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ESTRUTURAS DE CARÁTER

SEGUNDO A ANÁLISE
BIOENERGÉTICA

Adaptado do texto de José Henrique


Volpi e Sandra Mara Volpi
 A Análise Bioenergética desenvolveu uma
leitura própria da caractereologia reichiana.
Dessa forma, passou a utilizar denominações
específicas dos diferentes tipos de caráteres,
descrevendo, a partir de sua forma de
funcionamento na vida adulta, sua história e
seus bloqueios.
 A caractereologia somente faz sentido como
instrumento de mudança na vida de um
paciente, não tendo sentido sua utilização
como mero instrumento de classificação.
 A caractereologia aqui exposta parte da
definição de cinco tipos básicos propostos por
Alexander Lowen.
Estrutura de Caráter
Esquizóide
 Etiologia
 O comprometimento ocorre entre zero
e seis meses de vida. O
desenvolvimento foi interrompido
antes do nascimento, no parto ou nos
primeiros dias após o nascimento.
O útero é o primeiro meio
ambiente do bebê.

O bebê sofre constantemente com as


interferências do meio ambiente.

Qualquer substancia ingerida pela mãe


atinge o feto, o mesmo vale para as
emoções e estresse.

Isso provoca vários problemas, tanto físicos, quanto


psicológicos
 Fase do desenvolvimento
emocional em que se fixou
 Ocular, que corresponde à etapa de
sustentação (VOLPI & VOLPI, 2002).
Trauma vivenciado
Pode começar a ocorrer já durante o processo
gestacional.
Uma mãe que não deseja seu filho, não acolhe o feto nem
afetivamente, nem
energeticamente.

 O esquizóide tem um útero frio e não amoroso, uma


mãe rejeitadora.

(Brito, 2008)
 Trauma
 Dá-se quanto ao direito de existir, na
presença de uma mãe (ou substituto da
mãe) hostil e rejeitadora. O esquizóide
tem uma crença pessoal que se traduz da
seguinte maneira: "Não sou desejado
neste corpo, neste mundo..."
 O esquizóide é a criança odiada.
 Experiência emocional básica
 Rejeição.
 Conflito básico
 Existência X Necessidade. O
esquizóide parte do pressuposto de
que: "Posso existir se não tiver
necessidades".
Funcionamento básico
(atitude e sentimento)
 Há uma falta de conexão com as emoções; o
esquizóide busca resolução para tudo no intelecto.
É muito limitado na interação interpessoal. Os
relacionamentos geram-lhe tensão. Pode estar
devotado a uma visão de mundo espiritual, com
desprezo pelo mundo material. Funciona por
sobrevivência, mas sem acreditar nos valores da
vida. A sensação de si mesmo é cindida da
realidade material, bem como sentimentos e
sensações são dissociados de movimento,
criatividade. A vida também é desarticulada.
 Aspectos psicológicos
 A sensação é de estar
"desconjuntado". Estão presentes
medos de aniquilação, de
fragmentação, de deixar de existir.
Compensa os medos através da
intelectualização. Há ausência de
identificação com o próprio corpo.
Aspectos físicos
 Os olhos são vazios. Há tensão muscular na base do crânio
(especialmente no pescoço e nos ombros), no diafragma, nas
articulações, como se os segmentos estivessem cindidos. As
extremidades são descarregadas de energia. Mãos e pés são
frios. As partes do corpo não combinam entre si, parecendo
que o esquizóide é desconjuntado. Evidenciam-se
assimetrias (direita/ esquerda, frente/costas). A unidade
mente e corpo parece estar por um fio, localizando-se a
cabeça fora do fluxo energético do corpo. Está presente uma
"máscara" fria. Os movimentos são mecânicos. Há falta de
contato dos pés com o chão. O tórax, em geral, é expandido,
enquanto diafragma e abdômen são contraídos. O aspecto
geral é de enrijecimento.
 Padrões de contenção
 Apresenta contração muscular para se segurar
e não cair aos pedaços. Holdíng together.
 Energia
 É fragmentada.
 Sexualidade
 É predominantemente pré-genital. É utilizada
para canalizar todos os outros sentimentos,
inclusive a necessidade de aceitação, de amor.
 Aspecto geral
 Cisão, falta de contato, "como se".
 Terapia e Psicoterapia
 A tarefa é recuperar a confiança básica,
fortalecer os limites e o funcionamento do
ego, trazer ordem e materialização para
as qualidades criativas e espirituais de
sua essência, e assim, "encarnar",
afirmando seu direito de ser no mundo.
Estrutura de
Caráter Oral

