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Análise Psicológica (1988).

1 (VI): 47-78

Comportamento e evolução

RICARDO SERRÃO SANTOS (*>

It will be universdly admited that instincts are as impor-


tant as corpored structures for the wdlfare of each species,
under its present conditions of life. Under changed conditions
of life, it is at least passible that slight modifications of ins-
tinct might be profitable to a species; and if it can be shown
that instincts do vary ever so little, then I can see no diffi-
culty in natural selection preserving and continually accumu-
lating variations of instinct to any extent that may be profi-
table. It is thus, I believe, that all the most complex and
wonderful instincts have originated.
Charles Darwin

INTRODUÇÃO Isto significa que quer os etólogos quer


os psicólogos comparativos, começam por
Com Charles Darwin o estudo da evolução examinar o comportamento da mesma for-
do comportamento começa p r ser uma ma que os zoólogos examinam qualquer
extensão do estudo da evolução orgânica outra característica animal -
Dewsbury
em geral, que se desenvolve a partir da (1794a) apresenta um excelente trabalho
zoologia. As modernas perspectivas desse sobre a origem, estabelecimento, evolução
estudo manterão indelével aquela filiação. e relações destas duas escolas. Esta revisão
As duas principais correntes teóricas em foi recentemente ampliada pelo autor (Dews-
que os cientistas se dissociaram nos finais bury, 1985).
da primeira metade deste século, a escola Representativa desta filiação zoológica é
objectivista (ou etdógica) e a escola da a ideia dos quatro pilares metodológicos com
psicologia comparada, far-se-iam sempre que Nikolas Tinbergen procurou estabelecer
depositárias daquela tradição, tendo aliás os fundamentos da etologia.
contribuído, de diversas formas para a sua
Tinbergen dividiu as questões sobre o
justificação, coerência e consolidação (Dews-
comportamento em quatro categorias: o
bury, 1974a).
estudo das causas, o estudo do desenvolvi-
mento, o estudo do valor de sobrevivência
(*) Universidade dos Açores. e o estudo da evolução. O entrosamento

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zoológico desta perspectiva é evidente: a de uma variável, QU de um conjunto de va-
primeira categoria procura estabelecer os riáveis do mesmo tipo. Este princípio não
tipos de controlo causal imediato dos com- se restringe somente aos estudos da evolu-
portamentos alicerçando-se assim, prioita- ção orgânica. Ele alarga-se a outras áreas
riamente, na fisiologia. A segunda procura do conhecimento. É exemplo disso a plane-
responder a questões do génerc;: d o m o é tologia. As respostas mais pertinentes sobre
que os indivíduos crescem de modo a tor- a origem .e evolução da Terra começaram
narem-se organismos que respondem de a ser obtidas quando se pôde dispor de
determinado modo, e começa assim por dados sobre os outros planetas (Allègre,
interessar a refilexão ontogenética. A ter- 1982). As inferências comparativas ajuda-
ceira pretende correlacionar os comprta- r a m a desocultar alguns segredos do nosso
mentos dos animais com os problemas que planeta-mãe.
se colocam aos organismos na sua relação A evolução é, por natureza, mudança,
com o meio integrando-se deste modo na desvio, clivagem, diferenciação na organi-
dimensão ecológica. Por último, a dimensão zação; numa palavra diferença. Ora, os
evolutiva, procura estabelecer as razões por «signos)) deste tipo de processo não sobres-
que é que as espécies resolvem 06 seus pro- saem na observação de uma única entidade.
blemas do modo mmo o fazem e, quando Revelam-se isso sim, a partir do reconhe-
p í v e l , formular hipóteses sobre a possí- cimento das semelhanças e diferenças entre
vel origem filogenética de comportamentos espécies aparentadas, e, mesmo, entre cate-
específicos. gorias zoológicas mais vastas como as famí-
Ao longo deste artigo é, fundamental- lias, as ordens e OJ tfilos.
mente, com questões relacionadas com o
estudo de evolução do comportamento de
que nos vamos ocupar. Níveis do método compcnraitivo
Neste contexto, e assumindo a tradição
darwiniana, o comportamento é i n t e r n e Dewsbury (1978) distingue dois níveis bá-
tado como um traço do conjunto geral que sicos no estudo da evolução do comporta-
equipa os seres vivos na sua luta pela sobre- mento animal: o nível da espécie e o nível
vivência e reprodução. Em termos evolutivus filético.
está submetido aos mesmos pradigmas que Mais adiante estenderemos esta distinção
explicam a origem e variação nas cartec- ao nível dos indivíduos e ao nível das popu-
terísticas morfológicas e fisiológicas no lações.
mundo animal e vegetal:

(i) produção constante e aleatória de NÍVEL DA ESPÉCIE


diversidade genética na população, e
(ii) selecção natural que determina a re- Para o estudo das variações comporta-
presentação diferencial dos diferentes mentais a este nível comparamos espécies
genes e combinações de genes de ge- muito próximas, procurando ((definir de
ração para geração. forma clara, e até medir, um determinado
padrão de comportamento)) @ewsbury, op.
cit.). Estabelecida a comparação procura-
O MÉTODO COMPARATIVO mos isolar diferenças e semelhanças com o
objectivo de reconstituir as r e l a ç k exis-
No estudo da evolução pouco avançamos tentes entre 06 padrões de comportamento
se nos concentrarmos apenas na oibservafio das diferentes espécies.

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Este tipo de análise permite estabelecer a comparar fazem parte de reportófios
inferências, relativamente fiéis, sobre a evo- comportamentais de categorias taxonómicas
lução dos comportamentos. Inferências ba- filogeneticamente mais distanciados torna-
seadas em sequências graduais de espécies -se mais ((difícil distinguir de entre os mui-
permitem estabelecer ((fortes inferências tos factores que diferenciam as espécies
comparativas)). Quando falham graus nas aqueles que estão seguramente relacionados
sequências, elas dizem-se fracas. com a diferença que ncs interessa)) (Dews-
Clutton-Brock e H m e y (1984) isolam bury, op. cit.). Por outro lado, sendo as
de forma muito clara a principal vantagem diferenças geralmente pouco graduais, e
e a maior limitação deste tipo de compa- portanto difíceis de medir de forma estan-
ração. Se, por um lado, é possível, neste dardizda, as inferências p d e m resultar
nível, ((comparar variáveis de forma mais pouco rigorosas. Dewsbury (op. cit.) chama
detalhada do que nas comparações que justamente a atenção para o facto de este
envolvem muitas espécies)>, por outro é nível nos ajudar, .«fundamentalmente, a
frequentemente ((impossível distinguir, de reconstituir em traços largos a história
entre o conjunto de diferenças lógicas evdutiva do comportamento)).
das espécies, a ou as mais responsáveis pela
evolução das diferenças morfológicas ou
compor t am en t ais particulares)) (Clutton- Cuidados parentais em peixes
-Brock e Hawey, ap. cit.: 13).
Gittleman (1981) estudou a evolução dos
AGAPORNIS SPP. tipos de cuidados parentais em peixes ósseos.
20Vo das 495 famílias conhecidas deste
Dilger (1962) estudou oito das nove espé- grande gruw zoológico exibem formas de
cies que constituem o género Agaprnis cuidados parentais em que um ou ambos
(periquito africano ou pássaro-doamor). os progenitores oferecem aorF embriões e/ou
Com base nas observações etológicas e mor- aos alevins cuidados e protecção especiais
fol6gicas realizadas separou formas recentes sem os quais a sua sobrevivência se veria
e formas primitivas do comportamento de seriamente comprometida. A grande maio-
Agaprnis spp. ria (60 ‘Oro) apresenta cuidados exclusiva-
Das suas conclusões ressalta (vd. Dews- monte paternais. As restantes 40Vo &vi-
bury, 1978) que as espécies mais recentes: dem-se por um das seguintes casos: (i) fa-
(i) são mais coloniais; (ii) apresentam inte- mílias com espécies sem cuidados parentais
racções sociais mais complexas; B (iii) apre- e com espécies com cuidados paternais; (i)
Fentam comportamentos mais ritualizados e famílias com espécies com cuidados pater-
esteriotipados. nais e com espécies com cuidados biparen-
Dewsbury (1978: 249) organizou e resu- tais; (iii) famílias com espécies com cui-
miu em dez pontos, num quadro elucidativo, dados biparentais e com as espécies em que
as principais diferenças comportamentais é a (fêmea que protege as crias; e (iv) famí-
entre as espécies primitivas e recentes do mílias com espécies em que a fêmea for-
periquito africano. nece os cuidados parentais e com espécies
sem cuidados parentais.
NfVEL FILÉTICO Na sua análise Gittleman procura esta-
belecer que grupos de transição de um Sis-
As comparações a este nível são mais p r e tema de cuidados parentais para outro exis-
blemáticas. Como neste caso as qualidades tem realmente. Como procede o autor?

