãos de muitos políticos.

Pense que as escolhas de hoje refletirão no seu futuro para quem ainda é solteiro, mora com os
pais e apenas estuda, pensar em como se atualizar sobre como a política pode ter alguma
importância em sua vida pode não fazer muito sentido nesse momento. Mas imagine que, daqui a
alguns anos, você também constituirá uma família e terá as suas próprias responsabilidades.
Assim, ficará quase impossível não pensar em como as coisas seriam muito melhores se este ou
aquele governante pensasse diferente e agisse em prol dos interesses da maioria. Por isso, ao ter
a oportunidade de se atualizar sobre diversos assuntos que a política envolve, você será mais
capaz de desenvolver seu senso crítico, tornando-se apto a modificar a forma de enxergar os
fatos relevantes do seu país. E esse interesse certamente vai orientá-lo para as melhores escolhas
políticas na hora do voto.

Lembre-se que, apesar de tudo, existem bons políticos Parte da resistência que as pessoas têm ao
falar sobre política é a comparação instantânea que fazem com temas como corrupção e
desonestidade dos governantes que elegeram. Mas abster-se não vai fazer parar o que acontece
ao seu redor. Por isso, conhecer um pouco sobre política pode fazer com que conheçamos
também o seu lado bom ou, pelo menos, o lado correto das coisas que acontecem. Existem
muitas pessoas que dedicam suas vidas à política e fazemjus a esse importante cargo, e isso é o
que deve motivá-lo a não abandonar o jogo.

Saiba que política não é só coisa para gente mais velha Por mais que muitas pessoas pensem que
jovens só querem saber de diversão ou dos seus próprios problemas, a verdade é que a
participação estudantil em diversos temas da política atual tem sido cada vez mais visto nas
mídias sociais.

Como foi o caso das ocupações das escolas no final de 2015, em que, por não concordarem com
a reorganização do ensino proposto pela secretaria de educação do estado de São Paulo, milhares
de jovens acamparam em diversas escolas do estado para impedir essa decisão do governo.

Isso serve de exemplo para mostrar que estando antenado sobre o que vem acontecendo na
política, você certamente estará mais próximo de saber sobre temas de interesse geral e
particular, e terá condições de se posicionar e defender o que acha certo. Ficar em cima do muro
só permitirá que as outras pessoas façam o que melhor lhes convier e você não poderá reclamar
dos resultados depois.

Referências: https://www.unibh.br/blog/por-que-voce-precisa-se-atualizar-sobre-a- politica-


brasileira/
Texto 4

ACESSIBILIDADE, DEFICIÊNCIA E O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS: ENTENDA A


RELAÇÃO ENTRE ESTES FATORES

Por Larissa Milanezi, do Politize! Atualizado em 21 set 2020, 11h02 - Publicado em 21


set 2020, 07h00.

Todos são iguais perante a lei. Contra essa afirmação não há questionamentos, porém quando o
Estado simplesmente não oferece condições de acessibilidade àqueles que precisam, instaura-se
uma situação de vulnerabilidade.

Este texto tem como objetivo empoderar o cidadão que tem deficiência para que saiba quais são
os seus direitos, e exigir a atuação do Estado de modo a provê-los.

Dentre eles, é possível citar a garantia de uma vida digna e justa, por meio da facilitação e da
adoção de medidas empoderadoras aos cidadãos com deficiência, para que estes não se sintam
incapazes de realizar as suas atividades e, principalmente, para que façam parte das decisões de
acessibilidade das comunidades, uma vez que serão diretamente impactados por estas.

Vamos entender um pouco mais sobre acessibilidade? O QUE É DEFICIÊNCIA? A Organização


Mundial de Saúde criou em, 1980, um sistema de classificação de deficiências de modo a
desenvolver uma linguagem comum para a pesquisa e para a prática clínica.

Assim, segundo a Classificação Internacional de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens


(CIDID), deficiência é: “qualquer perda ou anormalidade relacionada à estrutura ou à função
psicológica, fisiológica ou anatômica”. Trata-se de exteriorização de sintoma.

