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A ADOLESCÊNCIA E SEU

SIGNIFICADO EVOLUTIVO
Professor: Me. Anderson Alencar
ADOLESCÊNCIA COMO
FENÔMENO RECENTE
Por adolescência costumamos entender a etapa que se estende, grosso modo,
desde os 12 ou 13 anos até aproximadamente os 20 anos de idade. É uma etapa de
transição em que já não se é criança, mas ainda não se tem o status de adulto. É o que
Erikson (1968) denominou de uma “moratória social”, um compasso de espera que a
sociedade oferece a seus membros jovens enquanto eles se preparam para exercer o
papel de adultos.
No entanto, a adolescência, tal qual a conhecemos no ocidente no começo do século
XXI, é, até certo ponto, um produto do século XX. Muitos meninos e meninas ocidentais aos
quais consideramos adolescentes podem caracterizar-se por ainda estarem no sistema escolar
ou em algum outro contexto de aprendizagem profissional ou na busca de um emprego estável;
por ainda estarem dependendo de seus pais e vivendo com eles; por estarem realizando a
transição de um sistema de apego em grande parte centrado na família, passando por um
sistema de apego centrado no grupo de iguais, a um sistema de apego centrado em uma pessoa
de outro sexo; por se sentirem membros de uma cultura de idade (a cultura adolescente) que se
caracteriza por ter suas próprias modas e hábitos, seu próprio estilo de vida, seus próprios
valores; por terem preocupações e inquietações que já não são da infância, mas que ainda não
coincidem com as dos adultos.
Durante séculos, até o final do século XIX, as crianças se incorporavam ao
mundo do trabalho em algum momento entre os sete anos e o começo da puberdade.
Poucas eram as que estudavam, poucas as que o faziam acima dos 10 ou 12 anos, e
aquelas que o faziam geralmente não estavam agrupadas em níveis de idade
diferenciados, nem permaneciam muito tempo no sistema educacional. Não existia
uma cultura adolescente, nem a adolescência era percebida como um estágio particular
do desenvolvimento.
No que diz respeito ao ocidente, o final do século XIX marca um ponto de ruptura
com a situação que acabamos de descrever, pois a revolução industrial muda muitas coisas e o
faz de maneira muito notável. Com a industrialização, a formação e os estudos passaram a ser
importantes. Ainda que os filhos de operários tenham continuado a se incorporar ao mundo do
trabalho em idades muito precoces, os filhos das classes médias e altas permaneceram nas
escolas, que aumentaram em número, desenvolveram programas específicos e mais complexos
e se tornaram mais exigentes.
No final, os filhos de operários também foram unindo-se a esse estilo de vida, quando,
segundo avançava o século, foi se introduzindo nos diversos países ocidentais o conceito de
escolaridade obrigatória, que foi se prolongando até chegar na atualidade, na maioria dos
países europeus, aos 16 anos.
Em nossa cultura ocidental, a incorporação dos adolescentes ao status adulto
sofreu um atraso notável, formando como consequência um grupo novo que, conforme
foi mostrado, desenvolve também seus próprios hábitos e maneiras e que se depara
com problemas peculiares.
As coisas ocorreram de outra maneira, conforme vimos, em outros momentos
históricos de nossa cultura, e ainda continuam sendo de outra maneira em outras
culturas muito diferentes da nossa, nas quais a incorporação ao status adulto ocorre em
uma idade precoce, implicando formar uma família, ter responsabilidades adultas,
comportar-se como adultos, etc.
Em sociedades menos desenvolvidas (e muito mais claramente em sociedades
primitivas), existe uma série de rituais associados às mudanças físicas da puberdade. Depois de
passar por esses rituais (às vezes com um período de isolamento de alguns dias ou de algumas
semanas, nas quais se aproveita para ensinar aos novos adultos as tradições do grupo, técnicas
de caça, etc.), o indivíduo sai transformado em um adulto. Aqui não se pode falar de
adolescência no mesmo sentido que utilizamos a palavra em nossa cultura, pois, como se pode
ver, nesses povos não há nenhum cumprimento do que mais acima qualificamos como sinais
de identidade de nossos adolescentes: continuar no sistema escolar, ficar sob a dependência
dos pais, formando um grupo à parte identificável como tal, etc.