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Uma família, ou um género, constitui um não permita desenvolver um diagrama com-
grupo de transição quando nelas existem pleto da filogénese das formas de cuidados
pelo menos dois sistemas de cuidados pa- parentais nos peixes os resultados alcança-
rentais. dos constituem uma aproximação muito
Três assump$es básicas caracterizam a válida e, tamioém um exemplo feliz de como
sua análise: o estudo comprado permite pelo1 menos
definir «que tipos de transições ocorreram
I. 6endo pouco viável que duas trans- entre formas, de cuidados parentais e, tal-
formações adaptativas ocorram simultanea- vez mais interessante ainda, que transições
mente, exclui-se a hipótese de existirem dois não ocorreram)) (op. cit.: 940).
grupos de transição: famílias (ou géneros)
em que coexistiriam espécies sem cuidados
parentais e esp6cies com cuidados biparen- Finalidades do método comparativo
tais e famílias (ou géneros) com espécies
com cuidados paternais e espécies com cui- Após a apresentação1 dos níveis do método
dados maternais. «Apenas um sexo deve comparativo, onde fizemos sobressair mais
poder mudar o comportamento! parenta1 de os «comos)) desse método do que os seus
um dado estado para outro.)) «porquês», 6 talvez o molmento de passar-
11. ((Quando as espiécies pertencentes a mo6 a introduzir uma outra distinção fun-
um género ou família exibem diferentes damental.
tipos de cuidados parentais, é porque exis- O método comparativo é utilizado com
tiram ancestores ccmuns caracterizados por o objectivo de analisar a história da evo-
estados transaccionais)) (op. cit.: 936-937). lução do comportamentc. Procura realizar
m. A direcção de mudança nos grupos esse cibjectivo comparando entre si as enti-
de transição vai no sentido do estado mais dades, previamente seleccionadas com vista
representado para c estado menos repre- a melhor definir que factores são respon-
sentado. sáveis por aquilo que as tomam semelhantes
AMs o estudo comparado de 85 famílias e por aquilo que as distinguem.
Gittelman encontrou 18 aue apresentavam Ora, o produto desta comparação pode ter
estados transaccianais. A triagem destes da- dois níveis de interpretação: um que carac-
dos permitiu-lhe verificar que o grupo de teriza caracteres ancestrais reificados em
transicção mais comum é o que inclui famí- ambas as unidades taxonómicas, c nesse
lias com espécies sem cuidados parentais e caso estabelece homolagias, e o outro que
com espécies com cuidados Faternais (cinco estuda caracteres adaptativos, e que define
famílias e seis géneros) seguindo-se o grupo assim analogias.
de transição que inclui esp6cies com cui- Adistinção entre homologia e analogia
dados paternais e espécies com cuidados ccnstitui um aspecto a um tempo básico e
bipaternais (cinco géneros), o grupo com fundamental do estudo da evolução. A con-
espécies com cuidados biparentais e com fusão entre 05 dois processos é fonte crucial
espécies com cuidados maternais (dois úni- de erros e de limitações na correcta inter-
cos géneros) e, por fim, o mais raro, que pretação do real.
inclui es@cies que apresentam cuidados Ismael, personagem central da justamente
maternais e espécies sem qualquer tipo de aclamada obra de Herman Melville, Moby
cuidados parentais. Dick, subscreve uma confusão deste tipo.
A análise estatística das hipóteses e dos Ao longo de uma dezena de páginas pro-
diagramas de pedigree confirmou a genera- cura demonstrar, baseado numa ordem de
lidade das filiações pressupostas e ainda que classificação de inspiração tipgráfica, que

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as baleias são peixes. Felizmente, neste nhas evolutivas largamente distintas fala-
caso, a narrativa literária só fica a ganhar, mw de convergência heteróloga.
pelo empenho e brilho posto na argumen- Dewsbury (1978) refere um artigo de
tação. Alexandre e Brown (1963) no qual estes
Desde que compara o homem distingue autores levantam a hipótese de as asas dos
divergência e convergência, homologia e insectos terem derivado de estruturas ana-
analogia, e as confunde (vid. as curtas refe- tómicas com funções na corte. Este facto,
rências históricas expostas por Ridley, 1983). a confirmar-se, demarcaria de forma bas-
tante original a diferença entre as asas dos
insectos, por um lado, e dos mamíferos
ANALOGIA E HOMOLOGIA quirópteros, das aves e dos répteis ptero-
dácticos, por oatro.
Quando se procura explicar a diferença
entre homogia e analogia é clássico ir bus-
car o exemplo das asas. HOMOLOGIA
Nós não vamos aqui fugir a essa tenta-
ção porque de entre todos os exemplos ele Provar de forma completa que dois ou
é um dos mais elegantes e concisos. mais caracteres são homólogos é conseguir
demonstrar que provém do mesmo material
celular do embrião. Infelizmente este pru-
Memibros para o voo cedimento, viável em estudos sobre evolu-
ção orgânica,,não consti8tuium campo pro-
As asas dos morcegos e das avtx podem pício ao estudo da evolução do comprta-
ser consideradas, enquanto membros ante- mento.
riores, estruturas homólogas pois ambas
derivaram dos membros anteriores de um
Provas embriológicas
antepassado réptil. No entanto os troncos
filogenéticos em que a passagem dos mem- Um caso interessante de prova embridó-
bros anteriores as asas ocorreram são inde- gica de uma homdogia é o da cobra-vidro
pendentes, devendo por isso ser considera- cujo embrião começa por apresentar patas
dos análogos. rudimentares que nos entanto estão com-
A existência, em dois grupos zool6gicm, pletamente ausentes no animal adulto.
de órgãos adaptadosa mesma função, o O conhecimento desta fase do desenvolvi-
voo, que resultariam de transformações di- mento permitiu traçar a sua filiação entre
versas de um membro pentadáctilo ocorri- os sáurias.
das de forma independentemente nos ma- Reestruturações e transfonnações assim
míferos (asa com uma membrana suportada ocorridas durante a embriogéneses são o
por 4 dedos, com um quinto dedo livre que resultados de «desvios evdutivm que mos-
serve para a preensão) e nas aves (asa tram, de algum modo, a evolução em acção))
provida de penas) toma a designação de (Grassé, 1985). ((Admite-se que os animais
convergência homóloga (Bocquet, 1985: providos de órgãos hom61ogos possuem em
241). comum um certo conjunto de genes, mas,
-
As asas dos insectos pterigotos forma- a partir de um certo estádio da embriogé-
das por nervuras - constituem apêndices nese, outros genes, próprios a cada classe
com funções semelhantes as asasa das aves, ou a cada ordem, entram em jogo e ajus-
mas nem enquanto (taphdices)) podem ser tam o desenvolvimento dos órgãos numa
consideradas suas homólogas. Sendo as li- nova via» (Grassé, ap. cit.).
Provas genéticas estabelecer, e que podem ser resumidos nos
seguintes pontos:
Após os mais recentes desenvolvimento
da genética molecular começa a tornar-se I. Similm'dade na topografia (Baerends,
possível distinguir os genes, ou parte das 1958), ou critério de psiçãb (Dewsbury,
sequências codificantes que os constituem, 1978;; Vieira, 1983): Quando dois padxões
que em diferentes espécies permaneceram de comportamento ocupam a mesma p i -
invariáveis, constituindo por isso o assento ção numa cadeia comportamental complexa
de homologias. de duas espkies pode-se estabelecer uma
Num trabalho recente Shin et d. (1985) forte inferência quanto a origem comum
mostraram que uma sequência de codifica- aos dois padrões de comportamento.
ção pouco comum e que tem um envolvi- 11. Similm'daide r w ontogenia (Baerends,
mento fundamental na expressão de ritmos ap. eit.): A ocorrência de padrões de
biológicos da Drusuphila, é conservada entre comportamentos, incluindo comportamentos
(4s vertebrados. O locw em causa, conhecido «institivos)), semelhantes durante (interna-
pela designação per regula uma variedade los)) determinados do desenvolvimento de
de ritmos de actividade desde comportamen- duas, ou mais espécies, pode ser um indica-
tos circadianos, como a eclosão e actividade dor precioso da proximidade filogenética, e
lwomotora, até aos ritmos das (canções)) da natureza homológica de padrões de com-
de corte. portamento nos adultos apesar das transfor-
A descoberta de sequências homólogas mações que possam ter ocorrido. o caso
do 'DNA do locus per no ITNA genómico do mrtejamento do pavão. Quando é novo
de várias espécies de vertebrados levanta a corteja o galo. Só quando adulto é que o
possibilidade de que um segmento pouco seu padrão de cortejamento se diferencia
comum de proteína contribua para a orga- daquele.
nização de ritmos biológicos em muitas Casos particularmente deste critério
espécies. podem ser diferenciados durante as embrio-
géneses. Durante o desenvolvimento em-
Mtsialis e Kafatas (1985), por seu lado,
brionário as espécies ((repetem)) fases do
parecem ter demonstrado que os elementos desenvolvimento filogenético, constituindo
reguladores, que controlam a expressão do por conseguinte material interessante para
gene da cápsula do ovo (um complexo pro- caracterizar homdogias.
teico que difere substancialmente nos gru- III. Similaridade na estrutura (Baerends,
pos de insectos de que fazem parte separa- op. cit.) mimícia e mdtip!icidade de simi-
damente a mosca Drosophilai melanogaster Ican'dade (Dewsbury, 1978) ou critério de
e a <borboletaBumbyx mori) são conserva- qualidode espedfka (Vieira, op. cit.): Bae-
dos entre (4s dípteros e (4s lepidópteros. rends divide este critério em duas partes,
O interesse suplementar destes trabalhos quanto & forma, ou seja, ao conjunto de
é o de fazer lançar o método experimental, detalhes qualitativos que o caracterizam, e
e a genética molecdar como pilares edifi- quanto aos factores internos: ««se pode ser
cadores da moderna teoria da evolução. demonstrado que actividades semelhantes
ocorrem sob a influência dos rneslmos ins-
tintas isto pode ser utilizado como indica-
Critérios de hmologização ção de homologia)). CBaerends, op. cit.)
IV. Ligaiçcso por farmus intermédias (Bae-
Para o correcto reconhecimento de ho- rends, o p . cit.; Dewsbury, op. cit.; Vieira,
mologias há alguns critérios que convém op. cit.)

