É na adolescência que se instalam as estruturas definitivas da personalidade adulta. Trata-se do último conflito, no processo evolutivo, antes da maturidade. De acordo com a psicanálise, a adolescência é caracterizada por uma crise narcísica, com intensas angústias da pessoa na busca por sua identidade e autonomia. A adolescência trata-se de um período difícil, no qual o indivíduo se prepara para o exercício pleno de sua autonomia. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS Mesmo reconhecendo que na adolescência o critério cronológico perde grande importância, para que se possa compreender a evolução do processo, é interessante analisar o desenvolvimento dividido por idade: adolescência inicial (dos 10 aos 13 anos); adolescência média (dos 14 aos 16 anos); adolescência final (dos 17 aos 20 anos). A adolescência inicial é um período marcado pelo rápido crescimento e pela entrada na puberdade; a adolescência média pelo desenvolvimento intelectual e pela maior valorização do grupo, e na adolescência tardia consolidam-se etapas anteriores e o adolescente se prepara para assumir o mundo adulto. Na última fase, se todas as transformações estiverem ocorridas conforme previsto nas fases inicial e média, incluindo a presença de suporte familiar e do grupo de iguais, o adolescente estará pronto para as responsabilidades da idade adulta. Do ponto de vista psicanalítico, o jovem de hoje é um ser conturbado que, sucessivamente, corre alegre à frente da vida e para de repente, arrasado, desesperançado, para deslanchar novamente, arrebatado pelo fogo da ação. Tudo nele é contraste e contradição. Ele pode ser tanto agitado quando indolente, revoltado e conformista, intransigente e esclarecido. Às vezes, é muito individualista e exibe um orgulho desmedido, ou, ao contrário, não se ama, sente-se insignificante e desconfia de tudo.
ADOLESCÊNCIA E CRISE DE IDENTIDADE
A individualidade é um aspecto do processo de desenvolvimento que se constrói durante toda a vida. Desde o nascimento, a criança inicia uma interação com o meio ambiente a partir da qual formará sua identidade e inteligência, suas emoções, seus medos, sua personalidade, enfim, sua autonomia. Assim, a construção da identidade encontra-se diretamente relacionada ao desenvolvimento psicossocial, com íntima dependência da cultura e da sociedade. JOÃO ALBUQUERQUE NETO
Vários teóricos e pensadores discutiram o processo de desenvolvimento na
adolescência. Entre eles, Anna Freud acredita que a relação entre as principais instâncias da mente passa pelas mudanças qualitativas durante a puberdade, em que podem ocorrer possíveis desequilíbrios e conflitos entre essas instâncias. Seria a fase de perturbações transitórias entre os mundos psicológicos relativamente estáveis da infância e da idade adulta. A adolescência corresponde a uma crise normativa, um processo de evolução caracterizado pela organização do indivíduo. A aquisição do sentimento de identidade, como a consciência que a pessoa tem de si mesma, é o aspecto mais importante do desenvolvimento psicológico do adolescente. Por isso, considera-se que a denominada crise da adolescência é, fundamentalmente, uma crise de identidade. É interessante enxergar o desenvolvimento psicossocial do adolescente como um exercício de aprendizagem acerca de si mesmo, que lhe possibilita alcançar, além da identidade, intimidade (capacidade para relacionar-se de forma madura, tanto emocional como sexual), integridade (aptidão para assumir atitudes e comportamentos socialmente responsáveis) e independência. CARACTERÍSTICAS PRÓPRIAS DA ADOLESCÊNCIA Para que a busca da identidade adulta, principal tarefa da adolescência, possa acontecer, é necessário que o jovem vivencie o luto por três grandes perdas 1. Perda do corpo infantil – o adolescente passa por período de adaptação até a aceitação das modificações corporais. 2. Perda dos pais na infância – que se manifesta por meio de relações conflituosas com as figuras parentais. 3. Perda de identidade e do papel infantil – renúncia à dependência infantil e aceitação de responsabilidades que muitas vezes o adolescente desconhece. A elaboração dessas perdas manifesta-se por meio de atitudes comportamentais e emocionais que se caracterizam como uma entidade semipatológica, perturbada e perturbadora para o mundo adulto, denominada por eles como Síndrome da Adolescência Normal. A ocorrência dessa síndrome pode ser explicada pela interação de sinais que expressam desestabilização nas áreas biológica, psicológica e social e compreende as seguintes manifestações de conduta: 1. Busca de si mesmo e da identidade adulta – principal característica que engloba as demais, na qual o adolescente se pergunta constantemente quem ele é e para onde pode chegar. 