 Etiologia
 O comprometimento ocorre entre os seis e
os 18 meses. O desenvolvimento foi
interrompido no período de amamentação
ou na primeira infância.
 Fase do desenvolvimento emocional em
que se fixou
 Oral, que corresponde à etapa de
incorporação (VOLPI & VOLPI, 2002).
 Trauma
 Relaciona-se ao direito de
receber suporte. "Fui
abandonado e não posso
sobreviver sozinho..." é a
crença do oral, que é a criança
abandonada.
 Experiência emocional básica
 Privação.
 Conflito básico
 Necessidade X Independência. "Posso
necessitar se for dependente".
Funcionamento básico (atitude e
sentimento)

 O oral é passivo, deprimido, dependente. A


dependência pode estar disfarçada em hostilidade.
"Suga" energia através de excessiva busca de
atenção. Tem dificuldade em assumir uma posição
em qualquer questão e em enfrentar oposição.
Revolta-se contra a necessidade de trabalhar.
Deseja ser sustentado pelos outros ou, num
extremo oposto, é exageradamente independente.
Há necessidade de aprovação e de apoio. O nível
de agressividade é baixo.
 Falta ao oral força de vontade. Tem
medo de obter o que deseja e se
decepcionar. É hiper- sensível e
irritável, pela ausência de couraças. A
tolerância à tensão é baixa. Há
ansiedade, narcisismo, exigência,
dificuldade em compreender desejos e
necessidades dos outros.
 Aspectos psicológicos
 Estão presentes medos de abandono, de
ficar em pé sozinho. O oral admite a
dependência ou compensa-a na fantasia.
Há sentimento de abandono, de privação,
de desapontamento, de solidão, de
injustiça. A imagem egóica é exagerada e
está em permanente conflito com
sentimentos de inadequação
Aspectos físicos
 O organismo é subcarregado, apresentando uma
fraqueza muscular generalizada. Os músculos
temporais, a mandíbula e a boca são tensos. Há
tensão também na cabeça, no pescoço e nos
músculos peitorais, formando um anel na cintura
escapular. O peito é afundado ou anormalmente
forçado para fora. As pernas são fracas e
contraídas. Os joelhos podem ser travados. O peso
é apoiado na coluna. Os pés têm os arcos caídos.
O corpo é alongado e constrito. Os olhos são
suplicantes. Há sinais de imaturidade (aspecto
infantilizado), ainda que muitas vezes o corpo
pareça ter amadurecido forçosamente.
 Padrões de contenção
 A estrutura é subcarregada, incapaz de
sustentar a si mesma e inexpressiva em
termos de necessidade e agressividade.
A tendência é a de segurar-se no outro.
Holding on.
 Energia
 É rebaixada. A respiração é mínima e
superficial.
 Sexualidade
 É utilizada para obter proximidade e contato, para
se preencher, ao invés de descarregar.
 Aspecto geral
 Maturação e independência forçadas.
 Terapia e Psicoterapia
 A tarefa é aceitar a realidade, apesar da raiva e do
medo de estar só; é necessário sustentar-se nas
próprias pernas, aprender a nutrir a si próprio e
também a compreender e suprir as necessidades
dos outros.
Estrutura de Caráter
Psicopático
 Etiologia
 Localiza-se entre um ano e meio e dois
anos de idade. O desenvolvimento foi
interrompido no nascimento do self
independente.
 Fase do desenvolvimento emocional em
que se fixou
 Anal (expulsiva), que corresponde à etapa
de produção (VOLPI & VOLPI, 2002).
 Trauma
 Refere-se ao direito de ser autônomo. O
psicopata sofreu sedução e invasão pelo
genitor do sexo oposto. O psicopata é a criança
possuída, usada.
 Experiência emocional básica
 Sedução.
 Conflito básico
 Vontade X Entrega. O psicopata acredita na
afirmação: "Posso ser independente se estiver
no controle e não mostrar a minha
vulnerabilidade".
Funcionamento básico
(atitude e sentimento)