É necessário pontuar que a compreensão sobre o tema vem se atualizando.

Existem várias compreensões atuais sobre o real significado da condição de deficiente.

Dentre elas, há a teoria que prega que não se trata de uma doença, mas sim entende-se a
deficiência como uma condição na qual há a falta de estrutura, bens ou de serviços, capazes de
garantir o bem-estar do indivíduo.

Ou seja, uma de suas classificações agora é feita a partir da falta de recursos disponíveis na
comunidade em que o indivíduo está inserido e não na sua condição em si.

Essa visão foi capaz de contribuir com a teoria de modelo social de deficiência elaborado por Paul
Hunt, a qual tem como premissa a compreensão da deficiência como algo social e não biológico,
como muitos propunham.
Assim, esse modelo foi capaz de subsidiar a luta da inclusão das pessoas com deficiência para que
estas pudessem de fato fazer parte da vida social das comunidades, vez que essas eram muitas
vezes oprimidas e rejeitadas por sua condição.

Foi compreendido, então, que o conceito estava intimamente atrelado à uma construção social, e
não à uma deficiência biológica, o que revolucionou a visão sobre o assunto.

QUANTAS PESSOAS TÊM DEFICIÊNCIA? Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, cerca
de 10% da população possui algum tipo de deficiência.

No Brasil, cerca de 45 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, o equivalente a 23,9%
da população geral, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Essa deficiência pode ser visual, auditiva, motora, mental ou intelectual.

Ainda segundo o censo do IBGE de 2010, a deficiência mais recorrente no Brasil é a visual
(18,6%), seguida da motora (7%), seguida da auditiva (5,10%), e, por fim, da deficiência mental
(1,40%).

ACESSIBILIDADE PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: O QUE PREVÊ A CONSTITUIÇÃO? A


Constituição de 1988 prevê a igualdade material entre todos, assim sendo, é de responsabilidade
do governo criar condições capazes de fazer com que as pessoas que enfrentam situações
desiguais consigam atingir os mesmos objetivos.

Para isso, o Estado se coloca como promotor dos direitos individuais e sociais, e faz isso por meio
de políticas públicas de inclusão das minorias e dos mais vulneráveis, seja por questões
financeiras, econômicas e sociais, ou, por limitações motoras ou emocionais.

Em Curitiba, por exemplo, diversos programas foram criados, dentre eles o programa Acesso, o
qual tem como objetivo oferecer transporte público (adaptado) para que as pessoas com
deficiência pudessem ter acesso a tratamento médico.

Além desse projeto, foram instalados outros como o “Inclusão mais bici”, que tem como objetivo
disponibilizar bicicletas aos deficientes visuais, para que estes também possam integrar
ativamente as atividades da comunidade.

Independentemente do tipo de vulnerabilidade, todos possuem direitos, e o dever do Estado é


garantir uma condição de vida digna a todos aqueles que aqui residem. Para isso, o Poder
Executivo é responsável pela formulação de políticas públicas e ações afirmativas.

Quando essas não conseguem atender à demanda ou quando estão sendo ineficientemente
empregadas, cabe ao judiciário realizar o papel de tentar, pela via judicial, fazer cumprir os
direitos dessas minorias.
Cabe ressaltar, nesse cenário, a importância do Judiciário em assegurar os direitos daqueles que
se encontram em situações mais vulneráveis.

Essa via alternativa só foi possível graças ao movimento de elaboração dos princípios
constitucionais, os quais passaram a ter um papel principal no debate econômico, social e político.

Isso porque, eles passaram a ser vistos como guias para que a sociedade pudesse alcançar os
seus valores fins, bem público e garantia do princípio da dignidade da pessoa humana.

COMO É POSSÍVEL CRIAR POLÍTICAS PÚBLICAS DE ACESSIBILIDADE PARA AS PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA? A deficiência sempre foi vista como tabu, contudo, é possível observar que
ultimamente essa ideia tem sido superada.

