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Neurociência: entenda como funciona o cérebro

do adolescente
Acreditava-se, até algumas décadas atrás, que o desenvolvimento do cérebro era concluído no fim da infância. No entanto, sabe-se hoje, que o

processo de desenvolvimento do cérebro humano vai até os 25 anos aproximadamente.

Afinal, como funciona o cérebro do adolescente?


Desta forma, o período da adolescência é de extrema importância na reorganização neural e nas mudanças que afetam drasticamente a formação de

nossa identidade. Mas que partes do cérebro estão envolvidas nas mudanças enfrentadas na adolescência? Duas áreas merecem um estudo mais

detalhado: o sistema límbico e o córtex pré-frontal.

O sistema límbico é a estrutura mais importante para a memória (hipocampo) e está próximo à amígdala, uma estrutura que ajuda a produzir emoções.

Essa relação anatômica garante que as experiências carregadas de emoção sejam mais facilmente lembradas que os eventos neutros.

Já o córtex pré-frontal, última camada do cérebro a amadurecer, é a área responsável pelo pensamento crítico, tomada de decisão, autocontrole,

planejamento, atenção, organização, controle de emoção, de riscos e impulsos, automonitorização, empatia e resolução de problemas.

Na adolescência, como o córtex pré-frontal ainda está em desenvolvimento, os jovens fazem uso da amígdala para tomar decisões e resolver

problemas. Vale lembrar que a amígdala está associada a emoções, impulsos, agressividade e comportamento instintivo.  

Para completar esse caleidoscópio de emoções, o cérebro adolescente contém níveis mais baixos de serotonina e dopamina, neurotransmissores que

proporcionam a sensação de prazer e bem-estar. Isso pode gerar o aumento da agressão, juntamente com níveis mais altos de testosterona,

contribuindo para explosões de raiva e comportamento impulsivo. Os lobos frontais do cérebro, por sua vez, não estão totalmente desenvolvidos

nesses anos, o que limita a função cerebral na resolução de problemas, na regulação emocional e no foco.

Os estudos de neurociência nos ajudam a responder algumas perguntas que fazemos ao lidarmos com adolescentes. Listamos algumas dessas

indagações:

Por que a organização não é uma prioridade para a maioria dos adolescentes?
O fato é que a organização exige um alto nível de controle cognitivo e a maneira como o cérebro adolescente está conectado, tendo pouco acesso aos

lobos frontais, dificulta o processo de planejamento. Levado pelas emoções, via sistema límbico, o adolescente busca novas aventuras, não tendo foco

na organização.

Por que os adolescentes não se desgrudam dos seus celulares, nem mesmo na hora das refeições ou durante as aulas?

O cérebro adolescente está constantemente buscando estímulos e por ainda não terem pleno acesso ao córtex pré-frontal, não conseguem enviar para

si mesmos as mensagens de “chega por hoje”, “preciso me concentrar”, “preciso prestar mais atenção à aula”. Sendo assim, ainda precisam da ajuda

de pessoas mais experientes para lhes mostrar comportamentos que sejam mais produtivos.

Por que muitas vezes nos sentimos cada vez mais distantes dos adolescentes? Por que eles não falam conosco adequadamente?

A adolescência é uma era de autodescoberta e busca por novidades, então, é natural que eles comecem a cortar laços. Como funciona o cérebro do

adolescente?, você pode se perguntar. Bem, os adolescentes precisam se tornar independentes, mas vivemos em um mundo muito complexo, e

nenhuma outra geração na história teve tanta exposição aos inputs que surgem quando estão online. Desta forma, nós, pais e professores precisamos

estar vigilantes e permanecer conectados a eles.

Que problemas mentais são manifestados na adolescência?


Transtorno de ansiedade e depressão são comuns nessa fase. O transtorno bipolar e a esquizofrenia geralmente surgem no final da adolescência e

início dos 20 anos, visto que precisamos dos lobos frontais para manifestar tais distúrbios.

Adolescentes que se isolam socialmente, ganham ou perdem muito peso e param de cuidar de si mesmos, precisam de uma atenção especial da

família e da escola. Ironicamente, nesta idade, se eles têm uma doença mental emergente, nem todos os seus pares estão equipados para serem

compreensivos como os adultos, já que muitos não têm empatia, sintoma mais associado ao córtex pré-frontal.
Muitas pessoas pensam que a capacidade para o desempenho acadêmico é definida desde muito cedo, porém isso pode mudar de forma dramática

durante a adolescência.

