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ORIENTAÇÕES PARA II EXERCÍCIO AVALIATIVO- “A DANÇA DO ACASALAMENTO”

Considerando as referências indicadas na disciplina sobre o tema da adolescência, o que foi


trabalhado nas aulas gravadas e nos encontros via zoom, proponha uma reflexão sobre as seguinte
questões abaixo. É importante que conceitue teoricamente o que for solicitado e que proponha
relação com o estímulo da “Família Dinossauros” apresentado.

1. Apresente e explique relação do adolescente com seu corpo.

O adolescente passa por um intenso trabalho psíquico de adaptação e período de espera,


que não tem data marcada para o fim e nem para o início, a fim de conduzir da melhor
forma possível essa reestruturação que envolve a sua própria identidade. Ou seja, a
adolescência fica conhecida como um período de angústia com as mudanças principalmente
do seu corpo.

Adolescer é um processo de algo novo a nível psíquico, ou seja, uma mudança de posição, de
criança para adulto. Todas essas questões produzem uma crise de identidade, característico
dessa nova posição que ele é convocado a assumir.

Todas essas modificações que ocorrem em relação ao corpo e ao psiquismo do sujeito


acarreta em um trabalho psíquico intenso, que envolve a transição da posição infantil para
outra posição, a de adulto. Onde à esfera biológica, são os primeiros efeitos da puberdade,
as mudanças corporais (troca de voz, maturidade dos órgãos genitais, etc.) que transformam
um corpo infantil em um corpo adulto. Logo, se torna necessário ao adolescente fazer um
trabalho psíquico de reapropriação da imagem corporal, essa construídas na infância no
processo de identificação ordenado pelo “estádio do espelho”.

O adolescente reedita suas identificações frente à relação com o Outro social, e se lança na
relação com o sexo oposto. Essa busca por novos pares ocorre para que a imagem de corpo
seja internalizada e possa abrir espaço para uma nova imagem corporal.

Todas as modificações que acontecem na adolescência, seja na esfera psíquica, seja na


esfera orgânica, podem causar certo estranhamento ao sujeito. O fato é que lidar com as
questões da puberdade acarretam sensações que fragilizam a sua psique e é por isso que o
adolescente têm tantas dificuldades de se colocar nesta nova posição subjetiva.

É necessário que ocorra uma mudança no olhar do Outro (outros adolescentes, outros
adultos) em relação ao adolescente, para que ele se coloque em uma posição diferente da
qual os pais o haviam colocado, para só assim, poder comprovar sua nova imagem, tanto
desejante quanto desejável e reconhecer seu valor.

A adolescência é, portanto, uma passagem a ser transitada, que se dá em um tempo, em um


corpo (erógeno), em uma determinada sociedade e contexto social e seu discurso. Então, é
um momento também de inúmeros conflitos, dúvidas e decisões, envolve o luto do corpo da
criança a fim de afirmar um corpo biológico em transformação.

Temos os três principais lutos nos quais, o luto pelo corpo infantil, pelos pais da infância e
pela identidade infantil. Assim, o adolescente sente seu corpo mudando e ao confirmar isso,
reafirma sua posição de sujeito frente a um social extremamente evocativo.

E com as relações às modificações corporais, como o crescimento dos seios, a adolescente


passa a procurar por imagens identificatórias em busca de uma simetria de seu corpo, e
também uma aceitação pelos outros de que seu corpo está diferente. A menstruação é um
marco que acontece nesse período para a menina, e pode ter sentidos diferentes
dependendo do contexto em que ocorrem, sendo acompanhada por sentimentos de
vergonha ou orgulho. Já para o menino, o que irá instigar sua relação com o outro sexo será
a voz e com ela, o ato de contar vantagens para impressionar ou ainda superar os amigos.

Nesse momento o adolescente irá identificar em qual posição ele se encontra frente ao
desejo do Outro, ao mesmo tempo em que este também passará por seu parecer,
qualificando ou não como desejável. Esta relação o fará enfrentar sua própria posição
assumindo uma responsabilidade sexual. Com isso o adolescente passará a vivenciar
experiências que possibilitem chamar a atenção e se colocar como objeto de desejo do
outro.

2. Explique a evidente transformação da relação do adolescente com seus pais/ cuidadores.


Na adolescência, a conflitiva edípica vivenciada na infância retorna, mas agora, o sujeito se
vê como capaz de realizar desejos proibidos, como o incesto. Para se defender, ele tende a
se distanciar fisicamente de seus objetos primários e da dominação parental,
enfrentando-os e expressando irritação.

Bob busca se distanciar de sua mãe, e se irrita sempre que a mesma tenta se aproximar. O
distanciamento e irritação são demonstrados quando Bob sai de casa sem avisar, e também
quando a mãe diz "eu nunca o vi tão irritado", e o pai completa "foi porque você falou com
ele". Além disso, a vontade de se distanciar da dominação parental é reforçada quando Bob
diz "eu só quero acabar logo com isso, não quero ficar na mão dos meus pais pelo resto da
vida". A medida que se afasta, Bob se protege dos objetos edípicos.

3. Proponha uma hipótese sobre a experiência de sofrimento do Bob em relação à “Dança do


Acasalamento”.

O psiquismo de Bob está passando, basicamente, por muitas mudanças e conflitos


relacionados à sua entrada na genitalidade. No período anterior, o da latência, existia um
psiquismo relativamente equilibrado. Na adolescência, por sua vez, ocorrem mudanças
nesse corpo que é responsável pela sustentação do Eu. Além disso, tais modificações
corporais somam-se a pulsões que agora ganham mais força. Isso rompe com o equilíbrio
que havia na latência e provoca um desajuste no psiquismo que exigirá um trabalho de
reestruturação. Sendo assim, ​“o jovem sente novas e intensas sensações, que por sua vez
reativam as representações prévias, mas ele não consegue significá-las”​(URIBARRI, 2004).
Todas as movimentações do corpo e do psiquismo nessa fase estão voltadas para uma
tentativa de organização do Eu. Assim, Bob precisa, literalmente, se reacomodar com os
novos movimentos de seu corpo, representados pela Dança do Acasalamento. Ele sente-se
desorientado e impotente diante do confronto com o seu corpo. É como o seu pai diz-lhe no
final da trama: “Você está dançando porque seu corpo está pronto para uma coisa que sua
mente ainda não entende. E ainda vai demorar muitos anos.”

Todas as modificações do corpo vão impulsionando o adolescente a produzir novas versões


sobre si. Ele passa por uma série de transformações do eu que irão consolidar o seu caráter,
mas o processo envolve também algum sofrimento psíquico. O período é demandante
pulsionalmente, biologicamente e socialmente. Envolve perdas e ganhos, além de
expectativas quanto ao tempo futuro. Segundo Uribarri (2004), “Ante a essa vivência ‘alheia’
e a desproteção frente ao embate pulsional crescente e as modificações corporais contínuas,
gera-se uma espécie de desorganização no psiquismo, e o ego, perturbado e transbordado,
defensivamente produz uma regressão, que reativa todos os elementos de sua
psicossexualidade infantil e também de modalidades egóicas, operando de forma alternativa
e, às vezes, confusa”. Assim, o adolescente se vê frente a uma condição de desamparo
similar àquela experimentada na infância.

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