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Um estudo fenomenológico da
metamorfose das plantas
Nós vivemos em uma época onde vemos o aumento da polarização entre teorias a respeito da
natureza da vida. Alguns pretendem que os mistérios da vida e do ser humano serão
descobertos através do deciframento do código genético, enquanto que outros urgentemente
demandam que a ciência seja moralmente, socialmente e ambientalmente responsável por
essas descobertas e essa associação com os avanços tecnológicos. A Física Quântica relembra-
nos que não existe uma linha verdadeira de separação entre a observador e o observado —
que o mundo não funciono de forma linear.
Mesmo para o cientista materialista mais determinado, a natureza é um sistema dinâmico não
linear. A totalidade da natureza não pode ser encontrada através da dissecção dos portes.
Esta visão do mundo natural tem conduzido à fragmentação da propriedade agrícola, onde o
plantio e manejo das culturas anuais e perenes, a exploração florestal e a criação animal eram
realizadas antes de forma conjunta , formando um sistema integrado e vivo, um organismo
cientista Johan Wolfang Goethe (1749 — 1832) alertou há 200 anos atrás. Ele propôs
uma metodologia participativa para estudar e descobrir a presença de
leis no mundo natural.
Conforme Goethe, “se nós pudéssemos ter, de alguma forma, uma intuição
vital da natureza, deveríamos esforçar-nos por conservar-nos tão
flexíveis e maleáveis, quanto ela mesma (3)”.
A vida e os processos relacionados com ela não são lineares, mas eles
têm direção. Esta direcionalidade segue padrões que obedecem as leis da natureza. Foi
através de sua missão de descobrir e “conhecer” a unidade e presença de leis na natureza, e
especialmente devido a suas observações das plantas, que Goethe descobriu e desenvolveu
O princípio básico do método científico de Goethe é que nós mesmos nos devemos
incorporar na experiência do fenômeno, fazendo-nos parte dele durante toda a
pesquisa, em vez de especular em torno dele ou substituí-lo por um conceito
abstrato ou um modelo matemático.
Goethe não aceitava a substituição da observação pessoal pelo estudo com o uso de
instrumentos e equipamentos de medição, que tendem a substituir a experiência do
objeto sob estudo por um modelo matemático. Esta substituição pode servir para
acumular informação, mas não conduz a uma compreensão do fenômeno ou a uma
forma de interagir com ele. Através da experiência ele procurava encontrar a idéia ou lei
básica da própria natureza, o ideal a partir do qual a diversidade de experiências se desdobra
no mundo sensorial.
“Goethe queria mostrar como todas as divisões da ciência natural — história natural,
física, anatomia, química, zoologia e fisiologia - devem trabalhar em conjunto para
que um nível superior de contemplação possa usá-las para explicar os processos e
transformações que ocorrem nos seres vivos” (9). “Seu objetivo era criar uma nova
ciência, uma morfologia geral dos organismos” (10). Ele não procurava o conhecimento
através de fenômenos individuais isolados, mas sim a partir das inter-relações entre
os diferentes organismos, seres e formas existentes.
Como pode urna ciência individualizada ser um recurso confiável para o conhecimento? Em
relação a isto, Frederick Amrine, aprendiz de Goethe, diz, “eu acredito que o método de
Goethe é uma solução atrativa para este dilema. Primeiro devemos confiar no que aparece e
em segundo lugar devemos aceitar a importância do raciocínio na percepção ao mesmo tempo
que procuramos afanosamente uma maior objetividade (15).
Este método constituiu “um ponto de equilíbrio entre a contemplação imparcial do fenômeno e
a implementação e controle das condições experimentais” (16). O temor da subjetividade
dissolve-se através de um esforço consistente e de uma metodologia rigorosa e
autocrítica do cientista. Desta forma, a experimentação não é testada questionando uma
expressão matemática abstrata, que substitui o fenômeno, mas questionando o próprio
fenômeno (17). “Todos os fenômenos têm uma estrutura conceitual racional. O
completo entendimento do fenômeno pode levar sua estrutura racional a
autoconsciência, e isto deve ser o objetivo da ciência fenomenológica” (18). A este
respeito, o cientista fazendo o melhor uso de seus sentidos, intuição e raciocínio
acompanharão fielmente a experiência do fenômeno. Para entender o pensamento
científico de Goethe, deve-se praticá-lo, e isto requer uma mentalidade aberta e
disciplina na observação do fenômeno e ausência de julgamento. Goethe adverte
contra uma visão antropocêntrico do mundo natural, ao invés disso ele procuro
conhecer os fenômenos por dentro e fora deles (19).
Por exemplo:
“Uma grande dificuldade surge quando uma pessoa ávida de conhecimento quer ver a
natureza como ela ocorre realmente e sua relação com o entorno. Por um lado ela perde a
valiosa referência do ponto de visto humano, em relação a ela mesma. A idéia de prazer,
desprazer, atração e repulsão devem ser eliminadas e deve-se procurar uma postura neutra,
procurando e examinando o que é, e não o que gostaria que fosse. Desta forma, o verdadeiro
botânico deve permanecer impassível ante a beleza ou utilidade de uma planta; ele deve
estudar sua formação e suas relação com outras plantas”.
