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Jovens e Educação

a partir da
Psicologia
Histórico-Cultural
Profa. Dra. Angelina Pandita Pereira
Objetivo
• Conhecer teorias
naturalizantes do
desenvolvimento na
adolescência desvelar suas
contribuições e limitações.
Dando aquela ajudinha pro processo de
aprendizagem. Vamos relembrar?
Surgimento histórico da adolescência
Ariés (1981) – é uma condição que surge
historicamente
Infância, entre séc. XV a XVIII
 Adolescência – entre séc. XIX e XX

Traje das crianças da França e


Alemanha no inicio do século XVI. Children’s Games, Pieter Bruegel, o Velho, 1560
Suportes da psicologia na concepção de adolescência

Campo da psicologia evolutiva, final do séc. XIX e início do séc. XX


 Stanley Hall (1904, apud Delval, 1998:545)
“uma idade especialmente dramática e de tormenta, em que se
produzem inúmeras tensões, com instabilidade, entusiasmo e
paixão, em que o jovem se encontra dividido em tendências
opostas. Adicionalmente, a adolescência supõe um corte profundo
com a infância, é como um novo nascimento (tomando a ideia de
Rousseau), na qual o jovem adquire os caracteres humanos mais
elevados”. (tradução nossa)
Suportes da psicologia na concepção de adolescência

Erik Erikson (1902-1994)

Concepção de adolescencia como a fase da moratória.

Tempo de espera antes de assumir papéis e responsabilidades adultas


Suportes da psicologia na concepção de adolescência

MAURÍCIO KNOBEL (1950-2008)

Psiquiatra argentino (naturalizado brasileiro)


Orientação psicanalítica.
Livro de 1970

http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/
mauricio_knobel_morre_aos_85_anos.html
Concepção de desenvolvimento humano e de adolescência
presente no texto

Admite a influência social

Parte do pressuposto de base psicobiológica que traria características universais à adolescência.

Base empírica: adolescentes em processo psicanalítico, grupos de orientação a pais e de


discussão com jovens e adultos

Que implicações isso traz para a teoria que postula?


Passado Adolescente Futuro
em sua
dimensão
corpórea
Definição

“a etapa da vida durante a qual o indivíduo procura estabelecer sua identidade adulta, apoiando-se
nas primeiras relações objeto-parentais, internalizadas e verificando a realidade que o meio social lhe
oferece, mediante o uso dos elementos biofísicos em desenvolvimento à sua disposição e que por
sua vez tendem à estabilidade da personalidade em um plano genital, o que só é possível quando
consegue o luto pela identidade infantil” (p. 26)

“As lutas e rebeliões externas do adolescente não são mais do que reflexos dos conflitos de
dependência infantil que intimamente ainda persistem. Os processos de luto obrigam a atuações que
têm características defensivas, de caráter psicopático, fóbico ou contrafóbico, maníaco ou
esquizoparanóide, conforme o indivíduo e suas circunstâncias. É por isso que considero que posso
falar de uma verdadeira patologia normal do adolescente, no sentido de que precisamente este
exterioriza seus conflitos de acordo com a sua estrutura e suas experiências”. (p. 27)
Definição

Avanços? Questionamentos?

Há uma patologização normalizada


do processo.
Há um questionamento do Leva a uma naturalização do
adultomorfismo desenvolvimento.
Relação linear entre sexualidade e
personalidade
Bases da teoria psicanalítica
Teoria desenvolvida por Freud (1856-1939) a partir especialmente da escuta de mulheres jovens
com histeria.
Para o autor a formação da personalidade decorre da dinâmica da sexualidade, entendida como
aquilo que é passível de gerar prazer.

ATENÇÃO: Não é que Freud e a psicanálise atual desconsideram os fatores sociais, mas que
seguem a colocar a primazia do entendimento sobre o ser humano em uma dinâmica instintiva
sob a qual os fatores sociais não exercem influência.
Sintomatologia da Síndrome da Adolescência Normal

1) Busca de si mesmo Quem é


adolesc o
2) Tendência grupal ente?