É necessário fazer uma distinção entre dois termos que têm um significado e
um alcance muito diferente: puberdade e adolescência.
• Chamamos de puberdade ao conjunto de mudanças físicas que ao longo da segunda
década de vida transformam o corpo infantil em um corpo adulto capacitado para a
reprodução.
• Chamamos de adolescência a um período psicossociológico que se prolonga por
vários anos mais e se caracteriza pela transição entre a infância e a idade adulta.
Obviamente, a puberdade é um fenômeno universal para todos os membros de
nossa espécie, como fato biológico que é e como o momento de maior importância em
nosso calendário maturativo comum. A adolescência, por sua vez, é um fato
psicossociológico não necessariamente universal e que não necessariamente adota em
todas as culturas o mesmo padrão de características que adota na nossa, em que
também houve uma importante variação histórica que, ao longo de nosso século, foi
configurando a adolescência que conhecemos.
TEORIAS SOBRE A ADOLESCÊNCIA
No terreno psicológico, foi o americano Stanley Hall o pioneiro no estudo da
adolescência, ao publicar, em 1904, sua obra Adolescence. Para ele, a adolescência
representava um momento crítico no desenvolvimento humano por corresponder ao
momento da evolução da espécie humana que supunha a passagem da selvageria para
o mundo civilizado. Essa sobreposição da adolescência entre a infância e a idade
adulta tingiria esse período de tensões e sofrimentos psicológicos, devido aos conflitos
entre os impulsos do adolescente e as demandas feitas pela sociedade.
Os autores de orientação psicanalítica também contribuíram para difundir essa
imagem conflituosa da adolescência. Para Sigmund Freud, esse período supunha o término do
estágio de latência e o ressurgimento dos impulsos sexuais após a puberdade, com o que o
desenvolvimento psicossexual alcançava sua meta final: a fase da sexualidade genital. O
adolescente experimentava um retorno do Complexo de Édipo que deveria superar
distanciando-se emocionalmente de seus pais e voltando-se para seus iguais, entre os quais
escolheria um objeto sexual aceito socialmente. Para Freud, a infância iria assumir todo o
protagonismo no que se refere à formação do caráter adulto; e mesmo o tipo de relações
românticas estabelecidas pelos jovens estaria determinado pelas formas como o menino e a
menina tivessem resolvido o complexo de Édipo ou de Electra, por isso a adolescência
assumia um papel claramente secundário.
Anna estudou com maior profundidade esse período evolutivo, dando-lhe mais
importância ao considerar que muitos dos desajustes na personalidade adulta estavam
relacionados a acontecimentos da adolescência.
Para Anna Freud, o aumento dos impulsos sexuais como consequência da maturação da
puberdade faria com que os mecanismos de defesa utilizados pelo eu se mostrassem
insuficientes, por isso seriam necessários mecanismos adicionais que seriam exclusivos dessa
etapa. Um desses mecanismos é a intelectualização, que é uma consequência das novas
capacidades cognitivas adquiridas pelos adolescentes e que consiste nos frequentes
pensamentos e reflexões filosóficas sobre certos temas que podem ser conflituosos para o
adolescente, como as relações de casal ou a homossexualidade.
Peter Blos é um autor psicanalítico que estudou detalhadamente o
desenvolvimento adolescente, prestando atenção nas diferenças entre meninos e
meninas. Se durante a infância precoce ocorria um processo de individuação do
lactante com relação aos seus progenitores, segundo Blos, durante a adolescência
ocorre um segundo processo de individuação que leva ao distanciamento emocional
em relação aos pais e à aproximação aos iguais, primeiro mediante as relações de
amizade, e posteriormente nas relações de casal. Para Blos, essa desvinculação afetiva
deixa no adolescente um certo vazio emocional
Erik Erikson considera a adolescência um período fundamental no
desenvolvimento do eu, já que as mudanças físicas, psíquicas e sociais levarão o
adolescente a uma crise de identidade cuja resolução contribuirá para a consolidação
da personalidade adulta.
