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Faculdade Frassinetti do Recife

- FAFIRE -
Alana Barros
Juliana Mariano
Priscila Medeiros
Viviane Silveira
1. Processos de Identificação do adolescente e o aparelho psíquico primitivo
Consoante dispõe LEVISKI, o processo de identificação da criança e do
adolescente na sociedade contemporânea é complexo e, provavelmente, mais
ansiógeno do que em outras gerações. Para o autor, ordinariamente, o
adolescente passa por uma desidentificação de seus objetos e valores advindos
da infância. Por sua vez, o adolescente carece se desidentificar do objeto
cultural intrafamiliar para, a partir daí, conseguir se (re)identificar com novos
objetos externos àquele nicho.

Assim, o processo de identificação do adolescente está intimamente ligado à


organização do aparelho psíquico primitivo e às etapas subsequentes, durante a
infância, com ênfase no revivescimento do conflito edipiano precoce, segundo
Klein, e posterior, como descrito por Freud.
1. Processos de Identificação do adolescente e o aparelho psíquico primitivo

Entende-se por “estados primitivos da mente” o conjunto de manifestações


psíquicas que caracterizam a estrutura do self primitivo quanto aos seus
aspectos narcísicos e sua capacidade de integração no desenvolvimento dos
núcleos egóicos. Nesse período, são prevalecidas as relações de objeto parcial,
no qual self e objeto apresentam-se indiferenciados.

Ressalta-se que o processo de identificação não termina na idade adulta. Ele


prossegue por toda a vida, por meio de sucessivos períodos críticos de
reorganização egóica, em função das novas redistribuições da libido e a
transformações de valores e ideais.
2. Reorganização do aparelho psíquico primitivo – 2º nascimento

Entende-se por “estados primitivos da mente” o conjunto de manifestações


psíquicas que caracterizam a estrutura do self primitivo quanto aos seus
aspectos narcísicos e sua capacidade de integração no desenvolvimento dos
núcleos egóicos. Nesse período, são prevalecidas as relações de objeto parcial,
no qual self e objeto apresentam-se indiferenciados.

Ressalta-se que o processo de identificação não termina na idade adulta. Ele


prossegue por toda a vida, por meio de sucessivos períodos críticos de
reorganização egóica, em função das novas redistribuições da libido e a
transformações de valores e ideais.
2. Reorganização do aparelho psíquico primitivo – 2º nascimento

Dentro deste contexto, doloroso, porém desejado, ocorre o segundo


nascimento, que já vem com o poder da sedução e do espanto perante o novo e
estranho corpo, que fascina e assusta. Um corpo que se apresenta a um mundo
que o bombardeia de observações, de inveja, de regras, de consumo, mas que
não o aceita no mundo dos adultos. Então, neste segundo nascimento, nasce-se
para quê? Para esperar, tão somente, o vir a ser adulto.
3. Crise de identidade

A crise de identidade do adolescente, didaticamente, pode ser descrita como


duas forças antagônicas: uma impulsionando-o para a vida adulta, e outra
atraindo-o para “os privilégios” ou características da vida infantil. Por conseguinte,
o adolescente deseja permanecer vivenciando os privilégios da vida infantil, ao
passo que adquire os da vida adulta sem ter de arcar com as suas consequências.

Deve-se considerar que podem surgir problemas específicos na adolescência,


bem como padrões comportamentais que se esperam que sejam desempenhados
nessa fase, os quais, somados a múltiplas exigências e expectativas socioculturais,
podem ser conflitantes para os adolescentes.
3. Crise de identidade
Segundo MELTZER,
(...) o principal transtorno na adolescência é aquele que resulta da confusão
de identidade decorrente da reemergência da violenta clivagem do self... Esse
mecanismo desenvolve-se na puberdade para fazer face à maré ascendente
dos desejos genitais em todas as suas formas infantis polimorfas e perversas,
pouco modificadas ainda pelo self adulto e pela identificação introjetiva.

