O documento discute o desenvolvimento emocional na adolescência segundo Aberastury e Knobel (1992). Eles afirmam que a adolescência envolve três lutos: pelo corpo infantil, pela identidade infantil e pela relação com os pais. Além disso, listam dez sintomas da "síndrome normal da adolescência", incluindo a busca da identidade, tendência grupal, evolução sexual e flutuações de humor.
O documento discute o desenvolvimento emocional na adolescência segundo Aberastury e Knobel (1992). Eles afirmam que a adolescência envolve três lutos: pelo corpo infantil, pela identidade infantil e pela relação com os pais. Além disso, listam dez sintomas da "síndrome normal da adolescência", incluindo a busca da identidade, tendência grupal, evolução sexual e flutuações de humor.
O documento discute o desenvolvimento emocional na adolescência segundo Aberastury e Knobel (1992). Eles afirmam que a adolescência envolve três lutos: pelo corpo infantil, pela identidade infantil e pela relação com os pais. Além disso, listam dez sintomas da "síndrome normal da adolescência", incluindo a busca da identidade, tendência grupal, evolução sexual e flutuações de humor.
Aberastury e Knobel. Sindrome da Adolescencia Normal. 1992.
Para Aberastury e Knobel (1992), a adolescência é o momento crucial na vida do homem e
constitui a etapa decisiva de um processo de desprendimento que começou com o nascimento. Para isto, deve elaborar três lutos. O primeiro, pelo corpo, é duplo pois além da perda do corpo infantil, deverá lidar com a maturação dos órgãos sexuais. O segundo luto, pela identidade infantil, se dá diante de um processo de oscilação entre a criança que está deixando de ser e vários personagens representados pelos adolescentes diante de seus pais e do meio social em que vivem. Estes se apresentam de formas variadas, provocando simultâneas e contraditórias versões sobre sua maturidade, bondade, capacidade, afetividade. E, finalmente, o luto pela relação com os pais da infância. Os pais, antes idealizados, devem receber um tratamento de distanciamento e substituição para novas identificações. Os pais, por sua vez, vivem uma experiência ambivalente em relação ao crescimento dos filhos e devem elaborar o luto pelo corpo do filho pequeno, pela sua identidade de criança e pela relação de dependência infantil. Neste processo, os pais devem cuidar do filho, dando-lhe a liberdade necessária sem, contudo, abandoná-lo. Aberastury relacionou o conceito de moratória social de Erikson com a necessidade de um tempo para os jovens elaborarem um longo processo de lutos. O adolescente precisa aceitar o próprio corpo, com as funções reprodutoras amadurecidas e as limitações infringidas pela perda da fantasia de bissexualidade, para aceitar o corpo do outro. Para ela, este tempo não é carregado apenas de confusões e transtornos, mas também da eclosão de uma grande capacidade criativa e a conseqüente satisfação que as conquistas possam trazer. Knobel (1992) parte do princípio de que a adolescência, assim como a infância, não deve ser vista apenas como uma preparação para a maturidade. É necessário enfocá-la com um critério do momento atual do desenvolvimento e do que significa o ser humano nesse período de vida. Afirma que existe um componente universal no processo da adolescência - o re-despertar da sexualidade, agora direcionado pela maturidade genital - que sofre influências das conotações externas peculiares de cada cultura. Este componente obriga o indivíduo a reformular os conceitos que tem a respeito de si mesmo, a abandonar a imagem infantil e a projetar-se no futuro de sua vida adulta. Deste modo, o adolescente estaria deixando sua condição de dependente dos pais e da família e se lançando na construção de si como adulto responsável. E este processo seria vivido na e pela cultura e história. Aberastury e Knobel (1992), apresentam a ‘síndrome normal da adolescência’ e relacionam dez sintomas que a caracterizam: 1) Busca de si mesmo e da identidade: a conseqüência final da adolescência seria um conhecimento de si mesmo como entidade biológica no mundo, o seu todo biopsicossocial nesse momento da vida. As alterações biológicas impulsionam para o estabelecimento de novas formas de relacionamento, especialmente com seus pais. O processo de individualização requer a condição de figuras parentais internalizadas, para a possibilidade de distanciamento dos pais externos reais. Neste processo surgem identidades transitórias, adotadas durante um certo tempo; identidades ocasionais, que fazem frente a situações novas; identidades circunstanciais são parciais e transitórias. 