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v. Hereditariedade em híhn'dos (Hinde, finalidade em si, mas um critério de ava-
1970: 438): liação das afinidades comportamentais entre
O cruzamento entre duas espécies pode diferentes espécies e grupos zoológicos. Elas
fornecer poderosos indicadores sobre o ca- ajudam a caracterizar de forma mais ade-
rácter homológico de dois comportamentos. quada a estrutura das transformações sofri-
Um exemplo interessante deste tipo de prova das pelos comportamentos ao longo da sua
provém das ohservaçóes de Dilger (1960), evolução e, a ligação dessas transformações
já atrás parcialmente referidas, sobre a cons- com os avatares e os constrangimentos eco-
trução do ninho em Agaprm-s spp. Os hí- lógicos, biol6gicos, fisiológiccs e psicológicoS
bricos obtidos a partir do cruzamento entre das espécies.
A . roseicollis e A . persomta fischeri, exi-
bem uma sequência comprtamental de
construção do ninho intermédia entre as Fontes de confusão ao atribuir homolqgias
duas espécies. Hinde (1970) refere ainda
outros casos interessantes. Um outro critério (ou grupo de critérios)
VI. Critério de a f i d d e filéticai (Beer, que permite despistar a atribuição de falsas
1973) ou afinidade taxonómica, paleontoló- homologias, é o do reconhecimento dos
gica e moleeular: processos que podem ccntribuir para a sua
Deixámos para último este critério por- confusão.
que ele constitui o teste decisivo das cate- No centro desta confusão está a existên-
gorias homológicas. cia de analogias, ou de semelhanças ehtre
A caracterização morfológica, que cons-
características devidas, não ao facto de 05
titui a base da classificação e, portanto, da
animais terem uma origem comum, mas ao
afinidade taxonómica, é um argumento
valioso na avaliação das homologias. Assim facto de pressões ecológicas diversas terem
como o é a evidência mais sólida com 'base contribuído para criar fenótipos semelhan-
nus dados paleontológicos e da comparação tes.
de sequências proteicas e de ácidos nucleicos. O isolamento dos processos mais vulgar-
Quando falamos de homologia temos de mente responsáveis por falsas homdogias
estar a falar wbre afinidades genéticas, se torna-se uma tarefa clássica do estudo da
não for assim o conceito esvazia-se. evolução e da adaptação.
Alguns autores (v. g. Atz, 1970) não con-
cordam com que o conceito de homologia
seja aplicado ao comportamento. Segundo ANALOGIA
Peter Klopfer só podemos falar de homo-
iogias quando há estereotipia, mas já é difí- As analogias são as principais fontes de
cil quando tratamos de aspectos motiva- confusão ao atribuir homologias.
cionais do comportamento. \Estas posições Dizem-se análogos dois ou mais órgãos,
assumem o reconhecimento directo da difi- estruturas ou comportamentos que se asse-
culdade em estabelecer com segurança ho- melham mas cuja origem evolutiva é diver-
mologias de comportamento, sendo obvia- sa. As semelhanças devem-se normalmente
mente mais problemático do que! em anato- a pressões ecológicas que seleccionaram nos
mia. No entanto, os diferentes critérios, diferentes organismos, estruturas anatomo-
quando aplicados, dão uma grande margem morfológicas e hábitos comportamentais
de plausabilidade às inferências produzidas. semelhantes e que de algum modo melho-
O interesse em estabelecer homologias no raram a sua eficiência nas condiçoes espe-
estudo do comportamento não constitui uma cíficas do seu meio ambiente.

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Convergência evolut iva que servem de pilar a organização e â coe-
são dos grupos sociais. No entanto nos pei-
A forma fusiforme e hidrodinâmica dos xes são as tendências individuais de resis-
ictiossauros, dos tubarões e teleósteos p l á - tência (holming) que são responsáveis pela
gicos e dos cetáceos resultam de processas emergência de mecanismos (sociais) de coe-
progressivos da adaptação ao meio aquático, são interindividual. Na grande maioria dos
ocorridos em ramos filogenéticos muito dis- peixes que apresentam cuidados parentais
tintos. Como tal constituem analogias resul- até a eclosão dos embriões os intervalos de
tantes de processos de convergência evolu- desenvolvimento pbs-embrionário são vivi-
tiva. dos a deriva na água, no mais absoluto ano-
Cuénot (referido por Bocquet, 1985) cha- nimato da vida pelágica. Deste modo é im-
ma a estes fenómenos de convergência possível que a vida social se estruture com
adaptações estatísticas ou adaptações eto- base em relações familiares, não podendo
lógicas. deste modo usufruir dos efeitos estruturan-
Outro interessante exemplo é a espantosa tes da selecção de parentesco como acontece
similaridade do grito de alarme ao falcão com as espécies em que os parentes, man-
em muitas espécies de aves. Num conjunto têm uma ligação prolongada (v. g., insetcos
de espécies simpátricas num habitat fre- sociais e mamíferos, mas também outras
quentado por uma espécie de falcão obser- espécies de peixes: vid. v. g. Taborsky e
vou-se uma forte convergência evolutiva no Limbergen, 1981).
canto de alarme das presas em contraste
absoluto com a radiação evolutiva das suas
outras canções. Este facto parece poder 'Mimetismo
relacionar-se de perto com o facto daquele
canto cair dentro de uma alta frequência Os mimetismos são formas de associação
dificilmente localizável. e não de afinidade filogenética. O mime-
tismo caracteriza-se pelo facto de indivíduos
Semelhanças podem tamMm ser produ-
pertencentes a duas (ou mais) espécies se
zidas através daquilo a que alguns autores
assemelharem entre si quanto a certas ca-
chamam convergência «não adaptativm) (a
racterísticas (v. g., coloração, morfologia,
validade desta designação é duvidosa, vid.
comportamento, etc.).
Si mp m, 1978 referido por Ridley, 1983).
IR o caso dos Menídeos estudados por
iÉ exemplo disso a evolução dos compor- Losey (1972), Rtcnrcla l a u d d u s e Ecsenius
tamentos de cuidados parentais que nalgu- &olor cujas morfolcgias e comportamento
mas espécies evolui associado 2 fertilização se assemelham it espécie Meicrcainthtcs atro-
externa e territorialidade do macho, en- dorsalis. Esta espécie possui dentes caninos
quanto noutras não (Ridley, 1978; vid. tam- que ligam as glândulas que segregam uma
bém Füdlye, 1983). substância tóxica que a faz ser rejeitada
Neste contexto o estudo de Fricke (1975) p r várias espécies piscívoras. Devido L sua
I
é exemplificativo. semelhança com M . atrdorsdis, E. bicolor
A comparação dos sistemas sociais e sua e R. ladanm gozam de protecção aos pre-
ontogenia em diversos grupos zoológicos dadores (através de mimetismo batesiano)
levou aquele autor a postular que factores e, ainda, no primeiro caso, de maior efi-
distintos asseguram a coesão saioespacial ciência alimentar (através de mimetismo
dos indivíduos nos diferentes grupos zooló- agressivo) (Lasey, op. cit.).
gicos. Nos mamíferos e insectos sociais são Apesar das semelhanças entre as três es-
em grande medida as relações de parentesco pécies, os caracteres não podem ser classi-

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ficados como homólogos pois ocorreram em rente em responder adequadamente às pres-
vias evolutivas diferentes. sões e solicitações do meio amcbiente.
Uma das contingências responsáveis pela
diversidade de seres vivos reside na varie-
Semelhanças devidas a taransmissão não dade de ccndições e de meios ambientes
genética existentes no planeta.
Neste contexto os seres vivos aparecem
As condições com que os machos de mui- equipados ccm um conjunto de traços espe-
tas espécies de aves assinalam os territórios cíficos que, dadas condições determinadas
e atraem as fêmeas para o acasalamento, de meio, melhcram a sua eficácia na luta
são !em muitos casos, no todo ou em parte, pela scibrevivência e reprodução.
veiculadas por transmissão1 cultural, sendo A diversidade de crganismos que povoa
pcr isso particularmente favoráveis ao apa- o planeta forma, no seu conjunto, um qua-
recimento de variações intra-específicas. dro fabuloso de ((engenharia)) e ((imagina-
Um caso particular desta situação resulta ção», resultante de um persistente processo
da habilidade demonstrada polr parte de um histórico de transformaçãc, selecção natural
indivíduo, ou por uma população local e adaptação que ocorre desde há milhões
aprender e utilizar o reprtório utilizado de anos.
por outra espécie simpátrica. Dois grandes tipos de acções movem os
Estas semelhanças não devem ser con- processos evolutivos. As pressões eccdógicas
fundidas com homologias. e a inércia filogenética.
Nalguns casos elas poderão estar relacio- O grau de inércia ou ((conservadorisino))
nadas com o chamado fenúmeno do inimigo evolutivo é em regra tanto maior quanto
familiar (Wilson, 1975). a estabilidade do meio ambiente. As espécies
que habitam em meios ambientes p u c o
variáveis, e as espécies em que as trocas
PRINCIPAIS FAiCTORES NA EVOLU@LO genéticas entre populações vizinhas são
DO COMPORTAMENTO
p u c o diversificadas revelam acentuadas
resistências a mudança.
Os organismos podem ser interpretados
como complicadas maquinarias mecânicas, As focas cinzentas que formam casais, ou
fisiológicas e comportamentais que são vivem em pequenos grupos, sobre os gelos
comandadas e colordenadas por programas .flutuantes do Atlântico Norte não apren-
estabelecidos ao longo das suas histórias deram a distinguir as suas próprias crias
filogenéticas. As características actuais de das de outros casais. Este facto parece poder
qualquer organismo - ou sistema vivo - relacicaar-se com a ausência de pressões
resultam assim de uma longa série de com- selectivas nesse contexto: é rara a presença
promissos adaptativos, um momento de uma de crias de outros adultos.
Icnga - e quantas vezes penosa! - cadeia Estes mesmos mamíferos quando se re-
evolutiva. produzem mais a sul dos seus locais habi-
-
O seu adequado funcionamento ou seja tuais, em grandes grupos, continuam inca-
a sua capacidade de sobrevivência -e o seu pazes de distinguir as suas próprias crias de
valor prosplectivo - ou seja a sua capaci- outras crias ao contrário do que acontece
dade em produzir cópias de si próprio- com outros pinípedes nessas latitudes e vi-
dependem largamente da sua estabilidade vendo em condições semelhantes (referido
end&genae exógena, e da capacidade decor- por Dewsbury, 1978).