Por seu turno, clinicamente, a clivagem é ilustrada pelas bruscas passagens de um


extremo a outro, de uma opinião a outra, de um ideal a outro. Podemos notar isto nos
comportamentos evidentemente contraditórios do adolescente: é o caso do
adolescente que reivindica energicamente sua independência (para sair à noite, viajar
em férias, etc.) e que deseja o acompanhamento dos pais para outros atos
aparentemente banais.
4. A saída/superação da latência

Com o fim do Complexo de Édipo, a criança passa por um período onde


todos os impulsos e excitações sexuais se tornam inativos, diminuindo o
interesse nas questões sexuais e voltando sua atenção para as interações e
desenvolvimento da vida social e intelectual. No entanto, toda calmaria e
tranquilidade do corpo é interrompida pelo retorno das excitações sexuais
ocasionado pelo começo da puberdade. A sublimação dos impulsos
sexuais e as transformações das relações primitivas em aspectos da
identidade dependem da superação e elaboração dos conflitos edipianos,
com o ego e os ideais do ego trabalhando em sintonia.
4. A saída/superação da latência

É extremamente comum o interesse dos meninos e das meninas por crianças da mesma
idade durante o período de latência, o que ocasiona no natural afastamento e distância em
relação aos adultos que agora são vistos com outros olhos, sendo recalcadas as fantasias
infantis ligadas a eles. Esse período também é marcado por uma maior estabilidade emocional
e melhor desempenho das funções psíquicas reguladoras. Ao mesmo tempo em que o
desenvolvimento do ego se encarrega inconscientemente de prolongar a permanência nesse
período, ele também pode sofrer regressão diante de todas as angústias e mudanças abruptas
causadas pela transição da latência para a puberdade. Isso se dá pelo fato dos impulsos
ressurgirem e invadirem o ego que se mostra incapaz de controlá-los trazendo à tona afetos e
expressões comportamentais que acarretam no desequilíbrio do ego, uma vez que, o superego
ainda não introjetou novos modelos adultos de identificação. É como se o jovem passasse a ter
comportamentos de algo que ainda não se tem referência.
4. A saída/superação da latência

No início da adolescência o jovem é conduzido a buscar por novos objetos de


interesse amoroso e sexual e a se afastar dos objetos amorosos da infância. Esses
primeiros novos objetos são na maioria das vezes os amigos do mesmo sexo com
quem possuem um certo grau de intimidade e acabam se tornando um objeto
idealizado de si mesmo, projetando-se nos mesmos. Esse contexto acaba por
gerar situações desconfortáveis para os jovens por temerem serem taxados e
estereotipados pela relação mais íntima com algum amigo (a) do mesmo sexo.
Com o tempo, depois de superadas as fantasias de castração e o medo de
explorar o desconhecido, além das próprias manifestações genitais, é iniciada a
busca pelo objeto heterossexual. Até que se alcance um desenvolvimento sexual
adulto, o jovem atravessa um agitado processo de reestruturação egóica.
5. Movimentos regressivos

Relacionam-se com mecanismos de defesa, onde o sujeito, neste caso, o


adolescente, retorna às fases do desenvolvimento psicossexual, numa tentativa
de revivência da segurança de sua infância e assim, reconfortar-se perante a
realidade. O retorno ao seio bom, ao controle esfincteriano, ao prazer oral e anal,
por exemplo. Ao consumir um cigarro de maconha, por exemplo, além da
transgressão, inconscientemente pode haver um desejo de satisfação oral, de
busca de prazer e alívio de tensões trazidas pelo seio e tudo que ele representa.
O mesmo se daria com todas as compulsões e seus inversos, nas formas mais
graves, que apontaria para a necessidade do controle esfincteriano, o guardar
para si os conteúdos próprios, e do prazer que este controle traz.
6. Principais lutos experimentados pelos adolescentes e pelos pais

A adolescência é amplamente caracterizada por um processo intenso de


angústia e sofrimento nos mais variados contextos. Essa perspectiva tem como
respaldo as sucessivas perdas que acontecem durante esse período, que estão
relacionadas com mudanças em seu corpo físico e identidade infantil, mudanças
psíquicas, alteração de seu mundo interno e na forma de se relacionar consigo
mesmo e com outros, e na perda dos pais da infância. Como consequência do
desenvolvimento, novos aspectos identificatórios e relações com novos objetos
são incorporados a esse adolescente, gerando uma reorganização psíquica, à
medida que os elementos perdidos são elaborados pelo ego.
6. Principais lutos experimentados pelos adolescentes e pelos pais

