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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA- IESB

Ansiedade Inata e Esquiva Ativa

Brasília
Junho de 2015
A ansiedade é um estado emocional com componentes psicológicos e fisiológicos, que

faz parte do espectro normal das experiências humanas, sendo propulsora do

desempenho. Ela passa a ser patológica quando é desproporcional à situação que a

desencadeia, ou quando não existe um objeto específico ao qual se direcione.

Os transtornos de ansiedade estão entre os transtornos psiquiátricos mais freqüentes na

população geral. Além dos transtornos serem muito freqüentes, os sintomas ansiosos

estão entre os mais comuns, podendo ser encontrados em qualquer pessoa em

determinados períodos de sua existência. Lewis (1979) salienta que existem

manifestações corporais involuntárias, como secura da boca, sudorese, arrepios, tremor,

vômitos, palpitação, dores abdominais e outras alterações biológicas e bioquímicas

detectáveis por métodos apropriados de investigação. O autor lista ainda alguns outros

atributos que podem ser incluídos na descrição da ansiedade. A ansiedade pode: ser

normal ou patológica, ser leve ou grave, ser prejudicial ou benéfica, ser episódica ou

persistente, ter uma causa física ou psicológica, ocorrer sozinha ou junto com outro

transtorno, afetar ou não a percepção e a memória.

Pode-se notar que o conceito de ansiedade não envolve um resultado unitário,

principalmente no que se diz a respeito psicopatológico. A ansiedade pode ser

generalizada ou ter um foco em situações específicas, como nos transtornos de fobias. O

traço de ansiedade refere-se a diferenças individuais relativamente estáveis na

propensão à ansiedade, isto é, a diferenças na tendência de reagir a situações percebidas

como ameaçadoras com intensificação do estado de ansiedade. Os escores de

ansiedade–traço são menos sensíveis a mudanças decorrentes de situações ambientais e

permanecem relativamente constantes no tempo. (Andrade & Gorestein)

Já ansiedade-estado está ligada a um momento ou situação particular, causando um

estado emocional transitório.


No que diz respeito ao medo e à ansiedade e, de acordo com a perspectiva evolutiva,

tais emoções apresentam claro valor adaptativo e têm suas origens nas reações de defesa

que os animais exibem em resposta a situações de perigo e ameaça que podem

comprometer a sua integridade física ou sobrevivência (Graeff e Guimarães, 2001). A

diferença entre esses dois estados emocionais pode ser caracterizada em relação aos

estímulos e/ou situações que os desencadeiam, de forma que o medo surgiria diante de

situações claras e evidentes de ameaça e perigo, enquanto a ansiedade seria

desencadeada por situações onde o perigo é apenas potencial, vago e incerto (Blanchard

e Blanchard, 1990). A ansiedade e o medo são considerados estados emocionais

essenciais no repertório afetivo humano, tendo como função sinalizar e preparar o

organismo para situações de ameaça ou perigo. (Hackl, 2007).

Segundo Skinner e Vaughan (1985), a ansiedade em idosos está relacionada às

limitações vivenciadas na velhice e, na maioria das vezes, interpretadas como

ameaçadoras. As pessoas com altos níveis de ansiedade apresentam uma tendência de

antecipar sua inabilidade e questionar suas habilidades intelectuais.

O modelo do odor de gato foi proposto inicialmente por Blanchard e Blanchard (1989) e

consistia de um sistema de tocas, sendo posteriormente adaptado por Dielenberg e

colaboradores (1999) a uma caixa com dois ambientes separados. (Hackl, 2007). O

comportamento defensivo de roedores expostos a predadores ou ao odor deste predador

tem sido proposto como modelo para análise e compreensão das bases neurobiológicas

das emoções como medo e ansiedade. O estímulo do odor de gato representa uma

ameaça potencial (Blanchard e Blanchard, 1990; Pentkowski et al., 2006) pois provoca

comportamentos defensivos similares aos verificados quando o rato é exposto diante de

um gato (Blanchard et al., 1989; File et al., 1993; Dielenberg e McGregor, 2001). Este

estímulo tem a propriedade de causar redução na atividade locomotora e aumento no


comportamento de avaliação de risco, tempo de congelamento e esquiva da fonte

aversiva (Blanchard e Blanchard, 1989; Dielenberg e McGregor, 2001; Blanchard et al.,

2005).

Mulheres apresentam um risco significativamente maior comparado com o dos homens

para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade ao longo da vida. Vários estudos

apresentam evidências de que, entre as prováveis causas dessa diferença entre os sexos,

estão os fatores genéticos e a influência exercida pelos hormônios sexuais femininos. As

diferenças de gênero encontradas nos transtornos de ansiedade em relação ao início e à

evolução da doença indicam que é necessário investigar a necessidade de tratamentos

diferenciados para homens e mulheres. (Kinrys & wygant, 2005). O objetivo desse

relatório foi descrever o experimento laboratorial, ilustrando a diferença entre idade e

sexo com relação à ansiedade inata.

Método
O método utilizado foi o da caixa de escalada, onde o rato era colocado dentro da caixa

com pêlos de gatos (estímulo aversivo) e era observado a latência (tempo que levava

para se afastar do estímulo aversivo) e o tempo total que ele ficava se esquivando do

estímulo aversivo. A observação foi feita com um rato de cada vez, com o tempo de 5

minutos cronometrados para cada um.