A maneira como o adolescente vê o mundo é consequência de um cérebro que está em plena transformação, que segue um cronograma. Tais

mudanças os levam a ter mais autoconsciência, a estarem dispostos a correr mais riscos e assumir comportamentos motivados pelos colegas.

Um ponto importante que pais e professores precisam considerar é que o comportamento do adolescente não é simplesmente o resultado de decisões

ou atitudes, é o produto de uma fase de mudanças neurais intensas e inevitáveis. Justamente isso justifica um pouco como funciona o cérebro do

adolescente, cabendo, portanto, estarmos cientes desse processo e auxiliar os adolescentes a atravessar essa onda de emoções de forma saudável e

construtiva.

Bioenergética e o adolescente

Psicanálise

Segundo Freud (1924), o complexo de Édipo é o fenômeno central do período sexual da primeira
infância. É no desenrolar deste complexo que se definem as escolhas de objeto sexual e o
posicionamento em relação ao seu próprio sexo a partir dos modelos que estão disponíveis para
identificação. Os meninos tomam o pai como modelo e as meninas percebem na mãe seu modelo;
cada um deles se enamorando do progenitor do sexo oposto. De acordo com isso, a vida sexual
infantil atinge seu ápice, o que é demonstrado na investigação dos órgãos genitais; a qual foi
denominada fase fálica. As crianças na fase fálica estão com toda a atenção voltada a questão da
sexualidade, das diferenças anatômicas entre os sexos e da origem da vida. No final do complexo de
Édipo, que acontece por volta dos 5 anos de idade, ocorre a formação da uma instância psíquica que
é responsável pelos julgamentos éticos e morais, assim como pelos ideais de beleza, sucesso, etc. –
esta instância foi chamada de superego. O superego é formado após o abandono de investimento de
energia da criança aos pais que culmina numa internalização das figuras parentais. Também se
desenvolverá na criança, no final do Complexo de Édipo, uma instância denominada ideal de eu.
Esta instância define a posição da criança sobre sua sexualidade e sua forma de prazer – definindo
como ela irá escolher as maneiras de buscar satisfação em todos os sentidos, incluindo o sexual.
Após a dissolução do Complexo de Édipo a criança deixa de sentir toda a excitação sexual em seu
corpo e volta-se ao seu desenvolvimento social e cognitivo no chamado período de latência. Este
período de calmaria do corpo é interrompido pelo advento da puberdade, na qual a excitação sexual
ressurge com força total e são retomadas as resoluções edipianas (superego e ideal de ego). No texto
“Romances Familiares” (1906) Freud considera que o progresso da sociedade está na diferença
entre as gerações, pois estas mudanças de hábitos e formas de posicionamento é que fazem o
engrandecimento de cada geração. Isso implica para o filho uma modificação fundamental de
posição afetiva em relação aos pais, que até então, eram a autoridade única e fonte de todos os
conhecimentos. 1 Nas famílias monoparentais as questões se repetem com outras configurações.

