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DOI: 10.15517/ap.v36i133.45973
https://orcid.org/0000-0001-9415-0963 https://orcid.org/0000-0002-2878-309X
1
Curso de Psicologia, Faculdades Nova Esperança (FACENE/FAMENE), Brasil.
2,3
Departamento de Pós-graduação em Psicologia Social, Universidade Federal da Paraíba, Brasil.
1
tamyres.tomaz1@gmail.com 2
suianetavares1@gmail.com 3
silvapgn@gmail.com
Resumo. Objetivo. Analisar o papel das atitudes frente a convivência conjugal durante o período da quaren-
tena, como justificativa da relação entre as ideologias baseadas no tradicionalismo e a aceitação do abuso
psicológico em mulheres. Método. Esta pesquisa é do tipo transversal e foi realizada de forma online com 260
mulheres oriundas de diferentes regiões do Brasil. Resultado. Os resultados demonstraram efeitos positivos e
significativos (efeito indireto = .14; SE = .04; IC 95% .05; .22), sugerindo que as mulheres, que endossam mais
ideologias tradicionalistas, utilizam mais justificativas, por meio da quarentena, e aceitam mais o abuso psico-
lógico. Essa mesma relação ocorreu nas estratégias diretas e indiretas do abuso psicológico. Logo, este estudo
apresentou evidências preliminares acerca de um possível reforçador do abuso psicológico.
Palavras-chave. Abuso psicológico, COVID-19, tradicionalismo, quarentena, mulheres
Abstract. Objective. This online cross-sectional research aimed to analyze the role of attitudes towards conju-
gal coexistence, during the period of quarantine, as a justification of the relationship between ideologies based
on traditionalism and the acceptance of psychological abuse on women. Method. For this purpose, 260 women
from different regions of Brazil were studied. Results. The results showed positive and significant effects (medi-
ated effect = .14; SE = .04; 95% CI .05; .22), suggesting that women who endorse more traditionalist ideologies
use more justifications, through quarantine, and are more accepting of psychological abuse. This same rela-
tionship occurred in the direct and indirect strategies of psychological abuse. Therefore, this study presented
preliminary evidence about a possible reinforcer of psychological abuse.
Keywords. Psychological abuse, COVID-19, traditionalism, quarantine, women
Esta obra está bajo una licencia de Creative Commons Reconocimiento-NoComercial-SinObraDerivada 4.0 Internacional.
Abuso psicológico em mulheres durante a quarentena
Ou seja, as pessoas irão ocultar o preconceito ou justificador para o apoio a violência contra a mul-
atitudes preconceituosas com justificativas que le- her, isso porque a restrição desiguala a aplicação
gitimam a discriminação (Pereira & Vala, 2010) ou, de direitos entre homens e mulheres.
até mesmo, a violência (Paiva & Pereira, 2021). Esse Além desses elementos, a vitimização secundária
mecanismo não permite apenas que as pessoas também pode ser um justificador para legitimar o
discriminem, mas que se mostrem coerentes com que as pessoas pensam (Correia, 2003; Tavares et
a norma antipreconceito (Pereira & Vala, 2010). Em al., 2022), isso acontece quando elas culpabilizam
suma, verifica-se que a Social Dominance Orien- a vítima e minimizam a violência, ocorrendo tanto
tation, ou orientação para a dominância social, em países orientais (e. g., Japão) como ocidentais
prevê de forma eficiente o preconceito em relação (e. g. EUA; Reyes et al., 2016; Yamawaki et al., 2009).
a grupos estrategicamente desvalorizados e, con- Esses estudos mostram como os participantes jus-
sistentemente com as reivindicações da Social Do- tificam, por meio de atitudes xenófobas, racistas e
minance Theory, ou Teoria da Dominância Social, conservadorasa, comportamentos de intolerância
tal preconceito tem plausivelmente a função de e insatisfação com os grupos minoritários (Garai-
manter e justificar a hierarquia social, o domínio gordobil & Aliri, 2013). Cada elemento justificador
intergrupal e a opressão de grupos dominantes torna mais saliente o preconceito e discriminação
sobre grupos subordinados. contra minorias.