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Inércia filogenética As fezes e a urina ganharam valor de
comunicação intra-específica em numerosas
A inércia filogenética, responsável por espécies. Neste caso a evolução ((serviu-se))
limitações nas mudanças evolutivas, pode das moléculas voláteis daqueles materiais e
relacionar-se com factores de diversa ordem: -
do seu potencial pré-adaptação -como
agentes de comunicação entre indivíduos.
I. Impedimentos estrutmas do gemma: As glândulas endhrinas, por outro lado,
(serviram-se)} da corrente sanguínea para
A informação heriditária contida no ADN comunicarem com outras partes do orga-
contém mecanismos de auto-regulação que nismo. A falta de pré-adaptações pode ser
impedem, não a ocorrência mas, o sucesso factor de inércia filogenética.
de mutaçiks genéticas. O valor adaptativo
destes mecanismos que ajudam a manter a IV. Resistêm'a (comprtamental) 6 mu-
estabilidade do genoma parece ser evidente. d q a (Dewsbury, op. cit.) e utilidade
Inovações resultantes de mutações alea- do comportamento ( A l m k , op. cit,):
t6rias na cadeia de AIEN têm efeitos impre-
vistos. Raramente consubstanciam meihcxa- Quando os indivíduos de uma população
mentos. Na maioria das vezes introduzem estão de tal modo adaptados a um hditai
deitas de desordem no equilíbrio adaptativo que não migram para habitas alternativos,
que o genótipo serve, podendo assim jogar a inércia filogenética revela-se dominante
a favor da sua perda. sobre eventuais pé-adaptações entretanto
Gabemos hoje que «a estabilidade e a pre- ocorridas já que, nestas condições, não têm
cisão na replicação))da cadeia de ADN «são valor expressivo. A sua consewação no pooZ
perservadas graças a enzimas que reparam genético da população fica apenas depen-
continuamen'te os danos sofridos)). As (de- dente de efeitos de deriva, podendo vir a
sões importantes da cadeia de ADN desen- desaparecm antes da ocorrência de outros
cadeia reacções de salvaguarda no decurso factores que as revelem.
das quais novos enzimas, de funcionamento Por outro lado, mesmo após uma mu-
perfeitamente orquestrado &o sintetizados» dança no habitat uma espécie pode optar
(Howard-Flanders, 1982: 102). por continuar a utilizar os mesmos compor-
tamentos que utilizava anteriormente p r -
11. Vadabilidade genética limitada (Alcock, que eles se revelam igualmente úteis (Al-
1975; Dewsbury, 1978): cock, op. eit.).

As espécies que sei repruduzem de modo v. Impedimento estrutura,? de outras adap


assexuado (vid. v. g. Cole, 1884) apresentam t q h s (iDewsbury, op. cit.):
um elevado grau de inércia filogenética, e
não auferem das vantagens do heterozigoto. Adaptações particulares podem ter efeG
tos limitativos na mudança de outras estru-
III. Falta de pré-adaptações apropncadac: turas.
(Alcock, op. cit. e Dewsbury, op. cit.):
VI. Limitcrções devidas a competiçüo inte-
A selecção natural não actua criando reqwcífica (Dewsbury, op. cit.):
material de base. Testa e utiliza estruturas
já existentes associando-as, não raramente, Se uma espécie possui adaptações parti-
a novas funções. culares que lhe permitem explorar eficaz-

56
mente um determinado recurso do seu responsáveis pela conservação das caracte-
haibitat, passa a constituir uma limitação rísticas actuais e dominantes das mpécies.
importante a ocorrência de mutações adap A inércia filogenética fixa adaptações cujo
tativas análogas noutras espécies. papel foi testado, experimentado e fixado

Uma estrutura complexa é mais resistente Como contrapartida as pressões eco&$-


a mudança uma vez que exige um maior cas constituem a face progressista da evo-
número de mutações coordenadas. lução. As pressões ecol6gicas São precisa-
mente o conjunto de constrangimentos que
VIII. Fluxo genético de populações vizinhas põem a prova os padrões genotípicos, esta-
Oyilson, 1975): belecidos ao longo da filogénese, e que reve-
lam pré-adaptações constituídas. Como tal
Pode acontecer que a ((variabilidade g e
são fonte de mudança e agentes de selecção
nética requerida esteja presente mas que
natural que dão forma a novos possíveis
o fluxo genético de populações vizinhas,
(Jacob, 1984). ((ü3 o constante atrito entre
adaptadas a outras circunstâncias impeça
as forças conservadoras da inércia filoge-
a sua evolução)). (Ibid.):
nética e as forças progressistas da pressão
IX. Ausência de variabilidade ambiente ecobgica que determina as taxas de mu-
(Alcock, op. cit.): dança evolutiva.)) (Dewsbury, 1978).
Entre os principais factores que contri-
Contribui certamente para um conser- buem para produzir mudanças evolutivas
vantismo evolutivo. no comportamento social dos animais pode-
X. Modo de determinação do sexo (Wiison, mos destacar as seguintes @aseados em Al-
op. cit.): cock, 1975 e 'Wilson, 1975):

Wilson (op. cit., 33 e 415) refere ainda I. Isohmento reproutor: o isolamento


que o modo de determinação do sexo é um reprodutor de uma espécie promove a di,fe-
catalizador da inércia, com uma influência irenciação e a mudança nos sinais de comu-
determinante no sentido da evolução social. nicação intra-específica.
A eusocialidade nos himenópteros estaria
de modo particular, parcialmente associada 11. Intermção presalpreddor e defesa
a haplodiploidia daqueles insectos. contra-predadores: não é exagero afirmar
Esta suposição tem sido no entanto am- que a origem e aperfeiçoamento de muitas
plamente criticada. Para a modificação desse formas de organização social, de maior ou
ponto de vista contribuiu de modo parti- menor complexidade, estão associadas ti
cular a descoberta de um mamífero eusacial procura de soluções para melhorar a eficá-
diploide da kfrica Equatorial, o Heteroce- cia na protecção e a defesa antipredadores.
phdus glaber (vid. Jarvis, 1981). Nelas podemos incluir quer as simples
concentrações de indivíduos (v. g. muitos
Pressão ecológica cardumes de peixes), quer os comporta-
mentos cmperativos no seio de grupos (v. g.
A inércia filogética pode definir-se como as estações de aviso para a colónia como
o conjunto de factores responsáveis pela um todo, em morcegos do género Pteru-
contenção de mudanças evolutivas, isto é, pm -referido por Wilson, op. cit.).

57
III. Hubilidade competitiva privilegiada nas espiécies que exibem estru-
turas desproporcionadas como8ou alces e os
Melhoramentos na habilidade competitiva pvões.
são conservados pela selecção natural uma Ao olharmos para as grandes armações
vez que asseguram vantagens aos indiví- dos alces e veados, ou para os vistosos le-
duos, e aos grupos que os passam a exibir. ques dos pavões, não Fzdemos deixar de
A simples concentração em massa de indi- ncs perguntar s z eles não constituem sérios
víduos de uma espécie pode intimidar os handiicaps no dia-a-dia dos indivíduos?
indivíduos de outra esp6cie que assim aban-
dcaam a área. Neste caso a expulsão de uma
população por outra realiza-se de forma Estudo de um caso: os pavões
pacífica. Wilson (olp. cit.: 49) refere alguns
exemplos muito interessantes. A competiti- A história da evolução da cauda nos
vidade tambuém pode ser nielhcrada através pavões constitui um exemplo representa-
da territorialidade. tivo da transformação de estruturas mor-
fológicas associada com o comportamento.
IV. Eficiência alimentar Os pavões fazem parte de uma extensa
família, onde se incluem os faisões, cujas
esy écies mais primitivas ocupavam niahos
Mtuitas espécies conseguiram melhorar a
nas densas florestas tropicais, onde forma-
sua eficácia alimentar ao adoptarem estra-
tégias sociais de alimentação, como a ali- vam casais ou viviam isoladamente.
mentação cocperativa. Em muitos dos
O actual modo de vida em grupo dos
exemplus conhecidos CWilson, o p . cit.) as pavões parece estar associado ao novo tipo
vantagens evolutivas são evidentes para os de habitar que invadiram: espaços abertos
onde c alimento se encontra distribuído de
indivíduos e para o grupo.
forma concentrada.
Nas esficies primitivas, o padrão de plu-
v. Penetraçãc de novas zonas datpiivrcs
magem servia de camuflagem nas florestas
fortemente marcadas por contrastes de luz
Um pré-requisito necessário a çoloniza-
ção de novos hditats é a existência de pré- e sombra. Este é ainda o caso nos actuais
faisão malaio (Polyplectron malmeme) e
-adaptaçõ.es que assegurem respostas ade-
quadas a s novas exigências adaptativas. faisão cinzento (Pdyplectmn bicalcoratum).
B o caso do coleóptero Bledius spectczbilis,
A origem das formas aceladas que apa-
referido por Wilson (op. cit.: 57), que .«de- recem nos leques dos pvões derivam das
folrmas menos decorativas dos padrões com
senvolveu um comportamento parenta1 com-
plexo raramente atingido num coleópt,ero». funções de camuflagem daquelas duas es-
Esta pecularidade permitiu-lhe penetrar num pécies ((Ridley, 198 1). As transformações
ambiente extremamente hostil, talvez um sofridas resultam basicamente numa reor-
ganização dos ocelos, diminuição do seu
dos mais hostis no mundo dos insectos.
número, migração para locais precisos das
penas e sua conservação s6 em algumas
MUDANiÇAS NA ESTRUTURA delas, tudo isto associado a um desenvul-
ASSOCIADAS COM O COMPORTAMENTO vimento exagerado das penas de protecção
da região caudal que em número de cem
O estudo da relação entre a evolução do podem atingir individualmente 1,20 m.
comportamento e a evolução de estruturas A tendência inicial das fêmeas de pavão
anatómicas associadas encontra matéria para preferirem machos com caudas grandes