Todas essas mudanças vão ser trabalhadas tanto na esfera egóica,


quanto na superegóica, com base nessa reestruturação. O ego, no
entanto, sofre uma certa instabilidade por conta das profundas
transformações emocionais que até então, eram desconhecidas a esse
adolescente. Essa série de mudanças em conjunto com a elaboração
do luto pelo ego, acontece em um fluxo de tempo desordenado,
gerando um aumento da tensão e provocando um desequilíbrio
interno.
6. Principais lutos experimentados pelos adolescentes e pelos pais

Em alguns momentos o adolescente não consegue abandonar o lugar de


passividade que foi ocupado na infância, fazendo com que ele tenha que se
desprender dos objetos primários que estão relacionados intimamente com os
primeiros modelos identificatórios. Esses modelos vão sendo modificados ao longo
do desenvolvimento mas não deixam de existir, e ao mesmo tempo que a sua perda
representa um passo importante no processo de autonomia e individualidade,
também sinaliza conflito e insegurança visto que o ego se encontra fragilizado.
7. Estruturação egóica e narcisismo

No decorrer do processo de identificação, emergem no ego os aspectos


primitivos e atuais da personalidade. Destaca-se que, a obtenção de novas
identidades não suprime as anteriores. No entanto, recalca aquelas mais primitivas
para as profundezas do inconsciente.

Na seara psicanalítica, muitos teóricos asseveram acerca do aumento das


manifestações que revelam enfraquecimentos do narcisismo na adolescência, bem
como sobre a predominância de condutas originárias da linha narcisista em
detrimento daquelas da linha objetal em relação ao período anterior.
7. Estruturação egóica e narcisismo

De acordo com MARCELLI e BRACONNIER (2007), o desenvolvimento e o


posterior estabelecimento do narcisismo adulto são considerados como
necessários à adolescência. Isto porque, o adolescente deve escolher novos
objetos, mas deve também escolher a si mesmo como objeto de interesse, de
respeito e de estima. Vê-se que, a maneira como certos adolescentes maltratam
seus corpos é um sinal, entre outros, de suas dificuldades narcísicas.
Durante o processo de construção de identidade, o adolescente se encontra em meio a
um dilema: ao mesmo tempo em que luta para se encontrar e expressar o seu eu mais
legítimo e autêntico, teme perdê-lo em consequência das demandas do mundo externo,
sendo conduzido a ser diferente daquilo que se é por essência constituindo então, um falso
self. A construção do verdadeiro e do falso self está intrinsecamente ligada a como se deu a
relação mãe-bebê, uma vez que, a mãe suficientemente boa ao atender as necessidades,
ajudar a lidar com frustrações e contribuir para a ilusão de criação do bebê, cria um
sentimento de ser e pertencer na criança, configurando a base do verdadeiro self. Já a mãe
insuficientemente boa, ao negligenciar todas as manifestações e pela incapacidade de
interpretar as necessidades do bebê, o submete às suas próprias vontades estruturando uma
fantasia de aniquilamento e um sentimento de vazio, resultando na constituição de um falso
self. É por meio do falso self que se protege o verdadeiro self das submissões enfrentadas
através da introjeção de aspectos do outro no processo de adaptação ao mundo.
Portanto, o adolescente faz uso e se expressa do falso self em vários
momentos durante a sua busca por identidade e individualidade.
Qualquer conduta e movimento do meio externo visto como invasivo,
ameaçador e impositivo, faz com que seja necessária a criação de algum
tipo de casca protetora para a sua defesa, da mesma forma que uma
casca também é criada nas tentativas de pertencer a algum grupo ou por
ainda não se conhecer totalmente, ocultando o verdadeiro self.
Segundo Piaget, o adolescente encontra-se no último estágio de
desenvolvimento cognitivo, o operatório-formal. O adolescente tem o raciocínio
mais evoluído possível, lógico e sistemático. Raciocina de forma abstrata, podendo
fazer deduções lógicas sem a necessidade de apoio de objetos concretos.

Em outras palavras, a representação agora permite a abstração total. É capaz de


formular hipóteses para solucionar questões, não se restringindo à simples
observação da realidade. Suas estruturas cognitivas atingem o nível mais elevado
de desenvolvimento e passam a ser capazes de aplicar o raciocínio lógico a todos
os tipos de problemas. Impera o pensamento hipotético-dedutivo, o adolescente
levanta hipóteses, avalia probabilidades, correlaciona.
Segundo Piaget, o adolescente encontra-se no último estágio de
desenvolvimento cognitivo, o operatório-formal. O adolescente tem o raciocínio
mais evoluído possível, lógico e sistemático. Raciocina de forma abstrata, podendo
fazer deduções lógicas sem a necessidade de apoio de objetos concretos.

