Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
01
Lobo piramidal da glândula tireoide
em fetos humanos: relato de casos e
revisão da literatura
10.37885/220207676
RESUMO
RELATO DE CASOS
Leitura de Prova 3
na borda superior do istmo, à direita da linha média e adjacente ao lobo direito da glândula
(Figura 1b); e o terceiro feto do sexo feminino, com aproximadamente 32 semanas de idade,
a base do lobo piramidal estava situada na borda superior do istmo, à esquerda da linha
média e mais próximo do lobo esquerdo da glândula tireóide (Figura 1c). Também foram
realizadas medidas morfométricas de todos os LP encontrados (Tabela 1)
Identificação
Medidas
Feto 1 Feto 2 Feto 3
Figura 1. Fotografia de três glândulas tireoideas mostrando a posição dos lobos piramidais.
Legenda
LP - Lobo piramidal da glândula tireoide
LD - Lobo direito da glândula tireoide
LE - Lobo esquerdo da glândula tireoide
4 Leitura de Prova
DISCUSSÃO
Desde que o LP da glândula tireoide foi descrito pela primeira vez em 1749 por Pierre
Lalouette de Vernicourt (glândula de Laloutte), sua incidência e variação morfológica têm
sido estudadas em relação a sua presença, posição, tamanho e extensão.
A maior parte das variações da glândula tireoide deve-se à persistência do ducto tireo-
glosso, e a mais comum delas decorre pela presença do LP (ZIVIC et al., 2011). Esse pode
alcançar o osso hioide ou ainda ser fixado por meio de um feixe fibroso ou fibromuscular,
conhecido como músculo levantador da glândula tireoide (RANADE, et al., 2008; WINESKI,
2019, PACÍFICO, et al., 2019).
Em geral, a localização do LP da glândula tireoide é descrita como situada no bor-
do superior do istmo (base de conexão entre os lobos da glândula tireóide) ou adjacente
aos lobos laterais. Entretanto, parte da literatura tem admitido que a base desse lobo está
frequentemente localizada mais à esquerda da linha média do bordo superior do istmo
(BRAUN et al., 2007; RANADE et al., 2008; NURUNABBI et al., 2010; STANDRING, 2010;
AYANDIPO, AFUWAPE, SONEYE, 2018). Em nosso estudo, a base dos três lobos pirami-
dais das glândulas tireóideas estavam situadas em posições diferentes: em um feto, na linha
média do bordo superior, no outro a direita e o terceiro à esquerda do bordo superior do
istmo da glândula tireoide. Alguns estudos também relatam que, os lobos piramidais podem
não estar relacionados ao istmo, mas associados aos lobos direito ou esquerdo da glândula
tireoidea (OZGUR et al., 2011; PARK et al., 2012). Em casos mais raros, há a existência de
um LP duplo (HAKEEM, et al., 2019; JOSHI et al., 2010; OZGUR et al., 2011).
Dados entre vários autores apontam que a ocorrência do LP tem sido muito variável,
seja através de dissecação de cadáveres adultos ou de fetos, como também durante a rea-
lização de diferentes tipos de exames de imagens (ultrassonografia, cintilografia, tomografia
computadorizada), realizadas para o diagnóstico de patologias do pescoço, especificamente
nas doenças da tireóide (hipotireoidismo, hipertireoidismo, bócio, nódulos na tireoide, câncer
de tireoide) ou nas cirurgias da tireóide (tireoidectomia total ou parcial com ressecção do
lobo piramidal se presente) (Tabela 2).
Leitura de Prova 5
Tabela 2.Prevalência do lobo piramidal realizados por vários autores.