3) Necessidade de intelectualizar e fantasiar


4) Crises religiosas (ateísmo intransigente -- misticismo fervoroso)
5) Deslocalização temporal
6) Evolução sexual manifesta (autoerotismo – heterossexualidade genital adulta)
7) Atitude social reivindicatória com tendências anti ou associais
8) Contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta
9) Separação progressiva dos pais
10) Constantes flutuações de humor e de estado de ânimo
1) Busca de si mesmo e 6) evolução sexual
Relação entre desenvolvimento corporal e o esquema corporal e a definição
de si e da identidade.
Ativação de hormônios, produção de óvulos e espermatozoides, Criança geopolítica assistindo ao nascimento do

desenvolvimento de características sexuais primárias (aumento de pênis, novo homem – Salvador Dali

testículos ou útero e vagina) e secundárias (seios, pelos, voz).


Det
Luto com relação ao corpo infantil e ansiedade. erm
soc inante
Passagem da infância à “plena atuação genital procriativa”, com iais s
?
experimentação (masturbação, bissexualidade, heterossexualidade).
Transexualidade e homossexualidade entendidas como resultado do
Complexo de Édipo mal resolvido, inclusive supostamente incestuoso.
Machismo no rapaz e precoce sedução histeróide na moça são tidas como
formas maníacas de procurar a identidade adulta.
Boa resolução depende de relação satisfatória com pais internalizados.
Det
erm
soc inante
iais s
?

Retirado de Oliva (2004, p.


360), livro “Desenvolvimento
Psicológico e Educação”
organizado por Coll, Marchesi
e Palácios.
3) Necessidade de intelectualizar e fantasiar; 4) Crises religiosas e
9) Separação progressiva dos pais
Renúncia ao corpo, à bissexualidade e à impotência frente à
realidade externa. Det
erm
Pensamento se desenvolve como forma de lidar com a renúncia ao soc inante
iais s
corpo. ?

A morte de parte de seu ego corporal o confronta com a vivência da


morte, o que pode levar à busca obsessiva da religião ou da
materialidade.
Crise com a figura idealizada dos pais e necessidade de realizar
identificações projetivas com imagens idealizadas para então
construir suas ideologias.
8) Contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta e
10) Constantes flutuações de humor e do estado de ânimo
Desencadeados pelos processos de luto que experiencia
Sentimento básico de ansiedade e depressão, com refúgio em si e Det
erm
constante elaboração e reconsideração de suas vivências e fracassos soc inante
iais s
?
Personalidade permeável, em que processos de projeção e
introjeção são intensos.
Mudanças de humor frequentes.

Mundo adulto não suporta a conduta adolescente e suas


identidades ocasionais, transitórias, circunstanciais.
“Um dos mitos mais expressivos que cercam a adolescência é o de que
hormônios em fúria fazem com que os jovens “enlouqueçam” ou “percam a
cabeça”. Isso é falso. Os hormônios realmente aumentam nesse período,
mas não são eles que determinam o que acontece na adolescência. Sabemos
agora que o que os adolescentes experimentam é, basicamente, o resultado
de alterações no desenvolvimento do cérebro”.
“As alterações cerebrais durante os primeiros anos da adolescência
estabelecem quatro qualidades da mente durante esse período: a busca por
novidade, o engajamento social, o aumento da intensidade emocional e a
exploração criativa”.
O sexo masculino “parece precisar biologicamente cortejar o perigo, quando
atingem a “maioridade” ao testar limites e enfrentar riscos para provar que
já são homens e podem sair vivos”.
“Adultos querem que as coisas permaneçam como estão; adolescentes têm
o ímpeto de criar um novo mundo”.
Análise de vídeo disparador

Comentário em telejornal da apresentadora Rachel Sheherazade sobre Justin Bieber


5) Deslocalização temporal
Modificações biológicas são vividas como fenômeno psicótico e
psicotizante, incrementada pela possibilidade real de realizar as Det
fantasias edipianas erm
soc inante
iais s
?

Desorganiza a percepção do mundo, tempo e espaço.


