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Curso de Especialização em Psicologia e Psicoterapia Transpessoal

Desenvolvimento Infantil
A criança nasce com uma essência (identidade primária) e ao longo do seu crescimento organiza uma identidade
egóica. O desenvolvimento ocorre durante toda a vida, porém, as experiências infantis deixam marcas profundas,
limitando a percepção, pensamentos e ações. A soma destes limites constitui o caráter.

Caráter - é o reflexo da criança em nós. É uma solução de compromisso entre as necessidades infantis, as
necessidades adultas e a preservação de uma certa harmonia (precária) com o ambiente externo.

O caráter está em sintonia com o ego. Possui uma série de crenças internas e um modo objetivo de funcionar no
mundo, ainda que, do ponto de vista de um observador, se apresentem discordantes.
O conjunto de crenças está limitado pela couraça caracteriológica - ocorre ao nível da vivência psíquica, se dá em
nível cerebral, estruturando idéias, conceitos, preconceitos e interpretações específicas sobre a percepção do mundo
e de nós mesmos. Percebemos e pensamos dentro de determinados limites pessoais. Construímos assim uma
imagem, que é uma construção mental geralmente em discordância com a vivência corporal e o modo de funcionar
tem como limite a couraça muscular - é a couraça que limita a vivência corporal muscular; ela se apresenta ora
como tensão ora com flacidez de músculos isolados ou de grupos musculares.
Estas couraças representam os limites dentro dos quais o ego pode funcionar sem angústia, ou seja, percebemos,
pensamos e agimos dentro dos limites de nosso caráter.

A estrutura de caráter se forma quando ocorre várias vezes algo químico e emocional sem descarga, isto informa
o corpo como ele deve agir e se desenvolver, esta questão emocional, energética e química se congela e forma a
estrutura.

A personalidade é mais ampla que o caráter e inclui forças biológicas, hereditárias e constitucionais, sobre as
quais atuarão os limites dados pelo desenvolvimento do ego.
A personalidade possui três camadas: essência, eu inferior e máscara.
Essas três camadas precisam ser integradas, porém como fixações infantis, expressam os três aspectos de nossa
criança interior; criança manipuladora na camada superficial, a criança raivosa reprimida na camada média e a
criança ferida na camada profunda.
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Desenvolvimento do ego infantil

Ao nascer o bebê não apresenta capacidade efetiva de direcionamento muscular, pois o sistema piramidal não está
mielinizado. As situações traumáticas deste período ativam defesas no nível do SNA e constituem os núcleos a
partir dos quais podem ser reativados posteriormente as couraças vegetativas do cerne (mais primitiva e limita a
pulsação energética-núcleo biopático, ocorre no período intra uterino e nos primeiros dias após o nascimento
quando o bebê não conta com um ego efetivo, os efeitos nocivos à vida desencadeia mecanismos de proteção a
partir do nível visceral) ou anel visual (é a couraça que ocorre ao nível cerebral, no momento de fusão entre as
vivências corporais e psíquicas, responsável pela organização da autopercepção, é aí que se dá as cisões).

Após este período pode-se falar de desenvolvimento do ego infantil e dividi-lo em cinco fases (conforme a divisão
Reichiana):

 Visual, oral, anal, genital infantil e poder

Em cada fase que corresponde à chegada do impulso em partes especificas do corpo, o ego deverá desenvolver o
comando do impulso e equacioná-lo com o meio ambiente, o que gera conflito.

O conflito poderá ter três soluções:

Satisfatória:
A área corporal mantém a pulsação e a energia fluirá para a fase seguinte ativando o novo impulso.

Fixação insatisfeita:
O ego não desenvolve o comando ativo do impulso e mantém–se fixado nele, limitando o fluxo energético para
fase seguinte. Manterá o comportamento infantil e a impulsividade.

Fixação repressiva:
A frustração do impulso leva o ego a opor-se a ele impedindo sua expressão e ativando precocemente o fluxo da
energia para a fase seguinte. A energia fica comprometida com o conflito e a fase seguinte fica prejudicada. O
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modo comportamental será constituído por formações reativas. Estas são comportamentos e atitudes contrárias ao
impulso original.