Se a perspectiva que todos os enfoques comentados oferecem sobre a adolescência
vem marcada pelos conflitos e pelas dificuldades, esse não é, no entanto, o único ponto de
vista existente. Um importante contraste oferece o enfoque da antropologia cultural. Já faz
muitos anos que a antropóloga Margaret Mead realizou observações em Samoa, na Oceania
(Mead, 1928). Estudou ali o fenômeno da adolescência, chegando à conclusão de que os
adolescentes de Samoa que passam pelas mudanças fisiológicas que levam da infância à
maturidade não apresentam nenhum tipo de tensão especial, de turbulências ou de
dificuldades. Ao contrário, parece que na Samoa que Mead observou, tudo contribuía para uma
transição fácil e sem problemas, de forma que a adolescência era uma época da vida agradável
e feliz.
Também distanciada de uma visão marcada por tensões e conflitos está a descrição piagentiana
do desenvolvimento intelectual durante a adolescência (Inhelder e Piaget, 1955). Enfatiza o acesso dos
adolescentes a uma nova forma de enfrentar cognitivamente as diversas tarefas e conteúdos que lhes são
propostos; a novidade agora será uma crescente capacidade para pensar de maneira abstrata, sem a
dependência do concreto que se observava nas etapas anteriores; é uma orientação para a reflexão mais
abstrata, para a consideração de diversas hipóteses alternativas diante de uma mesma situação ou
problema, assim como de uma capacidade também crescente para pôr a prova essas hipóteses,
contrastando-as com a realidade e vendo quais delas confirmam os fatos e quais não. Se aos dois anos
ocorre – segundo a descrição piagetiana – a passagem do prático para o simbólico, com a chegada da
adolescência irá ocorrer a passagem da reflexão ligada ao aqui e agora própria dos anos anteriores para
uma reflexão mais abstrata, mais afastada do concreto, mais teórica. Com essas novas possibilidades que
são abertas pelo seu progresso intelectual, os adolescentes serão capazes de enfrentar não só os novos e
cada vez mais complexos e abstratos conteúdos acadêmicos (nos quais as realidades concretas já são
substituídas por proposições abstratas do tipo x, y, z), mas também a reflexão sobre eles mesmos, sua
realidade passada, seus planos de futuro, etc.
Mais recentemente, o psicólogo John C. Coleman (1980) realizou uma ampla revisão
da literatura empírica existente sobre a adolescência, chegando à conclusão de que os dados
disponíveis não permitiam manter a ideia da adolescência como uma época caracterizada pelo
estresse e pelas tensões.
Colemam chega à conclusão, reunida em sua teoria focal, de que embora se possa
dizer que durante esses anos os adolescentes tenham de enfrentar novos papéis, compromissos
e conflitos, as dificuldades não costumam apresentar-se de forma simultânea, mas
sequencialmente, de forma que vão sendo enfrentadas em diferentes momentos. Assim, as
tensões resultantes da necessidade que os adolescentes têm de responder às novas demandas e
de assumir os novos papéis raramente ocorrerão em um mesmo momento.
Nenhuma das teorias existentes oferece uma explicação definitiva do desenvolvimento
durante esse período, ainda que em cada uma delas possamos encontrar alguma contribuição
que nos ajuda a compreendê-la melhor. Apesar disso, atualmente é difícil manter uma ideia
generalizada da adolescência como tempestade e ímpeto.
AS MUDANÇAS FÍSICAS
DA PUBERDADE E SUAS
CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS

Salvo nos órgãos sexuais, os corpos infantis dos meninos e das meninas são
fundamentalmente iguais. No final dos processos de mudança que ocorrem na puberdade, os
corpos masculino e feminino se diferenciarão claramente, tanto no que se refere às
características sexuais primárias (órgãos reprodutores) quanto às características sexuais
secundárias (por exemplo, pêlo facial, mudança de voz e alargamento dos ombros nos
meninos; crescimento dos seios e alargamento dos quadris nas meninas). O processo de
transformação física é colocado em andamento por vários mecanismos hormonais que
desencadeiam um longo processo de mudanças que, conforme veremos a seguir, apresenta um
padrão diferente para os meninos e para as meninas.