A TDJ sustenta a hipótese de que as justifi- Além disso, as próprias vítimas podem se auto
cações são um mediador entre o preconceito e a culpar ou culpar seu grupo pela sua desvantagem,
discriminação (Pereira et al., 2019; Pereira & Vala, com a necessidade de manter a justificação do sis-
2010). Essas justificações legitimam a discrimi- tema justo, legítimo e correto (Jost & Banaji, 1994;
nação de forma a manter intacto o autoconceito Jost & Kay, 2010). Elas internalizam os estereótipos
de não-preconceituoso (Pereira et al., 2019). Nossa e avaliações negativas de si mesmos, diminuindo a
hipótese central se baseia na perspectiva de que sua probabilidade de se rebelar contra o statu quo
as atitudes frente à convivência conjugal durante o imposto pela sociedade (Jost & Kay, 2010). Mes-
período da quarentena são mediadoras na relação mo as vítimas de violência podem legitimar esse
do tradicionalismo e o apoio ao abuso psicológico processo de aceitação do abuso psicológico por
em mulheres. Isso é, o período em que as pessoas simplesmente aceitarem a condição imposta pela
estão mais isoladas socialmente pode ser um ele- pandemia, que é a quarentena.
mento justificador para isentar o parceiro de seu Considerando o exposto, é neste cenário da
abuso psicológico e assim permanecer no relacio- pandemia de COVID-19, o presente estudo visa
namento abusivo. analisar o papel das atitudes frente à convivência
Diferentes estudos apresentam mediadores nas conjugal, no período da quarentena, como justi-
relações entre o preconceito com a discriminação ficativa da relação entre as atitudes tradicionais e
e, mais afundo, com a aviolência. Isto é, os media- a aceitação do abuso psicológico em mulheres.
dores são variáveis que possuem um efeito sobre Se deseja verificar se existe diferença na aceitação
as variáveis independentes e dependentes. Estu- quanto ao tipo de abuso psicológico (direto e in-
do de Lima-Nunes et al. (2013) demonstrou que a direto). Especificamente, pretende-se demonstrar
restrição da aplicação dos princípios de igualdade um dos legitimadores do abuso psicológico para
mediava a relação do preconceito e da discrimi- as vítimas de violência nos relacionamentos amo-
nação contra brasileiros que residiam em Portugal. rosos. Assim, argumenta-se que as mulheres com
Já Paiva e Pereira (2021) evidenciaram que a res- atitudes ideológicas voltadas para o tradicionalis-
trição do âmbito de justiça pode ser um elemento mo irão apoiar esse tipo de abuso nas relações
Actualidades en Psicología, 36(133), 2022.
conjugais e esse processo é explicado por meio do presente estudo. Os participantes indicaram a sua
período da quarentena. concordância com cada afirmação em uma escala
tipo Likert (1 = discordo totalmente; 5 = concordo
Método totalmente). Esta escala permitiu verificar a adesão
Participantes e apoio a valores morais tradicionais presentes nos
participantes antes do período da quarentena.
Participaram do estudo 260 mulheres com idades
entre 18 e 51 anos (M = 28.4; DP = 14.6). A maioria au- Medida de convivência conjugal durante
todeclaradas heterossexuais (92.9%) e que estão na- a quarentena
morando atualmente (61.5%). Também se autodeclara- Desenvolvida e validada pelo presente estudo,
ram de classe média baixa (44.2%), um pouco religiosas está composta por 7 itens: (a) nos primeiros dias
(29.6%) e de orientação política de esquerda (69.9%). de quarentena, passar muitas horas com o meu
Incluímos apenas mulheres que estavam em relaciona- parceiro(a) foi agradável; (b) gosto da quarentena,
mentos afetivos e excluímos aquelas que tinham idade porque me permitiu conhecer mais o meu parcei-
abaixo de 18 anos e as que se autodeclararam solteiras ro(a); (c) durante a quarentena, eu quis participar
sem nenhum relacionamento afetivo ou que não esta- mais da vida do meu parceiro(a); (d) durante a qua-
vam em cumprimento com o período de isolamento rentena, eu gostei de dividir as tarefas domésticas
social (n = 7). As participantes foram todas por con- com meu parceiro(a); (e) durante a quarentena, eu
veniência e não-probabilística, oriundas de diferentes e meu parceiro(a) nos unimos mais; (f) desejo que
Estados do Brasil, como: região Centro-Oeste, Sul, Su- a quarentena acabe, para que eu consiga ter mais
deste e Nordeste. Foi calculado a partir da calculadora privacidade longe do meu parceiro(a); e (g) desejo
Monte Carlo o teste do efeito indireto (N = 260) para que a quarentena acabe, para encontrar meu par-
modelos de mediação simples. Essa calculadora permi- ceiro apenas nas horas vagas. Os itens a, b, c, d, e
te uma simulação de análise do poder da amostra e o e foram invertidos para o sentido de mau convívio
teste de efeito indireto com um intervalo de confiança no período da quarentena. Esses itens foram anali-
(Schoemann et al., 2017). Para este estudo, o tamanho sados pelos software Factor.