Fases do desenvolvimento infantil

a) Fase visual: talvez o primeiro movimento intencional que o bebê realize seja o direcionamento dos olhos; leva-
o a assumir o controle ativo e voluntário dos olhos. O ego começa a assumir o prazer de ir para o mundo, percebê-
lo visualmente, sentir-se pertencendo a ele.

O comando progressivo dos olhos possibilita a visão do seio materno e do próprio nariz, com os quais o bebê se
identifica, ao mesmo tempo em que percebe a mãe ao olhar para seus olhos. A mãe é parcialmente percebida como
um ser separado, enquanto partes dela, como o seio, é percebido fazendo parte do Eu. A fase visual caminha para a
separação perceptiva dará entre o Eu e o Tu, quando o bebê se percebe inteiramente separado da mãe. Nos três
primeiros meses, o cérebro estará organizando o sistema reticular ascendente e completando o desenvolvimento do
corpo caloso, que possibilitarão a atenção focal e o fechamento perceptivo aos estímulos externos. O bebê estará
organizando o centro de sua identidade energética! É o tempo em que organizará o estado simbiótico. O campo
energético do bebê começa a se organizar e a se separar da mãe. Quanto mais efetiva for a separação, mais a
energia centra-se no cerne, estruturando a base energética da confiança básica. Mais intensamente a identidade
energética terá seu centro fixado no interior do organismo. A confiança básica infunde a crença de que pode se
retirar em direção ao Eu, sem culpa e sem temor de rejeição ao retomar ao contato. O estabelecimento da confiança
básica depende, não só do acolhimento materno, como também de sua angústia frente ao recolhimento do bebê. O
não acolhimento traz a vivência de que o mundo é rejeitador, ou seja, infunde uma descrença no mundo. A angústia
materna frente ao recolhimento do bebê traz a vivência da culpa que força a manutenção da simbiose e a negação
da própria individualidade.
A fixação na fase visual pode ter duas direções opostas: visualidade repressiva e visualidade insatisfeita.

A fixação visual repressiva indica que o ego não assumiu inteiramente o movimento de ir para o mundo
perceptivamente.
Os olhos apresentam-se com uma visão longínqua como se olhassem através dos objetos à sua volta. A impressão
que nos causa é de que tal pessoa não vive neste mundo, está distante, como se não estivesse inteiramente
encarnada. Falta-lhe o sentido de pertinência à terra. Esta é a fixação da defesa Esquizóide. A identidade
energética não está centrada no corpo, está distante!
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A fixação visual insatisfeita mantém o ego rigidamente ligado aos olhos, como se comesse com o olhar; não
consegue abandonar a atitude ativa do olhar, está preso ao mundo. A identidade energética está difusamente ligada
ao campo energético e não consegue retomar ao ceme. Esta atitude é encontrada no "voyeurismo" e nos estados
paranóicos, onde o que predomina é um estado de vigilância constante.

b) Fase Oral: a amamentação foi o primeiro movimento de contato próximo com o mundo. Levou à fusão com a
mãe e o conseqüente prazer oral.
O ego deve assumir os movimentos de sucção e deglutição. O período do sugar predominará nos primeiros seis
meses de vida do bebê. A partir daí desenvolverá a musculatura mastigatória e o período da mordida.
O bebê busca a mãe para satisfazer suas necessidades biológicas, ao mesmo tempo em que necessita de amor e
cuidados. Ao ser satisfeito, estará organizando a crença de que o mundo é bom e que está sendo amado e recebido.
O sugar manterá o nível de energia e de excitação que resultará no prazer oral. Estabelece-se a crença num mundo
bom, que deve ser buscado, recebido e incorporado. Terá algo bom internamente. Assim será sua relação básica
com o mundo. Acreditará na relação, no amor e em si próprio. Quando a frustração do sugar for intensa, o bebê
recua sua busca e desenvolverá a crença de que o mundo é rejeitador e não se sente amado ou digno de receber
amor.