Esses mecanismos hormonais se iniciam devido à atividade do hipotálamo, que envia sinais
para a hipófise ou glândula pituitária para que esta comece a secretar importantes quantidades de
hormônios gonadotróficos (ou gonadotrofinas). Esses hormônios estimularão o desenvolvimento das
gônadas sexuais (ovários, na mulher, e os testículos, no homem) que começarão a produzir hormônios
sexuais, cuja presença no sangue aumentará em relação aos níveis que existiam nos anos anteriores.
Este alto nível de hormônios sexuais, sobretudo a testosterona nos meninos e a progesterona e os
estrógenos nas meninas, será o responsável pelas mudanças físicas
Rutter (1989) assinalou que existem várias razões que justificam a
importância do momento evolutivo em que se iniciam as mudanças da
puberdade. Por um lado, porque o nível de desenvolvimento geral do organismo
será diferente, o que pode condicionar também a repercussão de alguns dos
efeitos biológicos. Por outro lado, também será diferente o nível de maturidade
psicológica, o que vai determinar a atitude do adolescente e sua reação diante
dessas mudanças. Por último, também poderíamos destacar o fato ressaltado por
Neugarten (1979) de que os acontecimentos que ocorrem em um momento
esperado ou normativo geram menos estresse e dificuldades do que aqueles que
se antecipam ou atrasam em relação ao calendário previsto.
Os dados da pesquisa evolutiva mostram de forma clara que a puberdade precoce pode
ser mais negativa para as meninas do que para os meninos, e que as adolescentes que
amadurecem precocemente mostram-se menos satisfeitas com seu corpo, têm uma pior
imagem sobre si mesmas e sofrem mais estados emocionais negativos e mais transtornos de
alimentação.
Devido ao seu aspecto físico mais maduro, relacionam-se com meninos e meninas
mais velhos, que podem pressioná-las para que se envolvam nesse tipo de atividades. No
entanto, o ponto crucial não é tanto o momento em que ocorre a maturidade, mas a constelação
de variáveis nesse momento evolutivo.
Caspi e Moffit (1991) que mostrou que a precocidade afetava de forma muito negativa
as meninas que haviam mostrado problemas anteriormente, enquanto as mais equilibradas e
seguras podiam, inclusive, beneficiar-se com achegada precoce da primeira menstruação.
No caso dos meninos, a situação é um pouco diferente, posto que a maturidade
precoce costuma ser bem recebida por aquele a quem afeta, ao diferenciá-lo dos demais por
sua força, sua capacidade atlética ou sua superioridade física, aspectos muito valorizados pelos
adolescentes do sexo masculino.
Quanto à puberdade tardia, a situação se inverte, pois são os meninos que têm mais
problemas com essa situação. O fato de que a maioria das meninas amadureça antes do que os
meninos, supõe que a menina que chega à puberdade um pouco depois que as demais vai fazê-
lo na mesma idade que os meninos médios, por isso terá mais tempo para se preparar para as
mudanças, sem que se veja excessivamente atrasada. Em compensação, os meninos que
amadurecem de forma tardia vão se encontrar em uma situação de desvantagem, já que serão
os menores e mais fracos e raramente se transformarão em líderes do grupo, sendo pouco
populares.
A ADOLESCÊNCIA COMO
TRANSIÇÃO EVOLUTIVA
Baseado em tudo o que foi dito, é evidente que as mudanças físicas que a puberdade
traz consigo supõem uma descontinuidade em relação à infância. Mas essas não serão as
únicas mudanças que os adolescentes terão de enfrentar em sua passagem pela adolescência, já
que, no contexto que os rodeia, surgirão importantes modificações. Todas essas mudanças
internas e externas, que guardam uma estreita relação entre si, farão desse período uma
importante transição evolutiva de muito interesse para o estudo dos processos de mudança e
continuidade no desenvolvimento humano; uma transição entre a maturidade física, social e
sexual da infância e a maturidade física, social e sexual da idade adulta.