 O psicopata controla, manipula, nega os
próprios sentimentos e os dos outros. Não
tem relacionamentos íntimos. A auto-estima
é extremamente vacilante, variando da
sensação de ser absolutamente superior à
de ser completamente inferior, da auto-
indulgência ao ódio por si mesmo. Vontade,
poder, controle e interesse próprio são os
principais motivadores de suas ações. Há
um forte investimento na imagem.
 Aspectos psicológicos
 Está presente o medo de perder o
controle, que corresponde ao medo de
perder o amor. Compensa o medo
através da afirmação de si mesmo, de
seu valor, elevando-se acima dos
outros e dos próprios sentimentos.
Aspectos físicos
 Cabeça, ombros e diafragma são tensos. Peito é
inflado. Cabeça e olhos são carregados. Os olhos
são particularmente controladores. Apresenta-se
uma forte cisão entre as partes superior e inferior
do corpo, sendo que o bloqueio localiza-se no
diafragma. A pelve é desconectada e a energia
sexual está em desequilíbrio. Há dois subtipos que
se diferenciam em seus aspectos físicos: o
psicopata tirânico, que apresenta alta carga na
parte superior do corpo e baixa carga na parte
inferior, e o psicopata sedutor, cuja aparência é
mais regular, mas o fluxo também é desequilibrado.
 Padrões de contenção
 Há desconexão entre as partes superior e
inferior do corpo, com uma tendência a
conter a energia para cima. Holding up.
 Energia
 É desequilibrada: alta na parte superior
do corpo; bloqueada na parte inferior do
corpo. É projetada para fora para
controlar, e não direcionada ao contato
com o self.
 Sexualidade
 É utilizada em nome do poder, do controle e não
da descarga. Cindida em termos de
coração/genital.
 Aspecto geral
 Negação.
 Terapia e Psicoterapia
 A tarefa é levar o psicopata a fazer parte da
humanidade, entregar-se à sua própria
humanidade, sentindo-se seguro para ter
sentimentos.
Estrutura de Caráter
Masoquista
 Etiologia
 Ocorre entre um ano e meio e dois anos e
meio de idade. O desenvolvimento foi
interrompido no treino ao toalete e na
alimentação. O masoquista foi humilhado e
se sentiu envergonhado. A independência
foi suprimida.
 Fase do desenvolvimento emocional em
que se fixou
 Anal (retentiva), que corresponde à etapa
de produção (VOLPI & VOLPI, 2002).
Trauma
 Relaciona-se à auto-expressão
independente. Há a figura de uma "mãe
sufocante", que condiciona amor à
obediência. Dá-se atenção excessiva à
alimentação e à evacuação, chegando a
serem forçadas e pouca ou nenhuma
atenção às necessidades emocionais.
Existe um trauma quanto à autonomia; uma
ameaça à independência. O masoquista é a
criança submetida, vencida.
 Experiência emocional básica
 Humilhação.
 Conflito básico
 Submissão X Independência. O
masoquista parte da crença de que:
“Posso estar perto e ser íntimo se não
for livre".
Funcionamento básico
(atitude e sentimento)
 Exteriormente, o masoquista é agradável e
polido. Tende a ser passivo e a se
sobrecarregar de trabalho para agradar aos
outros. É derrotista e auto-humilhante. Por
debaixo disso existe negatividade, contenção,
rebeldia, boicote. A negatividade expressa-se
em dúvida e desconfiança. Já a raiva toma a
forma de queixumes e lamentações. O
masoquista tem uma atitude provocativa que
gera respostas agressivas nos outros,
justificando assim a sua própria reação
explosiva.
 Aceita a realidade, mas luta ansiosamente contra
ela. Pode ser amargo e rancoroso. É compulsivo. A
expressão de afeição é difícil. Compensa
"comprando" afeto, tentando agradar. Há uma
aparente necessidade de derivar prazer da dor,
como um abrandamento da culpa. O impulso
agressivo é dirigido para dentro. Há negação das
