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JOÃO ALBUQUERQUE NETO

Caso 9 – Mudanças Comportamentais no Adolescente


É na adolescência que se instalam as estruturas definitivas da personalidade adulta.
Trata-se do último conflito, no processo evolutivo, antes da maturidade. De acordo
com a psicanálise, a adolescência é caracterizada por uma crise narcísica, com
intensas angústias da pessoa na busca por sua identidade e autonomia. A
adolescência trata-se de um período difícil, no qual o indivíduo se prepara para o
exercício pleno de sua autonomia.
CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS
Mesmo reconhecendo que na adolescência o critério cronológico perde grande
importância, para que se possa compreender a evolução do processo, é interessante
analisar o desenvolvimento dividido por idade: adolescência inicial (dos 10 aos 13
anos); adolescência média (dos 14 aos 16 anos); adolescência final (dos 17 aos 20
anos).
A adolescência inicial é um período marcado pelo rápido crescimento e pela entrada
na puberdade; a adolescência média pelo desenvolvimento intelectual e pela maior
valorização do grupo, e na adolescência tardia consolidam-se etapas anteriores e o
adolescente se prepara para assumir o mundo adulto. Na última fase, se todas as
transformações estiverem ocorridas conforme previsto nas fases inicial e média,
incluindo a presença de suporte familiar e do grupo de iguais, o adolescente estará
pronto para as responsabilidades da idade adulta.
Do ponto de vista psicanalítico, o jovem de hoje é um ser conturbado que,
sucessivamente, corre alegre à frente da vida e para de repente, arrasado,
desesperançado, para deslanchar novamente, arrebatado pelo fogo da ação. Tudo
nele é contraste e contradição. Ele pode ser tanto agitado quando indolente, revoltado
e conformista, intransigente e esclarecido. Às vezes, é muito individualista e exibe um
orgulho desmedido, ou, ao contrário, não se ama, sente-se insignificante e desconfia
de tudo.

ADOLESCÊNCIA E CRISE DE IDENTIDADE


A individualidade é um aspecto do processo de desenvolvimento que se constrói
durante toda a vida. Desde o nascimento, a criança inicia uma interação com o meio
ambiente a partir da qual formará sua identidade e inteligência, suas emoções, seus
medos, sua personalidade, enfim, sua autonomia. Assim, a construção da identidade
encontra-se diretamente relacionada ao desenvolvimento psicossocial, com íntima
dependência da cultura e da sociedade.
JOÃO ALBUQUERQUE NETO

Vários teóricos e pensadores discutiram o processo de desenvolvimento na


adolescência. Entre eles, Anna Freud acredita que a relação entre as principais
instâncias da mente passa pelas mudanças qualitativas durante a puberdade, em que
podem ocorrer possíveis desequilíbrios e conflitos entre essas instâncias. Seria a fase
de perturbações transitórias entre os mundos psicológicos relativamente estáveis da
infância e da idade adulta.
A adolescência corresponde a uma crise normativa, um processo de evolução
caracterizado pela organização do indivíduo. A aquisição do sentimento de identidade,
como a consciência que a pessoa tem de si mesma, é o aspecto mais importante do
desenvolvimento psicológico do adolescente. Por isso, considera-se que a
denominada crise da adolescência é, fundamentalmente, uma crise de identidade.
É interessante enxergar o desenvolvimento psicossocial do adolescente como um
exercício de aprendizagem acerca de si mesmo, que lhe possibilita alcançar, além da
identidade, intimidade (capacidade para relacionar-se de forma madura, tanto
emocional como sexual), integridade (aptidão para assumir atitudes e comportamentos
socialmente responsáveis) e independência.
CARACTERÍSTICAS PRÓPRIAS DA ADOLESCÊNCIA
Para que a busca da identidade adulta, principal tarefa da adolescência, possa
acontecer, é necessário que o jovem vivencie o luto por três grandes perdas
1. Perda do corpo infantil – o adolescente passa por período de adaptação até
a aceitação das modificações corporais.
2. Perda dos pais na infância – que se manifesta por meio de relações
conflituosas com as figuras parentais.
3. Perda de identidade e do papel infantil – renúncia à dependência infantil e
aceitação de responsabilidades que muitas vezes o adolescente
desconhece.
A elaboração dessas perdas manifesta-se por meio de atitudes comportamentais e
emocionais que se caracterizam como uma entidade semipatológica, perturbada e
perturbadora para o mundo adulto, denominada por eles como Síndrome da
Adolescência Normal. A ocorrência dessa síndrome pode ser explicada pela
interação de sinais que expressam desestabilização nas áreas biológica, psicológica e
social e compreende as seguintes manifestações de conduta:
1. Busca de si mesmo e da identidade adulta – principal característica que
engloba as demais, na qual o adolescente se pergunta constantemente
quem ele é e para onde pode chegar.
2. Separação progressiva dos pais – pode ser observada facilmente nas
etapas iniciais da adolescência, quando determinados comportamentos
familiares são rejeitados pelos adolescentes.
3. Tendência grupal – na medida em que os adolescentes se afastam dos
pais, cada vez mais aproximam-se do grupo de amigos ou de iguais.
4. Necessidade de intelectualizar e fantasiar – pode ser reconhecida através
dos diários, blogs, de redações escolares muitas vezes surpreendentes.
5. Crises religiosas – pode variar do fanatismo ao ateísmo, manifestando-se
muitas vezes como um questionamento crítico às crenças familiares ou
como uma atitude de defesa fervorosa dos princípios adquiridos.
6. Deslocação temporal – é extremamente urgente. Suas necessidades estão
vinculadas ao momento presente e, com frequência, não conseguem
realizar objetivamente planejamento futuro ou não aceitam postergar aquilo
que almejam.
JOÃO ALBUQUERQUE NETO