Como exemplo do avanço dessa visão, é possível citar a Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência (Nova York, EUA, 2007), ratificada pelo Brasil.

Esse documento adquiriu valor de emenda constitucional e possui grande importância no que diz
respeito à garantia dos direitos das pessoas com deficiência, pois consolida o entendimento de
naturalização do conceito de deficiência, superando a concepção ultrapassada de negação e
exclusão desses grupos da comunidade social, o que há agora, portanto, é a crença de ocupação
dos espaços públicos por todos os cidadãos, independente de suas limitações.

As políticas públicas são necessárias para garantir a efetivação de direitos e, essas só são
possíveis se iniciadas por pesquisas referentes às situações enfrentadas pelo grupo a quem se
destina a política, aos exemplos já implantados em outros países, ao contato direto com o grupo
afetado, para assim conhecer as suas demandas, necessidades e opiniões acerca do tema.

Assim, é por meio da participação popular e do comprometimento do poder público que é possível
implantar uma política pública de acessibilidade de qualidade.

Em suma, é direito da pessoa com deficiência de viver em um ambiente em que possa


desenvolver suas habilidades sem depender de terceiros, desenvolvendo sua autonomia e
independência.

E cabe ao Estado garantir esse bem-estar, principalmente por meio da formulação e implantação
de políticas públicas, formuladas não só pelo poder público, como também pela sociedade civil e
por aqueles que enfrentam as adversidades de viver em uma comunidade sem infraestrutura.

Apenas assim, por meio do diálogo contínuo com esses indivíduos, que o nosso país será, de fato,
inclusivo.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA MILANEZI, Larissa. Acessibilidade, deficiência e o papel das
políticas públicas: entenda a relação entre estes fatores. Guia do Estudante, Atualidades no
vestibular.

Editora Abril. 21 set. 2020. Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/blog/atualidades-


vestibular/acessibilidade- deficiencia-e-o-papel-das-politicas-publicas/. Acesso em: 12 fev. 2020.

Texto 5

Um caminho estratégico contra evasão escolar e fortalecimento da autoestima

Por: Juliana de Souza Mavoungou Yade1

"Gente, só é feliz

Quem realmente sabe, que a África não é um país. Esquece o que o livro diz, ele mente" (Mufete -
Emicida)2

No ano de 2015, o projeto “Semana Integrada de Combate ao Racismo” na cidade de Salvaterra –


Pará, chegou a quinta edição com o tema Da África para o mundo.

As aprendizagens que os (as) estudantes adquiriram no período de realização do projeto se


tornaram visíveis no processo de valorização da cultura africana e afro-brasileira, na elevação da
autoestima, que teve por consequência a queda na evasão escolar e o aumento do interesse pela
escola.

O projeto foi planejado e executado de forma a valorizar a interdisciplinaridade e teve por objetivo
despertar e sensibilizar o corpo docente, discente e a comunidade para os malefícios do racismo
estrutural de nossa sociedade.

Para isso, foram realizadas palestras, debates, exibições de vídeos documentários, apresentações
teatrais e musicais, sempre como instrumentos pedagógicos para tratar da temática história da
África e cultura afro-brasileira.

A culminância do projeto se deu com ampla participação da comunidade local e dos municípios
vizinhos, com a escolha da beleza negra nas modalidades feminina e masculina e com uma
caminhada pelo centro urbano da cidade para exercitar o direito de expressão e manifestação
política da comunidade escolar, iniciativa que chamou a

atenção da sociedade para a problemática do combate ao racismo. Na caminhada, os (as)


estudantes exibiram o material que produziram para que toda comunidade visse.
A unidade escolar Prof. Ademar Nunes de Vasconcelos recebe alunos de 16 comunidades
remanescentes de quilombos, e a ação dos (as) docentes é fundamental na luta contra o racismo
e a superação de estereótipos ligados _à população negra e quilombola.