Dois fatores contribuem para que os pais percam esse lugar central na vida das crianças: o fato da
criança conhecer outros adultos que também são pais e a própria rivalidade sexual. Há, portanto, um
afastamento do adolescente de seus pais. É neste período que ocorrem fantasias, por exemplo, de ter
sido adotado por seus pais e ser, na realidade, filho de uma família muito rica e abastada. Essa
fantasia tem como “fundo” o desejo de abandonar os pais, que decresceram em sua estima. Há uma
espécie de agressão aos pais nestas fantasias, mas também um saudosismo do tempo em que
consideravam seus pais perfeitos. Freud (1906) afirma que esta questão de libertar-se dos pais
mostra-se bastante dramática ao adolescente, principalmente para àqueles que foram bastante
investidos de carinho, especialmente pela mãe. Também não seria apropriado o desinvestimento por
parte de quem cuida da criança, pois isso geraria a sensação de abandono. Sem exageros ou
descaso, a função, aqui em questão, é provocar a capacidade de se envolver afetivamente a partir
dos contatos físicos e do envolvimento emocional. Ou seja, possibilitar a capacidade de amar e
posteriormente satisfazer-se sexualmente. Assim, no adolescente a vida sexual ressurge com toda
força e dispõe do espaço da fantasia para se realizar. Nesta esfera as inclinações infantis voltam a
emergir em todos os seres humanos, agora reforçadas pela premência somática.
“Contemporaneamente à subjugação ao repúdio dessas fantasias claramente incestuosas consuma-se
uma das realizações mais significativas, porém mais dolorosas, do período da puberdade: o
desligamento da autoridade dos pais, unicamente através do qual se cria a oposição, tão importante
para o progresso da cultura, entre a nova e a velha geração”. (FREUD, 1906, p. 1227). Alguns
jovens podem apresentar muita dificuldade em modificar sua posição infantil em relação aos pais e
parecem querer ficar “colados” a eles. Esses adolescentes não conseguem realizar uma separação de
seus pais, pois não suportam de abrir mão da ternura parental. Porém para alguém se envolver
amorosamente com outra pessoa terá de perder um pouco o amor pelos pais. Mesmo aqueles que
não ficam retidos, fixados no amor parental incestuoso, são influenciados por essa vivência. A
afeição pelos pais é o mais importante vestígio revivido na adolescência que aponta o caminho para
a escolha do objeto, nas palavras de Freud: ”Outros rudimentos com essa mesma origem (afeição
pelos pais) permitem ao homem, sempre apoiado em sua infância, desenvolver mais de uma série
sexual e criar condições muito diversificadas para as escolha objetal.” (FREUD, 1906, p. 1228).
Percebe-se, portanto, que nem tudo está decidido na dissolução do Complexo de Édipo e que os
aspectos subjetivos neste período retornam em outra cena, num corpo biologicamente maduro e
numa estrutura psíquica que deverá ser capaz de abrir-se ao outro sexo e separar-se dos pais. Há
uma mudança do objeto de amor e um possível ajustamento do desejo genital sobre o objeto de
amor. A posição adotada na resolução do Complexo de Édipo no que diz respeito a sua sexualidade
e ligação com os pais será reavaliada. Há uma tentativa de ratificação, que se mostra como uma
tentativa de manutenção do que foi estabelecido, no qual o sujeito reafirma a identificação com o
progenitor do mesmo sexo e identifica as características do progenitor do sexo oposto como aquelas
que devem apresentar a pessoa com quem irá se relacionar amorosamente (FREUD, 1906). Também
existem pontos que devem ser retificados da solução edípica, pois neste momento o adolescente
enfrenta diversas mudanças e nem tudo que foi estabelecido no Édipo infantil permanecerá. Neste
momento, o modelo parental estabelecido no Édipo não é mais o único, ele dá origem a uma série, e
o adolescente passa a se arriscar “mundo a fora” em busca de amor e satisfação para além da
família. A renúncia da figura parental e da satisfação própria, vivida no Complexo de Édipo poderá
ser compensada por outro objeto, .Podemos compreender, portanto, que o adolescente vai ao mesmo
tempo poder amar alguém que não faz parte de sua família, mas que deva apresentar características
que o aproximem dela. E a complicação toda é que este objeto amoroso, esta pessoa que será
escolhida para se envolver, ao mesmo tempo está livre da proibição do incesto, mas deve possuir
semelhanças com a figura parental proibida - está estabelecido o paradoxo da adolescência. Tal
como teve de optar entre o amor dos pais e a masturbação ele se vê entre o objeto parental e as
pulsões sexuais num tempo contemporâneo. Assim pode se preocupar em demasia em atender as
expectativas dos pais ou fazer justamente o oposto ao que aprenderam na família. O fato é que o
ponto de partida é o referencial parental. A tarefa mais árdua para o adolescente é a elaboração da
escolha de objeto e a retificação do Édipo, pois teme destruir a mãe, perdendo-a para sempre. Na
realidade o que ocorre é que o adolescente acaba perdendo um pouco do amor de seus pais, porém
se mantém como sujeito.

Sistêmica

Adolescência segundo a visão sistêmica


Junho, 2018
Dentro das abordagens da psicologia encontramos, algumas vezes, distinções sobre determinados conceitos e princípios que, embora
comuns, são embasados em fundamentações específicas de cada linha teórica. Um destes temas é a adolescência.
O objetivo deste texto é apresentar a perspectiva da teoria sistêmica a respeito da adolescência, apontando as considerações e parâmetros que
influenciam o desenvolvimento do manejo e prática clínica de casos desta natureza.
Não se pretende abordar na totalidade os pressupostos que embasam essa teoria, bem como as especificidades adotadas durante os processos
de atendimento, mas oferecer uma possibilidade de compreensão de como se configura a visão do assunto à luz desta perspectiva.

