ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO DA ADOLESCENCIA DOS JOVENS DAQUELA COMUNIDADE
QUANTO AOS CONFLITOS VIVIDOS POR ELES E SUAS FAMÍLIAS: CONFUSÃO DE
SENTIMENTOS, DISTORÇÃO DA AUTOIMAGEM, DESENVOLVIMENTO DA SEXUALIDADE, DENTRE OUTROS.
O documentário relata a vida de quatro adolescentes de uma
comunidade, que engravidaram muito jovens - Evelin, Luana, Edilene e Joice. Mostra como eram seus relacionamentos, o que motivou a gravidez, como eram as famílias envolvidas nesse processo, como foi o parto e como foi renunciar a algumas coisas e ser mãe tão jovem. Correlacionando o conteúdo visto no documentário com aquele dado em sala de aula, podemos perceber como o processo de adolescência afeta toda a família, pois o comportamento dos filhos nesse período tem influência direta no funcionamento dos membros da casa, eles transformam o ambiente ao mesmo tempo em que são transformados. Observamos que muitas mães viviam a angústia em relação à adolescência das filhas, em função de suas próprias inseguranças, de tudo o que passaram em suas adolescências e não gostariam que se repetisse com as filhas. O abandono dos parceiros depois da gravidez, o sacrifício para manter a família, as dificuldades para criar os filhos, todos esses temores vêm à tona quando se deparam com a gravidez das filhas, ainda adolescentes. Podemos perceber nessas meninas, que muitos sonhos são deixados de lado, para viverem uma ilusão. A maioria delas engravidou porque realmente desejava ser mãe. Elas não se cuidavam, não usavam anticoncepcional nem preservativo e viam no filho a possibilidade de ter algo que fosse só delas, pois a vida não lhes dava muita coisa, apenas muita responsabilidade e pouca perspectiva. Sempre cuidando dos irmãos e ajudando nos afazeres de casa, viviam a fantasia de serem vistas como mães, alçadas a um patamar hierarquicamente superior, o que não corresponde à realidade. A gravidez na adolescência é um problema muito sério no Brasil, pois dificulta a vida dessas jovens e compromete seu futuro acadêmico e profissional. Como essa adolescente geralmente tem um grau de escolaridade prejudicado, vai para o trabalho informal e mal remunerado, e o ciclo de pobreza tende a se reproduzir e a história se repete. É lastimável que isso aconteça, pois nessa fase também desenvolvem gosto por atividades intelectuais, que diz respeito a raciocínio abstrato, porém não podem levar adiante os estudos, por conta das dificuldades que ganham proporção com a gravidez. Observa-se que apesar das mães alertarem as filhas sobre a possibilidade de gravidez, pois já estão com os órgãos reprodutores amadurecidos e sobre as dificuldades de criar um filho, elas eram permissivas e davam muito poder de decisão para essas adolescentes. Permitiam que as meninas fizessem muitas escolhas sozinhas, sem sua guia e supervisão. Porém, a imposição de limites é fundamental nesse período, pois elas passam por uma fase conflituosa, onde há dificuldade de distinguir entre o certo e o errado, em que há uma tendência natural de transgredir as regras. Até por isso, a imposição de limites é fundamental para que não incorram em erros e ponham em risco suas próprias vidas. Como vimos, apenas ao final da adolescência, com o amadurecimento do córtex pré-frontal, é que o adolescente aprende a dominar seus impulsos. Nesse sentido a família deve servir de rede de proteção, de amparo, ser um núcleo estruturante, situação que não se percebia na família dessas meninas. Nesse mister, alguns fatores protetores da família, são a estabilidade; coesão; adaptatividade; comunicação; tempo de interação. No contexto atual, nos deparamos com diversos tipos de famílias. O modelo tradicional de outrora não é mais o único a ser vivenciado. São outros princípios morais e psicológicos que coexistem num mesmo ambiente e, muitas vezes, diferem em seu próprio núcleo. Diante dessa realidade, verificamos que algumas das famílias eram constituídas apenas por mães e filhos, onde essas, para sustentar a prole, precisavam trabalhar, passar o dia fora. Não havia estabilidade emocional e financeira; o tempo de interação familiar era pouco e a comunicação precária. A adolescente, não encontrava a devida proteção e essa era buscada em um companheiro, pois é difícil lidar com a falta. Uma dessas adolescentes sofria violência do namorado e resumia o episódio no clichê que “mulher de bandido apanha”, pois essa era a fala passada de mãe para filha. Veja-se que a adolescência é uma fase de muitos conflitos, em que o indivíduo está construindo sua identidade e suas identificações, e os adultos têm um papel central neste processo, pois atuam como modelos introjetados, transmitindo seus valores para os mais jovens. Assim, se a crença da mãe era nesse sentido, essa perspectiva era introjetada na filha como se fosse normal e a única possível. Elas não se previnem, não usam preservativo e nem anticoncepcional, há o pensamento mágico de que “comigo isso não vai acontecer”, vai ser diferente. Todavia ainda não estão aptos a antecipar as consequências das próprias ações, pois isso é função do córtex órbito frontal, que irá amadurecer, apenas no final da adolescência lá pelos 18/19 anos de idade. O adolescente é muito curioso, tem vontade de experimentar coisas novas e o sexo é um dos estímulos que desperta curiosidade, pois nessa fase há uma baixa no sistema de recompensa que perde cerca de 30 a 50% da sensibilidade, sendo que buscam prazeres em outras fontes, como amigos, vícios, festas, dinheiro. Por isso também, algumas adolescentes mesmo na gravidez, fazem uso de bebida alcoólica, vão para bailes funk, em busca de ativar a sensação de prazer. Outros se envolvem com o tráfico de drogas, na busca de dinheiro e poder. Devemos ajudar os adolescentes neste período de transição e transformação, até que atinjam a maturidade, servindo de suporte emocional e elemento estruturador para que ultrapassem esse período de uma forma saudável para que possam desenvolver suas habilidades e seus potenciais.