58
e vistosas favoreceu diferencialmente os A ideia de selecção em escalada (run
machos da população com aqueles predi- away selection), teve muitos adeptos, apesar
cados. Esta preferência sexual parece ter-se da sua fraqueza evidente: opor os efeitos
estabelecido entre as fêmeas, por causas não e as condições da decção natural aos da
perfeitamente claras p), vindo a promover selecção s e x d .
o sucesso reprcdutor de machos cclm cau- Uma tentativa de hipótese mais sin-
das mais vistosas mas tarntém mais emba- tética seria posteriormente elaborada por
raçosas. A. Zahavi em 1975. Neste caso os bizarros
A evolução de estruturas anatómicas apa- ornamentos deixam de ser interpretados
rentemente p u c o funcionais do p x t o de simplificadamente como hafidicaps inferio-
vista da sobrevivência individual foi uma rizantes na sobrevivência diária. Ao coa-
questão amplamente discutida por Charles trário, passam a ser interpretados como
Darwin. Referiu-se-lhes como produtos da sinais de eficácia genética. Se um macho,
selecção sexual exercida pelas fêmeas. De- apesar dos ornamentos anatómicos exage-
finido o axioma, interessava depois prová- radcs (e que exigem alocação de energia)
-lo. Foi o ‘que procurou fazer nos anos 30 e vistosos (e que torna conspícua a presença
Ronald Fisher. Para este autor a selecção do animal), consegue ainda obter alimento
sexual é um processo de run away. Isto e sobreviver aos predadores é porque pos-
significa que num determinado momento suem genes que lhe oferecem um elevado
da vida da espécie passa a haver uma ampli- valosr de eficiência. A atracção das fêmeas
ficação progressiva das preferências dos pcr atributos ornamentais tão exagerados
agentes selectivos que exagerolu certas ca- perde A luz deste modelo, o seu carácter de
racterísticas e sinais que tiveram anterior- bizarria. AQ preferirem aqueles machcs as
mente algum significado directo na solbre- fâmeas transmitem aos seus descendentes
vivência quotidiana. as mesmas excelentes condições físicas e
A partir do momento em que os machos genéticas que encontraram nos seus pais.
possuidores de atributos exagerados passem Segundo Kodric-Brown e Brown (1985)
a gozar de vantagens no acasalamento pas- este modelo levanta no entanto dois pro-
sam também a &ter mais descendentes. mas: I. Como 0.s crojmossomas de um pro-
Este processo de rwn away só cessará quando genitor são misturados ao acaso com os do
os custcs do atributo sexual para a sobre- outro progenitor, os descendentes podem vir
vivência forem demasiado elevados. C. J. a herdar os genes implicados na formação
Barnard (1983: 3093 exp6e assim esta si- das características sexuais «ideais» sem que
tuação’: «A tendência para seleccionar cau- recebam os genes que os compensam em
das sempre maicres pode ccnduzir os ma- termos de vigor Bsico; e 11. uma forte selec-
chos além do óptimo “fixo” (cu “organismo ção conduziria inevitavelmente a um ponto
ideal’^)para o meio ambiente. A diferencia- de invariabilidade genética.
ção entre o macho óptimo “fixo” e o macho Nos anos 80 várias novas hipóteses dos
óptimo ‘“relativo” preferido pelas fêmeas ((bons-genes))folram avançadas. A sua refle-
pode eventualmente tornar-se tão grande xão básica pode resumir-se do seguinte modo
que os machos deixam de ser ecologicamente (Kodric-Brown e Brown 1985: 28): «o grau
viáveis e a linhagem extingue-se.)) de exageramento dos sinais sexuais não está
escrito nos genes: todos os machos na popu-
lação possuem virtualmente genes idênticos
(l) Prisioneiras de um fascínio hipnótico e para produzirem grandes armações, penas
estético (M. H. Ridley) e/ou prisioneiras da de- vistosas, ou colorações ‘brilhantes. Mas ape-
monstração de vigor «atlético» (Fisher e Zahavi). nas os indivíduos no auge da vida e de saúde

59
robusta são capazes de desenvolver estes micas que, por exemplo, impeçam a cópula
traços na sua forma extrema, e apenas indi- ou, tão somente,, a transferência eficaz de
víduos com os melhores genes podem estar esperma.
de saúde robusta)). A principai condição que está na origem
Segundo Kodric-Brown e Brown (op.cit.) de prucessos de especiação é, segundo o
a teoria dos bans genes ajuda a explicar ponto de vista dominante entre biólogos, a
um das mistérios que a teoria da selecção ulolptricf ou isolamento geográfico de popu-
em escdada deixou em aberto: ((porque é lações da mesma espécie. Se duas populações
que muitos dos sinais usados para atrair da mesma espécie ficam separadas geogra-
fêmeas são também usados para intimidar ficamente o rumo evolutivo seguido por
rivais)). Fica assim resolvida a aparente uma delas pode ser, a partir daquele rnw
contradição entre as condições da selecção mento, radicalmente distinto do da outra,
natural e os efeitos da selecção sexual que conduzindo assim it formação de duas es-
a hipótese de Zahavi continuava a masca- pécies.
rar. Ao desfazer o absurdo do hatdicap na O facto de não haver troca de genes pode
sobrevivência, mostra que «a escolha da contribuir para mudanças significativas na
fêmea e a agressão entre machos não são estrutura do pod genético de ambas as
necessariamente processos independentes populações, não só relacionadas com o tipo
que evoluíram em resposta a diferentes tipos de selecção natural a que ambas as popu-
de selecção sexual, como Darwin sugerira)) lações ficam sujeitas em habitats ainda que
(op. cit.: 31). levemente distintos, mas também com pr+
cessos aleatóri~scomo a deriva genética.
O grau de especiação então alcançado estará
ESPECIACÁO E ISOLAMENTO directamente relacionado ccnu a extensão
REPRODUTOR
das diferenças entretanto ocorridas.
Se as barreiras que separam as duas sub-
O critério mais amplamente utilizado para populações desaparecerem podem ocorrer
reconhecer que um determinado conjunto três tipos de situações, directamente rela-
de organismos constitui uma espécie, ba- cionadas com as mudanças entretanto ocor-
seia-se no reconhecimento da aptidão evi-
ridas no5 p I genéticos (Dewsbury, 1978:
denciada pelos indivíduos desse conjunto de,
259):
em condições naturais, produzirem outros
indivíduos férteis, mantendo-os, no entanto,
reproductivamente isolados em relação a I. «se as mudanças no pod genético fo-
outros conjuntos de organismos-sobre as rem mínimas, as duas subpopulações podem
dificuldades e os problemas emergentes na cruzar-se livremente emergindo eventual-
definição e caracterização do que é uma mente, mais uma vez, uma única popula-
espécie. (Vid. Mishler e Donoghne, 1982.) ção»;
Os mecanismos que st ,ncontram na base
do isolamento reprodutur entre duas esp6- 11. «as subpopulações podem ter estado
cies muito aparentadas são bastante diver- separadas tanto tempo que é impossível
sos. Podem ser tipicamente comportamen- ocorrer cruzamento)), aparecem assim duas
tais (vid. Médioni e Boesinger, 1977), quí- espécies distintas;
micos-como, por exemplo, no caso das
espécies de térmitas europeias do género III. «as duas subpopulações podem ter
Retictclitermes (Clément, 1982), ou basea- divergido até um nível intermédio, ao ponto
rem-se simplesmente nas diferenças anató- de poderem ocorrer híbridos em desvanta-

60
gem competitiva. Neste caso observar-se-ia III. as diferentes populações contactaram
selecção contra o acasalamento de animais diretcamente quando indivíduos duma ilha
de diferentes populações)). voaram para outra. O resultado desses con-
tactos dependeu principalmente do grau de
mudança e diferenciação entretanto havi-
Simpcatria e deslmamento de caracteres das. Em mruitos casos, este contacto entre
populações dicferentes deve ter reforçado o
Um fenómeno importante a referir na processo de especiação;
interacção entre duas popu1açõ.w simpátri-
cas é o chamado deslocamento de carácter IV. envolve repetições múltiplas das fa-
(chwacter displacement, Dewsbury, 1978: ses 2 e 3.
260). Referimo-nos a deslocamento de a-
rácter quando a divergência evolutiva entre Neste modelo o que é central é o papel
duas populações ou duas espécies é refor- da situação de simpatria de duas populações
çada em condição simpátrica. Parece ser na separação de caracteres e formação dO
este o caso observado entre, pelo menos, espécies.
duas espécies de tentilhões de Darwin das Duas espécies serviram recentemente de
ilhas Galápagos (Grant and Grant, 1983). teste a esta ihipótese: Geospiza fortis (tenti-
0 s tentilhões de Darwin, devido A sua lhão médio do campo) e G. jdigjmsa (ten-
origem comum e recente radiação evolutiva tilhão pequeno do campo) (vid. Grant and
nas ilhas que constituem o Arquipélago das Grant, 1983 e ainda Schluter, Price e Grant,
Galápagos (com três a cinco milhões de 1985).
anos), constituem um terreno propício para O interessante, neste caso, é que na
o teste de algumas hipóteses em teoria da grande ilha central de Santa Cruz, elas
evolução. Uma das questões mais polémicas nunca se cruzam, enquanto que na ilha
nesta área, pela qual os cientistas ainda se vizinha de Daphne Major, onde existe uma
debatem, 4 a compreensão dos detalhes população isolada de G . fortis observam-se
centrais do processo evolutivo. Para alguns cruzamentos ocasionais desta espécie com
autores (vid. Mayr, 1963) a especiação exige indivíduos de G. fuliginosa que por vezes
alopatria, enquanto para outros (v. g. Grant aprtam aquela ilha. Este facto parece con-
and Grant, 1984; cf. Dewsbury, 1978: 259) firmar a hipótese de que o isolamento re-
há dois outros processos cujo papel na espe- produtor entre as duas especies da ilha de
ciação pode também ser fundamental: a Santa Cruz é uma consequência da sua
parapatria e a simpatria. condição simpátrica.
Segundo David Lack (vid. Grant and O papel desta condição no isolamento
Grant, op. cit.) a especiação dos tentilhões reprodutor foi ainda testado em experiên-
de Darwin obedeceu a um processo com cias realizadas por Laurena Ratcliffe (vid.
quatro (fases: Grant and Grant, ap. cit.: 78-79) e com-
provado como factor de deslocamento ece
I. as Galápagos foram colonizadas origi- lógico entre aquelas duas espécies por Schu-
nariamente por uma espécie de tenti,lhão ter, Price e Grant (1985) num estudo de
vinda do continente; base morfológica.
Ratclipffe verificou que indivíduos oriun-
11. nas populações das diversa ilhas tive- dos de ilhas com espécies que vivem juntas
ram algumas mudanças evolutivas, ainda que discriminam melhor entre canções emitidas
provavelmente pouco importantes pois as por conspecíficos e hetero-específicos do que
ilhas eram ecologicamente muito similares; indivíduos oriundos de ilhas em que as spé-
*
+tl
c
FORMAÇÃO DE U M A BARREIRA GEO-
GRAFICA OU€ SEPARA DUAS POPU-
LACOES DA MESMA ESPECIE.

