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CENTRO UNIVERSITÁRIO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA-

IESB

PSICOLOGIA, CORPO E SEXUALIDADE

BRASÍLIA, 2015
INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo abordar os aspectos da sexualidade e das


mudanças corporais na adolescência e como tudo isso é assimilado. Levando em
consideração como essa maturação sexual está relacionada direta ou indiretamente
as transformações de personalidade, evolução psicológica e do desenvolvimento
psicossexual.
Conforme Sabini (2006) no livro "Psicologia do Desenvolvimento" a adolescência,
segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) se costuma entender o período
que se estende dos 12/13 anos aproximadamente os 20 anos. Trata-se de uma
etapa de transição, na qual não se e mais criança, mas não se tem o status de
adulto [...] estudiosos de campo tem questionado tal conceito como uma construção
natural. Nessa perspectiva, e preciso entender a adolescência como fenômeno
cultural produto ocidental do século XX, derivada de processos históricos, políticos,
sociais e econômicos. (SABINI, 2006).
A psicanálise sempre falou de dois períodos importantes do desenvolvimento da
sexualidade, ou seja, a primeira infância e a puberdade. Ambas essas fases surgem
sob a tutela das funções fisiológicas, como a lactância na criança e a maturação
genital na puberdade. Na psicologia pré-psicanalítica, a puberdade era considerada
o momento de início, físico e emocional do desenvolvimento sexual.
O período intermediário entre o primeiro florescimento da sexualidade infantil e a
sexualidade genital pubescente é denominado período de latência. “Cessa a
dependência total com relação aos pais e a identificação começa a tomar a
lugar do amor objetal” (Freud, 1936).
Segundo Freud (1912), em seu texto "Tipos de desencadeamento da neurose",
observa que existe na puberdade um aumento da quantidade de libido em sua
economia mental. “Este excesso libidinal perturba o equilíbrio e pode
desencadear uma neurose, o que exige do jovem um trabalho psíquico para
que a pulsão ganhe novos destinos” (Freud, 1912, p.296). Para Freud, o impacto
produzido no sujeito pelas mudanças corporais e a desorganização psíquica que
surgem neste momento da vida têm um papel importante no desencadeamento da
neurose, da perversão e da psicose.
Entre o declínio da sexualidade infantil e o início da puberdade, existe um período de
latência que coincide com a dissolução do complexo de Édipo. Como Freud (1905)
assinala, no período de latência a produção de excitação sexual não é interrompida
e produz uma reserva de energia que é utilizada para fins não sexuais. Essas
energias são sublimadas. “A sublimação permite que excitações
excessivamente fortes, que surgem de determinadas fontes da sexualidade,
encontrem uma saída e uso em outros campos. Esta é uma das origens das
aspirações estéticas, morais e intelectuais” (Freud, 1905, p.239).
Desde que deixa de ser um bebê o corpo do ser humano até a adolescência
mantém uma identidade; essa identidade sofre uma desorganização com a
emergência das características sexuais secundárias. As mudanças que ocorrem
nesse período levam a uma perda da antiga imagem corporal e da identidade
infantil, o que implica na busca de uma nova identidade. A menina adquire, agora,
um novo status e, com a chegada da menstruação, tem como tarefa psíquica que
definir seu papel e identidade sexual (Aberastury, 1990).
A adolescente precisa elaborar o luto pelo corpo infantil que vai perdendo, e aceitar
a chegada da menstruação, que lhe impõe uma definição sexual e de seu papel na
união com o par do sexo oposto e na procriação. A angústia e os estados de
despersonalização que, muitas vezes, acompanham esses momentos, devem-se,
segundo Aberastury (1990), à angústia de perceber que é o próprio corpo que
produz essas mudanças.
Além da falta do apoio social para lidar com suas transformações, os jovens
deparam-se com os modelos de beleza e com a extrema valorização da aparência
veiculada pelos meios de comunicação. Segundo Kehl (2001), a intensidade com
que os meios de comunicação atingem as culturas é mais intensa que a capacidade
de assimilação das pessoas, fazendo com que o que se vê seja incorporado sem ser
simbolizado.
Em nossa sociedade, há uma desconsideração da subjetividade e
uma supervalorização da imagem, um culto narcísico ao corpo, que é
vendido como objeto de consumo, onde, mais importante do que
sentir, pensar, criar, é ter medidas perfeitas, considerando-se o padrão
de magreza como ideal. Assim, a adolescente, que já tem que lidar
com suas transformações físicas, é colocado frente a esses modelos e
à impossibilidade de corresponder a eles. (KEHL, 2001, p. 46)

O excesso de preocupação com a aparência e o aumento da insatisfação com o


corpo, principalmente com o peso, na contemporaneidade, tem sido objeto de muitos
estudos científicos. Esse interesse é motivado pelo reconhecimento do crescimento
dos distúrbios alimentares principalmente em meninas adolescentes. A preocupação
com o peso é entendida como resultado da internalização de padrões irreais de
beleza, e, muitas vezes, predispõe as jovens à depressão. “Ao se defrontarem
com modelos geralmente fora dos padrões de normalidade, as jovens, que já
lidam com as dificuldades intrínsecas de possuir um corpo em transformação,
tendem, segundo esses estudos, a ter um autoconceito rebaixado”. (Striegel,
2001, p. 158-159).
CONCLUSÃO

Conclui-se que cada vez mais os adolescentes sentem esses impactos das
transformações corporais e sexuais, buscando uma adaptação nesse “novo mundo”
e uma reorganização da própria identidade. Nesse momento de transição, revela-se,
uma das fases mais difíceis do desenvolvimento tanto feminino quanto masculino,
onde as transformações do corpo trazem a angústia de não se saber exatamente
quem você é, o espaço que se ocupa naquele meio e o quanto se é amado e aceito
pelos outros da forma que ele realmente é sem precisar de mudanças. Os diálogos
são carregados de ambivalências, refletindo os diversos aspectos da idade, com
lutos, crises, angústias e profundas transformações no estado físico e psicológico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

● Campagna, Viviane Namur, & Souza, Audrey Setton Lopes de. (2006). Corpo
e imagem corporal no início da adolescência feminina. Boletim de
Psicologia, 56(124), 9-35. Recuperado em 09 de abril de 2015, de
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● Peter, B. (1994). Adolescência: Uma interpretação Psicanalítica. São Paulo:
Martins Fontes
● Santos, Tânia Coelho dos, & Zeitoune, Christiane da Mota. (2011). Amor,
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psicanalitico, 43(1), 85-108. Recuperado em 09 de abril de 2015, de
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● Freud, S. (1905/1980). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Obras
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● Freud, S. (1912b/1980). Tipos de desencadeamento da neurose. Obras
completas, ESB, v. XII. Rio de Janeiro: Imago.
● Coria, M. (2006) Psicologia do Desenvolvimento – São Paulo: Ed. Ática
● Aberastury, A. (Org.) (1990). Adolescência. (6ª ed.). (R. Cabral, trad.). Porto
Alegre: ARTMED.
● Kehl, M.R. (2001). A violência do imaginário. In: M. C. M. Comparato & D. S.
F. Monteiro (Orgs.), Mentes e mídia: diálogos interdiciplinares. (Vol.2, pp. 45-
60). São Paulo: Casa do Psicólogo.
● Striegel-Moore, R.H. (2001). The Journal of Pediatrics( pp. 158-159).

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