7. Contradições sucessivas nas manifestações de conduta – são decorrentes


do treino do papel adolescente e da imaturidade para lidar com perdas e
ganhos, alegrias e tristezas.
8. Atitude social reivindicatória – pode ser evidenciada como contestação,
agressividade, violência ou pode ser canalizada como energia construtiva,
capaz de promover mudanças.
9. Flutuações do humor e do estado de ânimo
10. Evolução sexual – está vinculado à definição da identidade sexual e
manifesta-se por meio do autoerotismo e das práticas de genitalidade.
Quando o indivíduo consegue aceitar a coexistência simultânea entre si da
criança e do adulto, ele passa de maneira flutuante a aceitar as mudanças
de seu corpo, emergindo uma nova identidade.
Uma das principais dificuldades nessa época ao se analisar o comportamento do
adolescente é distinguir o normal do patológico. O pediatra ou médico do adolescente
comumente enfrentam dúvidas quanto ao procedimento mais adequado a ser adotado
mediante uma queixa de alteração comportamental e quando encaminhar para um
especialista. Como alternativa para o discernimento entre normalidade e
psicopatologia, recorre-se à análise de variáveis do sintoma apresentado: intensidade,
duração, persistência ou transitoriedade significando regressivo e polimorfismo.
Ao final da adolescência, espera-se que o indivíduo tenha adquirido: identidade
(pessoal, sexual) e possibilidade de estabelecer relações estáveis; capacidade para
assumir compromissos profissionais (independência econômica); escala de valores
compatível com sua visão de mundo e relação de reciprocidade com a geração
antecedente.
O que se observa atualmente é que, quanto mais desenvolvido for o meio, mais se
prolonga essa etapa evolutiva. As exigências sociais para considerar um indivíduo
apto aumentam significativamente, expressando-se, por exemplo, pelo acréscimo de
anos de preparação acadêmica, inserção tardia no mercado de trabalho ou adiamento
do projeto de constituição de família. Nos países em desenvolvimento, onde a
variabilidade de condições socioeconômicas é muito ampla, é mais complexo precisar
a finalização desse período. Nas famílias de classes média e alta, é comum identificar-
se um prolongamento da adolescência, enquanto nas menos favorecidas, a inclusão
escolar fica limitada pela necessidade de incorporação do adolescente ao mercado de
trabalho, frequentemente em condições desfavoráveis.
CONCEITOS

1. Identidade de gênero – A identidade de gênero é uma categoria da identidade


social e refere-se à autoidentificação de um indivíduo como mulher ou homem
ou a alguma categoria diferente do masculino ou feminino. Pessoas cujas
identidades de gênero não correspondem aos sexos biológicos atribuídos ao
nascimento são nomeadas como transgêneros ou transexuais. Trata-se de um
fenômeno heterogêneo que pode ganhar diferentes coloridos de acordo com a
realidade psíquica, social e cultural de cada um.
2. Papel de gênero – Diz respeito à forma como o sujeito exterioriza seu gênero.
Inclui maneirismos, forma de vestir, forma de apresentação, aspecto físico,
gostos e atitudes de uma pessoa e não necessariamente se correlaciona com
o sexo ou identidade de gênero.
3. Incongruência de gênero – A incongruência de gênero pode ser descrita
quando a identidade de uma pessoa entra em conflito com o gênero que lhe foi
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atribuído no nascimento. A condição disforia de gênero é vista como um


desconforto ou sofrimento causados pela incongruência entre o gênero
atribuído ao nascimento e o gênero experimentado pelo indivíduo. A dor
normalmente é uma combinação de ansiedade, depressão e irritabilidade.
4. Orientação Sexual – É a capacidade de cada pessoa de ter uma profunda
atração emocional, afetiva e/ou sexual por indivíduos de gênero diferente, do
mesmo gênero ou de mais de um gênero, incluindo, portanto, a
homossexualidade, heterossexualidade, bissexualidade.
5. Identidade sexual – Refere-se ao sexo ao qual uma pessoa é sexualmente
atraída.

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