Sexo
Masculino Feminino
OZGUNER & SULAK, (2014) Cadáveres de fetos Turquia 29,5 47,46 52,54
ANUPRYA & KALPANA, (2016) Cadáveres de fetos Índia 30 - -
Cadáveres de adultos
ALL-AZZAWI & TAKAHASHI, (2021) Reino Unido 30 50 50
e fetos
RAJKONWAR & KUSRE, (2016) Cadáveres de adultos Índia 38,75 58 42
MILOJEVIC et al., (2013) Cadáveres de adultos Sérvia 55,2 53,12 46,87
VEERAHANUMAIAH, DAKSHAYANI,
Cadáveres de adultos Índia 46 70,73 29,27
MENASINKAI, (2015)
NURUNNABI et al., (2010) Cadáveres de adultos Índia 41,67 84 16
RANADE et al., (2008) Cadáveres de adultos Índia 58 100 -
JOSHI et al., (2010) Cadáveres de adultos Índia 37,77 100 -
BRAUN et al., (2007) Cadáveres de adultos Áustria 55 56,25 43,75
BRAUN et al., (2007) Cintilografia Áustria 13 - 100
CENGIZ, SAKI, YÜREKLI(2013) Cintilografia Turquia 18 19 81
MORTENSEN, LOCKYER, LOVEDAY
Ultrassonografia Reino Unido 21 74,44 22,44
(2014)
KIM, KIM, SUNG, (2014) Ultrassonografia Coréia do Sul 50,6 15,85 84,15
T o m o g r a f i a
KIM, KIM, SUNG, (2014) Coréia do Sul 59,3 16 84
computadorizada
T o m o g r a f i a
KIM et al., (2013) Coréia do Sul 46,6 70,64 29,36
computadorizada
T o m o g r a f i a
PARK et al., (2012) Coréia do Sul 41,3 26,67 73,33
computadorizada
GERACI et al., (2008) Cirurgia Itália 12 57 43
GURLEYIK et al., (2015) Cirurgia Turquia 65,7 24,77 75,23
ZIVIC et al., (2011) Cirurgia Sérvia 61 6,56 93,44
AYANDIPO, AFUWAPE, SONEYE,
Cirurgia Nigéria 44 13,2 86,8
(2018)
Ao analisar a presença do LP por sexo, muitos autores diferem quanto a sua ocorrência.
Para ZIVIC et al., (2011); KIM et al., (2013); PARK et al., (2012); e AYANDIPO, AFUWAPE,
SONEYE, (2018) o LP seria mais presente no sexo feminino. Achado que está de acordo
com nosso estudo, em que todos os lobos piramidais foram encontrados em fetos do sexo
feminino. De acordo com os estudos de RANADE et al., (2008); NURUNNABI et al., (2009);
VEERAHANUMAIAH, DAKSHAYANI E MENASINKAI, (2015) e RAJKONWAR & KUSRE,
(2016), esse lobo seria mais frequente no sexo masculino do que no feminino. Por outro lado,
MILOJEVIC et al., (2013); ALL-AZZAWI & TAKAHASHI, (2021) relataram que não existia
predominância significativa entre sexo e a presença do LP.
O conhecimento do LP como parte da glândula tireoide é muito importante, pois pode
ser afetado pelas mesmas doenças que acometem o restante da glândula, tornando-se dessa
maneira, um local de possíveis doenças recorrentes (ZIVIC et al., 2011). Outrossim, segundo
o estudo de ROSÁRIO, et al., (2004), sobre tratamento cirúrgico do carcinoma diferenciado
de tireoide, se qualquer remanescente da glândula tireoide, que é responsável pela absorção
da maior fração de iodo do corpo humano, e em especial do LP, for deixado em pacientes
6 Leitura de Prova
que necessitam de iodo radioativo pós-operatório, os benefícios desse tratamento poderão
ser reduzidos, pois esse remanescente absorveria grande parte ou, até mesmo, todo o iodo
utilizado. Desse modo é muito importante para os cirurgiões de cabeça e pescoço o conhe-
cimento da existência do LP durante o pré-operatório para obtenção maior de sucesso na
realização das cirurgias de tireoidectomias totais ou parciais e, assim, alcançar um ótimo
acompanhamento no pós-operatório.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
1. AL-AZZAWI, A.; & TAKAHASHI, T. Anatomical variations of the thyroid gland: An experimental
cadaveric study. Ann. Med. Surg (Lond)., v. 8, n. 70, p. 102823, 2021.
2. ANUPRIYA, A.; KALPANA, R. Morphological and Histological Features of Human Fetal Thyroid
Gland. IJSS., v. 3, n. 10, p. 136-140, 2016.
4. BRAUN, E. M. et al. The pyramidal lobe: clinical anatomy and its importance in thyroid surgery.
Surg. Radiol. Anat., v. 29, n. 1, p. 21-7, 2007.
5. CENGIZ, A.; SAKI, H.; YÜREKLI, Y. Scintigraphic evaluation of thyroid pyramidal lobe. Mol.
Imaging. Radionucl. Ther., v. 22, n. 2, p. 32-5, 2013.