Impulso da fase oral


Em tomo do sexto mês começam a despontar os dentes, e com eles a primeira ação ativo-agressiva sobre o mundo
a ser incorporado. Começa o período da mordida. Na mesma época, ocorre uma mudança significativa na produção
sonora do bebê; até este momento o som é gutural e independente da audição, pois os bebês surdos de nascença
também o apresentam. Quando começa a produção de sons articulados, os bebês surdos deixam de emitir sons. A
produção de sons articulados depende da audição e da visão, pois as primeiras consoantes articuladas são as
bilabiais, por serem as de articulação mais visível, como "pá", "má", "bá", etc. Ainda na mesma época, a crescente
coordenação das mãos e braços leva o bebê a um movimento de busca num raio de ação mais amplo, apreendendo
objetos e levando-os à boca para experimentação e reconhecimento. Podemos entender que o bebê busca a mãe
com os olhos, experimenta-a com a boca, ao sugar seu seio e busca confirmação com as mãos, ao tocá-la enquanto
amamenta.

Em seqüência às buscas com os olhos, com a boca e com as mãos, o bebê empreende o chamar pela mãe. O som
má inicia, numa grande quantidade de línguas, a palavra mãe ou seus equivalentes.
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A dificuldade em aceitar os limites da relação com a mãe impossibilita o contato com nossa natureza interna. A
transição do sugar para o morder trará mudanças significativas para o bebê. Neste momento, ainda ligado ao seio e
ao prazer suave, o ego infantil começa a ativar a função muscular e a desfrutar da vivência de ter força e
capacidade de interferir no mundo a ser incorporado. Desenvolve as funções que o levarão a romper a relação de
dependência total com a mãe. Até então, o prazer vinha da relação com o seio, agora, o prazer pode ser obtido
através do ato de mastigar o próprio alimento. O prazer oral passa a ser também um prazer narcísico, uma
expressão de poder! O prazer de ser ativo e ter força, aliado ao prazer narcísico, entra em conflito com o prazer
suave de sugar o seio. O afrouxamento da relação de dependência pode ativar angústias na mãe. A reação materna
pode ser vivenciada pelo bebê como se ele estivesse atacando-a ou destruindo-a. Pode surgir culpa, pois, tomar-se
ativo, significa independer-se, separar-se da mãe! O afrouxamento da dependência materna leva o bebê a
estabelecer relações mais amplas com o mundo ao seu redor; aqui entram de forma mais efetiva o pai e os demais
membros do núcleo familiar.

O pai deve entrar no meio da relação entre o bebê e a mãe e ajudá-Io a separar-se dela. Deve apoiar a atitude ativa
e o prazer narcísico do bebê. Este período é importante para o estabelecimento da confiança básica na ação: a
crença de que vai ser aceito e amado em sua atitude ativa e agressiva no mundo. Após estabelecer a mordida e a
sustentação da cabeça, começa a ativação da musculatura da coluna, que o levará à postura ereta. O
desenvolvimento da mordida, a sustentação da cabeça, a organização da coluna e a postura ereta estão ligados à
relação com o pai.

A fixação na fase oral pode ter duas direções distintas: a oralidade repressiva e a oralidade insatisfeita.

A fixação oral repressiva pode se dar no período do sugar ou da mordida. Quando a frustração ocorre no sugar, o
anel oral apresenta-se contraído, os lábios finos, a pele fria e acinzentada e a boca retraída. O nível de energia, a
excitação vital e o prazer suave estarão rebaixados, gerando anorexia e depressão. A interrupção precoce do sugar
pode levar ao desenvolvimento prematuro do morder, fixando-o neste período. A vivência infantil estará assentada
na descrença na relação e no prazer suave, e numa atitude determinada de não precisar do outro. É como se o bebê,
frente à frustração oral, tivesse decidido: "Como não me atenderam na minha necessidade de amor e prazer, não
preciso mais de nada nem de ninguém".

O desenvolvimento precoce do morder leva ao endurecimento da musculatura oral e à fixação no prazer narcísico
expresso no "não preciso de ninguém". A postura toma-se rigidamente ereta e as pernas espásticas, como estacas
fincadas no chão.
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A carência alimentar, a falta de contato de pele, a desproteção em relação ao frio e calor, a falta da amamentação
ou o seio frio e insensível, as dificuldades advindas da substituição do leite matemo, o não acolhimento afetivo,
etc., são as causas prováveis da fixação oral repressiva. Resultou numa incapacidade de desfrutar do prazer suave e
na descrença na relação e no amor. Na oralidade repressiva encontramos a crítica mordaz, a ironia, a anorexia
e a depressão.