necessidades espirituais e superênfase sobre
necessidades materiais. É obediente, ao mesmo
tempo em que mantém uma conduta provocativa.
Intimamente, o masoquista considera a si mesmo
como sendo superior aos outros.
Aspectos psicológicos
 Há medo da descarga, medo de ser
esmagado. O masoquista tem um
sentimento de pressão interna, a ponto de
"explodir", mas é incapaz de liberar. Vive
entre impulsos antagônicos, queixumes
(gratificação e frustração). Há sensação de
inferioridade. Sente culpa e vergonha dos
próprios desejos. O Superego é severo.
Aspectos físicos
 O corpo é denso, entroncado e sobrecarregado. Os
ombros, a garganta, o assoalho pélvico e os
músculos flexores são tensos. Entre o pescoço e a
pelve há um estrangulamento do tronco. O
abdômen é contraído. Os músculos da panturrilha e
da parte anterior das coxas são tensos,
acompanhados de compressão e achatamento das
nádegas (o que direciona energia para os genitais).
As nádegas são geralmente frias. A pelve mobiliza-
se apenas através da compressão das nádegas. O
pescoço é curto e grosso. Na respiração, suspira
freqüentemente em uma atitude de desesperança.
 Padrões de contenção
 O masoquista carrega o mundo nas
costas. O padrão é o de retenção.
Holding in.
 Energia
 É estagnada. Apresenta-se alta na coluna
cervical. A energia negativa está voltada
para si mesmo.
 Sexualidade
 É contida, submissa, explodindo apenas
eventualmente.
 Aspecto geral
 Retenção.
 Terapia e Psicoterapia
 A tarefa é alcançar auto-expressão
criativa e dessa forma, auto-afirmar-se.
Estrutura de Caráter Rígido
 (Fálico-narcisista e Passivo-feminino nos
homens; Histérica e Agressivo-Masculina
nas mulheres)
 Etiologia
 Ocorre entre os quatro e seis anos de
idade, na fase edipiana.
 Fase do desenvolvimento emocional em
que se fixou
 Fálica, que corresponde à etapa de
identificação (VOLPI & VOLPI, 2002).
 Trauma
 Refere-se à posse da própria sexualidade. Dá-
se em termos de rejeição sexual, que é sentida
como traição. O rígido é a criança explorada.
 Experiência emocional básica
 Traição.
 Conflito básico
 Sexo X Amor. A crença do rígido é de que:
"posso ser livre se não desejar nem me
entregar ao amor”.
Funcionamento básico
(atitude e sentimento)
 O rígido é arrogante e distante. Usa a
razão e a vontade em detrimento dos
sentimentos. É insensível aos
sentimentos alheios, tanto quanto aos
próprios. O intelecto e a vontade são
muito ativos. É incapaz de conectar
sentimentos do coração com
sexualidade.
Aspectos psicológicos
 O rígido sente-se ferido e rejeitado.
Tem medo da rejeição, de se entregar
ser traído. Há sensação de
desvalorização, compensada através
da performance.
Aspectos físicos
 O corpo é geralmente bem
proporcionado e forte. Há muitos
músculos com espasmos tônicos,
formando armaduras em placas.
Músculos ao longo da coluna e
músculos extensores são tensos. O
pescoço é endurecido e a mandíbula,
retida. A pelve é fria.
Padrões de contenção
 Armaduras. A tensão na parte
posterior do corpo mantém uma
atitude de desconfiança ao mesmo
tempo em que retém o impulso de
buscar e se abrir ao mundo. Holding
back.
 Energia
 É contida. Alta na periferia, nos centros
da vontade, mas não da receptividade.
 Sexualidade
 É utilizada em nome da performance,
cindida em termos de coração/genital.
 Aspecto geral
 Inflexibilidade.
 Terapia e Psicoterapia
 A tarefa é voltar a ter sentimento e
compaixão, abrindo mão do autocontrole.
No relacionamento romântico, deve
conectar os sentimentos do coração com
os sexuais, abrindo-se ao desejo.

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