Enquanto algumas transições se devem essencialmente a mudanças contextuais
(pensemos, por exemplo, na aposentadoria), a adolescência se inicia fundamentalmente na raiz
das mudanças biológicas que ocorrem no organismo. No entanto, essas mudanças físicas estão
estreitamente relacionadas com as mudanças psicológicas e contextuais que o adolescente
experimenta, de forma que não se pode entender bem essa transição sem analisar as complexas
interações entre os níveis biológico, psicológico e sociocultural. O que está em
desenvolvimento é um complexo sistema integrado por vários níveis ou componentes
vinculados entre si, de forma que qualquer mudança em um nível pode provocar alterações nos
demais
David Elkind (1978,1985) assinalou que a capacidade do adolescente para pensar
sobre seus próprios pensamentos e sobre o pensamento dos demais irá levá-lo a um certo
egocentrismo de características diferentes daquelas apresentadas pela criança pré-operatória,
um egocentrismo que muitas vezes tornará difícil a diferenciação entre seus próprios
pensamentos e os de outra pessoa. Uma consequência desse egocentrismo seria o que Elkind
denomina audiência imaginária, que se refere a uma excessiva autoconsciência, que o leva a
pensar que outras pessoas estão tão interessadas em suas preocupações e seus comportamentos
como ele mesmo.
Embora muitas das mudanças da adolescência ocorram nos primeiros anos, o final da
adolescência e o início da vida adulta precoce também estão associadas a importantes tarefas
evolutivas, como terminar os estudos, procurar trabalho ou iniciar uma vida independente, que
supõem uma importante transição evolutiva, ainda que nesse caso as mudanças tenham um
caráter mais social do que biológico.
Caspi e Silva(1995) descobriram que os estilos temperamentais mostrados antes dos
seis anos podiam prever, de forma confiável, muitas das características da personalidade final
da adolescência. E estabilidade, porque, embora muitos desses traços ou características mudem
de forma clara no nível intra-individual, o fato de que muitos adolescentes experimentem
mudanças parecidas pode manter as diferenças interindividuais praticamente inalteradas.
Os estudos longitudinais de Costa e McCrae (1989) evidenciam que os traços centrais
da personalidade, como a introversão, o temperamento ou a abertura a novas experiências,
permanecem muito estáveis durante a adolescência; por isso, é muito provável que os meninos
que são tímidos aos12 anos continuem sendo aos 22.
ADOLESCENTES E JOVENS
NO INÍCIO DO SÉCULO XXI
Durante os últimos anos, os adolescentes com idades compreendidas entre os 12 e os
21 anos representaram uma proporção muita alta da população espanhola, alcançando como
grupo uma importante repercussão social. As mudanças demográficas associadas à transição
para a democracia e a melhora na situação econômica espanhola fizeram aumentar de forma
importante o número de nascimentos, por isso,15 anos depois, essas crianças nascidas na
década de 1970 e pertencentes a nossa geração do baby-boom estavam entrando em plena
adolescência
Para esses adolescentes, a circunstância de realizar a transição para a idade adulta
fazendo parte de uma geração tão numerosa marcou, sem dúvida, sua adolescência. Viveram
em famílias numerosas, estudaram em classes massificadas, enfrentaram mais dificuldades
para encontrar trabalho, para se tornar independentes de seus pais e para formar uma família.
Talvez, todos esses fatores tenham contribuído para incorporar competitividade e estresse às
dificuldades próprias dessa etapa de vida, rodeando-a de mais obstáculos. No entanto, a
tendência de crescimento demográfico começou a se inverter na década de 1980, e os
adolescentes espanhóis são e serão cada vez menos; por isso, em poucos anos representarão
um bem escasso que a sociedade deverá cuidar com muito carinho.
Hoje, o período de formação aumentou de forma clara, o que supõe um atraso
importante da idade de início da vida profissional e matrimonial. A principal fonte de
ocupação dos adolescentes entre 15 e 20 anos é estudar (67%), embora, em alguns casos,
compatibilizem esses estudos com algum tipo de trabalho remunerado (10%), por isso não é de
se estranhar que uma grande maioria deles dependa economicamente de seus pais (83% dos
que têm entre 15 e 17 anos, e 62% de 18 a 20 anos) e que permaneçam na casa paterna até
estar bem estabelecida a idade adulta (Martín e Velarde, 1996). Esses dados evidenciam
claramente a importância do contexto histórico em que ocorre a transição para a idade adulta
para se entender melhor muitos dos processos psicológicos que ocorrem durante esses anos.

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