2. Separação progressiva dos pais – pode ser observada facilmente nas etapas iniciais da adolescência, quando determinados comportamentos familiares são rejeitados pelos adolescentes. 3. Tendência grupal – na medida em que os adolescentes se afastam dos pais, cada vez mais aproximam-se do grupo de amigos ou de iguais. 4. Necessidade de intelectualizar e fantasiar – pode ser reconhecida através dos diários, blogs, de redações escolares muitas vezes surpreendentes. 5. Crises religiosas – pode variar do fanatismo ao ateísmo, manifestando-se muitas vezes como um questionamento crítico às crenças familiares ou como uma atitude de defesa fervorosa dos princípios adquiridos. 6. Deslocação temporal – é extremamente urgente. Suas necessidades estão vinculadas ao momento presente e, com frequência, não conseguem realizar objetivamente planejamento futuro ou não aceitam postergar aquilo que almejam. JOÃO ALBUQUERQUE NETO
7. Contradições sucessivas nas manifestações de conduta – são decorrentes
do treino do papel adolescente e da imaturidade para lidar com perdas e ganhos, alegrias e tristezas. 8. Atitude social reivindicatória – pode ser evidenciada como contestação, agressividade, violência ou pode ser canalizada como energia construtiva, capaz de promover mudanças. 9. Flutuações do humor e do estado de ânimo 10. Evolução sexual – está vinculado à definição da identidade sexual e manifesta-se por meio do autoerotismo e das práticas de genitalidade. Quando o indivíduo consegue aceitar a coexistência simultânea entre si da criança e do adulto, ele passa de maneira flutuante a aceitar as mudanças de seu corpo, emergindo uma nova identidade. Uma das principais dificuldades nessa época ao se analisar o comportamento do adolescente é distinguir o normal do patológico. O pediatra ou médico do adolescente comumente enfrentam dúvidas quanto ao procedimento mais adequado a ser adotado mediante uma queixa de alteração comportamental e quando encaminhar para um especialista. Como alternativa para o discernimento entre normalidade e psicopatologia, recorre-se à análise de variáveis do sintoma apresentado: intensidade, duração, persistência ou transitoriedade significando regressivo e polimorfismo. Ao final da adolescência, espera-se que o indivíduo tenha adquirido: identidade (pessoal, sexual) e possibilidade de estabelecer relações estáveis; capacidade para assumir compromissos profissionais (independência econômica); escala de valores compatível com sua visão de mundo e relação de reciprocidade com a geração antecedente. O que se observa atualmente é que, quanto mais desenvolvido for o meio, mais se prolonga essa etapa evolutiva. As exigências sociais para considerar um indivíduo apto aumentam significativamente, expressando-se, por exemplo, pelo acréscimo de anos de preparação acadêmica, inserção tardia no mercado de trabalho ou adiamento do projeto de constituição de família. Nos países em desenvolvimento, onde a variabilidade de condições socioeconômicas é muito ampla, é mais complexo precisar a finalização desse período. Nas famílias de classes média e alta, é comum identificar- se um prolongamento da adolescência, enquanto nas menos favorecidas, a inclusão escolar fica limitada pela necessidade de incorporação do adolescente ao mercado de trabalho, frequentemente em condições desfavoráveis. CONCEITOS
1. Identidade de gênero – A identidade de gênero é uma categoria da identidade
social e refere-se à autoidentificação de um indivíduo como mulher ou homem ou a alguma categoria diferente do masculino ou feminino. Pessoas cujas identidades de gênero não correspondem aos sexos biológicos atribuídos ao nascimento são nomeadas como transgêneros ou transexuais. Trata-se de um fenômeno heterogêneo que pode ganhar diferentes coloridos de acordo com a realidade psíquica, social e cultural de cada um. 2. Papel de gênero – Diz respeito à forma como o sujeito exterioriza seu gênero. Inclui maneirismos, forma de vestir, forma de apresentação, aspecto físico, gostos e atitudes de uma pessoa e não necessariamente se correlaciona com o sexo ou identidade de gênero. 3. Incongruência de gênero – A incongruência de gênero pode ser descrita quando a identidade de uma pessoa entra em conflito com o gênero que lhe foi JOÃO ALBUQUERQUE NETO
atribuído no nascimento. A condição disforia de gênero é vista como um
desconforto ou sofrimento causados pela incongruência entre o gênero atribuído ao nascimento e o gênero experimentado pelo indivíduo. A dor normalmente é uma combinação de ansiedade, depressão e irritabilidade. 4. Orientação Sexual – É a capacidade de cada pessoa de ter uma profunda atração emocional, afetiva e/ou sexual por indivíduos de gênero diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gênero, incluindo, portanto, a homossexualidade, heterossexualidade, bissexualidade. 5. Identidade sexual – Refere-se ao sexo ao qual uma pessoa é sexualmente atraída.