Foram utilizados ratos Wistar albinos, sendo dois jovens (um macho e uma fêmea) de

32 dias e dois adultos (um macho e uma fêmea) de 82 dias provenientes do Biotério de

um Centro Universitário de Brasília. Participaram do experimento quatro estudantes de

graduação, com idade de 21,21, 25,32 anos respectivamente. Sendo composto de três

estudantes do sexo feminino e um estudante do sexo masculino.

Local

A sessão do experimento foi realizada no Laboratório de Psicofarmacologia de uma

Instituição de Ensino Superior, na cidade de Brasília/DF. O ambiente era equipado com

seis mesas revestidas de fórmica e cadeiras de madeira, o piso era de cerâmica branca

com paredes e persianas em tonalidades claras. Havia também armários, bancadas e

prateleiras.

Instrumentos

Uma caixa de escalada feita de metal

Pêlos de gato retirados duas horas antes do experimento

Procedimentos

Segundo as orientações do professor a prática tinha os seguintes passos:

1. Colocar pêlos de gato dentro da caixa de escalada;

2. Colocar o rato dentro da caixa;


3. Observá-lo dentro da caixa no tempo de 5 minutos;

Repetir o procedimento com os quatro ratos.

Resultados
Tabela 1: Latência e Tempo Total

Ratos Latência Tempo Total

1 0 0
2 0 2’’
3 0 3,28’’
4 3” 20”

25

20

15

Machos
Fêmeas
10

0
Jovens Adultos

Figura 1. Gráfico com resultados de Tempo Total dos ratos

A Figura 1 apresenta o gráfico resultante do tempo total de escalada dos ratos jovens e
adultos. Os ratos jovens obtiveram pouco tempo de escalada em comparação aos ratos
adultos. Percebe-se que o rato macho jovem não escalou a caixa, obtendo um tempo
total de 0.
Discussão

Analisando os resultados do experimento observou-se que não houve o resultado

esperado que fosse o de esquiva do rato em relação ao pêlo do gato. Apenas um animal

(fêmea adulta) teve o comportamento esperando. Os padrões comportamentais e as

reações fisiológicas ativadas em decorrência do contato com essas fontes sinalizadoras

(pêlo do gato) de perigo em potencial são utilizados como medidas de ansiedade e

geralmente apresentam grande correspondência com as medidas de ansiedade em

humanos. Assim que os animais eram colocados na caixa de escalada já tinham contato

com os pêlos, a primeira reação era se escalar, mais logo descia e ficavam em contato

com o pêlo. Mesmo os ratos não tendo o comportamento esperado do experimento, eles

se mantinham em alerta a todo instante, observado pelas orelhas dos animais estarem

todo instante levantadas, para melhor percepção dos sons do ambiente e possível alerta

de alguma outra ameaça. Segundo Gray & McNaughton (2000), a ativação do sistema

de inibição comportamental por estimulos aversivos condicionados ou estimulos inatos

de medo, desencadearia a supressão do comportamento em curso, podendo em casos

extremos, atingir a imobilidade tensa ou congelamento. A atenção seria direcionada a

estimulos novos ou potencialmente perigosos. Quando desencadeada por estimulos

novos, essa inibição seria acompanhada de uma estratégia de investigação cautelosa(

risk assessment). Porém esse sistema é acionado apenas quando existe conflito entre as

tendências de aproximação do perigo e de se esquivar, e não simplesmente em resposta

à presença de estímulos aversivos. Isso explicaria o porque dos ratos não terem emitido

as respostas esperadas do experimento. O fato do gato ser domesticado , pode também

ter alterado o resultado esperado, assim sendo tendo alteração do odor do pêlo do gato

comparado ao de gatos selvagens.


Conclusão

Em resumo, o ambiente e o fato do pêlo do gato ser de um animal domesticado foram

alguns dos possíveis fatores que influenciaram nos resultados obtidos no experimento,

chamando a atenção para somente um dos animais quer obtido os resultados esperados.

Sabendo que a ansiedade-estado está ligada a um momento ou situação particular e a

ansiedade-traço está relacionada a características individuais e disposicionais, leva-se

em conta que cada indivíduo traz consigo uma disposição maior ou menor de encarar as

situações como de esquiva, medo, ansiedade entre outras.


Referências Bibliográficas
● Lewis, Aubrey, and Aubrey Julian Lewis. The Later Papers of Sir Aubrey Lewis.
Oxford University Press, 1979.
● Andrade, L. H., & Gorestein, C. (s.d.). Aspectos gerais das escalas de avaliação
de ansiedade. Revista psiquiatria de clinica
● Hackl, L. P. (2007). Dissociação funcional Dorso-ventral do hipocampo na
medição do comportamento defensivo de ratos revelada pelo bloqueio dos
receptores glutamatórgica subtipo NMDA. Flrorianopolis, Santa Catarina,
Brasil.
● Kinrys, G., & wygant, L. e. (Outubro de 2005). Transtornos de ansiedade em
mulheres. Genero influência o tratamento. São Paulo, São Paulo, Brasil
● BLANCHARD, R.J., BLANCHARD, D.C. (1990) An ethoexperimental
analysis of defense, fear and anxiety. In McNaugthon, N. & Andrews, G. (Eds),
Anxiety. Otago University Press, Dunedin, pp. 124-133.
● DIELENBERG, R.A., ARNOLD, J.C., McGREGOR, I.S. (1999) Low-dose
midazolam attenuates predatory odor avoidance in rats. Pharmacology
Biochemistry Behavioral, 62:197-201.
● Skinner, B. F. & Vaughan, M. E. (1985). Viva bem a velhice: aprendendo a
programar a sua vida. (A. L. Neri, Trad.). São Paulo: Summus.

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