Em outras palavras, a representação agora permite a abstração total. É capaz de


formular hipóteses para solucionar questões, não se restringindo à simples
observação da realidade. Suas estruturas cognitivas atingem o nível mais elevado
de desenvolvimento e passam a ser capazes de aplicar o raciocínio lógico a todos
os tipos de problemas. Impera o pensamento hipotético-dedutivo, o adolescente
levanta hipóteses, avalia probabilidades, correlaciona.
Todavia, mecanismos de defesa primitivos invadem seu ego e interferem
em suas funções cognitivas, tornando as capacidades perceptiva, elaborativa e
associativa comprometidas. Muitas atitudes infelizes e até mesmo infratoras,
cometidas pelos jovens, são, assim, “ações impensadas”. Apesar do
desenvolvimento cognitivo, a capacidade de julgamento é prejudicada pela
imaturidade cerebral, especificamente do lobo frontal.
Durante a adolescência dos filhos, os pais revisitam a sua própria
adolescência e muitas vezes, temem relembrar situações dolorosas por eles
experimentadas ao ver-se naquele espelho, que é seu próprio filho. Nenhum
daqueles conflitos vividos pelos filhos, sejam o desconforto, as dúvidas, o
luto da infância que se vai - “mas, ah, que bom que vai!” são a eles estranhos.
No entanto, agora eles são os pais.
Além disso, o jovem adolescente pode incomodar bastante com sua
aguçada capacidade crítica, seu olhar agora bem voltado para as questões da
vida e da sociedade, que podem se chocar com a cultura dos pais. Some-se a
isso que o este jovem carrega em si a maldição de ser o símbolo cobiçado do
mundo contemporâneo: o modelo de perfeição estética, este ideal de Adônis
e Vênus, da qual os pais estão lutando para não se afastarem tanto.
Temos então uma cruel ambivalência: Ao mesmo tempo, as
responsabilidades de cuidar, guiar, orientar para que nada dê errado. O papel
de pais presentes, atentos às mudanças e compreensivos com as demandas
da fase vivenciada pelo filho, podem se chocar com os traumas vivenciados
por esses mesmos pais, quando de sua adolescência e o sentimento diante
daquele que lhe relembra o tempo inteiro que não é mais jovem e nem pode
ser, que suas ideias não são mais tão boas. Sentimento de competição, inveja
ou transferência de responsabilidades.
A adolescência dos filhos não é um lugar fácil para os pais, também.
O conceito de Continência, Continente-Contido foi trazido por Wilfred R. Bion ao observar
a situação de amparo na relação mãe-bebê quando da amamentação. Como um modelo
relacional de funcionamento mental, o processo de Continência é aquele em que um estado
mental (conteúdo) é transmitido a partir de um emissor para um receptor; o receptor
potencialmente "contém" e transforma este conteúdo através da ação psíquica; o conteúdo
transformado, pode então ser reintrojetado pelo emissor.

O conceito supramencionado difere do conceito de holding de Winnicott. Ambos


conceitos afirmam que o bebê não pode ser entendido independentemente da mãe, e que a
internalização da função materna de "holding" é necessária para o desenvolvimento mental.
Todavia, o holding é um termo mais amplo, abrangendo tanto uma sensibilidade psíquica às
necessidades do bebê, quanto a manutenção física e a total provisão ambiental.
Diferentemente, o conceito de continência implica um envolvimento intrapsíquico mais ativo
da parte do objeto, dependendo mais da personalidade da mãe.
Nesse contexto, a capacidade de continência dos pais diz respeito àquilo que
eles são capazes de conter em termos de frustrações, necessidades, angústias e
demandas relacionadas a seus filhos. Pais com baixa capacidade de continência
geram insegurança em seus filhos nesta importante etapa do desenvolvimento,
cercada por dúvidas e experiências nem sempre bem sucedidas, mas sobretudo
necessárias à experiência de vida.

Por outro lado, pais que apoiam seus filhos neste percurso, demonstrando
boa capacidade de continência, conseguem oferecer suporte suficiente (uma
releitura do holding winnicottiano) a adolescência de seus filhos.

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