A fixação oral insatisfeita pode ocorrer também no período do sugar e do morder. Quando a fixação ocorre no
sugar, a musculatura permanece hipotônica e frágil, mantendo o ego na busca de amor, prazer, proteção e
alimentos. Mantém uma relação de dependência constante com o ambiente. A crença básica é: "o mundo me deve,
necessito receber mais". A fixação no morder leva a uma atitude voraz que se expressa, não só em relação à
comida, como também na busca de afetos.

O oral insatisfeito carece de uma atitude narcísica, pois expressa o tempo todo "necessito de tudo e de todos". A
vivência infantil está baseada na crença de que é amado, que o mundo é bom e que deve suprí-Io. Necessita e exige
muito da relação! Via de regra, a auto-imagem está enormemente engrandecida, contrastando com uma baixa
capacidade de ação efetiva. É comum a ligação com drogas ou álcool. Na oralidade insatisfeita encontramos a
voracidade, a obesidade, a drogadição, o alcoolismo, a elação e os quadros hipomaníacos e maníacos.

c) Fase Anal: A transição da fase oral para a anal é marcada por mudanças significativas na vida do bebê. Uma
vez estabelecida à confiança básica na ação, o movimento seguinte será o de estabelecer a autonomia interna. Até
este momento, os movimentos respiratórios, excretórios e emocionais são vividos de forma passiva. O
desenvolvimento neuromotor leva o bebê ao controle progressivo da ação, que culminará no desenvolvimento da
marcha e do estar ereto sem esforço. Estar ereto, andar e controlar os esfíncteres e a respiração passam a ser
questões de importância fundamental para o ego. Expressarão sua autonomia em relação às funções internas e a
conquista de um espaço mais amplo de relação com o mundo. A fase de conquista da autonomia interna constitui a
fase anal do desenvolvimento e se estenderá até aproximadamente os dois anos e meio.

É ativada a onda descendente do ego, que possibilita o controle da respiração torácica e dos esfíncteres, e a fixação
do quadril, estruturando a base corporal para a postura ereta e a marcha. A fase anal é a fase de conquista do
próprio corpo. Em função dessa conquista, o infante, já não mais um bebê, volta-se para si próprio, para seu
funcionamento, buscando estabelecer sua identidade corporal. Sua solicitação de amor, prazer e cuidados externos
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diminui, ao mesmo tempo em que começa a organizar seu espaço e seus objetos pessoais. Seu quarto, sua caminha,
seus brinquedos e seu prazer pessoal passam a ser o centro de seu mundo.

Entretanto, sobre esta evolução natural, pode sobrevir uma exigência ambiental de controle esfincteriano e de
higiene que entra em conflito com a conquista da autonomia e da identidade corporal. Internamente, o fluxo
energético para a pelve diminui a busca de amor e afrouxa a relação de dependência, porém as exigências de
controle e de higiene, e as invasões à sua intimidade corporal, exercidas geralmente pela mãe, leva a criança a ter
medo de perder seu amor.