da amostra fornece 80% de poder para detectar um Os resultados da análise fatorial demonstraram
tamanho médio de efeito de .99 para modelos de me- a existência de um fator com valor próprio 3.18, ex-
diação simples (Schoemann et al., 2017). plicando 57.78% do traço latente. Usando o estima-
Instrumentos dor WLSMV observamos uma estrutura unidimen-
sional com bons índices de ajuste: X2(21) = 191.93;
Escala Right-Wing Authoritarianism CFI = .92; GFI = .96; AGFI = .94; RMSEA = 0.10; NNFI
Desenvolvida por Altemeyer (1981), e reformula- = 191.93; as cargas fatoriais variaram entre .49 (item
da por Duckitt et al. (2010) e validada para o Brasil 6), e .81 (item 5); o coeficiente interno foi α = .84 e
(Vilanova et al., 2018). Essa medida possui diversos W = .84, isto é, estatisticamente satisfatório. Os par-
fatores como Autoritarismo, Contestação à auto- ticipantes indicaram a sua concordância com cada
ridade, Tradicionalismo e Submissão à autoridade. afirmação em uma escala tipo Likert (1 = discordo
O presente estudo focou no fator Tradicionalismo, totalmente; a 5 = concordo totalmente). Isso nos
pois essa subescala consegue se relacionar mais permitiu calcular um índice de quanto os partici-
com a temática dos valores endossados para a con- pantes possuem atitudes desfavoráveis à convivên-
vivência familiar, composto por 9 itens (e. g. não cia com o seu parceiro em tempo integral durante
há nada de errado com sexo antes do casamento). o período da quarentena.
Seu coeficiente interno demonstrou α = .93 para o
Para testar a hipótese de que as atitudes frente Figura 1. Mediação simples do abuso psicológico
a convivência conjugal durante o período da qua-
rentena mediaria a relação do Tradicionalismo e o Quarentena
Apoio ao abuso psicológico em mulheres realiza-
.50
*** **
*
.27
mos uma mediação simples. Na Figura 1, é possível
perceber que o Tradicionalismo continuou tendo Abusos
Tradicionalismo
um efeito direto, sendo marginalmente significativo (.25***) .11+ psicológicos
no Apoio ao abuso psicológico. Observou-se uma
mediação (Efeito indireto = .14; SE = .04; IC 95%
Figura 2. Mediação simples das
.05; .22) do convívio conjugal por tempo integral na
estratégias diretas do abuso psicológico
relação do tradicionalismo e abuso psicológico. Isto
é, quanto mais as mulheres são favoráveis ao tradi-
Quarentena
cionalismo nos relacionamentos e mais justificam o .55
** **
abuso psicológico durante a quarentena. .27
* *
Além disso, as disputas políticas no contexto da Esses resultados estão em consonância com a li-
COVID-19 revelaram atitudes menos igualitárias teratura sobre a Teoria da Discriminação Justificada
pautadas, principalmente, nas ideologias tradicio- (Pereira et al., 2019; Pereira & Vala, 2010), no qual
nalistas que se dividem nas posições extremistas podemos observar que as justificativas da convi-
de esquerda e direita. Este estudo reflete esta visão vência conjugal durante a quarentena servem para
que se pauta na ideologia tradicionalista e que ex- esconder o que talvez venha ocorrendo há anos
põe as mulheres a contextos de desigualdades de nos relacionamentos, mas que, apenas durante o
direitos nos relacionamentos amorosos. O fenô- período da pandemia, isso pode ser acentuado, de
meno abordado buscou responder se a relação forma a ser notado. A TDJ afirma que as pessoas
do tradicionalismo possui efeitos diretos no abuso camuflam o preconceito ou a discriminação, a fim
psicológico e se essa relação é mediada pela atitu- de não entrar em dissonância cognitiva com suas
de frente ao período de quarentena nas relações crenças de relacionamento ideal (Paiva & Pereira,
conjugais à luz da TDJ (Pereira et al., 2019; Perei- 2021). Além disso, pessoas que endossam o pen-
ra & Vala, 2010). Os resultados do presente estudo samento convencional tendem a aceitar a violência
demonstraram que as atitudes frente à convivência advinda de pessoas de grupos majoritários ou vis-
conjugal no período da quarentena é um processo tas como figuras de autoridade (Canto et al., 2020).