Como o sol que ilumina todas as plantas, o cientista deve olhar igualmente para todas os
plantas e procurar fazer suas observações não a partir dele próprio mas sim o partir do
universo do que ele observa (20). Goethe confiava na estética e raciocínio do ser humano. O
estudo científico deve aproximar-nos da natureza, não distanciar-nos ainda mais de nossa
experiência e do nosso conhecimento. Goethe acreditava que o estudo científico poderia
provocar uma metamorfose do cientista. Cada novo objeto, adequadamente contemplado, nos
abre uma nova oportunidade de aprendizado. O cientista torna-se o instrumento através
do qual o fenômeno se manifesta. Dois séculos na frente de seu tempo, Goethe sinalizou
sobre a urgência de reunir o ser humano e o resto do mundo natural através da experiência e
A presença de leis na natureza que Goethe procurava estudar foi denominada por ele como o
fenômeno arquetípico (Urphenomen) (22). Ele é a unidade ideal de um fenômeno a partir do
qual surge a diversidade de experiências ou formas. Goethe quis desenvolver a idéia da
natureza da forma mais clara possível e a partir daí descer do perfeito para o imperfeito, para
poder entender o término começando pelo início (23). Goethe vê em cada forma individual
apenas o desenvolvimento particular diferente do arquétipo ideal que se encontra em todas as
formas (24). Dá-se a idéia de que nós podemos conhecer o fenômeno em suas formas mais
complexas e perfeitas, e a partir destas idéias nós podemos entender as mais simples e
imperfeitas formas conforme elas são manifestas através da diversidade do que observamos
no mundo natural. “A diversidade surge quando algo, que na idéia é igual, pode existir em
diferentes formas no mundo perceptivo” (25). Com esta visão nós não eliminamos ou
reduzimos a complexidade da natureza. O pensamento se mobiliza em direção oposta ao
reducionismo, enquanto que normalmente a complexidade dos fenômenos é substituído ou
reduzido a formas mais simples.
A experiência do fenômeno arquetípico não é um produto terminado, mas em atividade
verdadeira (26). Steiner chamou isto de “uma experiência de grau superior contida na
experiência” (21). Através do treinamento da habilidade de observação e tornando-se
cada vez mais consciente de sua própria capacidade de conhecimento, o estudioso
pode ser levado em direção a uma experiência da “idéia dentro da realidade” (28).
Através desta atividade começamos a ver como o todo (a idéia) não é a acumulação
ou soma das partes (experiência). Pelo contrário, o todo pode ser visto em todos as
partes, e cada parte, propriamente dito, é uma reflexão do todo (29).
O universal e o particular, a idéia e a experiência participam de uma relação que transcende a
lógica. Elas se tornam recíprocas, uma totalidade unificada e orgânica (30).
O todo (a idéia ou fenômeno arquetípico) é refletido em cada experiência particular do
fenômeno.
Na sua obra “Metamorfose das plantas”, Goethe descreve como o órgão arquetípico realiza
esta trindade de estágios de expansão e contração através do ciclo de vida da planta. Ele vê as
plantas que florescem como a forma mais complexa e ideal no reino vegetal e tenta
compreender as leis que atuam neste fenômeno antes de descer para as plantas inferiores
como as samambaias e briófitas. Aqui nós vemos em sua metodologia, a idéia da unidade na
multiplicidade — como a idéia arquetípica é refletida dentro de todas as partes (35). O
primeiro estágio de expansão tem lugar quando a semente germina e a planta cresce até
seu estágio “de folha”. No próprio período de enfolhamento, nós podemos também ver as
transformações que ocorrem na planta. Riegner relata que a planta existe dentro de
polaridades de iluminação e umidade, entre o solo (escuro e úmido) e o ar (luminoso e seco).
Se nós observarmos o caule da planta de baixo para cima (ou de um clima úmido e de baixa
luminosidade para um clima seco de alta luminosidade), as folhas tendem a mudar de formas
redondas e menos diferenciadas para outras que são mais retas, diferenciadas e contraídas. No
fim deste estágio, as folhas se contraem formando o cálice (folhas modificadas ou sépalas)
(36).
Desta forma, nós podemos ver a planta arquetípica, em uma das suas infinitas
manifestações, através da expressão de cada espécie, na sua seqüência
metamórfica.
“Nossa tarefa, então, é aprender a ver as plantas de tal forma que cada espécie do reino
vegetal se torne aparente. A planta arquetípica é o elemento criativo no mundo das plantas.
Se nós queremos explicar uma espécie individual de plantas, nós devemos mostrar como este
elemento criativo atua em um caso particular” (38).
O potencial para adotar esta idéia do arquétipo, de uma planta em particular, está presente em
todas os partes da planta, em várias formas, em cada transformação de seu processo de
metamorfose.
UM PARALELO:
Goethe
Referências
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of Huwaii Press, 1952).
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(6) (18) (32) (34) R.H. Brady, “The Idea in Nature: Rereading Goethe’s Organics”, in Goethe’s
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(13) (29) H. Bortoft, The Wholeness of Nature: Goethe’s Way Toward a Science of Conscious
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