2) Tendência grupal: o grupo passa a representar segurança e estima pessoal pois garante ao jovem uma certa uniformidade. Existe uma superidentificação em massa, onde todos se identificam com cada um. A busca de um líder auxilia na substituição do poder paterno, caracteriza uma transferência de dependência. O fenômeno grupal facilita condutas de desafeto, crueldade com o objeto, de indiferença, de falta de responsabilidade que surgem como mecanismos de defesa frente à culpa e aos lutos a serem elaborados. Continuamente, o mundo assiste a ações praticadas por grupos de jovens carregadas de muita violência. Uma delas, no Brasil, marcou uma geração: os jovens de Brasília que atearam fogo no índio. O adolescente perde a noção de si, confundindo-se com a identidade do grupo. 3) Necessidade de intelectualizar e fantasiar: são defesas empregadas pelos adolescentes frente às renúncias e inabilidades diante da realidade externa. Eles se voltam para o mundo interior permitindo um reajuste emocional. Segundo Anna Freud, segue-se um autismo positivo, pois o incremento da intelectualização leva à preocupação por princípios éticos, filosóficos, sociais que, muitas vezes, implicam na formulação de um plano de vida muito diferente do que se tinha até este momento. 4) Crises religiosas: quanto à religiosidade, o jovem pode manifestar-se como um ateu convicto ou como um místico fervoroso, podendo experimentar variadas religiões e oscilar entre o misticismo e o ateísmo. 5) Desorientação temporal: converte o tempo em presente e ativo para tentar remanejá-lo, com isto surgem enormes urgências ou infindáveis postergações. Seria na adolescência a apreensão do tempo existencial, que seria o tempo em si, um tempo vivencial ou experiencial e um tempo conceitual. Para Knobel, a percepção e a discriminação do temporal seria uma das principais tarefas da adolescência, levando a reconhecer um passado e formular projetos de futuro com capacidade de espera e elaboração no presente. 6) Evolução sexual desde o auto-erotismo até a heterossexualidade: a psicanálise assinala o caráter de revivência simultânea das fases da sexualidade infantil. Observa-se uma permanente oscilação entre a atividade de tipo masturbatório e o início do exercício genital que, inicialmente, se dá em forma de contato exploratório e preparatório para, posteriormente, ocorrer a genitalidade procriativa. O adolescente pode passar por período de homossexualidade transitória como expressão da bissexualidade perdida. A relação com o pai, quando este não assume seu papel, deve ser investigada como possível raiz dessa circunstância. A masturbação, como fenômeno normal da adolescência, permite ao adolescente integrar os genitais a todo conceito de si mesmo, formando uma identidade genital adulta. 7) Atitude social reinvindicatória: esta característica merece destaque para este estudo, já que pretende entender como os jovens experimentam a adolescência diante dos fenômenos sociais da atualidade. A aceitação da identidade é, forçosamente, determinada por um condicionamento entre indivíduo e meio. Existem bases comuns à todas as sociedades, que são processos naturais do ser humano, mas as diferentes culturas modificam as manifestações do processo. A compreensão dos padrões culturais torna-se importante para o manejo do adolescente, entretanto é essencial não perder de vista o fenômeno da adolescência diante dessa cultura para entender o aparecimento de novas condutas. A atitude social reivindicatória do adolescente decorre das restrições impostas pela sociedade e pela cultura à força reestruturadora de sua personalidade. Os comportamentos do adolescente criam um mal- estar de tipo paranóide no mundo adulto, que se sente ameaçado pelos jovens que vão ocupar o seu lugar. 8) Contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta: a conduta do jovem é dominada pela ação, forma de expressão típica dessa fase, como se a ação pudesse garantir o controle do pensamento. Esta instabilidade e permeabilidade constituem um indício de normalidade na adolescência. A rigidez de conduta não é esperada. 9) Separação progressiva dos pais: seguindo o pensamento de Aberastury (1992), um dos lutos a serem feitos é pelos pais da infância. Esta função torna-se duplamente difícil, pois requer dos pais a capacidade de lidar com a destituição de seu poder diante do filho. A presença internalizada de boas imagens parentais, com papéis bem definidos, facilitará uma boa separação. A vivência da situação edípica e a maturidade genital impõe a separação, que às vezes é amenizada por relações fantasiadas com adultos reais ou imaginários como elementos de transição para relações mais satisfatórias. 10) Constantes flutuações de humor e do estado de ânimo: dois sentimentos básicos - ansiedade e depressão - acompanham a adolescência. A quantidade e qualidade de elaboração dos lutos determinarão a maior ou menor intensidade desses sentimentos.