Com a prática de revisitar as ações desencadeadas pelo projeto nos anos anteriores, os (as)
estudantes adquirem um novo olhar para a sua própria realidade. A novidade dessa edição do
projeto de 2015 foi a confecção de adinkras.

Os (as) estudantes fizeram atividades que trouxeram visibilidade aos (às) líderes negros (as) da
comunidade internacional, e elaboraram textos sobre a importância dessa prática da qual
participaram.

As atividades descritas possibilitaram ir além das atividades propostas no livro didático, pois nele,
nem sempre a histórias, memórias e valores civilizatórios da população afro-brasileira e africana
estão narradas de modo digno ou que ultrapasse os preconceitos já estabelecidos.

Superar as diversas formas de expressão do racismo7 é um desafio que foi posto em pauta na
vida dos (as) estudantes e docentes da escola Prof. Ademar Nunes de Vasconcelos. Olhar para
suas comunidades, valorizá-las e compreender que suas ações estão ligadas às tradições
quilombolas são os ganhos que se apresentam como

resultados do projeto. Com a autoestima fortalecida, os estudantes se apropriam da estética


negra, o que se evidenciou no jeito de arrumar os cabelos: “Os alunos passam a gostar de sua
pretitude e seu apetite pelo saber aumenta, principalmente pelas coisas de África”, afirma o
professor Vinícius.

Texto 6

QUAIS SÃO OS DESAFIOS DO HOME OFFICE E COMO VENCÊ-LOS? APRENDA AGORA!

O teletrabalho é um regime regulamentado pela Reforma Trabalhista e que ganhou mais espaço
devido à pandemia da COVID-19, tendo em vista a necessidade de isolamento social para reduzir
a transmissão da doença. Contudo, existem alguns desafios do home office que ficam em
evidência durante esse período.
Isso porque os profissionais enfrentam algumas dificuldades para trabalhar nessa modalidade, por
exemplo: ter um espaço para exercer as atividades, conseguir manter o foco e conciliar as tarefas
de casa e do trabalho sem problemas.

Quer saber como lidar com esses desafios do home office? Neste post, separamos as principais
dicas para se organizar e conseguir um bom desempenho trabalhando em casa. Continue a
leitura!

MONTE UM ESCRITÓRIO EM CASA

Ter um espaço específico para trabalhar em casa é muito importante para conseguir estabelecer
uma rotina e contar com condições mais adequadas. Não é preciso ter um cômodo exclusivo, mas
separe um espaço para colocar uma escrivaninha e uma cadeira confortáveis e armazenar os
materiais utilizados.

Para os momentos em que não for mais necessário manter o isolamento social, bibliotecas,
cafeterias, parques e espaços de coworking também podem ser utilizados para trabalhar. Aqui, é
preciso considerar os custos envolvidos e as distrações que podem surgir nesse tipo de ambiente.
Por outro lado, ele garante mais interações, ajudando a lidar com a sensação de solidão que o
home office pode causar.

CONTE COM EQUIPAMENTOS ADEQUADOS

Um dos desafios do home office é conseguir prestar um serviço de qualidade a distância. Assim,
os equipamentos utilizados exercem um papel fundamental, assim como a internet e outros itens
que sejam necessários para o trabalho.

De acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o custo em relação aos equipamentos
e aos serviços podem ser negociados livremente entre as partes. Então, é importante avaliar
todas as despesas e necessidades para acordar corretamente com o empregador.

Além disso, verifique se é preciso baixar algum software específico e faça as atualizações
necessárias. Existem diversas opções gratuitas que podem ser usadas para facilitar a rotina. No
entanto, tenha sempre atenção à origem dos softwares para não correr riscos.

ORGANIZE OS SEUS HORÁRIOS

Outro ponto importante é organizar os horários e seguir uma rotina. Em regra, as normas sobre o
controle de jornada não se aplicam ao teletrabalho, exceto nos casos em que as partes acordarem
de forma diversa. Contudo, essa flexibilidade pode se tornar um dos maiores desafios do home
office.
Sem uma jornada determinada, apenas com a lista de tarefas para cumprir, pode se tornar difícil
manter o foco por um período adequado. Muitas vezes, determinadas práticas, como dormir até
mais tarde, fazer vários intervalos longos e realizar atividades não relacionadas ao trabalho,
tornam-se comuns.