6. GERACI, G. et al. The importance of pyramidal lobe in thyroid surgery. G. Chir., v. 29, n. 11-
12, p. 479-82, 2008.
7. GURLEYIK, E. et al. Pyramidal Lobe of the Thyroid Gland: Surgical Anatomy in Patients Un-
dergoing Total Thyroidectomy. Anat. Res. Int., v. 2015, n. 384148, 2015.
8. HAKEEM, A. H. et al. Double Pyramidal Lobe of the Thyroid Gland a Rare Variation: Case
Report. Indian. J. Surg. Oncol., v. 10, n. 2, p. 385-388, 2019.
9. JOSHI, S. D. et al. The thyroid gland and its variations: a cadaveric study. Folia. Morphol
(Warsz)., v. 69, n. 1, p. 47-50, 2010.
Leitura de Prova 7
10. KIM, D. W. et al. The prevalence and features of thyroid pyramidal lobe, accessory thyroid,
and ectopic thyroid as assessed by computed tomography: a multicenter study. Thyroid., v.
23, n. 1, p. 84-91, 2013.
11. KIM, K. S.; KIM, D. W.; SUNG, J. Y. Detection of thyroid pyramidal lobe by ultrasound versus
computed tomography: a single-center study. J. Comput. Assist. Tomogr., v. 38, n. 3, p.
464-8, 2014.
12. LARSEN, W. J. Human Embryology, 3rd Edition, New York: Churchill Livingstone, 2001.
13. MILOJEVIC, B. et al. Pyramidal lobe of the human thyroid gland: an anatomical study with
clinical implications. Rom. J. Morphol. Embryol., v. 54, n. 2, p. 285-9, 2013.
14. MOORE, K. L.; DALLEY A. F.; AGUR A. M. R. Anatomia orientada para a clínica. 8ª. Edição,
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan Ltda. 2020.
15. MORTENSEN, C.; LOCKYER, H.; LOVEDAY, E. The incidence and morphological features of
pyramidal lobe on thyroid ultrasound. Ultrasound., v. 22, n. 4, p. 192-8, 2014.
16. NURUNNABI, A. S. M. et al. Morphological and Histological Study of The Pyramidal Lobe of
The Thyroid Gland in Bangladeshi People - A Postmortem Study. Bangladesh. J. Anat., v. 7,
n. 2, p. 94–100, 2010.
17. OZGUNER, G.; & SULAK, O. Size and location of thyroid gland in the fetal period. Surg. Radiol.
Anat., v. 36, n. 4, p. 359-67, 2014
18. OZGUR, Z. et al. Anatomical and surgical aspects of the lobes of the thyroid glands. Eur. Arch.
Otorhinolaryngol., v. 268, n. 9, p. 1357-63, 2011.
20. PARK, J. Y. et al. The prevalence and features of thyroid pyramidal lobes as assessed by
computed tomography. Thyroid., v. 22, n. 2, p. 173-7, 2012.
21. RAJKONWAR, A. J; KUSRE, G. Morphological Variations of the Thyroid Gland among the
People of Upper Assam Region of Northeast India: A Cadaveric Study. J. Clin. Diagn. Res.,
v. 10, n. 12, p. AC01-AC03, 2016.
22. RANADE, A. V. et al. Anatomical variations of the thyroid gland: possible surgical implications.
Singapore. Med. J., v. 49, n. 10, p. 831-4, 2008.
23. ROSÁRIO, P. W. et al. Correlation between cervical uptake and results of postsurgical radioio-
dine ablation in patients with thyroid carcinoma. Clin. Nucl. Med., v. 29, n. 6, p. 358-61, 2004.
25. STANDRING, S. Gray’s Anatomia: A base anatômica da práticaclínica. 40. ed., Rio de Janeiro:
Elsevier, 2010.
8 Leitura de Prova
27. WINESKI, L. E. Snell”s clinical anatomy by regions. 10ªedition, Philadelphia: Wolters Kluwer,
2019.
28. ZIVIC, R. et al. Surgical anatomy of the pyramidal lobe and its significance in thyroid surgery.
S. Afr. J. Surg., v. 49, n. 3, p. 110, 112, 114 passim, 2011.
Leitura de Prova 9