Controlar seu próprio cocô entra em conflito com as solicitações maternas de evacuar ou reter. O treino precoce ao
banheiro leva-a a perceber a importância que o adulto dá ao seu excremento. Fazer ou não fazer cocô passa a ser
um recurso eficiente para controlar o interesse materno por ela; ao mesmo tempo negar-se a fazê-lo, quando
solicitado, ou fazê-lo em situações "impróprias", passa a ser um meio de manipulá-la ou de agredi-la. O treino
esfincteriano fornece o modelo básico de manipulação do mundo, através do controle e manipulação de funções
internas. Controlar todas as saídas viscerais, negar-se às expressões quando solicitado, ou expressá-las em
"situações impróprias", passa a ser o meio de manipulação, controle ou agressão sobre o mundo, como se emoções,
impulsos, comunicações e ações fossem produções excretoras. Paulatinamente a criança aprende as conotações de
feio, sujo e vergonhoso, relativo às funções excretoras. Essas mesmas conotações podem atingir também as demais
funções expressivas, sejam elas emoções, sentimentos, impulsos, comunicações, etc. Eliminar as fezes pode ser um
ato prazeroso como também agressivo e segurá-las, pode ser uma busca de amor como também uma atitude hostil
como negação à mãe. A partir daí a ambivalência, a dúvida e a culpa estarão sempre implícitas no comportamento
anal. A ambivalência expressa-se corporalmente por tensões musculares contraditórias que dificultam ou impedem
movimentos espontâneos, leves e graciosos, o que dá à defesa anal uma evidente inadequação motora. O temor à
inadequação mantém a pessoa acossada internamente, com intensa sensação de vergonha ou ridículo, além do
temor de expor suas coisas "sujas". A partir daí, surge à necessidade de manter um controle racional estrito e uma
autocrítica feroz sobre toda produção interna, o que a leva a dúvidas torturantes. A defesa anal encerrou o Eu num
castelo intransponível. Absorve energia, mas não descarrega visceralmente, não devolve ao universo o que lhe é de
direito. A pessoa fica impossibilitada de restabelecer o contato com sua natureza interna e com a externa, assim
como com "Deus". Este é o motivo pelo qual encontramos, freqüentemente, uma culpabilidade cósmica, universal,
sem objeto. A racionalidade anal busca o tempo todo encontrar justificativas objetivas para explicar sua intensa
sensação de culpa. Os traços anais apresentam sempre a ambivalência. Um mesmo traço pode expressar-se em
comportamentos ambivalentes e mesmo contraditórios; o indivíduo pode ser extremamente mesquinho em relação
ao dinheiro, numa dada situação, e depois gastá-lo sem controle, num outro momento.
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A fixação na fase anal apresenta também duas direções: a analidade repressiva e a analidade insatisfeita.

Na analidade repressiva, as forças de contenção predominam sobre as buscas de prazer excretor e sobre os ganhos
secundários derivados dos cuidados e atenções com a higiene. A autonomia interna toma-se rígida e a
individualidade se fecha num bloco corporal compacto. Reter e acumular passam a ser funções importantes, das
quais resultam os traços da mesquinhez e da avareza. O controle racional, a autocrítica, a dúvida, a ambivalência e
a culpa atingem seus pontos máximos. A defesa masoquista representa a fixação anal repressiva.

Na analidade insatisfeita é como se o ego tivesse desistido da busca de amor em prol do prazer anal e dos ganhos
secundários derivados dos cuidados e atenções com a higiene. O controle racional, a autocritica, a dúvida e a
ambivalência fazem-se notar sobre a expressão emocional. A mesquinhez e a avareza estão menos presentes, em
função da liberação anal. Sua autonomia, como ser social, ficará prejudicada, pois, passará a buscar pessoas que
cuidem dele, limpem e ordenem seus pertences pessoais e organizem seu tempo, seu trabalho, etc, porém de forma
ambivalente. Estamos aqui retratando a defesa anal passiva. Como a onda do prazer está presente, o passivo está a
meio caminho na direção da genitalidade. Sua ambivalência se expressará entre a solução anal passiva e a genital.
Com freqüência, buscará uma relação que atenda a suas necessidades de cuidados e outra que atenda a suas
necessidades sexuais.

O desenvolvimento da função mental racional está diretamente ligada à fase anal. A partir da fase anal, a criança
começa a desenvolver sua capacidade de postergação, ou seja, passa a suportar o aumento da tensão, buscando
situações mais adequadas para a sua satisfação.
A racionalidade saudável está conectada com a percepção objetiva e com a sensação profunda.

Nessas condições, o pensamento decorrente é racional e objetivo, levando a uma ação conectada com o sentimento
(Eu) e com a devida consideração pelo outro (Tu).