Por isso mesmo, monte uma rotina de trabalho ainda que a empresa não controle a jornada —
estabeleça horários para começar a trabalhar, para fazer intervalos e para encerrar as atividades
no dia. Isso não retirará a flexibilidade, já que você terá liberdade de organizar o seu cotidiano.

NÃO MISTURE AS ATIVIDADES DA CASA COM O TRABALHO

Estar o tempo todo em casa pode trazer algumas dificuldades para gerir as tarefas domésticas e
as do trabalho. A solução para isso é tentar manter uma rotina semelhante àquela que você tinha
quando era preciso comparecer à empresa, adequando apenas os horários, se for o caso.

Se isso não for possível devido às mudanças no trabalho de outros moradores ou, até mesmo, à
impossibilidade de contar com uma ajuda profissional para a limpeza, monte um cronograma.
Separe as atividades que devem ser feitas em casa e encaixe-as na sua rotina considerando os
horários vagos.

Sabendo o dia e a hora certa para se dedicar a cada tarefa, você evitará a ansiedade. Assim,
ficará mais fácil manter o foco nas atividades profissionais, sem deixar os cuidados domésticos de
lado.

CONVERSE COM OS OUTROS MORADORES

Apesar dos benefícios de estar em casa, proporcionando mais tempo para conviver com a família,
isso também é um dos desafios do home office. Muitas vezes, os outros moradores não
compreendem as responsabilidades do trabalho e a necessidade de se dedicar, mesmo fora das
dependências da empresa.

Como consequência, surgem conversas e distrações que atrapalham o cumprimento do contrato,


prejudicando o seu desempenho mensal. Para evitar problemas, tenha uma conversa sincera com
todos os moradores.

Explique como funciona o home office, a importância de cumprir o seu papel na empresa e como
serão os seus horários de trabalho. Solicite que, durante os períodos de dedicação, eles evitem
interromper as suas atividades. Para compensar, não se esqueça de reservar um tempo para dar
atenção a eles. Essa compreensão mútua ajudará a superar as dificuldades.
USE FERRAMENTAS PARA CONTROLAR A PRODUTIVIDADE

Para facilitar o controle do seu rendimento, você pode contar com aplicativos de produtividade.
Eles permitem criar e acompanhar o desenvolvimento de tarefas, registrar os períodos de trabalho
ou de descanso e verificar como está o seu desempenho.

Alguns aplicativos também ajudam a aplicar técnicas de concentração, permitindo que você crie
cronômetros com os períodos de foco intercalados com pequenos intervalos e acompanhe os seus
resultados diários.

TENHA HORÁRIOS DE DESCANSO E LAZER

Enquanto algumas pessoas sentem dificuldades em manter o foco, outras não conseguem ter
momentos de folga. Devido à flexibilidade, as atividades diárias se misturam, sem horários
definidos para trabalho ou descanso.

Essa falta de organização, muitas vezes, resulta em longas jornadas sem que se tire um tempo
para relaxar. Em outros casos, a falta de uma carga horária definida faz com que o profissional se
dedique por horas seguidas, sempre tentando concluir os projetos pendentes antes de fazer uma
pausa.

Como resultado, surge o problema de trabalho em excesso, que pode causar estresse e fadiga e
colaborar para o desenvolvimento de outros problemas de saúde. Portanto, ao organizar a sua
rotina, não se esqueça de ter horários bem definidos para lazer e descanso.

Seguindo essas dicas, você perceberá que é possível superar os desafios do home office e
aproveitar os benefícios que esse regime de trabalho proporciona, como mais comodidade no dia
a dia ao evitar deslocamentos, mais tempo com a família e aumento da qualidade de vida.

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