+ct Z ESPECIACAO
ALOPATRICA

f NOVAS BARREIRAS GEOGRAFICAS


+t3 E FORMACAO DE UMA AREA

1 AREA DE SIMPATRIA 1
=t,
c

DESLOCAMENTO DE CARACTERES
O U
oy.
0-

Fig. 1 - ESPECIAÇÃO ALOPÁTRICA. SIMPATRIA E DESLOCAMENTO DE CARACTERES.


Ilustração simbólica de processos de especiação alopátrica e especiação simpátrica com deslocamento
de caracteres. t,, ... tA:tempos. A s elipses representam áreas. A s barras verticais representam bar-
reiras geográficas. Dentro das elipses estão representadas as espécies
QUADRO I

Comportamento sexual comparado, e suas consequências no isolamento reprodutor


de duas espécies simpátricm de ratos silvestres da Holmda

Microtus Arvalis Microtus Agrestis

Fêmeas rejeitantes, com tendência para Fêmeas tolerantes - mostram menos resis-
interromper as cópulas. tência a cópula.
(i) Forte resistência as tentativas de có- (i) Fraca resistência às tentativas de c6-
pula ensaiadas pelos machos: 50,3VO pula ensaiadas pelos machos: 0,9VO
dos casos; dos casos;
(ii) as fêmeas interrompem cópulas de qua- (ii) as fêmeas quando interrompem as có-
tro modos distintos, nomeadamente pulas fazem-no simplesmente afastan-
agonísticos. do-se (100V0dos casos).

2 A rapidez com que os machos ejaculam A rapidez com que os machos ejaculam está
está na razão directa do grau de rejeição na razão directa do grau de tolerância das
das fêmeas. fêmeas.
(i) Menor duração das cópulas: interrup- (i) Maior duração das cópulas: as inter-
ções frequentes das cópulas induzem rupções das cópulas atrasam as eja-
ejaculações; culações;
(ii) maior número de cópulas: machos eja- (ii) menor número de cópulas: ejaculam
culam ao fim de algumas cópulas de frequentemente após uma única có-
curta duração. pula.
I

3 A agresividade das fêmeas inibiria prova- A tolerância das fêmeas inibiria eirentual-
velmente a excitação sexual dos machos de mente a excitação sexual dos machos de
Microtus agrestis, condenando a cópula ao Microtus arvalis condenando a cópula ao
insucesso e contribuindo para o isolamento insucesso e contribuindo, assim, para a
reprodutor de ambas as espécies. separação entre ambas as espécies.

Baseado em: De Jonge e Ketel, op. cir.

cies não vivem juntas. Ela verificou tam- assegurado, pelo menos parcialmente, pelos
bém experimentalmente que os machos de padrões de comportamento copulatório das
G. fortis de Daphne Major cortejam com fêmeas (Quadro I). Esses padrões, que se-
igual frequência fêmeas da sua própria es- gunda De Jonge e Ketel (1981: 228) se
pécie e fêmeas de G. fzdiginosa, que não 01 desenvolveram associados a estratégias e c e
acontece com os machos da ilha de Santa lógicas diferenciadas resumidas no Qua-
Cruz. dro 11, mas que não cabe aqui discutir em
pormenor, parecem inviabilizar eventuais
tentativas heteroespecífi'cas de cópula.
Mecanismos etológicos de isolamento repro- Em M . arvdis as fêmeas são rejeitantes
dutor e o número de cópulas interrompidas in-
fluencia positivamente a excitação sexual
Microltw agrestis e M . arvalis são duas dos machos. Em M . agrestis as condições
espécies simpráticas de rato silvestres em estão invertidas: as fêmeas são tolerantes e
que o isolamento reprodutor parece ser o comportamento sexual dos machos, no-

63
QUADRO II

Aspectos da vida social comparada

Microtus Agrestis
I Microtus Arvali

Formam facilmente grupos familiares uma Não formam grupos familiares.


vez que as fêmeas não afastam as crias.

Territórios de grupos (familiares). Grandes territórios de machos individuais,


abrangendo alguns mais pequenos de fê-
meas.

Machos toleram-se porque pertencem ao Machos não se toleram e agridem-se.


mesmo grupo.

Existem mecanismos que reduzem a pro- O risco de incesto é baixo.


babilidade de incesto:

5 Os machos estão familiarizados uns com A ausência de grupos de família toma


os outros. Reagem ao estro das fêmeas pouco provável aue uma fêmea em estro
mas não combatem, entre si. encontre muitos machos, enquanto os ma-
«Nestas circunstâncias, a resistência ofere- chos competem entre si formando grandes
cida pelas fêmeas deve funcionar como um territórios.
mecanismo para seleccionar machos efica- Nesta situação as fêmeas não beneficiam
zes, i. e., aqueles que persistem em reco- nada em mostrar agressividade para com
pular apesar da rejeição das. fêmeas.)) (...> os poucos m.achos que encontram.
«O que aliás também explicaria o facto A eficácia individual dos machos é testada
de os machos serem capazes de ejacular em encontros intra-sexuais.
depois de um número de cópulas de curta
duração interrompidos por longos interva-
los» (id.: 255).

Baseado em: De Jonge e Ketel, op. cir.

meadamente a rapidez com que ejaculam em M . a r d i s e as cópulas interespecíficas


na cópla, é positivamente influenciado pelo parecem condenadas ao insucesso» CDe
grau de tolerância das fêmeas. Enquanto Jonge and Ketel, op. cit.: 257).
as fêmeas de M . agrestiis protelam a eja-
culação dos machos se mostrarem Uma forte
tendência para interromper as &@as, as «DISPLAYS» E RITUALIZAÇ6ES
fêmeas de M . m d i s aceleram a ejaculação
com atitudes similares. Disto resulta que «a Na comunicação inter-individual os sinais
rejeição em M. agrestis iguala a tolerância devem servir de (forma eficaz funçóes espe-

64
cíficas, como por exemplo o amalamento 1973: 224). A sua emancipação durante a
ou a relação cria/progenitor, uma vez que evolução (Tinbergen, 1952) efectua-se, se-
dela depende em grande medida o sucesso gundo a perspectiva da etologia clássica,
daqueles nela envolvidos. ((sob a pressão selectiva de uma melhor
Os displays de corte, e os diqdays agonís- comunicação e tende para uma melhor cla-
ticos, constituem das mais interessantes si- reza e para uma menor ambiguidade do
tuações quanto B ocorrência de sinais. sinal para aquele que o recebe)) (Heymer,
Do ponto de vista da sua filogénese cons- 1979: 149).
tituem am extenso e rico campo para a Na moderna perspectiva da ecologia do
elaboração de hipóteses quanto a natureza comportamento as ritualizações e outros
dos sinais e aS características das suas trans- processos de comunicação empregues no
formações no decurso da evolução. mundo vivo, animal e vegetal, são interpre-
Dewsbury (1978: 262) distingue as seguin- tados como formas de ma r i p d q á o e «lei-
tes fontes de displays (não as esgotando, é t w d a - mente)).
claro): Estas duas expressões servem para desig-
nar dois papéis. O manipulador que pretende
(I) Movimentos de intenção; (11) activi- utilizar o comportamento do outro em seu
dades deslocadas; (111) actividades redirigi- benefício, enquanto o ((leitor da mente))
das; (IV) troca de alimento; (v) respostas pretende antecipar (dum ponto de vista
protectoras; (VI) movimentos de conforto; e meramente probabilístico ou estatístico) 05
(VII) padrões de termo-regulação. comportamentos do outra
((Ao processo de evolução dos sinais a Os sinais emitidos durante a comunicação
partir de movimentos sem função de sina- servem pois para realizar aqueles objectivos.
lização é chamada ritualização)) (Krebs e Desta corrida entre manipulação e ((leitura-
Dawkins, 1984). -da-mente)) emergem, no seio de um longo
J. S. Huxley em oibservações com uma processo evolutivo, 01s sinais ritualizados,
ave aquática verificou que durante a parada carregados duma forte ambiguidade signi-
de corte o macho exibia comportamentos ficativa.
sexuais com um carácter estereotipado e Neste sentido a ecologia do comporta-
com uma função evidente de sinalização. mento interpreta a comunicação como pro-
Certamente inspirado na terminologia em- cessw de conflito em que cada um dos indi-
pregue para definir certos tipos de atitudes. víduos procura tirar o melhor rendimento
culturais humanas, Huxley considerou estes individual da interacção.
comportamentos, a que se referiu como Segundo Hinde (1981) a contradição en-
constituindo areorientações adaptativas do tre a etologia e a ecologia do comprta-
comportamento para funções expressivas mento neste campo preciso do estudo da
(ref. em Heymer, 1979: 148)», como r i t d i - evolução da comunicação no mundo ani-
zações. mal é apenas aparente. Segundo aquele au-
As ritualizações fazem parte do repertório tor ambas as perspectivas são compatíveis
comportamental das mais diversas espécies e a sua conjugação poderá estimular hipó-
animais, constituindo comportamentos típi- teses mais avançadas.
cos (spmies typicd b e h i o r ) que promo-
vem a comunicação intra-específica em par-
ticular durante contextos sexuais, agressivos, Intimidação em blenídeos
territoriais e parentais, estão associados a
um imperativo em ((comunicar de forma Um caso interessante de ritualização foi
económica e sem ambiguidade)) (Barlow, descrito em Coryphablennius galerita (Al-

65
mada et al., 1983). Nesta espécie muitos dula todo o corpo num movimento sinusoi-
encontros agonísticw são resolvidos após da1 lento. A sua semelhança com os movi-
um jogo de exibições de fraca intensidade mentos de natação é bem aparente, o que já
agressiva. Entre os diversos padrões de com- não acontece com a torção de C . galerita.
portamento é central a apresentação de Ambos os tipos de ameaça podem ser in-
torção (Almada et al., op. cit.: 70-72). terpretados como condições filogenetica-
O peixe que a executa balanceia laterai- mente estabelecidas de um conflito entre
mente a cabeça num ritmo lento em ambob carga e fuga (cristalizada em imobilização
os sentidos (Fig. 2). O movimento pode mrcial) em que é conservada, a estrutura
ser dirigido de face ou de lado em relação ondulatória característica da locomoção
ao outro peixe. Foi interpretado como cons- anguiliforme daqueles peixes.
tituindo o resultado de uma situação de
conflito motivacional entre agressão e me-
«Associações)) entre espécies
do, ataque e fuga.
Blenniw smguinolenw, uma espécie apa- Trapezia ferruginda, um caranguejo, e
rentada com a anterior, ex2be um compr- Afphetcs Zottini, um camarão, vivem nos
tamento hom6logo da torção, mas nitida- haibitats coralíferos do indwPacífico onde
mente menos esteriotipado e, como tal, formam grandes comunidades. Quer os w
menos emancipado da sua origem (Santos, Tanguejos quer os camarões defendem P
1985a: 19-20). Nesta esp6cie o animal on- coral contra intrusos de ambas as espécies.