Os bloqueios da fase anal levam ao isolamento do Eu e ao enrijecimento da percepção. Nessas condições, a


racionalidade perde seus pilares basilares do sentir profundo e da percepção objetiva. O ego fica vulnerável às
idéias, normas, crenças, ideologias, etc., sem poder questioná-las a partir das sensações e percepções. Forma-se
assim uma racionalidade secundária que, por sua vez, alimentará comportamentos rígidos e constantes, que se
refletirão circularmente em percepções rígidas de si próprio e do mundo. Esta racionalidade preenche o vazio
perceptivo e sensorial, ao mesmo tempo em que impede o acesso ao mesmo. A racionalidade secundária constitui a
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própria irracionalidade humana, não por ser ilógica ou irracional, mas por sua rigidez e por ser desprovida de
sentimentos, de coração.
As fixações insatisfeitas apresentam baixa contenção e levam a uma racionalidade pouco desenvolvida ou distante
da realidade objetiva. Levam, portanto, a atitudes impulsivas! As fixações repressivas apresentam contenção mais
desenvolvida e uma racionalidade mais intensa que, freqüentemente impede a própria ação.

d) Fase genital infantil: a fase genital infantil corresponde ao período em que, tanto o menino quanto a menina
voltam-se para a diferenciação sexual e para a aprendizagem dos modelos com os quais se identificar. Esta fase
estenderá até aproximadamente os seis anos. O ego passa a lidar com o prazer genital e necessita aprender novos
comportamentos para equacionar essa função emergente. Corporalmente deverá ocorrer a flexibilização da pelve
no sentido anteroposterior, para atender à necessidade sexual. A energia estará dirigindo-se para o genital.

Impulso da fase genital infantil


Nas fases visual e oral o bebê, independente de sua sexualidade, necessita do mundo, centralizado na figura
materna. Necessita ser alimentado, recebido, acolhido, protegido e amado. Na fase anal ocorre uma diferenciação
entre as figuras materna e paterna; a mãe representa o centro da relação de dependência enquanto o pai passa a ser
a ponte afetiva para o desenvolvimento da autonomia e do modelo de relação com o mundo mais amplo. Nessa fase
o bebê, ainda independente de sua sexualidade, necessita que a mãe aceite o afrouxamento progressivo da
dependência e que o pai o apóie no desenvolvimento de sua autonomia e segurança pessoal. Na fase genital
infantil, os papéis desempenhados pelo pai e pela mãe serão distintos, incluindo suas identidades sexuais. A relação
será distinta também, em se tratando de um menino ou uma menina. O garoto necessitará do pai como modelo de
como ser homem e buscará imitá-lo nos gestos, atitudes, gostos, etc. Este período será marcado pela imitação,
identificação e supervalorização paterna. Após identificar-se com o pai, o garoto volta-se para a mãe buscando ser
amado e reconhecido em sua nova identidade.

O menino não está preparado fisiologicamente para a vida sexual, embora busque o contato com seus genitais,
como fonte principal de prazer. Ele precisa sentir-se amado em sua nova identidade e busca a mãe para a
confirmação. Agora o pai passa a ser um rival, o que gerará confronto e competição. Entretanto, esta mesma
rivalidade serve para diminuir sua angústia: o pai passa a ser o limite ao seu desejo incestuoso. Se a figura paterna
for muito frágil, poderá estimular a formação de um tipo impulsivo sexual, com fortes traços incestuosos,
principalmente se ocorrer também a sedução materna. Frente ao desejo incestuoso, pode ocorrer ainda um recuo
para a analidade passiva ou para a oralidade. Se a figura paterna for muito forte e competitiva, desenvolve-
se intensa angústia de castração, com o risco de uma fuga da genitalidade.
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Analogamente, a garota identifica-se com a mãe, apresentando um período de imitação, identificação e


supervalorização. Em seguida busca o pai para experimentar-se em seu novo papel. Agora a mãe surge como rival,
estabelecendo limites na relação com o pai. O desejo incestuoso e a angústia de castração entram em cena. Se
houver sedução paterna e a figura materna mostrar-se frágil, haverá a fixação na busca sexual incestuosa. Se a
figura materna for muito competitiva, poderá ativar a angústia de castração e o recuo para a analidade ou a
oralidade. Quando a criança não se sente amada em sua identidade sexual pode recuar às fases anteriores ou
manter-se ligada à sexualidade, porém carregada de mágoa, ressentimento e desejos de vingança. Podemos
compreender as enormes dificuldades pelas quais passam as crianças em seu desenvolvimento genital infantil,
dependendo do desempenho dos pais nesses intrincados jogos emocionais e também, evidentemente, dependendo
das respostas que elas apresentem.