Externo-interno; adulto-infantil; presente-passado-futuro.
Dificuldade de relacionar-se com as perdas desencadeia isolamento.
Discriminar presente, passado e futuro é um sinal de elaboração
saudável do luto típico à adolescência, sinal de elaboração da sua
relação narcisista consigo e da ambiguidade em sua conduta.
2) Tendência grupal
Relação entre perda do corpo e perda do papel infantil leva à
necessidade de aceitação no grupo Det
erm
Superidentificação em massa. soc inante
iais s
?
Transição necessária à identidade adulta.
Reconhece mudanças, não pode participar de modo ativo, busca o
apoio do grupo.
Perda do corpo e perda do papel infantil, junto ao estar em grupo,
desencadeiam condutas de desafeto, crueldade, indiferença, falta de
responsabilidade, típicas da psicopatia, mas normais na adolescência.
3) Necessidade de intelectualizar e fantasiar e
7) Atitude social reivindicatória
Renúncia ao corpo, à bissexualidade e à impotência frente à realidade externa, e
separação paterna.
Recorrer ao pensamento para compensar as perdas.
Fuga no mundo interior, “autismo positivo”, incremento da intelectualização,
teorização acerca de grandes reformas que podem acontecer no mundo, surgimento
de teorias filosóficas, movimentos políticos, ideias de salvar a humanidade.
Exacerbação identificada na delinquência juvenil, por vezes uma reação ao pedido de Det
erm
renúncia de suas potencialidades frente ao “triunfo da mediocridade e da estupidez
soc inante
humana” (p. 53) iais s
?
Canalização das reivindicações lógicas que a própria sociedade precisa para um
futuro melhor.
Caracterização do adolescente como rebelde é um fato ou exacerbação para isolar
fobicamente os adolescentes do mundo dos adultos?
“O adulto projeta no jovem sua própria incapacidade em controlar o que está
acontecendo sócio-politicamente ao seu redor e tenta, então, deslocalizar o
adolescente” (p. 53).
Peguem leve, o menino está só
Prescrição para a Síndrome da crescendo.
Adolescência Normal

Mas
Knobel,
o de
não
e d u ç ã
de r podemos
Alerta s s o c i a is à
e
questõ eracionais publicar
o nfli tos g
c isso!

Somente quando o mundo adulto


compreende [o adolescente] adequadamente
e facilita sua tarefa evolutiva o adolescente
poderá desempenhar-se correta e
satisfatoriamente
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/jul2001/unihoje_ju164pag27.html
Adolescência nesta perspectiva

Avanços? Questionamentos?

Há inserção progressiva e ainda Ainda há uma leitura burguesa,


que tímida de determinantes machista, heteronormativa,
sociais para alguns dos sintomas naturalizadora, condescendente,
tidos como de desajuste dos despotencializante e
sujeitos conservadora

Qual a necessidade social de colorir negativamente a adolescência e juventude?


Quais as consequências deste retrato da juventude?

Ocultamento da escassez de políticas públicas


A desqualificação da potencia gregária
A inadequação das atividades para a cultura juvenil
A naturalização do controle dos pais em relação aos filhos
A impossibilitação da autonomia financeira, frente ao contexto social

…..
Atividade
Análise dos trechos buscando evidenciar:

- o que eles trazem de características do período da adolescência?


- qual a força motriz colocada como responsável por estas características?
- que críticas a compreensão exposta poderiam auxiliar a compreender estes sinais a partir de
condições da nossa sociedade?
A casa do erro
Sérgio Ricciuto Conte (2015)

Respire o bom da imperfeição.


Sinta beleza na necessidade.
Eu amo a felicidade que deriva da insegurança humana.
Que quebra a precariedade do dever agradar.

PANDITA-PEREIRA, 2018 Desenvolvimento Psicossocial da Adolescência


Próxima aula
BOCK, Ana Mercês Bahia. A perspectiva sócio-
histórica de Leontiev e a crítica à naturalização
da formação do ser humano: a adolescência em
questão. Cad. CEDES. vol.24, n.62, p.26-43,
2004.
https://janeladecima.wordpress.com/2009/05/17/
vamo-que-vamo/ FERNANDES, M. V. R. Uma análise
materialista-histórica da juventude da classe
trabalhadora brasileira. Cadernos do Aplicação,
Vol.34 (1), 2021.

http://
www.escolasapereira.com.br/
pagina/1828/
ARIÈS,P. História social da criança e da
família. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos
e Científicos Editora, 1981.

DELVAL, Juan (1998): El desarrollo humano.


Madrid: Siglo XXI.

KNOBEL, M. A síndrome da adolescência


normal. In: ABERASTURY, A; KNOBEL, M.
Adolescência Normal. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1981, p. 24-62.

SIEGEL, D. Cérebro do Adolescente. São


Referência Paulo: nVersos. 2016.

Textos bases

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