subjacente que explica as atitudes tradicionalistas Nessa linha, sabe-se que àquelas que apresentam
no apoio ao abuso psicológico em mulheres. Em uma disposição para a dominância social tendem
outras palavras, o tradicionalismo possui um efei- a recorrer a crenças ideológicas para legitimar o
to direto sobre o apoio ao abuso psicológico e as próprio comportamento discriminatório contra mi-
atitudes frente a quarentena funcionaram como o norias sociais (Pereira & Vala, 2010). Ademais, com-
papel mediador desta relação. preende-se que a legitimação da discriminação está
No que tange especificamente as atitudes tra- presente nas diferentes relações sociais, ocorrendo
dicionalistas no apoio ao abuso psicológico em quando um determinado grupo-alvo é protegido
mulheres, sabe-se que dão ênfase ao autoritaris- pela norma antipreconceito (Pereira & Souza, 2016).
mo, tendem a manter a hierarquia do grupo so- O atual estudo focou apenas no abuso psicoló-
cial e isto inclui as relações de gênero e que é uma gico, no entanto sabemos que as mulheres estão
característica de sociedades patriarcais mais con- susceptíveis a sofrer várias formas de violência e que
vencionais (Canto et al., 2020). Ademais, reforça-se existem diferentes fatores que podem legitimar a
que no presente estudo foi considerado o autori- violência contra a mulher (e. g. dependência emo-
tarismo, em sua vertente mais tradicionalista, que cional e financeira, pobreza, filhos, dentre outros;
é caracterizado pelo etnocentrismo. Pessoas que Cubbins & Vannoy, 2005; Day et al., 2003). Devido a
endossam tal atributo apresentam um pensamento isto, uma das batalhas da WHO (2020a) é evidenciar
convencional, além de uma tendência a agressão e expor todas as formas de abusos sofridos dentro
autoritária, ou seja, agressão a um grupo específico dos lares, principalmente porque, no contexto da
que é percebido minoritário (Yamawaki et al., 2022). pandemia atual, tivemos um aumento dos índices de
Desse modo, infere-se que mulheres com níveis casos de violência contra as mulheres, além de ter-
mais elevados de tradicionalismo têm uma maior mos, também, aumentado os índices de feminicídio
probabilidade de justificarem o abuso durante esse em todos os estados brasileiros (Fórum Brasileiro de
período pandêmico. Isso reforça a premissa de que Segurança Pública [FBSP], 2020).
argumentos normativos tendem a ser utilizados Os achados dessa pesquisa revelam que o tradi-
para legitimar ações discriminatórias que legitimam cionalismo tem efeito direto nas estratégias indiretas
a desigualdade (Pereira & Souza, 2016). do abuso psicológico (como tentar afastar a mulher
Actualidades en Psicología, 36(133), 2022.