Principais dificuldades:
1. Dificuldade de identificação com o genitor do mesmo sexo: quando o genitor apresenta aspectos
negativos em relação à sexualidade.
Podemos citar como exemplos a mãe submissa, o pai passivo, as mensagens negativas a respeito da
sexualidade e das imagens materna e paterna, etc.
2. Falta de receptividade do genitor do sexo oposto: gera a vivência de não ser amado em sua
diferenciação sexual, o que ativa a mágoa, o ressentimento e os impulsos vingativos na relação afetivo-
sexual. É freqüente, os pais não suportarem o contato físico com os filhos, quando estes começam a
mostrar interesse sexual.
3. Ausência de limites expresso por um ou ambos os genitores: resulta numa intensificação da angústia
incestuosa e eventuais recuos às fases anteriores. Pais passivos ou ausentes, separação do casal nesta
fase crítica e liberalidade sem afeto são as situações mais freqüentes.
4. Atitude sedutora por parte do genitor do sexo oposto: geralmente associa-se a indisfarçáveis
discriminações entre os filhos. Intensifica a competitividade e a dificuldade de convivência em relação
às pessoas do mesmo sexo e ativa uma busca impulsiva incestuosa. Esta situação está ligada à
competição na relação do casal, o que leva os pais a arregimentar sedutoramente os filhos, como aliados
em sua disputa pessoal.
5. Expressões de limite e competitividade exageradas: normalmente são exercidas por pais inseguros e
agressivos, ou ainda frente a uma irmandade grande ou muito competitiva. Levam à intensificação da
angústia de castração, fazendo recuar a genitalidade e o impulso de crescimento. Resulta daí o medo de
conquista, de competir, lutar, ter sucesso, etc.
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A fixação na fase genital infantil traz um colorido sexual a todas as funções corporais. A agressividade volta-se
para a relação afetivo-sexual.

Forma-se a defesa rígida com dois subtipos: o fálico-narcisista e o genital-incestuoso.

Na defesa fálico-narcisista, encontramos o homem fálico e a mulher agressivo-masculina e na defesa genital


incestuosa a mulher histérica e o homem passivo. Todos os subtipos podem apresentar o traço insatisfeito ou o
repressivo.

A defesa fálica narcisista está ligada ao corpo de uma forma narcísica. A força, a competição, a eficiência e a
performance física e profissional ocupam o centro das atenções.

A defesa genital-incestuosa manteve-se ligada à sexualidade, porém com intensa angústia. Pode resultar numa
atitude frenética em relação à sexualidade, podendo chegar à ninfomania, ou gerar contenção e paralisia da função
sexual, resultando em anestesia genital e recuo a funções anais passivas ou orais. A realização social e profissional
podem ficar comprometidas.

e) Fase do poder: O desenvolvimento da vivência do poder é posterior à fase genital infantil. Na fase do poder, o
ego desenvolve o controle sobre a musculatura diafragmática. A partir daí, tem o controle sobre as ondas -
emocional e do prazer.

Controlar a resposta emocional e o prazer possibilita à criança o poder interno e este é a base para o poder externo.
A criança estabelece o poder mental sobre os sentimentos e impulsos. A vida começa a ser dirigida racionalmente.
A capacidade racional e as habilidades físicas ocupam o centro de suas atenções. Em tomo dos sete anos, a criança
empreende o movimento de ir para o mundo social. Necessita de modelos de comportamento social e de apoio para
ser bem-sucedida.

Os conflitos dessa fase têm sua origem na falta de modelos significativos e na falta ou na traição ao apoio
necessário. Normalmente as duas condições ocorrem juntas.