Fig. 2 -(a) Torção e (b) Ondulação lateral. Padrões de ameaça do repertório


comportamental de Coryphoblennius galerita (Almada et al., 1973) e de Blennius
sanguinolentus (Santos, 1985a)

66
Vannini (1985) observou), no entanto, que Nestas espécies os rituais de corte, mais
camarões intrusos podem exibir comporta- ou menos formalizados, parecem derivar de
mentos de apaziguamento que lhes permitem forma muito óbvia de uma forma ancestral
ser aceites no coral pelos caranguejos. Con- baseada em atrair a atenção das fêmeas
tudo estes comportamentos nunca são exi- pelo alimento (mas cuja origem mais arcaica
bidos pelos camarões em contextos intra- podemos associar a uma função epimelé-
-específicos. tica).
Sendo o mais fraco o camarão teve de A desmontagem das características de
((aprendem a inibir a agressão do caran- movimentos do corpo exibido pelo depenicar
guejo usando a sua própria linguagem. no solo permite-nos aproximar talvez me-
Este caso é um exemplo interessante de lhor da razão que preside ao facto de, nas
manipulação do comportamento. formas mais evoluídas, o factor do r i t d
se concentrar na região caudal.
Casos fascinantes de parasitismo, com
Com a inclinação do corpo para a frente,
((decilfração do código genético)) em que O
associado ao acto de depenicar, a parte pos-
parasita utiliza o código de sinais do hos-
terior assume elevação e realce frente a
pedeiro, foram encontrados entre escarave-
fêmea passando, deste modo, a representar
lhos e formigas, respectivamente, dos géne-
um terreno (favorável a emergência de uma
ros Atemeles e Formica. O ((roteiro)) evo-
estrutura conspícua.
lutivo destas associações parasitárias, com
Esse realce, fixado primitivamente sobre
toda a sua hierarquia de especializações e
um tufo de penas incidente da cauda, pode
aperfeiçoamentos, foram brilhantemente re-
ter sido o pressuposto inicial, necessário e
vistos por Holldiibler (1971). suficiente para marcar a sequência no curso
Uma espécie de pirilampo da América do evolutivo dos displays neste grupo, ((abri-
Sul utiliza o código de sinais de corte de gando» a que a rituaiização se cristalizasse
uma outra espécie simpátrica atraindo assim de forma definitiva em penas da região
os iludidos machos desta última que lhe caudal.
servem de presa (Lloyd, 1965). Na génese deste longo prooesso de ritua-
lização convergem assim diversas cumplici-
dadts que talvez valha a pena relembrar:
O comportamento de corte entre os pavões
a) o acto de depenicar que se baseia no
Voltamos novamente aos pavões para se- efeito de atracção alimentar atinge
guirmos um outro caso de ritudizaçir0l e outras finalidades, o aicasalamento;
evolzação de displays. b) pelo acto de depenicar assume relevo
Em parentes afastados dos pavões, como a zona posterior-do corpo e o tufo de
são ois. galos e galinhas, as fêmeas chamam penas da cauda, predispondo-o (como
a atenção das crias depenicando no solo. zona ideal) para a emergência de uma
rÉ também com este comportamento que os estrutura anatómica que beneficia a
machos atraem as fêmeas para o acasala- comunicação inter-sexual;
mento. a existência de penas de cobertura cujo
O faisãde-caça e o faisão-real também crescimento parece não afectar a esta-
depenicam no solo para captar a atenção bilidade aerodinâmica durante o voo
das fêmeas. Obtendo resposta, o macho (ao contrário do que seria de esperar
abre então a cauda e as asas, numa acção se a formação do leque tivesse origem
de galanteio, enquanto permanece quieto no crescimento de penas da cauda),
nessa posição. não envolvendo assim pressões eco16

67
cl OEPENICAR NO SOLO
I
ALIMENTAÇAO

F E RFUNIAO DAS CRIAS

A I
.c
(Funçóes Epimeléiicas)
J

d
EPENICAR NO SOLO

\
\ Galos
Goilin&cetos

F E ACASALAMENTO

B
I MPENICAR NO SOLO
’I

.
C
E ACASALAMENTO
I
ermedlas
PARTE POSTERIOR e Falsees

D
C

F
E c COMPORTAME NTO
-----_-----
F FUNÇÃO

- --_CONSEOUENCIAS MARGINAIS DO COMPORTAMENTO ou RESIDUAISDA F U N G A ~

Fig. 3 -Evolução de um padrão de exibição utilizado na corte dos galináceos aos pavões (baseado
em várias fantes: v. g . Heymer. 1977; Stumm, 1977; Ridley, 1981
gicas limitaiites, torna viável a forma- mas neste caso, a utilização de estruturas
ção de uma estrutura vistosa, o leque; exteriores a anatomia do animal.
a presença de desenhos melados em As aves-jardineiras ou aves-das-pérgulas:
penas de espécies primitivas e cuja bowerbirds) constituem a família das Ptilo-
função era a camuflagem. A conquista rírthynchidae formada por 18 espécies todas
de novos habitats, em que a camufla- elas confinadas a Nova Guiné e Austrália
gem deixa de ter justificação (ver (Diamond, 1982; Pruett-Jones e Pruett-Js
atrás), «liberta» estas formas que atra- nes, 1983).
vés de um conjunto de transformações Ao contrário dos seus parentes próximos,
e reorganizações orientadas por pres- as avesdo-paraíso, e dos pavões, a cobertura
sões selectivas distintas (a selecção de penas das aves-jardineiras nada fica a
sexual) passam a servir outras funções. dever ao encanto.
O interessante, neste grupo de aves, é que
Nas espécies que levaram este processo os machos, sendo destituídos de adornos
mais longe (e. g. pavão-real) a atenção das físicos p r a cortejar as fêmeas, recorrem a
fêmeas é essencialmente captada por e atra- construções extremamente elabradas, ar-
vés de um pronunciado e característico mo- quitectonicamente complexas, muito visto-
vimento de inclinação e balanceamento do sas e coloridas, que assumem assim o valor
leque caudal conhecido por ectasy, R. A. de características sexuais secundárias.
Stamm (1977: 448-449). A função destes jardins limita-se a corte
e acasnlamento. A fêmea depois de fecun-
dada constrói um ninho a parte onde põe
O FENÓTIPO ALARGADO os ovos e cuida das crias.
As construções mais elaboradas, adcrna-
A noção de fenótipo alargado foi intro- das e coloridas pertencem a espécie cujos
duzida recentemente em ecologia do com- machos são menos vitsosos.
portamento por R. Dawkins. Parece poder deduzir-se que houve uma
Por fenótipo entende-se as características trwzsjer&ícial (sensu Guilliard referido por
do corpo físico de qualquer organismo re- Diamond, 1982: 100-101) de atributos da
sultante da interacção directa entre o ge- ((plumagem ornamental do macho para o
noma e o meio ambiente. Na noção de jardim e suas decorações)).
fenótipo alargado pretende-se incluir o con-
junto de influências adaptativas que o ani-
mal exerce sobre o seu meio ambiente exte- O MBTODO COMPARATIVO AO NfVEL
rior, biótico e abiótico, e através das quais DOS INDIVIDUOS E DAS POPULAÇOES:
ESTRATÉGIAS ADAPTATIVAS MÚLTIPLAS
o procura manipular a favor da sua eficácia
individual. Mart G r m (1982) após um extenso tra-
Os fenótips alargados podem consistir balho de investigação sobre o sistema social
em manipulações do comportamento de ou- de uma espécie de peixe-sol da América do
tros animais em benefício do manipulador, Norte concluiu que aproximadamente 85 Vo
utilização de construções, artefactos, ador- da população activa de machos reprodutores
nos, etc. procuram aproveitar-se dos 15% que cons-
O exemplo que queremos referir, preci- troem os ninhos e dedicam cuidados paren-
samente pelo seu interesse na compreensão tais aos embriões. Como realça o autor este
dos mecanismos da evolução diz respeito, resultado é de facto espantoso ((para um
mais uma vez, i s aves e aos rituais de corte, peixe em que o comportamento reprodutor

69
QUADRO IV
Transferência evolutiva da complexidade ornamental e estrutural da
plumagem dos machos ddultos para os «jardins». Esta classificação,
eraborada por Jared D i m o n d (1982b), inclui as aves do paraíso do
género Diphyllodes e Parotia que não são ancestrais de Amblyornis e
Prionadura mas que se crê constituir um exemplo independente de um
estádio inicial de transferência

Grau de elaboração

Plumagem Estrutura Ornamentação


Ave ornamental do do
(espécie ou género) do macho a jardim» ((jardim»
-
Diphyllodes e Parotia 6 1 9
A . mmgregoriae 3 3 o, 1
A . flavifrons 3 3 2
A . subaiaris 2 4 5
P . newtoniana 1 5 5
A . inoratus O 6 6

Os números indicam: 6, mais elaborado; 1, menos elaborado, mas presente;


