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da

seleção natural. A consciência possuiria assim, necessariamente, alguma


função adaptativa.

Este estudo evolutivo tem outra consequência importante. Tratase da definição


de quais animais do mundo contemporâneo são dotados de consciência e quais
não o são. É assunto de grande implicância moral. Pode influenciar a maneira
como tratamos e criamos os animais, o uso destes em experimentação científica
e até a definição de nosso cardápio. O filósofo australiano Peter Singer tem
dedicado sua obra à defesa dos animais, inclusive tornando-se vegetariano
radical (Singer P., 2002).

Não há como afirmar se um organismo é ou não consciente. Não existe um


marcador externo totalmente confiável. Os indícios de que dispomos referem-se
aos diversos graus de complexidade do sistema nervoso animal, sugerindo
escalonamento na capacidade de processar estímulos e do resultado destes
(Tabela 1).

Se avaliarmos a consciência refletindo uma habilidade do organismo para


identificar mudanças no meio ambiente e responder às mesmas, estaremos nos
referindo à consciência básica. A maioria dos animais deve ser capaz de
diferenciar matizes no tempo e espaço, de sentir algum tipo de fenômeno. Não
sabemos se os invertebrados, como insetos e moluscos, dispõem de
possibilidades deste tipo. Nos vertebrados inferiores, o sistema nervoso tem
organização suficiente para possibilitar o surgimento das imagens. Panksepp
acredita que esta consciência primitiva se construiu sobre a plataforma dos
complexos nervosos primitivos dos instintos e das emoções, que impulsionava
os animais para a ação (Panksepp, 2007). Nas aves e mamíferos, é muito
provável a formação de imagens complexas.

Por outro lado, se valorizarmos mais a capacidade de distinção e reconhecimento


dos objetos, seres ou situações, falaremos da consciência focal. Esta capacidade
só está disponível em animais com cérebro desenvolvido, com circuitos
aperfeiçoados da atenção, como as espécies elevadas de mamíferos. De fato,
muitos de nossos animaizinhos domésticos parecem conscientes, exibindo
comportamento que se assemelha ao nosso.

Se, finalmente, estivermos nos referindo às mais altas funções cognitivas, como
a capacidade de pensar sobre os próprios pensamentos, deveremos nos limitar à
abordagem da consciência superior. O pensamento abstrato, o
autorreconhecimento e a atribuição de estados mentais a outros indivíduos são
capacidades apenas dos primatas superiores. Nós.

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