dos membros da minha família ou dar várias adver- A segunda limitação refere-se ao fato do estudo
tências para se comportar da forma como o parceiro ser de cunho correlacional, e não de cunho expe-
quer (Paiva et al., 2020; Porrúa-García et al., 2016), mas rimental (Schoemann et al., 2017), o que pode dar
não com as estratégias diretas do abuso psicológico, margem para uma nova testagem estatística de um
como tratar a mulher como se fosse um objeto ou modelo alternativo mudando as ordens das variá-
diminuir as iniciativas e consequentemente diminuir veis para verificação de efeitos mediadores. Neste
a autoestima (Paiva et al., 2020; Porrúa-García et al., sentido, pesquisas poderão replicar nosso modelo
2016). Uma explicação para isso deriva do contexto e compará-los a outros alternativos. A terceira limi-
da pandemia, que favorece o distanciamento social tação é que focamos apenas no abuso psicológico,
e, com isso, os agressores não precisam justificar seus outros estudos poderão ser realizados para prever
atos. Jones et al. (2005) denominou esse tipo de ação o tradicionalismo no apoio a outras formas de abu-
como supervisão do comportamento e isolamento. so sofrido dentro dos lares, como o físico, o sexual,
Assim, também as mulheres que endossam es- o patrimonial e o moral. Além disso, nossa amostra
ses valores normativos, principalmente o “mito do foi composta em sua maioria por mulheres hete-
casamento perfeito” ou o casamento como ápice rossexuais, carecendo de outros estudos com uma
de uma realização afetiva, aceitam mais as estra- amostra mais diversificada, uma vez que as mino-
tégias indiretas do abuso psicológico. Quanto às rias sexuais também são alvos de violência (Gillum
estratégias diretas, as mulheres precisaram justificar & DiFulvio, 2012). Nossa quarta limitação foi não ter
por meio do período da quarentena que os abu- questões sobre número de filhos, nível de escola-
sos psicológicos são consequências de uma con- ridade e região específica da qual a participante é
vivência integral. Dito de outra forma, elas preci- proveniente. Desse modo, torna-se necessário um
saram de um elemento justificador (Pereira et al., novo estudo especificando essas variáveis importan-
2019; Pereira & Vala, 2010) que diminua o peso do tes para traçar o perfil da amostra brasileira.
valor convencional da autoridade que, neste caso, Este estudo examinou a predição do tradiciona-
é o marido, o namorado ou o companheiro, para lismo nos relacionamentos conjugais mediado pela
legitimar que sofrem com os abusos que afetam a quarentena. Esta pesquisa contribui para aprofun-
cognição, as emoções e o comportamento delas dar os estudos do fenômeno da violência contra
(Rodríguez-Carballeira et al., 2014). a mulher, propondo que o período de quarente-
Apesar do presente estudo ter cumprido com na seja utilizado como justificativa para o apoio ao
os objetivos e hipóteses propostas, este não está abuso psicológico. O período da quarentena é um
isento de limitações. Primeiramente, embora nos- dos justificadores que mascaram o sofrimento que
sa amostra tenha sido constituída majoritariamente essas vítimas vêm tendo durante toda a vida.
por mulheres de esquerda no fator tradicionalis- Ressaltamos que o período da quarentena é ne-
mo, não examinamos se existem diferenças, como cessário para evitar a difusão da COVID-19. Porém,
sugere Vilanova et al. (2018), de que as posições nem todas as mulheres possuem um bom supor-
políticas de pessoas de esquerda e direita são ne- te familiar para permanecerem dentro de casa por
cessárias para se avaliar o quanto as pessoas po- muito tempo e quanto maior o poder patriarcal,
dem não aceitar o autoritarismo, conservadorismo maior será a perpetuação e aceitação da violência
e tradicionalismo (Vilanova et al., 2018). Logo, para contra a mulher (Ali & Naylor, 2013). Sugerimos que
se examinar seria necessária uma equiparação da estudos futuros possam abordar outros tipos de
amostra em mulheres de esquerda e direita. De violência que estão presentes nesse período, bem
toda forma, são necessárias mais pesquisas para como analisar os recursos financeiros, afetivos e fa-
avaliar como isso ocorre. miliares que essas mulheres têm.
Actualidades en Psicología, 36(133), 2022.
Além disso, é necessário também avaliar os re- Correia, I. F. (2003). Concertos e Desconcertos na
cursos tecnológicos que as mulheres têm para po- Procura de um Mundo Concerto: Crença
der efetuar as denúncias. Esperamos que este arti- no Mundo Justo, Inocência da Vitória e
go possa ser usado por pesquisadores, profissionais Vitimização Secundária. FCG / FCT
e formuladores de políticas públicas, de modo a
Cubbins, L. A., & Vannoy, D. (2005). Socioeconomic
elucidar as questões que contribuem para explicar
resources, gender traditionalism, and wife
o fenômeno da violência contra mulheres, alertan-
abuse in urban Russian couples. Journal of
do sobre um tradicionalismo enraizado pela nos-
Marriage and Family, 67(1), 37-52. https://
sa cultura que pode levar a uma tendência para a
doi.org/10.1111/j.0022-2445.2005.00004.x
aceitação da violência contra a mulher. Além disso,
temos a finalidade de ajudar a informar e promover Day, V. P., Telles, L. E. B., Zoratto, P. H., Azambuja,
ações que colaborem para diminuir o abuso psico- M. R. F., Machado, D. A., Silveira, M. B. et al.
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