Tomemos o exemplo de um garoto. Ele necessita do modelo paterno de comportamento social. Se a mãe
desqualifica o pai ou se este for muito severo, distante ou frágil, o garoto volta-se para a mãe, retomando a
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identificação com ela. Normalmente contará também com muita sedução materna. Passará a ser o filho especial
que irá salvar a mãe daquele pai ou do mundo. Desloca toda a sua energia para a cabeça para enfrentar a vida
social. Carregará internamente uma identidade dupla: em parte identificada com o pai e em parte com a mãe. Para
ser o garoto especial, fez uma traição interna em relação à sua identidade masculina e mais tarde se sentirá também
traído pela mãe. Apresentará, a partir dai, um comportamento duplo: será o bom garoto, na aparência e terá o
comportamento psicopático oculto numa vida dupla.

Organiza assim a defesa psicopática. Com a menina ocorre a mesma dinâmica, porém na relação com o pai.
Outras situações podem também ativar esta forma de defesa.

A falta de apoio na fase de socialização da criança, a desorganização familiar, a recorrência de situações de


injustiça, a traição familiar em seu esforço de conquista social, etc. Todas as situações onde a criança necessita
crescer rápido, fazer esforço para sobreviver ou para suportar as injustiças, exigirão dela o abandono precoce da
infância e o uso prematuro de sua mente racional. para confrontar-se com o mundo. A sensação interna de traição
estará sempre presente. Mais tarde, na vida adulta, o temor de abandonar esta defesa estará associado com a idéia
de fracasso ou de morte. Pensemos um pouco nas crianças abandonadas, sem um lar organizado, das favelas ou das
ruas. Elas necessitam crescer rápido para enfrentar o mundo e garantir a sobrevivência. Para consegui-lo, terão que
acionar a defesa psicopática.

Corporalmente, a defesa psicopática organiza-se a partir do controle sobre o diafragma, desviando a energia de
volta para a parte superior do corpo, fornecendo assim a energia para o movimento de conquista, competitividade,
prestígio e poder no nível social. É o esforço que a criança fez para crescer logo, ser gente grande e enfrentar o
mundo. Esse bloqueio leva ao deslocamento da energia para cima, em direção à cabeça. A atitude de superioridade,
normalmente encontrada nessas situações, expressa a predominância da cabeça, do controle mental sobre a vida
afetiva e instintiva.
O poder interno garante e estimula o poder externo. A agressividade e o controle voltam-se contra a natureza
interna e externa, levando a uma atitude espoliativa sobre a vida e sobre o mundo natural e social.

Toda neurose traz implícita a fixação na vivência do poder, seja como algo buscado ou temido. Toda neurose tem,
portanto, um bloqueio diafragmático e uma não aceitação da vida em sua expressão natural. A busca de poder ou o
seu temor expressa diretamente o controle ou o temor frente às sensações vitais. O bloqueio das funções
respiratórias diafragmáticas, assim como das funções cervicais são pontos centrais em todas as neuroses.
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Podemos falar de fixações insatisfeita e repressiva ligadas à fase do poder.

A fixação insatisfeita leva a uma busca constante de conquista, domínio, posse, e subjugação do mundo. A pessoa
está sempre controlando o mundo externo. A busca básica é de dominação e controle sobre o mundo externo!

Na fixação repressiva existe a luta contra os impulsos e o temor de ser subjugado tanto interna quanto
externamente.

Na organização do caráter ocorre a superposição de duas ou três defesas, com uma delas predominando e
demonstrando um jeito específico do caráter. A relação entre as várias defesas é dinâmica e dependente da
economia do organismo.

O OBJETIVO DO NOSSO ESTUDO É PERCEBER A DINÂMICA DA DEFESAS E NÃO UM


DIAGNÓSTICO DE CARÁTER!

Material elaborado por Marise Eterna Nunes

Referencias bibliográficas

Anotações das aulas do Curso de Formação Reichiana com Dimas Calegari

Anotações das aulas do Curso de Graduação em Core Energética –segunda turma-1998 a 2001.

Alexander Lowen - O CORPO EM TERAPIA A ABORDAGEM BIOENERGÉTICA Summus Editorial

Bárbara Ann Brennan – LUZ EMERGENTE – Cultrix / Pensamento

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