O. ausente.

do macho era previamente caracterizado {estratégiade interpretação do mundo pró-


apenas pelos seus cuidados parenta&». prio dos animais e da sua ampla diversidade,
possível relacionar, parcialmente, este sempre mais complexa que aqueles modelos.
tipo de inadequação entre factos observados Como observa Dunbar (1982: 386) eles
e factos reais com as concepções abstractas foram em parte directamente responsáveis
dos cientistas ((i. 'e., as suas filosofias expn- pela «tendência para descrever os animais
tâneas e as suas concepções do mundo para que agem de um modo que o investigador
utilizar duas nwões desenvolvidas por Al- considerava anómala como variações biol6-
thusser, 1974). No caso particular da eto- gicas inevitáveis ou como aberrações mal
logia Ipodem interpretar-se ? luz
i da tendên- adaptativas de pouco interesse evolucioná-
cia tradicional desta disciplina para dividir rio».
os sistemas sociais em dicotolmias (v. g. mo- Mas os sistemas sociais são complexos di-
nogamia versus poligamia, etc.). nâmicos extremamente estruturados. A va-
Este modo de classificar os sistemas so- riabilidade ocupa neles um lugar que
ciais conjuga-se com outras ideias chave da
ultrapassa largamente o simples plano do
(tetdogia clássica, como a de comparta-
mento típico da espkie, e conceitos estru- factual e do acidental, e onde «desvio» e
turais de alguns dos seus modelos do com- «norma» representam aspectos intrínsecos
portamento, como os de estímulo sinal, ao próprio sistema, e faces ipdmente im-
padrão fixo de acção e de mecanismo desen- portantes dele próprio.
cadeador inato. A ideia de que as variações individuais
Tais conceitos, apesar de alguns dos seus são mais importantes do que se pensava
méritos, limitaram de (forma reducionista a inicialmente começa a sobressair nos anos

70
Fig. 4 - Jardim de acasalwnento do macho de Ptilonorhyncus violaceus. Desenho de José Carhos
Silva composto a partir de uma fotografia de Jean-Paul Ferraro (Natural History), 1983, 9:50/1, e
de outras fantes

60 a@ os investigadores terem passado a Tácticas dternativm de acasolamento:


dar um realce especial às identificações saltedores, satélites e parentais
individuais dos animais que observam. Por
essa então a ganhar fôlego 0 s territórios de acmlamento constituem
a ideia de que podem coexistir, na mesma
um traço importante para o sucesso repro-
população, múltiplas soluções adaptativas.
No Dresente artigo iremos observar Dar- dutor dos machos de muitas espkim ani-
Y

cialmente um domínio daquelas vuiaçies: mais. Aqueles que não conseguem COmpetir
as variações intra-especificas nas tácticas de por eles, ou que se vêem excluídos no termo
acasalamento dos peixes. de acções competitivas, passam a constituir

71
UE grupo de indivíduos biologicamente pre- Keenleãside (1979) refere diversas espé-
parado para intervir na fecundação. cies de peixes que desovam em substrato
Despojados de territórios autónomos estes (v. g. Atherinidae: Leurestes tenuis; Petro-
machos têm a sua atractividade sexual re- myzonidae: Larnpetra planeri - vid. tam-
duzida vendo-se compeildos a adoptar tác- bém Malmqvist, 1983; Salmonidae e Perci-
ticas sexuais marginais, i. e. na dependência dae), cuja unidade reprodutora básica é
dos territórios de outros machos. constituída por um macho e uma fêmea que
Como Krebs e Davies (1981) referem seleccionam e preparam o local onde depo-
estes casos constituem um conjunto de sitam os zigotos que em seguida abando-
tácticas alternativas cujo valor adaptativo nam, em que machos maduros de pequenas
e razões evolutivas são diversas, mas que dimensões se aproximam do casal, libertam
constituem respostas adaptativas a cons- esperma, roubando assim algumas fecunda-
trangimentos específicos do ciclo vital dos ç&s, e abandonam em seguida a área. Este
indivíduos 'relacionados com variáveis onto- tipo de macho é geralmente designado por
genéticas, históricas e sociais, dependentes salteador (Sneakers, vid., Wirtz, 1982).
de contextos biológicos e ecológicos e fac- Conhecem-se também salteadores em es-
tores demográficos (vid. Bunbar, 1982, para pécies que fmecem cuidados paternais du-
uma análise fina das causas, dos factores rante o desenvolvimento embrionário das
e das consequências associados a emergência suas crias.
de estratégias alternativas de acasalamento). Morris (1952) observou que os machos do
As variações intra-específicas nas tácticas esgana-gato de dez espinhos (Pmgitiw p m -
de acasalamento podem ser interpretadas gih'us) que eram impedidos de construir
de dois modos básicos (Krebs e Davies, 1981; ninhos e estabelecer territórios exibiam pe-
Maynard Smith, 1984; Gross, 1984): culiares comportamentos «homossexuais»
ou de «pseudo-fêmeas» nos territórios de
I. Tácticas condicionais em que alguns
outros machos. Com esta atitude facilitavam
indivíduos procuram obter «o melhor a sua intrusão nesses territórios em cujos
de uma má situação)). Neste caso os
ninhos procuravam realizar algumas ferti-
lucros para ambas as tácticas, medidos
lizações (Morris, op. cit., não interpretou
em termos de sucesso individual na
reprodução, são diferentes e apenas a situação de acordo com isto). Fora dos
a dominante constitui uma estratégia territórios coatinuavam a cortejar as fêmeas
evollutivamente estável; que procuravam conduzir até ((ninhos ima-
11. Es t r a t é g i a s m i s t a s evolutivamente ginários)).
estáveis (EMEE) onde os lucros para Machos subaduItos de Trypterigh spp.
as diferentes tácticas são iguais (vid. do Mediterrâneo adoptam também com-
em especial Maynard Smith, 1984). portamentos salteadores em territórios de
No entanto, a interpretação dos da- outros machos onde procuram penetrar
dos é, em muitos casos, di'fícil. durante o acasalamento (Wirtz, 1978, 1982 e
De Jonge, 1985). Keeneyside (1972) refere O
Conhecem-se alguns casos de tácticas mesmo tipo de situação para Lepomis mega-
alternativas cm telebsteos. A sua prevalên- Zotis. Dominey (1980, 1981), por seu lado,
cia neste g r q o zod6gico é ((provavelmente descobriu que os machos de Lepmis Ma-
devida em parte a competitividade dos seus crwhirus adocptam dois tipos de estratégias:
sistemas de acasalamento e a ocorrência machos territoriais dominantes e machos que
alargada de fertilização externa)) (Gross, mimam fêmeas - fernde mimic. Dominey
1984: 60). (1980) relacionou este polimorfismo com

72
um determinismo genético cuja ontogenia Ao nível das teorias da evolução as tác-
permanece por esclarecer. ticas alternativas colocam alguns problemas
Em todos os casos referidos os maohos funcionais que não são fáceis de interpre-
dominantes não partilham os seus territórios tar.
com os outros machos. {Estesestão excluídos G r w (1982 e 1984) $procurou esclarecer
das actividades plarentais e territoriais. O o valor adaptativo das tácticas alternativas
seu papel reduz-se a nadar atravéz dos de um centrarquídeo da América do Norte
territórios onde procuram obter vantagens (Lepmis gibbosus) e do salmão (Oncorhyn-
de situação em que as (fêmeasdesovam, rea- chus Kistltch).
lizando assim o seu sucesso reprodutor. Gross (1982) pôs em evidência a existên-
'Wirtz (1982), numa discussão geral acerca cia de dois f e n ó t i p comportamentais
destas tácticas e sua terminologia, reservou alternativos em Lepmis gibbosstric;: tácticas
o termo salteador (sneclker) para ((qualquer subordinadas dependentes da existência de
macho que rouba fertilizações de outro ma- territórios parentais. Nesta espécie os ma-
cho que já investiu no acasalamentm (v. g., chos maiores e mais velhos constroem ni-
no estabelecimento do território, na cor- nhos onde passam a cuidar dos embriões
te, etc.). até ii sua eclosão. Em contrapartida machos
Uma variação desta táctica, que observa- de menores dimensões actuam como saltea-
ções mais cuidadas e completas talvez ve- dores, enquanto machos intermédios agem
nham a demonstrar que são mais comuns como satélites. O comportamento especia-
do que se pensava -e passando a incluir, lizado dos salteadores e satélites (conhecidos
aliás, alguns dos casos anteriores-, é o também, em inglês, por CLeCkolders), permi-
caso em que o salteador permanece na ime- te-lhes romper com sucess~a defesa do
diata vizinhança do território parental onde, território e assegurar a fertilização de alguns
aparentemente, é tolerado pelo seu dono. gâmetas.
Estes machos são chamados satélites. O mais interessante deste trabalho de
Há exemplos de satéliltes em labrídeos do Mart G r w reside no fatco de ele ter con-
género Crenilabrus (Wirtz, 1982) e num ble- seguido definir a p i ç ã o de cada uma das
nídeo dos Açores (Brennius sanguindentus, estratégias no seio da dinâmica das popu-
Santos 1985b). Nestas espécies os satélites lações estudadas, com base numa fina aná-
cooperam na defesa agressiva do território lise de dados de composição demográfica,
parental. Num outro labrídeo do Atlântico- idades e crescimento, e determinar as con-
-0est e, H alichoeres mcocdipima (Tresher, sequências funcionais que determinam a
1979) os territórios dos machos dominantes sua estabilidade evolucionária. «Ao combi-
são partilhados com um a três subadultos nar informação sobre a idade da primeira
que participam na defesa do território. Se reprodução)) para cada uma das tácticas
o macho dominante abandona o território «com os dados da demografia da popula-
é substituído por um dos satélites. ção)), Gross (1981 e 1984) pôde estabelecer
Este conjunto de observações veio mos- «que o comportamento reprodutor obser-
trar que no seio de uma mesma população vado)) resulta de dois corredores alternativos
podem coexistir variações individuais nos do ciclo vital. Num corredor encontram-se
comportamentos sexuais e reprodutores (es- QS machos que amadurecem mais cedo e
tudo noutras áreas, como por exemplo as que utilizam comportamentos salteadores e
estratégias alimentares, permitiram definir satélites, no outro estão os machos que
também a existência de compntamentos atrasam a maturidade)) (Gross, 1984: 63-64}.
alternativos: vid. Krebs and Davia, 1981; Ambas as tácticas constituem-se pois como
Smith, 1984). tácticas reprodutivas discretas. Naquela po-

73
-pulação
- 85 '940 dos reprodutcres baseiam a Study of Behaviour. Archives Neerlandaiseb
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