A perspectiva sistêmica com um olhar que valoriza as relações e seus efeitos nos sistemas se apoia nos conceitos e dimensões da
adolescência apontadas pela teoria do desenvolvimento no que se refere as alterações físicas e biológicas e mantém a atenção no impacto
exercido nos círculos nos quais o adolescente está inserido. Como aponta Macedo “o foco neste paradigma não é o indivíduo proprietário de
seus sintomas e dificuldades, mas o indivíduo entendido num contexto amplo em suas interações” (1998, p.156). A relevância está nas
consequências causadas pela metamorfose a que o adolescente é submetido, nos seus padrões de convívio e interação e na repercussão dela
nos grupos em que é participante. A ênfase é dirigida ao estilo de convivência e o modo de atuação, considerando o momento histórico e o
ambiente. Os acontecimentos são contemplados com os efeitos do cenário que o envolve.

As conexões e relações possuem destaque em detrimento aos aspectos individuais, pois a interação entre os membros seja de famílias ou
grupos incide de um sobre todos, com efeitos que atuam reciprocamente. Uma mudança em um indivíduo exerce impacto em todo o sistema,
uma vez que as coisas se conectam e estão em relação em uma cadeia circular que retroalimenta e mantém o sistema.

A adolescência, essencial para a evolução do indivíduo, é uma das etapas do desenvolvimento que configura mudanças intensas nos sistemas
biológicos, psicológicos e sociais. Representa o período de transição da infância para a idade adulta, evoluindo da necessidade de cuidado e
acompanhamento para a aquisição de autonomia pessoal (SILVA & MATTOS, 2004 apud Pratta & Santos, 2007).

Um momento em que o jovem tenta delinear qual perfil de adulto pretende ter e consolida seu caráter, a partir da experimentação de
comportamentos, valores, interesses e opiniões. Como cada membro é moldado pelo padrão familiar e contribui para moldá-lo, a cisão
emocional com as pessoas que são seus maiores provedores afetivos é necessária para sua individuação e descoberta da própria identidade
(ROSSET, 2009).

O decurso do amadurecimento biopsicossocial é permeado por influências sociais e culturais e, neste sentido, pode apresentar alguns traços
diferentes, como a idade de início e encerramento ou as atitudes associadas, baseados em fatores do ambiente sócio cultural e econômico ao
qual o indivíduo pertence (KALINA, 1999 apud Pratta & Santos, 2007). O próprio conceito e atenção dedicados ao assunto possuem uma
dimensão sócio histórica e se consolidou na cultura contemporânea, de certo modo, apenas recentemente, no século XX (BOSSA, 1998).

Enquanto etapa do crescimento, seu início se dá na puberdade, com alterações biológicas que influem visivelmente em aspectos físicos e se
consolida nas dimensões psicológicas e sociais que completam este ciclo. Identifica-se primeiramente o amadurecimento dos órgãos sexuais,
a operação do sistema endócrino na ativação do aparelho reprodutor, as glândulas se ativarem na modificação da produção hormonal e os
estímulos que provocam o aumento dos pelos, as variações na voz, o redimensionamento dos contornos corporais e transpiração, por
exemplo.

São constatadas mudanças na forma de perceber e se posicionar no mundo que trazem uma outra forma de pensamento, de identificação, de
resolver conflitos, de compreender situações, de aliviar suas tensões, de se relacionar, de raciocinar, de avaliar e planejar o futuro, de
administrar suas emoções e de reagir frente aos estímulos.

Outras características frequentemente presentes são: instabilidades e modificações emocionais e de humor, questionamento e afirmação de
valores, momentos de insegurança, angústia, sentimento de incompreensão, impulsividade, comportamento desafiador e de risco,
consideração do ponto de vista dos pares e rejeição dos provenientes de ascendentes e demais figuras de autoridade, busca de autonomia e
autoafirmação, construção de ideais próprios, possibilidade de maior introspecção, certo grau de egocentrismo e propensão a anulação das
necessidades alheias, tentativa de alivio das tensões pela agressividade, postura contestadora e desafiadora, entre outros.

O fator social exerce uma forte influência neste estágio pois, há uma busca pela associação com membros que considera iguais para sentir-se
inserido, compreendido, reconhecido e fortalecido, em contraposição a rejeição e repúdio a participação em outros nos quais não se sente
validado. Essas modificações influenciam nos comportamentos e relacionamentos, refletindo em sua natureza e potencializando o surgimento
de conflitos e/ou dificuldades. Embora não acometam a totalidade dos indivíduos neste processo, as crises geradas são parte importante,
podendo contribuir positivamente para o desenvolvimento psicológico (DRUMMOND & DRUMMOND FILHO, 1998 apud Pratta &
Santos, 2007).

Os efeitos acarretados pelos fatores ambientais são bastante significativos, pois tanto o cenário sociocultural, quanto as características
psicológicas do adolescente e de sua família oferecem recursos e empecilhos que servem como fonte de benefícios ou malefícios ao seu
desenvolvimento. Em espaços como a escola e a comunidade, o adolescente pode se envolver em grupos e absorver ideias que estimulam a
transgressão. E o meio familiar, presente desde o início da formação, tem um importante papel no acúmulo anterior de instrumentos pessoais
que auxiliem o enfrentamento dos desafios deste período, bem como no fornecimento do suporte necessário para transpô-lo.
Conforme afirma Rosset, “acreditar que os lances de relacionamento são circulares, são codesencadeadores e que o comportamento de um
desencadeia e mantém o comportamento do outro, ou o contrário, abre possibilidades de compreensão” (2009, p.266). Contribui para ater-se
a proposta relacional e a atuação volta-se para a busca de alternativas e melhorias no funcionamento.

As novas atitudes, posturas e reações do adolescente promovem a necessidade de reorganização e adaptação de todos os sistemas dos quais
faz parte, afetando seus membros. Os relacionamentos que estavam configurados para o convívio com uma criança precisam migrar para
absorver este membro renovado pois, os recursos habituais existentes não são mais adequados para atender a atual configuração e torna-se
necessário a aquisição e construção de outras ferramentas para restaurar o funcionamento apropriado.

A família representa um sistema diferenciado dos demais que o jovem participa pela restrita ligação emocional, laços especiais e história
comum que os membros detêm. Embora as regras estabelecidas ajustem o funcionamento do sistema familiar e sirvam como parâmetro para
suas interações, mantendo o controle e evitando distúrbios que perturbem seu modo operante, ele é capaz de manter-se mesmo fora de
equilíbrio e recriar-se.

À medida que o jovem atravessa essa experiência seu sistema familiar também se transfigura para atender as exigências surgidas. Diante das
expectativas e demandas acarretadas, a estabilidade é desafiada e requerer uma reformulação em sua estrutura e organização, fazendo
emergir uma nova fase no Ciclo Vital denominada família adolescente (CARTER, MC GOLDRICK, 1989 apud Macedo, 1998).

Sob o prisma do pensamento sistêmico da família, o conceito de ciclo de vida familiar é bastante relevante para apreender as adversidades
decorrentes das transições do ciclo de vida individual, uma vez que, padrões de interação se estabelecem e se repetem. Cada estágio que a
família vivencia acarreta mudanças no sistema e gera um movimento emocional de transição. Novas maneiras de se relacionar e comunicar
precisam ser adotadas na convivência para que os contornos das fronteiras familiares até então estabelecidas, se adequem.

Sendo assim, segundo esta abordagem, o primordial está em considerar o adolescente e todo o seu contingente conforme propõe Macedo “o
jovem e seu mundo, uma vez que a proposta envolve uma mudança de ênfase quanto ao foco de estudo, bem como de paradigma. Assim, ao
invés de abordar as relações lineares de causa e efeito, explicadas em termos de antecedente-consequente, procura-se buscar os padrões
complexos de interação que circulam naqueles grupos dos quais o adolescente é participante” (1998, p.156).
Este posicionamento possibilita o enfoque no que emerge nos contatos e uma atuação que não se fixa em diagnóstico, patologia,
culpabilização e cura, mas em uma oferta de suporte no processo de ressignificação do que está sendo vivenciado ou, mesmo do como se está
vivenciando.

Mais do que buscar explicações, apontar culpados e corrigir falhas, a atenção a fase de vida em que o cliente se encontra fornece elementos
complementares a contextualização dos tipos de vivências e relações que podem estar experienciando no momento. Isso auxilia na tarefa de
apoiá-lo a conhecer e reconhecer seus padrões de funcionamento, a desenvolver as potencialidades adequadas para lidar com eles e a sentir-
se empoderado para promover as mudanças que forem pertinentes.

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